CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ESTUDO ELETROQUÍMICO E IONTOFORÉTICO DA LIBERAÇÃO E PERMEAÇÃO IN VITRO DE α-TOCOFEROL PRESENTE EM PREPARAÇÕES COSMÉTICAS CONTRA FOTOENVELHECIMENTO Elisa Paludo Lajeado, março de 2014 5 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Elisa Paludo ESTUDO ELETROQUÍMICO E IONTOFORÉTICO DA LIBERAÇÃO E PERMEAÇÃO IN VITRO DE α-TOCOFEROL PRESENTE EM PREPARAÇÕES COSMÉTICAS CONTRA FOTOENVELHECIMENTO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento, do Centro Universitário UNIVATES, como parte da exigência para obtenção do grau de Mestre em Ambiente e Desenvolvimento na área de concentração Tecnologia e Ambiente. Orientadora: Profª. Dra. Simone Stülp Co-orientador: Hilgemann Lajeado, março de 2014 Profº. Dr. Maurício BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 6 Dedico essa dissertação à minha mãe Tarcila, pela dedicação incansável, pelos ensinamentos, pelo suporte, amor, carinho, apoio, paciência, pela força, amizade, compreensão, por ser meu alicerce, minha companheira, enfim, por acreditar em mim! BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 7 AGRADECIMENTOS Escrever uma dissertação de Mestrado é uma experiência enriquecedora e de plena superação. Modificamo-nos a cada tentativa de buscar respostas às nossas aflições. Para aqueles que compartilham conosco desse momento, parece uma tarefa interminável, que só se torna realizável graças a muitas pessoas que participam, direta ou indiretamente, mesmo sem saber realmente o que e para que nos envolvemos em uma pesquisa. Desta forma, só tenho a agradecer essas pessoas que passaram pelo meu caminho e deixaram um pouco de si. Agradeço de coração a minha orientadora professora Simone Stülp pela oportunidade, pela enorme paciência (em todos os choros), por todos os ensinamentos, principalmente os de eletroquímica, pela orientação concedida, apoio e confiança que me foi depositada. Obrigada por dividir seus conhecimentos e suas experiências, por mostrar os caminhos mais adequados e pelo incentivo e motivação constantes. Ao professor Dênis Barnes, meu eterno agradecimento pela orientação durante a graduação e um dos grandes responsáveis pela minha entrada no PPGAD, meu especial obrigada pela amizade, pelos conselhos, pela confiança e principalmente por ter me incentivado a continuar a vida acadêmica. Aos professores Giovana Sinigaglia e João Tassinary, obrigada pelos incentivos, ensinamentos e principalmente pelo exemplo de profissionais. A professora Débora Cerutti agradeço citando a frase: “Aquilo que guardamos para nós, acabamos perdendo um dia; aquilo que damos, conservamos às vezes, para sempre...” Paul Schmidt. 8 Ao professor Eduardo Miranda Ethur pelo grande apoio, incentivo e amizade, além das colaborações durante a realização deste trabalho. Ao professor Maurício BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Hilgemann pelas contribuições realizadas. À Laís por ter compartilhado comigo as angústias e tensões de se elaborar uma dissertação, pela amizade conquistada, incentivo, pelas horas de colaboração, auxílio, dedicação e responsabilidade. À Univates, ao PPGAD e aos professores do mestrado, pela oportunidade de aprendizado e crescimento profissional. À teacher Margareth Bresolin por toda a confiança, apoio, incentivo, pela amizade conquistada e, principalmente, por confiar em mim! Conquistamos juntas! Aos meus amigos, que entenderam as horas de ausência, torceram e me incentivaram, não tenho palavras para agradecer o quanto esse apoio foi importante. Aos amigos que se formaram no PPGAD: Camila, Cristiano, Darliane e Luiz, gostaria de dizer que percorremos este caminho juntos, nos complementando e nos fortalecendo. Obrigada pela rica troca, cumplicidade, companheirismo e amizade. À minha maravilhosa família, à minha mãe, às minhas irmãs Dani e Tchane, e aos meus cunhados Ota e Cleberson, a os meus sobrinhos e afilhados Dudu, Luisa e Pedro, minha base, meu tudo, vocês são o melhor da minha vida. Obrigada pelo apoio incondicional ao longo deste processo de dissertação e de muitos outros. Obrigada por acreditarem em mim, mesmo quando eu não acreditava. Ao meu pai (in memorian) o convívio foi pouco, mas o carinho sempre esteve presente. Enfim, a todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho, meus sinceros e profundos agradecimentos, pois ninguém vence sozinho. No final das contas, talvez devêssemos parar de tentar retribuir às pessoas que nos apoiam em nossas vidas. Talvez fosse mais sábio se render à milagrosa abrangência da generosidade humana e simplesmente continuar dizendo obrigada, para sempre e com a sinceridade, enquanto tivermos voz, diria Elizabeth Gilbert. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 9 "O futuro não é um lugar onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído e o ato de fazê-lo muda tanto o realizador quanto o destino". (Antoine de Saint-Exupery) BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 10 RESUMO A iontoforese é um método de administração de substâncias através da pele, com propósito terapêutico específico, utiliza-se de potencial ou corrente elétrica para promover a transferência transdermal de um fármaco. A camada córnea corresponde a uma espessura de cerca de 20 µm, sendo reconhecida como a principal barreira à transferência transdermal de fármacos. Em vista disso, cada vez mais técnicas diferentes vêm sendo testadas para a penetração de substâncias através do estrato córneo. Destaca-se ainda o α-tocoferol (vitamina E), um antioxidante natural capaz de reduzir ou bloquear as reações de oxidação induzidas pelos radicais livres nas membranas biológicas em função de exposição solar, por exemplo. O presente estudo tem como objetivo realizar avaliações eletroquímicas do gel + α-tocoferol quando submetido a aplicações de iontoforese, bem como verificar os potenciais de liberação e permeação do α-tocoferol quando associados à iontoforese. Para a realização dos experimentos utilizou-se a célula de difusão tipo Franz, aplicando-se as técnicas de voltametria cíclica e espectrofotometria UV/Vis para avaliação do sistema. A partir dos resultados observa-se um aumento da difusão e degradação do sistema, devido à redução da corrente de pico em 0,78 V das moléculas de α-tocoferol, quando submetido à iontoforese. Nas análises voltamétricas do gel + α-tocoferol, nos diferentes tempos de aplicação de iontoforese o sinal de corrente decai com o tempo, já que parte dele é permeada observa-se uma diminuição da altura do pico e seu consequentemente alargamento. Acredita-se que esteja ocorrendo uma degradação do α-tocoferol pela ação da iontoforese, e que seu produto esteja sendo oxidado no eletrodo de platina num potencial próximo ao do α-tocoferol. Nos ensaios de permeabilidade do α-tocoferol sem e com a aplicação de iontoforese, obteve-se uma diferença significativa de t = 4; p = 0,01 com a aplicação. Nos ensaios de permeação utilizando a muda de pele de cobra Boa constrictor há uma tendência de aumento de fluxo entre os tempos de 2 e 10 min, sendo esta uma diferença significativa, esse fato pode ser devido a utilização da membrana. Desta forma o α-tocoferol possui um comportamento eletroquímico ativo com a aplicação de iontoforese em meio gel de hidroxietilcelulose, avaliando também uma tendência à degradação do ativo com o aumento do tempo de aplicação da iontoforese observado na análise eletroquímica e de difusão. E a aplicação da iontoforese demostrou eficiência no aumento de permeação e liberação do α-tocoferol, comparado a condições sem aplicação. Palavras-chave: Iontoforese. α-tocoferol. Eletroquímica. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 11 ABSTRACT Iontophoresis is a method of administration of substances through the skin, with a specific therapeutic purpose, it uses electric current or potential to promote the transfer of a transdermal drug. The corneal layer corresponds to a thickness of about 20 microns, being recognized as the primary barrier to transdermal drug transference. In view of this, and more different techniques have been tested since for the penetration of substances through the stratum corneum. We also highlight the α-tocopherol (vitamin E), a natural antioxidant able to reduce or block the oxidation reactions induced by free radicals in biological membranes due to exposure to sunlight, for example. The present study aims to conduct electrochemical evaluations gel + α-tocopherol when subjected to iontophoresis applications as well as to verify the potential of release and permeation of α-tocopherol when combined with iontophoresis. We used for the experiments, the Franz diffusion cell type, applying the cyclic voltammetry and UV/Vis spectrophotometry to evaluate the system. It was observed, from the results an increase of the diffusion and degradation of the system due to the reduction in peak current at 0.78 V of the molecules of α-tocopherol, when subjected to iontophoresis. In the voltammetric analysis of the gel + α - tocopherol in different times of application of iontophoresis current signal decays with time, since part of it is permeated , there is a decrease of the peak height and consequently its enlargement. It is believed that degradation is occurring α-tocopherol by the action of iontophoresis, and that your product is being oxidized at the platinum electrode at a potential close to that of α - tocopherol. The permeation tests of α-tocopherol with and without the application of iontophoresis, we obtained a significant difference in t = 4, p = 0.01 with the application. In permeation tests using seeding of skin of snake Boa constricitor a trend of increased flow between periods of 2 and 10 min, which is a significant difference, this might be due no use of membrane. Thus the αtocopherol has an active electrochemical behavior with the application of iontophoresis amid gel hydroxyethylcellulose, a trend also evaluating the degradation of the asset with the increase of time of application of iontophoresis observed in electrochemical analysis, and diffusion. And the application of iontophoresis demonstrated effectiveness in increasing permeation and release of α-tocopherol, compared to conditions without application. Keywords: Iontophoresis. α-tocopherol. electrochemical. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 12 LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Processo de formação dos radicais livres no organismo. ......................... 20 Figura 2 - Fotoenvelhecimento unilateral. ................................................................. 22 Figura 3 - Ação antrópicas x qualidade de vida. ........................................................ 23 Figura 4 - Camadas da pele: epiderme, derme e hipoderme. ................................... 25 Figura 5 - Representação esquemática da epiderme. ............................................... 26 Figura 6 - Biomembrana de pele de muda de cobra Boa constrictor em solução de azida sódica 0,0002% em água destilada. ................................................................ 28 Figura 7 - Estrutura química do α-Tocoferol. ............................................................. 29 Figura 8 - Atividade antioxidante do α-tocoferol. ....................................................... 31 Figura 9 - Esquema de transferência de íons durante a iontoforese. (A) Íons positivos são conduzidos para longe do ânodo. (B) Íons negativos são conduzidos para longe do cátodo................................................................................................................... 35 Figura 10 - Célula Eletroquímica ............................................................................... 39 Figura 11- Esquema do sistema utilizado com a célula de difusão tipo Franz. ......... 41 Figura 12 - Sistema de difusão utilizado nos experimentos de liberação permeação. .................................................................................................................................. 42 Figura 13 – Curva de calibração, da solução de α-tocoferol nas concentrações de: 0,09054 µmol L-1, 0,36277 µmol L-1, 0,725546 µmol L-1 e 1,4510 µmol L-1. .............. 42 Figura 14 - Equipamento de iontoforese utilizado nos experimentos. ....................... 43 Figura 15 - Voltametria cíclica de eletrodo de platina em sistema contendo gel de hidroxietilcelulose (linha tracejada), e este acrescido de α-tocoferol 1% (linha contínua), v = 10 mV/s. ............................................................................................ 45 13 Figura 16 - Voltametria cíclica de eletrodo de platina em sistema contendo gel de hidroxietilcelulose acrescido de α-tocoferol 1% nos diferentes tempos estudados: a: BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 0 min; b: 2 min; c: 6 min; d: 10 min e e: 12 min, v = 10 mV/s. .................................. 46 Figura 17 - Voltametria cíclica de eletrodo de platina em sistema contendo gel de hidroxietilcelulose com aplicação de iontoforese nos tempos: a: 0 min; b: 2 min; c: 6 min; d: 10 min e e:12 min, v = 10 mV/s. ................................................................... 48 Figura 18 - Quantidade liberada de α-tocoferol em função do tempo (horas) em sistemas de difusão vertical contendo gel de hidroxietilcelulose/α-tocoferol. ............ 49 Figura 19 - Quantidade liberada de α-tocoferol em função do tempo (horas) em sistemas de difusão vertical contendo gel de hidroxietilcelulose/α-tocoferol associado à iontoforese.............................................................................................................. 49 Figura 20 - Coeficiente de permeabilidade do α-tocoferol sobre a membrana de acetato de celulose sem (controle) e com aplicação de iontoforese. ........................ 51 Figura 21- Aplicação de iontoforese em placa de Petri do α-tocoferol 1% associado ao gel de hidroxietilcelulose nos tempos de 10 e 12 minutos.................................... 53 Figura 22 - Oxidação do α-tocoferol. ......................................................................... 54 Figura 23 - Quantidade permeada do α-tocoferol com aplicação de iontoforese (branco) e sem aplicação de iontoforese (preto). ...................................................... 55 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 14 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Ag/AgCl - Prata/Cloreto de prata ERO - Espécies reativas de oxigênio CLAE - Cromatografia líquida de alta eficiência RL - Radical livre UV - Ultravioleta UVA - Ultravioleta A UVB - Ultravioleta B UVC - Ultravioleta C UV/VIS - Ultravioleta visível α - Alfa β - Beta γ - Gama δ - Delta BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 14 1.1 Tema ................................................................................................................. 15 1.2 Problema ........................................................................................................... 15 1.3 Hipóteses .......................................................................................................... 16 1.4 Objetivos ........................................................................................................... 16 1.4.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 16 1.4.2 Objetivos Específicos ..................................................................................... 16 1.5 Justificativa........................................................................................................ 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 19 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 Envelhecimento e interdisciplinaridade ............................................................. 19 Pele ................................................................................................................... 24 Biomembrana de pele de muda de cobra (Boa constrictor) .............................. 27 Membrana de acetato de celulose .................................................................... 29 α-tocoferol ......................................................................................................... 29 Iontoforese ........................................................................................................ 33 3 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 38 3.1 Reagentes ......................................................................................................... 38 3.2 Comportamento eletroquímico do α-tocoferol ................................................... 39 3.3 Análise de liberação e permeação in vitro do α-tocoferol em sistema de difusão vertical ....................................................................................................................... 40 3.4 Aplicação da Iontoforese in vitro ....................................................................... 43 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 44 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 16 4.1 Comportamento eletroquímico do α-tocoferol em sistema associado à iontoforese................................................................................................................. 44 4.2 Determinação da quantidade liberada de α-tocoferol em sistema de difusão vertical ....................................................................................................................... 48 4.3 Determinação da permeação in vitro de α-tocoferol em biomembrana de Boa constrictor .................................................................................................................. 54 5 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 58 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60 6 APÊNDICES ........................................................................................................ 68 APÊNDICE A ............................................................................................................. 69 APÊNDICE B ............................................................................................................. 70 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, os fatores essenciais para a vida se tornaram prejudiciais, à medida que a ação antrópica torna-os nocivos, pois a redução da camada de ozônio tem levado a um aumento da radiação UV na superfície terrestre. Esse fato tem provocado danos ao organismo e à pele, bem como o envelhecimento precoce e o fotoenvelhecimento, sendo que, em alguns casos, sua relação com efeitos radicalares são comprovados (CLARKE, 2006; AZULAY; AZULAY; AZULAYABULAFIA, 2008). Desta forma, o processo oxidativo pode ocasionar efeitos deletérios nas células e tecidos do corpo humano; o oxigênio reativo e as espécies de nitrogênio danificam as células (SKOOG et al., 2006). A profilaxia do envelhecimento precoce da pele tem assumido uma importância crescente na população, e tem como componente essencial das estratégias de prevenção, a utilização de antioxidantes em formulações cosméticas. Os antioxidantes atuam neutralizando a ação dos radicais livres, revertendo, ou até detendo, os danos por eles causados (GOMES; DAMAZIO, 2009). O α-tocoferol é um antioxidante natural, que possui a capacidade de reagir com as espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio (BAUMANN, 2004). Este composto é utilizado comumente em diversas preparações cosméticas, como na formulação de fotoprotetores e rejuvenescedores. Contudo, sua aplicação tópica tem como principal desafio uma maior permeabilidade do α-tocoferol na pele, o que poderia potencializar sua bioatividade. A permeabilidade cutânea é um dos principais parâmetros a serem considerados nos tratamentos dermatológicos. Sabe-se que vários fatores influenciam na permeação cutânea de fármacos como barreiras naturais, tipo de 15 veículo utilizado, tempo de aplicação, entre outros. O desenvolvimento de sistemas tópicos de liberação de fármacos, como a iontoforese, tem se intensificado nos BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) últimos anos, com o objetivo de otimizar a biodisponibilidade dos princípios ativos, que muitas vezes são suscetíveis à degradação, aumentando assim a eficácia do tratamento (GRATIERI; GELFUSO; LOPEZ, 2008). A iontoforese consiste na associação de uma corrente elétrica com aplicação tópica de fármacos, a qual aumenta sua liberação transdérmica através do estrato córneo, elevando a eficácia terapêutica de diversos tratamentos. Esta técnica já vem sendo utilizada na prática dermatológica e cosmética, tendo sua eficácia já comprovada no aumento da permeação de diferentes princípios ativos (SILVA; GUEDES; PIRES, 2012). Em face do exposto, o objetivo do presente trabalho foi o de estudar a liberação e permeação do α-tocoferol, quando adicionado a um hidrogel, com e sem a aplicação de iontoforese, além de avaliar, por meio eletroquímico, possíveis reações de oxidação ocorridas após a aplicação deste. A importância deste trabalho reside na avaliação da promoção, por parte da iontoforese, do aumento de liberação (facilitador) do fármaco para o meio, em ensaios in vitro, investigando possíveis alterações estruturais ocorridas neste sistema. 1.1 Tema Aplicação da iontoforese na terapia tópica (dermatológica) in vitro com α-tocoferol. 1.2 Problema Qual a influência da técnica de iontoforese, em termos de variáveis físicoquímicas, na terapia tópica com α-tocoferol? 16 1.3 Hipóteses BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 1. A estabilidade estrutural da molécula de α-tocoferol não é influenciada pela técnica de iontoforese; 2. A iontoforese aumenta o transporte transmembrana da molécula de α-tocoferol. 1.4 Objetivos 1.4.1 Objetivo Geral Analisar e identificar a associação entre o princípio ativo α-tocoferol e a técnica de iontoforese, em termos de análise eletroquímica e de difusão vertical. 1.4.2 Objetivos Específicos 1. Analisar a técnica de iontoforese in vitro na membrana de acetato de celulose e biomembrana de muda de pele de cobra; 2. Avaliar o efeito da iontoforese sobre a estrutura molecular do α-tocoferol, por meio de técnicas eletroquímicas; 3. Avaliar o efeito da técnica de iontoforese na permeabilidade cutânea do α-tocoferol em modelo in vitro; 4. Comparar os resultados obtidos da liberação e permeação do princípio ativo α-tocoferol associado à técnica de iontoforese. 1.5 Justificativa Com as alterações ambientais sofridas nos últimos anos, como a depleção de ozônio (EPA, 2010), a exposição solar e, por consequência, a incidência à radiação UV tem aumentado na superfície terrestre. Tendo em vista este efeito, danos ao 17 organismo (HIRAMOTO et al., 2013), à pele, envelhecimento precoce e fotoenvelhecimento têm sido relatados, sendo que em alguns casos, sua relação BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) com efeitos radicalares são comprovados (WLASCHEK, 2001). Tais efeitos levam ao envelhecimento tecidual e o ressecamento da pele. O carcinoma de pele é o mais diagnosticado entre a população, sendo a região cérvico-facial e o dorso das mão como regiões mais acometidas, e com maior predisposição a exposição dos raios solares. Tal condição gera desconforto e pode levar ao desenvolvimento de outras desordens dermatológicas, além de causar uma aparência antiestética. Com o intuito de inibir ou amenizar efeitos do fotoenvelhecimento, tratamentos têm sido utilizados como prevenção, atenuação, ou para amenizar efeitos da exposição à radiação UV/solar. Dentre estes tratamentos, podem ser citados: o uso de fotoprotetores e rejuvenescedores, de compostos reativos com o oxigênio, dentre outros. Os antioxidantes têm sido utilizados como tratamento para a jovialidade cutânea, sendo o α-tocoferol um dos princípios ativos que, quando utilizado isoladamente ou associado a outros compostos, têm demonstrado efeitos positivos em relação à proteção na exposição solar, proteção de doenças, incluindo o câncer (BURKE, 2003) e inibindo a ação dos radicais livres (GUIRRO; GUIRRO, 2002). O α-tocoferol possui importante papel na função de antioxidante da membrana, associando-se a manutenção da estrutura lipídica. Desta forma, trabalha inibindo a formação de peróxidos lipídicos, uma vez formados pela oxidação das gorduras insaturadas, a qual interferem na integridade das membranas biológicas (GUIRRO; GUIRRO, 2002; KEDE; SABATOVICH, 2004; LEONARDI, 2008). Ainda, a busca por novos sistemas promotores de permeação permite otimizar a entrega dérmica de compostos, que muitas vezes são suscetíveis à degradação (KAUR; KAPILA; AGRAWAL, 2007), devido a variações de temperatura, de concentração de oxigênio, dentre outros, sendo a vitamina E um composto passível de degradação, em função de variações ambientais (SABLIOV et al., 2009). Dentre os promotores de permeação, pode-se destacar a iontoforese, com o objetivo de otimizar a biodisponibilidade dos fármacos, de forma tópica, na pele, aumentando assim a eficácia do tratamento. 18 Desta forma, os pacientes podem se beneficiar com o aumento da eficácia do tratamento através de uma melhor absorção do fármaco. Assim, possibilita-se BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) condutas terapêuticas eficientes, com resultados clínicos rápidos como: rápida liberação do fármaco, tratamento de várias patologias tanto estéticas como dermatológicas; não apresenta agressões digestivas, tratamento local e seguro reduzindo assim a possibilidade de superdosagem ou subdosagem, possibilita-se a utilização de um fármaco com curta meia-vida biológica. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Envelhecimento e interdisciplinaridade A expectativa de vida está cada vez mais aumentando, paralelamente houve um crescente interesse em envelhecer sem parecer velho, ou seja, retardar ao máximo os sinais do envelhecimento no organismo como um todo, especialmente a pele (RIBEIRO, 2010). Evidencia-se o envelhecimento cronológico cutâneo ou intrínseco, ao qual, a pele, sem que se perceba, vai perdendo lentamente as suas propriedades de resistência e autorregulação, ocorre modificação do material genético por meio de enzimas, alterações proteicas, a proliferação celular decresce, diminui a síntese de colágeno, de elastina e de outras macromoléculas, há menor regeneração celular, há diminuição das defesas antioxidantes, espessamento dos vasos, fibras de colágeno tornam-se quebradiças e fibras de elastina fragmentam-se, dentre outras alterações (MAGALHÃES, 2000; KEDE; SABATOVICH, 2004; BAUMANN, 2004; GOMES; DAMAZIO, 2009). Destaca-se ainda, as oxidações químicas e enzimáticas envolvendo a formação de radicais livres (RL) (Figura 1), que aceleram o fenômeno do envelhecimento por danos ao DNA e por atuarem na desidrogenação, hidroxilação e na glicação proteica. As espécies de radicais de oxigênio, inclusive peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila, são formados naturalmente, por fatores endógenos, através do metabolismo humano (metabolismo de alimentos, processos musculares e produção de hormônios) e por fatores exógenos, como o impacto da radiação 20 ultravioleta sobre a pele, poluição, estresse, entre outros (KEDE; SABATOVICH, 2004; BAUMANN, 2004; HIRATA; SATO; SANTOS, 2004; GOMES; DAMAZIO, BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 2009). Figura 1 - Processo de formação dos radicais livres no organismo. Fonte: Adaptado de PEYREFITTE, 1998. Desta forma, as espécies reativas de oxigênio (ERO), também conhecidas como RL, que são formados quando um átomo possui um elétron desemparelhado, situação energeticamente instável, a qual confere alta reatividade passando a capturar seu par em outro átomo pertencente a outra molécula, danificando essa estrutura. O estresse oxidativo pode ser definido como um desequilíbrio entre a formação de ERO e a capacidade antioxidante total do organismo (BRUICE, 2006, 21 SMITH; MARKS; LIEBERMAN, 2007; LEONARDI, 2008). A ação da oxidação sobre as células e tecidos do corpo humano pode ser bastante prejudicial (SKOOG, 2006). BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Desta forma, a produção dos RL ocorre devido à quebra da paridade da órbita externa das moléculas por agentes externos ou por reações internas do organismo, ou seja, esses compostos são formados quando as moléculas de oxigênio se combinam com outras moléculas, gerando um número excessivo de elétrons. Quando uma molécula de oxigênio apresenta-se com elétrons pareados é estável; todavia, o oxigênio com um elétron sem par é “reativo”, pois ele capta elétrons de componentes vitais, danificando-os (BAUMANN, 2004; BAYNES; DOMINICZAK, 2010). Entretanto, com estudo de diferentes ciências chega-se a um paradoxo, onde as plantas durante a fotossíntese absorvem dióxido de carbono e rejeitam o oxigênio. Os animais e os seres humanos realizam o processo inverso, desta forma, utiliza-se o oxigênio liberado pelas plantas, contudo, respirar é algo essencial à vida e gera obrigatoriamente a formação de RL. Ainda, destaca-se a radiação solar como também sendo fundamental para a vida, mas seu componente ultravioleta causa efeitos indesejáveis na pele em exposição elevada (PEYREFITTE, 1998). Os mesmos são fatores naturais, aos quais, em condições normais, observa-se um equilíbrio entre a produção de espécies reativas e os sistemas de defesa antioxidante do próprio organismo. Toda via, os fatores essenciais para a vida se tornam prejudiciais à medida que a ação antrópica os torna nocivos. A intensidade da radiação UV que atinge a superfície terrestre é influenciada por diversos fatores ambientais, entre eles, destacam-se os níveis da camada de ozônio e a poluição ambiental. O dano das radiações sobre diversas estruturas celulares varia de acordo com o comprimento de onda. A camada de ozônio absorve 100% da radiação UVC, 90% da radiação UVB e praticamente não absorve a radiação UVA, desta forma, com a danificação da camada de ozônio, aumenta a transmissão de UV para a superfície da Terra. (CLARKE, 2006; BARRETO; et al., 2008; MONTAGNER; COSTA, 2009; RAI; SHANMUGA; SRINIVAS, 2012). 22 Ao atingirem a pele, as radiações podem ser parcialmente refletidas, refratadas e, em partes, absorvidas. Apenas a porção de radiação absorvida pela BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) pele dará inicio à reação fotoquímica inaugural da resposta biológica (lei de Grotthus e Draper). Como consequência da interação da radiação ultravioleta com a pele, pode surgir indução de mutações celulares, desenvolvimento de malignidades e modificação da resposta imunológica da pele (AZULAY; AZULAY; AZULAYABULAFIA, 2008). Como exemplo da participação dos radicais livres gerados pela radiação no mecanismo de envelhecimento humano, cita-se um estudo realizado com trabalhadores da usina atômica de Chernobyl na Ucrânia, o qual mostra que 80% das pessoas que trabalham na usina apresentam idade biológica superior aos habitantes de Kiev na Ucrânia, que não foram expostos à radiação proveniente do acontecido em 1986 (POLYUKHOV, 2000). Outro exemplo é o de fotoenvelhecimento unilateral, caminhoneiro de 69 anos, que trabalhou durante 28 anos dirigindo, apresentou espessamento assintomático e enrugamento da pele, no lado esquerdo da sua face (elastose solar), causado pelo fotoenvelhecimento acentuado, como se pode observar na Figura 2 (JENNIFER, 2012). Figura 2 - Fotoenvelhecimento unilateral. Fonte: JENNIFER, 2012. Denomina-se assim envelhecimento extrínseco ou fotoenvelhecimento, o qual está relacionado a fatores externos, principalmente os ambientais, surgindo principalmente em áreas foto-expostas, devido ao efeito repetitivo da ação dos raios 23 ultravioletas, além de outros fatores como a poluição, álcool e o tabagismo (KEDE, SABATOVICH, 2004, BAUMANN, 2004; GOMES; DAMAZIO, 2009). BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Assim, pode-se dizer que o envelhecimento cutâneo está relacionado aos efeitos da idade, alterações hormonais e a fatores ambientais que o ser humano está exposto durante toda a vida, conforme a Figura 3 (KEDE, SABATOVICH, 2004, BAUMANN, 2004). Figura 3 - Ação antrópicas x qualidade de vida. Fonte: Autora Todavia, os antioxidantes são inibidores de RL, suprindo a formação ou as ações de ERO, oferecendo os elétrons que eles buscam para se estabilizar. Estes podem ser incorporados à pele através de cosméticos (LEONARDI, 2008). Desta forma, o uso de cosméticos que contenham antioxidantes naturais já vem sendo utilizados para a elaboração dos mesmos desde os tempos remotos, com a finalidade de tratamento e beleza da pele (BARATA, 2003). A Cosmetologia pode ser definida como sendo uma ciência que estuda os cosméticos, desde a concepção de conceitos até a aplicação dos produtos elaborados. Entre estes dois extremos, encontra-se a pesquisa de novas matérias primas, tecnologias, desenvolvimento de formulações, produção, comercialização, controle de qualidade, toxicologia, eficácia de produtos, dentre outros. Nesse contexto, considera-se uma atividade multidisciplinar envolvendo conhecimentos de diferentes áreas, à qual possui a finalidade de prevenção e melhora de alterações inestéticas na pele (RIBEIRO, 2010). 24 Ressalta-se desta forma, a importância do conhecimento de outras ciências para serem trabalhados e transformados pelas necessidades do desenvolvimento da BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) ciência importadora. As disciplinas etnológicas, por exemplo, explicam o processo cultural de aproveitamento dos recursos do meio (PHILIPPIS Jr., 2000). Por outro lado, analisa-se que há relação entre essência, beleza e saúde, na qual não pode haver beleza sem saúde e esta é evidenciada por aquela, sendo beleza tudo o que a natureza encerra, e os produtos naturais e seus derivados são, em princípio, um dos principais responsáveis pela realização desse desejo, comum à maioria das pessoas (BARATA 2003). O uso de plantas e seus componentes sempre foi objetivo de estudo tanto para cosmetologia como para dermatologia. Com o avanço do conhecimento e o aprimoramento de técnicas, passou-se a utilizar métodos de isolamento e de elucidação estrutural; desta forma, permite-se conhecer melhor e, avaliar seus elementos ativos e mecanismos de ação (CUNHA, 2004). Todavia se não é possível evitar 100% todos os processos ambientais e físicos, boa parte pode ser prevenida ou remediada. 2.2 Pele A pele é o maior órgão do corpo humano, com uma espessura variável, representando algo em torno de 16% do peso corpóreo. É por intermédio da pele que estamos totalmente expostos ao meio ambiente. Em suas atribuições incluem a proteção contra agressões físicas, químicas e biológicas; a absorção da radiação ultravioleta tanto para a síntese de vitamina D como para a proteção; barreira relativamente impermeável; excreção (suor) e a termorregulação; órgão sensorial; sinalização sexual; e defesa imunológica do organismo (KIERSZENBAUM, 2008; GOMES; DAMAZIO, 2009; GARTNER; HIATT, 2010). A pele possui uma estrutura complexa, sendo formada por epiderme, derme e tecido subcutâneo ou hipoderme (Figura 4). Em sua composição química tem-se água, protídios (aminoácidos, colágeno, elastina, ceratina, melanina, glicoproteína, 25 enzima entre outros), lipídios (ácidos graxos, colesterol, fosfolipídios e triglicerídeos), glicídios (ácido hialurônico, glicose e glicogênio), sais minerais (cálcio, cobre, BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) enxofre, ferro, fósforo, iodo, magnésio, manganês, potássio, sódio, zinco entre outros) (GOMES; DAMAZIO, 2009). Figura 4 - Camadas da pele: epiderme, derme e hipoderme. Fonte: SAMPAIO; RIVITTI, 2008. A epiderme é basicamente um tecido epitelial estratificado queratinizado, com variações estruturais e funcionais significativas na dependência do seu sítio anatômico, constituída por: queratinócitos responsáveis pelo corpo da epiderme e de seus anexos (pelos, unhas e glândulas); os melanócitos; células de Langerhans, com função imunológica; e células de Merkel integradas ao sistema nervoso. É avascular, isto é, não possui circulação sanguínea e linfática (KIERSZENBAUM, 2008; GOMES; DAMAZIO, 2009; GARTNER; HIATT, 2010; AZULAY; AZULAY; AZULAY-ABULAFIA, 2008). Ainda, a epiderme pode ser dividida em 5 camadas ou estratos (Figura 05) sendo elas: 1) camada basal ou germinativa, é a camada mais profunda, formada por células de formato cuboide a colunar. Essas células são responsáveis pela renovação celular, através da mitose; 2) estrato espinhoso ou camada de Malpighi, as células que compõem essa camada também apresentam atividade mitótica, também formam grânulos de revestimento por membrana, cujo conteúdo rico em lipídios é composto por ceramidas, fosfolipídios e glicoesfingolipídios; 3) camada 26 granulosa, é composta por células que acumulam grânulos de querato-hialina, deste modo, preenchem as células por completo, destruindo seus núcleos e organelas; 4) BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) camada lúcida, mais comum em peles espessas, é composta de células anucleadas e achatadas, o qual lhe dá o aspecto translúcido; 5) camada córnea é a camada mais superficial, os queratinócitos se transformam em queratina, células sem vida. Assim, as camadas superficiais são descamadas na mesma proporção em que vão sendo substituídas pela atividade mitótica da camada basal e do estrato espinhoso (GOMES; DAMAZIO, 2009; GARTNER; HIATT, 2010). Figura 5 - Representação esquemática da epiderme. Fonte: GARTNER; HIATT, 2010. O estrato córneo corresponde a cerca de 20 μm da epiderme, é reconhecido como a principal barreira à transferência transdermal de fármacos, funcionando como uma barreira protetora. Ele possui proteínas e lipídios múltiplos que podem ligar-se reversível ou irreversivelmente a fármacos. Assim, as camadas da epiderme possuem comportamento fisiológico e físico-químico de aceitar ou não a permeação de certas substâncias (BAUMANN, 2004; GOMES; DAMAZIO, 2009; BRUNTON, 2012). A epiderme ainda pode ser classificada em espessa ou delgada, dependendo da espessura da camada córnea. A epiderme da pele espessa é composta das cinco camadas distintas, já a epiderme da pele delgada não apresenta a camada 27 lúcida (e por vezes a camada granulosa), entretanto, as células individuais que constituem as camadas ausentes estejam presentes (GARTNER; HIATT, 2010). BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) A derme situada logo abaixo da epiderme é composta por tecido conjuntivo denso não moderado, contém colágeno do tipo I e numerosas fibras elásticas. É bastante vascularizada, subdividida em camada papilar e camada reticular (GUIRRO; GUIRRO, 2004; GARTNER; HIATT, 2010). Desta forma, um dos principais desafios dos fármacos é romper a função da pele de manter a barreira cutânea entre os meios endógeno e exógeno, possibilitando assim, a permeação de fármacos na pele (GOMES; DAMAZIO, 2009). O caminho para a permeação de um ativo nas camadas da pele pode ter três vias potenciais no tecido: pelos folículos pilosos com suas glândulas sebáceas associadas; via ductos sudoríparos; ou pelo estrato córneo contínuo existente entre os apêndices (ANSEL; POPOVICH; ALLEN Jr., 2000; AULTON, 2005; CERIZE, 2012). Além da transferência de íons, desenvolver-se principalmente nos ductos das glândulas sudoríparas, e em menor extensão nos folículos pilosos e glândulas sebáceas (LOW; REED, 2001). 2.3 Biomembrana de pele de muda de cobra (Boa constrictor) Com a dificuldade de obtenção e utilização de pele humana para estudos de permeação, passou-se a pesquisar em modelos animais, percebendo-se que a membrana era similar a do humano. A pele de muda de cobra Boa constrictor (Figura 6), fornece uma barreira similar ao extrato córneo humano, constituindo-se de: camada externa, denominada de β, composta por β-queratina, α-queratina intracelular, mesos queratina, estruturas multilamelar e camada lipídica intercelular. Além disso, na camada do meio apresenta-se de três a cinco camadas com estrutura de multicamadas de células cornificadas envolvidas por lipídios intercelulares, apresentando similaridade ao estrato córneo humano (ITOH et al. 1990; RIGG; BARRY, 1990). 28 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 6 - Biomembrana de pele de muda de cobra Boa constrictor em solução de azida sódica 0,0002% em água destilada. Fonte: Autor. Os lipídios são importantes componentes da pele, controlando a permeabilidade de componentes, a sua descamação aumenta a permeabilidade de água tanto no estrato córneo humano como na pele de muda de cobra (ITOH et al., 1990). Destaca-se ainda, que a pele de muda de cobra Boa constrictor pode ser obtida sem a morte do animal, uma vez que a troca de pele (ou ecdise) ocorre regularmente no animal adulto, em geral a cada 2 ou 3 meses, fornecendo material em abundância, sendo de fácil armazenamento e não sofrendo degradação microbiológica. Apresenta-se como stratum corneum puro, não viável e desprovido de folículos pilosos (RIGG; BARRY, 1990). Estudos confirmam a similaridade entre a muda de pele de cobra e pele humana, em termos de composição e estrutura, contribuindo com a permeabilidade de vários compostos e a contribuição dos vários grupos funcionais para a permeabilidade, evidenciando diferentes graus de sucesso (ITOH et al., 1990; HARADA et al., 1992; NUNES et al., 2005). 29 2.4 Membrana de acetato de celulose BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Outra opção além do uso de pele de animais para estudos de permeação é a pele artificial. São modelos de membrana úteis para estudos de triagem em permeação cutânea. O modelo de membrana utilizado no estudo foi a de acetato de celulose (Sartorius Stedim Biotech) com porosidade de 0,45 μm. As folhas de acetato de celulose para eletroforese são concebidas como um material suporte inerte para a separação moléculas carregadas de eletroforese (MANUAL SARTORIUS STEDIM BIOTECH). 2.5 α-tocoferol Vitamina E é o nome coletivo para um grupo de 8 compostos lipossolúveis, que apresentam em diferentes graus, a mesma atividade biológica do α-tocoferol, dos quais é o mais ativo. Os tocoferóis são antioxidantes biológicos (PENTEADO, 2003; LEHNINGER; NELSON; COX, 2008; CHAMPE; HARVEY; FERRIER, 2010). Em sua estrutura o α-tocoferol (Figura 7) possui um anel 6-cromonol e uma cadeia lateral. A cadeia lateral é de natureza isoprênica, constituída por 16 átomos de carbono, sendo responsável pela lipossolubilidade (PENTEADO, 2003). O anel aromático reage com as formas mais reativas de oxigênio e outros RL as destrói, assim protege os ácidos graxos insaturados da oxidação (LEHNINGER; NELSON; COX, 2008). Figura 7 - Estrutura química do α-Tocoferol. Fonte: Adaptado de LEHNINGUER; NELSON; COX, 2008. 30 O α-tocoferol é o antioxidante natural mais abundante. Encontra-se em vegetais, óleos, sementes, nozes, milho, soja, farinha de trigo integral, margarina e BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) em algumas carnes e laticínios (BAUMANN, 2004, GOMES; DAMAZIO, 2009; CHAMPE; HARVEY; FERRIER, 2010). Desta forma, o α-tocoferol tem sido extensivamente estudado em diversas áreas do conhecimento, uma vez que desempenha papeis importantes na reprodução e em mecanismos antioxidantes de tecidos animais e vegetais (GOMES; DAMAZIO, 2009, SANTOS et al, 2011). O α-tocoferol é um antioxidante solúvel em lipídios primários da pele, desta forma, associa-se a todos às estruturas que têm lipídios em sua composição: membranas, lipoproteínas e depósitos de gordura, a qual protege as células do estresse oxidativo (BAUMANN, 2004, GOMES; DAMAZIO, 2009; BAYNES; DOMINICZAK, 2010). Os tocoferóis, quando expostos ao oxigênio molecular, evitam a oxidação dos ácidos graxos altamente insaturados (LEHNINGER; NELSON; COX, 2008). Com importante papel na função antioxidante de membrana, o α-tocoferol está associado com a manutenção da estrutura lipídica (BAYNES; DOMINICZAK, 2000). A oxidação de gorduras insaturadas produz peróxidos de lipídios, que interferem na estrutura e função das membranas biológicas. Sabe-se que o αtocoferol pode inibir a formação de peróxidos lipídicos, e possui um papel contra o envelhecimento, particularmente da pele, já que a peroxidação lipídica em tecidos poderia ser uma das causas do envelhecimento (GUIRRO; GUIRRO, 2002, KEDE; SABATOVICH, 2004, LEONARDI, 2008). “O α-tocoferol quebra a formação da cadeia de RL, reagindo com estes e convertendo-os numa forma praticamente atóxica ou de fraca toxicidade” (TIRAPEGUI, 2006). O radical tocoferil (Figura 8), o principal produto formado durante a ação antioxidante da vitamina E, é reciclado pelo ascorbato. A tocoferil quinona também é formada em baixas quantidades (BAYNES; DOMINICZAK, 2000). 31 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 8 - Atividade antioxidante do α-tocoferol. Fonte: BAYNES; DOMINICZAK, 2000. Entretanto, existe uma notável ausência de dados publicados em estudos de doses que definam uma porcentagem ideal para a utilização do α-tocoferol. Essa deficiência pode ser atribuída a parâmetros do estudo mal definidos, bem como a dificuldade de medir o estresse oxidativo in vivo (THIELE; EKANAYAKEMUDIYANSELAGE, 2007). As concentrações de α-tocoferol em cosméticos podem variar de 0,1 a 2% (KEDE, SABATOVICH, 2004) e até 5% (BATISTUZZO; ITAYA; ETO, 2006.) Na Europa e nos EUA têm sido desenvolvidos e comercializados produtos com concentrações de 0,0001%, usando essa abordagem, produtos contendo α-tocoferol para o uso de enxaguar, em concentrações inferiores a 0,2%, conduzem significativamente ao aumento dos níveis de vitamina E no estrato córneo da pele humana, protegendo-a contra a peroxidação lipídica in vivo. Desta forma, produtos contendo de 0,1 a 1% o α-tocoferol já demonstram aumento na proteção da pele contra os danos oxidativos (THIELE; EKANAYAKE-MUDIYANSELAGE, 2007; ZUSSMAN; AHDOUT; KIM, 2010). Em estudo de revisão a aplicação tópica no rosto de creme contendo α-tocoferol 5% a 8%, durante 4 semanas, observou-se uma diminuição da aspereza da pele, comprimento de linhas faciais e rugas de profundidade, quando comparado com placebo (KELLER; FENSKE, 1998). A aplicação de α-tocoferol 30 minutos antes de tratamento com 12-Otetradecanoilforbol-13-acetato (10 nmol) inibiram a indução de peróxido de hidrogênio, e peroxidação lipídica (LPO). Assim sendo, a α-tocoferol é 32 particularmente abundante no estrato córneo da pele, protegendo as camadas externas da pele contra os poluentes e luz UV. Estes resultados confirmam a BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) eficácia da α-tocoferol contra as primeiras respostas de estresse inflamatório e oxidativo, sendo dessa forma uma ação quimiopreventiva da vitamina E em câncer de pele (RAHMAN et al., 2008). O α-tocoferol é importante na proteção contra a peroxidação lipídica da membrana, pois é um antioxidante que reduz o eritema do fotoenvelhecimento, a fotocarcinogênese, o edema e a hipersensibilidade cutânea associada com a exposição à radiação ultravioleta B (UVB). (LUPO, 2001; GALLARDO, 2005; AZULAY; BAGATIN, 2009; CASSANO et al., 2009). Esta redução nos níveis de RL parece se correlacionar com uma redução no enrugamento da pele devido à exposição à radiação UV crônica, podendo assim o α-tocoferol proporcionar benefícios quando da sua aplicação tópica na pele humana através da redução ao dano oxidativo (LANGE, BUETTNERB, 2001). Um estudo demonstrou que a aplicação tópica, oclusiva pré-tratamento com 5% de α-tocoferol por 24 h inibiu a indução de macrófago humano, induzida por UV na pele humana in vivo (CHUNG et al., 2002). O α-tocoferol destaca-se na composição de formulações devido à sua propriedade umectante e neutralizador de RL (PUGLIESE, 1988 apud LEONARDI; GASPAR; CAMPOS, 2002). Ajuda a manter a elasticidade da pele, além de melhorar a microcirculação cutânea. Após a exposição aos raios solares, aliviam e acalmam a irritação e a inflamação, aumentando a eficácia dos protetores de radiação solar (CUNHA, 2004). Ainda, a eficácia da ação do α-tocoferol é maior quando há penetração destas substâncias antioxidantes em camadas mais profundas do estrato córneo (SCOTTI, 2007). Destacam-se ainda, os resultados obtidos com a aplicação tópica do α-tocoferol, em estudos realizados em laboratório e clínicas, indicando que o uso pode beneficiar no combate a várias doenças de pele, especialmente para ajudar prevenir, retardar ou impedir certas mudanças degenerativas associadas ao processo de envelhecimento, como a pele seca e escamosa, e a formação de rugas (ALMEIDA, 2008). 33 Baumann (2004) relata que o α-tocoferol parece oferecer uma área equilibrada para pesquisa, em seu potencial para benefícios terapêuticos, na BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) prevenção e no tratamento do fotoenvelhecimento. “A aplicação tópica de combinações de antioxidantes pode resultar em uma capacidade antioxidante mantida da pele por causa das ações sinérgicas de combinações de antioxidantes”. Estudos demonstraram que a associação de vitaminas e seus derivados em cosméticos podem melhorar o seu desempenho. Além disso, testes laboratoriais e clínicos demonstram evidência de que estas vitaminas, em níveis adequados, têm importante papel nos processos protetores, corretivos e de renovação da pele (IDSON, 1994 apud ALMEIDA, 2008). Além disso, a aplicação de ativos cosméticos com atividade antioxidante pode fazer a diferença em peles com e sem cuidados, sendo que o estímulo dérmico e epidérmico, direto ou indireto, melhora a rugosidade da pele (RIBEIRO, 2010). 2.6 Iontoforese O uso da corrente elétrica com fins terapêuticos, remota de uma longa trajetória de utilizações, mesmo em tempos em que essa energia era desconhecida por seus adeptos. O início da utilização da corrente elétrica pode ser ilustrado de forma muito natural, onde o agente gerador nada mais era do que um peixe capaz de produzir uma descarga efetiva relatada como analgésica. Entre as espécies temse peixe „gato‟ da família Malapteruridae, o bagre elétrico do Congo e Nilo classificado como Malapterus electricus. O relato faz referência a Galeno (200 -130 a.C) e ao médico Scribonius Largus (10 a.C e 54 d.C) que indicavam aos pacientes portadores de gota (AGNE, 2004; AGNE, 2009). A iontoforese, termo grego que significa transferência iônica, caracteriza-se como técnica não invasiva, que usa potencial ou corrente elétrica, para promover de maneira controlada, o aumento da transferência transdermal de uma variedade de fármacos (GUIRRO; GUIRRO, 2004; FERREIRA et al., 2007). É uma técnica utilizada como meio de administração de fármacos (ANSEL; POPOVICH; ALLEN Jr., 2000). 34 Pivati descreveu o método de iontoforese em 1747, ao tentar administrar medicamentos por via transcutânea com ajuda de uma máquina elétrica de corrente BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) contínua (galvânica), porém, seu uso na administração de fármacos se tornou popular através de Leduc, após publicação de alguns trabalhos, quando demonstrou que íons eram transferidos através de eletrodos para a pele pela ação da corrente elétrica contínua, e comprovou-se que essa transferência era polo orientado, ou seja, dependia da polaridade do íon e do eletrodo sob o qual era colocado. O experimento de Leduc mais conhecido foi o uso de drogas letais, como: estricnina (+) e cianeto (-) em coelhos (LEDUC, 1908 apud OLIVEIRA, 2005; ANGNE, 2009). Para tal experimento utilizaram dois coelhos denominados “A” e “B”. No coelho “A”, acoplou-se o eletrodo de polo positivo da corrente galvânica (ânodo) e sob este colocou-se sulfato de estricnina, que possui polaridade positiva. No coelho “B”, acoplou-se o eletrodo de polaridade negativa (cátodo), e sob este, cianeto de potássio, que possui polaridade negativa. Para o fechamento do circuito, foram colocados eletrodos ligando os coelhos, tendo sob os eletrodos água. Um período após a aplicação, o coelho “A” apresentou convulsões tetânicas com espasmos que o levaram à morte, e o coelho “B” morreu de envenenamento por ácido cianídrico. O experimento foi reproduzido por Leduc invertendo a polaridade da corrente galvânica, e os coelhos nada sofreram (GUIRRO; GUIRRO, 2002; OLIVEIRA; GUARATINI; CASTRO, 2005; AGNE, 2009; BORGES, 2010). Outro, assim, foi repetido em uma experiência realizada por Leduc no século XX, na qual confirmam o aumento da penetração de fármacos (sulfato de estricnina) ionizáveis por iontoforese quando comparada ao transporte passivo isolado (FERREIRA et al., 2007). No processo iontoforético, a corrente é apropriada para a aplicação transdérmica de substâncias terapêuticas, devido à capacidade de influenciar na movimentação dessas substâncias quando apresentam características iônicas (BORGES, 2006). “O transporte das moléculas carregadas é dirigido por repulsão elétrica do eletrodo motriz. No entanto, moléculas polares neutras também podem ser liberadas por um fluxo de água convectivo induzido por corrente (eletroosmose)” (AULTON, 2005). 35 Parte-se do princípio da física em que: “cargas iguais se repelem, e cargas diferentes se atraem” (Figura 9). Assim, os íons são carregados com cargas elétricas BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) negativas ou positivas, e são repelidos para o interior da pele quando o eletrodo colocado sobre ele apresentar a mesma carga elétrica. Os efeitos terapêuticos podem ser influenciados, pela concentração, intensidade da corrente e duração da aplicação (ROBINSON; SNYDER-MACKLER; PRATI, 2002; LEONARDI, 2008). Figura 9 - Esquema de transferência de íons durante a iontoforese. (A) Íons positivos são conduzidos para longe do ânodo. (B) Íons negativos são conduzidos para longe do cátodo. Fonte: Adaptado de FIALHO; CUNHA, 2004. Os mecanismos envolvidos na transferência transdermal por iontoforese são: (1) a eletrorrepulsão, gerada pela interação fármaco–campo elétrico, que provê força adicional para direcionar íons de polaridade semelhante a do eletrodo sob o qual são colocados, ou seja, o movimento ordenado de íons na presença de uma corrente elétrica aplicada ao meio; (2) a eletroosmose se refere ao fluxo de volume de solvente e movimentação de cargas quando uma diferença de potencial elétrico é aplicado na pele (OLIVEIRA; GUARANTINI; CASTRO, 2005; GRATIERI; GELFUSO; LOPES, 2008). Desta forma, o transporte por iontoforese depende de uma força eletromotivada que repele íons de um eletrodo de mesma carga e os faz migrar para um eletrodo de carga oposta (FIALHO; CUNHA JÚNIOR, 2004; BORGES 2006). Assim, para que ocorra a transmissão de íons para a membrana, deve-se colocar o fármaco de mesma polaridade sob o eletrodo (BORGES, 2006). Ainda, destaca-se a amplitude da corrente, na qual deve ser considerados fatores tais como: tolerância do paciente, polaridade do eletrodo ativo, tamanho do 36 eletrodo e a duração do tratamento. A duração de tempo da aplicação da iontoforese varia de acordo com o estudo (ROBINSON; SNYDER-MACKLER; PRATI, 2002). BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Entretanto, a densidade da corrente é a magnitude da corrente aplicada (em miliampéres), dividida pela área de superfície condutora do eletrodo (em cm²). No entanto, sugere-se não exceder a dose de segurança de 5 mA, e o tempo de aplicação total deve ser aumentado proporcionalmente, respeitando o limite de 100 mA/min. Assim os parâmetros acima descritos devem ser respeitados a fim de minimizar a irritação da pele e as queimaduras (ROBINSON; SNYDER-MACKLER; PRATI, 2002; BORGES, 2010). Destaca-se ainda, que os efeitos das substâncias iontoforizadas poderão ser locais (sob o eletrodo) ou sistêmicos, pois após a transferência, a substância irá se misturar através dos tecidos por meio da corrente sanguínea. Salienta-se que apesar de ser possível efeitos sistêmicos por meio da iontoforese, na prática, o principal objetivo da iontoforese é a ação em nível superficial (LOW; REED, 2001; BORGES, 2010) Ainda, em tempos curtos de tratamento, efeitos adversos sistêmicos são eliminados, em virtude da pequena quantidade de fármaco que atinge a corrente sanguínea (LAI; ROBERTS apud FIALLHO; CUNHA JÚNIOR, 2004) . Todavia, a utilização de recursos físicos para a permeação de fármacos resultará em melhor desempenho do cosmético aplicado, disponibilizando-o em maiores concentrações no tecido alvo de sua atuação, assim, são fundamentais experimentos nos quais se comprove a eficiência de métodos de permeação de fármacos, nos quais são fundamentadas teorias que descrevam a penetração de ativos através da pele (SILVA; GUEDES; PIRES, 2012). Desta forma, os principais benefícios da iontoforese são: aumento da eficácia terapêutica; rápido início de liberação do fármaco na pele; possibilidade de tratamento para várias patologias, tais como: envelhecimento, acne, celulite, entre outras; não apresenta agressões digestivas; seu efeito é local, possível efeito geral segundo o composto e a quantidade introduzida; aplicação indolor; permite aplicações repetidas por várias sessões (ROBINSON; SNYDER-MACKLER; PRATI, 2002; FIALLHO; CUNHA JÚNIOR, 2004; FERREIRA 2007; AGNE, 2009). 37 Por outro lado, as maiores desvantagens da aplicação da iontoforese são: risco de queimaduras e choques resultantes da utilização de correntes elétricas BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) elevadas e por longos períodos; quando a pele se apresenta sem continuidade, perda de sensibilidade, sensibilidade ao fármaco administrado e sensibilidade à corrente (ROBINSON; SNYDER-MACKLER; PRATI, 2002; FIALHO; CUNHA JÚNIOR, 2004; FERREIRA 2007). BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 3 MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho tem caráter qualitativo e quantitativo experimental, realizado nos laboratórios do Núcleo de Eletrofotoquímica e Materiais Poliméricos – NEMP da UNIVATES, e foi dividido em duas partes: na avaliação eletroquímica a partir de experimentos in vitro, onde foram analisados experimentos de voltametria cíclica de sistemas contendo α-tocoferol em gel fluido; na avaliação de permeação e liberação in vitro de α-tocoferol em gel fluido em sistema de difusão vertical, ambos os experimentos realizados em amostras com e sem submissão à iontoforese. 3.1 Reagentes Para a realização das análises foram preparadas amostras contendo 1 % de α-tocoferol (liquido) produzido pelo laboratório SIGMA-ALDRICH® (Apêndice A), grau de pureza >96%, lote 091M1311V, com data de fabricação 27/09/2011 e com validade até 30/08/2014; gel condutor de hidroxietilcelulose 2%, com a formulação contendo: natrosol 2%, nipagim 0,1%, água destilada 100 % (Apêndice B), manipulado na Farmácia de Manipulação Bassegio, com data de fabricação 17/01/2013 e com validade de 6 meses, posteriormente foi adquirido mais 1 lote, com data de fabricação 21/06/2013 com validade de 6 meses, e Hexano P. A. Nuclear®. 39 3.2 Comportamento eletroquímico do α-tocoferol BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Utilizou-se a técnica de voltametria cíclica para o estudo do comportamento eletroquímico do princípio ativo α-tocoferol com e sem a aplicação de iontoforese. Os voltamogramas cíclicos foram registrados na faixa de potenciais de -0,3 a +1,2 V em uma velocidade de varredura de 10 mV/s. Todas as medidas foram realizadas em um sistema de 3 eletrodos, em que um fio de platina era o contra-eletrodo e um fio de prata revestido com cloreto de prata era usado como referência. Como eletrodo de trabalho utilizou-se uma placa de platina, com área superficial de 0,385 cm2. As medidas foram realizadas em um potenciostato/galvanostato PGSTAT128N (AUTOLAB/Ecochemie, Figura 10), sendo que todos os experimentos foram realizados à temperatura ambiente em meio de gel hidroxietilcelulose, em função da baixa solubilidade do α-tocoferol. Entre os ensaios, os eletrodos foram limpos com água deionizada e submetidos a um pré-tratamento, que consistia em flambar os eletrodos de trabalho e auxiliar, e depois realizar uma varredura cíclica de -0,2 a +1,35 V em ácido sulfúrico 0,1 M a 10 mV/s. Figura 10 - Célula Eletroquímica Fonte: Autor 40 3.3 Análise de liberação e permeação in vitro do α-tocoferol em sistema de BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) difusão vertical As análises de liberação e permeação do α-tocoferol foram realizadas em uma célula de difusão vertical tipo Franz, com solução receptora de hexano P. A. (Nuclear®) (Figura 11). A utilização desta solução receptora justifica-se pela necessidade de solubilidade adequada do princípio ativo no meio receptor (FDA, 1997), sendo o α-tocoferol lipofílico (ROZMAN et al., 2009a). Este sistema continha uma membrana de acetato de celulose (Sartorius Stedim Biotech com porosidade de 0,45 μm) ou biomembrana de muda de pele de cobra (Boa constrictor), cedida pelo Museu de Ciências Naturais da Univates. A área exposta de ambas as membranas foi de 7,06 cm², sendo este valor utilizado na determinação do fluxo (J) de liberação para consequente determinação do coeficiente de permeabilidade calculado a partir do J no estado estacionário versus a concentração de α-tocoferol do compartimento doador conforme equação 1 (NETZ; ORTEGA, 2002). Kp J / Cdoador (1) A referida membrana tem como finalidade separar o compartimento doador do receptor, ou seja, formar uma barreira não interferente a um fluido denominado receptor (NETZ; ORTEGA, 2002). Ressalta-se ainda que as peles de muda de cobra foram reidratadas por 48 horas em solução de azida sódica na concentração de 0,0002% (NUNES et al., 2005). 41 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 11- Esquema do sistema utilizado com a célula de difusão tipo Franz. Fonte: Autor A célula de difusão foi introduzida no sistema de dupla camisa acoplada ao banho termostatizado a 37 ºC, simulando a temperatura corporal conforme mostra na Figura 12. Em contato com a membrana foi adicionado o agente acoplador, gel hidroxietilcelulose + α-tocoferol 1%. As alíquotas da célula de difusão foram retiradas em tempos de 2, 6, 10 e 12 minutos, com e sem a aplicação de iontoforese. Após, foram realizadas análises de varreduras espectrofotométricas (190 a 990 nm), para a quantificação do substrato na solução receptora, e o comprimento de onda avaliado foi de 278 nm. Os resultados foram obtidos através de um Espectrofotômetro Perkin Elmer UV/VIS Spectrometer Lambda 25. Para a determinação da concentração liberada e permeada das amostras analisadas, foi construída curva de calibração, a partir de soluções de α-tocoferol nas seguintes concentrações: 0,09054 µmol L-1, 0,36277 µmol L-1, 0,725546 µmol L-1 e 1,4510 µmol L-1 (Figura 13). Através destes valores obteve se a equação da reta, sendo que a curva obtida foi: y= -0,002002 + 547,36573x, com coeficiente de correlação R = 0,97385. A partir da concentração liberada também foi possível determinar o fluxo de liberação do α-tocoferol por hora para calcular o coeficiente de permeabilidade (Kp). Todas as amostras foram analisadas com e sem a aplicação da iontoforese em triplicatas. Na avaliação foi utilizado o teste t, com o auxílio do software Graphpad Prism®. 42 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 12 - Sistema de difusão utilizado nos experimentos de liberação permeação. Fonte: Autor Figura 13 – Curva de calibração, da solução de α-tocoferol nas concentrações de: 0,09054 µmol L-1, 0,36277 µmol L-1, 0,725546 µmol L-1 e 1,4510 µmol L-1. 43 3.4 Aplicação da Iontoforese in vitro BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) A aplicação de iontoforese in vitro foi realizada com o auxílio de um equipamento de iontoforese clínico AF5 Tone Derm (Figura 14), cedido pelo Laboratório de Estética e Cosmética da UNIVATES, sendo que este foi acoplado ao sistema de difusão vertical, em banho a 37°C em sistema de dupla camisa. Os eletrodos utilizados nas aplicações in vitro eram de carbono (0,5 cm²) e os parâmetros seguiram as prescrições da literatura para a prática clínica (BORGES, 2010): frequência de 600 Hz, corrente de 200 µA, polaridade positiva e tempos de 0, 2, 6, 10 e 12 minutos de aplicação, em sistemas contendo gel de hidroxietilcelulose e gel de hidroxietilcelulose/α-tocoferol. Figura 14 - Equipamento de iontoforese utilizado nos experimentos. Fonte: Autor. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Comportamento eletroquímico do α-tocoferol em sistema associado à iontoforese Para a realização dos ensaios de caracterização eletroquímica do α-tocoferol, obteve-se os voltamogramas cíclicos do gel de hidroxietilcelulose com e sem a adição de 1% de α-tocoferol (Figura 15). 45 0,4 0,3 0,2 0,1 i / mA BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 15 - Voltametria cíclica de eletrodo de platina em sistema contendo gel de hidroxietilcelulose (linha tracejada), e este acrescido de α-tocoferol 1% (linha contínua), v = 10 mV/s. 0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 E/V vs. Ag/AgCl Com base na avaliação da figura 15, verifica-se que o sistema contendo somente o gel de hidroxietilcelulose apresenta um comportamento eletroquimicamente ativo, com pico de oxidação irreversível em 0,80 V, o que é característico de sistemas contendo parabenos (GIL et al., 2012). Neste caso, o metilparabeno é um constituinte do hidrogel estudado, sendo utilizado como conservante antimicrobiano. Com a adição de α-tocoferol, há o aumento da corrente anódica em função de sua oxidação. Aliado a isto, observa-se uma leve diminuição no valor do potencial de pico quando comparado ao gel de hidroxietilcelulose apenas (DIAZ et al., 2004; BARUS et al., 2012). Assim, o potencial de pico de oxidação do sistema é deslocado para 0,78 V em função da presença do α-tocoferol. Posteriormente, testou-se o efeito da iontoforese sobre o sistema. Assim, obtiveram-se os voltamogramas cíclicos do gel de hidroxietilcelulose com a adição de α-tocoferol 1% após a aplicação da iontoforese nos tempos de 0, 2, 6, 10 e 12 minutos (Figura 16). Com base na figura, é possível tecer alguns comentários sobre 46 a atividade eletroquímica do α-tocoferol em meio hidrogel condutor após a aplicação de corrente elétrica. Com o uso da iontoforese, verifica-se o decréscimo da altura deslocamento do pico para potenciais mais positivos após os primeiros seis minutos. Figura 16 - Voltametria cíclica de eletrodo de platina em sistema contendo gel de hidroxietilcelulose acrescido de α-tocoferol 1% nos diferentes tempos estudados: a: 0 min; b: 2 min; c: 6 min; d: 10 min e e: 12 min, v = 10 mV/s. 0,4 a 0,3 b c d e 0,2 0,1 i / mA BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) dos picos de oxidação em função do tempo de aplicação, assim como o 0,0 -0,1 -0,2 -0,3 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 E/V vs. Ag/AgCl Como esperado, o sinal de corrente do α-tocoferol decai com o tempo, já que parte dele é permeado através da membrana em função da aplicação da iontoforese, o que posteriormente também será observado nas análises de liberação do α-tocoferol. No entanto, não se verifica tal efeito ao se analisar a carga que passa através do sistema, observando-se um valor quase constante em torno de 9,79 (± 0,05) × 10-5 C, independente do tempo de aplicação estudado. De fato, analisando a figura 16, observa-se uma diminuição da altura do pico e seu consequente alargamento. Acredita-se que parte do α-tocoferol está sendo degradada pela ação da iontoforese, e que seu produto de degradação esteja sendo oxidado no eletrodo de platina num potencial muito próximo ao do α-tocoferol. Outro fato que corrobora essa afirmação baseia-se no aparecimento de um pequeno pico 47 de redução em torno de -0,1 V nas amostras submetidas à iontoforese por 6 e 10 minutos, o que evidencia que não tem-se mais apenas α-tocoferol sendo oxidado no BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) eletrodo, uma vez que este não apresenta pico de redução ao se realizar a varredura de potencias no sentido negativo. De fato, Zhang e Zhu (1995) mostraram que a quinona que se forma como produto final da oxidação do α-tocoferol apresenta um par redox em torno de -0,8 V (vs Ag/AgCl) e um pequeno pico de oxidação em +0,3 V, causado pela oxidação do α-tocoferol. Além disso, os autores mostram que na oxidação do α-tocoferol até a sua respectiva quinona, há a formação de quatro intermediários, sendo que a iontoforese pode ser a responsável pela formação de tais intermediários. Continua-se a observar no tempo de 12 min um decréscimo do pico de corrente em função do tempo de aplicação, não é mais observado o pico de redução, mas uma possível oxidação do α-tocoferol pode continuar ocorrendo, em virtude do tempo de aplicação da iontoforese sobre o sistema. A semelhança observada sobre os picos de α-tocoferol e α-tocoferol com aplicação de iontoforese no mesmo potencial e respectiva escala, mas com intensidade de corrente diferentes, sugere que a mesma reação eletroquímica ocorre naquela região em ambos os casos (GIACOMELLI et al., 2004). Para verificar se o alargamento dos picos da figura 16 não se devia ao próprio sinal eletroquímico do gel de hidroxietilcelulose, ao invés de um possível produto de oxidação do α-tocoferol, registrou-se os voltamogramas cíclicos do gel após a aplicação da iontoforese por 0, 2, 6, 10 e 12 minutos. Os voltamogramas indicam que o alargamento dos picos não se deve ao gel, uma vez que o sinal de oxidação do metilparabeno presente no gel decai em quase toda a sua totalidade após 10 e 12 minutos de aplicação (Figura 17). Consequentemente, o deslocamento do pico de oxidação, assim como o seu alargamento, se devem à presença de um subproduto da oxidação do α-tocoferol. 48 0,3 0,2 a b 0,1 i / mA BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 17 - Voltametria cíclica de eletrodo de platina em sistema contendo gel de hidroxietilcelulose com aplicação de iontoforese nos tempos: a: 0 min; b: 2 min; c: 6 min; d: 10 min e e:12 min, v = 10 mV/s. e c d 0,0 -0,1 -0,2 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 E/V vs. Ag/AgCl 4.2 Determinação da quantidade liberada de α-tocoferol em sistema de difusão vertical Após a avaliação eletroquímica, foram realizados experimentos de liberação em sistemas de difusão vertical, com o intuito de avaliar variações no coeficiente de permeabilidade em sistemas com e sem aplicação de iontoforese. As Figuras 18 e 19 representam, respectivamente, a curva da quantidade liberada de α-tocoferol dos ensaios de difusão sobre a membrana de acetato de celulose, de sistemas com e sem aplicação de iontoforese. Os resultados obtidos, para o estudo realizado, com membrana de acetato de celulose indicam que o fluxo de partículas é proporcional ao gradiente de concentração, conforme a primeira lei de Fick. 49 0,25 -1 Quantidade Liberada / mmol L cm -2 0,30 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,05 0,10 0,15 Tempo / horas Figura 19 - Quantidade liberada de α-tocoferol em função do tempo (horas) em sistemas de difusão vertical contendo gel de hidroxietilcelulose/α-tocoferol associado à iontoforese. 0,45 -2 0,40 0,35 -1 Quantidade Liberada / mmol L cm BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 18 - Quantidade liberada de α-tocoferol em função do tempo (horas) em sistemas de difusão vertical contendo gel de hidroxietilcelulose/α-tocoferol. 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 0,00 0,05 0,10 Tempo / horas 0,15 50 Para a obtenção dos parâmetros de liberação no sistema analisado, utilizouse a lei de Fick, seguindo-se o modelo de dose infinita, em que o gradiente de BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) concentração é constante, e consequentemente a concentração de fármaco do compartimento doador também o será (SILVA et al., 2009). Foi utilizado somente o intervalo de tempo com resposta linear, desta forma o tempo 12 minutos não foi utilizado nos estudos de liberação, pois foi observado uma tendência de estabilização de quantidade liberada de α-tocoferol após 10 minutos de experimento, podendo indicar o decréscimo de liberação em função das características do sistema em estudo. Com base nos estudos de liberação em sistemas de difusão vertical, obtevese as curvas y= 1,33605x+0,03945, cujo coeficiente de correlação é R = 0,97269 para experimento sem a aplicação de iontoforese (grupo controle), e a curva y= 2,14661x+0,0585, com R = 0,9860 para sistemas submetidos à iontoforese. Os resultados de fluxo a partir dos ensaios de liberação sem e com a aplicação de iontoforese foram, respectivamente, de 1,33605 µmol L-1 cm-2 h-1 e 2,14661 µmol L1cm-2 h-1. Comparando estes valores de fluxo encontrados, com outro trabalho publicado (ROZMAN et al., 2009a), têm-se que, em termos de liberação de αtocoferol, em membranas de acetato de celulose, os valores são da mesma ordem de grandeza, sendo os mesmos dependentes da formulação que contém o princípio ativo estudado. A partir dos resultados de fluxo, foram calculados os coeficientes de permeabilidade para o grupo controle e para o grupo com aplicação de iontoforese conforme figura 20. 51 BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 20 - Coeficiente de permeabilidade do α-tocoferol sobre a membrana de acetato de celulose sem (controle) e com aplicação de iontoforese. Através dos resultados obtidos, tem-se que o coeficiente de permeabilidade do α-tocoferol sem e com aplicação de iontoforese foi, respectivamente, 48,1483 cm-2h-1 e 98,81578 cm-2h-1, apresentando diferença estatisticamente significativa (t = 4; p = 0,01). Desta forma, verifica-se que a aplicação de iontoforese in vitro promove o aumento do fluxo e do coeficiente de permeabilidade do α-tocoferol em meio gel de hidroxietilcelulose, sendo o meio extremamente importante na liberação do ativo para o meio, bem como na manutenção de sua estrutura e propriedades (CASSANO et al., 2009). Em estudos realizados, utilizando a técnica de iontoforese como potencializador de permeação e liberação de fármaco obtiveram-se resultados satisfatórios garantindo índices terapêuticos adequados e níveis de concentração superiores à difusão passiva, suficientes para desencadear os efeitos terapêuticos desejados (FIALHO; CUNHA JÚNIOR, 2004; NUGROHO et al., 2004; OLIVEIRA; GUARANTINI; CASTRO, 2005). Em outro estudo, também utilizando a técnica de iontoforese, obteve-se um aumento de 6 vezes da quantidade de minoxidil sulfato retida nos folículos já nas primeiras 3 h de aplicação, garantindo assim, que grandes quantidades do fármaco atingissem seu local de ação mais rapidamente de quando as partículas fossem aplicadas passivamente sobre a pele (GELFUSO, 2009). 52 Observa-se em estudo utilizando hidrogéis e lipogéis como veículos contendo vitamina E para utilização, BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) antienvelhecimento, após obtiveram-se exposição adequadas solar e como propriedades tratamento organolépticas (consistência e espalhabilidade) e adequada liberação cinética, tornando-se esses veículos compatíveis para associação com a vitamina E tópica (GALLARDO; MUÑOZ; RUÍZ, 2005). Diante dos resultados obtidos, percebe-se que há um aumento do fluxo e do coeficiente de permeabilidade, devido à aplicação da iontoforese in vitro, sendo este um aspecto positivo para a prática clínica. Os resultados encontrados no presente trabalho são corroborados por outros autores, que também observaram que a iontoforese constitui uma alternativa para potencializar a penetração de fármacos, para via tópica, garantindo índices terapêuticos adequados e níveis de concentração superiores à difusão passiva, suficientes para desencadear os efeitos terapêuticos desejados (FIALHO; CUNHA JÚNIOR, 2004; NUGROHO et al., 2004; OLIVEIRA; GUARANTINI; CASTRO, 2005). Ainda, destaca-se que a estabilização ocorrida após o tempo de 10 minutos pode ter gerado uma possível degradação da molécula de α-tocoferol. Para a confirmação dos resultados, analisou-se o α-tocoferol em meio gel de hidroxietilcelulose sobre uma placa de Petri, com aplicação de iontoforese nos tempos de 10 e 12 min. Posteriormente, diluiu-se o material em 150 mL de hexano, e realizou-se a análise espectofotométrica, conforme mostra a Figura 21. 53 0,6 0,5 Absorbância / u.a. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Figura 21- Aplicação de iontoforese em placa de Petri do α-tocoferol 1% associado ao gel de hidroxietilcelulose nos tempos de 10 e 12 minutos. 0,4 0,3 10 min 0,2 0,1 12 min 0,0 -0,1 300 400 500 600 700 Comprimento de onda (nm) Observam-se na figura 21 valores próximos a 278 nm como a região de absorbância máxima, para ambos os tempos, sugerindo assim que o processo eletroquímico que ocorre é igual. No entanto, para o tempo de 10 min, observa-se um incremento no pico de absorbância em 0,23 u.a., ao passo que no tempo de 12 min chega apenas a 0,04 u.a., observando assim uma oxidação para o α-tocoferol em 12 min. Essa oxidação também é vista nas análises voltamétricas às quais sugere que a oxidação pode estar acontecendo devido ao tempo de aplicação da iontoforese. Desta forma, entende-se que para uma definição dos produtos gerados pelo antioxidante, necessita-se o conhecimento das condições e sistemas, bem como uma metodologia específica para determinação (ALVES et al, 2010). Assim, as principais formas de oxidação do α-tocoferol pode ser α-tocoferil quinona, 5,6-epoxiα-tocoferil quinona e 2,3-epoxi-α-tocoferil quinona que pode ser reduzido a αtocoferil hidroquinona (LIEBLER et al., 1996; BOTTI et al., 2004), ressalta-se ainda que α-tocoferol pode estar sofrendo ações como: temperatura, corrente ou luz. 54 Destaca-se, ainda, outro estudo realizado referente ao comportamento voltamétrico do α-tocoferol em solventes orgânicos CH3CN e CH2Cl2, no qual mostra BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) a existência de formas oxidadas de vitamina E, que estão ligados ao material de partida, através de uma série de reações de transferência de prótons e elétrons. Uma dessas reações pode gerar a quinona que por sua vez pode ser reduzida eletroquimicamente a hidroquinona (Figura 22), com pico de redução para quinona em -1,2 V (YAO; PENG; WEBSTER, 2009), próximo ao pico observado na análise voltamétrica. Figura 22 - Oxidação do α-tocoferol. Em outro estudo no qual utilizou-se a técnica de HPLC, foi feita a quantificação simultânea do α-tocoferol e de seus produtos oxidativos finais, αtocoferol quinone, hidroquinona e epóxi tocoferol quinone (LERAY, 1998). Com o objetivo de aumentar a estabilidade do α-tocoferol, a molécula pode ser oxidada ou esterificada originando os derivados α-tocoferol-quinona e α-tocoferol-succinato (SCOTTI, 2007). 4.3 Determinação da permeação in vitro de α-tocoferol em biomembrana de Boa constrictor Após a realização dos ensaios de liberação, foram realizados experimentos de permeação do α-tocoferol, em células de difusão vertical, com biomembranas de 55 Boa constrictor, em grupo controle e após aplicação de iontoforese. Na figura 23 tem-se a média e o desvio padrão da concentração permeada do princípio ativo sem BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) e com a aplicação de iontoforese, respectivamente, nos tempos 2 e 10 min. Estes tempos utilizados nesta avaliação justificam-se por serem, respectivamente, o menor e o maior tempo de aplicação de iontoforese, onde foi possível realizar estudos de difusão (lei de Fick). Figura 23 - Quantidade permeada do α-tocoferol com aplicação de iontoforese (branco) e sem aplicação de iontoforese (preto). Avaliando os resultados apresentados na figura 23, verifica-se que para o grupo controle há uma tendência de aumento da permeação, porém não há diferença significativa para os tempos 2 e 10 minutos. Este fato pode ser devido à utilização de biomembranas neste estudo, que não possuem uniformidade em termos de espessura, simulando in vitro, a não uniformidade do estrato córneo humano. Ainda, cabe ressaltar que a muda de pele de cobra Boa constrictor possui similaridade em termos de propriedades de absorção de água, composição lipídica e de permeação (NUNES et al., 2005; DUTRA et al., 2013). Nos ensaios de permeação in vitro com aplicação de iontoforese, a quantidade permeada de αtocoferol para o tempo de 2 minutos foi de 0,2336 ± 0,03641 µmol L-1cm-2, e para o tempo de 10 minutos foi de 0,3649 ± 0,01525 µmol L-1 cm-2, apresentando diferença significativa, aplicando teste t entre estes tempos (t = 3; p = 0,02), indicando, 56 portanto, que a aplicação de iontoforese promove um aumento de permeação, principalmente em maiores tempos de aplicação de corrente. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) Ainda, comparando os resultados de quantidade permeada de α-tocoferol em biomembrana de muda de pele de cobra, com trabalhos publicados na literatura, que estudam a permeação do ativo em pele de orelha de coelho (CASSANO et al., 2009) e em orelha de suíno (ROZMAN et al., 2009a), verifica-se que os resultados encontrados são da mesma ordem de grandeza quando comparados com os obtidos para pele de orelha de suíno, em termos de quantidade retida na epiderme, sendo o estrato córneo sua primeira camada, e em comparação aos estudos com pele de coelho, os resultados são igualmente semelhantes, quando comparado principalmente sistemas sem a aplicação de iontoforese. Observa-se ainda em estudo realizado com a aplicação tópica de ácido ascórbico associado à iontoforese, utilizando pele de rato como modelo de membrana, concluiu-se que a liberação de ácido ascórbico teve um aumento de permeação quando comparada ao experimento sem a aplicação de iontoforese (EBIHARA et al., 2003). Em estudo realizado com diferentes veículos para permeação das vitaminas C e E, mostrou-se que o veículo pode interferir na incorporação de fármacos em diferentes formulações e que as características de penetração e perfil de permeação de um fármaco pode, por consequência, ser alterado (ROZMAN et al., 2009b). Destaca-se ainda o papel do α-tocoferol como de estabilizador das bicamadas lipídicas no estrato córneo, e um dos mais importantes inibidores da peroxidação lipídica (GUIRRO; GUIRRO, 2002, KEDE; SABATOVICH, 2004, LEONARDI, 2008, GUARATINI et al, 2007). Estudos demonstram que a vitamina E é o antioxidante predominante da barreira fisiológica da pele humana (THIELE; EKANAYAKEMUDIYANSELAGE, 2007). Destaca-se assim a utilização da iontoforese como meio para melhorar a eficácia da permeação tópica local do α-tocoferol (GRATIERI; GELFUSO; LOPEZ, 2008). Desta forma os resultados obtidos vão ao encontro de dados da litaratura, onde observa-se que com o aumento do tempo há um incremento na concentração 57 do ativo, sugerindo assim uma liberação mais acentuada do ativo para o meio, por BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) meio da aplicação da iontoforese. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) 5 CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos, observa-se que o α-tocoferol possui um comportamento eletroquimicamente ativo, com pico de oxidação em 0,78 V, em meio contendo gel de hidroxietilcelulose. Com a aplicação da iontoforese ao sistema, observa-se que o sinal de corrente do α-tocoferol decai com o tempo, já que parte dele é permeado através da membrana em função da aplicação da iontoforese. Observa-se também que essa diminuição da altura do pico é acompanhada pelo alargamento do mesmo. Acredita-se que parte do α-tocoferol está sendo degradada pela ação da iontoforese, e que seu produto de degradação esteja sendo oxidado no eletrodo de platina num potencial muito próximo ao do α-tocoferol. Por meio dos ensaios de liberação e permeação, verifica-se que com a aplicação de iontoforese há um incremento de liberação de α-tocoferol para o meio receptor, bem como em termos de permeação há uma tendência de aumento da permeação com o aumento do tempo de aplicação de iontoforese, fator este relevante para a prática clínica. Observa-se também após o tempo de 12 minutos de aplicação de iontoforese uma possível oxidação para α-tocoferol, sendo este resultado compatível com o encontrado em termos de análise voltamétrica. A aplicação da iontoforese demonstrou eficiência no aumento de permeação do α-tocoferol, comparada a condições normais, ou seja, na ausência de um promotor físico. Assim, a permeação do α-tocoferol ficou limitada e restringida a apenas algumas moléculas, sendo que com a utilização da iontoforese houve um melhor desempenho do cosmético aplicado, disponibilizando-o em maiores quantidades no tecido alvo de sua atuação. 59 Ressalta-se, desta forma a promissora utilização da técnica de iontoforese, como meio de aumentar a liberação de fármacos de forma segura e eficaz, prevendo BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) o seu potencial de liberação tanto para o meio transdérmico como para o meio tópico. E a aplicação tópica do α-tocoferol com a aplicação da iontoforese em tempo de 10 minutos mostrou-se eficiente a fim de permear no estrato córneo da pele a fim de realizar seus efeitos antioxidantes. Destaca-se assim a importância do estudo da permeação cutânea in vitro, a qual nos permite estudar os parâmetros que influenciam desde a liberação do ativo e do veículo para superfície cutânea, até sua difusão nas camadas da pele, além de observar alterações estruturais no fármaco estudado de maneira prática e sem a interferência de fatores biológicos. BDU – Biblioteca Digital da UNIVATES (http://www.univates.br/bdu) REFERÊNCIAS AGNE, Jones E. Eletrotermoterapia: teoria e prática. 2. Edição. Santa Maria: Pallotti, 2004. AGNE, Jones E. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Pallotti, 2009. ALMEIDA, Mariana M. de. Determinação e quantificação das vitaminas C e E associadas em produtos cosméticos. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. 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