Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e

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Universidade do Vale do Paraíba
Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento
INGLID FONTOURA DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO RÁPIDA DE BACTÉRIAS EM
CULTURAS PURAS E MISTAS POR MICROESPECTROSCOPIA FT-IR
São José dos Campos, SP
2010
INGLID FONTOURA DA SILVA
CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO RÁPIDA DE BACTÉRIAS EM
CULTURAS PURAS E MISTAS POR MICROESPECTROSCOPIA FT-IR
Dissertação apresentada no Programa de Pós-graduação
em Engenharia Biomédica, como complementação dos
créditos necessários para obtenção do título de Mestre em
Engenharia Biomédica.
Orientador: Profº. Dr. Airton A. Martin.
Co-orientadora: Profª. Drª. Maria Angélica G. Cardoso.
São José dos Campos, SP
2010
INGLID FONTOURA DA SILVA
"cARAcrERrzAçÃo E IDENTIFTCAçÃoRÁPDA DEBAcrÉRrÁs EM cur-TnRAs
PURAS E MISTAS POR MICROESPECTROSCOPIA FT-IR''
Dissertaçãoaprovadacomo rcquisito parcial à obtençãodo grau de Mestre eÍn Engenharia
Biomédica,do Institutode Pesquisa
em Engenharia
Biomédica,do Programade Pós-GÍaduação
e Desenvolüm€ntoda Universidadedo Vale do Pafaíba,SãoJosédosCampos,SP,pela seguinte
bancaexaminadora:
PTOf.DTA.MARIA ANGÉLICA GARGIONE CARDOSO (TINIVAP)
Prof. Dr. AIRTON A. MARTIN (UNIVAP)
Prof. Dr. FRÂNCISCO GARCIA SORIAIIO
da Costa
Prof. Dra. SandraMar;aFonseca
DiretordolP&D
Univap
21 demaiode2010.
SãoJosédosCampos,
Aos meu pais pelo amor incondicional, por mais uma vez confiarem em mim e por
mais uma vez abrirem mãos de sonhos.
Aos meu tios, meus pais em São José dos Campos, pela dedicação, pelo ombro e
pelo colo.
Ao meu irmão e meus primos (Anderson e Cléia) pela amizade, companheirismo e
favores prestados durante todo o mestrado.
Ao meu tio Germino (in memoriam) por ter sido um GRANDE tio e por ter me
ensinado tantos valores.
A Frei Dilson e Dewar por me ajudarem dar o primeiro passo rumo a este mestrado.
A Mara por me ensinar a me encontrar.
A Primeira Igreja Batista, ao PG e ao meu grupo de apoio por me conduzirem ao
caminho do Pai.
Ao Pr. Paulo Mizoguchi, Min. Flávio, Diogo, Douglas, Robson e Priscila pelas
orações.
A Deus (meu Pai) por abrir caminhos, por me sustentar, por ter me dado forças e por
ter colocado tantas pessoas essenciais na execução deste trabalho.
Ao Prof. Airton pela orientação, pela paciência, pela confiança, por acreditar nos
meus sonhos e por ter me apresentado a família LEVB.
A Profª Drª Maria Angélica Gargione Cardoso pela co-orientação deste trabalho, pela
sinceridade e por abrir as portas de seu laboratório, onde foi possível dar os
primeiros passos deste trabalho.
Ao CNPq por bolsa de mestrado concedida.
As professoras: Ms. Sônia Khouri e Drª. Kumiko Sakane, que me ensinaram a base
de microbiologia e espectroscopia no infravermelho e não mediram esforços para
me ajudar.
Ao Prof. Dr. Leandro Raniero por ter me acompanhado no início do trabalho, quando
tudo era sonho, no término, nas traduções e nas discussões. O seu apoio foi
essencial.
Ao Prof. Dr. Mituo Uehara pela preparação de trabalho (Uberlândia).
A Ricardo Belo, meu anjinho da guarda, sem ele dificilmente este trabalho seria
realizado, obrigada por sonhar comigo e me ajudar na execução do mesmo.
A Maira, minha amiga, que tanto me ouviu, que tanto me aconselhou e que tanto me
ajudou. Perua, não tenho palavras para lhe agradecer. Origin, Minitab, cálculo de
número de onda e etc. Ah o meu foco é?...e está em?...no alto!...JESUS!
As minhas amigas: Vanessa Santos, Elizângela Carvalho, Ludmila Guimarães,
Nikele Nadur, Simone Lapena e Maria; por passarem comigo esta jornada de aulas,
trabalhos, provas e apresentações. Saudades!
A família LEVB, alunos e professores, por TUDO, ensinamentos, amizade...quantas
histórias. Amo vocês!
A família NUFABI (Carol e Ana Carla) pelo apoio, por me socorrer.
A professora Sandra e a Maria Alice pelo apoio na fase final do mestrado.
A Rúbia, Valéria, D. Ivone e D. Neuza pelo carinho.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a execução deste trabalho, o
meu muito obrigada!
Fiz mais do que posso
Vi mais do que agüento
E a areia dos meus olhos é a mesma
Que acolheu minhas pegadas
Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados voltam pra Você.
Pra Você.
Eu lutei contra tudo
Eu fugi do que era seguro
Descobri que é possível viver só
Mas num mundo sem verdade.
Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados voltam pra Você.
Pra Você.
Sem medo de Te pertencer.
Voltam pra Você.
Depois de tanto caminhar
Depois de quase desistir
Os mesmos pés cansados voltam pra Você.
Pra Você.
Meus pés cansados de lutar
Meus pés cansados de fugir
Os mesmos pés cansados voltam pra Você.
Pra Você.
(S. Leah)
Caracterização e identificação rápida de bactérias em culturas puras e mistas por
microespectroscopia FT-IR
RESUMO
As doenças infecciosas são uma das causas mais frequentes de mortalidade
mundial, ficando atrás somente das doenças cardíacas, cerebrovasculares e
cânceres. O tempo exigido para a identificação de microrganismos patogênicos
responsáveis pelas doenças infecciosas é causa determinante de taxas de
mortalidade relacionadas a infecções de pacientes hospitalizados. A maioria dos
sistemas de identificação disponíveis em hospitais é baseada na observação de
características fisiológicas e nutritivas dos microrganismos e aplicação de testes
bioquímicos com uma estadia de 24 h até 5 dias para o resultado. Uma técnica
diferente aos métodos tradicionais de identificação de microrganismo é baseada em
espectroscopia no infravermelho. Esta técnica é caracterizada por mínima
manipulação da amostra e não são exigidos testes bioquímicos fornecendo uma
alternativa potencial para a identificação rápida de bactérias. Com o objetivo de investigar
a potencialidade da espectroscopia no infravermelho como uma ferramenta para identificação rápida
de bactérias responsáveis por infecções em ambiente clínico o estudo foi realizado. As bactérias
usadas no estudo foram obtidas da coleção de cultura do Instituto Oswaldo Cruz –
Brasil. Escherichia coli ATCC 10799, Proteus mirabilis ATCC 25933, Pseudomonas
aeruginosa ATCC 15442, Staphylococcus aureus ATCC 14456, Staphylococcus
epidermidis ATCC 9300 e Enterococcus faecalis ATCC 10100 foram analisadas. O
estudo foi realizado em culturas puras e mistas e examinadas em triplicata. Os
inóculos foram preparados segundo a escala de McFarland 0,5, incubados a 37°C
por 6 horas, diluídos em solução salina, depositados em janela de CaF2 e
submetidos a estufa para obtenção de filme fino. As amostras foram mensuradas no
Spectrum Spotlight 400 (Perkin-Elmer) no intervalo de 4000-900 cm-1 com 32
varreduras realizadas por transmitância em modo de ponto e imagem. Os dados
tratados serviram de entrada para análise de cluster usando a primeira derivada e o
algoritmo Ward’s foi aplicado, uma excelente discriminação entre as bactérias foi
obtida. A microespectroscopia FT-IR associado à análise de cluster demonstrou ser
uma ferramenta efetiva na identificação de bactérias em culturas puras e na
identificação de culturas puras e mistas com mínima manipulação de amostra e com
tempo de incubação de apenas 6 horas. A técnica se mostrou rápida, reprodutível,
com os espectros das triplicatas classificados corretamente.
Palavras-chave: Identificação rápida, bactérias, cultura pura, cultura mista,
microespectroscopia FT-IR, análise estatística multivariada.
Characterization and rapid identification of bacteria in pure cultures and mixed by FTIR microspectroscopy
ABSTRACT
Infectious diseases are one of the most frequent causes of death worldwide,
behind heart disease, strokes, and cancers. The time required to identify pathogenic
microorganisms responsible for infection is a determinant of mortality related to
nosocomial infections. Most identification systems available in hospitals are based on
observing the physiological and nutritional characteristics of microorganisms and
application of biochemical tests with a delay of 24 h to 5 days for the result. A
different technique from traditional methods of identifying microorganisms is based
on infrared spectroscopy. This technique is characterized by minimal sample
handling and does not require biochemical tests to provide a potential alternative for
rapid identification of bacteria. This study investigated the potential of infrared
spectroscopy as a tool for rapid identification of bacteria responsible for infections in
the clinical environment. The bacteria used in this study were obtained from the
culture collection of Oswaldo Cruz Institute - Brazil. Escherichia coli ATCC 10799,
Proteus mirabilis ATCC 25933, Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442
Staphylococcus aureus ATCC 14456, Staphylococcus epidermidis ATCC 9300 and
Enterococcus faecalis ATCC 10100 were analyzed. The study was performed in pure
and mixed cultures in triplicate. The inoculations were prepared according to
McFarland 0.5, incubated at 37 ° C for 6 hours, diluted in saline solution, deposited
on CaF2 window and heated to obtain a thin film. The samples were measured by the
Spectrum Spotlight 400 (Perkin-Elmer) in the range of 4000-900 cm-1 with 32 scans
performed by transmittance in point and image mode. The first derivative and Ward’s
algorithm was used as input data for cluster analysis. This method provided an
excellent discrimination between different classes of bacteria. The FT-IR
microspectroscopy associated with cluster analysis proved to be an effective tool to
identify bacteria in pure cultures. It was also able to identify pure and mixed cultures
with minimal sample preparation and a short incubation time of only six hours. The
technique is rapid, reproducible, and correctly classified the triplicate spectra.
Keywords: Rapid Identification, bacteria, pure culture, mixed culture, FT-IR
microspectroscopy, multivariate statistical analysis.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Principais formas das bactérias ..........................................................
23
Figura 2 - Estrutura do Fosfolipídeo ....................................................................
26
Figura 3 - Arranjo das proteínas em estrutura secundária ..................................
27
Figura 4 - Componentes de ácidos nucléicos ......................................................
28
Figura 5 - Esquema básico de estrutura de célula bacteriana .............................
29
Figura 6 - Estrutura do peptideoglicano ..............................................................
31
Figura 7 - Parede celular de bactérias Gram-positivas .......................................
32
Figura 8 - Unidades de ácidos teicóicos ..............................................................
33
Figura 9 - Parede celular de bactérias Gram-negativas ......................................
34
Figura 10 - Estrutura do Lipopolissacarídeo ........................................................
35
Figura 11 - Curva de Crescimento bacteriano .....................................................
37
Figura 12 - Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus e Staphylococcus
epidermidis ...........................................................................................................
39
Figura 13 - Escherichia coli, Proteus mirabilis e Pseudomonas aeruginosa ........
41
Figura 14 - Espectro eletromagnético ..................................................................
44
Figura 15 - Diagrama de níveis de energia ..........................................................
44
Figura 16 - Variação do momento dipolar ............................................................
45
Figura 17 - Vibrações de um grupo de átomos ....................................................
47
Figura 18 - Componentes básicos de um espectrômetro FTIR ............................
50
Figura 19 - Princípio de funcionamento de um Interferômetro de Michelson .......
51
Figura 20 - Comparação do microscópio com luz branca com o microscópio IR .
53
Figura 21 - Espectro de bactéria com diversos tratamentos ................................
56
Figura 22 - Espectros típicos de microrganismos patogênicos ............................
57
Figura 23 - Dendograma resultado da análise de cluster de células microbianas
intactas .................................................................................................................
61
Figura 24 - Etapas da preparação de cultura bacteriana para análise em FT-IR .
62
Figura 25 – Etapas da preparação de amostra bacteriana para análise em FTIR .........................................................................................................................
64
Figura 26 - Espectrofotômetro utilizado no experimento ......................................
64
Figura 27 - Micrografia dos filmes finos de bactérias Gram-negativas e bactérias
Gram-positivas .....................................................................................................
68
Figura 28 - Espectro de absorção da janela de CaF2 ...........................................
69
Figura 29 - Espectro típico de fundo ....................................................................
69
Figura 30 - Mapa da amostra de Proteus mirabilis associado aos vinte
espectros realizados aleatoriamente na amostra e mapa da amostra de
Staphylococcus aureus associado aos vinte espectros realizados na borda da
amostra ................................................................................................................
70
Figura 31 – Regiões do filme fino de Staphylococcus aureus .......................................................
71
Figura 32 - Espectro característico de bactéria com as principais bandas de
vibrações moleculares..........................................................................................
71
Figura 33 - Movimentos moleculares de amida I e amida II de proteínas ............
72
Figura 34 - Espectro FT-IR representativo de Escherichia coli, Proteus mirabilis,
Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus,
Staphylococcus epidermidis .................................................................................
75
Figura 35 - Primeira derivada de ordem espectral em regiões significativamente
diferentes de Escherichia coli, Proteus mirabilis, Pseudomonas aeruginosa,
Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis .....
77
Figura 36 - Dendograma resultado da análise de cluster das seis bactérias
examinadas em triplicata .....................................................................................
78
Figura 37 - Dendograma resultado da análise de cluster da triplicata de
Escherichia...........................................................................................................
79
Figura 38 - Micrografia dos filmes finos de Escherichia coli, Staphylococcus
aureus e Escherichia coli com Staphylococcus aureus ......................................
80
Figura 39 - Espectro FT-IR representativo de Escherichia coli, Staphylococcus
aureus e Escherichia coli com Staphylococcus aureus .......................................
81
Figura 40 - Primeira derivada da média espectral das amostras utilizadas no
estudo, demonstrando diferenças de absorção nas regiões de 3000-2800 cm-1,
1470-1410 cm-1 e 1176-950 cm-1 .........................................................................
82
Figura 41 - Dendograma resultado da análise de cluster das três inoculações
examinadas em triplicata .....................................................................................
84
Figura 42 – Filme fino de Escherichia coli associado ao mapa de absorção
química de uma amostra e aos 64 espectros extraídos da matriz ......................
85
Figura 43 – Filme fino de Staphylococcus aureus associado ao mapa de
absorção química de uma amostra e aos 64 espectros extraídos da matriz .......
86
Figura 44 – Filme fino de Escherichia coli com Staphylococcus aureus
associado ao mapa de absorção química de uma amostra e aos 64 espectros
extraídos da matriz ..............................................................................................
87
Figura 45 – Espectro FT-IR extraído da matriz de imagem representativo de
Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Escherichia coli com Staphylococcus
aureus ..................................................................................................................
88
Figura 46 - Espectros de primeira derivada da cultura mista mostrando regiões
espectrais heterogêneas ......................................................................................
89
Figura 47 - Dendograma resultado da análise de cluster das três inoculações
examinadas em triplicata em modo de imagem ..................................................
90
Figura 48 - Identificação de três diferentes microrganismos em cultura mista
pela técnica de estampa .....................................................................................
96
Figura 49 - Método de estampagem ...................................................................
97
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Ocorrência e características de alguns grupos funcionais .................
24
Tabela 2 - Estruturas bacterianas correlacionadas à composição bioquímica ....
29
Tabela 3 - Comparação da parede celular de bactérias Gram-positivas e Gramnegativas .............................................................................................................
34
Tabela 4 - Características usadas para identificação de bactérias .....................
41
Tabela 5 - Principais grupos funcionais e suas respectivas energias vibracionais
.............................................................................................................................
54
Tabela 6 - Meios seletivos onde as bactérias foram inoculadas ..........................
63
Tabela 7 - Sumários dos estudos realizados, espectros coletados e modo de
aquisição .............................................................................................................
66
Tabela 8 - Atribuição de bandas detalhada associada à composição bioquímica
e estrutura celular ................................................................................................
73
Tabela 9 – Simulação do crescimento exponencial de Escherichia coli com
tempo de incubação de 6 horas a partir de uma célula bacteriana .....................
83
Tabela 10 – Simulação do crescimento exponencial de Staphylococcus aureus
com tempo de incubação de 6 horas a partir de uma célula bacteriana .............
83
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
a - assimétrico
A - adenina
A/D - analógico-digital
ANN (artificial neural network) - rede neural artificial
ATCC (American Type Culture Collection) - Coleção de cultura americana
BaF2 - fluoreto de bário
BHI (brain heart infusion) - infusão de cérebro e coração
ºC - grau Celsius
C - citosina
CaF2 - fluoreto de cálcio
CLTs - cadeias laterais de tetrapeptídeos
Cm -1 - centímetro a -1
Dn - dina
DNA - ácido desoxirribonucléico
DTGS - sulfato de triglicina
E. coli - Escherichia coli
FIR - infravermelho distante
FT - transformada de Fourier
g - grama
G - guanina
HCA (Hierarchical Cluster Analysis) - análise de cluster
IR - infravermelho
K - Kelvin
LPS - lipopolissacarídeos
MCT - telureto de cádmio e mercúrio
µm - micrômetro
MIR - infravermelho médio
NAG - N-acetilglicosamina
NAM - ácido N-acetilmurâmico
NIR - infravermelho próximo
OMP (Outer membrane proteins) - proteínas de membrana externa
PCA (Principal Component Analysis) - análise de componentes principais
RNA - ácido ribonucléico
rRNA - RNA ribossômico
s - segundo
s – simétrico
S. aureus – Staphylococcus aureus
SIMCA (soft independent modeling by class analogy) – Modelagem independente
flexível por analogia de classe
T - timina
U - uracila
U.A. - unidades de absorbância
ZnSe - seleneto de zinco
LISTA DE SÍMBOLOS
α - alfa
β - beta
 - constante de ligação
δ - deformação
ν - estiramento
º - grau
μ - mi (massa reduzida)
- - negativo
 - pi
% - por cento
+ - positivo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 18
2 OBJETIVOS .............................................................................................. 22
2.1 GERAL ................................................................................................... 22
2.2 ESPECÍFICOS ....................................................................................... 22
3 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 23
3.1 BACTÉRIAS ........................................................................................... 23
3.1.1 Estrutura química e composição de células ........................................ 24
3.1.1.1 Carboidratos ..................................................................................... 25
3.1.1.2 Lipídeos ............................................................................................ 25
3.1.1.3 Proteínas .......................................................................................... 26
3.1.1.4 Ácidos Nucléicos .............................................................................. 28
3.1.2 Citologia Bacteriana ............................................................................ 29
3.1.2.1 Parede Celular ................................................................................. 30
3.1.2.1.1 Parede celular de bactérias Gram-positivas .................................. 32
3.1.2.1.2 Parede celular de bactérias Gram-negativas ................................ 33
3.1.2.1.2.1 Lipopolissacarídeo....................................................................... 34
3.1.3 Fases de crescimento ......................................................................... 36
3.1.4 Bactérias Gram-Positivas .................................................................... 38
3.1.4.1 Enterococcus faecalis ....................................................................... 38
3.1.4.2 Staphylococcus aureus .................................................................... 38
3.1.4.3 Staphylococcus epidermidis ............................................................. 39
3.1.5 Bactérias Gram-Negativas .................................................................. 39
3.1.5.1 Escherichia coli ................................................................................ 39
3.1.5.2 Proteus mirabilis ............................................................................... 40
3.1.5.3 Pseudomonas aeruginosa................................................................. 40
3.1.6 Identificação de bactérias pelo método tradicional............................... 41
3.2 Espectroscopia no Infravermelho ............................................................ 43
3.2.1 Absorção no Infravermelho ................................................................. 43
3.2.2 Vibração Molecular .............................................................................. 45
3.2.3 Espectro de Infravermelho .................................................................. 47
3.2.4 Instrumentação .................................................................................... 48
3.2.4.1 Espectrômetro FT-IR ........................................................................ 49
3.2.4.1.1 Fonte de Radiação Infravermelha ................................................. 50
3.2.4.1.2 Interferômetro ................................................................................ 50
3.2.4.1.3 Detectores Infravermelho .............................................................. 52
3.2.5 Microespectroscopia FTIR ................................................................... 52
3.2.6 Análise Espectral ................................................................................. 54
3.2.6.1 Interpretação .................................................................................... 54
3.2.6.2 Pré-processamento espectral ........................................................... 55
3.3 Identificação de bactérias por espectroscopia no infravermelho ............ 56
3.3.1 Análise Estatística Multivariada ........................................................... 60
4. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 62
4.1 Cepas Bacterianas e crescimento ......................................................... 62
4.2 Preparação da amostra .......................................................................... 63
4.3 Microespectroscopia no infravermelho e mensuração ........................... 64
4.4 Tratamento dos dados e análise estatística ........................................... 65
5 RESULTADOS ........................................................................................... 67
5.1 Caracterização, diferenciação e identificação de bactérias Gramnegativas e Gram-positivas .......................................................................... 67
5.2 Diferenciação de culturas puras e mistas ............................................... 79
5.2.1 Culturas mistas e análise de imagem FT-IR ........................................ 84
6 DISCUSSÃO ............................................................................................. 91
7 CONCLUSÃO ............................................................................................ 95
8 SUGESTÕES/TRABALHOS FUTUROS ................................................... 96
9 DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA ................................ 98
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 100
18
1 INTRODUÇÃO
As doenças infecciosas são uma das causas mais frequentes de mortalidade
mundial sendo responsáveis por 25% das mortes globais, mais de 14 milhões de
mortes por ano; ficando atrás somente das doenças cardíacas, cerebrovasculares e
cânceres. Elas são responsáveis por 29 das 96 principais causas de morbidade e
mortalidade humanas listadas pela Organização Mundial de Saúde (MURRAY;
LOPEZ, 1997; TAYLOR; LATHAM; WOOLHOUSE, 2001; WENZEL, 1998; WHO,
2004). Essas manifestações são frequentes em pacientes graves internados em
Unidade de Terapia Intensiva, com infecções comumente relatadas em locais como:
corrente sanguínea, trato-urinário, trato-respiratório, sítios intra-abdominais e feridas
cirúrgicas (IBRAHIM et al., 2000; REIMER; WILSON; WEINSTEIN, 1997).
A estimativa da incidência de infecções e suas consequências, como a sepse, é
crescente,
principalmente
microrganismos
resistentes
em
idosos,
ao
em
tratamento,
pacientes
ou
com
contaminados
sistema
com
imunológico
comprometido ou até aqueles pacientes que se submetem à cirurgia de alto risco por
tempo prolongado (RUSSEL, 2006) .
Uma abrangente revisão de literatura identifica 1415 espécies de organismos
infecciosos conhecidos por serem patogênicos aos humanos, são eles: bactérias,
vírus, fungos ou parasitas, entre os quais estão presentes 538 bactérias (TAYLOR;
LATHAM; WOOLHOUSE, 2001).
O tempo exigido para a identificação destes microrganismos patogênicos é
causa determinante de taxas de mortalidade relacionadas a infecções de pacientes
hospitalizados (IBRAHIM et al., 2000). Apesar dos esforços no desenvolvimento de
métodos diretos para o diagnóstico rápido de doenças infecciosas ou detecção de
microrganismos, o método de cultura permanece o padrão-ouro para a identificação
bacteriana devido à sua sensibilidade, simplicidade, baixo custo e alta qualidade. A
maioria dos sistemas de identificação disponíveis em hospitais é baseada neste
método, que requer a observação de características fisiológicas e nutritivas dos
microrganismos e aplicação de testes bioquímicos. Estes sistemas exigem uma
cultura microbiana pura e 24 h até 5 dias para o resultado. Entretanto em situações
de emergência onde são necessárias ações imediatas, mesmo antes do resultado
19
de identificação, é comum a administração do tratamento empírico com antibióticos
de largo-espectro baseado na experiência clínica e conhecimento da patogênese e
epidemiologia das infecções. O risco desta prática pode conduzir efeitos secundários
tóxicos adversos, entre eles à resistência aos agentes antimicrobianos e a
nefrotoxicidade (ATLAS, SNYDER, 2006; SANDT et al., 2006; STENDER et al.,
2002, MAQUELIN et al., 2003).
A administração inicial inadequada da terapia antimicrobiana aos pacientes
criticamente doentes com infecção está também associada a uma mortalidade maior
(IBRAHIM et al., 2000).
Estudos conduzidos por Barefanger, Drake e Kacich (1999), Doern et al. (1994)
e Kerremans et al. (2008) demonstram que a identificação do microrganismo, em um
menor tempo, permite ao clínico administrar um antimicrobiano mais específico e
consequentemente mais eficaz, o que reduziria a duração de permanência em leito
hospitalar, dos custos associados à doença e da taxa de morbidade e mortalidade.
A questão da identificação rápida do microrganismo ainda são dificuldades
encontradas nos dias atuais. Nos últimos anos novas técnicas têm sido
desenvolvidas para a identificação de microrganismos, existindo um interesse na
descoberta de novos métodos analíticos, principalmente aqueles que permitem a
execução mais rápida da análise do material de pacientes com suspeita de infecção.
Entre as técnicas que oferecem possibilidades para a análise rápida, os métodos
de biologia molecular se destacam por serem sensíveis para a identificação de
microrganismos patogênicos. A maioria dos testes é baseada em sequências
específicas de DNA permitindo a identificação específica. Entretanto, estas técnicas
diagnósticas moleculares possuem custos elevados e são pouco práticas para
utilização em laboratórios de rotina, principalmente para estudos em controle de
infecção que exige uma rápida e simples metodologia para a identificação
(ERUKHIMOVITCH et al., 2005; KIRSCHNER et al, 2001).
Uma
técnica
diferente
aos
métodos
tradicionais
de
identificação
de
microrganismo é baseada em espectroscopia no infravermelho. Esta técnica é
caracterizada por mínima manipulação da amostra, e não são exigidos testes
bioquímicos fornecendo uma alternativa potencial aos métodos convencionais. Com
esta técnica é possível fazer a análise do microrganismo em um tempo de cultura
reduzido em comparação com os métodos comumente utilizados, permitindo a
discriminação de células microbianas intactas, sem a sua destruição e fornecendo
20
impressões bioquímicas específicas que são reprodutíveis e distintas para diferentes
microrganismos (MAQUELIN et al., 2002).
O método fornece um espectro de absorção bioquímica devido às vibrações de
ligações químicas de componentes celulares, tais como proteínas, ácidos nucléicos,
carboidratos e lipídios de membrana e componentes de parede celular; fornecendo
assim a informação sobre a composição bioquímica da célula microbiana
(BALDAUF et al., 2007; AMIALI et al, 2007; KIRSCHNER et al., 2001).
O sistema de FT-IR pode ainda ser acoplado a um microscópio fornecendo um
versátil instrumento para a análise microbiológica rápida. A detecção, a identificação
e a diferenciação microbiana podem estar disponíveis dentro de um único
instrumento, fornecendo resultados diagnósticos potenciais em um dia de trabalho
(MAQUELIN et al., 2002).
O método é aplicável em microbiologia, pois realiza com alta especificidade
identificação
rápida
de
microrganismos
patogênicos,
permite
investigações
epidemiológicas, estudo de populações bacterianas sob condições diferentes de
cultura, conduz estudos de caso, elucida correntes de infecção, controle de terapia e
detecção de infecções periódicas (NAUMANN, 2000; BECKER et al., 2006).
Diante deste contexto é de fundamental importância a identificação rápida de
bactérias responsáveis pela infecção. Aliada a esta realidade apresentada,
evidenciou-se a necessidade da avaliação do potencial da microespectroscopia de
FT-IR para rápida identificação de bactérias.
Esta dissertação encontra-se dividida em sete seções. Na seção 2 é
apresentado os objetivos gerais e específicos do trabalho.
Na seção 3 é feita uma revisão sobre bactérias, sua composição bioquímica e
estruturas celulares e mecanismo de crescimento, além da descrição das principais
bactérias responsáveis por infecção e uma breve descrição do método tradicional de
identificação de bactérias. Ainda na seção 3 é feita uma revisão sobre
espectroscopia no infravermelho onde são explicados seus principais conceitos,
descreve-se a instrumentação necessária para obter um espectro infravermelho,
bem como um breve relato sobre análise e pré-processamento espectral; em
sequência são apresentados trabalhos recentes que envolvem a espectroscopia no
infravermelho como método para identificação de bactérias e análise estatística
multivariada utilizada frequentemente para análise.
21
Na seção
4 é redigido a metodologia empregada para a realização dos
experimentos, desde o protocolo de cultura bacteriana e preparação de amostra,
passando pelos parâmetros adotados para aquisição de espectros e análise
estatística.
Nas seções 5 e 6 são apresentados os resultados e as discussões.
Na seção 7 são apresentadas as principais conclusões deste trabalho e as seções
8 e 9 são apresentadas algumas sugestões e trabalhos futuros, bem como a
divulgação dos resultados da pesquisa.
22
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Identificar
por
espectroscopia
no
infravermelho
as
principais
bactérias
responsáveis por infecção hospitalar.
2.2 ESPECÍFICOS

Caracterizar o espectro vibracional de cada bactéria;

Diferenciar e identificar os espectros de amostras bacterianas em culturas puras
e mistas por análise estatística multivariada;

Avaliar reprodutibilidade do método.
23
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 BACTÉRIAS
As bactérias são seres unicelulares de estrutura relativamente simples, são
microrganismos procariotos que podem se apresentar isolados ou reunidos com
outros microrganismos semelhantes, constituindo colônias. O tamanho de sua célula
varia entre 0,3 a 5 µm, podendo ser móveis ou imóveis; quando móveis são dotadas
de flagelos que permitem sua movimentação. Podem ser classificadas em relação
ao hospedeiro e o meio ambiente em saprófitas e patogênicas (KAYSER et al.,
2005; MURRAY; ROSENTAHL; PFALLER, 2006).
As bactérias podem se apresentar sob formas esféricas ou comumente
chamadas de cocos, bacilos e espirilos (Figura 1). Os cocos são redondos, podendo
ser ovais, alongados ou achatados em uma das extremidades. Os bacilos
assemelham-se a lanças, com extremidade arredondadas ou retas. Os espirilos
assemelham-se a vírgulas ou vibriões. A organização dos cocos em pares, cadeias
ou cachos define grupos de microrganismos denominados diplococos, estreptococos
e estafilococos, respectivamente. Os organismos em forma de bastão podem ser de
morfologia regular, mais curtos (cocobacilares) ou podem aparecer sob forma de
bastão ou halteres (corineformes). As células em forma de vírgula definem uma
característica básica de certas espécies (espécies de Vibrio) (TRABULSI
et al.,
2008; KONEMAN et al., 2001).
(A)
(B)
(C)
Figura 1 - Principais formas das bactérias: cocos (A), bacilos (B) e espirilos (C). Fonte: ( KAYSER et
al., 2005)
24
Quanto à nutrição, muitas bactérias utilizam compostos orgânicos encontrados
na natureza a partir de organismos vivos ou mortos. Algumas bactérias sintetizam
seu próprio alimento por fotossíntese, e algumas obtêm seu alimento a partir de
substâncias inorgânicas. Estes organismos se reproduzem assexuadamente por
fissão binária, processo pelo qual uma célula parenteral dá origem a duas célulasfilhas (HOGG, 2005; TORTORA et al., 2008; RYAN; RAY, 2004).
3.1.1 Estrutura química e composição de células
As células de todos os organismos vivos, desde os microrganismos até o
homem, das células mais simples a mais complexa compartilham certas
propriedades fundamentais e características estruturais, todas elas são constituídas
por compostos químicos. Vários compostos inorgânicos (sódio, potássio, ferro,
magnésio, cálcio, cloro) são encontrados em todos os organismos, porém os
compostos orgânicos têm um maior significado biológico, atuando em muitas etapas
cruciais do metabolismo e na definição de estruturas celulares. Existem milhares
desses compostos orgânicos, a maioria dos quais podem ser agrupados em uma
das quatro categorias principais: carboidratos, lipídeos, proteínas e ácidos nucléicos
(DNA e RNA) (TRUN; TREMPY, 2003).
Alguns dos grupos funcionais mais comuns que ocorrem em moléculas
orgânicas simples, bem como nas macromoléculas são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Ocorrência e características de alguns grupos funcionais. Fonte: Hogg, 2005 (adaptado).
Grupo Funcional
Fórmula
Tipo de molécula
Encontrado em:
Hidroxila
Álcoois
Carboidratos
Carbonila
Aldeídos
Carboidratos
Cetonas
Carboidratos
25
Carboxila
Ácidos carboxílicos
Carboidratos, Lipídeos
e Proteínas
Amino
Aminas
Proteínas
Amida (carbonila e
Amidas
Proteínas
Sulfidril
Tióis
Proteínas
Fosfato
Fosforil
Fosfolipídeos,
amino)
Ácidos nucléicos
3.1.1.1 Carboidratos
Os carboidratos são um grande grupo de compostos orgânicos que inclui
açúcares e amidos, são compostos de átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio;
tem a fórmula geral (CH2O)n, são encontrados em paredes celulares das células
bacterianas e atuam como fonte de reserva nutritiva e precursores de proteínas,
lipídeos e ácidos nucléicos. Sua função principal é fornecer combustível para as
atividades celulares. Podem ser classificados em três grupos principais, com base
no tamanho: monossacarídeos, dissacarídeos e polissacarídeos (MARZZOCO;
TORRES, 2007; BERG; TYMOCZKO; STRYER, 2004).
3.1.1.2 Lipídeos
Os lipídeos são o segundo maior grupo de compostos orgânicos encontrados na
matéria viva. Assim como os carboidratos, são compostos de átomos de carbono,
26
hidrogênio e oxigênio. Existem três categorias principais de lipídeos biologicamente
importantes: triglicerídeos, fosfolipídeos e esteróis.
Os triglicerídeos, denominados gorduras ou lipídeos simples são constituídos de
dois tipos de grupamentos: glicerol e ácidos graxos.
Os lipídeos complexos conhecidos como fosfolipídeos são componentes
importantes de membrana celulares, são compostos de: glicerol, dois ácidos graxos
e em um lugar de um terceiro ácido graxo um grupo fosfato ligado a um dentre
vários grupos orgânicos (Figura 2).
Grupo orgânico
Fosfato
Glicerol
Ácidos Graxos
Figura 2 – Estrutura do Fosfolipídeo: grupo orgânico, fosfato, glicerol e ácidos graxos. Fonte:( HOGG,
2005).
Os esteróis são constituintes importantes das membranas plasmáticas das
células animais e são constituídos de vários anéis de átomos de carbono ligados
entre si.
3.1.1.3 Proteínas
As proteínas são macromoléculas orgânicas que contêm carbono, hidrogênio,
oxigênio e nitrogênio, são longos polímeros de aminoácidos. A complexidade da
estrutura protéica é analisada considerando-se a molécula em termos de quatro
27
níveis
organizacionais,
denominados:
primários,
secundários,
terciários
e
quaternários. (HOGG, 2005; MARACULLA; GOÑI, 2000).
A estrutura primária de uma proteína é determinada pela natureza de
aminoácidos que a compõe.
O arranjo das proteínas em três dimensões é atribuído a sua estrutura
secundária. São dois os tipos principais de arranjo secundário regular: α-hélice e
folha-β (Figura 3), ambas as estruturas unidas por pontes de hidrogênio entre os
átomos de oxigênio ou nitrogênio que fazem parte do esqueleto polipeptídico
(MAHADEVAN-JANSEN; RICHARDS-KORTUM, 1996).
α-hélice
folha-β
Amida
Amida
Ponte de
Hidrogênio
Figura 3 - Arranjo das proteínas em estrutura secundária: α-hélice e folha-β. Fonte: Hogg (2005)
A estrutura terciária resulta do enrolamento da α-hélice ou da folha-β, sendo
estabilizada por pontes de hidrogênio e pontes dissulfeto.
A junção de duas ou mais cadeias polipeptídicas, cada uma com sua própria
estrutura secundária e terciária, combinam-se para gerar a estrutura quaternária.
28
3.1.1.4 Ácidos Nucléicos
Como proteínas, os ácidos nucléicos são grandes moléculas, formada por longas
cadeias de nucleotídeos. São compostos de carbono, hidrogênio, oxigênio,
nitrogênio e átomos de fósforo. Existem dois tipos principais de ácidos nucléicos: o
ácido desoxirribonucléico (DNA) com função de armazenar informação e o ácido
ribonucléico (RNA) com etapas envolvendo a biosíntese protéica e a expressão
gênica (CAMPBELL; SMITH; PETERS, 2006; ALCAMO, 1996).
Cada nucleotídeo é constituído de três componentes: uma molécula de
carboidrato, um grupo fosfato e uma base nitrogenada. As bases nitrogenadas no
DNA são: adenina (A), guanina (G), citosina (C) e timina (T). No RNA a adenina,
guanina e citosina estão presentes, porém uracila (U) encontra-se no lugar da timina
(T) (Figura 4) (CAMPBELL; SMITH; PETERS, 2006; POMMERVILLE, 2004).
Ribose
Desoxirribose
Carboidrato
Uracila
Timina
Adenina
Citosina
Guanina
Bases Nitrogenadas
Figura 4 - Componentes de ácidos nucléicos. Fonte: (NELSON; COX, 2005)
29
3.1.2 Citologia Bacteriana
A célula bacteriana possui, como qualquer célula viva, um genoma, um
citoplasma e uma membrana citoplasmática (com exceção dos micoplasmas) todas
as bactérias possuem também uma parede celular e algumas possuem ainda uma
cápsula externa. A figura 5 apresenta esquematicamente uma célula bacteriana
típica com as principais estruturas externas e internas à membrana citoplasmática.
Na tabela 2 são listadas estas estruturas associada a sua composição química.
Nucleóide
Flagelo
Parede Celular
Peptideoglicano
Membrana externa
observada somente
em bactérias Gramnegativas
Cápsula
Plasmídeo
Pili (Pilus)
Membrana
Citoplasmática
Ribossomos 70S
Grânulos
(Substâncias de depósito)
- Metafosfatos (Volutina)
- Glicogênio (Granulose)
Figura 5 – Esquema básico de estrutura de célula bacteriana. Fonte: (KAYSER et al., 2005)
Tabela 2 – Estruturas bacterianas correlacionadas à composição química. Fonte LEVINSON;
JAWETZ et al., 1998)
Estrutura
Composição química
Componentes essenciais
Parede celular
Peptideoglicano
Esqueleto de carboidrato com cadeias
laterais peptídicas entrecruzadas
Membrana externa
Organismos gram positivos
Ácido teicóico
Organismos gram negativos
Polissacarídeos
30
Membrana Citoplasmática
Bicamada lipoprotéica sem esteróis
Ribossomo
RNA e proteína em subunidades 50S e
30S
Nucleóide
DNA
Componentes não-essenciais
Cápsula
Polissacarídeo
Pili (fímbria)
Protreína (pilina)
Flagelo
Proteína (flagelina)
Plasmídeo
DNA
Grânulos
Glicogênio, lipídeos, polifosfatos
3.1.2.1 Parede Celular
As bactérias se diferenciam pela estrutura da parede celular, seus componentes
e suas funções, em relação à estrutura de parede celular são classificadas em
bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, de acordo com a capacidade de
retenção do corante de Gram. Esta é uma divisão empírica clássica que, de acordo
com a coloração revela diferenças importantes na composição química e na
estrutura de parede celular (MURRAY; ROSENTAHL; PFALLER, 2006; BARBOZA;
TORRES, 2005).
A parede celular é uma estrutura comum a todas as bactérias que, promove
rigidez estrutural, conferindo forma à célula e criando uma barreira física contra o
ambiente externo, possui componentes de superfície como: a capsula, o flagelo e o
pili. Possui uma estrutura com camadas múltiplas localizada externamente à
membrana citoplasmática. É composta por uma camada interna de peptideoglicano,
envolta por uma membrana externa, que varia em espessura e em composição
química dependendo do tipo de bactéria (LEVINSON; JAWETZ et al., 1998,
KONEMAN et al., 2001).
O peptideoglicano é uma rede macromolecular, conhecido também como
mureína, que está presente isoladamente ou em combinação com outras
substâncias. Consiste em um dissacarídeo repetitivo unido por polipeptídeos para
31
formar uma rede que circunda e protege toda a célula. É formado por um esqueleto
de
resíduos
de
carboidratos
formados
por
unidades
alternadas
de
N-
acetilglicosamina (NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM). A este último encontramse ligadas, covalentemente, cadeias laterais de tetrapeptídeos (CLT). A maior parte
das CLTs é composta de L-alanina, D-glutamato, mesodiaminopimelato e D-alanina
(Figura 6). As CLTs podem-se interligar diretamente como na maioria das bactérias
Gram-negativas ou por meio de outros aminoácidos como ocorre nas bactérias
Gram-positivas (KONEMAN et al., 2001; TORTORA et al.,2008; TRABULSI et al.,
2008).
N-acetilglicosamina
N-acetilmurâmico
L-alanina
D-glutamato
D-alanina
mesodiaminopimelato
Figura 6 - Estrutura do peptideoglicano. O peptideoglicano é um polímero composto de alternância
moléculas de N-acetilglicosamina (NAG) e ácido N-acetilmurâmico (NAM). Uma cadeia de tetra
peptídeo está ligada aos resíduos NAM (ver texto para detalhes). Esta configuração é importante para
a formação de uma rede rígida. Fonte: (TRUN; TREMPY, 2003)
32
3.1.2.1.1 Parede celular de bactérias Gram-positivas
Nas bactérias Gram-positivas, aproximadamente 90% da parede são compostos
de peptideoglicano. Além desta macromolécula, são encontradas proteínas e ácidos
teicóicos que podem representar até 50% da massa seca da parede (figura 7).
Os ácidos teicóicos são polímeros que contribuem para a rigidez da parede, são
formados por cerca de 30 resíduos de glicerol ou ribitol (Figura 8), unidos por
ligações fosfodiéster e estão ligados ao peptideoglicano também por ligação
fosfodiéster. São encontrados em dois tipos: ácidos teicóicos de parede ligado ao
peptideoglicano e ácidos lipoteicóicos, que apesar de serem encontrado ao longo da
parede, encontram-se intimamente ligados à fração lipídica da membrana plasmática
(BARBOZA; TORRES, 2005; RYAN, RAY, 2004).
Proteínas
associadas à
parede celular
Ácido lipoteicóico de membrana
Ácido teicóico de parede celular
Polissacarídeo
específico de
parede celular
Peptideoglicano
Membrana
Citoplasmática
Figura 7 – Parede celular de bactérias Gram-positivas. Fonte: (KAYSER et al., 2005)
33
D-alanina
Resíduos de Glicerol
D-alanina
Resíduos de Ribitol
Figura 8 – Unidades de ácidos teicóicos: Glicerol (A) ou Ribitol (B). Fonte: (RYAN; RAY, 2004)
3.1.2.1.2 Parede celular de bactérias Gram-negativas
A parede celular das bactérias gram-negativas tem uma composição química
mais complexa que a das bactérias gram-positivas, conferindo propriedades
bioquímicas, fisiológicas e genéticas peculiares (diferenças apresentadas na tabela
3). É formada por poucas camadas de peptideoglicano e por uma membrana
externa. Na parte externa da membrana citoplasmática, acima da camada de
peptideoglicano localiza-se o espaço periplasmático (figura 9), um compartimento
que contém uma alta concentração de enzimas de degradação e proteínas de
transporte. O peptideoglicano está ligado à membrana externa da parede através de
pequenas lipoproteínas (localizadas no espaço periplasmático). Esta membrana
externa é uma estrutura em dupla camada; sua camada interna é composta de
fosfolipídios
(20%)
e
proteínas
(50%)
assemelhando-se
à
da
membrana
citoplasmática, possui canais especiais constituído de moléculas protéicas
denominadas porinas (proteínas de membrana externa (Outer membrane proteins OMP)) que permitem a difusão passiva de açúcares, aminoácidos e certos íons;
enquanto a camada externa possui em sua composição lipopolissacarídeos (LPS)
(30%) (JAWETZ et al., 1998; LEVINSON; JAWETZ, 1998; RYAN; RAY, 2004).
34
Tabela 3 - Comparação da parede celular de bactérias Gram-positivas e gram-negativas. Fonte:
(LEVINSON; JAWETZ, 1998)
Componente
Células Gram Positivas
Peptideoglicano
Espessa
Células Gram Negativas
(15-80
nm); Fina;
~2
camadas múltiplas
única
Ácido teicóico
Presente
Ausente
Lipopolissacarídeo
Ausente
Presente
Lipoproteína e
Ausente
Presente
nm;
camada
Fosfolipídeos
Antígeno K
Cadeia O
Cerne
Lipídio A
Lipopolissacarídeo
(LPS)
Membrana externa
Fosfolipídeo
OmpA
Porinas
Ex. OmpF
Lipoproteína
Espaço
Periplasmático
Peptideoglicano
Membrana
Citoplasmática
Figura 9 – Parede celular de bactérias Gram-negativas. Fonte: ( KAYSER et al., 2005.)
3.1.2.1.2.1 Lipopolissacarídeo (LPS)
LPS, um componente da membrana externa de bactérias gram-negativas,
aparentemente, é uma das principais toxinas responsáveis pelo início de reações
fisiopatológicas observadas durante graves infecções e choques sépticos. Essas
35
reações frequentemente observadas são: febre, leucopenia, taquicardia, taquipnéia,
hipotensão, coagulação intravascular disseminada e insuficiência de múltiplos
órgãos. (LAMPING et al, 1998; ULMER et al, 2000).
Os LPSs são compostos por três segmentos ligados covalentemente: (1) lipídeo
A, firmemente embebido na membrana; (2) cerne do polissacarídeo, localizado na
superfície da membrana; e (3) cadeia O (antígenos O), que são polissacarídeos que
se estendem como pêlos a partir da superfície da membrana em direção ao meio
circundante.
O lipídio A consiste em unidades dissacarídicas de glicosamina fosforilada, às
quais estão ligados vários ácidos graxos de cadeia longa (Figura 10 A). O cerne do
polissacarídeo (Figura 10 B) é semelhante em todas as espécies de bactérias Gramnegativas que possuem LPS. Em geral, as unidades de repetição consistem em
trissacarídeos lineares, tetrassacarídeos ou pentassacarídeos ramificados. A cadeia
O é um polissacarídeo externo consistindo de até 25 unidades repetidas de três a
oito açúcares(Figura 10 C) (KAYSER et al., 2005).
A porção hidrofóbica do lipídio A tem sido identificado como o princípio
endotóxico do LPS (ULMER et al, 2000).
Cerne do
polissacarídeo
Lipídio
Lipídio A
Cadeia O
- Diglucosamina
- Ácidos graxos
Ácidos graxos
Diglucosamina
Fosfato
(A)
(B)
(C)
Figura 10 – Estrutura do Lipopolissacarídeo: lipídio A (A), cerne do polissacarídeo (B) e cadeia O (C)
Fonte: (KAYSER et al., 2005)
36
3.1.3 Fases de crescimento
A curva de crescimento bacteriano típico de uma população ilustra os eventos
que ocorrem ao longo do tempo. Esta curva pode ser traçada ao inocular um meio
com números de células conhecidas, determinando a população microbiana em
intervalos de tempo e então estabelecidos os valores logaritímicos de células
viáveis. Fases distintas de crescimento ocorrem: (A) fase lag (latente), (B) fase de
aceleração,(C)
fase
logarítmica
(crescimento
exponencial),
(D)
fase
de
desaceleração, (E) fase estacionária e (F) fase de declínio (morte celular) (Figura 11)
(PELCZAR; CHAN; KRIEG 1997; KAYSER et al., 2005; POMMERVILLE, 2004).
(A) Fase lag (latente) – Representa um período durante o qual as células estão
passando por uma intensa atividade metabólica, principalmente síntese de enzimas
e de moléculas variadas, é considerado um período de adaptação ao novo meio
para que haja um reinício do crescimento.
(C) Fase logaritímica (crescimento exponencial) – Após a adaptação ao novo
meio e síntese das enzimas necessárias para utilizar os substratos disponíveis, as
bactérias são capazes de iniciar a divisão celular por fissão binária. Este evento leva
ao crescimento exponencial da população bacteriana presente na cultura. Esta
situação prossegue até que ocorra uma de duas alternativas: um ou mais nutrientes
no meio se esgotam ou ocorre acúmulo de produtos metabólicos tóxicos, que inibem
o crescimento.
(E) Fase estacionária – Como discutido acima a fase logaritímica é limitada por
fatores no ambiente (meio), e como a taxa de crescimento desacelera, a cultura
entra em uma próxima fase. O nivelamento da curva de crescimento não significa
que a divisão celular tenha cessado completamente, mas sim que o aumento
(devido às células recém-formadas) é similar ao de mortes celular.
(F) Fase de declínio – Se os nutrientes no ambiente externo continuam sendo
limitados, a população entra em fase de declínio (morte). Agora, o número de morte
celular se torna superior ao número de novas células formadas. O glicocálice
bacteriano pode evitar a morte, agindo como um tampão para o ambiente, flagelos
podem permitir que determinadas bactérias movam para um novo local, porém para
muitas espécies, a história da população termina com a morte da última célula.
37
(B) Fase de aceleração e (D) Fase de desaceleração – Período de transição
entre uma nova fase.
Nº de células viáveis (log)
Curva de Crescimento de Cultura Bacteriana
x
A = Fase
lag (latente),
B = Fase de aceleração,
C = Fase log (crescimento
exponecial),
D = Fase de desaceleração,
E = Fase estacionária,
F = Fase de declínio (morte)
t2
t1
(Horas)
Tempo
(Dias)
Figura 11 - Curva de Crescimento bacteriano. Fonte: (KAYSER et al., 2005)
O tempo de geração, tempo necessário para uma célula se dividir, só pode ser
determinado durante a Fase C, graficamente ou por determinação da contagem de
células (n) em dois diferentes tempos e aplicando a fórmula:
g
t 2  t1
log 2n 2  log 2n1
Onde:
g = tempo de geração;
t1 = tempo no início da fase logarítmica de crescimento;
t2 = tempo no final da fase logarítmica de crescimento;
log 2 = 0.30;
n2 = nº de células bacterianas no t2;
n1 = nº de células bacterianas no t1.
Este tempo pode sofrer variações entre os organismos e depende das condições
ambientais, em geral a maioria das bactérias apresentam um tempo de geração de 1
a 3 horas. Uma célula com o tempo de geração de 20 minutos – como exemplo a
bactéria Escherichia coli crescendo em condições ideais de cultivo – aumentará seu
número, após 20 gerações, para aproximadamente 1 milhão de células. Este
aumento ocorrerá em aproximadamente 7 horas (POMMERVILLE, 2004).
38
3.1.4 Bactérias Gram-Positivas
3.1.4.1 Enterococcus faecalis
Enterococcus faecalis é uma bactéria frequentemente associada a infecções em
humanos, agente causal em infecções urinárias, intra-abdominais, endocardite e
sepse, comportando-se, muitas vezes, como um agente oportunista em infecções
hospitalares. Podem ser causa de pelo menos 10% das infecções hospitalares e em
algumas casuísticas situa-se em terceiro lugar como causa destas infecções, após
Escherichia coli e Staphylococcus aureus. Espécie de bactérias do gênero
Enterococcus, habitante do trato gastrointestinal de homens e animais. São cocos
Gram-positivos, não móveis e anaeróbios facultativos (Figura 12 A) (D’AZEVEDO et
al., 2004; KIRSCHNER et al., 2001; TAVARES, 2000).
3.1.4.2 Staphylococcus aureus
Staphylococcus aureus é o patógeno humano mais importante entre os
estafilococos, atua como agente de uma ampla gama de infecções, variando desde
aquelas localizadas, geralmente superficiais, até algumas disseminadas. Está
enquadrado como um dos principais agentes de infecções hospitalares. É
considerado membro persistente da microbiota endógena humana, encontrado
principalmente no trato respiratório alto. Possuem 0,5-1,5 micrômetros de diâmetro,
ocorrendo em arranjos individuais em pares, e agrupamentos irregulares. São cocos
Gram-positivos, não móveis, não esporulados, anaeróbios facultativos, algumas
cepas produzem um exopolissacarídeo (cápsula) que pode impedir a fagocitose do
microrganismo (Figura 12 B). (COHEN, 1986; LOWY, 2003; KONEMAN et al., 2001).
3.1.4.3 Staphylococcus epidermidis
39
Staphylococcus epidermidis é um dos principais membros da microbiota normal
do ser humano, está regularmente presente na pele e nas mucosas, é a causa
predominante de infecções associadas a corpo estranho (cateteres, sondas). Além
disso, S. epidermidis é isolado com frequência como o patógeno causador da sepse
hospitalar e outras infecções nosocomiais, classificado entre os cinco mais
frequentes patógenos hospitalares. A patogênese das infecções S. epidermidis é
correlacionada com a capacidade de formar biofilmes em superfícies de polímeros.
São cocos Gram-positivos arranjados em cachos e tétrades (Figura 12 C)
(KNOBLOCH, 2001; TRABULSI et al., 2008).
(A)
(B)
(C)
Figura 12 - Enterococcus faecalis (A), Staphylococcus aureus (B) e Staphylococcus epidermidis (C).
Fonte: (ARE et al., 2008; TODAR, 2008; TRABULSI et al., 2008)
3.1.5 Bactérias Gram-Negativas
3.1.5.1 Escherichia coli
Escherichia coli, gênero da espécie Escherichia, foi descrita pela primeira vez,
em 1885, por Theobald Escherich. Este gênero é um membro típico de
enterobactérias que habitam principalmente no intestino de humanos e animais,
colonizando o trato gastro-intestinal infantil poucas horas após o nascimento.
Geralmente três síndromes clínicas podem resultar de infecções por cepas
patogênicas de E. coli: sepse como consequência de meningite , infecção do trato
urinário e diarréia. É uma bactéria frequentemente isolada em hemoculturas de
pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva. Elas são classificadas
40
como bacilos Gram-negativos, não esporulados, anaeróbios facultativos; possuem
motilidade através de flagelos ou são imóveis, a cápsula ou microcápsula são
frequentemente
presentes
(Figura
13
A)
(SUSSMAN,
1997,
STENUTZ;
WEINTRAUB; WIDMALM, 2006; ALCAMO, 1996).
3.1.5.2 Proteus mirabilis
Proteus mirabilis, espécie de bactéria do gênero Proteus são bacilos Gramnegativos pertencentes à família de Enterobactérias. Estas bactérias causam
infecções oportunistas principalmente em imunodeprimidos e é considerada uma
das bactérias mais importantes entre as uropatogênicas, produzem grandes
quantidades de uréase que degrada a uréia formando amônia e outros produtos.
Possuem motilidade através de flagelo e possuem fímbrias que promovem a
aderência bacteriana (Figura 13 B) (ALLISON, 1992).
3.1.5.3 Pseudomonas aeruginosa
Pseudomonas aeruginosa, o mais frequente bacilo gram-negativo não
fermentador, é um patógeno humano oportunista que causa uma variedade de
infecções em imunodeprimidos e portadores de fibrose cística, é um dos mais
importantes agentes de infecção hospitalar. São fisiologicamente aeróbios (podendo
crescer anaerobicamente quando há presença de nitrato), não esporulados, móvel
por um simples flagelo polar, aderentes às células epiteliais através das fimbrias
(Figura 13 C) (PASSADOR, 1993).
41
(A)
(B)
(C)
Figura 13 – Escherichia coli (A), Proteus mirabilis (B) e Pseudomonas aeruginosa (C). Fonte:
(KUNKEL, 2004)
3.1.6 Identificação de bactérias pelo método tradicional
Inúmeras técnicas de identificação de bactérias têm sido descritas na literatura,
entretanto é indiscutível o sucesso da identificação de bactérias pelo método
tradicional de cultura, considerado padrão ouro. Este método requer o uso de
diversas técnicas para a determinação bacteriana guiados pelo Bergey’s Manual of
Systematic Bacteriology.
O princípio essencial é atribuição de uma cultura
desconhecida dentro do sistema de classificação taxonômica com base na
observação de um conjunto complexo de características tais como; composição de
parede celular, morfologia, características culturais e fisiológicas. A forma, o
tamanho e o arranjo da bactéria, observados ao microscópio após coloração
diferencial; a capacidade de metabolização de substratos particulares são alguns
dos indicadores utilizados na identificação de uma bactéria, algumas dessas
características são apresentadas na tabela 4 (COLWELL, GRIGOROVA, 1987;
KAYSER et al, 2005; WILKINS; LAY, 2006).
Tabela 4 – Características usadas para identificação de bactérias. Fonte: (KAYSER et al, 2005)
Características usadas para identificação de bactérias
Características morfológicas
Forma (coco, bacilo, espirilo);
Tamanho, agrupamento (cachos, cadeias, diplococos);
Coloração (Gram-positiva, Gram-negativa), flagelos (presente, ausente), cápsula
(presente, ausente), esporos (forma, na formação de células).
42
Características fisiológicas
Enzimas de cadeia respiratória (oxidase, catalase);
Enzimas que quebram carboidratos, alcoóis, glicosídeos;
Enzimas do metabolismo de proteínas (ex: gelatinase, colagenase);
Enzimas do metabolismo de aminoácidos (ex: dercarboxilase, uréase);
Outras enzimas: hemolisina, lípase, DNases e etc;
Produtos de Metabolismo (ácidos orgânicos detectados por cromatografia a gás);
Resistência/ sensibilidade a substâncias químicas;
Características de metabolismo anabólico (ex: citrato como única fonte de carbono).
Esta técnica geralmente requer uma primeira cultura onde as amostras de fluidos
corporais (por exemplo, sangue, urina, líquido cefalorraquidiano) de pacientes com
suspeita de infecção são semeadas em meio de enriquecimento, que permite o
crescimento de inúmeros microrganismos, nesta etapa são realizadas as contagens
de células. Na segunda etapa são utilizados meios seletivos que contêm substâncias
inibidoras que permitem o isolamento de determinados microrganismos, a partir do
isolamento destes microrganismos são realizados os testes bioquímicos para a
identificação. Estes sistemas exigem um tempo de crescimento de 24 h para cada
etapa, podendo levar alguns dias para o resultado (BARON, 1996; SANDT et al.,
2006; MURRAY; ROSENTAHL; PFALLER, 2006).
A seleção e o número de testes para identificação bacteriana dependem da
categoria de bactérias presentes (aeróbio versus anaeróbio, Gram-positivas versus
Gram-negativas, cocos versus bacilos) e da experiência do microbiologista ao
analisar a cultura. Cocos gram-positivos, aeróbios ou anaeróbios facultativos podem
ser identificados por um número relativamente pequeno de testes. Enquanto a
identificação da maioria dos bacilos gram-negativos é muito mais complexa e exige
muitas vezes painéis de 20 testes para determinar características bioquímicas e
fisiológicas (BARON, 1996; MURRAY, 2006).
Em um contexto clínico a identificação do microrganismo refere-se ao uso prático
de um esquema de classificação para isolar e identificar o agente etiológico de uma
determinada doença, para então permitir a seleção de um tratamento farmacológico
especificamente orientado para a sua erradicação (JAWETZ et al., 2000).
43
3.2 Espectroscopia no Infravermelho
A espectroscopia no infravermelho é o estudo da interação da luz na região do
infravermelho com a matéria, é uma técnica baseada em vibrações dos átomos de
uma molécula (FREIFELDER, 1982). É uma modalidade relativamente antiga que
fornece um retrato de vibrações moleculares (NAUMANN, 2008).
E certamente uma das mais importantes técnicas analíticas à disposição dos
pesquisadores. Na área Biomédica tem sido utilizada para distinguir entre diferentes
tipos celulares, estruturas de tecido, biofluídos e até mesmo para detectar mudanças
nesses materiais biológicos induzidos por processos patológicos. Em estudos de
processos patológicos esta técnica foi utilizada para caracterização e detecção de
células cancerígenas, células infectadas por vírus e para monitoramento de
substâncias farmacológicas injetadas em animais (ERUKHIMOVITCH et al, 2005;
STUART, 2004; NAUMANN, 2008).
Nos últimos 20 anos tem sido utilizada para identificação rápida de
microrganismos, identificando de espécie a subespécie de bactérias, leveduras e
fungos de importância clínica e industrial (MAQUELIN et al., 2003; OUST, 2004).
3.2.1 Absorção no Infravermelho
A
radiação
infravermelha
estende-se
da
região
eletromagnético à região da microonda (10.000 - 10 cm
visível
-1
do
espectro
), é subdividida em
infravermelho próximo (NIR) de 10.000 a 4000 cm-1, infravermelho médio (MIR) de
4000 a 400 cm-1 e infravermelho distante (FIR) de 400 a 10 cm-1 (Figura 14 )
(GAUGLITZ; VO-DINH, 2003; NAUMANN, 2000).
A absorção de luz infravermelha induz excitação na molécula promovendo
transições entre os níveis de energia. Os níveis de energia principais são
determinados pelas possíveis distribuições espaciais dos elétrons e são chamados
níveis eletrônicos de energia, sobre estes existem os níveis vibracionais, que
indicam as várias modalidades de vibração da molécula. Todos estes níveis são
geralmente descritos por um diagrama de níveis de energia (Figura 15). O primeiro
44
nível eletrônico é chamado de estado fundamental e os demais são estados
excitados (WARTEVIG, 2003; FREIFELDER et al, 1982).
Comprimento de
onda
Número de onda
Freqüência
Região espectral
Figura 14 – Espectro eletromagnético. Fonte: (NAUMANN, 2000)
A energia pode residir nas moléculas em diversas formas, entre as mais
importantes estão à energia rotacional, vibracional e eletrônica. A espectroscopia no
infravermelho é baseada em vibrações moleculares e monitora a transição entre os
níveis de energia vibracionais.
ENERGIA
Primeiro estado excitado
Níveis Vibracionais
Estado fundamental
Figura 15 - Diagrama de níveis de energia mostrando o estado fundamental e o primeiro estado
excitado. Fonte: Adaptado de (FREIFELDER, 1982).
A condição para que ocorra absorção da radiação infravermelha é que haja
variação do momento de dipolo elétrico da molécula como consequência de seu
movimento vibracional ou rotacional (o momento de dipolo é determinado pela
magnitude da diferença de carga e a distância entre dois centros de carga) (Figura
16). Somente nessas circunstâncias, o campo elétrico alternante da radiação
45
incidente interage com a molécula, originando os espectros. De outra forma, pode-se
dizer que o espectro de absorção no infravermelho tem origem quando a radiação
eletromagnética incidente tem uma componente com frequência correspondente a
uma transição entre dois níveis vibracionais, quando sua frequência é idêntica ao da
vibração molecular.
Figura 16 - Variação do momento dipolar. Fonte: (STUART, 2004)
A grande maioria das moléculas têm bandas de infravermelho na faixa espectral
entre 400 e 4000 cm-1 (MIR), isso se deve, principalmente, ao fato de nessa região
ocorrerem, essencialmente, transições fundamentais e à existência de uma faixa
espectral conhecida como região de impressão digital. Nessa região, pequenas
alterações na estrutura e na constituição de uma molécula resultam em mudanças
significativas na distribuição das bandas de absorção do espectro, que são
relacionados com a estrutura da molécula (NAUMANN, 2000; WARTEWIG, 2003).
3.2.2 Vibração Molecular
Uma molécula não é uma associação rígida de átomos. Uma molécula pode ser
comparada a um sistema de massas variáveis, correspondentes aos átomos da
molécula, e molas de diversos comprimentos, correspondente às ligações químicas
da molécula.
A espectroscopia vibracional analisa as vibrações periódicas dos átomos dentro
de uma molécula. Essas vibrações não ocorrem aleatoriamente, mas de uma forma
rigorosamente definida. As vibrações moleculares podem ir desde simples
46
movimentos associados de dois átomos em uma molécula diatômica a movimentos
mais complexos de cada átomo em uma grande molécula poliatômica. As ligações
covalentes que constituem as moléculas orgânicas estão em constantes movimentos
axiais e angulares (SIEBERT; HILDEBRANDT, 2008; GRIFFITHS; HASETH, 2007).
Em uma molécula poliatômica, cada átomo possui três graus de liberdade: ele
pode se mover de forma independente ao longo de cada um dos eixos de um
sistema de coordenadas cartesianas. Se N átomos constituem uma molécula,
existem 3N graus de movimentos livres. Para moléculas não-lineares, três destes
graus - os translacionais – envolvem movimentos de todos os átomos que se
deslocam simultaneamente na mesma direção paralela aos eixos de um sistema de
coordenadas cartesianas não alterando a distância entre os átomos. Outros três
graus de liberdade, os rotacionais, também não alteram a distância entre os átomos,
por exemplo, sobre os eixos principais da molécula. O restante 3N - 6 graus alteram
as distâncias entre os átomos, os comprimentos das ligações químicas e os ângulos
entre eles. Uma vez que estas ligações são elásticas, movimentos periódicos
ocorrem. Estes 3N-6 graus de liberdade determinam o número de modos de
vibração molecular. As moléculas lineares possuem apenas dois graus de liberdade
rotacional e, portanto tem 3n-5 graus de liberdade vibracional (DIAS, 1986;
SHRADER, 1995; CHALMERS; GRIFTHS, 2002).
Esses graus de liberdade correspondem aos diferentes modos normais de
vibração de uma molécula. Um modo normal de vibração é aquele em que cada
núcleo realiza uma oscilação harmônica simples em torno de sua posição de
equilíbrio, todos os núcleos se movem com a mesma frequência e em fase e o
centro de gravidade da molécula permanece inalterado.
Existem dois modos fundamentais de vibração de moléculas: estiramento ou
deformação axial, em que à distância entre dois átomos aumenta ou diminui, mas os
átomos permanecem no mesmo eixo de ligação; e deformação angular, em que a
posição do átomo muda em relação ao eixo original da ligação. Vibrações de
estiramentos podem ocorrer em fase (estiramento simétrico) ou fora de fase
(estiramento assimétrico). Vibrações de deformação podem ocorrer no plano
(tesoura e balanço) ou fora do plano (sacudida e torção) (Figura 17) (SIEBERT;
HILDEBRANDT, 2008; STUART, 2004).
47
Vibrações de Estiramento
Estiramento simétrico
Estiramento assimétrico
Vibrações de Deformação
Tesoura
Balanço
Sacudida
Torção
Figura 17 – Vibrações de um grupo de átomos (+ e – significam vibrações perpendiculares). Fonte:
Stuart (2004)
3.2.3 Espectro de Infravermelho
Um espectro de infravermelho (IR) de uma amostra geralmente é obtido
colocando-se a amostra em um espectrofotômetro infravermelho de feixe simples ou
duplo e fazendo-se uma varredura da intensidade da radiação de IR antes e depois
da passagem do feixe através da amostra, ou seja, medindo a intensidade relativa
da luz transmitida (ou absorvida) em função do comprimento de onda (ou número de
onda (cm-1)).
Os espectros de IR consistem em um grande número de bandas de absorção,
originadas da troca de energia e movimentos mecânicos das moléculas que são
excitadas pela absorção da radiação de IR. A energia de uma banda de absorção
originada no espectro corresponde à frequência de uma vibração de parte de
moléculas da amostra. (BEATTIE et al., 1998; NAUMANN, 2000).
Cada banda do espectro é caracterizada pelos seguintes parâmetros:
(a) A posição máxima da banda ( ), mais frequentemente, expressa em números
de onda (cm-1). A posição máxima da banda está relacionada às massas dos
dois átomos (m1 e m2 em g) das ligações químicas em questão, à velocidade
da luz (c em cm/s) e a força constante da ligação (  em dn), expressa pela
seguinte equação:
48

1 
2c 
Onde,
μ = massa reduzida
μ
m1m2
m1  m2
(b) A intensidade (absorção) da banda:

Máxima, I max

Integrada, I int
(c) A largura de banda.
A posição máxima da banda é o parâmetro mais importante, pois fornece
informação sobre a frequência e por isso o tipo de vibração. O deslocamento dessa
frequência provocada por fatores externos, fornece dados essenciais sobre as
mudanças estruturais em uma molécula. A intensidade de uma banda produz
informações sobre o número de grupos de vibração. A intensidade máxima não é um
parâmetro muito importante, uma vez sob diferentes condições em torno de uma
molécula a banda pode ser mais abrangente, maior ou menor e mais estreita. A
intensidade integrada tem um sentido mais físico, porque reflete a probabilidade de
transição entre os níveis. A largura de banda depende da função instrumental e do
efeito a cerca da vibração (TWARDOWSKI; ANZENBACHHER, 1994).
3.2.4 Instrumentação
Os instrumentos utilizados para obtenção de espectros vibracionais são
chamados espectrômetros. Existem dois tipos básicos de espectrômetros que são
utilizados em espectroscopia no infravermelho, são eles: os espectrômetros
dispersivos, baseados em princípios dispersivos (presença de prismas, redes de
difração, fendas, etc) e os espectrômetros com transformada de Fourier (FT),
49
baseados
em
princípios
interferométricos
(GAUGLITZ;
VO-DINH,
2003;
TWARDOWSKI; ANZENBACHHER, 1994).
Desde a década de 40 os espectrômetros dispersivos vem sendo utilizados; no
entanto no final da década de 70 começaram a ser progressivamente substituídos
por espectrômetros com transformada de Fourier (FT), estes tem melhorado a
aquisição espectral de forma significativa, revolucionando este campo. Atualmente
os espectrômetros IR que trabalham em rotina ou instrumentos de pesquisa são
baseados neste princípio (SIEBERT; HILDEBRANDT, 2008).
A vantagem mais significativa dos espectrômetros FT é que a radiação de todos
os comprimentos de onda é medida simultaneamente enquanto que em
espectrômetros dispersivos todos os comprimentos de onda são avaliados de forma
consecutiva. Portanto, um espectrômetro FT é muito mais rápido e mais sensível,
permite a aquisição de centenas de espectros de infravermelho em apenas alguns
minutos (GAUGLITZ; VO-DINH, 2003).
3.2.4.1 Espectrômetro FT-IR
Um espectrômetro FT-IR é um instrumento baseado na idéia da interferência
entre dois feixes de radiação para produzir um interferograma de um sinal de
amostra usando um interferômetro. Este interferograma pode ser tratado por meio
de um processo matemático, denominado transformada de Fourier, originando um
espectro ou padrão de absorção da amostra. Possui três componentes básicos: a
fonte, o interferômetro e o detector. Um diagrama esquemático do espectrômetro FTIR é apresentado na figura 18. A radiação emergente da fonte é transmitida através
de um interferômetro à amostra antes de chegar a um detector. Após a amplificação
do sinal, em que as contribuições de alta frequência foram eliminadas por um filtro,
os dados são convertidos em formato digital por um conversor analógico-digital (A/D)
e transferido para o computador por transformada de Fourier (STUART, 2004 ;
WATERWIG, 2003).
50
Fonte
Interferômetro
Amostra
Detector
Amplificador
Conversor
Analógico-Digital
Computador
Figura 18 - Componentes básicos de um espectrômetro FTIR. Fonte: (STUART, 2004; NAUMANN,
2000)
3.2.4.1.1 Fonte de Radiação Infravermelha
Todos os espectrômetros de infravermelho possuem uma fonte de radiação
infravermelha que é geralmente um material sólido inerte aquecido eletricamente a
uma temperatura entre 1.500 e 2.200 K, o resultado é uma radiação contínua. O
emissor de Nernst é uma fonte composta principalmente de óxidos de terras raras
como o zircônio, ítrio e tório; e o emissor Globar é uma barra de carbeto de silício. A
principal desvantagem do emissor de Nernst é o fato de que a emissividade dos
óxidos é bastante baixa, acima de 2000 cm-1. Se a região abaixo de 2000 cm-1 é de
interesse, a melhor fonte é um emissor Globar. Outros materiais para emissão
também tem sido utilizados com sucesso, como o arco de mercúrio e a lâmpada de
filamento de tungstênio. Todas estas fontes são emissores bastante eficientes de
radiação infravermelha (COLTHUP, 1990; GRIFTHS, 2007; STUART, 2004).
3.2.4.1.2 Interferômetro
O interferômetro mais comum usado em espectroscopia FT-IR é o interferômetro
de Michelson, que consiste em dois espelhos (um fixo e um móvel) e um divisor de
feixe (beam-splitter) que transmite 50% da radiação incidente da fonte para o
espelho móvel e reflete os outros 50% para o espelho fixo. Os espelhos, por sua
vez, refletem os dois feixes para o divisor, onde se recombinam. Se os dois espelhos
encontram-se
equidistantes
do
divisor,
as
amplitudes
combinam-se
construtivamente. Se o espelho móvel mover-se a uma distância de l/4 do divisor, as
amplitudes combinam-se destrutivamente. Para a radiação no infravermelho, a soma
de todas as interações construtivas e destrutivas para cada componente resulta num
51
sinal complexo denominado interferograma. Após a aquisição do interferograma, é
aplicada a transformada de Fourier que converte os dados obtidos no interferômetro
em um espectro ou padrão de absorção da amostra, que relaciona a intensidade
versus frequência (número de onda) (Figura 19) ( WATERWIEG, 2003; GRIFTHS,
2007).
Espelho fixo
(A)
Espelho móvel
Amostra
Divisor de feixe
Fonte
Frequência única
(B)
(C)
Sinal do detector
Fonte de luz branca
(D)
Sinal do detector
Figura 19 – Princípio de funcionamento de um Interferômetro de Michelson consistindo de uma fonte
de luz, divisor de feixe, espelho fixo, espelho móvel, detector e amostra (A). Uma fonte de luz com
frequência única (B) é modulado para um sinal senoidal observada pelo detector (C). Uma fonte de
luz branca (por exemplo, proveniente de uma fonte globar) é transformado para o interferograma (D).
Fonte: (NAUMANN, 2000)
52
3.2.4.1.3 Detectores Infravermelho
O detector de infravermelho é um dispositivo que mede a energia infravermelha
da fonte que passou pelo espectrômetro. Existem dois detectores usualmente
empregados para a região do infravermelho médio. O detector normal para uso
rotineiro é o sulfato de triglicina (DTGS), um dispositivo piroelétrico que opera a
temperatura ambiente. É o detector mais comum em FTIR, de resposta mais rápida
do que os tradicionais. As vantagens dos detectores DTGS é que eles são simples,
barato e robusto. A principal desvantagem dos detectores DTGS é que eles são
menos sensíveis do que outros disponíveis, isto significa que há certas aplicações,
tais como a microespectroscopia de infravermelho, onde os detectores DTGS
simplesmente não podem ser utilizados. Para trabalhos mais sensíveis o telureto de
cádmio e mercúrio (MCT) pode ser usado, este tem capacidade fotocondutiva e
opera à temperatura do nitrogênio líquido. Tem melhor resposta a frequências com
alta modulação, em relação ao DTGS (COLTHUP, 1990; SMITH, 2004).
3.2.5 Microespectroscopia FTIR
O sucesso do renascimento da espectroscopia no infravermelho na década de
1980 foi em grande parte o resultado do acoplamento do microscópio com o
espectrômetro de infravermelho com transformada de Fourier, microespectrocopia
FTIR. Desde aquela época, a microespectroscopia FTIR rapidamente ganhou ampla
aceitação na comunidade científica como uma ferramenta qualitativa para a análise
de contaminantes isolados ou áreas localizadas de grandes amostras. Embora o
método tenha uma resolução espacial limitada, com relação a outros métodos de
microanálise (por exemplo, microscopia eletrônica de varredura acoplada com
espectroscopia de energia dispersiva), a capacidade para fornecer informações
moleculares e, assim, a identificação direta tem sido uma das principais vantagens
do método (CHALMERS; GRIFTHS, 2002).
A microespectroscopia FT-IR tem sido aplicada em estudos de biomateriais,
tecidos biológicos, plantas, microrganismos entre outros. Nos últimos anos, houve
53
avanços consideráveis, com amostras sendo caracterizadas na ordem de microns
(STUART, 2004).
Um esquema básico de um microscópio convencional e de infravermelho são
ilustrados na figura 20. Em cada microscópio, a luz da fonte é focalizada sobre a
amostra usando um condensador. A luz transmitida pela amostra é recolhida pela
objetiva, que forma uma imagem ampliada da amostra iluminada no plano de
imagem primária. Esta imagem é então recriada para um detector adequado. Em
geral, a função e os componentes encontradas em cada microscópio são as
mesmas, as únicas exceções são de que o microscópio IR: emprega a radiação no
IR e usa um detector de IR sensível. Além dessas diferenças, o funcionamento do
microscópio de IR é idêntico à do microscópio óptico. O mais importante
é de que todos os microscópios IR incorporam um microscópio de luz branca no seu
caminho óptico para permitir que o analista manipule e veja a amostra (CHALMERS;
GRIFTHS, 2002).
Detector
Ocular/
Detector óptico
Imagem
primária
Objetiva
Amostra
Condensador
Fonte
(A)
(B)
Figura 20 – Comparação do microscópio com luz branca (A) com o microscópio IR (B). Fonte:
(CHALMERS; GRIFTHS, 2002)
54
3.2.6 Análise Espectral
3.2.6.1 Interpretação
A combinação das vibrações fundamentais ou rotações de vários grupos
funcionais e as sutis interações destes grupos funcionais com outros átomos da
molécula resultam, em geral, em um espectro IR complexo que precisa ser
interpretado.
Felizmente, a interpretação do espectro é simplificada pelo fato de que as
bandas que aparecem geralmente podem ser atribuídas a determinadas regiões de
uma molécula, produzindo o que são conhecidas como grupos de frequências
(STUART, 2004).
Os principais grupos de frequências associado aos grupos funcionais são
apresentados na tabela 5.
Tabela 5 – Principais grupos funcionais e suas respectivas energias vibracionais. Fonte: COATES,
2000.
Grupo Funcional
Grupos de frequência
cm-1
Hidroxila (estiramento O-H)
3570–3200
Carbonila
Aldeídos
1740–1725/(2800–2700a)
Cetonas
1725-1705
Carboxila
a
Ácidos carboxílicos
1725-1700
Amino (estiramento N-H)
3400-3380b
Amida (estiramento C=O)
1680-1630
Sulfidril (estiramento S-H)
2600-2550
Fosfato (estiramento P=O)
1350-1250
Banda de alta frequência característica de aldeídos, associado com o aldeídico terminal
(estiramento C-H). b amino primário.
55
3.2.6.2 Pré-processamento espectral
A manipulação de espectros envolve alterações ou execuções de cálculo sobre o
espectro original. O objetivo de manipular um espectro é melhorar a sua aparência,
ou extrair mais informações dele. Vários tratamentos podem, então, ser realizados:

Suavização espectral (usando geralmente o algoritmo Savitsky Golay com 9
pontos) – usada para diminuir o nível de ruídos.

Correção de linha de base - usada para evitar a heterogeneidade entre espectros
devido ao desvio da linha de base.

Normalização - usada para excluir diferenças de espessura da amostra. Os
espectros são normalizados pela banda mais intensa, ou com a mesma
intensidade integrada numa dada região espectral.

Derivação - usada para minimizar a variabilidade da linha de base e aumentar a
resolução. Em identificação de microrganismos os melhores resultados parecem
ser obtidos com a primeira derivada, conforme estudos anteriores já concluídos
(MARIEY et al., 2001).
0.9
0.9
Alguns exemplos de tratamento são apresentados na figura 21.
0.8
Absorbance Units
0.4
0.5
0.6
0.6
0.5
0.3
0.4
0.0
0.0
0.1
0.1
0.2
0.2
0.3
Absorbance Units
Com suavização espectral
0.7
0.7
0.8
Sem suavização espectral
3500
3000
2500
2000
1500
3500
1000
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
0.8
0.9
Wavenumber cm-1
Com correção de linha de base
0.5
0.4
0.2
0.3
0.2
0.0
0.1
0.0
Absorbance Units
0.6
Absorbance Units
0.4
0.6
0.7
0.8
Sem correção de linha de base
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
0.10
0.8
56
Com normalização
0.0
-0.02
0.00
0.2
0.02
Absorbance Units
0.04
0.06
Absorbance Units
0.4
0.6
0.08
Sem normalização
3500
3000
2500
2000
1500
3500
1000
3000
2500
0.10
Wavenumber cm-1
1500
1000
Com primeira derivada
-0.02
-0.002
0.00
-0.001
0.02
Absorbance Units
0.04
0.06
Absorbance Units
0.000
0.001
0.08
0.002
Sem derivar
2000
Wavenumber cm-1
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
Figura 21 – Espectro de bactéria com os diversos tratamentos: suavização espectral, correção de
linha de base, normalização e derivação.
3.3 Identificação de bactérias por espectroscopia no infravermelho
A espectroscopia no infravermelho tem sido descrita na literatura como uma
importante técnica para discriminação e identificação de microrganismos.
De acordo com Naumann (2000) e Essendoubi et al.(2007) esta técnica
representa um método analítico, não destrutivo e dinâmico para investigar uma
população de células com pouca biomassa. Para eles, os espectros de FT-IR
fornecem impressões digitais altamente específicas dos microrganismos permitindo
a identificação da espécie à sub-espécie, devido a diversidade microbiana ser
sempre uma diversidade estrutural e bioquímica.
Para Maquelin et al. (2002) um fotomicroscópio acoplado a um espectrômetro de
FT-IR fornece um versátil instrumento para a microanálise biológica rápida, com
espectros podendo ser obtidos de microcolônias após 6 a 10 h de cultura em placas
de ágar (dependendo do tipo de microrganismo), tornando possível a detecção, a
enumeração e a diferenciação microbiana dentro de um único instrumento,
57
fornecendo resultados diagnósticos potenciais em um dia de trabalho. (MAQUELIN
et al., 2002)
Segundo Ngo-Thi e colaboradores (2003) as bactérias Gram-positivas e Gramnegativas podem ser perfeitamente discriminadas com base em seus espectros.
A Figura 22 apresenta três espectros típicos de amostras microbianas, entre eles
os espectros de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, onde revelam
diferenças em contornos de banda e intensidade relativa entre as mesmas.
Bactéria Gram-positiva
Bactéria Gram-negativa
Levedura
Figura 22 - Espectros típicos de microorganismos patogênicos: Staphylococcus aureus (ATCC 6538
(American type culture collection)) (1), Pseudomonas aeruginosa (ATCC 27853) (2), Candida albicans
(ATCC 10231) (3). Fonte: (NAUMANN, 2000)
Vários estudos apontam a espectroscopia no infravermelho como uma excelente
ferramenta para a diferenciação e identificação de bactérias.
Kirschner e colaboradores (2001) classificaram e identificaram uma coleção
de 18 cepas de Enterococcus de isolados clínicos, alimentícios e de coleção de
cultura. Neste estudo os resultados foram comparados com técnicas fenotípicas
(sistema API) e genotípicas (PCR), confirmando os resultados obtidos por FT-IR. Os
resultados do estudo refletiram o alto poder discriminatório e reprodutível da
58
espectroscopia no infravermelho na diferenciação precisa das espécies de bactérias
como Enterococcus.
Oberreuter, Seiler e Scherer (2002) identificou 730 cepas de coleção de
bactérias corineformes, com 93,9%, 98,1% e 99,5 % das cepas classificadas
corretamente. Os resultados apontam a espectroscopia no infravermelho como uma
ferramenta valiosa para a rápida, simples e identificação de cepas de corineformes
de uma variedade de fontes. Comparando os resultados da identificação na literatura
a identificação correta total com mais de 95% ao nível de espécie não foi alcançado
por qualquer método de medida não-genético.
Maquelin et al. (2003) identificou bactérias e fungos patogênicos em
hemoculturas de pacientes hospitalizados. Neste estudo foram utilizados 89
bactérias e 32 fungos para a base de dados e foram examinadas 138 hemoculturas
de 121 pacientes, com 98,3% das amostras identificadas corretamente. Além da
técnica de espectroscopia foi realizada em paralelo a identificação fenotípica com o
sistema API. Os resultados do estudo ilustram o enorme potencial da espectroscopia
no infravermelho para uma rápida e correta identificação microbiana e uma resposta
nova para a necessidade de identificação microbiana em um rápido diagnóstico
clínico.
Oust
et al.(2004) identificou 56 cepas de quatro espécies de Lactobacillus
isolados de alimentos. No estudo foi possível reconhecer as cepas que foram
incorretamente identificadas pelos métodos tradicionais antes da análise FT-IR. Os
resultados demonstraram que a espectroscopia FT-IR em combinação com métodos
estatísticos multivariados, é bem adequado para a identificação de Lactobacillus a
nível de espécie, mesmo em um grande conjunto de dados.
Lamprell (2006) discriminou com sucesso Staphylococcus aureus de cepas de
39 espécies e sub-espécies de Staphylococcus isolados de diferentes tipos de leite e
queijo. Os resultados do estudo demonstraram que a espectroscopia FT-IR é um
rápido
método
para
a
identificação
de
Staphylococcus
de
isolados
de
origem láctea e alimentar em geral.
Sandt et al. (2006) através do estudo de 1570 espectros, identificou 164 cepas
(clínicas e coleção) de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas frequentemente
isoladas em ambiente clínico, com 100% de classificação correta em bactérias
Gram-positivas e 80% em bactérias Gram-negativas. Os resultados indicam que a
combinação da microespectroscopia FT-IR e análise estatística multivariada podem
59
ser uma ferramenta complementar, rápida e confiável para a discriminação de
microrganismos, em nível de espécies e sub-espécies.
Amiali et al (2007) identificou e discriminou 92 cepas de Staphylococus aureus e
Staphylococcus coagulase negativa de isolados clínicos, incluindo cepas resistentes
a antibióticos, com 100 % de diferenciação. Os resultados indicam uma alta eficácia
para a discriminação entre Staphylococcus e oferece uma nova, rápida e simples
ferramenta para a diferenciação entre bactérias no diagnóstico clínico.
Rebuffo-Scheer et al. (2007) identificou 28 cepas ATCC de 10 diferentes
espécies do gênero Mycobacterium, incluindo as espécies mais freqüentes isoladas
em laboratórios clínicos. Uma excelente reprodutibilidade foi alcançada, uma clara
separação das diferentes espécies foi observada. Estes resultados demonstram o
potencial
de
microespectroscopia
FT-IR
para
diferenciar
rapidamente
Mycobacterium. Os resultados sugerem que um banco de dados de espectro
estendido, contendo as espécies mais comuns de Mycobacterium e abrangendo
uma ampla variação biológica, pode fornecer uma solução prática para identificar
rapidamente Mycobacterium de isolados desconhecidos na rotina de laboratórios
clínicos.
Bosch e colaboradores (2008) identificou bactérias Gram-negativas isoladas de
amostras de secreção de pacientes com fibrose cística. Para o estudo foram
utilizados 15 cepas de referência e 169 isolados clínicos de 150 pacientes, com
98,1% de amostras identificadas corretamente. Segundo Bosh o método
desenvolvido no estudo demonstrou ser confiável, rápido e preciso para uso prático
na diferenciação e identificação de bactérias Gram-negativas.
Recentemente Khum et al (2009) identificou
Yersinia enterocolitica e outras
espécies de Yersinia, tais como: Y. pseudotuberculosis, Y. bercovieri, e Y.
intermédia associado a redes neurais artificiais. Foram analisadas 123 cepas de
Yersinia isoladas de pacientes humanos e porcos, com 98,3 %, 92,5% e 98,5% das
amostras classificadas corretamente. Para Khum et al a espectroscopia FT-IR é um
método flexível para a identificação de bactérias com gêneros, espécies ou subespécies diferentes.
3.3.1 Análise Estatística Multivariada
60
A discriminação entre microorganismos exige uma avaliação e uma
comparação completa entre as diferenças e similaridades espectrais. Com esta
finalidade, os espectros de alta qualidade de IR são pré-requisitos, que necessitam
ser complementados com técnicas de compressão de dados e reconhecimento
padrão.
Vários métodos estatísticos são utilizados para o reconhecimento padrão de
bactérias por espectroscopia FT-IR. Entre os métodos usados frequentemente
estão: análise de cluster (Hierarchical Cluster Analysis – HCA), análise de
componentes principais (Principal Component Analysis – PCA) e as redes neurais
artificiais (Artificial Neural Networks - ANNs). PCA e HCA são métodos usados para
avaliação de similaridade entre os espectros, onde são calculadas as distâncias
espectrais tornando possível a identificação de um microrganismo desconhecido.
Para a HCA normalmente são utilizadas as primeiras derivadas de ordem espectral e
o algoritmo Ward’s com dimensionamento de primeiro intervalo (scaling to first
range) são aplicados. ANN são utilizados como sistema de auto-treinamento
supervisionado, este tipo de inteligência artificial são inspirados na estrutura neural
de organismos inteligentes e que adquirem conhecimento através da experiência;
após um número adequado de ciclos de treinamento os espectros do conjunto de
validação são testados (BEEKES; LASCH; NAUMANN, 2007; MARIEY et al., 2001;
OUST et al., 2004).
Mariey et al. (2001) em um estudo de revisão apontou o método HCA como o
mais utilizado em estudos para identificação de microrganismos, com discriminação
entre classes realizadas com sucesso. Nos últimos anos este método também sido
utilizado com frequência, foram relatados nos trabalhos de: Ngo-Thi, Kirschner e
Naumann (2003), Maquelin et al. (2003), Oust et al.(2004), Sandt et al. (2006),
Rebuffo-Scheer
et al. (2007) e
Bosh et al (2008). Como exemplo a figura 23
apresenta um dendograma, resultado da HCA executado em 240 espectros de
cepas diferentes de bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e Leveduras, onde
cada ramo representa uma cepa. A HCA foi executada usando-se a primeira
derivada, sobre as escalas espectrais de 3000-2800, 1500-1400 e 1200-900 cm-1. As
escalas espectrais foram equalizadas e o algoritmo Ward’s aplicado.
61
Heterogeneidade
Gram-negativa
Gram-positiva
Leveduras
Figura 23 – Dendograma resultado da análise de cluster (HCA) de células microbianas intactas.
Fonte: (BEEKES; LASCH; NAUMANN, 2007)
62
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Cepas Bacterianas e crescimento
As cepas bacterianas utilizadas foram obtidas da coleção de cultura da
FIOCRUZ - Instituto Oswaldo Cruz. Foram examinadas: Escherichia coli ATCC
10799, Proteus mirabilis ATCC 25933, Pseudomonas aeruginosa ATCC 15442,
Staphylococcus aureus ATCC 14456, Staphylococcus epidermidis ATCC 9300 e
Enterococcus faecalis ATCC 10100. As cepas foram armazenadas em freezer a 20°C em caldo BHI com glicerol a 20%, reativadas em subculturas de 24 horas em
meio líquido de enriquecimento (caldo BHI - DIFCO®), com posterior repique em
meios seletivos (Tabela 6). As inoculações foram realizadas com concentrações
conhecidas de células bacterianas na fase logarítmica de crescimento (culturas com
18-24 horas de idade), com células suspendidas em solução salina 0,9% estéril para
a determinação da escala 0,5 de McFarland (1,5 X 108 bact/ml). Os inóculos foram
semeados em superfície de Agar Mueller Hinton (OXOID®) com auxílio de alça de
Drigalski e incubados por 6 horas a 37ºC (etapas sumarizadas na figura 24). Para a
cultura pura foram inoculados 300l da escala de McFarland 0,5 e para a cultura
mista, preparou-se um inóculo com 150l de cada bactéria (50% de cada bactéria).
As inoculações foram examinadas em triplicata.
Reativação em BHI
Repique em meio
seletivo
Escala de
McFarland
Agar Mueller Hinton
Figura 24 – Etapas da preparação de cultura bacteriana para análise em FT-IR.
63
Tabela 6 – Meios seletivos onde as bactérias foram inoculadas.
Bactéria
Meio Seletivo
Escherichia coli
Agar McConkey OXOID®
Proteus mirabilis
Agar McConkey OXOID®
Pseudomonas aeruginosa
Agar McConkey OXOID®
Enterococcus faecalis
Agar Sangue 5% - Base BHI OXOID®
Staphylococcus aureus
Agar Manitol OXOID®
Staphylococcus epidermidis
Agar Manitol OXOID®
4.2 Preparação da amostra
Com auxílio da alça de platina, três alçadas da biomassa bacteriana foram
removidas e suspensas em 120 µl de solução salina estéril 0,9%, para a
manutenção de sua viabilidade, visto que a suspensão de células em água destilada
pode
ocasionar
plasmólise
ou
choque
osmótico.
As
amostras
foram
homogeneizadas no agitor de tubos (PHOENIX) e foram depositados 5 l da solução
em janela de fluoreto de cálcio - CaF2 (substrato transparente no infravermelho).
Uma vez que as mesmas encontravam-se imersas em solução salina, e as
moléculas de água absorvem na radiação do infravermelho, foi necessário desidratálas em estufa com temperatura a 50ºC, a fim de se obter uma fina película
transparente adequada para medidas em microespectroscopia FT-IR (etapas
sumarizadas na figura 25). A presença do cloreto de sódio na amostra não interfere
nos espectros, por apresentarem ligações iônicas e não absorverem radiação
infravermelha.
A quantidade de alçadas (concentração da suspensão) foi ajustada de acordo
com a análise dos espectros, pela intensidade da banda amida I (~1655 cm-1) entre
0,6 a 1,0 unidade de absorbância (U.A.), dentro da faixa linear do detector MCT.
Acima de 1 U.A. não há linearidade entre absorbância e espessura de amostra
(GRIFTHS, 2007).
64
3 alçadas
diluição em
120 μl de
salina 0,9%
homogeneização
em agitador de
tubos
5 μl em janela
de CaF2
Amostra em
estufa a 50ºC
por 1 hora
Figura 25 – Etapas da preparação de amostra bacteriana para análise em FT-IR.
4.3 Microespectroscopia no infravermelho e mensuração
Os espectros das amostras de bactérias em cultura pura foram obtidos em modo
de ponto por transmissão, em cultura mista o modo de imagem foi associado, no
intervalo de 4000-900 cm-1, com 32 varreduras realizadas e resolução de 4 cm-1
utilizando o espectrofotômetro Spectrum Spotlight 400 FT-IR (Perkin Elmer)
equipado com detector MCT operando a temperatura do nitrogênio líquido (Figura
26).
Para o modo de imagem uma área de 50 µm X 50 µm foi selecionada com o
tamanho do pixel de 6,25 µm2 e velocidade do interferômetro de 1cm/s.
Figura 26 - Espectrofotômetro utilizado no experimento (Spectrum Spotlight 400, Perkin Elmer).
65
4.4 Tratamento dos dados e análise estatística
Para o estudo em cultura pura, vinte espectros de cada amostra foram incluídos
para análise, totalizando 360 espectros de seis cepas bacterianas estudadas em
triplicata.
Para o estudo de cultura mista, vinte espectros em modo de ponto de cada
amostra foram incluídos para análise e um registro de imagem (64 espectros) de
cada amostra foi utilizada, totalizando 756 espectros (180 espectros em modo de
ponto e 576 espectros em modo de imagem) de cepas puras e mistas de
Escherichia coli e Staphylococcus aureus estudadas em triplicata (total de espectros
estudados sumarizados na tabela 7).
Os espectros da matriz de imagem foram extraídos no programa Cytospec em
extensão Jcamp.dx.
Os espectros em modo de ponto e modo de imagem, em extensão Jcamp.dx
foram tratados utilizando o programa estatístico OPUS (versão 4.2, Bruker). Para
minimizar a heterogeneidade espectral devido às diferenças de espessura da
amostra foram feitas as correções de linha de base seguidos de normalização
vetorial em todo range espectral e para tornar visível as variações entre os espectros
o cálculo da primeira derivada com 9 pontos de suavização espectral foi realizado.
Os dados foram analisados estatisticamente através da análise de cluster, três
regiões espectrais discriminantes foram selecionadas: 3000-2800 cm-1, 1470-1410
cm-1 e 1176-950 cm-1, para calcular a distância da matriz. O dimensionamento de
primeiro intervalo (Scaling first range) e o algoritmo Ward’s foi aplicado. O algoritmo
Ward’s produz grupos de dados buscando minimizar a soma das diferenças
(heterogeneidade) entre os elementos de cada grupo e o valor médio do grupo,
minimizando o desvio padrão entre os dados de cada grupo formado, construindo
grupos mais homogêneos (WARD, 1963).
As atribuições de banda foram realizadas de acordo com a literatura e indicadas
na tabela 8.
66
Tabela 7 – Sumários dos estudos realizados, espectros coletados e modo de aquisição.
Cultura Pura
Bactéria
Modo de
Número de espectros
Número total
aquisição
coletados por amostra
de espectros
(triplicata)
Escherichia coli
Point mode
20
60
Proteus mirabilis
Point mode
20
60
Pseudomonas
Point mode
20
60
Point mode
20
60
Point mode
20
60
Point mode
20
60
aeruginosa
Enterococcus
faecalis
Staphylococcus
aureus
Staphylococcus
epidermidis
Total de espectros:
360
Cultura Mista
Bactéria
Modo de
Número de espectros
Número total
aquisição
coletados por amostra
de espectros
(triplicata)
Escherichia coli
Point mode
20
60
Escherichia coli
Image mode
64 (imagem 50 X50 μm2) 192
Staphylococcus
Point mode
20
Image mode
64 (imagem 50 X50 μm2) 192
60
aureus
Staphylococcus
aureus
Escherichia
coli
+ Point mode
20
60
+ Image mode
64 (imagem 50 X50 μm2) 192
Staphylococcus
aureus (mista)
Escherichia
coli
Staphylococcus
aureus (mista)
Total de espectros:
756
67
5 RESULTADOS
Neste estudo foram analisados 1116 espectros de seis cepas bacterianas
padrão (ATCC – American Type Culture Collection) em cultura pura e mista com um
tempo de incubação de 6 horas, tempo mínimo para a coleta das microcolônias
bacterianas.
O estudo foi realizado em duas etapas:
1) análise de bactérias Gram-negativas (Escherichia coli, Proteus mirabilis,
Pseudomonas aeruginosa) e bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus,
Staphylococcus epidermidis e Enterococcus faecalis) em cultura pura;
2) análise de bactéria Gram-negativa (Escherichia coli) e bactéria Gram-positiva
(Staphylococcus aureus) em cultura mista.
5.1 Caracterização, diferenciação e identificação de bactérias Gram-negativas e
Gram-positivas
Nesta subseção são apresentados resultados inerentes a cultura pura.
Os filmes finos de cada bactéria utilizada no estudo são apresentados na figura
27, os filmes são a associação de bactérias com cloreto de sódio da solução salina.
Cada bactéria apresentou um comportamento diferente na formação do filme, e
estes comportamentos se repetiram nas triplicatas, conforme figura. As bactérias
Gram-negativas apresentaram uniformidade nos filmes, enquanto as bactérias
Gram-positivas apresentaram uma borda na amostra. Através da análise da
formação dos filmes houve diferenciação entre os dois grupos de bactérias Gramnegativas e Gram-positivas, sem formação de bordas e com formação de bordas,
respectivamente.
68
(A1)
(A2)
(A3)
(B1)
(B2)
(B3)
(C1)
(C2)
(C3)
(D1)
(D2)
(D3)
(E1)
(E2)
(E3)
(F1)
(F2)
(F3)
Figura 27 – Micrografia dos filmes finos de bactérias Gram-negativas: Escherichia coli (A), Proteus
mirabilis (B), Pseudomonas aeruginosa (C); e bactérias Gram-positivas Enterococcus faecalis (D),
Staphylococcus aureus (E), Staphylococcus epidermidis (F) mostrando diferenças na formação de
filmes, em triplicatas o comportamento se manteve.
69
As amostras foram depositadas em janelas de fluoreto de cálcio (CaF2) e
foram analisadas da região de 4000-900 cm-1, região de transições fundamentais e
0.8
0.4
0.6
Influência de
vibrações da
molécula de
H2O do
ambiente
Influência de
vibrações da
molécula de
H2O do
ambiente
Influência de
vibrações da
molécula de
CO2 do
ambiente
0.2
Absorbance
Units
Unidades
de absorbância
1.0
transparência da janela no infravermelho, conforme figura 28.
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
-1
Wavenumber
cm-1 (cm )
Número
de onda
Figura 28 – Espectro de absorção da janela de CaF2 utilizada neste trabalho, sendo a mesma
transparente na região espectral de interesse, situada entre 4000-900 cm-1, os ruídos presentes no
espectro são devido a vibrações das moléculas de H2O e CO2 do ambiente.
Antes da obtenção do espectro da amostra o espectro de fundo (background) foi
realizado para subtração de qualquer influência de vapor de água (H2O) e gás
40
carbônico (CO2) do ambiente. A figura 29 mostra um típico espectro de fundo.
ARB
Influência de
vibrações da
molécula de
H2O do
ambiente
Influência de
vibrações da
molécula de
H2O do
ambiente
15
20
25
30
35
Influência de
vibrações da
molécula de
CO2 do
ambiente
4000
3500
3000
2500
Wavenumber cm-1
2000
-1
Número de onda (cm )
Figura 29 – Espectro típico de fundo.
1500
1000
70
Em filmes de bactérias Gram-negativas foram realizadas medidas aleatórias
devido à uniformidade dos filmes, porém em filmes de bactérias Gram-positivas
foram realizadas medidas nas bordas onde apresentaram regiões com bandas e
contornos de bandas bem definidos (figura 30 e 31).
Ainda na figura 30 a presença do mesmo padrão espectral dos vinte espectros
realizados na mesma amostra e a consistência entre as intensidades relativas das
bandas demonstram a reprodutibilidade das medidas espectrais.
Nas figuras 31 A e B apresentam os filmes e os espectros das regiões de borda
e centro de Staphylococcus aureus (bactéria Gram-positiva), pode-se observar em
36 (A) que no centro da amostra na região de 1200-900 cm-1 não há definição de
bandas e contornos de bandas ao passo que em 36 (B) nos espectros da borda da
amostra já se observam bandas e contornos bem definidos, justificando a aquisição
espectral nesta área.
+ +
+
+
+
+
+
+
+
+
+
0.08
0.06
0.04
+
+
+
-0.02
+
0.02
+
+
0.00
+
+
Absorbance
Units
Unidades
de absorbância
0.10
(A)
+
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
+
+
+
+
+
+ +
+
0.08
0.06
0.04
+
+
+
+
+
0.02
+
0.00
+
+
+
+
Absorbance
Units
Unidades
de absorbância
+
-0.02
+
0.10
(B)
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 30 – (A) Mapa da amostra de Proteus mirabilis associado aos vinte espectros realizados
aleatoriamente na amostra, (B) mapa da amostra de Staphylococcus aureus associado aos vinte
espectros realizados aleatoriamente na borda da amostra.
71
0.20
0.15
0.10
Região sem
definição
de bandas
0.00
centro
0.05
Units
UnidadesAbsorbance
de absorbância
(A)
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
-1
0.08
0.06
Região com
definição
de bandas
0.00
borda
0.04
Unidades Absorbance
de absorbância
Units
centro
0.02
(B)
0.10
Número de onda (cm )
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 31 – Regiões do filme fino de Staphylococcus aureus. (A) centro da amostra associado ao
espectro (B) borda da amostra associado ao espectro.
A figura 32 ilustra um espectro característico de filme fino de bactéria utilizada no
estudo com as principais bandas de vibrações moleculares.
4
Unidades de absorbância
C=O
Ester
ácidos
nucléicos
1
5
3
2
6
3500
3000
2500
2000
-1
1500
7
8
1000
Wavenumber
cm(cm )
Número
de onda
-1
Figura 32 - Espectro característico de bactéria com as principais bandas de vibrações moleculares.
72
A região 1 de 4000 a 3000 cm-1 é devida principalmente ao estiramento do grupo
O-H (~3400 cm-1) e N-H de amida A de proteínas (~3300 cm-1).
A região 2 entre 3000 cm-1 e 2800 cm-1 exibem vibrações de estiramento C-H de
CH2 e –CH3 de fosfolipídeos em membrana citoplasmática e membrana externa
em bactérias Gram-negativas, além de vibrações de aminoácidos em cadeias
laterais (CLTs). Outras informações complementares desses grupos funcionais
também podem ser observadas na região entre 1470 cm-1 e 1350 cm-1 (região 6)
onde os diferentes modos de deformação desses grupos funcionais são encontrados
(ERUKHMOVITCH et al., 2005; HELM et al., 1991; NAUMANN, 2000).
A banda centrada em 1.715 cm-1 (região 3) é atribuída ao estiramento C=O,
frequentemente observada em espectros de células microbianas hidratadas e
sensíveis ao pareamento de bases em ácidos nucléicos.
As bandas intensas entre 1700 e 1600 cm-1 (região 4) e entre 1600 cm-1 e 1500
cm-1 (região 5) são conhecidas como bandas de amida I e amida II, respectivamente.
A banda de amida I é devida principalmente ao estiramento C=O de proteínas e uma
pequena contribuição da deformação N-H (Figura 33 A). A banda de amida II
consiste na combinação dos estiramentos da ligação C-N e deformação angular da
ligação N-H (Figura 33 B), ambas também de proteínas. A banda situada entre
~1695 a ~1675 está relacionada a configuração folha-β de proteínas, ao passo que a
banda situada em ~1655 está relacionada a configuração α-hélice (SIEBERT;
HILDEBRANDT, 2008; VICKERY; NOZAWA; SAUER, 1990).
R’
O
(A)
C
NN
H
R
(B)
Amida I
(1700-1600 cm-1)
C
Amida II
(1600-1500 cm-1)
N
H
Figura 33 – Vibrações moleculares de amida I e amida II de proteínas, onde R e R’ indicam radicais.
Fonte: (SIEBERT; HILDEBRANDT, 2008)
73
A região espectral entre 1200 e 900 cm-1 (região 7 e 8), região considerada
mista, é caracterizada pelo estiramento simétrico de PO2- em ácidos nucléicos e
estiramento C-O-C, C-O-P em mono e polissacarídeos. Por volta de 1230 cm-1 há
contribuições de vibrações de estiramento P=O de fosfolipídeos de membrana
celular e fósforos de carboidratos encontrados em ácidos teicóicos e lipoteicóicos de
bactérias Gram-positivas (OUST et al., 2004; NAUMANN, 2000).
A tabela 8 apresenta a atribuição detalhada de algumas bandas encontradas
frequentemente em espectros microbianos de IR associada à composição
bioquímica e estrutura celular bacteriana.
Tabela 8 - Atribuição de bandas detalhada associada à composição bioquímica e estrutura celular.
Baseado em: (NAUMANN, 2000; KANSIZ et al., 1999)
Nº da
Frequência
Identificação
Composição Bioquímica e estrutura celular
banda
cm-1
bacteriana
~3500
νs (O-H) do grupo
hidroxila
1
~3200
νs NH (amida A)
2959
νa (C-H) de -CH3
2934
νa (C-H) de CH2
2872
νs (C-H) de –CH3
2852
νs (C-H) de CH2
2
Água (no interior da célula)
Carboidratos (polissacarídeos)
Proteínas (aminoácidos)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Lipídios (fosfolipídios em membrana
citoplasmática e membrana externa de
Gram-negativas)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Lipídios (fosfolipídios em membrana
citoplasmática e membrana externa de
Gram-negativas)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Carboidratos (polissacarídeos em cápsula,
parede celular e inclusões)
Lipídios (fosfolipídios em membrana
citoplasmática e membrana externa de
Gram-negativas)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Lipídios (fosfolipídios em membrana
citoplasmática e membrana externa de
Gram-negativas)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Carboidratos (polissacarídeos em cápsula,
parede celular e inclusões)
74
3
νs (C=O) de ésteres,
Ácidos nucléicos (DNA: núcleo e
plasmídeo, RNA: ribossomos e
citoplasma)
~1695
~1685
~1675
Amida I (νs C=O e δs
N-H) componentes
resultantes de folha-β
de proteínas
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
~1655
Amida I de estruturas
α-hélice
Amida II (δs N-H e νs CN)
1715
RNA/DNA,
4
5
1548
6
1515
1468
7e8
Banda “Tirosina”
δa de C-H3 e δs de CH2
~1400
νs (C=O) de COOδs de C-H3 e δa de CH2
1310-1240
Amida III
1250-1220
νa (P=O) de PO2-
1200-900
νs (C-O) , νs (C-C),
νs (C-O-C) e (C-O-P)
νs de (P=O) de PO2-
1085
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Proteína (aminoácido)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Carboidratos (polissacarídeos em cápsula,
parede celular e inclusões)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Carboidratos (polissacarídeos em cápsula,
parede celular e inclusões)
Proteínas (apêndice, parede celular,
ribossomos, inclusões)
Ácidos nucléicos (DNA: núcleo e
plasmídeo, RNA: ribossomos e
citoplasma)
Lipídios (fosfolipídios em membrana
citoplasmática e membrana externa de
Gram-negativas)
Carboidratos (polissacarídeos em cápsula,
parede celular e inclusões)
Ácidos nucléicos (DNA: núcleo e
plasmídeo, RNA: ribossomos e
citoplasma)
Lipídios (fosfolipídios em membrana
citoplasmática e membrana externa de
Gram-negativas)
ν = estiramento, δ = deformação, a=assimétrico, s=simétrico.
A figura 34 apresenta os espectros médios de FT-IR das bactérias utilizadas
neste estudo. Uma rápida inspeção dos espectros demonstra que eles são muitos
semelhantes. No entanto, numa análise mais cuidadosa, mudanças sutis podem ser
observadas. Analisando a região espectral de 4000 a 3000 cm-1 (estiramento O-H e
N-H), não foi notada alteração significativa para as diferentes bactérias, entretanto
75
na região de 3000 a 2800 cm-1 (estiramento C-H de CH2 e CH3) e 1470-1410 cm-1
(deformação C-H de CH2 e CH3), observam-se alterações em relação à intensidade
relativa e contornos de banda nos espectros; as demais bandas não apresentaram
mudanças significativas.
Além das mudanças em relação à intensidade e contornos de bandas, através
da análise dos espectros das bactérias podem-se notar padrões semelhantes em
contornos de banda entre os grupos das bactérias. Em alguns aspectos podem-se
diferenciar os grupos de bactérias por meio das alterações de intensidade (aumento
ou diminuição) relativas de algumas destas bandas ou picos. As bactérias Grampositivas na região de estiramento CH2-CH3 (3000-2800 cm-1) apresentam a mesma
intensidade entre os picos, característica não observada nas bactérias Gramnegativas que apresentaram um aumento de intensidade na banda e no segundo
pico desta região. Na região de deformação CH2-CH3 (1470-1410 cm-1) os grupos de
bactérias também podem ser diferenciados, no primeiro pico desta região as
bactérias Gram-positivas apresentam uma diminuição na intensidade do pico em
relação às bactérias Gram-negativas e um aumento na intensidade do segundo pico
desta região.
0,16
Unidades de absorbância
0,14
0,12
0,10
ν CH2
-CH3
0,08
δ CH2
-CH3
0,06
0,04
Staphylococcus epidermidis
0,02
Enterococcus faecalis
Staphylococcus aureus
0,00
Pseudomonas aeruginosa
Proteus mirabilis
-0,02
Escherichia coli
3500
3000
2500
2000
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 34 – Espectro FT-IR representativo de Escherichia coli, Proteus mirabilis, Pseudomonas
aeruginosa, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis (espectro
76
médio de uma amostra). Os dados foram transladados ao longo do eixo Y para melhor visualização. ν
= estiramento e δ = deformação.
A fim de tornar pequenas diferenças espectrais visíveis, a primeira derivada de
ordem espectral foi calculada. Na análise de primeira derivada observaram-se
diferenças significativas, além das regiões mencionadas, na região de 1176-950 cm-1
(região mista) (Figura 35).
Analisando a primeira derivada notaram-se novas características e confirmaramse as características observadas nos espectros sem derivação. Na figura 35 (A) as
bactérias Gram-negativas apresentaram maior intensidade na banda de estiramento
assimétrico e simétrico C-H de CH2 (lipídios, proteínas e carboidratos). Em
contrapartida as bactérias Gram-positivas apresentaram um aumento de intensidade
na região atribuída ao estiramento simétrico C-H de CH3 (lipídios e proteínas). Na
figura 35 (B) as bactérias Gram-negativas mostraram maior intensidade da banda
relacionada à deformação assimétrica C-H de CH3 e deformação simétrica C-H de
CH2, além da ocorrência de um ombro em ~1420 cm-1. Na figura 35 (C) ocorreram
alterações em intensidade e contornos de banda, principalmente na região de ~1085
cm-1 atribuída ao estiramento simétrico de P=O.
νa
(CH2)
Unidades de absorbância
0,0008
Bactérias Gram-negativas
νs
(CH2)
0,0006
0,0002
0,0002
νs
(CH3)
νa
(CH3)
0,0004
0,0000
Bactérias Gram-positivas
-0,0002
-0,0006
3000
2970
Absorbance
Units
Unidades
de absorbância
2940
2910
2880
2850
-0,0002
-0,0004
-0,0008
1470
2820
(B)
-1
Número de onda (cm )
1460
1450
1440
1430
1420
-1
Número de onda (cm )
νs
(P=O)
0,0006
0,0004
Escherichia coli
Pseudomonas aeruginosa
Proteus mirabilis
Enterococcus faecalis
Staphylococcus aureus
Staphylococcus epidermidis
0,0002
0,0000
-0,0002
-0,0004
-0,0006
(C)
0,0000
-0,0006
-0,0004
(A)
δa (CH3) e
δs (CH2)
0,0004
Unidades de absorbância
0,0010
1150
1100
1050
1000
-1
-1
Wavenumber
cm )
Número
de onda (cm
950
1410
77
Figura 35 – Primeira derivada de ordem espectral em regiões significativamente diferentes de:
Escherichia coli, Proteus mirabilis, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis, Staphylococcus
aureus, Staphylococcus epidermidis (espectro médio de uma amostra). ν = estiramento, δ =
deformação, a=assimétrico, s=simétrico.
O aumento considerável da intensidade na região de estiramento assimétrico e
simétrico C-H de CH2 de bactérias Gram-negativas podem ser explicados
principalmente pela presença de lipopolissacarídeos (LPS), fosfolipídeos e
lipoproteínas de parede celular não presentes em bactérias Gram-positivas. Além da
presença de flagelina e pilina, que são proteínas precursoras de flagelos propulsores
e pili presentes em Escherichia coli, Proteus mirabilis e Pseudomonas aeruginosa.
Este mesmo entendimento pode ser estendido às regiões de 1470-1410 cm-
1
(deformação assimétrica C-H de CH3 e deformação simétrica C-H de CH2), por ser
uma região complementar dos estiramentos dos grupos funcionais discutidos acima.
Não foram encontradas justificativas para o aumento de intensidade na região
atribuída ao estiramento simétrico C-H de CH3 (lipídios e proteínas) de bactérias
Gram-positivas.
Na região de estiramento simétrico de P=O duas hipóteses podem ser
levantadas para as alterações observadas: presença de ácidos nucléicos, que são
únicos para cada organismo conferindo contornos de bandas diferentes e presença
de fosfolipídios da membrana externa de bactérias Gram-negativas conferindo
aumento de intensidade nesta região.
A fim de se analisar o conjunto total de dados para a classificação dos espectros,
foi realizado a análise estatística. Foi empregada a análise de cluster para um
conjunto de 360 espectros tratados de três cultivos independentes das seis
bactérias. A análise de cluster é uma análise quantitativa de dissimilaridade, que
consideram a forma e o contorno dos espectros, em vez de números de banda,
frequências ou intensidades (HELM et al., 1991).
Como resultado foi obtido um dendograma, mostrado na figura 36, este
dendograma mostra uma clara discriminação entre as seis bactérias analisadas, com
100% de classificação espectral correta. O dendograma foi dividido em dois ramos
principais, o primeiro ramo aglomerou-se bactérias Gram-negativas (Escherichia coli,
Proteus mirabilis e Pseudomonas aeruginosa) e o segundo ramo bactérias grampositivas
(Enterococcus
faecalis,
Staphylococcus
aureus
e
Staphylococcus
epidermidis). Esta diferença entre os dois grupos pode ser atribuída principalmente à
78
diferença de composição de parede celular (lipídios, carboidratos e proteínas) de
bactérias Gram-negativas e Gram-positivas, como observados na análise de
primeira derivada. As triplicatas foram organizadas aleatoriamente dentro do cluster,
confirmando a reprodutibilidade do método (Figura 37).
Bactérias Gram-negativas
Bactérias Gram-positivas
Figura 36 - Dendograma resultado da análise de cluster das seis bactérias examinadas em triplicata,
20 espectros gravados em cada triplicata em modo de ponto. A análise de cluster foi realizada
utilizando a primeira derivada de ordem espectral considerando os ranges espectrais de 3000-2800
cm-1, 1470-1410 cm-1, 1176-950 cm-1.
79
Heterogeneity
0
10
20
30
40
50
7
3
2
5
8 13
11
91 6
151420
16
17 124
10
18 19
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra2E.
Amostra2E.
Amostra3E.
Amostra2E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra1E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Amostra3E.
Data Preprocessing: First Derivative
Ward's Algorithm
Frequency Ranges (Weights) =
Correlation with
3000 - 2800 /cm (1.0)
Scaling to 1st range
1470 - 1410 /cm (1.0)
Method File = TEMPVIEW.CLA
1176 - 950 /cm (1.0)
Figura 37 - Dendograma resultado da análise de cluster da triplicata de Escherichia coli , 20 espectros
gravados em cada triplicata em modo de ponto. A análise de cluster foi realizada utilizando a primeira
derivada de ordem espectral considerando os ranges espectrais de 3000-2800 cm-1, 1470-1410 cm-1,
1176-950 cm-1. As amostras foram agrupadas aleatoriamente
5.2 Diferenciação de culturas puras e mistas
Neste estudo três inoculações foram examinadas em triplicata: (a) Escherichia
coli, (b) Staphylococcus aureus e (c) cultura mista de ambas (Escherichia coli e
Staphylococcus aureus) com 50% de cada. As amostras foram analisadas em modo
80
de ponto e em modo de imagem, em modo de ponto o espectro da amostra é a
média de uma área de 100 μm2 e em modo de imagem o espectro é o resultado de
uma área de 6,25 μm2 (tamanho do pixel) ideal para se investigar amostras com
composição heterogênea. A figura 38 mostra os filmes finos de cada triplicata
utilizada no estudo.
(A1)
(A2)
(A3)
(B1)
(B2)
(B3)
(C1)
(C2)
(C3)
Figura 38 – Micrografia dos filmes finos de Escherichia coli (A), Staphylococcus aureus (B); e
Escherichia coli e Staphylococcus aureus (C).
Analisando os filmes de cultura mista (figura 38 C) é possível observar a
associação das linhas características do filme de Escherichia coli (figura 38 A) com o
centro do filme de Staphylococcus aureus (figura 38 B).
A figura 39 apresenta os espectros médios (em modo de ponto) de Escherichia
coli, Staphylococcus aureus e cultura mista de Escherichia coli e Staphyloccocus
aureus. Como em culturas puras as principais diferenças espectrais entre as
amostras foram observadas na região de estiramento C-H de CH2 e CH3 (3000-2800
cm-1) e deformação C-H de CH2 e CH3 (1470-1410 cm-1). Os espectros da amostra
81
mista se assemelham ao espectro de Escherichia coli, esta semelhança pode ser
justificada pelo provável aumento de E. coli na cultura. Visto que o tempo de
geração de E. coli é menor que o de Staphylococcus aureus, 20 minutos (KAYSER
et al., 2005) e 30 minutos (TATINI; STEIN; SOO, 2006), respectivamente.
Na região de estiramento C-H de CH2 e CH3 o espectro de Staphylococcus
aureus apresenta a mesma intensidade entre os picos e Escherichia coli apresenta
maior intensidade na banda e nos picos e o segundo pico mais intenso. O espectro
da junção de Escherichia coli e Staphylococcus aureus apresenta a banda e o
segundo pico um pouco mais intenso quando comparado ao espectro de
Escherichia coli. Na região de deformação C-H de CH2 e CH3 o espectro de
Staphylococcus aureus apresenta o primeiro pico menos intenso e o segundo mais
intenso quando comparado aos demais. O espectro de Escherichia coli comparado
ao espectro da junção das bactérias apresenta o segundo pico mais intenso.
0,12
Unidades de absorbância
0,10
0,08
ν CH2
-CH3
0,06
δ CH2
-CH3
0,04
0,02
Staphylococcus aureus
0,00
Escherichia coli + Staphylococcus aureus
-0,02
Escherichia coli
3500
3000
2500
2000
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 39 – Espectro FT-IR representativo de Escherichia coli, Staphylococcus aureus e Escherichia
coli com Staphylococcus aureus (espectro médio de uma amostra). Os dados foram transladados ao
longo do eixo Y para melhor visualização. ν = estiramento e δ = deformação.
82
Para amplificar mudanças sutis na absorção todos os espectros foram
transformados em sua primeira derivada de ordem espectral (Figura 40). Do mesmo
modo os contornos de banda da cultura mista demonstraram semelhança ao de E.
coli, no entanto na região de 1176-950 cm-1 houve diferenças em contornos de
bandas.
0,0008
νa
(CH3)
0,0004
0,0002
νa
(CH2)
0,0000
δa (CH3) e
δs (CH2)
Unidades de absorbância
0,0006
νs
(CH3)
-0,0002
-0,0004
-0,0006
3000
0,0002
0,0000
-0,0002
-0,0004
2980
2960
2940
2920
2900
2880
2860
2840
2820
2800
1470
1460
-1
1450
1440
1430
1420
1410
-1
Número de onda (cm )
Número de onda (cm )
νs
(P=O)
0,0006
Unidades de absorbância
Unidades de absorbância
0,0004
νs
(CH2)
0,0004
E.coli
S.aureus
Mista
0,0002
0,0000
-0,0002
-0,0004
1150
1100
1050
1000
950
-1
Número de onda (cm )
Figura 40 – Primeira derivada da média espectral das amostras utilizadas no estudo, demonstrando
diferenças de absorção nas regiões de 3000-2800 cm-1, 1470-1410 cm-1 e 1176-950 cm-1.
As diferenças entre o aumento e a diminuição de intensidade de bandas nestas
regiões entre Staphylococcus aureus e Escherichia coli foram discutidas no estudo
de cultura pura. Como citado anteriormente à semelhança entre o espectro de E. coli
e o de cultura mista pode ser devido ao aumento de E. coli na cultura, que pode ser
observado com detalhe na simulação de crescimento nas tabelas 9 e10.
Os aumentos e diminuições de intensidade na região de estiramento e
deformação C-H de CH2 e CH3 e alteração no contorno de banda na região de 1176-
83
950 cm-1 do espectro de cultura mista podem ser explicadas pela associação das
características espectrais de E. coli e S.aureus.
Tabela 9 – Simulação do crescimento exponencial de Escherichia coli com tempo de incubação de 6
horas a partir de uma célula bacteriana.
Tempo (horas:
Nº de células
min.)
Tempo (horas:
Nº de células
min.)
0
1
3:20
1.024
:20 *
2
3:40
2.048
:40
4
4:00
4.096
1:00
8
4:20
8.192
1:20
16
4:40
16.384
1:40
32
5:00
32.768
2:00
64
5:20
65.536
2:20
128
5:40
131.072
2:40
256
6:00
262.144
3:00
512
* tempo de geração
Tabela 10 – Simulação do crescimento exponencial de Staphylococcus aureus com tempo de
incubação de 6 horas a partir de uma célula bacteriana.
Tempo (horas:
Nº de células
min.)
Tempo (horas:
Nº de células
min.)
0
1
3:30
128
:30 *
2
4:00
256
1:00
4
4:30
512
1:30
8
5:00
1.024
2:00
16
5:30
2.048
2:30
32
6:00
4.096
3:00
64
* tempo de geração
Para a análise do conjunto dos dados tratados a análise de cluster foi realizada
com os mesmos parâmetros do estudo de cultura pura, um dendrograma foi obtido
através dos 180 espectros em modo de ponto, como mostrado na figura 41. Este
84
dendrograma mostra uma clara discriminação entre as inoculações examinadas.
Todas as amostras foram agrupadas corretamente, as triplicatas de cada bactéria
foram organizadas no mesmo cluster e aleatoriamente. Os dados de cultura mista se
aglomeraram no mesmo ramo de Escherichia coli, confirmando as semelhanças
espectrais. Não houve nenhuma aglomeração de espectros de cultura mista dentro
do cluster de Escherichia coli ou Staphylococcus aureus, indicando uma provável
identificação em cultura mista.
Mista
Figura 41 – Dendograma resultado da análise de cluster das três inoculações examinadas em
triplicata, 20 espectros gravados em cada triplicata em modo de ponto. A análise de cluster foi
realizada utilizando a primeira derivada de ordem espectral considerando os ranges espectrais de
3000-2800 cm-1, 1470-1410 cm-1, 1176-950 cm-1.
5.2.1 Culturas mistas e análise de imagem FT-IR
Com o objetivo de identificar bactérias em cultura mista o estudo no modo
imagem foi realizado. As figuras 42, 43 e 44 apresentam os mapas de absorção
química de uma região de 50μm2 x 50 μm2, representativos das triplicatas associado
85
à imagem do filme e aos 64 espectros extraídos da matriz. As diferentes cores no
mapa indicam diferenças na absorção da luz infravermelha na amostra, que variou
entre 0,4 a 1,0. A região branca do mapa indica uma região com maior absorção da
radiação infravermelha e região roxa com menor absorção. As pequenas variações
de absorção nos mapas indicam uma pequena diferença de espessura e, portanto
homogeneidade da amostra. Os espectros extraídos da matriz também confirmam
0.08
-0.02
0.00
Absorbance Units
0.02
0.04
0.06
Unidades de absorbância
0.10
esta homogeneidade através da reprodutibilidade espectral.
3500
3000
2500
2000
Wavenumber cm-1
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 42 – Filme fino de Escherichia coli associado ao mapa de absorção química de uma amostra
(resolução espacial de 50 X 50 µm2) e aos 64 espectros extraídos da matriz.
Área da amostra
analisada.
0.08
0.06
0.04
0.02
0.00
-0.02
Unidades
de absorbância
Absorbance Units
0.10
86
3500
3000
2500
Wavenumber cm-1
2000
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 43 – Filme fino de Staphylococcus aureus associado ao mapa de absorção química de uma
amostra (resolução espacial de 50 X 50 µm2) e aos 64 espectros extraídos da matriz.
Área da
amostra analisada.
0.10
0.08
0.06
0.04
0.02
-0.00
-0.02
Unidades
de absorbância
Absorbance
Units
0.12
87
3500
3000
2500
2000
-1
Wavenumber cm-1
1500
1000
Número de onda (cm )
Figura 44 – Filme fino de Escherichia coli com Staphylococcus aureus associado ao mapa de
absorção química de uma amostra (resolução espacial de 50 X 50 µm2) e aos 64 espectros extraídos
da matriz.
Área da amostra analisada.
Na figura 45 são apresentados os espectros médios de uma amostra,
novamente os espectros extraídos da matriz de cultura mista se assemelham ao
espectro de E. coli. As bandas na região de 1200-900 cm-1 ocorreram variações na
intensidade devido à diferença de espessura da amostra. Ao se investigar a primeira
derivada espectral da amostra de cultura mista (Figura 46) nota-se que na região de
1176-950 cm-1 há um comportamento espectral heterogêneo, não observado na
88
região de 3000-2800 cm-1 e observado somente na região de aproximadamente
1450 cm-1, região atribuída à deformação C-H de CH2, CH3. Acredita-se que no filme
de cultura mista não exista uma região que contenha apenas Escherichia coli e
Staphylococcus aureus. Existem regiões onde a concentração de uma pode ser
maior que a outra havendo, portanto maiores e menores intensidades dos picos
característicos. Em regiões predominantes de Escherichia coli, haverá maior
contribuição dos modos de estiramento C-H de CH2, CH3, e um ombro na região de
deformação CH2, CH3. Em regiões com distribuição similar de bactérias haverá um
espectro médio delas.
0,16
Unidades de Absorbância
0,14
E.coli
S.aure
Mista
0,12
0,10
0,08
0,06
0,04
0,02
Staphylococcus aureus
0,00
Escherichia coli +Staphylococcus
aureus
-0,02
Escherichia coli
3500
3000
2500
2000
1500
1000
-1
Número de onda (cm )
Figura 45 – Espectro FT-IR extraído da matriz de imagem representativo de Escherichia coli,
Staphylococcus aureus e Escherichia coli com Staphylococcus aureus (espectro médio de uma
amostra). Os dados foram transladados ao longo do eixo Y para melhor visualização. ν = estiramento
e δ = deformação.
O tamanho do pixel pode também ter sido relevante na análise, visto que foi
utilizado o tamanho de 6,25 µm2, o menor tamanho disponível no sistema, sabe-se
que o tamanho de uma bactéria varia de 1 a 5 µm (KAYSER et al, 2005), logo em
6,25µm2 haverá mais de uma bactéria, além de sobreposição.
2900
2850
2800
0.01
0.00
-0.01
Absorbance Units
2950
-0.02
Unidades de absorbância
3000
-0.03
0.02
Absorbance Units
0.00
-0.04
-0.02
Unidades de absorbância
0.04
0.02
0.03
0.06
89
1470
1460
Número de onda (cm-1)
1430
1420
1410
0.03
0.02
0.01
0.00
-0.02
Absorbance Units
1440
Número de onda (cm-1)
-0.01
Unidades de absorbância
1450
1150
1100
1050
1000
950
Número de onda (cm-1)
Figura 46 - Espectros de primeira derivada da cultura mista mostrando regiões espectrais
heterogêneas (~1450 cm-1,1176-950 cm-1).
O dendograma da figura 47 apresenta os resultados da análise de cluster
realizada em 576 espectros extraídos da matriz de imagem das três inoculações
examinadas, como no modo de ponto as amostras analisadas foram agrupadas
corretamente, os espectros da cultura mista foram aglomerados no mesmo ramo de
Escherichia coli e não foi observada a aglomeração de nenhum espectro de cultura
mista em cultura pura, indicando que as bactérias estão misturadas, sobrepostas em
6,25 µm2 e o espectro é uma composição delas.
90
Mista
Figura 47 - Dendograma resultado da análise de cluster das três inoculações examinadas em
triplicata em modo de imagem, 64 espectros extraídos de cada mapa de absorção química. A análise
de cluster foi realizada utilizando a primeira derivada de ordem espectral considerando os ranges
espectrais de 3000-2800 cm-1, 1470-1410 cm-1, 1176-950 cm-1.
91
6 DISCUSSÃO
Neste trabalho realizou-se um estudo sobre o potencial da microespectroscopia
FT-IR na identificação rápida de bactérias. Os resultados ilustram o enorme
potencial da técnica para uma rápida e correta identificação bacteriana em culturas
puras e diferenciação entre culturas puras e mistas. O estudo foi realizado em
triplicatas, obtendo-se excelentes resultados. Foram analisados estatisticamente
1116 espectros de FT-IR de culturas com 6 horas de incubação, obtendo-se a
correta identificação em 100% das amostras. Um tempo relativamente menor
quando comparado às técnicas tradicionais de identificação com tempo de
incubação de 24 horas e aproximadamente 6 horas de provas bioquímicas para a
identificação.
Esta redução de tempo na identificação bacteriana é significativamente
importante em ambientes como Unidade de Terapia Intensiva, onde ocorrem
eventos adversos com necessidade de rápida intervenção.
Estudos recentes têm demonstrado este potencial da espectroscopia no
infravermelho em identificar bactérias com alta especificidade. A maioria dos estudos
indica a técnica de FT-IR como uma ferramenta com um enorme potencial para o
diagnóstico clínico (REBUFFO-SHEER et al, 2007; BOSH et al, 2008; KUHM et al,
2009).
Os resultados do estudo de cultura pura corroboram com os apresentados por
Erukmovitch et al. (2005), Helm et al (1991), Maquelin et al. (2003), Ngo-Thi,
Kirschner, Naumann (2003) e Sandt et al. (2006), os quais diferenciam e identificam,
por FT-IR, as bactérias Gram-negativas e Gram-positivas e apontam esta técnica
como uma importante ferramenta para análise microbiológica rápida e importante
para o sucesso da terapia.
Em relação ao tempo de incubação dos microrganismos, neste trabalho todos os
microrganismos foram cultivados por seis horas, uma vantagem em relação aos
demais trabalhos que variam o tempo de incubação entre 6 a 10 horas dependendo
do microrganismo, utilizando uma técnica diferente de preparação de amostra
(SANDT et al, 2006; MAQUELIN et al, 2003; NGO-THI, KIRSCHNER, NAUMANN
2003).
92
Sandt et al (2006) relatou tempos de incubação de 10 horas para
Staphylococcus epidermidis e Pseudomonas aeruginosa para obtenção de amostras
com espectros reprodutíveis e de qualidade.
Em relação aos resultados dos filmes bacterianos (figura 27) no estudo de
cultura pura não se encontrou na literatura nenhuma descrição sobre as diferenças
em formações dos filmes de bactérias Gram-negativas e Gram-positivas em solução
salina (ERUKHIMOVITCH et al, 2005; AMIALI et al, 2007). A maioria dos trabalhos
utiliza como metodologia para a preparação de amostra a técnica de estampagem
de microcolônias onde não se observam essas características (MAQUELIN et al,
2003; SANDT et al, 2006; NGO-THI, KIRSCHNER, NAUMANN, 2003 ). Outra
metodologia de preparação de amostra citada na literatura é a diluição em água
destilada onde também não foram relatados diferenças em amostras (BOSH, 2008;
HELM, 1991; KIRSCHNER et al, 2001).
Os espectros das amostras foram considerados reprodutíveis. De acordo com
Kansiz et al. (1999) a reprodutibilidade é importante para a correta classificação
espectral e os espectros podem ser considerados altamente reprodutíveis através da
consistência entre as intensidades relativas das bandas.
Neste trabalho, a reprodutibilidade espectral foi alcançada pela padronização
das condições de cultura bacteriana e preparação das amostras, as quais refletiram
na excelente qualidade dos filmes. As variações na intensidade de banda resultantes
de pequenas diferenças de espessura na amostra foram minimizadas com a
correção de linha de base e normalização vetorial (AMIALI et al, 2007 ) e para tornar
visível as diferenças espectrais o cálculo de primeira derivada foi realizado.
Estas etapas no pré-processamento dos dados por primeira derivada e
normalização vetorial têm sido utilizadas com freqüência em trabalhos relatados na
literatura para diferenciação e identificação de microrganismos (AMIALI et al, 2007;
BOSH et al, 2008; HELM et al, 1991; OUST et al, 2004; KIRSCHNER et al, 2001)
com exceção da correção de linha de base. Neste trabalho a correção de linha de
base foi realizada para subtrair o efeito da janela de fluoreto de cálcio observada na
figura 28.
As regiões que apresentaram diferenças: região de estiramento C-H de CH2 e
CH3, deformação C-H de CH2 e CH3 e mista (figura 35) foi também descrita
previamente por vários autores (HELM et al, 1991; NGO-THI, KIRSCHNER,
NAUMANN, 2003).
93
As prováveis diferenças entre os espectros de Gram-negativas e Gram-positivas
são confirmados por Maquelin apud Chalmers (2002) onde relatam que as grandes
diferenças em paredes celulares de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas
levam as diferenças nestas regiões espectrais, permitindo a clara discriminação
entre os dois tipos de bactérias. Maquelin acrescenta que além da separação em
relação aos tipos de Gram, estas regiões podem também ser usadas para
diferenciar leveduras de bactérias. A presença ou ausência de apêndices
bacterianos não é relatada na literatura.
Na análise de cluster a utilização das regiões espectrais de 3000-2800 cm-1,
1470-1410 cm-1 e 1176-950 cm-1 são encontrados com alguma similaridade na
literatura. Nos trabalhos de Helm et al (1991), Maquelin et al (2003), Ngo-Thi,
Kirschner e Naumann (2003), foram utilizadas as regiões 3000-2800 cm-1, 15001400 cm-1, 1200-900 cm-1 para diferenciação de bactérias Gram-positivas e Gramnegativas. Em Bosh et al (2008) as combinações das regiões de 3000-2840 cm-1,
1400-1250 cm-1 e 1200-900 cm-1 foram utilizadas para identificação de bactérias
Gram-negativas.
Outras regiões e combinações similares são empregadas para
uma grande variedade de microrganismos diferenciando espécies a subespécies
(Kirschner et al, 2001; Oberreuter et al, 2002 e 2004).
Neste trabalho foi possível a diferenciação correta em 100% de E. coli e
Proteus Mirabilis através da análise de cluster. Sandt et al (2006) relatou que de
acordo com as condições experimentais e utilizando a análise de cluster a
diferenciação de E. coli e Proteus mirabilis, não foi bem sucedida, sendo necessário
uma abordagem por regressão PLS e análise de componentes principais permitindo
a separação das duas espécies.
A divisão do dendograma em dois ramos também é observada com freqüência
nos trabalhos de identificação de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas.
Os resultados do estudo de cultura mista em modo de ponto confirmam os
apresentados por Al-Qadiri et al. (2006 (a e b)). Al-Qadiri et al (2006 a) estudou a
combinação de E.coli e Pseudomonas aeruginosa utilizando a técnica de preparação
de amostra em solução salina e encontrou variações nas mesmas regiões
estudadas neste trabalho (deformação C-H de CH2 e CH3 e região mista (1200-900
cm-1)). A diferenciação entre os inóculos foi possível com 83,3 % das amostras
classificadas corretamente utilizando os métodos de PCA e SIMCA para
classificação espectral, porém não houve identificação de bactéria na amostra mista.
94
Al- Qadiri et al (2006 b) analisou uma cultura mista de Alicyclobacillus acidoterrestris
e Alicyclobacillus spp. com variações espectrais nestas mesmas regiões, e com
80% das amostras classificadas corretamente utilizando novamente PCA e SIMCA
para classificação espectral. Nenhum dos trabalhos reportou as diferenças dos
contornos de banda nos espectros de cultura mista.
Não foram encontrados na literatura estudo de cultura mista em modo de
imagem. O modo de imagem é um modo relativamente novo em espectroscopia,
que tem sido relatado em estudos com diferentes tipos de tecidos em linfonodos
axilares (BIRD et al, 2008 e 2009 ) e em placas ateromatosas em carótidas (ALÒ et
al , 2009). Nestes trabalhos foram realizados a análise de cluster para análise dos
dados e regiões discriminantes foram selecionadas. Em Bird et al (2009) todos os
espectros foram convertidos em sua 1º derivada, normalizados vetorialmente e para
a análise de cluster no programa CytoSpec o algoritmo Ward’s foi aplicado.
Em bactérias apenas o trabalho de Gilbert et al (2009) foi encontrado. Neste
trabalho foram discriminadas três diferentes cepas de E. coli com tempo de
incubação de 24 horas através da análise de componentes principais.
Embora os resultados do nosso estudo sejam animadores, uma base de dados
de espectros vibracionais de uma ampla gama de microrganismos com cepas
clínicas e de coleção, sensível ou resistente a determinados antibióticos, são
necessários. Podendo então tornar possível a identificação de agentes causais de
infecções em ambientes clínicos.
95
7 CONCLUSÃO
A Microespectroscopia FT-IR associada à análise de cluster mostrou-se uma
ferramenta efetiva na discriminação e identificação de bactérias em culturas puras e
na identificação de culturas puras e mistas com mínima manipulação de amostra e
com tempo de incubação de apenas 6 horas e com 100% das amostras
classificadas corretamente. No estudo de cultura pura através da avaliação da
primeira derivada de ordem espectral, principalmente na região de estiramento
assimétrico e simétrico C-H de CH2, foi possível diferenciar as bactérias em dois
principais grupos. Apesar dos espectros serem muito semelhantes, principalmente
espectros de bactérias com a mesma composição de parede celular, a análise de
cluster foi sensível o suficiente para a correta classificação. Os espectros das seis
bactérias estudadas e as triplicatas foram agrupados corretamente demonstrando
um excelente nível de reprodutibilidade do método. Os espectros e o dendograma
refletiram diferenças entre os grupos das bactérias Gram-positivas e Gramnegativas. No estudo de cultura mista os espectros se apresentaram distintos de
culturas puras e foram observadas regiões heterogêneas que sugerem maior
concentração
de
um
determinado
microrganismo.
Não
foram
observadas
aglomeração de nenhum espectro da cultura mista em cultura pura, portanto não
houve identificação de bactérias presentes na cultura mista com estas metodologias
empregadas. Tanto no estudo de cultura de pura quanto no estudo de cultura mista
a técnica de preparação de cultura e de amostra associada à metodologia de préprocessamento espectral e análise de dados foi essencial na classificação 100%
correta das amostras.
96
8 SUGESTÕES/TRABALHOS FUTUROS
Uma alternativa potencial para a identificação de microrganismo em cultura mista
por microespectroscopia FT-IR é apontada por Beekes, Lasch e Naumann, 2007
(2007). De acordo com os autores as culturas mistas podem ser analisadas pela
mensuração de microcolônias (50-100 μm de diâmetro) crescendo separadamente
em meio sólido, para isto os inóculos são diluídos e as microcolônias são
estampadas em placas de Agar em janelas transparentes no infravermelho. A figura
48 apresenta a identificação de microrganismo em culturas mistas contendo três
tipos diferentes de microrganismo depositados em janela de BaF2 pela técnica de
estampa (figura 49).
Figura 48 – Identificação de três diferentes microrganismos em cultura mista pela técnica de estampa.
Fonte: (BEEKES; LASCH; NAUMANN, 2007)
97
Figura 49 – Método de estampagem - dispositivo para transferência de microcolônias das placas de
Agar à janela de IR . Fonte: (BEEKES; LASCH; NAUMANN, 2007)Madrid:
Para trabalhos futuros e como complementação do trabalho realizado nesta
dissertação, sugere-se:
 Implementação
da
técnica
de
estampa
para
a
identificação
de
microrganismos em culturas mistas;
 Caracterização de cepas clínicas e ATCC para complementar a base de
dados;
 Utilização de redes neurais para classificação e confecção de banco de dados
espectrais com finalidade diagnóstica;
 Identificação de microrganismos em amostras clínicas.
98
9 DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
Trabalhos em eventos científicos
FONTOURA, I.S. ; SAKANE, K. K. ; CARDOSO, M. A. G ; KHOURI, S. ; UEHARA,
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FONTOURA, I.S. ; SAKANE, K. K. ; CARDOSO, M. A. G ; KHOURI, S. ; UEHARA,
M. ; MARTIN, A. A . CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO RÁPIDA DE
BACTÉRIAS POR MICROESPECTROSCOPIA FT-IR. III Simpósio em Engenharia
Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia.2009.
FONTOURA, I., BELO, R., SAKANE, K., CARDOSO, M. A. G., KHOURI, S.,
UEHARA, M., RANIERO, L., MARTIN, A. A., "FT-IR microspectroscopy in rapid
identification of bacteria in pure and mixed culture" in Biomedical Vibrational
Spectroscopy IV: Advances in Research and Industry, SPIE, Bellingham, WA 2010
Prêmio
2009
Trabalho relevante do III Simpósio de Engenharia Biomédica da
UFU, Universidade Federal de Uberlândia.
FONTOURA, I.S. ; SAKANE, K. K. ; CARDOSO, M. A. G ; KHOURI, S. ; UEHARA,
M. ; MARTIN, A. A . CARACTERIZAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO RÁPIDA DE
BACTÉRIAS POR MICROESPECTROSCOPIA FT-IR. III Simpósio em Engenharia
Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia.2009.
99
Trabalho publicado
FONTOURA, I., BELO, R., SAKANE, K., CARDOSO, M. A. G., KHOURI, S.,
UEHARA, M., RANIERO, L., MARTIN, A. A., "FT-IR microspectroscopy in rapid
identification of bacteria in pure and mixed culture" in Biomedical Vibrational
Spectroscopy IV: Advances in Research and Industry, edited by Anita MahadevanJansen, Wolfgang Petrich, Proceedings of SPIE Vol. 7560 (SPIE, Bellingham, WA
2010) 75600T.
100
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