as práticas organizacionais e a importância das empresas na

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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery
http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377
Curso de Administração - N. 8, JAN/JUN 2010
AS PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS E A IMPORTÂNCIA DAS
EMPRESAS NA CRIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
COLETIVA GLOBAL
*
Luciano de Paula Moraes
**
Rodrigo Ventura
RESUMO
A organização social vigente econtra-se diante de um dilema cada vez mais dicutível: a manutenção
do modelo industrial ou preservação dos recursos naturais. Alimentando essa discussão, tem-se
constantemente o bombardeio de informações da mídia e novas tecnologias de mensurarção, ambas
noticiando diariamente as consequências da influência humana e industrial sobre a biodiversidade e
preservação das gerações vindouras. Toda essa temática aponta para a reavaliação do modelo
industrial capitalista e a manutenção da biodiversidade no processo de sustentabilidade, composto
por aspectos ecológicos, econômicos e sociais. Assim, através de pesquisa bibliográfica, o objetivo
desse trabalho é apresentar a formação da cultura industrial antropocêntrica, retratar correntes
ambientalistas que se opõem, bem como ressaltar a importância dos diversos atores sociais capazes de
inclinar o modelo industrial para a sustentabilidade, sob o foco da Teoria de Regime e Teorias
Institucionais como chaves para a mudança comportamental das organizações. Os resultados
apontaram que, para tanto, é fundamental a articulação e envolvimento dos stakeholders.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Teoria de Regime. Teorias Institucionais.
ABSTRACT
The social organization existing Wed in front of a paradox increasingly dicutível: maintaining the
design or preservation of natural resources. Feeding this discussion, has been constantly the
bombardment of information from the media and new technologies mensurarção, both by reporting
the daily consequences of human influence on industrial and biodiversity conservation and future
generations. All this points to the thematic review of the industrial capitalist and maintenance of
biodiversity in the sustainability process, consisting of ecological, economic and social change. Thus,
through a literature review, the objective of this paper is to present the formation of industrial
anthropocentric culture, current portray environmentalists who oppose as well as highlight the
importance of social actors able to tilt the design for sustainability, from the standpoint of Regime
Theory and Institutional Theory as keys to behavior change in organizations. The results showed that
for both, is fundamental to articulation and involvement of stakeholders.
Key-words: Sustainability. Theory of Employmen. Institutional Theory.
*
Mestrando em Tecnologia no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro- CEFET/RJ;
Especialista em Finanças pela Universidade Federal de Juiz de Fora- UFJF e Administrador pela Faculdade
Metodista Granbery- FMG. E-mail: [email protected]
**
Mestrando em Tecnologia no Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro- CEFET/RJ;
Administrador pela Universidade Carioca - E-mail: [email protected]
**
INTRODUÇÃO
A preocupação com os efeitos da ação humana sobre o meio ambiente não é um
assunto novo, entretanto verifica-se atualmente um renovado interesse pelo tema devido à
necessidade de enfrentar mais fortemente os problemas ambientais cada vez mais graves e
complexos. Tal problema fica evidenciado pela preocupação política e acadêmica firmada
pelas reuniões dos foros globais sobre as questões ambientais, como a World Commission on
Enviroment and Develoment, em 1987, e United Nations Conference on the Enviroment
Develoment, em 1992. Não obstante, Santiago e Costa (2006) relatam que, desde os anos 60, a
preocupação com o meio ambiente é consistente, fundamentalmente a partir da publicação do
relatório do Clube de Roma, que deixou evidenciado que a Terra, em cem anos, alcançaria
seus limites, casos os níveis de contaminação e poluição ambiental, oriundos principalmente
da industrialização, se mantivessem constantes.
Além disso, desde as últimas décadas, as organizações vêm sofrendo pressões da
coletividade, através da opinião pública, mídia e legislação, que retratam os problemas
ambientais. Nesse contexto, as práticas organizacionais institucionalizadas são questionadas
em um dos maiores dilemas debatidos atualmente: desenvolver ou conservar. Porém, as
renovações das práticas organizacionais podem incorporar de modo crescente ações que
minimizem os impactos no meio ambiente, através de mudanças na missão organizacional e
nas políticas industriais para que garantam uma produção de bens e serviços mais limpos,
promovendo
a
responsabilidade
socioambiental,
alavancando
o
crescimento
e
desenvolvimento sustentável.
Assim, o objetivo desse trabalho é discutir as práticas organizacionais
institucionalizadas de maior impacto negativo no meio ambiente, que, segundo Clegg et al.
(1997), define-se como o paradigma social dominante, que se traduz como um princípio
abstrato da teoria econômica neoclássica e marxista ou como representação histórica da
sociedade industrializada. Esse paradigma será descrito frente às teorias ambientais de
ambientalismo renovado e radical. A primeira corrente propõe uma atitude de diálogo entre as
organizações, sociedade e movimentos sociais que reclamam pelo meio ambiente. É uma
visão mais pragmática, na medida em que conversa com diversos interesses e se coloca como
mediadora do conflito homem e utilização da natureza. Já a teoria do ambientalismo radical se
baseia em reflexões e filosofias extremas para a transformação da atitude dos homens em
relação à natureza, ou seja, preservação e manutenção dessa última a todo custo
organizacional e social, pois a mesma entende que as ações humanas devem ser morais e
2
éticas em todos os campos das relações sociais. Também será enfatizada a importância dos
atores sociais que podem influenciar na mudança de conduta industrial
Espera-se, com esse trabalho, contribuir para a reflexão sobre o consumo
sustentável dos bens naturais, bem como alavancar novas pesquisas sobre o tema aqui
retratado.
1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO ORGANIZACIONAL
As ações organizacionais se definem em políticas e práticas que objetivam o
alcance da atividade fim da entidade produtora de bens e serviços. Tais políticas e práticas no
dia-a-dia se consolidam como estratégias para diferenciação das organizações frente à grande
concorrência que as mesmas enfrentam no ambiente globalizado. Essa acirrada disputa por
mercado foi acelerada principalmente pelo alto grau de especialização das técnicas que as
organizações utilizam em sua atividade produtiva. Santos (2008) afirma que essa
especialização técnica, vislumbrada por Karl Marx e relatada nas teorias econômicas de Adam
Smith, foi o fator exponencial para a alavancagem e substituição de técnicas por outras mais
contemporâneas e, consequentemente, criação de novas formas de produção: cada vez mais
rápidas e com menor custo.
Segundo Ansoff (1993 apud MENDONÇA, 2008), a estratégia organizacional é
uma ferramenta que oferece importante ajuda para lidar com a turbulência enfrentada pelas
empresas na luta diária pela longevidade, como também com os problemas relacionados ao
meio ambiente.
Ainda, Ansoff (1993 apud MENDONÇA, 2008) propõe que as ações estratégicas
institucionalizadas em algumas organizações são compostas por quatro importantes itens a
seguir:
1- Padrões pelos quais o desempenho presente e futuro das organizações são
medidos. Em termos qualitativos, esses padrões são chamados de objetivos, e, em termos
quantitativos, são chamados de meta;
2- Regras para desenvolvimento da relação da empresa com o seu ambiente
externo;
3- Regras para o estabelecimento das relações e dos processos internos na
organização, chamado frequentemente de conceito organizacional;
4- As regras pelas quais as organizações conduzirão suas atividades diárias,
chamadas políticas operacionais.
3
Entretanto, a conduta organizacional e estratégica se desenvolveu dentro de um
espírito antropocêntrico desde a Antiguidade.
Para os antigos mesopotâmios, os homens possuíam um direito divino de
domesticar o “caos monstruoso” da natureza; para os humanistas gregos
(Aristóteles e Platão) e os primitivos estóicos, os homens reivindicavam os
recursos da natureza para seu uso exclusivo. Antigas evidências do preço
que a natureza paga à ordem da dominação pelo homem, tornar-se- iam
visíveis na destruição das antigas florestas de cedro do Líbano, na
desertificação da outrora fecunda Mesopotâmia e na erosão, poluição e
extinção de numerosas espécies sob o império de Roma. (HUGHES, 1975
apud CLEGG et al., 1997, p. 367)
Não obstante, o pensamento iluminista (Bacon, Descartes, Newton, Hobbes)
propunha o domínio da natureza como elemento fundamental e essencial para o progresso
científico e social. Posteriormente, o materialismo científico, traduzido pelas teorias
econômicas, bem como as teorias organizacionais, mais especificamente a Administração
Científica elaborada por Taylor e Ford, retrataram o esteio em que as estratégias
organizacionais vigentes difundiram-se, em que predominava a centralização dos meios de
produção, decisão, fragmentação e simplificação do trabalho humano, em detrimento da
rapidez e ganho na escala de produção.
Em mais análises, verifica-se a sintetização do pensamento organizacional e
estratégico antropocêntrico no advento da Revolução Industrial, que liderou uma nova
concepção da especialização do trabalho, apoiando-se no desenvolvimento do tecnológico do
século XVIII. Contudo, o avanço industrial se deu com a exploração indiscriminada dos
recursos naturais, engessando nas organizações a máxima do lucro a todo custo. Nesse
contexto, insere-se também a contribuição do capitalismo para a formação desse pensamento,
hoje plenamente afirmado com a globalização e determinando a organização da produção.
A ação organizacional supracitada é sintomática na estrutura das relações da
sociedade industrializada. “Acredita-se que tanto as organizações governamentais como
empresariais, em sua perseguição de metas e objetivos organizacionais, não levam em
consideração os interesses, as aspirações e necessidades dos cidadãos” (CLEGG et al., 1997,
p. 364). Porém, uma organização se define como um conjunto de relações estruturais (direção,
planejamento, operação e controle) que a mantém em funcionamento, e essas relações
descendem e ascendem das interações humanas.
2 O AMBIENTALISMO
Segundo pesquisadores, o ambientalismo origina-se da concepção do termo
4
“ecologia”. Clegg et al. (1997) relatam que a origem histórica do termo pode ser localizada
em 1986, quando o zoólogo alemão Ernest Haeckel combinou duas palavras gregas logos
(que significa „estudo de‟) e oikos (com o significado de casa ou habitat). Ainda, segundo
Haeckel, o termo “ecologia” era originalmente definido como o estudo de todas as complexas
interrelações referidas por Darwin como as condições de luta pela sobrevivência. Nesse,
sentido, o termo engloba todas as matérias existentes na natureza na batalha pela vida.
Entretanto, passado mais de um século após a primeira concepção desse termo, o mesmo
tornou-se uma ciência polimórfica, diante da visão de diversos pesquisadores.
O ambientalismo, tanto termo quanto ação, está ligado aos fatores físicos e
biológicos que interferem diretamente na vida dos organismos. Nas representações sociais, o
ambientalismo remete ao movimento político, cujas principais preocupações são os efeitos da
poluição ambiental e o consequente comprometimento da qualidade de vida.
Entretanto, somente após a segunda guerra mundial, é que a corrente ambientalista
ganhou força, pois nesse período era vislumbrada por jovens que aspiravam uma vida melhor
e realização pessoal e social. Na América do Norte, o ambientalismo, como movimento,
começou sob uma abordagem conservacionista. Lá, a preservação dos ambientes naturais
dava-se em localidades dispersas uma das outras e, sobretudo, sustentavam interesses próprios
ligados à estética.
Atualmente, a metamorfose do termo “ambientalismo” permeia pela construção
comportamental de Green comsumers (consumidor-verde), marketing Green (marketingverde) e, recentemente, economia de baixo carbono, ou seja, industrialização com baixa
emissão de dióxido de carbono na atmosfera. No cerne de toda morfose ambientalista, duas
estruturas da filosofia ambiental representam as escolas de pensamento quanto ao
relacionamento homem-natureza, e tais escolas serão respectivamente descritas nos próximos
tópicos: o ambientalismo radical e o renovado. Porém, a primeira perspectiva não
ambientalista, o paradigma social dominante, será apresentada, objetivando assim, uma
divisão clara das escolas e ao mesmo tempo, valendo-se do contraponto.
2.1 O paradigma social dominante (PSD)
A fome é a fome, mas a fome que se satisfaz com carne cozida, comida com
faca e garfo, não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das
mãos, das unhas, dos dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o
objeto de consumo, mas também o modo de consumo, e não só de forma
objetiva, mas também subjetiva. Logo, a produção cria o consumidor.
(MARX, 1973 apud QUINTANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 1999,
5
p.70).
A criação das antigas civilizações urbanas foi marcada pelo ideal antropocêntrico
no pensamento espiritual e filosófico sobre o relacionamento do homem com a natureza. O
ideal antropocêntrico atribuía ao ser humano uma posição de centralidade em relação a todo o
universo, logo apoiada pela filosofia de Marx, que objetivava a produção e o capital intensivo
no industrialismo moderno. A dominação da natureza pelo homem foi um ponto de interseção
desses dois ideais na objetificação da natureza na escola do PSD.
O paradigma social dominante é o pensamento absoluto nas ações
organizacionais, que, lideradas pelo comportamento consumista e capitalista, alinha a
produção de bens e serviços à demanda efusiva, principalmente desde o século XVIII. Porém,
essa larga demanda por bens industrializados é fundamentada no consumo exaustivo dos
recursos naturais.
Diante da complexidade dos problemas ambientais, movimentos ambientalistas
reivindicam novas formas de produção organizacional, sobretudo apoiados no avanço
tecnológico e capacidade científica em medir e ligar contaminantes industriais com a saúde
humana e a degradação ecológica.
Assim, alguns pesquisadores se opõem tanto ao
antropocentrismo quanto à filosofia marxista para balizamento de um modelo organizacional
no século XXI. Isso fica claro na reflexão: “As duas idéias, o „equilíbrio ecológico‟, e a
„sobrevivência do homem‟ estão inter-relacionadas, apesar de a segunda ser impregnada de
antropocentrismo inexistente na primeira”. (REIGOTA, 1998, p. 75).
A negação de uma contribuição da filosofia marxista no modelo organizacional do
(PSD) fica evidenciada na citação:
[...] o marxismo é um método restrito às ciências sociais, onde conhece uma
ampla difusão. Alfred Schimidt mostrou, em interessante estudo, a
inexistência de uma perspectiva ontológica a respeito da Natureza no interior
da obra de Marx. Nesta, os fenômenos naturais nunca são enfocados em seu
movimento intrínseco, porém abordados enquanto recursos para a vida
humana. Assim, é uma “natureza para o homem” que sempre está em foco
nas considerações marxianas. (MORAIS, 1990 apud MENDONÇA, 1998,
p.57)
Outra crítica à visão antropocêntrica se dá na medida em que a mesma propôs
uma noção de dualismo no pensamento ocidental, semelhante à separação ideológica entre
mente e espírito da realidade física da existência e a separação entre entidades superiores e
inferiores, levando, consequentemente, à segregação da natureza como unidade ou totalidade,
em humana e não-humana.
6
O paradigma social dominante (PSD) também apresenta afinidade com os
princípios econômicos neoclássicos (crescimento econômico e lucro) e exploração infinita de
recursos naturais. Dentro do paradigma social dominante, os problemas ambientais
observáveis podem facilmente ou eventualmente serem resolvidos por meio do progresso
científico e tecnológico. (CLEGG et al., 1997). Entretanto, Pinto (2005) pondera sobre a
exaltação tecnológica, vista como salvadora dos problemas naturais:
O conceito de “era tecnológica” constitui uma importantíssima arma do
arsenal dos poderes supremos, empenhados em obter estes dois impreciáveis
resultados: (a) revestí-lo de valor ético positivo; (b) manejá-lo na qualidade
de instrumento para silenciar as manifestações da consciência política das
massas, e muito particularmente das nações subdesenvolvidas. Quanto a
essas últimas, é preciso empregar todos os meios para fazê-las acreditar – e
seus expoentes letrados nativos se apressarão sem dúvida em proclamá-lo –
que participam em pé de igualdade da mesma “civilização tecnológica” que
os “grandes”, na verdade os atuais “deuses”, criaram e bondosamente
estendem a ricos e pobres sem distinção. (PINTO, 2005, p. 43)
Em mais análises do (PSD), Clegg et al. (1997) revelam uma noção de
autodeterminismo individual e controle da sociedade pelas elites sociais, políticas e
econômicas. Em sociedades hierarquizadas a natureza não-humana é coisificada e avaliada
somente como instrumento de utilização, ao invés de ser avaliada por seu valor intrínseco
espiritual.
Enfim, os pressupostos do paradigma social dominante não comportam uma
abordagem qualitativa na relação do homem com o ambiente, bem como não interpõem
limites para exploração dos recursos naturais. Na atualidade o PSD soa aos ouvidos como um
contrassenso frente às previsões pessimistas dos cientistas em relação ao comprometimento da
qualidade de vida no planeta para as próximas gerações. Entretanto, a industrialização nos
moldes atuais representa quase metade do Produto Interno Bruto (PIB) dos países
desenvolvidos e emergentes, e uma freada súbita nesse modelo traria consequências
negativas, econômicas e sociais, no mundo, principalmente nas camadas sociais
desfavorecidas.
2.2 O ambientalismo radical
A perspectiva do ambientalismo radical promove uma visão de relacionamento da
biosfera e da sociedade, com o equilíbrio da natureza, da diversidade, dos limites finitos e das
mudanças dinâmicas.
7
Evidência dessa visão ambientalista foi observada nas primitivas sociedades e nas
civilizações antigas, onde a natureza era retratada com suas forças e entificada como
divindades de adoração.
Vestígios de divindades da natureza estiveram/estão presentes nas tradições
espirituais do xamanismo, no panteísmo dos egípcios, gregos e romanos
(com a Gaia como a mãe da Terra), no misticismo oriental (Taoísmo,
Sufismo, Zen, Budismo), no Islam e no paganismo (deusa Mãe Terra).
Subjacente a essas conceptualizações de uma natureza todo-poderosa, existe
a crença de que a sobrevivência humana depende de uma síntese e
integração holística da humanidade com o ambiente natural. (CLEGG et al.
1997, p. 369)
Na perspectiva do ambientalismo radical, a biosfera (conjunto de todas as partes
do planeta Terra onde existe ou pode existir vida, e que abrange regiões da litosfera, da
hidrosfera e da atmosfera) é a centralidade desse pensamento filosófico, que pode ser
rastreado do vegetarianismo das religiões orientais aos filósofos clássicos gregos e religião
Hinduísta, que igualavam os direitos dos animais com os direitos humanos.
Um dos dogmas centrais do ambientalismo radical é a retomada de uma visão do
mundo de um pré-iluminismo organicista, no qual o universo é visto como um organismo
vivo e espiritual. Em síntese: o ponto de vista do ambientalismo radical moderno está situado
em oposição direta à defesa do paradigma social dominante do industrialismo moderno, como
uma alternativa revolucionária demandada para a sobrevivência ecológica de longo prazo. A
perspectiva do ambientalismo radical clama a destituição do (PSD) e coloca um redesenho do
sistema industrial de produção.
Uma abordagem diferente em relação à tecnologia é colocada no ambientalismo
radical em relação ao PSD, pois a ciência precisa ser direcionada para desenvolver
tecnologias que reduzam a interferência humana na natureza não-humana, na não dilapidação,
poluição e, sobretudo, desenvolvimento da qualidade artesanal do trabalho humano. É uma
oposição à concepção capitalista de consumismo e produção.
Outra faceta do ambientalismo radical é o conceito de biorregionalismo como
elemento organizador dos sistemas sociais: “uma biorregião é um lugar definido por suas
formas de vida, sua topografia e sua biota, ao invés de ser governada pelos preceitos
humanos, é uma região governada pela natureza, não por legislações”. (SALE, 1985 apud
CLEGG et al., 1997, p. 369).
Ainda dentro do ambientalismo radical existem quatro filosofias: ecologia
profunda, ecologia espiritual, ecologia social e ecofeminismo.
8
2.2.1 Ecologia profunda
A ecologia profunda é uma perspectiva multidimensional que engloba diversas
dimensões: biológica, psicológica, espiritual e metafísica de ecossistemas interativos.
Elaborada a partir das filosofias de Ghandi, Spinoza e outras tradições espirituais, propõe o
objetivo moral de autorrealização, que é alcançada por meio da comunhão do todos os
interesses dos seres da biosfera. Ainda, postula o igualitarismo biosférico, em que nenhum ser
humano pode interferir na vida não-humana. O imperativo moral da ecologia profunda aspira
que o homem deve implementar, pela ação direta, tais mudanças.
2.2.2 Ecologia espiritual
A ecologia espiritual coaduna com a ecologia profunda, pois a visão dualística
imposta pelo pensamento antropocêntrico mecanicista rompeu o contato da sociedade com o
sagrado, e essa ligação, segundo a ecologia espiritual, deve ser retomada.
2.2.3 Ecologia social
Segundo a ecologia social, não é possível haver uma agenda que cuide dos
problemas ecológicos sem haver a mesma contrapartida para as questões sociais. Para isso, é
preciso romper com a dominação hierárquica e centralizadora imposta pela sociedade
humana, propondo um modelo social mais participativo e democrático, o “municipalismo
libertário”. O objetivo é a conquista de uma sociedade livre das opressões ecológicas e
culturais.
2.2.4 Ecofeminismo
O ecofeminismo é um termo que traduz não só o empenho das mulheres para
salvar a Terra, mas também a transformação da visão das mulheres sobre a natureza no
Ocidente. A questão central é pôr fim à opressão de uma sociedade patriarcal. O
ecofeminismo compartilha com princípios de igualitarismo, decisão consensual e
responsabilidade.
Contudo, o ambientalismo radical é combatido por alguns autores, pois essa
filosofia rompe drasticamente com a organização social vigente. Ainda, segundo (FOX, 1990,
9
apud CLEGG et al., 1997), na filosofia da ecologia profunda há interferência na liberdade
individual dos homens, mas não na vida selvagem ou na natureza, comparando-a com o
antigo neoestoicismo (doutrina que limitava o livre arbítrio). Contudo, o ambientalismo
radical tem servido com fonte filosófica para diversas organizações políticas, como partidos
de bandeiras verdes, governos Europeus e organizações de defesa popular.
2.3 O ambientalismo renovado
A terra está tornando-se, rapidamente, num local inadequado para seus
habitantes mais nobres e outra era semelhante, de crime e de imprevidências
humanas... a reduziria a uma tal condição de empobrecimento da
produtividade, de destruição da superfície, de excessos climáticos, como
para intimidar a depravação, o barbarismo e, talvez, até mesmo, a extinção
de espécies. (MARSH apud STRONG, 1988)
A origem do ambientalismo renovado se situa no século XIX, quando era alertado
ao público e aos reformadores os efeitos colaterais que os problemas ambientais causavam na
saúde humana.
No entendimento do ambientalismo renovado, vê-se que há a criação de valores
biocêntricos onde antes predominavam apenas os valores antropocêntricos. É então criada a
expressão desenvolvimento sustentável, que, segundo a World Commission on Enviroment
and Development, significa: satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras.
Dentro do ambientalismo renovado há uma grande defesa da tecnologia, pois
compreende que além de gerar impactos positivos na economia, se utilizada da forma correta,
pode gerar valor ambiental e social agregados. O fato atual é que já existe tecnologia que pode
medir a quantidade de poluentes de certo ambiente, propiciando assim um estudo ou ação que
possa conter ou recuperar o ecossistema afetado.
O ambientalismo renovado ainda inclui o conceito de stakeholders e seus direitos,
mostrando uma abordagem mais participativa, inclusive para resolução dos problemas e
impactos causados pela má utilização da tecnologia. Um papel atual importante realizado pelo
movimento é a realização de acordos entre as empresas e os stakeholders não industriais,
como governos, Organizações Não-Governamentais (ONGs) ambientalistas, entre outros.
2.4 Inovação tecnológica e sustentabilidade
Conforme Egri (1990, apud CLEGG et al, 1997), é importante o conceito de
10
sustentabilidade ambiental em longo prazo, mas, para sua consistência, também é necessária
uma reavaliação nos altos padrões de consumo dos países desenvolvidos, a erradicação da
pobreza nos países em desenvolvimento e uma parceria incondicional entre países de todo
mundo na esfera ambiental, com objetivo de transferência de conhecimento e da tecnologia.
Defende-se que o desenvolvimento sustentável é o gerenciamento dos bens comuns,
biorregionais e locais de uma forma globalizada. O potencial de tragédia dos bens comuns não
gerenciados, obriga que haja um envolvimento formal do governo e legislação necessária para
o seu correto gerenciamento.
A alta desigualdade social entre países ricos e pobres gera grandes discussões
sobre a transferência tecnológica. Os países periféricos, no contexto ambiental, possuem uma
grande desvantagem em relação aos desenvolvidos, que é o baixo poder econômico para
adquirir tecnologias ambientalmente corretas. O resultado desta operação são países pobres
reduzindo seus recursos naturais como os ricos já o fizeram, sempre buscando o
desenvolvimento econômico, mas com alto custo social, econômico e ambiental, e uma
eventual escassez destes recursos pode gerar uma grande crise global.
Em 2005, houve um primeiro passo mundial para auxiliar o processo de
transferência tecnológica com a institucionalização do protocolo de Kyoto. Conforme Wijen e
Ansari (2007), durante as reuniões deliberativas composta por membros de diversos países do
mundo, houve uma primeira tentativa de acordo de uma nova política pública global
ambiental – protocolo de Kyoto. Neste momento, muitos países desenvolvidos se
prontificaram a auxiliar os países periféricos com a transferência de tecnologia limpa.
2.5 A importância dos stakeholders no processo de mudança da consciência nacional
Conforme Pinto (2005), as empresas desempenham um papel importante de
modelagem e construtivismo da consciência nacional. As empresas são o elo entre a
sociedade e o estado, e com essenciais papéis de fortalecer a economia e propor os objetivos
do desenvolvimento das práticas sociais. Com isso, o processo de mudança institucional
coletivo se torna peça chave para o sucesso na mudança da ação consciente social.
O processo de mudança institucional é um processo muito complexo, envolvendo
em geral o interesse de diversos atores que dele participam. Este tipo de mudança institucional
requer ações coletivas, agrupando atividades de um extenso grupo de atores com interesses
mútuos, e está além da capacidade de atores individuais ou mesmo de uns poucos
empreendedores de peso no mercado.
11
A problemática é que interesses coletivos nem sempre produzem ação coletiva,
sendo necessário não somente trazer recursos, mas também promover a motivação dos
participantes em um trabalho cooperativo. (HECKATORN, 1996).
Conforme Wijen e Ansari (2007), muitas causas podem influenciar a inércia
coletiva, tais como: interesses individuais querendo se aproveitar da contribuição de outros,
ou o grupo espera pela iniciativa individual para começar a agir, e até a apatia que poderá
haver entre os envolvidos quando os atores se abstêm de participar na ação coletiva, pois
sentem que sua contribuição ao problema pode ser insignificante.
2.6 A Teoria de Regime e as Teorias Institucionais como ferramentas necessárias para o
processo de mudança da ação coletiva
Enquanto as Teorias Institucionais por DiMaggio e Powell (1991) têm sido a
corrente de pensamento dominante para análise fenomenológica, Wijen e Ansari (2007)
defendem que a Teoria de Regime trabalhando em conjunto com as Teorias Institucionais,
oferecem uma perspectiva de espectro mais amplo para a mudança comportamental
institucionalizada nas organizações.
A Teoria do Regime defende que a tomada de decisão coletiva e sua
implementação apontam para o gerenciamento e resolução de conflitos internacionais pelo
desenvolvimento de Regimes. (HASENCLEVER, MAYER E RITTBERGER, 1997). Estes
Regimes são definidos por instituições sociais, consistindo em acordos sobre princípios,
normas, regras e procedimentos para tomada de decisão e programas sobre os quais as
expectativas dos atores convergem em assuntos de áreas específicas do sistema mundial
(YOUNG, 1989). Nestes casos a Teoria de Regime pode ser considerada como sendo a teoria
de instituições internacionais tipicamente formalizadas em leis explícitas, similar ao que
Maguire e Hardy (2006) descrevem como instituições regulatórias globais. Segundo Scott
(1995, p. 56) "a Teoria de Regime geralmente envolve muitos níveis de governança e é
formada com um interesse comum, como um campo institucional que envolve uma
comunidade de organizações que compartilham um sistema comum”.
As três principais escolas de pensamento são o neoliberalismo, a realista e a
cognitivista. (HASENCLEVER et al. 2000). As teorias neoliberalistas têm foco na
cooperação dos atores. Já as perspectivas realistas compartilham com o velho
institucionalismo, em que as diferenças de poder são determinantes para a efetividade da
Teoria de Regime. As teorias cognitivistas são mais centradas na instituição, focadas na
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crença do institucionalismo focado no conhecimento.
A cooperação entre estas três escolas é a chave principal para sustentar a Teoria
de Regime. Enquanto os teoristas institucionais atribuem aos atores a responsabilidade de
cooperação através do uso de suas habilidades sociais e políticas, os teoristas de Regime
identificaram mecanismos adicionais que induzem à cooperação no nível coletivo, com
estrutura diferenciada, que propicia o aumento da conformidade e engajamento com as
demandas sociais vigentes, no caso, o foco em sustentabilidade.
2.7 Objetos utilizados pelos stakeholders no processo de mudança
As ferramentas identificadas no estudo de Wijen e Ansari (2007) no estudo de
caso da assinatura do protocolo de Kyoto em conjunto com a análise das Teorias
Institucionais e de Regime, permeiam o entendimento do funcionamento de algumas
ferramentas utilizadas pelas empresas para aderência ao processo de consciência ambiental.
São elas:
• Manipulação de poder: a configuração de poder deve estar centralizada nas
mãos de poucos (gestor ou presidente), para que a tomada de decisões tenha uma efetividade
maior.
• Visão compartilhada: apesar das divergentes opiniões dos stakeholders, todos
devem contribuir de forma positiva para alcance do objetivo comum.
• Mídia: possui um papel importante de retratar a realidade da empresa para seus
stakeholders, muitas vezes, até criticando uma ação incompatível com a visão global e
coletiva.
• Incentivo às Estruturas: a união com outras empresas permite ao empresário
uma troca de informações e conhecimentos, ampliando a troca de boas práticas no setor e
agilizando o processo de melhoria contínua de sua gestão sustentável.
• Diretrizes éticas: "fazer a coisa certa" é a frase chave para sustentabilidade
futura. A percepção do correto não pode faltar aos diversos tipos de gestão.
• Mecanismos de implementação: a metodologia de implantação de uma
consciência ambiental deve ser bem alinhada com a estratégia da empresa, de forma
transparente e coerente, não permitindo dúvidas ou divergências em seu entendimento.
13
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram descritas nesse trabalho as correntes ambientais que sustentam
ideologicamente partidos políticos e organizações sociais diversas, que clamam pelo
rompimento do modelo de industrialização atuante, chamado "Paradigma Social Dominante
(PSD)", que tem na sua essência elementos de antropocentrismo ao invés da combinação com
elementos biocêntricos. Tal modelo tem se mostrado desatualizado mediante as crises e
problemas ambientais que impactam na garantia de longevidade da vida humana e “nãohumana” na terra.
Também foi apresentada a importância dos atores sociais das relações humanas
capazes de influenciar e mudar o modelo de industrialização, o PSD.
Não obstante, conclui-se que homem pode eleger para si boas práticas sociais e
organizacionais para o bem da coletividade e das gerações posteriores, alterando essas
práticas sob o regime da sustentabilidade, pois essa última transcende a fronteira da ecologia e
engloba transformações positivas sociais, econômicas, políticas.
No ambiente globalizado atual, é inevitável a criação da consciência coletiva
ambiental, para que o mundo não entre em um possível colapso econômico, devido à escassez
de recursos naturais.
Neste contexto, o governo tem grande responsabilidade de regular e punir, se
necessário, objetivando a manutenção dos ecossistemas, focando o equilíbrio da biosfera e a
perpetuidade das gerações futuras, pois ambas devem transcender às questões econômicas,
embora essas últimas também sejam de vital importância para o crescimento e
sustentabilidade do mundo. Assim, esta dialética não pode ser solucionada com decisões
unilaterais, mas com uma grande conciliação dos fatores essenciais de cada política.
As organizações possuem papel determinante neste processo, pois são um forte
elo entre o governo e a sociedade em seus diversos níveis sociais. A educação em prol de uma
política sustentável pode proporcionar um grande avanço para a criação da consciência
ambiental global.
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