Rachaduras na grande muralha.

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Núcleo de Educação Popular 13 de Maio - São Paulo, SP
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CRÍTICA SEMANAL DA ECONOMIA
www.criticadaeconomia.com.br
EDIÇÃO Nº 1206/07– Ano 28; 2ª 3ª Semanas Setembro 2014.
Rachaduras na grande muralha
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Quem deve explodir primeiro no próximo choque da economia global: Eurozona ou
China? A publicação de dados altamente preocupantes recoloca a economia asiática
na dianteira desta tresloucada corrida rumo à catástrofe. JOSÉ MARTINS.
Para onde vai a China os BRICS vão atrás. Para o bem ou para o mal. Até pouco tempo atrás
era para o bem; essa frase ainda soava como música aos ouvidos de primário-exportadores
como Brasil e outras desafortunadas economias da América do Sul, África, Ásia, etc. – todas
igualmente dependentes das importações chinesas por matérias primas, insumos, alimentos,
etc. Mas, agora, o pêndulo começa a balançar para o mal. Quando os sinais de uma pesada
aterrisagem desta besta de carga das cadeias produtivas globais de capital tornam-se bem mais
visíveis, aquela corretíssima frase torna-se também um grande pesadelo. Não só para aquelas
economias estropiadas de sempre da periferia. Para todo mundo. Uma derrocada da economia
chinesa deve atingir fortemente as economias dominantes centrais. Estas não dependem
apenas de exportações para aquele grande mercado de produtos primários, mas principalmente
dos lucros das linhas de montagens de suas gigantes empresas globais ali instaladas.
É por isso que o relatório “Produção Industrial em Agosto 2014”, publicado pelo
National Bureau of Statistics of China, em 15 de Setembro de 2014, provocou mais calafrios
em Wall Street do que no Rio de Janeiro. O relatório chinês indica inicialmente que a
produção industrial desacelerou para 6.9%, em relação a um ano antes. É o ritmo mais lento
desde a crise de 2008/2009. Veja na curva abaixo essa evolução nos últimos doze meses.
Evolução dos três setores da produção industrial: Minas cresceu 4.2%;
Manufaturas cresceu 8%: e Produção e Distribuição de Energia Elétrica, Gás e
Água caiu 0.6%. Em termos de produtos, produção e distribuição de energia
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elétrica caiu 2.2% (veja gráfico ao lado).
Em qualquer país do mundo a produção e
distribuição de energia elétrica é um
excelente indicador do nível real da
atividade industrial. Na China é
estreitamente monitorado pela burocracia
econômica. É claro que essa queda de
2.2% acende o sinal amarelo para grandes problemas nos dois últimos trimestres
deste ano. No mesmo mês do ano anterior (2013/Aug. no gráfico) a produção de
eletricidade ainda crescia a estrondosos 13.4%. Crescia à taxa chinesa, quer
dizer, no padrão como estávamos acostumados a presenciar o desempenho
daquela economia. Depois a queda foi constante e da mesma maneira estrondosa,
até entrar pela primeira vez no vermelho no mês de Agosto 2014. Essa
estagnação com tendência depressiva na produção de energia elétrica na China
coloca um limite incontornável à “bolha de investimentos em grandes obras de
infraestrutura” que marcaram a forma da burocracia dirigente do país promover o
“milagre econômico chinês”. Como? Investimentos dos paquidérmicos bancos
estatais na construção das maiores usinas de energia elétrica do mundo.
Um “modelo chinês” para nenhum economista keynesiano ou “marxista
do século 21" botar defeito: generalizados mega investimentos estatais nos mais
variados ramos de infraestrutura, como portos, rodovias, ferrovias, aeroportos,
transportes urbanos e obras públicas em geral. E, da mesma forma que na
produção de eletricidade, também nos demais setores produtores de insumos para
a indústria. Como na produção de aço. Veja no gráfico abaixo como essa
produção chinesa de aço evoluiu nos últimos doze meses:
Verifica-se também neste estratégico setor siderúrgico uma assustadora
derrocada do nível de atividade. Em Agosto 2013, as siderúrgicas chinesas ainda
produziam aço à elevadíssima taxa de 15.6% sobre o ano anterior. A partir daí,
seguidas quedas mensais – até desabar para 2.4% em Agosto 2014. A mesma
dinâmica de estagnação encontrada na produção de eletricidade. Alerta para os
parasitas brasileiros e australianos, maiores exportadores de minério de ferro para
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essas condenadas siderúrgicas chinesas: liquidem rapidamente suas blue chips da
Vale do Rio Doce, Rio Tinto, etc., pois elas podem virar pó nos próximos meses.
O problema da produção chinesa é que os voluntariosos investimentos em
todos os setores estatizados da economia continuaram ampliando a capacidade
instalada das empresas. Não mais para promover, simplesmente, o crescimento
econômico. Agora a burguesia chinesa tenta escapar da crise periódica de
superprodução de capital. Com a explosão da crise global de 2008/2009, as
rachaduras da grande muralha econômica chinesa apareceram ameaçadoramente.
A partir de então, os mega investimentos estatais fizeram principalmente a
função de política anticíclica. A burocracia econômica de Beijing imagina
ingenuamente que se pode arquivar politicamente (e por muito tempo) a lei da
gravidade da economia – também conhecida como lei do valor trabalho ou,
simplesmente, lei da tendência à queda da taxa de lucro.
Mas quem conhece pelo menos um pouco da boa economia política (a de
Smith e de Ricardo já é suficiente) sabe que não dá para se esconder da
superprodução de mercadorias-capital aumentando histericamente a produção de
mercadorias. Que a produção de capital não se resume à produção de utilidades
(ou riqueza), mas essencialmente à produção de mais-valia (lucro). E é
exatamente esse elixir do capital que escasseia criticamente desde 2008/2009.
O resultado de toda essa mixórdia é que aquele ilusório aumento dos
investimentos estatais agora se manifesta contraditoriamente como ameaçadora
queda da produção industrial. Manifesta-se, portanto, como insustentável
capacidade ociosa em cada uma daquelas empresas frankstein da política
econômica do “socialismo de mercado”. Existem muito mais coisas caindo, além
da produção, na maior economia dos BRICS. Veremos a seguir essas outras
manifestações concretas deste maravilhoso derretimento das sólidas fundações da
grande muralha econômica chinesa. Até lá!
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