Materialidade e sustentabilidade construtiva em arquitectura

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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO
Faculdade de Arquitectura e Artes
Dissertação para obtenção de Grau de
Mestre em Arquitectura
MATERIALIDADE E SUSTENTABILIDADE CONSTRUTIVA EM
ARQUITECTURA
Ana Catarina Cardoso Vargas Pecegueiro
Orientador: Professor Doutor Francisco Peixoto Alves
Porto, 2016
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” Lavoisier
III
Dedicatórias
Dedico o meu trabalho de pesquisa à minha mãe e ao meu irmão que
sempre me apoiaram nesta jornada e me deram força para terminar mais uma
etapa da minha vida.
Ao meu pai, à minha tia Rosa, ao meu tio Heli e ao meu primo Luís por todas
as horas de trabalho, pelo apoio, pelos conselhos que me deram ao longo do
trabalho e pelo conhecimento que me transmitiram.
Ao Pedro pelo apoio, dedicação, amor e paciência que teve durante todo
este processo e por me ter dado força para concluir o trabalho.
Aos meus amigos, principalmente à Ana Luísa, ao João Diogo, Joel, Diogo
Fula e ao André pelos conselhos, pela compreensão, apoio moral e paciência
durante esta fase da minha vida.
Por último, mas não menos importante, dedico à minha avó, que sempre
acreditou em mim e me fez crescer ao longo da minha vida.
V
Agradecimentos
Agradeço ao Professor Doutor Francisco Peixoto Alves pela forma como
orientou o meu trabalho, pela sua disponibilidade, paciência e por todo o
conhecimento que me transmitiu, não só no trabalho de pesquisa mas também
ao longo do meu percurso.
Um sincero agradecimento a todos os docentes que contribuíram para o
meu sucesso durante o meu curso.
VII
Índice
Dedicatórias
V
Agradecimentos
VII
Índice
IX
Índice de figuras
XI
Índice de tabelas
XVII
Resumo
XIX
Palavras chave
XXI
Abstract
XXIII
keywords
XXV
Introdução
27
Capitulo I – Da sustentabilidade à reciclagem
33
1.1 Enquadramento histórico do fenómeno da sustentabilidade
35
1.2 Sustentabilidade construtiva em arquitectura
41
1.2.1 Prioridades e vantagens na construção sustentável
1.3 Reciclagem como opção para a materialidade sustentável na
51
61
arquitectura
1.3.1 Origem da reciclagem em arquitectura
65
1.3.2 Processo de obtenção dos RCD (Resíduos de construção
69
e demolição)
1.3.2.1 Gestão dos RCD
69
1.3.2.2 Hierarquia dos RCD no sector da construção
81
1.3.2.3 Demolição seletiva como processo de obtenção
85
de resíduos
Capitulo II - Casos de estudo
89
2.1 Palácio do Freixo-Pousada do Porto, Fernando Távora
91
2.2 Casa em Santa Mónica, Frank Gehry
99
Conclusões
105
Bibliografia
109
Fontes eletrónicas
111
Outras fontes bibliográficas
112
IX
Índice de figuras
Capitulo I
Figura 1. Crescimento demográfico e urbano
34
Fonte: S.a; [acedido em 1 Março de 2015]
Disponível em <http://www.makindesh.com/images/2_rua2.jpg>
Figura 2. Consumismo
34
Fonte: Paradigmatrix; [acedido em 16 de Dezembro de 2015]
Disponível em <http://paradigmatrix.net/wp-content/uploads/2015/06/
consumismo.jpg>
Figura 3. Poster “Earth day”, Robert Leydenfrost (1970)
36
Fonte: Robert Leydenfrost; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em <http://media.vam.ac.uk/media/thira/collection_images/
2007BR/2007BR3412.jpg>
Figura 4. Emissão de gases poluentes
38
Fonte: Dan Riedlhuber; [acedido em 5 de Janeiro de 2016]
Disponível em <https://news-images.vice.com/images/articles/meta/2015/05/16/
canadas-pledge-to-curb-its-carbon-emissions-is-the-weakest-among-leading-economies1431794225.jpg?crop=0.6647173489278753xw:1xh;0.16764132553606237xw,0xh>
Figura 5. Arquitecto Ernesto Nathan Rogers
40
Fonte: S.a; [acedido em 5 de Janeiro de 2016]
Disponível em <http://revistadiagonal.com/v2/wp-content/uploads/2011/
03/rogers.jpg>
Figura 6. “Farnsworth House”, Arquitecto Mies Van der Rohe
40
Fonte: Hedrich Blessing Photographers; [acedido em 5 de Janeiro de 2016]
Disponível em <http://www.farnsworthhouse.org/wp-content/uploads/2011
/03/hb-entire-exterior-19841.jpg>
Figura 7. Cidades com metabolismo linear (Rogers, 2001)
42
Fonte: Herbert Girardet, em Rogers (2001, 31)); [acedido em 5 de Abril de 2015]
Disponível em <http://revistas.urosario.edu.co/index.php/territorios/article/
viewFile/2997/2421>
Figura 8. Cidades com metabolismo circular (Rogers, 2001)
42
Fonte: Herbert Girardet, em Rogers (2001); [acedido em 5 de Abril de 2015]
Disponível em <http://revistas.urosario.edu.co/index.php/territorios/article/
viewFile/2997/2421>
XI
Figura 9. Coberturas verdes, Estugarda, Alemanha
44
Fonte: S.a; [acedido em 1 de Junho de 2015]
Disponível em <http://hojesaopaulo.com.br/imagem/0/3698/muito-comum
-no-japao-telhado-verde-comeca-a-ser-implantado-em-edificios-no-brasil.jpg
Figura 10. Cidade de Nova York, centro de produção e consumo
44
Fonte: Sebrae mercados; [acedido em 1 de Dezembro de 2015]
Disponível em <http://projetos.nuclearmidia.com/sebrae/blogs/mercado
/wp-content/uploads/2011/05/new_york.jpg>
Figura 11. Filme “Monsters SA”
46
Fonte: S.a; [acedido em 1 Dezembro 2015]
Disponível em <http://www.movieforkids.it/wp-content/uploads/2013/06/
waternoose.jpg>
Figura 12. Filme “Wall-e”
46
Fonte: S.a; [acedido em 1 Dezembro 2015]
Disponível em <http://static3.businessinsider.com/image/56688a26dd0
895106a8b478a-1762-736/wall-e1.jpg>
Figura 13. Relação homem/ambiente
48
Fonte: Ibase; [acedido em 1 de Setembro de 2015]
Disponível em <http://ibase.br/pt/wp-content/uploads/2015/06/meioambiente1.jpg>
Figura 14. “Academia de Ciências da Califórnia”, Arquitecto Renzo Piano
52
Fonte: S.a; [acedido em 20 Dezembro 2015]
Disponível em <https://blogarq.files.wordpress.com/2013/01/academiacalifornia.jpg>
Figura 15. Cobertura da “Academia de Ciências da Califórnia”
52
Fonte: S.a; [acedido em 20 Dezembro 2015]
Disponível em <http://domtotal.com/img/noticiaMarcos/239_4714.jpg>
Figura 16. Pavilhão de Espanha, Expo Shangai 2010
54
Fonte: S.a; [acedido em 20 de Dezembro 2015]
Disponível em <http://ambientesdigital.com/wp-content/uploads/2015/
09/PABELLON-.jpg>
Figura 17. Pavilhão de Espanha, Expo Shangai 2010
54
Fonte: Ecoeficientes; [acedido em 20 Dezembro 2015]
Disponível em <http://www.ecoeficientes.com.br/new/wp-content/uploads
/2014/08/fachada.jpg/>
XII
Figura 18. Painéis de fibra vegetal
54
Fonte: Ecoeficientes; [acedido em 20 Dezembro 2015]
Disponível em <http://www.ecoeficientes.com.br/pavilhao-revestido-defibras-naturais/>
Figura 19. Reduzir, Reutilizar e Reciclar
58
Fonte: Zazzle; [acedido em 20 Dezembro 2015]
Disponível em <http://rlv.zcache.com.br/reduzir_reutilizar_reciclar_t_shirt
-rcf5c7baf9c5c4ab7b737410f7ed2c329_ilkw2_1024.jpg>
Figura 20. Evolução das preocupações na construção
59
Fonte: Ambiente e construção sustentável; [acedido em 20 Dezembro 2015]
Disponível em “Ambiente e construção sustentável”, Manuel Pinheiro
Figura 21. Local de implantação da nova biblioteca
60
Fonte: Publicspace; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://www.publicspace.org/en/works/f084-open-air-library
/prize:2010>
Figura 22. Protótipo
60
Fonte: Lesezeichen-salbke; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://www.lesezeichen-salbke.de/wp-content/uploads/
screenshot_011.jpg>
Figura 23. Espaços de relaxamento
62
Fonte: S.a; [acedido em 5 Janeiro 2106]
Disponível em <https://www.google.pt/imgres?imgurl=http://farm6.static.flickr.com
/5214/5387754586_3ce9f78fd0_o.jpg&imgrefurl=http://nomadaq.blogspot.com/2011
/02/karo-architektenopen-air-library.html&h=1076&w=1600&tbnid=BixjDyDgOTd99M:&
docid=qKdhFK6OY6YFmM&ei=g0mmVtO6J4ena43xv7AE&tbm=isch&ved=0ahUKEwi
TiPS5rcXKAhWH0xoKHY34D0YQMwgpKAwwDA>
Figura 24. “Open air library”, atelier Karo architekten
62
Fonte: Nadezhda Nikolova; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <https://www.google.pt/imgres?imgurl=http://c1038.r38.cf3.rackcdn
.com/group5/building44727/media/as1361_16.jpg&imgrefurl=http://openbuildings.
com/buildings/open-air-library-profile-44727&h=868&w=1300&tbnid=h6F7nepGyfXej
M:&docid=Zghcc3-bK3FvkM&ei=g0mmVtO6J4ena43xv7AE&tbm=isch&ved=0ahUKE
wiTiPS5rcXKAhWH0xoKHY34D0YQMwgeKAEwAQ>
Figura 25. Peças pré-fabricadas e recicladas
63
Fonte: Publicspace; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://www.publicspace.org/en/works/f084-open-air-library/
prize:2010>
XIII
Figura 26. Agenda 21
64
Fonte: Amazon; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://ecx.images-amazon.com/images/I/817fjWsBC6L.jpg>
Figura 27. Variáveis da reciclagem
67
Fonte: Adaptado de Paulo Paiva; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/view/185>
Figura 28. Gestão de resíduos de construção e demolição
68
Fonte: Hoffice; [acedido em 1 de Abril de 2015]
Disponível em <https://hoffice.files.wordpress.com/2011/12/trash-killer.jpg>
Figura 29. “Ecocubo”, Arquitecto António Fernandes
70
Fonte: Miguel Marote Henriques; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://excelenciapt.com/site/wp-content/uploads/2015/04/
eco1.jpg>
Figura 30. “Nave Tierra”, Arquitecto Michael Reynolds
70
Fonte: Archidaily; [acedido em 5 Janeiro 2016]
Disponível em <http://www.archdaily.com.br/br/01-177963/nave-tierra-a-casaautossustentavel-de-michael-reynolds-na-argentina/52effd82e8e44eeed500002c>
Figura 31. Esquema pirâmide da hierarquia dos RCD
81
Produção de autor
Figura 32. Demolição seletiva
84
Fonte: Pragosa; [acedido em 1 Outubro 2015]
Disponível em <http://www.pragosa.pt/negocio-ambiente/residuos/>
Figura 33. Demolição seletiva
84
Fonte: Pragosa; [acedido em 1 Outubro 2015]
Disponível em <http://www.pragosa.pt/negocio-ambiente/residuos/>
Capitulo II
Figura 34. Palácio do Freixo, Fernando Távora e José Bernardo Távora, Porto
91
Fonte: António Amen; [acedido em 1 Outubro 2015]
Disponível em <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/
0/03/Pousada_do_Pal%C3%A1cio_do_Freixo_-_Porto_(3).jpg/1280px-Pousada
_do_Pal%C3%A1cio_do_Freixo_-_Porto_(3).jpg>
Figura 35. Palácio do Freixo, Fernando Távora e José Bernardo Távora, Porto
91
Fonte: Ruralea; [acedido em 1 Outubro 2015]
Disponível em <http://www.ruralea.com/wp-content/uploads/2015/09/freixo
3-1.jpg>
XIV
Figura 36. Palácio do Freixo, 1966
92
Fonte: Portoarc; [acedido em 1 Novembro 2015]
Disponível em <http://portoarc.blogspot.pt/2013/05/quintas-do-porto-earredores-v.html>
Figura 37. Palácio do Freixo e Fábrica das moagens Harmonia, 2000
92
Fonte: S.a; [acedido em 1 Novembro 2015]
Disponível em <https://www.publico.pt/local/noticia/acervo-do-museuda-ciencia-e-industria-do-porto-nas-mao-do-proximo-executivo-autarquico1594820>
Figura 38. Requalificação Palácio do Freixo
94
Fonte: Luís Ferreira Alves; [acedido em 1 Novembro 2015]
Disponível em <https://www.facebook.com/luisferreiraalves/photos/a.1097
37662440274.19011.103320009748706/109738059106901/?type=3&theater>
Figura 39. Quantidades de materiais resultantes da demolição seletiva
95
Produção de autor
Figura 40. Palácio do Freio, Porto
96
Fonte: Pestana; [acedido em 10 Janeiro 2016]
Disponível em <http://images.pestana.com/azure/imgs/hotel%20banner%
20images/pestana-palacio-freixo-sala-635720679367611073.jpg?scale=do
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freeimage&progressive=true>
Figura 41. Palácio do Freio, Porto
96
Fonte: Pestana; [acedido em 10 Janeiro 2016]
Disponível em <http://images.pestana.com/azure/imgs/hotel%20banner%
20images/pestana-palacio-freixo-quarto-635720678994895565.jpg?scale=
downscaleonly&width=1440&height=850&mode=crop&quality=75&encoder
=freeimage&progressive=true>
Figura 42. Palácio do Freio, Porto
96
Fonte: Pestana; [acedido em 10 Janeiro 2016]
Disponível em <http://images.pestana.com/azure/imgs/hotel%20banner%
20images/pestana-palacio-freixo-piscina-635720678796863968.jpg?scale=
downscaleonly&width=1440&height=850&mode=crop&quality=75&encoder
=freeimage&progressive=true
XV
Figura 43. Casa em Santa Mónica; Arquitecto Frank Gehry
99
Fonte: Grant Mudford; [acedido em 10 Janeiro 2015]
Disponível em <http://www.ncmodernist.org/gehry-gehry-3.jpg>
Figura 44. Casa em Santa Mónica; Arquitecto Frank Gehry
99
Fonte: S.a; [acedido em 10 Janeiro 2015]
Disponível em <http://3.bp.blogspot.com/-lA-0E0C9bHo/TydN89sUI3I/A
AAAAAAABw8/hy1jT3190EU/s1600/Gehry%2527s+house7.jpg>
Figura 45. Interior da habitação
100
Fonte: S.a; [acedido em 10 Janeiro 2015]
Disponível em <http://4.bp.blogspot.com/-BTRxMHM3VEU/Uwbp0sZeI2I/
AAAAAAAAlFw/Nj0ogcSzy8Y/s1600/gehry+house3.jpg>
Figura 46. Planta do piso térreo
101
Fonte: Great buildings; [acedido em 10 Janeiro 2016]
Disponível em <http://www.archdaily.com.br/br/01-75579/classicos-daarquitetura-casa-gehry-frank-gehry/1278334192-gehry-house-floor-1>
Figura 47. Planta do 1º piso
101
Fonte: Great buildings; [acedido em 10 Janeiro 2016]
Disponível em <http://www.archdaily.com.br/br/01-75579/classicos-daarquitetura-casa-gehry-frank-gehry/75579_75584>
Figura 48. Pormenor de abertura
102
Fonte: Ken McCown; [acedido em 20 Janeiro 2016]
Disponivel em <http://www.archdaily.com.br/br/01-75579/classicos-daarquitetura-casa-gehry-frank-gehry/1278334259-kenmccown3>
XVI
Índice de tabelas
Tabela 1. Tipo, descrição, aplicação, reciclagem, custos e vantagens do betão
75
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
Tabela 2. Tipo, descrição, aplicação, reutilização, reciclagem, custos e
76
vantagens do metal
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
Tabela 3. Tipo, aplicação, reutilização, reciclagem, custos e vantagens
77
da madeira
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
Tabela 4. Tipo, descrição, aplicação, reutilização, custos e vantagens
77
da alvenaria
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
Tabela 5. Tipo, descrição, aplicação, reutilização, custos e vantagens
78
do isolamento
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
Tabela 6. Tipo, descrição, aplicação, reutilização, custos e vantagens do gesso
78
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
Tabela 7. Tipo, descrição, aplicação, reciclagem, custos e vantagens do vidro
79
Fonte: Ecomateriais; [acedido em 1 de Março de 2015]
Disponível em “Ecomateriais: Estratégias para a melhoria ambiental da construção.
Concreta, ed.”
XVII
Resumo
O tema desenvolvido nesta dissertação parte de uma reflexão sobre a
sustentabilidade construtiva na arquitectura e a reciclagem de materiais como
opção para a materialidade. Abordamos a problemática dos resíduos de
demolição e construção, que normalmente são classificados como lixo e
encaminhados para aterros
Partimos de uma investigação sobre o surgimento pela primeira vez de
temas relacionados com a sustentabilidade, e de como os impactos ambientais
causados pelo homem afetaram o meio ambiente. Abordamos nesta dissertação
as prioridades e as vantagens de uma arquitectura sustentável, concluindo que é
uma mais-valia para o ambiente.
A reciclagem é pensada como estratégia para a diminuição dos impactos
ambientais até então causados pelo homem e como opção para a
materialidade.
Abordamos a origem da reciclagem assim como o processo de obtenção
dos resíduos de construção e demolição, que começa por uma correta
separação dos mesmos, seguido de um agrupamento de acordo com as suas
características de forma a permitir a reutilização, reciclagem, valorização ou
eliminação em aterro. Paralelamente à reciclagem, compreendemos que a
demolição seletiva é um procedimento que contribui para uma gestão dos
resíduos de construção e demolição.
Como resolução da problemática, entendemos que existem inúmeros
fatores e preocupações a ter na conceção de um projeto sustentável.
Compreendemos que a reciclagem ajuda para a redução de áreas para aterros
e redução da poluição e contribui para a qualidade ambiental.
Percebemos que é da responsabilidade do arquitecto reconhecer,
classificar e hierarquizar as dificuldades do projeto e fazer escolhas para um
ambiente sustentável.
XIX
Palavras-chave
Sustentabilidade | Sustentabilidade construtiva | Reciclagem
Demolição seletiva
XXI
Abstract
The subject developed in this thesis came from a reflection about the
sustainable construction in the architecture and the recycling of materials as an
option for materiality. We approach the problem of demolition and construction
waste, which are usually classified as waste and sent to landfills.
We set off from an investigation about the appearance for the first time of
themes regarding the sustainability and the way the environmental impacts caused
by humans affect the environment. We approach in this thesis the priorities and
benefits of a sustainable architecture, concluding that it is an added value to the
environment.
Recycling is thought as a strategy to fight the environmental impacts caused
by the humans and as an option to materiality.
We approach the origin of recycling as well as the process of obtaining the
construction and demolition waste, which starts by a correct separation of them
followed by a grouping process according to their characteristics, in order to allow
the reutilization, recycling, valorization or elimination in landfills. Alongside with
recycling we realize that the selective demolition is a procedure that helps
managing the waste from construction and demolition.
As the problem resolution, we understand that there are numerous factors
and concerns hold in designing a sustainable project. We realize that recycling
helps to reduce the areas for landfill and pollution and contribute to the
environmental quality.
We realize that it is the responsibility of the architect to recognize, classify and
rank the difficulties of the project and make choices for a sustainable
environmental.
XXIII
Keywords
Sustainability | Sustainability constructive | Recycling
Selective demolition
XXV
Introdução
A presente dissertação pretende desenvolver a problemática que se
prende com os resíduos que são gerados pelas demolições e construções, que
normalmente são classificados como lixo e encaminhados para aterros. Assim,
pretende-se proporcionar soluções que contribuam para o desenvolvimento do
conceito da reciclagem como opção para a materialidade e para uma
arquitectura sustentável.
Existe, numa primeira fase da construção em arquitectura, uma vasta
variedade de materiais que se apresentam em diversos tipos, tais como: pétreos
naturais e artificiais, madeiras, têxteis, metais, plásticos, e muitos outros. A produção
excessiva destes materiais causa elevado impacto ambiental, levando a longo
prazo à escassez e à destruição dos recursos naturais do planeta. Os processos
envolvidos em todo o percurso de transformação dos materiais referidos geram
uma grande quantidade de resíduos bem como matéria inútil. A dissipação desses
resíduos conduz a alterações no meio ambiente e consequentemente à
diminuição da capacidade de regeneração da biosfera.
A palavra “resíduos” está habitualmente associada a algo negativo e
prejudicial, com grande impacto no meio ambiente. Este preconceito pode ser
alterado desde que o processo de tratamento de resíduos obedeça a uma
estratégia que evite a deterioração do meio ambiente bem como das reservas de
matérias-primas disponíveis para o futuro.
Este trabalho tem como objetivo compreender de que forma o arquitecto
pode contribuir para a diminuição dos impactos ambientais, cada vez mais visíveis
e inquietantes, causados, posteriormente e principalmente, pela industrialização e
pelo rápido crescimento demográfico e urbano.
27
Pretende-se, ainda, procurar estratégias ambientais direcionadas para uma
arquitectura mais sustentável e adaptada ao meio ambiente de forma a
contribuírem para a diminuição dos impactos ambientais e sugerir um modelo
produtivo sustentável, baseado na reciclagem, que assegure a preservação do
meio ambiente e garanta a possibilidade das gerações futuras progredirem e
evoluírem.
A presente dissertação, constituída por dois capítulos, resulta de uma
investigação científica centrada numa pesquisa a partir de várias fontes de
estudo, nomeadamente: livros, revistas, artigos online e dissertações.
A análise de dados foi realizada a partir de uma estratégia de triangulação
metodológica de investigadores e teorias. Esta estratégia ajudou a contrapor
ideias e obter visões complementares. Foram comparadas, igualmente, diferentes
perspetivas teóricas e casos de estudo, de forma a alcançar a veracidade de toda
a informação escrita. Deste modo, foi possível obter perspetivas diferentes, tendo
encontrando a concordância desejada para responder à problemática em
questão. Tal só foi possível pois foi assumida uma postura crítica que ajudou na
seleção de informação, a contrapor linhas de pensamento e a descartar as que
não seriam relevantes para a investigação. O processo de triangulação foi
essencial para a formação de conclusões que sustentam e solidificam esta
investigação científica.
O primeiro capítulo trata da abordagem do pensamento para a
sustentabilidade construtiva em arquitetura a partir de um enquadramento
histórico, iniciado na época da revolução industrial. Refere também as prioridades
e vantagens da construção sustentável. Foca ainda a reciclagem como opção
para a materialidade sustentável na arquitectura, começando por definir a origem
da reciclagem, passando pelo processo de obtenção dos resíduos de construção
e demolição, a sua gestão e hierarquia, terminando com a demolição seletiva
como processo de obtenção de resíduos.
29
O segundo capítulo remete-nos para os casos de estudo do Palácio do
Freixo na cidade do Porto, da autoria do Arquitecto Fernando Távora e da Casa
em Santa Mónica do Arquitecto Frank Gehry. O primeiro projeto foca-se na
utilização da demolição seletiva, como processo de reciclagem e reutilização dos
materiais. No segundo projeto traduz-se na reciclagem de materiais provenientes
de fontes diversas, como opção para a materialidade do edifício.
Pretende-se compreender com estes dois casos que a arquitectura
sustentável e a prática do uso da reciclagem traduzem-se em vantagens tanto
para a arquitectura como para o meio ambiente.
31
CAPÍTULO I
33
Figura 1. Crescimento demográfico e urbano
Figura 2. Consumismo |34
1.1 Enquadramento histórico
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu como uma urgência no
pós-guerra, na primeira metade do século XX. Foi por esta data que ao
recuperarem a história e arquitectura das cidades, os poderes institucionais
ganharam consciência dos problemas ambientais e da relação do homem com
o ambiente. São publicados estudos ambientais, incentivados pelos impactos
ambientais.
Os
impactos
ambientais
surgiram
devido
à
rápida
e
acelerada
industrialização e ao elevado crescimento demográfico e urbano (fig. 1). As
cidades desenvolvidas cresceram velozmente atraindo um grande número de
população e obrigando, assim, à sua expansão, não olhando às consequências a
longo prazo e à crescente pobreza do mundo subdesenvolvido. Estes
desenvolvimentos conduziram a uma diminuição da biodiversidade do planeta a
um ritmo de 50 mil espécies por ano, forçando-o aos limites dos recursos naturais.
Segundo Mateus e Bragança (2006), os recursos inorgânicos são limitados, sendo
que era impossível continuarmos a manter uma política em que nos baseávamos
em sistemas energéticos de fontes não renováveis.
O crescimento industrial e econômico gerou um ciclo vicioso que se
baseava no consumismo (fig. 2). Este consumo foi gerado pelo estilo de vida
agitado das cidades e pelo seu poder de marketing, transportando, por
consequência, uma maior produção industrial e levando a uma lapidação dos
recursos naturais que eram considerados, até então, como ilimitados. O mundo
acorda para os problemas do meio ambiente e começa a enfrentar o dilema de
que as suas fontes energéticas são poluidoras, dispendiosas e limitadas.
35
Figura 3. Poster “Earth day”, Robert Leydenfrost |36
Em 1987 surge pela primeira vez no Relatório Brundtland, com o título “O
Nosso Futuro Comum”, a definição de sustentabilidade, entendida como o
“desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem
as suas próprias necessidades”.1
Este conceito ganhou evidência e uma nova perspetiva nas décadas de
60, inícios de 70, tendo os seguintes fenómenos contribuído para tal: o movimento
hippie que preconizava a integração do homem com o meio ambiente; e a crise
do petróleo, que veio demonstrar que a natureza não possui de uma fonte
inesgotável de energia. Estes acontecimentos levaram pensadores, ecologistas e
cientistas a discutir a questão ambiental (fig. 3).
Mais tarde, o conceito de construção sustentável destacou-se na
conferência das Nações Unidas para o “Meio Ambiente e Desenvolvimento”
realizada no Rio de Janeiro em 1992. Este conceito visava “o aumento de
oportunidades às gerações futuras, através de uma nova estratégia ambiental
direcionada à produção de construções melhor adaptadas ao meio ambiente e
à exigência dos seus utilizadores” (Ricardo Mateus, 2009). Nesta conferência foram
criados protocolos internacionais e mecanismos para o desenvolvimento
sustentável.
Em 1994, Charles Kibert define, pela primeira vez, o conceito de construção
sustentável como “a criação e a gestão responsável de um ambiente construído
saudável baseada na otimização dos recursos naturais disponíveis e em princípios
ecológicos” 2
“Sustainable development is development that meets the needs of the present without
compromising the ability of future generations to meet their own needs”, in Brundtland
Report, 1987; 54
2 “The creation and responsible management of a healthy built environment based on
resource efficient and ecological principles”, Charles Kibert, 1994
1
37
Figura 4. Emissão de gases poluentes|38
Em 2005 entra em vigor o protocolo de Quioto, que já tinha sido discutido
na Convenção das Nações Unidas sobre a “Mudança Climática” em 1997 no
Japão. De acordo com o protocolo, os países desenvolvidos eram obrigados a
reduzir as emissões de gases que provocavam o efeito de estufa e os países em
desenvolvimento tinham que estabelecer o mecanismo de desenvolvimento limpo
(fig. 4). Este último tinha como principal objetivo incentivar a redução de emissões
de gases nos países em vias de desenvolvimento e a transferência de tecnologias
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
O enfoque na sustentabilidade torna-se algo imprescindível na conceção
de projetos na arquitectura atual de forma a causar um menor impacto ambiental
possível, adotando uma correta eficiência energética, um uso de recursos
adequados à construção, nomeadamente ao nível da materialidade.
39
Figura 5. Arquitecto Ernesto Nathan Rogers
Figura 6. Farnsworth House, Mies Van der Rohe |40
1.2 Sustentabilidade construtiva em Arquitectura
Aquando do processo da reconstrução das cidades no pós-guerra na
Europa, em especial em Itália, o Arquitecto Italiano Ernesto Nathan Rogers (fig. 5)
apresentou uma nova visão sobre a arquitectura moderna, considerando-a numa
perspetiva de desenvolvimento sustentável.
Rogers defendia uma regeneração na arquitectura moderna em que o
ambiente, natural ou cultural, “é o lugar para onde confluem todas as préexistências” (Rogers, 1965; 133). Por outras palavras, é o local para onde
convergem todas as referências arquitectónicas necessárias ligadas à cidade.
Tanto a natureza como tudo o que está ligado a ela, deve ser considerado na
arquitectura moderna. Rogers também entendia que um verdadeiro Arquitecto
deve abster-se do seu ambiente físico e cultural para assim poder idealizar
edificações ou espaços que se afastem da “abstração formal
e da
descontinuidade histórica com a cidade” (in Fabiano Vieira Dias, 2014), podendo
assim, conectar-se mais com o meio ambiente, pois nele reside o melhor material
e a melhor energia que podemos utilizar a nosso favor (fig. 6).
O desenvolvimento sustentável caracteriza-se hoje por uma exigência
social muito mais elevada do que há uns anos atrás e a sociedade encara uma
necessidade de dar respostas a essa exigência, a qual tem grande ligação ao
nosso sistema produtivo e, em geral, ao sector dos materiais de construção.
Segundo Ernesto Roger, “A sociedade revela uma noção da decomposição dos
sistemas naturais e apresenta conhecimento dos riscos para a sua própria
sobrevivência, essa noção está a colocar em pré-aviso a cidadania em relação
aos benefícios do desenvolvimento técnico.”
41
Figura 7. Cidades com metabolismo linear (Rogers, 2001)
Figura 8. Cidades com metabolismo circular (Rogers, 2001)
42
Na mesma linha de pensamento de Rogers, Herbet Girardet (2007) sustenta
a ideia da natureza como um ser completo que se rege por três características
fundamentais, sendo a arquitectura parte integrante do meio ambiente. A
primeira característica baseia-se em tudo o que se precisa é produzido pela
natureza (pedra, barro, madeira, água), e esse material, de extrema importância,
que é produzido pela própria natureza encontra-se inserido num ciclo fechado de
produção > reaproveitamento > produção, onde “tudo é permanentemente
reciclado e tudo o que sobra se torna alimento para outros seres vivos”
(Mcdonough in NESBITT, 2006; 431). A segunda foca-se na realização da
reciclagem por parte da natureza utilizando somente a energia solar, sem
qualquer consumo excessivo, consumindo apenas o necessário e disponível. Por
fim, o principal pilar que mantém todo este sistema a funcionar é a biodiversidade.
“Se compreendermos que o projeto leva à manifestação da vontade
humana, e se o que fazemos com as nossas mãos deve ser sagrado e honrar
a terra que nos dá vida, então as coisas que fazemos não devem apenas
erguer-se do chão, mas retornar a ele, o solo voltar ao solo, a água voltar à
água, de modo que todo o que é recebido da terra possa ser livremente
restituído sem causar dano a qualquer sistema vivo. Isso é ecologia. Isso é
um bom projeto”3 (Mcdonough in NESBITT, 2006; 429)
Para se atingir o objetivo do fecho do ciclo dos materiais, devem-se
desenvolver novas estratégias, criar novos processos e produtos e implementar
novos modelos de gestão. Segundo Rogers, a indústria deve igualmente alterar o
seu processo produtivo, de um “metabolismo linear”, para um “metabolismo
circular”.
Os dois esquemas representados nas figuras 7 e 8 ilustram o metabolismo
linear, que não deve ser seguido, e o circular, que garante melhor eficiência
através da redução do consumo de energias não renováveis e do aumento da
reciclagem.
“If we understand that design leads to the manifestation of human intention and if what
we make with our hands is to be sacred and honor the earth that gives us life, then the things
we make must not only rise from the ground but return to it, soil to soil, water to water, so
everything that is received from the earth can be freely given back without causing harm
to any living system. This is ecology. This is good design.” Mcdonough in NESBITT, 2006; 429
3
43
Figura 9. Coberturas verdes, Estugarda, Alemanha
Figura 10. Cidade de Nova York, centro de produção e consumo |44
44
Para as cidades se tornarem sustentáveis, devemos ainda ter em atenção
os três pilares fundamentais da sustentabilidade: ambiente, economia e
sociedade, sendo estes referidos pelos autores Nathan Rogers (2001) e Carlos
Alberto de Augusto (2011). Estes pilares devem ser aplicados no planeamento
urbano das cidades.
As cidades de Mäder, na Áustria, e de Estugarda, na Alemanha,
exemplificam este metabolismo circular defendido por Rogers. Na primeira, foram
plantadas 80.000 árvores e arbustos no âmbito de um programa de regeneração
e 10 anos após a implementação deste programa, é possível, através da madeira
da poda das árvores, produzir energia numa central de biomassa, reduzindo desta
forma, as emissões de CO2 bem como os resíduos orgânicos e inorgânicos. Na
segunda foram implementadas medidas que visavam o aproveitamento da
energia solar e da luz natural em edifícios que tenham mais de 25% de insulação e
atribuindo subsídios para poupar energia quer nos edifícios novos quer nos
existentes. Uma outra medida defendia a obrigatoriedade de reaproveitar a
cobertura dos edifícios para zonas verdes (fig.9).
Criar cidades sustentáveis torna-se um dos maiores desafios até então. As
cidades são consideradas os centros de produção e consumo da nossa sociedade
(fig. 10), é nelas que se gera a maior quantidade de resíduos. O alastramento
urbano e a pegada ecológica das cidades modernas são impactos prejudiciais
da urbanização que afetam os habitats naturais de todo o mundo, e por isso
devem ser contrariados.
O desenvolvimento urbano está ligado ao crescente consumo de recursos
por parte dos habitantes citadinos dos países em desenvolvimento, que utilizam a
maior parte dos recursos naturais, tais como: combustíveis fosseis, metais, madeira
e produtos manufaturados, comparativamente com os habitantes rurais.
Segundo Herbert Girardet (2007), “A mega urbanização está estreitamente
relacionada com o crescimento industrial baseado em combustíveis fosseis
baratos (...)”
45
Figura 11. Filme Monsters SA
Figura 12. Filme Wall-e |46
46
É nas cidades modernas, centros de mobilização, que se constata o maior
impacto ambiental. No entanto, esse impacto pode ser reduzido ou até invertido
ao aplicarmos medidas inovadoras no sentido da drástica redução do consumo
dos recursos naturais e da energia. É neste contexto que a reciclagem de resíduos
leva a uma diminuição da procura dos mesmos recursos. O desempenho
ambiental dos edifícios urbanos pode ser melhorado através da aplicação dos
materiais reciclados conduzindo a uma nova forma de projetar.
Para um desenvolvimento sustentável bem-sucedido, deve-se incluir o
envolvimento direto dos cidadãos, dando-lhes um sentimento de posse e de poder
participativo, construindo uma cultura urbana sustentável que seja transmitida de
geração em geração.
A consciencialização ambiental deve começar desde cedo na escola e
nos tempos livres, através de atividades lúdicas, como jogos, leitura e cinema. O
cinema como meio privilegiado de transmissão de conceitos e ideias pode e deve
ter uma importante componente didática na educação ambiental. Como
exemplo, o filme “Monstros SA” (fig. 11) produzido pelos estúdios da Pixar, recria um
mundo arquitectónico imaginário expondo a realidade dos problemas ambientais,
remetendo o espectador para mudanças de hábitos e para a adoção de um
pensamento sustentável. No filme, os gritos das crianças, quando assustadas, são
recolhidos por monstros profissionais numa cápsula, que os transforma em energia
para alimentar a cidade. Perante a crescente necessidade de energia, alguns
monstros usam processos desumanos no sentido de assustar cada vez mais as
crianças. A personagem principal descobre um método eficaz que gera mais
energia: o riso das crianças. Pode fazer-se uma analogia deste filme com o uso
excessivo dos combustíveis fósseis e consequente efeito prejudicial no meio
ambiente em contraste com os métodos de produção de energias sustentáveis
não prejudiciais, como a eólica e a solar.
47
Figura 13. Relação homem/ambiente |48
48
O filme “Wall-e” (fig.12), também produzido pelos estúdios da Pixar, é outra
analogia sobre os impactos ambientais. O planeta terra destruído pelo
consumismo obrigou os seres humanos a viajar para o espaço, dando início a uma
nova vida numa nave protegida e de mobilidade limitada assistida pela
tecnologia. Este filme induz-nos a uma reflexão aprofundada sobre a
responsabilidade dos arquitectos na adoção da sustentabilidade e da tecnologia
nos projetos arquitectónicos, tendo como preocupação a biodegradabilidade
dos materiais, com a finalidade de reduzir os impactos ambientais.
O cinema de temática ambiental é assim um importante veículo no
processo educativo, não só na escola mas também nos tempos livres, garantindo
“uma atitude responsável em direção a um desenvolvimento sustentável do
Planeta Terra”4 (in Derek Bell, 2004; 37).
É importante compreender que os estilos de vida praticados hoje afetam as
oportunidades de as gerações futuras progredirem e evoluírem com sucesso É
nossa responsabilidade proteger os ecossistemas e cuidar da natureza,
procurando integrar a sustentabilidade no planeamento urbano e na utilização de
recursos. Segundo Herber Girardet (2007), “Uma cidade sustentável é organizada
de modo a tornar todos os seus cidadãos capazes de satisfazerem as suas
necessidades e de melhorarem o seu bem-estar sem prejudicarem o mundo
natural ou porem em perigo as condições de vida de outras pessoas, agora ou no
futuro” (fig. 13).
“(…) formulate a responsible attitude towards the sustainable development of Planet Earth
(…)” in Derek Bell, 2004; 37
4
49
1.2.1 Prioridades e vantagens na construção sustentável
“A sustentabilidade consiste em construir pensando no futuro, não
somente tendo em conta a resistência física de um edifício, senão
pensando também na sua resistência estilística, nos usos do futuro e na
resistência do próprio planeta e dos seus recursos energéticos.”5 (Renzo
Piano, 1999; 60).
Ao projetar de uma forma sustentável na arquitectura devemos ter em
consideração algumas preocupações, nomeadamente, a escolha consciente
dos processos a serem implementados, o percurso da fabricação dos materiais e
o seu transporte. Devemos igualmente considerar o consumo de energia, a
interação construtiva e a manutenção dos materiais.
Alguns fatores importantes em ter em conta na conceção de um projeto
sustentável:

Orientação solar;

Forma arquitectónica;

Usos internos do edifício;

Geometria dos espaços internos;

Condicionantes ambientais (vegetação, ruído, geologia do solo);

Materialidade;

Cores a aplicar no edifício;

Tratamento das fachadas e coberturas;

Aberturas (envidraçados)
Estes
fatores
originam
um
impacto
no desempenho do
edifício,
determinando estratégias de ventilação natural, reflexão da radiação solar,
sombreamento e isolamento térmico. Estas estratégias vão ser determinadas pelas
condições climáticas e exigências de utilização do espaço interior e exterior.
“La sostenibilidad consiste en construer pensando en el future, no sólo teniendo en cuenta
la resistência física de un edifício, sino pensando también en su resistência estilística, en los
usos del futuro y en la resistência del próprio planeta y de sus recursos energéticos”, Renzo
Piano, 1999; 60
5
51
Figura 14. “Academia de Ciências da Califórnia”, Renzo Piano
Figura 15. Cobertura da “Academia de Ciências da Califórnia”, Renzo Piano |52
Podemos, ainda, mencionar o aproveitamento da luz natural que esta
ligada à forma como pensamos a orientação solar, a geometria dos espaços, as
cores e as aberturas no edificado.
“Academia de Ciências da Califórnia” do Arquitecto Renzo Piano (fig. 14) é
um dos dez projetos “Green bulding” do Departamento do Meio Ambiente de San
Francisco. Alberga um planetário, um habitat de floresta tropical, um aquário e
vários espaços de exposições. Este projeto baseia-se na recuperação de dois
edifícios pré-existentes de 1934 e na inclusão de uma nova e inovadora estrutura.
A cobertura verde do planetário e do habitat de floresta tropical são duas
esferas que se integram na paisagem e no conceito do edifício. Não precisa de
manutenção e funciona como atração para espécies locais (fig. 15).
Pode-se referir alguns dos principais fatores que torna este edifício
sustentável:

Os sistemas de recuperação de calor capturam e utilizam o calor
gerado por equipamentos de climatização, reduzindo, assim, o
consumo de energia de aquecimento ou refrigeração;

A cobertura verde atua como isolante térmico, reduzindo as
necessidades de energia elétrica;

Os vidros por todo o edifício são de alto-desempenho;

As claraboias da cobertura abrem e fecham automaticamente para
expulsar o ar quente;

A água salgada para o aquário é canalizada a partir do Oceano
Pacífico, minimizando o uso de água potável para os sistemas do
aquário;

Mais de 90% dos resíduos da demolição do edifício anterior foram
reciclados;

Foi utilizado aço reciclado na estrutura do edifício;

O isolamento das paredes do edifício é feito a partir de calças de
ganga recicladas;

O betão é composto por 30% de cinzas.
53
Figura 16. Pavilhão de Espanha, Expo 2010, Shangai
Figura 17. Painéis de fibra vegetal
Figura 18. Armazenamento da água em tanques |54
Para além dos fatores a ter em conta na elaboração de uma construção
sustentável há também outras preocupações a atender como prioritários,
nomeadamente:

Gestão dos custos de ciclo de vida dos materiais;

Utilização de materiais ecoeficientes;

Economia do consumo de energia e água;

Redução da produção de resíduos;

Salubridade dos edifícios;

Planeamento da conservação e reabilitação
A gestão de custos de ciclo de vida de um material consiste na análise dos
custos associados à produção e requalificação ao longo da sua vida. Podem estar
incluídos os custos de projeto, construção, operação, manutenção e demolição.
Os materiais ecoeficientes apresentam um menor impacto ambiental e
caracterizam-se pelo “desenvolvimento de produtos e serviços, com preços
competitivos que satisfazem as necessidades da espécie humana com qualidade
de vida, enquanto progressivamente reduzem o seu impacto ecológico e o
consumo de matérias-primas ao longo do seu ciclo de vida, até um nível
compatível com a capacidade do Planeta” 6 (World Business Council for
Sustainable Development, 1991). O pavilhão de Espanha da Expo 2010 em Shangai
(fig. 16 e 17) é um exemplo de aplicação de técnicas ecoeficientes de iluminação
natural e uso de material natural, painéis de fibra vegetal entrançados
manualmente (fig. 18).
A redução do consumo da água pode ser feita a partir do uso de
dispositivos economizadores, tais como, equipamentos hidráulicos ecológicos, e
do aproveitamento das águas de chuva, podendo estas últimas serem coletadas
e armazenadas em tanques, para diversas utilidades.
“Development of competitively-priced goods and services that satisfy human needs and
bring quality of life, while progressively reducing ecological impacts and resource intensity
throughout the life-cycle to a level at least in line with the earth s estimated carrying
capacity”, World Business Council for Sustainable Development, 1991
6
55
Pode-se minimizar o consumo de energia usando a iluminação natural a
partir de pés direitos elevados e janelas e a partir da ventilação natural,
dispensando, assim, sistemas elétricos.
A Redução da produção de resíduos pode ser conseguida através da
reutilização dos materiais ou da sua reciclagem.
A salubridade dos edifícios está ligada à qualidade do ar interior, à luz
natural, aos materiais de construção e ao ruído. As más condições de um edifício
além de gerarem desconforto, afetam a saúde dos seus habitantes.
O planeamento da conservação e reabilitação de um edifício deve
começar no projeto em papel, prevendo a reutilização dos materiais, a sua
reciclagem ou conservação. A madeira é um bom exemplo de material
renovável, que pode ser facilmente reutilizado ou reciclado.
Ao longo dos anos têm vindo a ser adotadas medidas sustentáveis por todo
o mundo, e se por vezes o custo da construção sustentável é mais elevado que o
da construção tradicional, o valor investido compensa pela diminuição dos
recursos gastos no presente e no futuro, como por exemplo na água e na energia.
Segundo Kibert (1994), enquanto numa construção tradicional há uma maior
preocupação com o custo, o tempo e a qualidade, numa construção sustentável
além de se manterem esses critérios, são adicionados outros, tais como,
minimização do gasto de recursos escassos e da degradação ambiental e a
criação de um ambiente mais saudável e com maior conforto.
57
Figura 19. Reduzir, Reutilizar e Reciclar |58
Na figura abaixo (fig. 20), podemos ver a evolução das preocupações ao
nível de uma construção sustentável, no sector da construção civil.
Figura 20. Evolução das preocupações na construção (Manuel Pinheiro, 2006)
Pode, assim, dizer-se que uma construção sustentável acrescenta inúmeras
vantagens, beneficiando tanto o utente ou habitante como o ambiente. Em baixo
estão mencionadas algumas vantagens da construção sustentável (fig. 19):

Redução do consumo de recursos (reduzir);

Reutilização de recursos (reutilizar);

Uso de recursos recicláveis (reciclar);

Proteção da natureza (natureza);

Eliminação de produtos tóxicos (tóxico);

Aplicação do custo do ciclo de vida (economia);

Foco na qualidade (qualidade)
Segundo Godfaurd (2005), a construção sustentável envolve o ciclo de vida
dos edifícios, uma vez que a minimização e a redução dos impactos na natureza
depende do desempenho dos edifícios durante todas as suas fases: projeto,
construção, operação, renovação e demolição.
59
Figura 21. Local de implantação da nova biblioteca
Figura 22. Protótipo |60
1.3 Reciclagem como opção para a materialidade sustentável
“A origem dos materiais empregados deve ser observada com
atenção, comprovando-se o manejo ecológico e, sobretudo, sustentável
das florestas e culturas associadas aos materiais” (Françoise-Hélène Jourda,
2009)
A necessidade de preservação e respeito pelo meio ambiente conduziu ao
surgimento de técnicas de construção baseadas na reciclagem e reutilização dos
materiais. Com a utilização de material reciclado nas construções, evita-se a
produção desnecessária de resíduos e economiza-se energia, levando a uma
maior preservação do meio ambiente. Na maioria das vezes desaproveitamos os
materiais de construção que se apresentam em bom estado, gerando, assim, um
desperdício de materiais e recursos. A reciclagem conduz a uma solução que
permite reutilizar as matérias-primas com consequente benefício para o ambiente.
Um bom exemplo desta prática é o “Open air Library”, localizado na
Alemanha e projetado pelo atelier Karo architekten. Trata-se de uma intervenção
pública, que conta com a colaboração dos residentes locais. O local de
implantação do projeto era um espaço degradado em forma triangular, com o
predomínio de uma paisagem pós-industrial, onde são ainda visíveis as
contradições entre edifícios, tais como, habitações desocupadas e fabricas
abandonadas (fig. 21).
Inicialmente foi concebido um protótipo à escala real que contou com a
ajuda dos moradores e serviu de estratégia para se compreender o
funcionamento do projeto como meio de integração social. Na construção deste
modelo foram reutilizadas mais de mil grades de cerveja (fig. 22).
61
Figura 23. Open air library, Magdeburg, Alemanha
Figura 24. Open air library, Magdeburg, Alemanha |62
O projeto é marcado pela sua fachada inovadora, que é constituída por
peças pré-fabricadas e recicladas provenientes de um edifício emblemático
demolido no ano de 1960 (fig. 25). Embutidas nas paredes espessas, encontram-se
prateleiras que abrigam livros doados pela comunidade e espaços de
relaxamento (fig. 23), onde as pessoas podem-se sentar ao ar livre a ler. Um espaço
verde desenha o interior do quarteirão e uma cafetaria preenche a secção
superior do edifício.
Figura 25. Peças pré-fabricadas e recicladas
Apesar de ser um projeto com recursos limitados, é um edifício inovador na
sua forma e função. É também sensível aos produtos de construção, não só pela
opção da reciclagem a nível de materialidade mas também pela reabilitação de
caráter arquitetónico do modernismo pós-guerra (fig. 24). Além de os custos de
construção terem sido baixos, o consumo de energia é quase nula, devia a
inexistência de ar condicionado e de se tratar de um edifico aberto diretamente
ao público, sem cobertura e marcada só por 3 fachadas.
O projeto tornou-se um marco na comunidade e um local de encontro
entre os moradores. É um espaço usado para produção de peças teatrais pelas
escolas, leituras públicas, concertos e shows de bandas locais e outros tipos de
eventos culturais. A sua gestão foi assumida pelos moradores.
63
Figura 26. Agenda 21 |64
1.3.1 Origem da reciclagem em Arquitectura
A reciclagem de resíduos de construção e demolição surgiu com a
industrialização, como uma vertente da sustentabilidade, que tem evoluído ao
longo dos últimos anos. Segundo GÜnther (2000),após 1980, devido ao crescente
número populacional nos centros urbanos e à diversificação de produtos e
serviços, os resíduos tornaram-se um grande problema. Surgiram problemas
relacionados com a área de deposição de resíduos, que se tornou escassa, com
os elevados custos na gerência de resíduos, problemas de saneamento público e
contaminação ambiental.
Na conferência “Eco-92” realizada no Brasil em 1992, foi estabelecido, um
acordo referindo-se ao compromisso de cada país cooperar em estudos e
soluções para os problemas socio ambientais, Agenda 21 (fig. 26). Este acordo veio
alertar para a necessidade urgente de um novo sistema de gestão ambiental para
o tratamento de resíduos. A reciclagem de resíduos na construção foi uma das
soluções propostas para este problema. É a partir do fecho do ciclo dos materiais,
que a indústria diminuirá o desperdício de resíduos e incrementará o
aproveitamento da matéria-prima renovável.
A redução de resíduos é uma ação importante e necessária, mas que
envolve custos e novas tecnologias.
Pode-se referir como principais benefícios da reciclagem na construção os
seguintes pontos:

Redução de consumo de recursos naturais não renováveis;

Redução de áreas para aterros;

Redução do consumo de energia no processo de produção;

Redução da poluição
65
Assim como qualquer outra atividade humana, a reciclagem de resíduos
acaba por causar alguns impactos ambientais, dependendo do processo de
reciclagem, do tipo de resíduo, da quantidade de materiais e energia necessários
ao processo e da tecnologia utilizada. A figura abaixo (fig. 27) demonstra as
variáveis da reciclagem.
Figura 27. Variáveis da reciclagem
O processo de reciclagem além de gerar benefícios económicos e
produtivos,
também
gera
investimentos,
quer
na
tecnologia
quer
em
equipamentos. Todo este processo necessita de energia para poder transformar
os resíduos em um novo produto. Por vezes essa energia não chega e é necessário
a adição de matéria-prima no composto. Desta forma, a reciclagem tem que ser
um processo bem pensado e ponderado.
A redução do volume das classes de resíduos transportados, a viabilidade
de soluções mais simples de reciclagem dos resíduos classe A, aqueles que podem
ser reutilizados ou reciclados na própria obra como agregados, nomeadamente:
materiais cerâmicos, tijolos, azulejos, blocos, telhas, placas de revestimento,
argamassa, betão, e a reciclagem de todos os resíduos dessa mesma classe, são
algumas das vantagens da triagem dos resíduos de construção e demolição.
67
Figura 28. Gestão dos resíduos de construção |68
1.3.2 Processo de obtenção dos RCD (Resíduos de construção e
demolição)
1.3.2.1 Gestão dos RCD (Resíduos de construção e demolição)
A sigla RCD designa os resíduos de construção e demolição e têm origem
nas demolições de edifícios e na construção ou remodelação de edifícios, sejam
eles de carácter público ou privado, e dependem da técnica de construção e da
época da infraestrutura demolida. Apesar destes materiais serem considerados
pouco poluentes e perigosos, houve necessidade de os reciclar devido aos
problemas ambientais e económicos (fig. 28), tendo sido levadas a cabo diversas
ações, tanto pelo meio ambiente, como pelas empresas e o sector público.
Hoje em dia podemos verificar que na legislação estão definidas práticas e
metodologias que privilegiam a aplicação dos princípios da prevenção e redução
e da hierarquia das operações de gestão de resíduos, que devem ser adotadas
tanto na fase de projeto como na execução da obra.
Na maioria das vezes a necessidade de materiais e o aumento da
quantidade de resíduos gerados provém de um desperdício de materiais que são
esquecidos e deixados de parte muito antes de terem sido esgotadas todas as
possibilidades de aplicação. Segundo Jorge Brito (2006), betão e materiais
cerâmicos, fragmentados e misturados, são dos resíduos que em maiores
quantidades se produzem, cerca de 50% do peso total dos RCD.
A gestão de RCD atravessa várias etapas que devem ser implementadas
em fase de obra, as quais assentam em estratégias de prevenção que têm como
objetivos (Decreto-Lei n.º 46/2008, de 12 de Março):

Minimizar a produção de resíduos utilizando práticas ambientais
adequadas que facilitem a reciclagem dos materiais de forma segura e
eficiente, como por exemplo, reduzir a utilização de materiais perigosos
(aditivos, colas, tintas);

Optar por métodos construtivos que apoiem uma gestão dos RCD,
como por exemplo, a demolição seletiva.
69
Figura 29. “Ecocubo”, Arquitecto António Fernandes
Figura 30. “Nave Tierra”, Arquitecto Michael Reynolds |70
A produção de RCD pode ser reduzida adotando as seguintes estratégias
de prevenção, nomeadamente:

Otimização da utilização de matérias-primas;

Utilização de matérias-primas menos poluentes;

Aumento da vida útil dos materiais;

Reutilização em obra dos resíduos produzidos
A otimização da utilização das matérias-primas refere-se à redução das
mesmas, devendo-se prioritariamente optar por materiais reciclados ou reutilizar
materiais provenientes de demolições em substituição às matérias-primas. No que
diz respeito as matérias-primas poluentes, estas devem ser evitadas ao máximo.
Um bom exemplo de um material não poluente é a cortiça (fig. 29), não só por
tratar-se de um material natural, mas também por ser ecológico e reciclável.
O projeto “Nave Tierra”, localizado na Argentina, do Arquitecto Michael
Reynolds (fig. 30) é um exemplo de arquitectura baseada na reutilização em obra
de resíduos. Trata-se de uma habitação completamente autossustentável pelo
facto de além de ter sido contruída a partir de materiais reciclados, também é
capaz de gerar energia para uso próprio, a partir dos ventos e do sol, reutilizar a
água das chuvas e reciclar os resíduos. Foram reciclados materiais como pneus,
latas de alumínio, garrafas plásticas e garrafas de vidro.
71
Para uma eficiente gestão de RCD é imprescindível que se faça uma
separação dos resíduos e o seu agrupamento de acordo com as suas
características de forma a permitir a reutilização, reciclagem, valorização ou
eliminação em aterro. Os resíduos deverão ser colocados temporariamente em
locais identificados para tal e dependendo do seu tipo, poderá haver necessidade
destes serem armazenados em recipientes fechados e estanques e depositados
em locais impermeáveis, secos, com ventilação e protegidos das intempéries.
Após estes procedimentos, o transporte dos resíduos, da responsabilidade do
produtor ou do detentor dos mesmos, deverá ser realizado por uma empresa
especializada e licenciada para o efeito ou pelo destinatário final.
O reaproveitamento dos resíduos, isto é, a sua valorização, em que se inclui
a reciclagem dos materiais e obtenção de novos para posterior uso, tem como
vantagens:

Melhoria na gestão de resíduos;

Redução do abandono destes resíduos;

Melhoria na separação seletiva dos resíduos;

Aumento da taxa de reciclagem;

Diminuição da extração de inertes em pedreiras;

Aumento da utilização de agregados reciclados
Existem, contudo, vários impedimentos para a reutilização dos materiais,
que estão associados às características dos resíduos, tais como: a decomposição
não controlada, a difícil quantificação e o recurso a sistemas com tratamentos de
fim de linha.
Nas tabelas seguintes estão apresentados alguns materiais e as suas
características no diz respeito à sua aplicação, se pode ser reutilizado e reciclado
e os custos e as vantagens associados a esses processo, segundo Albert Cucht,
Fabian López, Albert Sagrera e Gerardo Wadel:
73
Tabela 1
BETÃO
Tipo
Lajes, paredes, cobertura.
Descrição
O betão é constituído por 55% brita, 25% areia, 14% cimento e 6%
água.
Aplicação
As lajetas são materiais reutilizados em espaços públicos: passeios,
praças e jardins públicos. O betão é reciclado como inerte para o
novo betão.
Reutilização
O betão, depois de triturado, é reutilizado como agregado para
bases de estradas e pavimentos. É um material reutilizado como cal
para neutralizar.
Reciclagem
Depois de separado das armações, o betão é triturado e separado
em diferentes granulometrias e, deste modo, transforma-se num
componente apto para o fabrico de novo betão. O comportamento
mecânico
é
semelhante
ao
dos
compostos
baseados
exclusivamente em granulados pétreos naturais e a resistência
estrutural do betão reciclado pode chegar aos 80 ou 90%.
Custos
Segundo Bill Addis, o custo de betão reciclado como inerte é 5-10%
mais caro do que o betão feito com agregados naturais. No entanto,
estes valores variam conforme o local e o desenvolvimento deste
processo ao longo do tempo.
Vantagens
Material facilmente disponível na demolição de edifícios, tornandose economicamente vantajoso quando reutilizado no próprio local.
75
Tabela 2
METAL
Tipo
Material estrutural, equipamentos, revestimentos e caixilhos.
Descrição
Existem duas categorias: metais ferrosos (ferro e aço) e metais não
ferrosos (cobre, bronze, latão, alumínio, zinco, estanho e chumbo).
Aplicação
Sempre que se apresente em bom estado, o metal da estrutura,
revestimento, caixilhos, persianas e elementos decorativos são
reutilizados. O aço proveniente de sucata pode ser recuperado.
Reutilização
Reutilização no próprio local é simples, económica e rentável.
Reciclagem
O aço utilizado para a estrutura pode ser fundido para adquirir novo
aço. Material facilmente reciclado. O alumínio é transferido para a
sucata, para posterior reciclagem.
Custos
Segundo WRAP, quando envolve algum desperdício do material, a
reutilização torna-se mais cara. A reutilização no próprio local
abrange custos de mão-de-obra que normalmente resulta na
economia de custos
Vantagens
A reciclagem de matais torna-se vantajosa em termos energéticos
uma vez que se poupa a energia necessária para a extração de
metais a partir de minas. Nos projetos de demolição, o metal possui
um potencial de recuperação elevado devido ao número ilimitado
de processos de fusão que são possíveis, sem alterar a qualidade do
material. É possível recuperar até 99 de cada 100 toneladas de aço
existente no edifício. A reciclagem do aço a partir de sucata
economiza até 70% da energia utilizada no fabrico a partir de matéria
virgem, reduzindo até 76% do consumo de água.
76
Tabela 3
MADEIRA
Tipo
Vigas, barrotes, pavimentos e revestimentos.
Aplicação
A madeira é um material reutilizado como aditivo para a produção
de novos materiais.
Reutilização
Desde que esteja em bom estado, é facilmente reutilizada.
Reciclagem
88% da madeira pode ser reciclada
Custos
Segundo Bill Addis, o custo da recuperação de madeira varia entre
60-90% do custo de madeira nova.
Vantagens
A madeira apresenta uma série de vantagens por ser um material
renovável. O facto de podermos plantar mais árvores, não poe em
causa a sobrevivência de outros habitantes. A árvore atua com
fatores passivos (cria espaços e proteção) e ativos (absorve CO2,
liberta O2 e humidade). É um material económico, de fácil
manutenção e com consumo equilibrado de recursos, não é tóxico
nem cancerígena, não exige selo energético, é reciclável e pode ser
industrializada ou trabalhada de forma artesanal.
Tabela 4
ALVENARIA
Tipo
Tijolo e pedra.
Descrição
As paredes de tijolo com argamassa de cal podem ser reutilizados. O
tijolo pode conter até 90% de conteúdo reciclado (proveniente de
reciclagem de RSU), sendo misturado com 10% de barro virgem.
Aplicação
Pedras e tijolos são recuperados para ampliação e reabilitação de
edifícios; para enchimentos; para fundações, lajes e pavimentos e
para agregados.
Reutilização
Os resíduos de alvenaria podem ser utilizados para a produção de
peças pré-fabricadas de betão; para a construção de muros, como
agregados; como enchimento para estradas, valas e tubagens. A
reutilização do tijolo normalmente é feita sem certificação.
Custos
Segundo WRAP, a reutilização deste material torna-se rentável, pois
em termos económicos resulta numa redução de custos para a obra.
Vantagens
A reutilização no local permite controlar os custos de construção e os
custos de gestão. Podem ser reutilizados no próprio local como
agregados ou, segundo Winkler, revendidos no mercado de
agregados.
77
Tabela 5
ISOLAMENTO
Tipo
Poliestireno extrudido e celulose
Descrição
Material em placas para isolamento
Aplicação
Apenas alguns tipos de isolamento são facilmente reciclados, entre
eles, o isolamento de celulose.
Reutilização
Topo o isolamento que seja retirado em perfeito estado pode ser
reutilizado.
Reciclagem
O isolamento composto por fibras de vidro ou celulose pode ser
reciclado em novo isolamento.
Custos
Segundo Bill Addis, a reciclagem de lã de rocha tem sido testada.
Contudo, atualmente não se apresenta economicamente viável.
Vantagens
A reciclagem do isolamento de celulose é das indústrias com maior
sucesso, nos Estados Unidos, apresentando mais de 80% de nova
celulose obtida a partir da reciclagem de velhos jornais.
Tabela 6
GESSO
Tipo
Gesso e pladur (gesso cartonado).
Descrição
Placas de gesso cartonado podem conter gesso recuperado de
velhas placas ou papel reciclado (90-100%).
Aplicação
O pladur é reciclado para produção de novas placas. O gesso pode
ser reutilizado como fertilizante para solo agrícola ou como aditivo
para o cimento.
Reutilização
Depois de limpo, o gesso readquire as características químicas da
gipsita o que torna possível a sua reutilização (entre 5-10%) como
aditivo para o cimento portland (controla o tempo de fixação do
betão).
Custos
Greg Winkler afirma que, atualmente, existe pouco mercado
especializado
Vantagens
Segundo Greg Winkler, o gesso é um excelente material para a
reciclagem.
78
Tabela 7
VIDRO
Tipo
Vidro simples, vidro duplo, vidro de revestimentos de fachada.
Descrição
Proveniente da recolha de RCD e resíduos sólidos urbanos, RSU
(garrafas, embalagens).
Aplicação
Material reutilizado como inerte (substitui até 40%) para asfalto: como
matéria-prima para a fibra de vidro; como agregado para materiais
betuminosos.
Reciclagem
Reciclado em novo vidro ou como material de isolamento (vibra de
vidro).
Custos
Segundo Bill Addis, atualmente, a quantidade de vidro proveniente
de RCD para reutilização ou reciclagem ainda não justifica o custo
associado a estes processos, tornando-se um processo, raramente,
rentável.
Vantagens
O vidro é um material facilmente reciclável. Cada quilograma de
vidro usado que se incorpora no fabrico de novo vidro, representa
uma poupança de 1,2 quilogramas de matérias-primas e evita a
extração de matéria-prima virgem. A reciclagem do vidro economiza
cerca de 70% da energia incorporada e 50% da água utilizada na
produção do material a partir de material virgem.
79
1.3.2.2 Hierarquia dos RCD no sector da construção
As principais ações da hierarquia dos RCD consistem na redução dos
resíduos produzidos pelas demolições, na reutilização e reciclagem dos materiais
provenientes das mesmas e na deposição controlada dos resíduos em aterros.
Na figura abaixo (fig. 31) esta representado um esquema em forma de
pirâmide da hierarquia dos RCD segundo a diretiva 2008/09/ce, sendo que no topo
é apresentada a opção mais favorável a tomar, e na base a menos favorável.
Figura 31. Esquema pirâmide da hierarquia dos RCD
A redução dos resíduos produzidos pela demolição pode resultar de uma
mudança de materiais a serem utilizados. Uma maior durabilidade e um
planeamento mais rigoroso pressupõe a implementação de técnicas eficientes de
recuperação dos mesmos materiais. Esta é a forma mais eficaz de reduzir as
quantidades de resíduos, os custos associados ao seu manuseio e os impactos
ambientais.
A
reutilização
de
materiais
pode
ser
conseguida
a
partir
do
desmantelamento cuidadoso dos materiais resultantes de demolição seletiva. Este
processo conduz à redução de produção de resíduos e ao aumento do tempo de
vida útil do material, traduzindo-se numa mais-valia do ponto de vista ambiental.
Além disso, os custos de compra de materiais reutilizáveis são menores assim como
o custo global da obra.
81
A reciclagem dos resíduos da construção consiste na recuperação e
processamento de materiais de modo a criar novo produto. Visa, não só, produzir
um valor acrescentado nos produtos, como também, matéria-prima para
utilização futura a preços mais reduzidos. Contudo é necessário fazer previamente
um estudo de mercado para saber se os custos deste processo compensam. Este
processo pode ser inviável devido ao envolvimento de gastos energéticos e
desenvolvimento de emissões poluentes elevadas no reprocessamento.
São considerados como outros tipos de valorização, a compostagem e a
valorização energética. A primeira consiste num processo de degradação da
matéria orgânica em meio aeróbio, a segunda consiste na digestão anaeróbia ou
na incineração com aproveitamento energético.
A deposição controlada dos resíduos em aterros só deve ser feita em último
caso, pois para além de não valorizar nenhum tipo de resíduo, também não
constitui nenhuma vantagem para o sector da construção, dado que acarretam
custos. Pode ser realizada através de processos não nocivos à saúde pública e ao
meio ambiente ou a partir da incineração sem aproveitamento energético.
83
Figura 32. Demolição seletiva
Figura 33. Demolição seletiva |84
1.3.2.3 Demolição seletiva como processo de obtenção de resíduos
Quando se fala de demolição de um edifício a primeira técnica que nos
vem à ideia é a demolição tradicional. Este processo, considerado sem técnica,
onde o mais importante é a rapidez com que é executado, realiza-se através da
implosão ou da utilização de máquinas de grande porte e conduz à produção de
resíduos constituídos por diversos materiais misturados entre si. Não existe a
preocupação numa separação eficiente, de modo a que os materiais possam
futuramente vir a ser reaproveitados.
Para uma eficiente demolição de edifícios surgiu o conceito de demolição
seletiva (fig. 32). Esta técnica consiste na separação prévia dos diferentes
materiais, com potencialidade de reaproveitamento, provenientes de um edifício
em vias de demolição. A separação dos materiais é feita consoante as suas
características, de forma segura, controlada e eficiente. Estes são encaminhados
posteriormente para reutilização ou reciclagem (fig. 33), recebendo um novo uso
e potencializando assim o seu valor.
A demolição seletiva é um procedimento demorado, de custos financeiros
superiores à demolição tradicional, devendo ser realizado somente na
impossibilidade da reabilitação ou restauração do edifício. A demolição seletiva
conduz à produção de uma quantidade desnecessária de resíduos inertes,
derivados da demolição do corpo estrutural do edifício.
85
A demolição seletiva é uma técnica que tem vindo a ser cada vez mais
utilizada e de grande importância nos dias de hoje. Este processo além de
possibilitar a inovação na tecnologia no sector da construção e o surgimento de
um novo mercado, possibilita também a sustentabilidade, benefícios económicos
e ambientais.
Pode ser apontada como grande vantagem desta técnica a valorização
dos materiais com potencial a serem reciclados, reutilizados ou reaproveitados
para novas construções ou outras aplicações. Este processo leva à diminuição da
quantidade de resíduos de demolições, evitando assim a deposição em aterros; a
diminuição da extração e transformação de matéria-prima, bem como o
transporte e produção de novos materiais de construção.
As grandes desvantagens da demolição seletiva, comparativamente à
demolição tradicional, são o custo associado à necessidade do conhecimento
técnico apropriado na mão-de-obra, o que implica formação de técnicos
especializados, e o facto de este processo ser lento e demorado.
87
CAPÍTULO II
89
2.1 Palácio do Freixo – Pousada do Porto
Figura 34. Palácio do Freixo, Fernando Távora e José Bernardo Távora, Porto
Figura 35. Palácio do Freixo, Fernando Távora e José Bernardo Távora, Porto |91
91
Figura 36. Palácio do Freixo, 1966
Figura 37. Palácio do Freixo e Fábrica das moagens Harmonia, 2000 |92
A Pousada do Freixo é constituída por dois edifícios históricos: o palácio e a
fábrica das Moagens Harmonia. O primeiro é um edifício de estilo barroco, foi
construído em meados do século XVIII a partir de uma planta retangular e é um
projeto da autoria do Arquitecto Nicolau Nasoni (fig.36). O segundo foi construído
no ano de 1891, sofreu em 1932 o levantamento de mais dois pisos e é obra do
Arquitecto José Júlio de Brito.
O palácio começou por incorporar em 1742 uma residência particular, mais
tarde (século XX) foi vendido à Companhia Harmonia. Foi contruída uma
ampliação e instalada uma fábrica de moagens, que atualmente integra os
quartos da pousada.
Em 2001 o palácio e o edifício das Moagens Harmonia sofreram uma
intervenção de restauro, mas por não ter tido nenhum tipo de uso, os seus interiores
e exteriores foram-se degradando com o tempo
Por volta de 2000 – 2003 o edifício do palácio e a fábrica (fig. 37) foram
reabilitados pelo Arquitecto Fernando Távora e deram origem à Pousada do Porto.
Este projeto ambicionava aproveitar todo o potencial dos dois edifícios já
existentes, respeitar o valor e a identidade histórica de cada edifício e
proporcionar funcionalidade. É um edifício que apresenta fachadas imponentes e
que possui um grande jardim com vista para o rio douro. A sua inauguração foi em
2009.
A fábrica de Moagens Harmonia caracteriza-se no seu exterior pela
verticalidade das fachadas que são compostas por janelas e portas de forma
sequencial, uma ilustre chaminé e um cais privado com vista para o rio Douro. O
interior do edifício é marcado por amplos salões de estrutura oitocentista,
composta por pilares e vigas de ferro, que vão desde a cave até ao último andar.
Estas características arquitectónicas da fábrica obedecem às necessidades
produtivas da mesma, onde eram necessários grandes salões e sucessivos pisos
para a ocupação de máquinas de grande porte, como moinhos e peneiros, que
produziam variadas farinhas.
93
Figura 38. Requalificação Palácio do Freixo |94
A reabilitação do edifício da Pousada do Porto (fig.38) pode ser
considerada para efeitos de caso de estudo porque consistiu essencialmente
numa demolição seletiva, restando apenas, pelo seu bom estado de
conservação, as paredes exteriores, tanto do palácio como da fábrica, as paredes
interiores do palácio e a estrutura metálica que servia de suporte ao edifício da
fábrica.
Os materiais que resultaram da prática da demolição seletiva foram:
misturas de betão, tijolos e outros materiais cerâmicos, madeira, vidro, plástico,
metais ferrosos (ferro e aço) e não ferrosos (cobre, latão e bronze) e materiais de
construção que contêm amianto. No gráfico abaixo (fig. 39) estão representadas
as quantidades de materiais resultantes da demolição seletiva.
55
53,14
50
45
40
35
37,35
30
25
20
15
10
5
6,58
1,31
0
Misturas de
betão, tijolos
e outros
materiais
cerâmicos
Madeira
Vidro
0,09
Plástico
0,03
Cobre, latão
e bronze
1,34
Ferro e aço
Material de
construção
que contem
amianto
Figura 39. Quantidades de materiais resultantes da demolição seletiva
95
Figura 40. Palácio do Freixo, Porto
Figura 41. Palácio do Freixo, Porto
Figura 42. Palácio do Freixo, Porto |96
Quando analisado o gráfico (fig. 39), denota-se que os materiais em maior
quantidade são: madeira, misturas de betão, tijolos, ladrilhos e outros materiais
cerâmicos e o ferro e o aço. Posteriormente foi efetuada uma gestão de resíduos
e foram atribuídos operadores de destino dos materiais resultantes da demolição
seletiva.
Os materiais que resultaram desta demolição foram reutilizados ou
reciclados, para a reabilitação da Pousada do Porto. As vigas metálicas, que
suportavam o edifício da companhia de Moagens Harmonia, foram mantidas para
a construção do novo edifício. A pedra foi reaproveitada para a construção em
alvenaria na casa das máquinas e na execução de lancis e muros nos jardins
exteriores (fig. 40 e 41). A madeira que se encontrava em boas condições foi
reutilizada nos pavimentos das várias divisões do Palácio (fig. 42). Por se encontrar
em boas condições, estes materiais foram reutilizados no local da obra, gerando,
assim, uma eliminação dos custos associados à gestão destes resíduos.
Os resíduos resultantes da demolição seletiva tiveram destinos diferentes. Os
materiais que seguiram para reciclagem, por entidades externas, não foram
utilizados nesta obra. A madeira que não foi utilizada na reabilitação, por ter
resultado da demolição seletiva em maiores quantidades, foi encaminhada para
reciclagem para outros fins.
97
2.2 Casa em Santa Mónica Frank Gehry
Figura 43. Casa em Santa Mónica; Arquitecto Frank Gehry
Figura 44. Casa em Santa Mónica; Arquitecto Frank Gehry |99
99
Figura 45. Interior da habitação |100
“Tive a ideia de construir a nova casa ao redor da antiga. Disseramnos que havia fantasmas na casa…, eu decidi que eram fantasmas do
Cubismo. As janelas…, eu queria fazer como se elas estivessem rastejando
para fora desta coisa. À noite, por causa do vidro inclinado, a luz é
espelhada. Então, quando estás sentado na mesa, vês todos os carros a
passar e vês a lua no lugar errado.”7 (fig. 45) (Frank Gehry in Archdaily, 2012)
A casa em Santa Mónica do Arquitecto Frank Gehry, situada na Califórnia,
foi construída entre 1977-78 e renovada de 1991-94. O projeto é a própria casa do
Arquitecto, e é considerada um ícone do pós-modernismo.
Figura 46. Planta do piso térreo
Figura 47. Planta do 1º piso
“I came up with the idea of building the new house around it. We were told there were
ghosts in the house... I decided they were ghosts of Cubism. The windows... I wanted to
make them look like they were crawling out of this thing. At night, because this glass is tipped
it mirrors the light in... So when you're sitting at this table you see all these cars going by, you
see the moon in the wrong place (…)”, Frank Gehry in Archdaily, 2012
7
101
Figura 48. Pormenor de abertura|102
Este caso de estudo foi relevante nesta pesquisa pelo facto de além de ser
um projeto sustentável, usa o processo da reciclagem de materiais como opção
para a materialidade do edifício.
O projeto, que inicialmente consistia na remodelação de um edifício préexistente no terreno, tornou-se algo mais. Frank Gehry começou por repensar a
forma tradicional da habitação quadrada, e propôs a adição de volumes,
revestidos por materiais do quotidiano, tais como, madeira compensada, alumínio,
alambrados e plásticos. A intenção do Arquitecto era criar uma interação do préexistente com o novo, mantendo a identidade mas criando dois discursos
diferentes. Desafiou os paradigmas da arquitectura através da criação de novos
espaços construídos, em torno do pré-existente. Estes espaços conferem uma nova
utilidade e vivência estética à habitação (fig. 48).
Nesta obra pode-se admirar a dicotomia entre o novo o velho, o bruto e o
refinado, pelo facto de o Arquitecto ter reutilizado materiais que tinham sido
deixados de parte por outras entidades.
A casa é vista como uma desconstrução, no meio de tantos materiais
diferentes, mas não deixa de ser uma construção contínua. Segundo Frank Gehry
trata-se de uma solução de “equilíbrio entre fragmentos e totalidade, bruto e
refinado, novo e velho”.
103
Conclusões
A
concretização
deste
trabalho
fez-nos
compreender
que
uma
arquitectura sustentável não está ligada a um estilo ou movimento arquitectónico
específico, podendo ser aplicada tanto na arquitectura vernacular como na
arquitectura moderna ou na eco-tech, uma vez que o que é valorizado é o
conforto ambiental e a eficiência energética em sintonia com os recursos locais e
a tecnologia apropriada.
Concluímos que os elevados impactos ambientais causados ao longo
destes anos fizeram imergir protocolos e soluções que fossem favoráveis ao meio
ambiente. Concluímos que é urgente pensar em novas técnicas construtivas que
não afetem o planeta.
Entendemos que existem inúmeros fatores importantes a deter na
conceção de um projeto sustentável, tais como, orientação solar, usos internos de
um edifício, condicionantes ambientais e materialidade. Para além disso, existem,
também, preocupações que devemos dar como prioritárias, nomeadamente a
gestão dos custos de ciclo de vida dos materiais, redução de produção de
resíduos e utilização de materiais coeficientes.
No seguimento desta pesquisa, concluímos que o fecho do ciclo dos
materiais usados na construção pode ser uma solução para o caminho da
sustentabilidade. Para se criar esse ciclo deve-se seguir por duas vertentes
principais: a primeira vertente aponta para o uso da biosfera como uma força
natural mecânica com a capacidade de coletar resíduos e transformá-los
novamente em recursos, sendo este o caminho dos materiais renováveis, a
segunda indica o uso da tecnologia e ‘’know how’’, ou seja a indústria, capaz de
organizar a gestão de resíduos, recicla-los e converte-los novamente em recursos,
sendo este o caminho para os materiais não renováveis.
105
Entendemos que a reciclagem surgiu como uma estratégia sustentável e
contribui para a redução de áreas para aterros e redução da poluição.
Constatamos que o processo de reciclagem de resíduos de construções e
demolições deve ser bem pensado e ponderado, visto que é algo contraditório,
ou seja, tanto gera benefícios ambientais, económicos e produtivos como
também origina impactos ambientais, dependendo do processo de reciclagem e
da energia necessária ao processo.
Compreendemos que os resíduos não são mais que a matéria-prima de um
recurso e que, no sentido de evitar que ocorram impactos ambientais associados
ao desfasamento dos resíduos devemos ter uma atenção cuidada à forma como
é feita a sua recolha e posterior gestão. Para tal, deve-se coletar todos os resíduos
dos processos de extração e manufatura e reorganiza-los de acordo com a sua
forma original aquando da recolha do meio ambiente, de modo serem
disponibilizados para um novo uso.
Com a elaboração deste trabalho, percebemos que a redução de resíduos
é possível a partir de práticas sustentáveis, sendo a reutilização e a reciclagem dos
materiais, fatores favoráveis ao meio ambiente e à saúde das populações, com
evidentes benefícios financeiros para todos os envolvidos.
Concluímos que a aplicação de materiais reciclados no projeto pode ser
uma solução para a diminuição dos impactos ambientais, redução do consumo
de recursos naturais e para uma melhor qualidade ambiental. Compreendemos
que a partir do uso de materiais reciclados, o projeto apresenta uma postura
sustentável e uma harmonia entre a arquitectura e o meio ambiente.
Concluímos que é da responsabilidade do arquitecto reconhecer,
classificar e hierarquizar as dificuldades abrangidas em cada projeto e fazer as
suas escolhas de modo a preservar o meio ambiente. Compreendemos que o
arquitecto deve assumir as dificuldades impostas no dia-a-dia e criar soluções para
as mesmas, pois, essas soluções, além de afetarem o planeta, também afetam o
projeto e à arquitectura.
107
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