universidade federal de mato grosso do sul centro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
INVESTIGAÇÃO DO CONTROLE EXERCIDO PELOS CONCEITOS DE
EXPLICAÇÃO E DESCRIÇÃO SOBRE A RESPOSTA VERBAL DE
ESTUDANTES
MAYLLA MONNIK RODRIGUES DE SOUSA CHAVEIRO
CAMPO GRANDE - MS
2014
MAYLLA MONNIK RODRIGUES DE SOUSA CHAVEIRO
INVESTIGAÇÃO DO CONTROLE EXERCIDO PELOS CONCEITOS DE
EXPLICAÇÃO E DESCRIÇÃO SOBRE A RESPOSTA VERBAL DE
ESTUDANTES
Relatório de Defesa apresentado como
exigência final para obtenção do grau de
Mestre em Psicologia à Comissão
Julgadora da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul, sob a orientação do
Professor Doutor Lucas Ferraz Córdova.
CAMPO GRANDE - MS
2014
MAYLLA MONNIK RODRIGUES DE SOUSA CHAVEIRO
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação, em Psicologia, da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul como requisito final à obtenção do título de
Mestre em Psicologia.
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________
Prof. Dr. Lucas Ferraz Córdova
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
___________________________
Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Teixeira Jr.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
___________________________
Prof. Dr. Carlos Augusto de Medeiros
Centro Universitário de Brasília
AGRADECIMENTOS
Agradeço à CAPES por ter financiado este trabalho. Ao meu orientador, Lucas
Córdova, pela confiança e por toda contribuição à minha formação intelectual. Obrigada
por todo apoio!
A todos os professores do Programa de Mestrado em Psicologia pela possibilidade de
conhecer e pelo respeito ao meu trabalho. À Jacque pelo suporte com as questões
burocráticas.
Aos professores Ronaldo e Carlos Augusto que aceitaram gentilmente participar da
banca de qualificação e defesa, pelas reflexões desafiadoras e por tantas contribuições
na escrita deste trabalho. Aos participantes desta pesquisa, pela disponibilidade e
colaboração.
Aos queridos colegas de mestrado: Ana, Arthur, Camila, Catarina, Heriel, Isloany,
Marisa, e Naila, pelo carinho, pelas discussões sobre Psicologia e sobre a vida... Muito
obrigada por tudo! Aos queridos Dani e Vitor pela amizade, mesmo à distância.
Aos professores e alunos da UFMT, por todo apoio e por permitirem que eu descobrisse
meu caminho na docência! Agradeço especialmente à Julia, Juliana e Thaís pela
confiança e por tudo o que tenho aprendido todos os dias com vocês.
À minha querida grande família pelo amparo e tanto amor! Especialmente aos meus
pais Madalena e Wilson que dedicam suas vidas à educação, pelo exemplo diário de
retidão e justiça. Às minhas lindas irmãs Susan e Nayara por me mostrarem como ser
uma pessoa melhor a cada dia.
À D. Rosa e Angelita, por serem minha família em Campo Grande e por todo carinho.
Finalmente, agradeço ao meu querido companheiro Alonzo, pelo incentivo constante,
pela paciência nessa trajetória de vida acadêmica e por todo amor!
RESUMO
O objetivo deste estudo foi examinar o controle exercido pelos conceitos de explicação
e descrição sobre as respostas verbais de estudantes com e sem formação em Análise do
Comportamento. Participaram da pesquisa doze alunos do curso de Psicologia
distribuídos em quatro grupos distintos, com três participantes em cada grupo. Os
grupos 1 e 2 foram compostos por alunos com treino sobre Behaviorismo Radical e
Análise do Comportamento; já os grupos 3 e 4 foram compostos por alunos sem treino
com o discurso sobre Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento. Cada um dos
participantes dos quatro grupos assistiram, separadamente, à exibição de um mesmo
vídeo mostrando um rato respondendo em contingência de reforçamento no esquema FI
40 segundos. Aos grupos 1 e 3 foi solicitado aos participantes que “expliquem” o
comportamento do rato. Já aos grupos 2 e 4 foi solicitado aos participantes que
“descrevam” o comportamento do rato. Os resultados apontaram que, de maneira geral,
os participantes dos grupos G1 e G2, correspondentes aos grupos sem formação em
Análise do Comportamento, apresentaram, em maioria, respostas mentalistas tanto em
relação á instrução de explicar, como em relação à instrução de descrever. Já os
participantes dos grupos G3 e G4, correspondentes aos grupos com formação em
Análise do Comportamento no decorrer do curso de Psicologia, apresentaram respostas
variadas entre três categorias na presença da instrução de explicar, e apresentaram a
maior parte de verbalizações de topografia de resposta na presença da instrução de
descrever.
Palavras-Chave: Análise do Comportamento; Explicação do Comportamento; Descrição
do Comportamento; Comportamento Verbal.
ABSTRACT
The aim of this study was to investigate the effect of instructions on the verbal answer.
Participate in the survey twelve students of Psychology distributed into four distinct
groups, with three participants in each group. Groups 1 and 2 consist of students from
the first year of psychology, in other words, without training in behavior analysis,
whereas groups 3 and 4 be composed of students of the third, fourth or fifth year of
Psychology and undergone training in behavior analysis throughout the course. Each of
the four groups of participants attended separately to display the same video showing a
rat responding to contingencies of reinforcement in the scheme FI 40 seconds. Groups 1
and 3 participants who were asked to "explain" the behavior of mouse. Have the groups
2 and 4 was told participants to "describe" the behavior of mouse. The results showed
that, overall , participants in groups G1 and G2, corresponding to groups without
training in behavior analysis, presented in most, mentalists responses both in their
statement to explain, and in relation to the conduct described. Have the participants in
groups G3 and G4, corresponding to groups with training in behavior analysis during
the course of Psychology, had different responses among the three categories in the
presence of instruction to explain, and had most of verbalization of response topography
in the presence of the statement to describe.
Keywords: Behavior Analysis; Explanation of Behavior; Verbal Behavior
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................8
1. CONCEITOS DE EXPLICAÇÃO E DESCRIÇÃO..........................................................9
1.1. Mentalismo e Behaviorismo Radical: Modelos de Explicação do
Comportamento..................................................................................................12
1.2. A
Explicação
do
Comportamento
como
Comportamento
Verbal.................................................................................................................15
2. O COMPORTAMENTO DE EXPLICAR O COMPORTAMENTO: UMA REVISÃO
DE MÉTODO E DE ESTUDOS EXPERIMENTAIS......................................................18
2.1. Revisão de pesquisas experimentais...........................................................19
2.2. Algumas considerações acerca dos resultados das pesquisas
experimentais......................................................................................................23
2.3. Objetivos da Pesquisa..................................................................................26
3. METODOLOGIA................................................................................................................27
3.1. Participantes................................................................................................27
3.2. Local............................................................................................................29
3.3. Materiais e equipamentos............................................................................29
3.4. Produção do vídeo.......................................................................................30
3.5. Situação experimental.................................................................................31
3.6. Procedimento...............................................................................................32
3.7. Categorização das respostas dos participantes............................................33
4. RESULTADOS ...................................................................................................................36
4.1. Número de verbalizações dos participantes.................................................36
4.2. Classificação das verbalizações em relação às categorias...........................39
4.3. Distribuição das verbalizações por participante de acordo com o registro
cumulativo do desempenho do rato....................................................................42
5. DISCUSSÃO.........................................................................................................................58
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................63
7. ANEXOS...............................................................................................................................66
8
INTRODUÇÃO
Uma teoria científica não é caracterizada somente por meio do fazer empírico,
ela também é sustentada por pressupostos filosóficos que fundamentam o método
utilizado nesta teoria. Nesse contexto, entende-se que disciplinas filosóficas, tais como
a ontologia e a epistemologia embasam uma ciência. Enquanto a ontologia especifica
juízos e decisões sobre o que existe, ou seja, os objetos de estudo de uma ciência; a
epistemologia especifica os fundamentos da metodologia empregada nesta ciência a fim
de investigar estes objetos. Desse modo, compromissos epistemológicos, metodológicos
e ontológicos encontram-se interligados no seio de uma ciência, de modo que tal
coerência interna reflete na formulação de um projeto científico com maior precisão na
investigação dos fenômenos. Em suma, uma filosofia da ciência, que é composta por
tais disciplinas filosóficas, propõe-se a examinar os enunciados de uma ciência
elaborando um discurso sobre ela (ABIB, 1993a).
Nesse ponto, a Análise do Comportamento elaborada por B. F. Skinner (19041990) apresenta-se como uma das abordagens científicas da Psicologia e esta ciência do
comportamento é orientada pela filosofia do Behaviorismo Radical. Em outras palavras,
esta filosofia específica é responsável por elaborar um discurso sobre a Análise do
Comportamento. Assim, o Behaviorismo Radical como filosofia da ciência do
comportamento preocupa-se com pressupostos tanto relacionados à natureza de seu
objeto de estudo, como da natureza do conhecimento. De modo geral, considerando os
aspectos tanto da natureza de seu objeto de estudo, quanto da natureza do conhecimento
no âmbito da Análise do Comportamento, entende-se que a noção de conhecimento em
geral perpassa o conceito de contingência de reforço.
Este trabalho dedica-se, de modo geral, a investigar a explicação do
comportamento. Mais especificamente, esta pesquisa busca examinar o controle
exercido pelos conceitos de explicação e descrição sobre as respostas verbais de
estudantes com e sem formação em Análise do Comportamento. Trata-se de uma
pesquisa experimental sobre o comportamento de explicar o comportamento em alunos
do curso de psicologia que participam de atividades com prioridade no enfoque analítico
comportamental e em alunos do curso de psicologia em fase inicial da graduação. Nesse
sentido, o trabalho volta-se à compreensão de como possíveis futuros cientistas e
analistas do comportamento explicam o comportamento.
9
No capítulo 1 será feita uma explanação acerca dos conceitos de explicação e
descrição na filosofia de Ernst Mach e no Behaviorista Radical. Neste capítulo serão
delimitadas algumas noções filosóficas a fim de elucidar e circunscrever o problema de
pesquisa deste trabalho que surge não só pelo controle de variáveis em experimentação,
mas também por uma preocupação quanto à compreensão de Analistas do
Comportamento acerca de sua própria filosofia da ciência, o Behaviorismo Radical.
O capítulo 2 irá abordar o Método Reno como um método específico em
pesquisas experimentais sobre comportamento verbal. Esta seção também terá como
enfoque a noção dos operantes verbais tato e intraverbal como fundamentais à
explicação do comportamento. Este capítulo também buscará uma revisão de estudos
experimentais sobre o comportamento de explicar o comportamento por meio do
Método Reno na literatura da Análise do Comportamento.
No capítulo 3 será apresentada a pesquisa experimental e o procedimento
utilizado para investigar o comportamento de explicar e de descrever em estudantes de
Psicologia. No capítulo 4 serão também apresentados os resultados obtidos por meio
dos dados coletados neste procedimento sobre a investigação do controle das respostas
verbais dos estudantes.
Por fim, o capítulo 5 apresentará a discussão do trabalho, delineando
aproximações e distanciamentos com base nos dados obtidos, além de elucidar também
que não há dados puros, mas há interpretação de pesquisadores acerca desses dados.
Nesse ponto, a pesquisa também volta-se para a discussão sobre futuras pesquisas
acerca de processos de aprendizagem e modelagem de comportamentos específicos em
estudantes universitários e, possivelmente, futuros analistas do comportamento.
1.
CONCEITOS
DE
EXPLICAÇÃO
E
DESCRIÇÃO
NO
BEHAVIORISMO RADICAL
A busca de explicações sistemáticas para os fenômenos parece ser uma tarefa
comum a todas as disciplinas científicas. Nagel (1961/1968) sustenta que o objetivo da
ciência é “produzir explicações sistemáticas e adequadamente sustentadas” (p. 27).
Dessa forma, toda ciência apresenta sistemas explicativos que lhes são, entretanto,
peculiares, visto que devem corresponder com a ontologia e epistemologia desta
disciplina científica.
Além da sistematização, uma explicação científica é usualmente caracterizada
pela preocupação em buscar as causas para os fatos. Assim, um fenômeno é
10
cientificamente explicado quando se conhece e se indica suas causas. Com efeito, há na
filosofia da ciência uma estreita relação entre explicação e causalidade. Schlick (1980),
por exemplo, considerava que o princípio da causalidade implica em “uma prescrição de
buscar regularidade, ou de descrever os acontecimentos mediante leis” (p. 24). Assim,
explicar um fenômeno de acordo com Schlick (1980) é o mesmo que estabelecer as
causas destes fenômenos.
Tradicionalmente, "causalidade" é entendida como sinônimo de relação de
dependência entre eventos. Sob essa ótica, é coerente compreender que uma relação não
causal corresponda a relações aleatórias que ocorram ao acaso, comprometendo seu
status científico. Embora pareça consenso que uma explicação científica deva se
debruçar à procura das causas para os fenômenos, a relação entre explicação e
causalidade não é necessária. Um dos argumentos empregados para fazer a
desidentificação entre explicação e causalidade é operar outra: a desidentificação de
causalidade com relação de dependência entre eventos. Para alguns autores (BUNGE,
1972; SKINNER, 1953/1998; 1957/1978), relação causal não corresponde à relação de
dependência, mas a um tipo específico de relação de dependência, ou seja, há outras
maneiras de caracterizar uma relação de dependência que não só pela relação causal.
A delimitação do conceito de explicação científica teve seu início com Isaac
Newton no período da Revolução Científica e fundamentou a necessidade de uma nova
filosofia para o entendimento da natureza. Referindo-se à discussão sobre o conceito de
explicação, representantes do positivismo empenharam-se em desenvolver uma
metodologia de ciência unitária a todas as disciplinas científicas. Esta metodologia
traçava como o objetivo inicial da ciência a descrição dos fenômenos e somente depois
se voltava à explicação destes fenômenos, entendendo que a etapa de explicação seria
mais complexa e só poderia ser efetuada com uma descrição antecedente (CHIESA,
1994/2006; LEAHEY, 2000).
Entretanto, a acepção de que a descrição deve anteceder a explicação dos
fenômenos não se tornou um consenso entre os filósofos da ciência na época. A
despeito desta afirmação, tem-se, por exemplo, a concepção de ciência do físico e
filósofo austríaco Ernst Mach (1838-1916), a qual rompe com a noção dicotômica entre
descrição e explicação. Em sua obra Science of Mechanics publicada em1893, Mach, a
partir de uma análise histórica do desenvolvimento da mecânica propôs desvencilhar
esta ciência de conceitos metafísicos. O autor esclarece seu objetivo já na introdução da
11
obra: “O presente livro não é nenhum tratado para a formação dos teoremas da
mecânica. Sua tendência é mais explicativa, ou melhor, antimetafísica.” (p. 09).
De acordo com Mach (1893/1949) a regularidade e uniformidade de um
fenômeno possibilitam a descrição dos elementos que o compõem. Desta forma, ao
descrever o fenômeno no sentido de nomear seus elementos e formular as leis que
podem regê-lo, ele estará então explicado.
Nas palavras de Mach (1893/1949):
Quando se chegou a discernir um reduzido número de elementos
simples, sempre os mesmos em todas as partes, e que se agrupam de
maneira ordinária; eles nos são apresentados como coisas conhecidas,
já não nos surpreendem, já não há nada nos fenômenos que nos pareça
estranho ou novo, nos familiarizamos com eles e já não nos deixam
perplexos: eles estão explicados (p. 16-17).
Aos propósitos deste trabalho, é necessário discutir a identidade dos conceitos de
explicação e descrição de Mach em consonância com uma ciência em particular, a
Análise do Comportamento. Nesse sentido, admite-se que o Behaviorismo Radical
sofreu marcante influência das obras de Ernst Mach, inicialmente por meio do contato
de Skinner, principal representante do Behaviorismo Radical, com Science of
Mechanics (1893) em um curso de história da ciência tomando esta obra como modelo
para sua tese de doutorado de 1930 a qual Skinner propôs um exame histórico similar ao
conceito de reflexo (SMITH, 1994).
Na visão do materialismo mecanicista que influenciou a física do século XIX e a
psicologia do século XX (CHIESA, 1994/2006), algo é explicado quando se descobre a
realidade que está por detrás do fenômeno, a saber, os elos que ligam a causa ao efeito
(LAURENTI, 2006). Além disso, a herança dessa dicotomia (descrição versus
explicação) pressupõe duas atividades separadas e distintas, ou seja, “uma em que os
fenômenos são descritos, mas não são ao mesmo tempo explicados, e outra em que
explicar é, em certo sentido, interpretar o que foi descrito.” (CHIESA, 1994/2006, p.
122). Nesse sentido, a tarefa de explicar é tida como mais complexa do que a tarefa de
descrever, além de que, quem descreve fenômenos não os explica, necessariamente.
Assim, o Behaviorismo Radical, ao adotar uma postura machiana em relação à
explicação, desvincula a natureza da explicação científica da noção de causalidade e
rompe com a dicotomia entre descrição versus explicação (BAUM, 2005/2006;
LAURENTI & LOPES, 2009; SMITH, 1986/1994). Desse modo, as explicações em
12
uma perspectiva analítico-comportamental são descrições de relações funcionais que se
estabelecem entre o organismo e o ambiente.
Skinner, influenciado por Mach, rompe então com a noção de explicação causal
na qual um evento antecedente produz inexoravelmente um efeito. O autor sugere em
vários momentos de sua obra que em uma ciência do comportamento é necessário
ignorar o modelo causal de explicação, e como alternativa, Skinner sugere o modelo de
seleção por consequências analisado funcionalmente. De acordo com Skinner
(1953/1998):
A antiga ‘relação de causa e efeito” transforma-se em uma relação
funcional. Os novos termos não sugerem como uma causa produz o
seu efeito, meramente afirmam que eventos diferentes tendem a
ocorrer ao mesmo tempo, em uma certa ordem (p. 24).
A passagem sugere que a aproximação entre uma causa que produza o efeito na
ciência do comportamento pode ser incoerente. Ao invés disso, Skinner (1953/1998)
propõe uma relação de dependência entre eventos em termos de relação funcional.
Nesse ponto, uma análise funcional do comportamento não recorre a explicações
mentalistas, por exemplo, sentimentos causando comportamento ou explicações
fisicalistas nas quais aspectos neuronais ou hormonais causam o comportamento, como
será discutido adiante.
1.1. MENTALISMO E BEHAVIORISMO RADICAL: MODELOS DE
EXPLICAÇÃO DO COMPORTAMENTO
O problema mente-corpo proposto por Descartes instaura o dualismo de
substância na compreensão do ser, ou seja, todo homem é constituído de um corpo e de
uma mente, a qual exerce influência direta sobre o corpo, produzindo as ações deste. O
corpo é espacial, temporal e sujeito às leis físicas, enquanto a mente não se localiza no
espaço, e não se submete às leis físicas (DESCARTES, 1641/1999).
De acordo com Teixeira (1994), após o projeto de Descartes várias outras teorias
se propuseram a solucionar o problema mente-corpo, algumas defendiam o monismo e
outras defendiam o dualismo de substância. O autor aponta ainda a teoria do paralelismo
psicofísico de Leibniz como uma das mais originais. Nela, não há uma relação de
causalidade entre mente e corpo, entretanto, tudo o que passa na esfera do mental possui
também um correspondente no mundo físico. Mental e físico encontram-se em paralelo,
sem influenciar um ao outro.
13
Neste contexto, a filosofia de Kant influenciou outra concepção, a de que não
haveria uma solução para o problema mente-corpo (TEIXEIRA, 1994), visto que as
teorias teriam motivos específicos para adotar uma concepção monista ou dualista, e,
além disso, as teorias respondem a problemas fomentados por elas mesmas. Contudo, há
outras concepções filosóficas que se distanciam do dualismo de substâncias colocadas
por Descartes.
Uma dessas concepções que deu início à Filosofia da Mente é defendida por
Gilbert Ryle, filósofo analítico que argumenta que os termos mentais não precisam ser
analisados como ontológicos, pois, desta forma, podem levar teóricos ao erro. Assim,
para Ryle, a mente seria como um “fantasma na máquina” que não explicaria as ações
voluntárias do homem, mas que também deveria ser explicada. Nesse sentido, o autor
propõe a possibilidade de compreender a mente como um fenômeno relacional (LOPES
& ABIB, 2003).
As relações de interação entre mente-corpo deram lugar, na segunda metade do
século XX, à relações entre mente-cérebro. Neste período surgem, na Filosofia da
Mente, ramos específicos que estudam a mente por meio de sinapses neuronais,
estudadas pelas neurociências; e também estudam a mente por meio de modelos
análogos ao sistema computacional nas teorias da Ciência Cognitiva (TEIXEIRA,
1998).
Discussões acerca das doutrinas filosóficas do problema mente-corpo são
centrais na Psicologia. A noção de visão de homem nas teorias psicológicas baseia-se,
principalmente, em concepções dualistas ou monistas, as quais sustentam também
ontologias, epistemologias e metodologias em uma ciência. Assim, neste trabalho cabe
destacar a Análise do Comportamento e a filosofia desta teoria.
O objeto de estudo da Análise do Comportamento é o próprio comportamento
(SKINNER,
1945/1961, 1953/1998, 1957/1978, 1974/2002).
Visto
que o
comportamento assume várias definições a depender do arcabouço ontológico e
epistemológico da teoria a qual pertence, apresentam-se também diferentes modelos de
explicação do comportamento. Neste contexto, dois modelos de explicação serão
brevemente discutidos aqui: modelo de explicação mentalista e modelo de explicação
behaviorista radical.
De acordo com Skinner (1974/2002), frequentemente se é solicitado a explicar o
porquê outras pessoas ou nós mesmos nos comportamos de certa maneira. O autor
afirma que os indivíduos estão mais familiarizados com o seu próprio comportamento e,
14
como a emissão de respostas se dá acompanhada de ‘sentimentos’ que ocorrem na
própria pessoa torna-se muito fácil tomá-los como causa do comportamento. Nesse
sentido, o mentalismo é considerado um tipo de filosofia da mente a qual compreende
que, tradicionalmente, sentimentos e estados mentais estão situados em uma mente com
estatuto diferente dos demais fenômenos comportamentais e são vistos como causa
destes fenômenos comportamentais (GONGORA & ABIB, 2001).
Em vista disso, no mentalismo a mente possui uma prioridade explicativa em
relação ao comportamento, na medida em que a mente explica o comportamento, mas o
comportamento não explica a mente. Por exemplo, em primeiro lugar, sentimentos
como raiva, medo, alegria, angústia causam, por conseguinte, comportamentos
característicos como chorar, tremer, sorrir (SKINNER, 1974/2002). Skinner afirma que
no mentalismo considera-se a existência de um homúnculo habitando o interior de cada
indivíduo e tendo vontades próprias: “O homem interior deseja uma ação, o exterior a
executa. O interior perde o apetite, o exterior pára de comer. O homem interior quer, o
exterior consegue. O interior tem o impulso ao qual o exterior obedece” (SKINNER,
1953/1998, p. 31).
Por outro lado, o modelo de explicação da filosofia behaviorista radical assume
que a explicação do comportamento só pode ser entendida por meio do próprio
comportamento. Este modelo, ao contrário do mentalismo, defende que não se torna
necessário recorrer a instâncias não comportamentais para a explicação do
comportamento, visto que o comportamento é objeto de estudo em si mesmo. Assumese que no modelo de explicação proposto pelo Behaviorismo Radical o comportamento
deva ser entendido por meio da noção de relação funcional, ou seja, uma relação de
interdependência probabilística entre variáveis independentes e variáveis dependentes
(SKINNER 1953/1998, 1974/2002). Entende-se, então, que a ‘radicalidade’ desta
filosofia encontra-se no pressuposto de explicação do comportamento como objeto de
estudo autônomo, isento de inferências mentais ou fisiológicas (LEÃO & LAURENTI,
2009).
No modelo de explicação behaviorista radical, o comportamento é o produto da
união de contingências de sobrevivência responsáveis pela evolução da espécie,
contingências de reforço responsáveis pelo repertório comportamental do indivíduo e
pelas contingências sociais responsáveis pela evolução da cultura (SKINNER,
1981/2007). Assim, a definição de comportamento não recorre à noção tradicional de
causa e é definido como relação funcional entre organismo e ambiente. O conceito de
15
relação funcional consegue expressar a complexidade das relações entre os eventos da
natureza, visto que, emprega a noção de que um evento é parte de uma rede de relações
das quais outros eventos fazem parte (CHIESA, 1994/2006).
De acordo com o Behaviorismo Radical, é possível compreender o
comportamento como relações entre organismo e ambiente por meio de contingências
de reforço. Skinner (1969/1980) afirma que uma contingência é caracterizada pelas
inter-relações entre estímulo antecedente (S), resposta (R) e consequência reforçadora
(Sr). Para o autor, a relação entre homem e mundo ocorre em função de três aspectos
importantes: “(1) a ocasião na qual ocorreu a resposta, (2) a própria resposta e (3) as
consequências reforçadoras” (p. 180).
Desse modo a relação entre os três termos da contingência de reforço não possui
caráter linear, pois nem todo estímulo ocasionará uma consequência como seu produto
final e a relação entre resposta e consequência é recursiva. Tendo em vista esse aspecto,
o estímulo altera a probabilidade de ocorrência da resposta, a qual, se ocorrer, produz
consequências reforçadoras no ambiente que, por sua vez, aumentam a probabilidade de
respostas semelhantes no futuro. Em suma, consequências passadas explicam o
comportamento no presente, assim, o modelo de seleção pelas consequências proposto
por Skinner caracteriza-se como uma explicação histórica do comportamento
(SKINNER, 1969/1980, 1981/2007).
1.2. A EXPLICAÇÃO DO COMPORTAMENTO COMO COMPORTAMENTO
VERBAL
Skinner em sua obra Verbal Behavior (1957) defende a tese de que o
comportamento verbal também deve ser compreendido à luz do modelo de seleção por
consequências bem como o comportamento não-verbal. Dessa forma, Skinner considera
que o fenômeno do comportamento verbal é comportamento operante, estando
submetido também a leis que o regulam em uma contingência de reforço. Logo no
início de seu livro, Skinner afirma que “os homens agem sobre o mundo, modificam-no
e, por sua vez são modificados pela conseqüência de sua ação” (SKINNER, 1957/1978,
pag. 15). Esta frase deixa claro que o comportamento verbal no decorrer da obra será
tratado como comportamento operante e passível de influência do meio, bem como
podendo ser analisado à luz de princípios básicos da Análise do Comportamento como
discriminação, generalização, modelagem e extinção.
16
Segundo o autor: “O que ocorre quando um homem fala ou responde a uma fala
é questão a ser respondida com os conceitos e técnicas da psicologia enquanto ciência
experimental do comportamento” (SKINNER, 1957/1978, p. 19). Em vista disso, uma
análise do comportamento verbal deve levar em consideração as variáveis ambientais
controladoras das quais este comportamento é função. Nesse sentido, a análise funcional
do comportamento verbal visa compreender quais variáveis ambientais históricas e
sociais, são responsáveis por influenciar a emissão de uma resposta verbal específica.
A definição de comportamento verbal de acordo com Skinner (1957/1978) foi
descrita como comportamento que produz consequências que são, especificamente,
mediadas por outros indivíduos pertencentes à mesma comunidade verbal do falante. A
despeito desta definição, entende-se que o comportamento verbal não produz
consequências físicas e mecânicas diretamente sobre o mundo, mas produz
consequências sobre o mundo por meio da relação com outros indivíduos.
Skinner definiu e categorizou o comportamento verbal em sete classes de
comportamento operante: mando, tato, ecóico, cópia,intraverbal, textual e ditado. Estas
definições e categorizações foram voltadas à análise do tipo de variável controladora da
resposta pelo estímulo antecedente, à consequência das respostas emitidas, à topografia
de respostas e à relação entre variável antecedente e resposta (CÓRDOVA, 2008).
Para os propósitos deste trabalho, será considerado o conceito de explicar e
descrever o comportamento como emissão de comportamento verbal, sendo
compreendido, aqui, como emissão de intraverbais ou tatos. O intraverbal é definido por
Skinner (1957/1978) como sendo o controle entre um estímulo antecedente verbal e
uma resposta verbal que não possui correspondência ponto-a-ponto com este estímulo.
O operante intraverbal é controlado por um estímulo verbal vocal ou escrito, como por
exemplo, alguém responder "quatro" ao ouvir o estímulo verbal "dois mais dois", ou
responder "Paris" ao ouvir o estímulo verbal "capital da França" (Skinner, 1957/1978, p.
438). Explicar um comportamento por meio de um intraverbal implica em responder
verbalmente sob controle estímulos antecedentes que podem ser o que outra pessoa
disse ou até aspectos de uma teoria em um livro.
No operante verbal tato, a resposta verbal é emitida sob controle de um
estímulo antecedente não verbal. Em outras palavras, o tato é o operante verbal que
define por meio de relações funcionais o "contato" com estímulos antecedentes nãoverbais. Assim, o falante ao relatar o comportamento de outros indivíduos tem sua
17
resposta verbal controlada por estímulos discriminativos como sendo estímulos nãoverbais. (SKINNER, 1957/1978).
De acordo com Skinner (1957/1978, p. 109): "O tacto surge como o mais
importante operante verbal, por causa do controle incomparável exercido pelo estímulo
anterior". Este controle entre estímulo discriminativo e resposta é especificado por meio
de reforçadores generalizados apresentados repetidamente pela comunidade verbal em
situações distintas. Nesse sentido, o autor aponta também que o comportamento de tato
atua de maneira favorável ao ouvinte, pois amplia o contato deste com o meio. Desta
forma, Skinner enfatiza a concepção de que o repertório verbal de um indivíduo é
estabelecido por meio de uma comunidade verbal, sendo também um comportamento
social.
A despeito das variáveis de controle de um tato, o autor afirma que a emissão de
uma resposta pode ser função de mais de uma variável independente. Diante disso,
Skinner afasta-se de uma noção referencial de significado, visto que não considera o
estímulo discriminativo na contingência de um tato como uma unidade básica de
correspondência com o mundo, ou, em outras palavras, uma correspondência ponto a
ponto com o estímulo controlador (SKINNER, 1957/1978).
Ao final do capítulo no qual Skinner aborda o conceito de tato, o autor afirma
que o campo de análise sobre alguns aspectos do operante verbal tato ainda encontra-se
inexplorado, e considera importante prosseguir com investigações desta natureza. Um
destes aspectos diz respeito ao estudo das variáveis do comportamento verbal
autodescritivo, ou seja, variáveis que controlam o comportamento de auto-tato do
falante. Em relação a esta possibilidade de novas pesquisas sobre comportamento verbal
nesta área específica, Skinner (1957/1978) afirma:
Até que tenhamos obtido esta melhor compreensão das variáveis
que controlam as respostas descritivas do comportamento do
falante, podemos, pelo menos, aceitar o fato de que tais
respostas são estabelecidas em muitas comunidades verbais, de
que elas são úteis como fonte de dados nas ciências sociais e, em
particular, que podem ser usadas na interpretação de uma parte
substancial do campo do comportamento verbal (p. 181).
Nesse contexto, Skinner parece abrir a possibilidade para novas pesquisas tanto
no âmbito do tato como operante verbal que possibilita explicar o comportamento,
quanto no âmbito do auto-tato como conhecimento do homem acerca das variáveis que
18
controlam suas respostas verbais como explicação do comportamento de outros
indivíduos.
2. O COMPORTAMENTO DE EXPLICAR O COMPORTAMENTO: UMA
REVISÃO DE MÉTODO E DE ESTUDOS EXPERIMENTAIS
Investigar o comportamento verbal experimentalmente exige a construção de
uma metodologia apropriada a qual compreenda a complexidade deste tema bem como
respeite os preceitos filosóficos do Behaviorismo Radical. Skinner (1957/1978) sugere
que ao se estudar relatos verbais o cientista recai no âmbito de estudar a influência
destes relatos verbais sobre ele próprio. Esta concepção de análise de relatos verbais foi
aprimorada por Willard F. Day, Jr. (1926-1989) e seus alunos na Universidade de
Nevada com a fundação de um método específico chamado de Reno Method
(BORLOTI, 2008; KNAPP 1989; LEIGLAND, 1989; MOORE, 1991).
Day valorizou muito as obras de Skinner, e, em especial o livro O
Comportamento Verbal sobre o qual organizou grupos de estudos na tentativa de
entender o exercício do próprio esforço interpretativo de Skinner ao escrever seu livro
(MOORE, 1991). A fundação de um método próprio para pesquisas em comportamento
verbal também despontavam como maneira de contrastar com atuais procedimentos de
análise verbal que emergiam da tradição psicanalítica (KNAPP, 1989).
De acordo com Moore (1991), Willard Day teve muitas contribuições para o
Behaviorismo Radical e para a análise do comportamento verbal que podem ser
agrupadas em três categorias: 1) Day enfatizou a distinção entre Behaviorismo Radical e
Behaviorismo Metodológico; 2) Day enfatizou a interpretação ao invés de restringir à
predição e controle do comportamento; e 3) Day enfatizou a análise do comportamento
verbal como fenômeno natural e contínuo.
Com relação à última categoria, Day e seus alunos engajaram-se na formulação
de projetos com o objetivo de compreender variáveis que controlariam as respostas
verbais evocadas. Entretanto, estas pesquisas distanciavam-se do tipo de pesquisa
tradicional com hipóteses ou métodos utilizados para a compreensão comum da
linguagem. Nesse sentido, em algumas pesquisas os sujeitos eram simplesmente
induzidos a falar e os pesquisadores observavam se as mudanças na fala estariam
relacionadas com a mudança ambiental (LEIGLAND, 1989; MOORE, 1991). Segue-se
uma passagem que descreve o Método Reno:
19
Em pesquisa deste tipo, o pesquisador transcreve o material
verbal interessante. O pesquisador, então, identifica, descreve e
classifica os aspectos do material verbal, que têm efeitos
similares sobre o seu comportamento como um leitor. Desta
forma, as classes de comportamento verbal são identificadas. O
pesquisador posteriormente faz avaliações sobre as variáveis que
atuam no controle funcional do comportamento verbal,
relacionando-a a aspectos de seu contexto histórico e ambiental
atual. Estas avaliações são vistas como diretamente sob o
controle das experiências do pesquisador na observação do
comportamento, a exposição repetida com os dados fornecidos
na transcrição e formação profissional da comunidade científica
verbal associada com o trabalho de B. F. Skinner (DOUGHER,
1989, P. 19).
Embora pesquisas demonstrassem que o Método Reno seria eficiente como as de
Stafford, Sundberg e Braam, (1988), Dougher, 1989; Leigland,(1989), os esforços de
Day e seus alunos foram pouco utilizados e pesquisas com Método Reno não foram
efetivamente publicadas a ponto de poder ser, atualmente, um método para
compreensão do comportamento verbal (MOORE, 1991).
2.1. REVISÃO DE PESQUISAS EXPERIMENTAIS
O presente tópico volta-se à análise e discussão de alguns estudos experimentais
sobre a explicação do comportamento. Serão analisadas três pesquisas que possuem
como objetivo geral o comportamento de explicar o comportamento. Estas três
pesquisas também apresentam como procedimento uma manipulação experimental da
estimulação antecedente às respostas verbais emitidas, ou seja, maior controle da
relação entre estímulo antecedente e resposta como característica do Método Reno, além
de também apresentarem variáveis independentes que facilitassem ou não a explicação
do comportamento por meio de explicações mentalistas.
O primeiro estudo com o título: Causação do comportamento humano: Acesso à
história passada como determinante na explicação do comportamento humano foi
conduzido por Simonassi, Pires, Bergholz e Santos no ano de 1984. O objetivo principal
deste estudo foi verificar qual a relevância da variável independente: acesso à história,
na explicação do comportamento.
O estudo foi dividido em dois experimentos. O equipamento e aparato
experimental nos dois experimentos foram semelhantes. Foi utilizada uma caixa
contendo quatro compartimentos e em cada compartimento havia uma lâmpada de cores
20
diferentes (verde, vermelha, azul e laranja). Para cada lâmpada havia um interruptor que
a acendia ao ser pressionado e que a apagava ao ser solto. Em ambos os experimentos
foram utilizadas crianças que foram expostas a um esquema de reforçamento múltiplo a
um dos quatro estímulos coloridos. As razões para cada estímulo eram: 1:1 na cor azul,
2:1 na cor laranja, 4:1 na cor verde e 5:1 na cor vermelha. Foram realizadas quatro
fases: nas três primeiras aumentou-se a razão fixa gradativamente para a cor azul de 5:1,
10:1 e 20:1 e nas demais cores as razões mantiveram-se invariáveis: 120:1 na cor
laranja, 150:1 na cor verde e 200:1 na cor vermelha; enquanto que a fase 4 consistiu em
uma sessão de extinção. Tanto no Experimento I quanto no Experimento II era
solicitado aos participantes, considerados como juízes, que observassem o
comportamento de escolha das crianças entre uma das lâmpadas coloridas. Em seguida
era solicitado aos juízes que respondessem por escrito qual a cor preferida pelas
crianças e por que elas escolhiam essa cor.
No Experimento I um grupo de juízes participou do procedimento
acompanhando somente a sessão de extinção, ou seja, não tiveram acesso à história de
treino a qual as crianças foram expostas antes de serem submetidas à fase de extinção.
Já no Experimento II um grupo de juízes acompanhou todo o treino do comportamento
de escolha das crianças em diferentes esquemas de reforçamento além de
acompanharem também a fase de extinção, enquanto que outro grupo de juízes
acompanhou somente a fase de extinção. Os resultados obtidos nos dois experimentos
ocorreram em função da manipulação destas variáveis.
Os resultados dos dois experimentos quanto à escolha das crianças por uma cor
apontaram que tanto no Experimento I quanto no Experimento II as crianças optaram
pela cor azul, visto que nesta cor foi programado um esquema de reforçamento com a
menor razão fixa dentre as outras opções de cores. Já em relação ao comportamento dos
juízes de explicar o comportamento das crianças, foram criados três critérios para a
classificação das respostas verbais dos juízes. Na alternativa 1) as explicações dos juízes
faziam referência à história passada de treino das crianças; na alternativa 2) as
explicações dos juízes faziam referência apenas a situação presente e não levavam em
consideração a história passada de treino, e por fim; na alternativa 3) as explicações dos
juízes não levavam em consideração nem a história passada nem a situação presente.
Três professores e um aluno analisaram os dados e classificaram as respostas dos juízes
de acordo com um dos critérios apresentados anteriormente.
21
Os resultados do Experimento I apontam que os juízes que tiveram acesso
somente à fase de extinção, ou seja, assistiram somente à situação presente recorreram a
explicações mentalistas para explicar o comportamento das crianças. Já os resultados do
Experimento II mostraram que o grupo de juízes que tinham acesso a toda história de
treino e extinção, explicava o comportamento da criança recorrendo mais à história
passada.
Na discussão os autores deste estudo destacam que, ao observar um
comportamento, o acesso à história de treino, ou seja, às variáveis ambientais que
compõem uma contingência de reforçamento favorece a emissão de explicações
históricas do comportamento e que fazem referência também às variáveis externas.
Também foi ressaltado que a restrição ao acesso à história favorece a emissão de
explicações mentalistas do comportamento.
O segundo estudo analisado: A Functional Analysis of Mentalistic Terms in
Human Observers, foi conduzido por Leigland no ano de 1989. O objetivo desta
pesquisa foi identificar aspectos da relação entre organismo e ambiente que possuam
função discriminativa sobre respostas verbais identificadas como mentalistas. O estudo
foi dividido em dois experimentos com sete estudantes universitários de nível
introdutório em cada experimento. No Experimento I o pombo foi exposto a um
esquema de reforçamento de intervalo fixo 4 minutos (FI 4) com a chave
constantemente iluminada na cor vermelha, com exceção dos três segundos em que o
alimento é apresentado ao pombo. No Experimento II a chave de resposta mantinha-se
vermelha quando o comportamento do pombo era exposto a um esquema de tempo
variável 1,5 minutos (VT 1,5), enquanto que a apresentação da comida era mantida por
um esquema de razão fixa 12 (FR 12) na presença de luz verde na chave de resposta.
Leigland afirma que a escolha do esquema de FI para o Experimento I se deu por
três razões: 1) pela relativa simplicidade deste esquema; 2) por caracteristicamente
produzir responder diferencial ao longo do tempo e 3) por acreditar que este esquema
possa favorecer explicações mentalistas.
Na coleta de dados em ambos os experimentos foi solicitado aos participantes
que observassem o pombo se comportando e em seguida que explicassem o
comportamento, registrando suas respostas por escrito em uma folha de papel além de
sempre enumerar cada vez que fosse registrar alguma explicação nesta folha de registro.
Além disso, foi entregue a cada participante um interruptor de mão e também foi
solicitado que eles apertassem esse interruptor sempre que fossem registrar uma
22
explicação por escrito. Desta forma, com este procedimento foi possível sincronizar o
momento exato no registro cumulativo do responder do pombo que possivelmente teria
controlado a resposta verbal dos participantes de explicar o comportamento do pombo.
Assim, o procedimento permitiu como método de análise o mapeamento das respostas
verbais consideradas mentalistas no registro cumulativo, tornando possível relacionar as
interações entre o pombo, as variáveis que controlam o seu comportamento e o
comportamento verbal do observador participante.
Os resultados desta pesquisa mostraram que no Experimento I o comportamento
do pombo de bicar sob esquema de FI evocou termos mentalistas, enquanto que no
Experimento II o controle discriminativo preciso sobre o responder do pombo em FR
evocou respostas mais descritivas. Leigland discute que o comportamento sob controle
de esquemas de reforçamento complexos pode controlar a emissão de explicações por
meio de termos mentalistas. Já o comportamento sob controle de esquemas de
reforçamento mais precisos e com padrões bem sinalizados pode evocar explicações
descritivas e controlar a emissão de tatos (LEIGLAND 1989).
O terceiro estudo analisado: Um Procedimento para Investigar o que Controla
Respostas Verbais diante de um Comportamento Observado, foi conduzido por Golfeto
e Andery no ano de 2008. O objetivo desta pesquisa foi investigar alguns aspectos em
uma situação de observação que podem evocar respostas verbais que recorram a
condições observáveis (explicações externalistas) ou que podem evocar respostas
verbais que recorram a condições não observáveis (explicações mentalistas). Os
participantes do estudo foram seis adultos com idades entre 25 e 29 anos, quatro
homens e duas mulheres, sendo que todos possuíam formação superior completa em
áreas diversas.
No procedimento, foram utilizados dois pequenos filmes de seis minutos
aproximadamente mostrando uma personagem em cada filme. Na coleta de dados, cada
um dos seis participantes assistiu aos dois filmes individualmente pelo menos uma vez
cada filme. Os relatos de cada participante ao explicar o filme foram gravados em áudio
e depois transcritos pelo experimentador. A personagem clicava o mouse em uma barra
de respostas na tela do computador recebendo pontos. O Personagem I foi exposto a um
esquema múltiplo bem sinalizado de reforçamento VR4 e DRL 10s (constituindo um
filme múltiplo), e o Personagem II foi exposto a um esquema de reforçamento misto
composto por VR4 e DRL 10s (constituindo um filme misto). No filme I quando o
personagem tinha o responder mantido por DRL 10s o botão de respostas na tela do
23
computador permanecia verde e quando o personagem tinha o responder mantido por
VR4 o botão de respostas permanecia azul. Já o filme II quando o personagem tinha o
responder tanto mantido por DRL 10s quanto mantido por VR4 o botão de respostas
permanecia azul.
Na Análise dos dados as descrições das verbalizações foram classificadas em:
V1- condição do personagem mais elemento observável no vídeo; V2- condição
momentânea do personagem; V3- entidade interna do personagem; V4- variáveis
ambientais externas ao personagem; V5- variáveis ambientais fazendo referência
específica a elas; V6- narração de algum aspecto do filme; e V7- remete ao
comportamento do próprio participante. Estas classificações eram ordenadas em
verbalizações internalistas, verbalizações externalistas ou verbalizações que se
remetiam ao comportamento próprio participante. Como resultado as autoras obtiveram
um total de 136 verbalizações apresentadas; 36 verbalizações que remetem ao próprio
participante; 51 verbalizações externalistas; 49 verbalizações internalistas.
De acordo com os resultados obtidos pôde-se concluir que as variáveis presentes
nos filmes múltiplo e misto não foram responsáveis pela emissão de verbalizações
internalistas ou externalistas. Foi discutido que diferentes aspectos dos filmes
controlaram diferencialmente as verbalizações, além de que possa ter havido uma
influência da variabilidade inter-sujeitos devido à história anterior dos participantes.
Em suma, estes três estudos buscaram compreender quais variáveis influenciam o
comportamento de explicar o comportamento por meio de pesquisas empíricas.
Estes três estudos apresentados cumprem o papel de delimitar um campo de
revisão bibliográfica que endossam a pesquisa que será apresentada no próximo
capítulo.
2.2. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DOS RESULTADOS DAS
PESQUISAS EXPERIMENTAIS
Investigar sobre o complexo tema de explicação do comportamento sob a ótica
do Behaviorismo Radical exige: um exame acurado acerca do comportamento verbal; a
constante busca por uma metodologia eficiente na construção de conceitos nesse
âmbito; a análise de estudos de outras áreas do conhecimento; além de respeitar uma
coerência interna própria da ciência do comportamento.
Entretanto, a literatura aponta que há uma carência de investigações desta
natureza na análise do comportamento. Nesse sentido, é possível considerar que a
24
escassez de investigações que recorram ao Método Reno devam ser entendidas como se
segue:
Apesar de uma quantidade considerável de esforço de
investigação por Willard, seus alunos, e seus colegas, o método
Reno foi relativamente pouco usado e realmente pouco
publicado. Por conseguinte, os leitores podem não ter uma
sensação de como o método Reno ou os seus derivados podem
ser proveitosamente implementados (MOORE, 1991, p. 101).
Outro aspecto considerado neste trabalho é que o estudo de Simonassi & cols.
(1984) possui caráter inaugural sobre pesquisas a respeito da explicação do
comportamento. Ela compromete-se com um tipo de metodologia característica do
Método Reno, sem, no entanto, se referir diretamente a este método específico ou estar
diretamente relacionado ao grupo de estudos de Willard Day e seus alunos na
Universidade de Nevada. Não obstante, tanto o estudo de Leigland (1989) quanto o
estudo de Golfeto e Andery (2008) levantam a discussão acerca da peculiaridade da
metodologia, vista como a construção de procedimentos e instrumentos voltados à
noção do Método Reno.
Dois dos estudos analisados controlaram como variável independente o acesso
do participante a ao comportamento de organismos expostos a diferentes esquemas de
reforçamento (LEIGLAND 1989; GOLFETO & ANDERY 2008). Em ambos os
estudos, uma seção era caracterizada pela apresentação ao participante de esquemas
bem sinalizados e que apresentassem o responder bem definido enquanto que outra
parte do estudo era caracterizada pela apresentação de organismos respondendo a
esquemas complexos e com pouca sinalização da contingência a ser respondida. Estas
duas características nos esquemas de reforçamento escolhido pelos pesquisadores
favoreciam explicações distintas do comportamento. Os esquemas bem sinalizados
evocavam explicações externalistas e que recorriam a condições ambientais; e os
esquemas complexos evocavam explicações internalistas tidas como mentalistas e que
recorriam a condições não observáveis como comportamento de explicar o
comportamento.
Outra variável independente apresentada foi o acesso ou o não acesso dos
participantes à história passada de treino (SIMONASSI & cols, 1984). A partir desta
manipulação os autores encontraram dados que permitiram concluir que o acesso às
variáveis ambientais do comportamento favorecia explicações que recorriam à própria
25
história e o não acesso à história de condicionamento favoreciam explicações
mentalistas do comportamento.
Em suma, estes estudos demonstraram que explicações mentalistas do
comportamento podem ser evocadas quando: 1) procedimentos experimentais não
permitam a observação de variáveis ambientais pelos sujeitos da pesquisa e 2)
procedimentos experimentais mostrarem esquemas de reforço que produzam menor
controle discriminativo sobre o comportamento a ser explicado.
Tendo em vista todos esses aspectos em relação a investigações experimentais
que discutam o comportamento de explicar o comportamento, é pertinente ressaltar
também que todo o âmbito da Análise Experimental do Comportamento no que tange a
construção de procedimentos, a organização de instrumentos e a análise de dados voltase ao comportamento do próprio cientista.
Nesse sentido, Skinner propõe que o conceito de ciência pode ser definido como
um conjunto de atitudes, e, em linhas gerais, contingências de reforço as quais
selecionam comportamento, selecionam também comportamentos de cientistas
definindo regras e metodologia científica como comportamento operante. Mais do que
isso, o comportamento do cientista é visto de maneira específica como comportamento
verbal do cientista, visto que Skinner elucida que a comunidade verbal científica foi
responsável por reunir um conjunto de técnicas importantes para o desenvolvimento de
práticas científicas eficazes (SKINNER, 1957/1978). De modo geral, o comportamento
do cientista é função de contingências de reforço arranjadas por uma comunidade verbal
científica que modelam consequências práticas eficazes e compatíveis com um modelo
explicativo de ciência.
Seguindo esse raciocínio, o emprego do Método Reno em pesquisas sobre
comportamento verbal abre possibilidade para uma maior coerência interna do
Behaviorismo Radical e Análise Experimental do Comportamento. Isto se dá, porque
talvez o Método Reno reconheça e admita como procedimento o controle do
comportamento do cientista. Nas palavras de Leigland (1989):
A título de conclusão, as seguintes coisas podem ser ditas sobre
a metodologia em geral: (1) é simples, como é simples de fazer,
requer pouco equipamento, não precisa de transcrição, e
capacita a pessoa a concentrar-se em especificadas unidades
funcionais do comportamento verbal (como "explicação"), (2)
que na verdade, de fato faz certas relações de controle visíveis
com relação ao comportamento verbal, mesmo quando a
26
"dimensão de estímulo" é representado em algo tão simples e
bidimensional como registro cumulativo de pombo, (3) que
também teve o efeito de refinar um pouco o meu próprio
repertório discriminativo em relação à análise funcional do
comportamento verbal comportamento (p. 17).
Nesse sentido, este trabalho justifica-se pelo fato de haver pouca discussão
acerca de estudos experimentais sobre o comportamento de explicar o comportamento,
além de o Método Reno proposto por Day ser também pouco examinado pela
comunidade científica da análise do comportamento. Diante disso, o experimento
abaixo foi proposto.
2.3. OBJETIVOS DA PESQUISA
O presente estudo tem como objetivo geral examinar o controle exercido pelos
conceitos de explicação e descrição sobre as respostas verbais de estudantes com e sem
formação em Análise do Comportamento. Trata-se de uma pesquisa experimental sobre
o comportamento de explicar o comportamento em alunos do curso de psicologia que
participam de atividades com prioridade no enfoque analítico comportamental e em
alunos do curso de psicologia em fase inicial da graduação. Desta forma, esta pesquisa
também visa comparar os dados afim de compreender a regularidade na adoção dos
conceitos de explicação e descrição nestes grupos específicos.
Assim, a variável dependente da pesquisa corresponde ao relato verbal escrito
dos participantes e as condições experimentais, ou seja, as variáveis independentes a
serem manipuladas neste estudo foram: 1) Os dois diferentes níveis de formação dos
participantes do curso de Psicologia; e 2) Os dois tipos de antecedente verbais dados aos
participantes que se diferem em “explique” o comportamento do rato ou “descreva” o
comportamento do rato.
Para tal, o estudo de Leigland (1989), dentre os outros três previamente citados
no capítulo anterior, foi que mais influenciou esta pesquisa. Nesse sentido,
considerando a relevância do estudo de Leigland (1989) acerca do comportamento
verbal e modelos de explicação do comportamento, esta pesquisa pautou-se na
replicação de algumas variáveis importantes em seu estudo. Em primeiro lugar, de
modo geral, assim como no estudo de Leigland a presente pesquisa também se voltou à
investigação de aspectos do comportamento de explicar e descrever o comportamento,
27
ou seja, o modo como a relação entre organismo e ambiente possa exercer função
discriminativa sobre as respostas verbais dos participantes.
Em segundo lugar, o estudo de Leigland (1989) teve como variável
independente uma instrução oferecida aos participantes a qual solicitava que o
comportamento do pombo fosse explicado além de especificar que os participantes
deveriam acionar um aparelho no momento exato em que fossem explicar um
comportamento específico do pombo. Na presente pesquisa, também se tentou controlar
esta variável a fim de comparar as explicações e descrições sobre as respostas emitidas
do organismo. O controle desta variável pôde possibilitar ao pesquisador reconhecer e
analisar qual resposta observada exerceu controle sobre o relato verbal dos
participantes.
3. METODOLOGIA
3.1. PARTICIPANTES
Participaram da pesquisa doze estudantes universitários sendo seis alunos do
primeiro e seis alunos do terceiro, quarto ou quinto ano do curso de Psicologia da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus de Campo Grande. Os
participantes da pesquisa tinham idade entre 20 e 31 anos de idade, dos quais oito eram
do sexo feminino e quatro eram do sexo masculino. Os participantes foram divididos
em quatro grupos com três participantes em cada grupo.
A divisão dos grupos consiste em duas distinções: 1) história de treino com o
Behaviorismo Radical e Análise do Comportamento; e 2) distinção entre a apresentação
dos antecedentes verbais recebidos pelos participantes (explicar ou descrever). Quanto à
formação, os grupos 1 e 2 foram compostos por alunos do primeiro ano do curso de
Psicologia, ou seja, por alunos sem treino em Análise do Comportamento. Os grupos 3 e
4 foram compostos por alunos do terceiro, quarto ou quinto anos do curso de Psicologia
e que passaram por um treino em Análise do Comportamento no decorrer do curso.
Quanto à apresentação das instruções recebidas, os grupos 1 e 3 receberam a instrução
de “explicar” o comportamento e os grupos 2 e 4 receberam a instrução de “descrever”
o comportamento (Tabela 1).
Os participantes dos grupos 1 e 2 foram recrutados por convite feito pelo
coordenador da pesquisa e professor do curso de Psicologia em sala durante uma aula da
turma do primeiro ano do curso de Psicologia da UFMS. Já os participantes dos grupos
28
3 e 4 foram recrutados durante uma reunião do GEPBRAC1 da UFMS. Todos os
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1) que
foi devidamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Humanos da UFMS2.
Neste estudo, considera-se que os participantes sem formação em Análise do
Comportamento (G1 e G2) eram alunos do primeiro ano de graduação e, desta forma,
assistiram somente algumas aulas da disciplina de Fundamentos Epistemológicos e
Históricos - Enfoque Comportamental. Os participantes com formação em Análise do
Comportamento (G3 e G4) eram alunos do terceiro, quarto ou quinto ano de graduação,
e, assim, frequentaram mais disciplinas com conteúdos acerca de processos
comportamentais, além de participarem semanalmente do GEPBRAC (Tabela 2).
Assim, em função de maior controle de variáveis, a coleta de dados foi realizada
primeiro com os participantes dos grupos G3 e G4 em função de que eles participavam
do grupo de estudos, evitando que eles entrassem em contato com o procedimento da
pesquisa.
Tabela 1: Distribuição dos participantes nos grupos quanto ao ano da graduação em que se encontram e
quanto à instrução recebida. Todos os nomes dos participantes são fictícios.
Treino em
Behaviorismo
Grupo
Participantes
Radical e Análise do
Instrução Recebida
Comportamento
G1
G2
G3
G4
Maria
Karin
Ágnes
Jules
Catherine
Jim
Marta
Helena
Miguel
Davi
Manuela
Laura
Sem treino
Explique
Sem treino
Descreva
Com treino
Explique
Com treino
Descreva
1
GEPBRAC é um Grupo de Estudos e Pesquisa em Behaviorismo Radical e Análise do
Comportamento com reuniões semanais que ocorrem na UFMS em Campo Grande no bloco do
Mestrado em Psicologia.
2
Projeto aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa em 13/09/2012 (protocolo
CAAE: 06664112.6.0000.0021).
29
Tabela 2: Disciplinas frequentadas pelos alunos do curso de Psicologia da UFMS.
Ano do
curso de
Primeiro
Segundo
Terceiro
Quarto
Quinto
Fundamentos
Fenômenos e
Fenômenos e
Análise
Estágio
Epistemológicos
Processos
Processos
Comportamental
Supervisionado
e Históricos -
Psicológicos -
Psicológicos -
Aplicada
Psicologia
Disciplinas
Enfoque
Enfoque
Enfoque
Comportamental
Comportamental
Comportamental II
I
Conteúdos
Reconstrução
Processos
Comportamento
Análise
Análise
Epistemológica e
Básicos como:
Verbal, Emoção,
Funcional de
Funcional feita
Histórica do
Reforço,
Autoconhecimento,
Comportamento
sob supervisão
Behaviorismo de
Punição,
Autocontrole.
em Contextos
do docente
Watson a
Modelagem,
Skinner.
Extinção.
Sociais.
3.2. LOCAL
Os dados foram coletados na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, no
Laboratório de Psicologia em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O laboratório é uma
sala grande sem janelas, com condicionador de ar e bem iluminada. Na sala continha
algumas cadeiras enfileiradas, uma caixa experimental sobre uma mesa e um
computador. A coleta de dados dos participantes foi feita utilizando uma mesa sobre a
qual estava um computador portátil e uma carteira escolar com suporte para apoiar o
braço.
3.3. MATERIAIS E EQUIPAMENTOS
Nesta pesquisa foram utilizadas: Folhas de papel A4 com instruções impressas,
folhas de papel A4 com numeração e com linhas para o registro das respostas dos
participantes (Anexo 2), canetas, mesa e cadeiras.
Também foram utilizados: uma câmera filmadora, um tripé, uma caixa experimental
e um rato branco ingênuo para a produção do vídeo como instrumento desta pesquisa,
além de um computador da marca HP Pavilion DV6-3152NR, para a reprodução do
vídeo aos participantes na coleta dos dados.
30
3.4. PRODUÇÃO DO VÍDEO
Como instrumento desta pesquisa foi utilizado um vídeo de dez minutos de
duração o qual mostrava um rato albino dentro de uma caixa experimental de uma barra
respondendo sob esquema de reforço de intervalo fixo de 40 segundos. O vídeo que foi
empregado na coleta de dados foi produzido pelos próprios pesquisadores no
Laboratório de Psicologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
Para a produção do vídeo foi necessário cumprir uma etapa preliminar a qual
corresponde à modelagem da resposta de pressão à barra e o fortalecimento da resposta
de pressão à barra em esquema de reforçamento contínuo. Depois de estabelecida a
resposta de pressão à barra, o responder passou a ser reforçado em esquema de intervalo
fixo de 40 segundos (FI 40 s). Utilizou-se nesta pesquisa o esquema em intervalo fixo
devido à discussão de Leigland (1989) acerca da influência dos diferentes tipos dos
esquemas de reforçamento sobre o comportamento de explicar. De acordo com o autor,
o esquema de FI, por não possibilitar uma distinção tão clara da contingência à qual o
organismo responde, favorece o surgimento de explicações mentalistas.
Assim que foi atingido o fortalecimento das respostas em FI 40 s como dado
estável, a frequência de respostas passou a ser filmada utilizando-se de uma câmera
fotográfica e filmadora digital SLR da marca Samsung. A câmera foi colocada em um
tripé frente à caixa de Skinner, permitindo que o rato e todo o ambiente da caixa fossem
filmados com nitidez. O vídeo com o rato se comportando teve um contador de tempo
em forma de cronômetro do próprio programa de exibição do vídeo pelo computador na
parte inferior da tela. A partir do desempenho do rato, foi possível construir um gráfico
o qual será utilizado na análise de dados (Figura 1).
31
Figura 1. Frequência acumulada do registro cumulativo do desempenho do rato respondendo
em esquema de FI 40s.
3.5. SITUAÇÃO EXPERIMENTAL
Durante as sessões experimentais, os participantes permaneciam sentados em
uma cadeira com suporte para apoiar o braço e posicionavam-se de frente para uma
mesa sobre a qual estava um computador portátil. Após sentar-se, era entregue ao
participante uma folha contendo a instrução e as folhas para o registro das respostas. A
pesquisadora informava ao participante que ela iria ler a instrução e pedia a ele que
acompanhasse a leitura pela folha que lhe foi entregue. Ao final da leitura da instrução,
a pesquisadora perguntava se havia alguma dúvida e, se houvesse, uma releitura da
instrução era feita. Após a leitura da instrução, o vídeo era iniciado no computador
sendo que não foi permitido fazer pausas no vídeo para que o participante anotasse suas
respostas.
Os dados foram coletados pela pesquisadora e por um auxiliar de pesquisa,
ambos mestrandos do programa de pós-graduação em Psicologia. A função dos dois
experimentadores tinham a mesma tarefa de registrar, de acordo com o tempo exibido
no vídeo, o momento exato no qual o participante verbalizava o número correspondente
à sua resposta na folha para posterior cálculo de fidedignidade dos registros. Durante a
coleta de dados, os experimentadores permaneciam em pé atrás do participante para
32
anotar o tempo no qual ele registrava suas respostas na folha. A sessão experimental
encerrava-se quando o participante entregava as folhas aos pesquisadores.
3.6. PROCEDIMENTO
Antes de assistirem ao vídeo, os participantes de cada grupo receberam duas
folhas de papel anexadas uma à outra. A primeira folha continha instruções sobre o
experimento, a segunda folha continha espaços destinados às respostas dos
participantes. Cada um dos participantes dos quatro grupos assistiu, separadamente, à
exibição de um mesmo vídeo mostrando um rato respondendo à contingência de
reforçamento no esquema FI 40s.
A primeira folha com a instrução aos participantes foi de dois tipos: um tipo de
instrução solicitou que os participantes “explicassem” o comportamento do rato; o outro
tipo de instrução solicitou que os participantes “descrevessem” o comportamento do
rato. As duas instruções foram adaptadas da instrução oferecida aos participantes do
estudo de Leigland (1989). Com exceção das palavras “explicar”, “explicá-lo” e
“explicações” na primeira instrução substituídas pelas palavras “descrever”, “descrevêlo”, e “descrições” na segunda instrução, ambas as instruções eram idênticas.
Instrução ao G1 e G3 (explicação): O grupo 1 e o grupo 3 receberam do
experimentador a seguinte instrução (adaptadas de LEIGLAND, 1989):
Neste estudo, a sua tarefa é assistir ao vídeo que será apresentado no qual
mostrará um rato pressionando uma pequena barra dentro da caixa, onde
ocasionalmente, uma gota de água será disponibilizada abaixo dessa barra. Você
deverá explicar o comportamento do rato da maneira como achar melhor. Você pode
usar qualquer tipo de explicação para o comportamento do rato de pressionar a barra
usando os termos e frases que preferir. Poderá escrever uma frase, ou duas, ou
escrever palavras, da maneira como gosta e não precisará preencher todas as linhas
destinadas à resposta, escreva o quanto você preferir. Você deverá anotar as suas
explicações na folha anexada a esta que está lendo.
É muito importante que no primeiro momento que você for explicar, antes de
anotar no papel sua primeira resposta, você diga o número 01 (um) em voz alta e
somente depois escreva sua resposta no espaço com as linhas ao lado do número 01.
Então, na sua próxima resposta você deverá dizer o número 02 (dois) em voz alta e
depois escrevê-la ao lado do número 02, e assim até o número 10 correspondente à
folha com os espaços para as anotações.
33
Instrução ao G2 e G4 (descrição): O grupo 2 e o grupo 4 receberam a seguinte
instrução (adaptadas de LEIGLAND, 1989):
Neste estudo, a sua tarefa é assistir ao vídeo que será apresentado no qual
mostrará um rato pressionando uma pequena barra dentro da caixa, onde
ocasionalmente, uma gota de água será disponibilizada abaixo dessa barra. Você
deverá descrever o comportamento do rato da maneira como achar melhor. Você pode
usar qualquer tipo de descrição para o comportamento do rato de pressionar a barra
usando os termos e frases que preferir. Poderá escrever uma frase, ou duas, ou
escrever palavras, da maneira como gosta e não precisará preencher todas as linhas
destinadas à resposta, escreva o quanto você preferir. Você deverá anotar as suas
descrições na folha anexada a esta que está lendo.
É muito importante que no primeiro momento que você for descrever, antes de
anotar no papel sua primeira resposta, você diga o número 01 (um) em voz alta e
somente depois escreva sua resposta no espaço com as linhas ao lado do número 01.
Então, na sua próxima resposta você deverá dizer o número 02 (dois) em voz alta e
depois escrevê-la ao lado do número 02, e assim até o número 10 correspondente à
folha com os espaços para as anotações.
Foi solicitado aos participantes que, enquanto estivessem assistindo ao vídeo, no
momento de sua preferência, na primeira resposta deveriam falar em voz alta o número
01 e responder no espaço destinado ao número 01. Assim, cada resposta do participante
pôde ser escrita no espaço correspondente ao número de respostas que já foram escritas.
Também foi divulgado que não haveria interrupção do vídeo enquanto os participantes
registravam suas respostas na folha de registro. Desta forma, assim que o participante
falasse o número que correspondesse à sua resposta, os experimentadores tinham como
controlar a correspondência entre o momento do vídeo que foi investigado pelos
participantes e o comportamento do rato nesta contingência específica.
3.7. CATEGORIZAÇÃO DAS RESPOSTAS DOS PARTICIPANTES
Para que as respostas verbais dos participantes fossem analisadas, foi necessário
cumprir algumas etapas anteriormente. Em um primeiro momento, os experimentadores
compararam os registros das verbalizações dos participantes em relação ao tempo
exibido pelo cronômetro na tela na qual o vídeo do rato foi exibido. Com este
34
procedimento de comparação foi encontrada a diferença de no máximo dois segundos
entre os valores marcados por cada experimentador.
Outra etapa que antecedeu a análise dos dados foi a de selecionar e organizar as
verbalizações dos participantes em forma de categorias. Inicialmente, as respostas
verbais foram reunidas em relação aos grupos aos quais cada participante pertencia.
Após isso, todas as verbalizações foram classificadas por um experimentador em
explicações mentalistas e explicações que faziam referência à história. Em seguida,
todas as verbalizações foram discutidas e reclassificadas levando em consideração a
análise de um segundo experimentador sobre estas classificações anteriores e a
concordância entre os dois experimentadores.
Para a análise dos dados, foi considerada como uma verbalização cada resposta
escrita pelo participante nos espaços destinados na folha de registro. Dessa forma, cada
participante poderia registrar no máximo dez verbalizações ao todo, as quais foram
analisadas e classificadas em uma única categoria.
Foram propostas três grandes categorias de acordo com as próprias respostas
obtidas em relação à explicação do comportamento observado (adaptadas de GOLFETO
& ANDERY, 2008): 1) Explicações Mentalistas; 2) Explicações Históricas e 3)
Verbalização com alusão à topografia de resposta.
A categoria de Explicações Mentalistas foi subdividida em: 1-A) verbalizações
que explicam referindo-se à intencionalidade, ou seja, explicações teleológicas voltadas
para o futuro; 1-B) verbalizações que explicam supondo um processo ou entidade
interna, ou seja, explicações que fazem referência a um agente iniciador ou a causas
mentais; e 1-C) verbalizações que tratavam do comportamento do próprio participante,
ou seja, o participante faz referência ao seu comportamento como explicação para o
comportamento do rato. Por outro lado, a categoria de Explicações Históricas foi
subdividida em: 2-A)verbalizações que explicitam contingências de reforço, ou seja,
verbalizações que fazem análise funcional entre eventos ambientais e eventos
comportamentais; e 2-B) verbalizações que se baseiam na história prévia com a teoria
consequencialista skinneriana ou com a prática de laboratório, ou seja, explicações
controladas por antecedentes verbais da história do participante com a teoria, isto é, um
intraverbal. A categoria 3) Topografia de Resposta inclui verbalizações que explicam o
comportamento por meio de termos que especifiquem somente a forma da resposta do
rato. Exemplificando, têm-se as seguintes situações (Tabela 3):
35
Tabela 3: Exemplos de categorias de explicações para a análise dos dados.
1) EXPLICAÇÕES
MENTALISTAS
2) EXPLICAÇÕES
HISTÓRICAS
A) Intencionalidade
A) Contingências de Reforço
(Ex: O rato pressiona para obter
água.)
(Ex: O rato foi condicionado a
responder em esquema intermitente,
pois apresenta alto nível de
respostas.)
B) Processo ou entidade interna
B) História prévia com a
teoria/laboratório
3) TOPOGRAFIA DE
RESPOSTA
(Ex: Pressiona a barra, bebe, cheira,
fareja, morde.)
(Ex: O rato estava estressado.)
(Ex: Provavelmente o rato já foi
condicionado antes; a razão fixa vai
sendo alterada.)
-
-
-
C) Comportamento do próprio
participante (autoclítico)
(Ex: Eu não sei especificamente qual
é esse comportamento do rato;
Parece-me que foi condicionado.)
36
4. RESULTADOS
4.1. NÚMERO VERBALIZAÇÕES DOS PARTICIPANTES
Foi contabilizado o número total de verbalizações dos grupos G1 e G2
(participantes do primeiro ano), G3 e G4 e representados em gráfico. A Figura 2 aponta
que houve variação entre grupos G1 e G2 em relação à quantidade de respostas verbais
emitidas pelos participantes. Os participantes do grupo G1 (explicar/sem formação em
Análise do Comportamento) emitiram maior número de verbalizações, máximo dez
verbalizações e mínimo de oito verbalizações, em comparação ao grupo G2
(descrever/sem formação em Análise do Comportamento) que emitiram no máximo dez
e no mínimo quatro verbalizações.
DESCREVER
Número de Respostas
EXPLICAR
Participantes por Grupo
Figura 2. Número de verbalizações emitidas por participante (nomes fictícios) nos grupos G1 e
G2.
A Figura 3 demonstra que os participantes do G3 (explicar/com formação em
Análise do Comportamento) emitiram no máximo oito verbalizações e no mínimo
37
quatro. Entretanto, todos os participantes do G4 (descrever/com formação em Análise
do Comportamento), emitiram o total de dez verbalizações estipuladas no experimento.
DESCREVER
Número de Respostas
EXPLICAR
Participantes por Grupo
Figura 3. Número de verbalizações emitidas por participante (nomes fictícios) nos grupos G3 e
G4.
Os participantes dos grupos G1 e G2 não apresentaram números de
verbalizações muito distintas entre si, o que talvez permitiria afirmar que as instruções
de explicar ou descrever não exerceram tanto controle em relação à quantidade de
repostas. Entretanto, visto que nos grupos G3 e G4 a única variável controlada que se
diferenciou foi a instrução
, provavelmente a distinção entre os dois
conceitos em cada grupo exerceram controle sobre a quantidade de verbalizações
apresentadas.
Outro tipo de análise foi feita em relação aos grupos que receberam o mesmo
tipo de instrução. Os grupos G1 e G3 os quais receberam a instrução de explicar
apresentaram distinções quanto ao número de respostas emitidas (Figura 04). Os
participantes do grupo G1 apresentaram no máximo dez verbalizações e no mínimo
oito. Já os participantes do grupo G3 apresentaram no máximo oito e no mínimo quatro
verbalizações.
38
Explicar
Com treino
Número de Respostas
Explicar
Sem treino
Participantes por Grupo
Figura 4. Número de verbalizações emitidas por participante (nomes fictícios) nos grupos G1 e
G3.
O mesmo tipo de análise foi feita também em relação aos outros dois grupos. Os
grupos G2 e G4 os quais receberam a instrução de descrever apresentaram distinções
quanto ao número de respostas emitidas (Figura 05). Os participantes do grupo G2
apresentaram no máximo dez verbalizações e no mínimo quatro. Enquanto que os
participantes do grupo G4 apresentaram no máximo dez e no mínimo nove
verbalizações.
39
Descrever
Com treino
Número de Respostas
Descrever
Sem treino
Participantes por Grupo
Figura 5. Número de verbalizações emitidas por participante (nomes fictícios) nos grupos G2 e
G4.
4.1. CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS
DAS
VERBALIZAÇÕES
EM
RELAÇÃO
ÀS
As respostas dos participantes dos grupos G1, G2, G3 e G4 foram também
classificadas de acordo com as categorias já mencionadas e exibidas nos gráficos a
seguir (Figura 6, Figura 7, Figura 8 e Figura 9). Os participantes do Grupo 1 (Figura 6)
verbalizaram onze respostas mentalistas, uma resposta remetendo à história e dezesseis
topografias. Os participantes do grupo G2 (Figura 7) apresentaram quinze verbalizações
mentalistas e seis topográficas.
Número de Respostas
40
Categorias por Participantes
Número de Respostas
Figura 6. Distribuição das respostas dos participantes do grupo G1 quanto às categorias.
Categorias por Participantes
Figura 7. Distribuição das respostas dos participantes do grupo G2 quanto às categorias.
41
Os participantes do Grupo 3 (Figura 8) verbalizaram sete respostas
mentalistas, cinco respostas remetendo à história e seis verbalizações topográficas. Os
participantes do grupo G4 (Figura 9) apresentaram duas verbalizações mentalistas e
Número de Respostas
vinte e oito topográficas.
Categorias por Participantes
Número de Respostas
Figura 8. Distribuição das respostas dos participantes do grupo G3 quanto às categorias.
Categorias por Participantes
Figura 9. Distribuição das respostas dos participantes do grupo G4 quanto à categoria de
explicação do comportamento do rato.
42
4.2. DISTRIBUIÇÃO DAS VERBALIZAÇÕES POR PARTICIPANTE DE
ACORDO COM O REGISTRO CUMULATIVO DO DESEMPENHO DO RATO
Após serem classificadas e agrupadas, as respostas dos participantes foram
distribuídas em gráficos com o registro cumulativo do desempenho do rato apresentado
no vídeo. Esta distribuição foi realizada utilizando-se dos valores registrados em
comum pelos dois experimentadores em relação ao tempo exibido no cronômetro do
vídeo no momento em que cada participante escrevia sua resposta. Os minutos e
segundos nos quais os participantes registraram suas respostas e cada explicação
atribuída ao comportamento do rato neste exato momento foram sobrepostos ao gráfico
de desempenho do rato.
Verbalizações do grupo G1:
A participante Maria emitiu oito verbalizações das quais sete foram no período
de pausa pós-reforço do responder do rato no vídeo (Figura 10). Dentre as categorias,
quatro verbalizações da participante Maria foram topografias de resposta e quatro foram
explicações mentalistas.A última verbalização de Maria: "Ele associou o pressionar à
barra com o barulho em seguida a ter água" foi a única verbalização que parece ter sido
controlada pelas respostas de pressão à barra pelo rato e, mesmo sendo mentalista,
também foi a verbalização mais próxima de uma explicação histórica e contingencial.
A participante Karin apresentou ao todo dez verbalizações, das quais nove foram
topografias de resposta, por exemplo: "Pressiona a barra e lambe" e uma verbalização
foi explicação mentalista, por exemplo: "O rato pressiona a barra e lambe
desesperadamente" (Figura 11). Seis verbalizações ocorreram no período de pausa pósreforço e quatro foram no momento em que o rato pressionava a barra.
A participante Ágnes emitiu dez verbalizações (Figura 12), sendo seis de
categoria mentalista, por exemplo: "Repete o comportamento para beber"; três
topografias de respostas, por exemplo: "Pára, coça, defeca e segue pressionando a
barra"; e uma verbalização histórica. A verbalização: "Está condicionado a receber água
43
quando pressiona a barra" foi considerada como uma explicação que remete à
contingência de reforço.
44
45
46
47
Verbalizações do grupo G2:
O participante Jules emitiu dez verbalizações, as quais seis foram topografias de
respostas, tais como: "O rato pressiona a barra com o focinho" e quatro foram
explicações mentalistas (Figura 13). Das verbalizações, cinco foram no período de
pausa pós-reforço e cinco no momento em que o rato pressionava a barra. Das seis falas
topográficas, três ocorreram em períodos de pausa pós-reforço e três ocorreram no
momento em que o reforço seria disponibilizado. Respostas do tipo: "Pressiona a barra
com certo vigor" ou "Pressiona a barra desesperadamente" apareceram antes do
momento em que o reforço estaria disponível após a pressão à barra.
A participante Catherine emitiu sete verbalizações, todas de categoria mentalista,
por exemplo: "Ele consegue beber água e quando afastar-se da alavanca, repete o
processo para conseguir mais água" (Figura 14). As verbalizações ocorreram em
momentos distintos, sendo três no período de pausa pós-reforço e quatro no momento
em que o rato pressionava a barra.
O participante Jim (Figura 15) emitiu quatro verbalizações, todas categorizadas
como mentalistas. Três verbalizações ocorreram em períodos de pausa pós-reforço e
uma verbalização ocorreu no período de responder do rato.
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51
Verbalizações do grupo G3:
A participante Marta emitiu ao todo quatro verbalizações (Figura 16). Uma
verbalização classificada como mentalista e com intencionalidade (1A) ocorreu na
primeira pausa pós-reforço: “o rato explora a caixa em busca do reforço (água).” A
participante também emitiu três verbalizações classificadas como referentes à história
(2A e 2B) em outros momentos de pausa pós-reforço, tais como: "Provavelmente a
pressão à barra já não está mais liberando a gota d água pois o rato explorou toda caixa,
cheirou diferentes áreas, mordeu a barra, ou seja, variou seu comportamento."
A participante Helena emitiu ao todo, seis verbalizações (Figura 17). Deste total,
três verbalizações foram da categoria mentalista e intencional (1A): uma verbalização
ocorreu no momento do aumento da frequência do responder do rato devido ao processo
de discriminação do esquema de tempo e as outras duas verbalizações ocorreram
durante a pausa pós-reforço. Helena também emitiu uma verbalização categorizada em
mentalista que supõe uma entidade mental (1B) a qual correspondeu ao momento no
qual o rato recebeu o reforço. A participante emitiu uma única verbalização com
característica histórica de contingência de reforço (2A) no período de pausa pós-reforço.
Foi identificada uma resposta classificada como topografia de resposta como sua última
explicação também durante a baixa frequência de respostas do rato.
O participante Miguel respondeu ao todo oito vezes sob controle do
comportamento do rato no vídeo (Figura 18). Sua primeira verbalização categorizada
como mentalista e intencional (1A) deu-se no momento em que o comportamento do
rato de pressionar a barra foi consequenciado. Miguel também emitiu uma verbalização
classificada como história prévia com a teoria (2B), visto que este participante havia
entrado em contato com a prática de laboratório experimental. O participante emitiu
outras cinco verbalizações categorizadas como topografia de resposta (3) que ocorriam
em momentos distintos em relação ao desempenho do animal. Miguel também
verbalizou uma resposta definida como comportamento do próprio participante (1C) no
momento em que a resposta do rato é reforçada.
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Verbalizações do grupo G4:
O participante Davi (Figura 19) emitiu dez verbalizações, sendo que a maioria
delas concentrou-se nos primeiros minutos do desempenho do rato. Todas as suas
respostas foram classificadas como emissão de topografia de resposta (3) e elas
ocorreram em função das diferentes respostas do animal, ou seja, as verbalizações
ocorreram no momento em que o rato apresentava diferentes topografias de resposta do
esquema de intervalo fixo. O participante verbalizou topografias tais como: “bebe água,
fareja, morde a barra, defeca (...)”. Os dados do participante Davi também poderiam ser
identificados com a categoria de história de laboratório experimental (2B) visto que este
participante já havia feito a disciplina com a prática em laboratório e uma das etapas era
a de identificar topografia de resposta, entretanto, as respostas de Davi ocorreram, em
maior parte, pelo responder do rato no vídeo.
A participante Manuela (Figura 20) emitiu dez verbalizações, das quais somente
uma não se encontrava na categoria de topografia de resposta. A primeira resposta da
participante foi do tipo mentalista e intencional (1A) a qual ocorreu no momento da
primeira pausa pós-reforço apresentada no vídeo. Esta verbalização também apresentou
características de topografia de resposta, porém, enfatizou que o rato “buscou a
obtenção de reforço (água)”. As outras nove verbalizações de Manuela descreveram a
topografia de resposta do rato e foram distribuídas de maneira regular durante todo o
vídeo com o desempenho. Das nove verbalizações do tipo 3), sete delas ocorreram no
momento de aumento na frequência de respostas do rato no vídeo e descritas como:
“pressiona a barra insistentemente; pressiona a barra repetidamente.”
Os resultados também apontaram que a participante Laura (Figura 21) emitiu
dez verbalizações, das quais nove foram classificadas como topografia de resposta (3) e
uma foi classificada como comportamento do próprio participante (1C). As respostas de
descrever topografia ocorreram em momentos distintos do responder em esquema de
intervalo fixo. Já a verbalização (1C) se deu no momento de aumento da frequência de
resposta no rato, sendo também, a última verbalização da participante, a qual preencheu
mais linhas da folha de respostas, formando frases inteiras de descrição. Laura finaliza
suas descrições e descreve o comportamento do rato afirmando que: “apenas três foram
os comportamentos observados por mim (...)”.
55
56
57
58
7. DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi examinar o controle exercido pelos conceitos de
explicação e descrição sobre as respostas verbais de estudantes com treino e sem treino
em Análise do Comportamento. Para tal, foram apresentadas instruções de explicar ou
descrever a estudantes de Psicologia e foi averiguado se esses conceitos poderiam afetar
o comportamento de explicar o comportamento. Os resultados apontaram que, de
maneira geral, os participantes do grupo G1 apresentaram em sua a maioria
verbalizações topográficas; já os participantes do grupo G2,apresentaram maior número
de verbalizações mentalistas. Os participantes do grupo G3 apresentaram em sua
maioria verbalizações mentalistas, entretanto, o grupo apresentou maior número de
verbalizações históricas em comparação com os outros três grupos. Os participantes do
grupo G4 apresentaram a maioria de respostas topográficas.
Nesta pesquisa, foram adotadas algumas categorias a fim de classificar as
verbalizações dos participantes, as quais se embasaram nas categorias adotadas no
estudo de Golfeto e Andery (2008). Contudo, no presente estudo, verbalizações como
“pressiona a barra para conseguir água” foram classificadas na categoria mentalista por
se referir a uma intenção. Entretanto, esta verbalização poderia ser apenas uma
afirmação do participante de fatos que se sucedem em uma dada cronologia. Nesse
sentido, verbalizações deste tipo foram classificadas como mentalismo visto que para o
ouvinte é a topografia que importa.
No grupo G1 não foi possível identificar alguma regularidade entre a relação de
instrução de explicar e as respostas de explicar o comportamento do rato. Cada
participante apresentou um padrão bastante distinto, o que permite afirmar que haviam
outras variáveis as quais controlaram o comportamento de explicar o comportamento do
rato nos participantes do grupo G1. De acordo com os dados, a instrução de explicar
pode ter evocado respostas topográficas neste grupo, pois, houve mais verbalizações
que enfatizaram a topografia de respostas do rato.
Já os participantes do grupo G2 emitiram muitas explicações mentalistas diante
da instrução de descrever, entretanto, somente o participante Jules verbalizou mais
topografias de resposta em relação a explicações mentalistas. O participante Jim utilizou
alguns termos específicos da Análise do Comportamento, entretanto, como no momento
da coleta de dados a participante ainda não havia tido contato com disciplina de Análise
Experimental do Comportamento com a prática de laboratório, é provável que a
59
verbalização seria do tipo intraverbal, pois o controle pode não ter sido o próprio
responder do rato, mas alguma leitura ou a fala de colegas ou professores.
Estes resultados mostram que possivelmente as instruções diferenciadas para
cada grupo poderiam ter controlado respostas semelhantes em ambos os grupos, visto
que estes participantes ainda não foram expostos a disciplinas específicas em Análise do
Comportamento. Ou seja, as instruções de explicar ou descrever não seriam estímulos
discriminativos para a explicação do comportamento por meio de contingências de
reforço.
Os resultados do grupo G3 apontam que a instrução de explicar o
comportamento evocou respostas mentalistas, mas também respostas históricas com
base na contingência de reforço. Diante desta instrução, todos os participantes emitiram,
pelo menos, uma resposta de explicação histórica. Já os participantes do grupo G4,
diante da instrução de descrever o comportamento, não emitiram nenhuma explicação
histórica e, ao contrário emitiram respostas topográficas. Nesse caso, a instrução de
"descrever" parece ter direcionado a resposta verbal para um controle discriminativo
pela topografia da resposta observada. Nesse sentido, verbalizações deste tipo não
implicam em explicações visto que não relacionam funcionalmente os fenômenos.
Nos grupos G1 e G2 as verbalizações foram em sua maioria mentalistas ou
topográficas. Talvez seja possível afirmar que, devido a falta de conhecimento da teoria
os participantes destes grupos verbalizaram sob controle de sua história de vida
mentalista devido à influência cultural. Já nos grupos G3 e G4 já é possível perceber
algumas verbalizações controladas pela história na graduação e com a Análise do
Comportamento. Comparando estes resultados, talvez seja possível afirmar que as
instruções distintas tenham controlado as verbalizações tanto mentalistas e históricas no
grupo G3, quanto verbalizações com ênfase na topografia no grupo G4.
No grupo G3 algumas verbalizações dos participantes são descrições de
contingências de reforçamento. Os participantes do grupo G4, mesmo apresentando
verbalizações topográficas, possivelmente tiveram suas respostas controladas pela
história com a disciplina de Análise Experimental do Comportamento, na qual os alunos
têm modeladas as suas respostas de observarem o nível operante dos animais na caixa
experimental.
De maneira geral, os grupos com participantes sem formação em Análise do
Comportamento apresentaram verbalizações mentalistas e topográficas. Entretanto, os
participantes do grupo G3 com formação em Análise do Comportamento, quando
60
solicitados a explicar o comportamento do rato, apresentaram baixas taxas de resposta,
além de apresentarem verbalizações mentalistas em sua maioria e algumas explicações
por meio de contingência de reforço. Os participantes do grupo G4 com formação em
Análise do Comportamento e solicitados a descrever o comportamento do rato emitiram
verbalizações topográficas em sua maioria, ou seja, não apresentaram descrições de
contingência de reforço conforme o Behaviorismo Radical.
Os termos "descrição" e "explicação" na ciência possuem muitos sentidos, assim
como no senso comum. Alguns usos desses conceitos pelos participantes estiveram
aparentemente voltados mais ao uso comum do termo, como normalmente são
empregados no cotidiano. Já no uso científico, especialmente na Análise do
Comportamento, esses conceitos adquirem função discriminativa após inúmeras
exposições do aluno aos diferentes usos deles. Desse modo, um conceito científico,
como o de descrição e explicação, se mostra impregnado de teoria. O aluno que não
entrou suficientemente em contato com esses conceitos em diferentes contextos em uma
teoria, na sua ausência, irá comportar-se com seu repertório disponível, que antecede
aos usos científicos, e, portanto, fará uso comum desses termos.
Esta pesquisa não tomou a noção de dados puros, concepção contrária ao
behaviorista radical, mas concebe a interpretação de pesquisadores acerca desses dados.
Assim, talvez a discussão acerca dos resultados seja produto de múltiplas variáveis que
afetam a resposta de análise da pesquisadora. Nesse ponto, a pesquisa também se volta
para a discussão sobre Método Reno e para noção de ciência como atividade humana.
O Método Reno serviu como pano de fundo deste trabalho, pois a pesquisa de
Leigland (1989), a qual foi replicada aqui, fez parte do cenário em que discussões
acerca da influência do pesquisador sobre o que é pesquisado eram a temática central.
Nesta perspectiva, a dicotomia entre sujeito-objeto é dissolvida, e o autor da pesquisa já
não se vê isento de múltiplas variáveis que exercem controle sobre o seu próprio
comportamento de pesquisar.
Esta pesquisa apresentou algumas limitações, uma delas seria em relação ao
método. A escolha das categorias (GOLFETO e ANDERY, 2008), possivelmente,
reduziram as análise das verbalizações dos participantes, visto que elas só poderiam ser
classificadas de acordo com as três categorias (mentalistas, históricas e topográficas). O
método de análise desta pesquisa também foi influenciado pelo método de Leigland
(1989). Em seu trabalho, Leigland verificou, em primeiro lugar, a frequência de
verbalizações mentalistas dos participantes, além de verificar também, em segundo
61
lugar, o momento do responder do rato o qual exerceu controle sobre o responder dos
participantes. Sobre este ponto, Leigland (1989) utilizou um aparato experimental que
possibilitou o controle exato do momento em que os participantes propuseram-se a
explicar o comportamento do rato. Já nesta pesquisa, optou-se por expor o cronômetro
na tela na qual o vídeo foi exibido. Sugere-se que outras replicações sejam feitas a fim
de controlar outras variáveis que não foram controladas nesta pesquisa, como por
exemplo, registrar as respostas dos participantes por meio de vídeo, ao invés de solicitar
que escrevessem as verbalizações enquanto assistiam ao vídeo.
O controle da variável independente: controle do momento que parece ter
controlado a verbalização, foi relevante para que o segundo tipo de análise dos dados
fosse concluído. Nesta etapa, Leigland (1989) propôs que esquemas de reforçamento de
intervalo fixo evocariam maior número de respostas mentalistas. Desta forma, foi
determinante conhecer o momento em que a resposta do rato controlou a resposta de
explicar dos participantes, a fim de descrever relações entre comportamento sob
esquema de intervalo fixo e explicações mentalistas.
Em síntese, o resultado geral mostra que a história pessoal (com treino em
Análise do Comportamento e sem treino em Análise do Comportamento) influencia o
comportamento de explicar o comportamento, apoiando os dados encontrados por
Simonassi & cols (1984). Também foi possível notar que quando a contingência não
está tão clara, como no caso do esquema de intervalo fixo, a probabilidade de explicar o
comportamento remetendo-se a mentalismos é maior, conforme já apontado por
Leigland (1989).
Este trabalho propôs-se também a construir uma meta-análise acerca da
construção do conhecimento na graduação em Psicologia. Mais especificamente, este
trabalho volta-se à compreensão de conceitos por alunos que possivelmente participarão
da comunidade científica da Análise do Comportamento. Não obstante, faz-se
importante executar pesquisas que se voltam à própria comunidade acadêmica, visto que
o conceito de ciência é tido como comportamento do cientista (Skinner, 1957/1978).
Contudo, talvez não seja possível afirmar até que ponto a escolha dos
participantes no grupo de estudos e pesquisa tenha facilitado entender os conceitos de
explicação e descrição na comunidade da Análise do Comportamento. Talvez outros
estudos desse tipo realizados com mestrandos ou professores de graduação em
Psicologia lancem luz à questão sobre como entende-se a noção de explicar em uma
filosofia behaviorista radical.
62
Nesse sentido, é imprescindível que haja uma discussão acerca do papel
do docente no curso de Psicologia, e neste caso específico, do docente em disciplinas de
Análise do Comportamento. Investigações deste tipo elucidam a necessidade de futuras
pesquisas acerca de processos de aprendizagem e modelagem de comportamentos
específicos em estudantes universitários e, possivelmente, futuros analistas do
comportamento.
Estudos assim voltam-se para discussões sobre a responsabilidade e a ética ao
aderir a uma metodologia empregada no curso de Psicologia, pois a disseminação desta
ciência feita de maneira não dogmática é fruto, antes de tudo, do comportamento de
professores e alunos de Psicologia. Neste contexto, compreendendo que pesquisas
sejam realizadas sobre comportamento de pessoas que participam de contingências
acadêmicas, Skinner elucida a noção de comportamento:
O comportamento é uma matéria difícil, não porque seja inacessível,
mas porque é extremamente complexo. Desde que é um processo, e
não uma coisa, não pode ser facilmente imobilizado para observação.
É mutável, fluido e evanescente, e, por essa razão, demanda grande
exigência técnica da engenhosidade e energia do cientista (Skinner,
1953/1998, p. 16).
Por fim, a necessidade de compreensão da formação do cientista e das variáveis
que a influenciam se mostram importantes para a comunidade da Análise do
Comportamento e, provavelmente, para outras comunidades científicas. Seria
precipitado, no entanto, dizer que essa atividade envolve apenas o conhecimento de
regras metodológicas aprendidas na graduação. Revisões conceituais e pesquisas sobre
o comportamento do cientista ainda são muito escassas, entretanto, muito relevantes
para que a o comportamento do cientista seja controlado também por preocupações
éticas e sociais. A Análise do Comportamento tem ganhado mais espaço entre outras
psicologias além de outras ciências, entretanto, o modelo explicativo do comportamento
e a contingência de reforço como ferramenta propostos por Skinner quase não são
utilizados como ponto de partida de autoanálise do comportamento dos próprios
membros desta comunidade.
63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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66
ANEXO 1
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Caro participante,
Sou aluna do curso de mestrado em Psicologia pela Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul (UFMS). Com a autorização da Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação estou estudando relatos verbais sobre o comportamento com participantes
graduandos do curso de Psicologia.
Para este estudo, será necessário que você assista a um pequeno vídeo no qual
haverá um rato se comportando em uma caixa experimental. Após o término do vídeo
você receberá uma instrução que será lida pelo experimentador com você em voz alta.
Após a leitura da instrução, pedirei a você que responda por escrito em uma folha de
registro de acordo com esta instrução recebida. Somente o coordenador da pesquisa
(Lucas Ferraz Córdova) e a pesquisadora (Maylla M. R. de S. Chaveiro) terão acesso à
folha com as respostas escritas por você.
Sua participação na pesquisa é voluntária e, caso queira, poderá interromper sua
participação a qualquer momento. Os resultados deste estudo serão utilizados
exclusivamente para finalidades científicas, sendo que sua participação não será
identificada em momento algum.
Eu estarei presente a todo o momento durante o experimento. Para perguntas ou
problemas referentes ao estudo ligue para: Lucas Ferraz Córdova (67) 8114-0082 e para
perguntas sobre seus direitos como participante no estudo chame o Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da UFMS, no telefone (067) 33457187.
Atenciosamente,
____________________________ ____________________________ Maylla
M. R. de S. Chaveiro Lucas Ferraz Córdova
(Pesquisadora) (Coordenador da Pesquisa)
Concordo em participar da pesquisa acima referida,
Nome completo:___________________________________
Assinatura:________________________________________
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ANEXO 2
Seu nome:
Data:
1. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
2. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
3. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
4. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
5. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
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6. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
7. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
8. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
9. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
10. _____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
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