avaliação de competências - abenfo

Propaganda
AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Leila Maria Geromel Dotto
COMPETÊNCIA PROFISSIONAL
Perrenoud (2001, p.21) conceitua competência como:
“A capacidade de um sujeito de mobilizar o todo ou parte de
seus recursos cognitivos e afetivos para enfrentar uma família
de situações complexas. Isso exige a conceituação precisa
desses recursos, das relações que devem ser estabelecidas
entre eles e da natureza do “saber mobilizar”. Pensar em
termos de competência é pensar a sinergia, a orquestração de
recursos cognitivos e afetivos diversos para enfrentar um
conjunto de situações que apresentam analogias de estrutura”.
Ser competente em uma determinada profissão não implica apenas
possuir um vasto e numeroso conhecimento. É saber utilizar, integrar ou mobilizar
esses conhecimentos diante de uma situação real de ação (PERRENOUD, 2001).
As competências requerem a produção de habilidades, um “saber fazer” necessário
ao exercício profissional (LOPES, 2001).
Competências não são saberes, nem apenas um saber-fazer ou atitude,
elas mobilizam, integram e orquestram esses recursos. As competências
profissionais se constroem em formação, e no caminhar de uma situação de trabalho
à outra (PERRENOUD, 2000).
Para Worth-Butler, Murphy e Fraser (1994), competência pode ser vista
como a capacidade de realizar uma atividade com resultados desejáveis sobre
circunstâncias variadas do mundo real. Profissionais competentes são pessoas que
têm aprendido um grupo adequado de habilidades e conhecimentos para fazer seu
trabalho satisfatoriamente. Um profissional qualificado é então alguém que é capaz
de abranger um repertório de habilidades e conhecimentos em diferentes formas e
em diferentes contextos para realizar uma forma que é reconhecida como
competente.
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
Para construir competências, é necessário mobilizar conhecimentos (saber),
habilidades (saber-fazer), valores e atitudes (saber-ser), para um assumir de
responsabilidades, ou então, para uma atitude social (ZARAFIAN, 1998).
Temos também uma definição conceitual e operacional de competência (KAK et al,
2001):
Definição Conceitual:
“é a habilidade do profissional para desempenhar uma tarefa específica de uma
forma que produz resultados desejáveis ou de acordo com padrões préestabelecidos”
Definição Operacional:
Seria a documentação de um nível aceitável de desempenho, através de um
processo de avaliação estruturada, usando padrões objetivos de prática profissional
(conhecimentos, habilidades e capacidades) como critério de qualidade.
Competência é um de muitos determinantes do desempenho.
A relação entre
competência (poder fazer) e desempenho (faça) é complexa: o primeiro nem sempre
prediz o segundo. Enquanto competência define a capacidade de alguém para
executar uma atividade, desempenho é o comportamento resultante. Desempenho é
algo que as pessoas fazem de fato e podem ser observadas (KAK et al, 2001).
COMPONENTES DA COMPETÊNCIA
Conhecimento Cognitivo: entendimento dos princípios teóricos da prática segura
(conhecimento de fatos e procedimentos).
Habilidades Clínicas: “ações (e reações) que um indivíduo executa de um modo
competente para alcançar uma meta”. Habilidades são adquiridas através de
treinamento em modelos anatômicos, ou usando pacientes reais ou por atuações. A
pessoa pode ter nenhuma habilidade, alguma habilidade, ou domínio completo;
então, ensinando ou testando uma habilidade, o nível de domínio aceitável deve ser
definido baseado no nível do treinamento.
Atributos Pessoais ou Capacidade Pessoal: são características ou qualidades, de
natureza pessoal. Estas características incluem atitudes (valores pessoais e sociais),
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
autocontrole e autoconfiança, somados a habilidades de comunicação, interação
interpessoal e raciocínio clínico (KAK et al, 2001).
PORQUE MEDIR COMPETÊNCIA?
Existem inúmeras razões para se medir competência:
 O Ministério da Saúde, as organizações profissionais e as instituições que
oferecem serviços de saúde devem assegurar que a competência dos
provedores de saúde está de acordo com padrão de qualidade determinado;
 Responsabilidade e ética (individual e institucional): se o desempenho está
em consonância com os princípios éticos e o padrão de qualidade que
fundamentam a prática profissional;
 Controle de riscos: a avaliação de competência pode ser usada para
monitorar o nível de conhecimento e procedimentos relacionados a áreas de
risco;
 Certificação e re-certificação dos profissionais: para fornecimento de licença
profissional;
 Mensuração de resultados de treinamento: para avaliar os resultados
educacionais e de treinamento (avaliações acadêmicas). Avaliação de
competência após um treinamento pode determinar a eficácia deste
treinamento. Resultados ruins nesta avaliação podem indicar que o
treinamento foi ineficaz ou que não atingiu seu objetivo. Estes resultados
podem ser usados pelos treinadores para reformular o treinamento;
 Planejamento de novos postos/ serviços: Avaliação de competência pode
ajudar os gerentes a identificar profissionais que são competentes para
trabalhar numa nova clínica, pode identificar ainda profissionais que precisam
melhorar seus conhecimentos e habilidades em áreas específicas e aqueles
que estão prontos para agir como supervisores dos recém treinados;
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
 Seleção de novos profissionais: Avaliação de competência é útil ao recrutar
novos profissionais para assegurar que eles podem fazer o trabalho que
estão sendo contratados para fazer ou se poderiam fazer isto com razoável
orientação/treinamento;
 Acompanhamento de novos profissionais: avaliação de competência de
profissionais recém contratados pode indicar se estes profissionais estão
correspondendo o que lhe é esperado;
 Supervisão de nova equipe para manutenção do padrão de qualidade;
 Melhora no desempenho individual: avaliar competência numa instituição
pode gerar iniciativas de melhora de desempenho por parte dos profissionais.
Resultados de avaliação podem identificar lacunas em conhecimento e
habilidades, e guiar gerentes para treinamento apropriado dirigidas a
individuo ou para grupo de profissionais;
 Em situações de reforma do setor saúde;
 Desempenho organizacional: numa instituição que fornece cuidados de saúde
deve-se além da avaliação individual avaliar o desempenho organizacional
periodicamente para avaliar a eficácia do serviço que estão prestando (KAK
et al, 2001).
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIA
Escolher um método envolve três respostas (KAK et al, 2001):
A- Quais métodos de avaliação estão disponíveis?
B- Como será a contagem de pontos baseada no método?
C- Quem observará/avaliará a competência?
A. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO:
Competência pode ser medida através de uma variedade de métodos, tais como:
testes escritos, testes computadorizados, registros de desempenho, simulações com
modelos anatômicos, outras simulações, trabalho, amostras, e avaliações de
desempenho de supervisores. Estes métodos diferem de vários modos. A
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
importância de cada um está no que será avaliado, se o método a ser escolhido é
para avaliar uma única competência ou para avaliar competências múltiplas. A
disponibilidade de recursos é um fator chave para a seleção de um método em
particular ou para vários métodos de avaliação, assim como a freqüência desta
avaliação.
Métodos de avaliação diferentes têm forças diferentes assim como fraquezas.
Testes Computadorizado e escrito podem avaliar conhecimento e características,
mas eles não podem avaliar habilidades, que requerem o desempenho físico de
algumas ações. Registros de desempenho, ao contrário de outros métodos de
avaliação de competência, propiciam que o provedor de saúde seja avaliado sem
que o mesmo tenha consciência disso, mas freqüentemente omite informações
importantes sobre desempenho. O limite de modelos anatômicos onde não temos o
realismo da interação paciente-provedor.
A seguir veremos vantagens e desvantagens de alguns métodos:
Testes escritos
Nas vantagens do teste escrito incluímos: a padronização de perguntas, a
objetividade e os custos mínimos. Uma desvantagem é que a utilização exclusiva
deste método não torna possível a avaliação de habilidades. Além disso,
desempenho em testes escritos não pode ser traduzido como desempenho com
pacientes.
Revisão de registros cuidados
Registros de cuidados têm algumas vantagens e muitas desvantagens, como uma
fonte de dados para avaliar competência. No lado positivo temos que podem ser
obtidos dados retroativos e a um baixo custo comparado a outros métodos. Os
provedores não estão atentos ou influenciam a coleta de dados. No lado negativo
temos que os registros dos pacientes estão freqüentemente incompletos. A
qualidade dos registros é precária principalmente em países em desenvolvimento, e
locais de cuidado primárias. Outro problema é que aquela competência avaliada não
pode ser deduzida confiantemente em desempenho.
Modelos anatômicos
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
Modelos anatômicos são freqüentemente usados em cuidados de saúde, para
treinar e medir competência. Eles são especialmente apropriados por avaliar
competência (ao invés de desempenho) em certas habilidades, como inserir uma
agulha intravenosa (IV) ou um dispositivo intra-uterino (DIU), ou ressuscitação
cardiopulmonar (PCR). Outras vantagens são: baixo custo, prova unificada, e uso
repetido sem cansar os pacientes. As desvantagens incluem a inabilidade para
simular: (a) interações de provedor-cliente (inclusive avaliação de cliente), e (b) as
complicações que acontecem em pacientes reais.
Simulação de trabalho
Na prática, os provedores trabalham com clientes reais, em locais de trabalho reais.
Numa simulação de trabalho, os clientes, o local, ou ambos podem ou não serem
reais. Pode ser usado na avaliação pacientes reais (pede-se a permissão deles), ou
pode-se usar atores (indivíduos saudáveis) para representar clientes, sem que os
avaliados saibam. Também pode-se preparar um local para avaliação.
Uma vantagem de clientes “atores” é que eles podem ser treinados com precisão e
constantemente para avaliar e informar o desempenho de provedor. Mas também
tem desvantagem, certos sintomas não podem ser simulados em indivíduos
saudáveis e requer o uso de realidade.
Amostra de trabalho
Competência às vezes é deduzida de medidas de desempenho de provedor com
uma amostra de pacientes reais em um local de trabalho real. Porém, há
dificuldades para medir desempenho no trabalho, quanto à imprevisibilidade do
ambiente, a espera em surgir uma situação clínica, e as diferenças nos níveis de
dificuldade entre casos diferentes. Além disso, uma única observação de
desempenho não provê uma estimativa segura da competência do provedor.
Observações múltiplas de casos com problemas semelhantes proporcionariam
informações melhores sobre as competências de um provedor.
Avaliações de desempenho
Avaliações periódicas por supervisores ou pares e auto-avaliações também pode ser
usada para deduzir competência. Avaliações de supervisor e avaliações dos pares
do provedor podem usar dados de múltiplas fontes: observações de interações de
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
provedor-paciente, revisões de registro, entrevistas com pacientes e autoavaliações. A utilização de fontes múltiplas ajudam a reduzir possíveis preconceitos
dos pares ou supervisor.
B. CONTAGEM DE PONTOS BASEADA NO MÉTODO
Um nível de competência está definido em relação a um padrão. Competência
pode estar acima ou abaixo do padrão, ou em alguns casos pode ser declarado
como uma proporção do padrão, como 70 por cento do padrão. Padrões de
competência respondem a pergunta: “A que nível de desempenho está alguém
considerado competente, de forma que nós podemos confiar neste provedor para
realizar cuidados nos pacientes?”
Como padrões são determinados? Organizações nacionais e internacionais
de saúde, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), sociedades médicas,
ministérios da saúde nacionais estabelecem padrões para cuidado de paciente
baseado em evidência científica. Grupos de professores freqüentemente identificam
padrões de desempenho para avaliar a competência de estudantes (medicina e
enfermagem).
C. QUEM DEVERIA AVALIAR COMPETÊNCIA?
Informação sobre a competência de um trabalhador de cuidado de saúde
pode ser provido por tipos diferentes de pessoas, podendo ser, por exemplo:
supervisores,
pares,
treinadores,
professores,
pacientes,
observadores
independentes, e o próprio provedor.
Para finalizar:
 Mensuração de competências que predizem desempenho no trabalho
aumenta a chance de encontrar ações de melhoria nas competências;
 Métodos de medidas de competência que pobremente predizem desempenho
profissional são menos prováveis de serem efetivos na busca de melhoria das
competências.
VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERM AGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL
_____________________________________________________________________________________________________
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KAK, N.; BURKHALTER, B.; COOPER, M. A. Measuring the competence of
healthcare providers. Operations Res. Issue Paper, Bethesda, v. 2, n. 1, p. 1-28, July
2001. Disponível em: <http://www.qaproject.org/pubs/PDF/competence.pdf >.
Acesso em: 10 abr. 2006.
LOPES, Alice C. Competências na organização curricular da reforma do ensino
médio. Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, v. 27, n.3, set./dez. 2001.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.
PERRENOUD, Philippe. Ensinar: agir na urgência , decidir na incerteza. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 2001.
WORTH-BUTLER, M.; MURPHY, R. J. L.; FRASER, D. M. Towards an integrated
model of competence in midwifery. Midwifery, Edinburg, v. 10, n. 4, p. 225-31, Dec.
1994.
ZARIFIAN, Philippe. A gestão da e pela competência. In: SEMINÁRIO
INTERNACIONAL EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, TRABALHO E COMPETÊNCIAS.
1996. Rio de Janeiro, Anais..., Rio de Janeiro: SENAI/DN-CIET, 1998.
Download