Termodinâmica Ano Lectivo 2004/05 Trabalho Prático CONVERSOR TERMOELÉCTRICO Objectivo – Demonstração dos efeitos Seebeck (uma diferença de temperatura entre os terminais do dispositivo dá origem a uma corrente eléctrica, ∆T →E) e Peltier (uma corrente eléctrica que passa através do dispositivo dá origem a uma diferença de temperatura entre os seus terminais, E → ∆T). 1. Introdução O conversor termoeléctrico consiste numa ‘bomba de calor termoeléctrica’ colocada entre duas placas de alumínio. O conversor pode demonstrar o efeito Seebeck: uma diferença de temperatura entre os terminais da ‘bomba de calor’ dá origem a uma corrente eléctrica que faz mover um motor (∆T →E). O conversor pode também demonstrar o efeito Peltier: quando se faz passar uma corrente através da ‘bomba de calor’, dá origem a uma diferença de temperatura entre os seus terminais (E → ∆T). 2. Material A Figura 1 mostra a parte superior do conversor termoeléctrico. Posicione o interruptor para cima (posição ∆T →E) para demonstrar o efeito Seebeck. Ligue uma fonte de corrente DC aos terminais e posicione o interruptor para baixo (posição E → ∆T) para demonstrar o efeito Peltier. ATENÇÃO – A tensão e corrente recomendadas são 5 V e 3 A DC. Não exceda 8 V. Não faça passar a corrente através do dispositivo mais do que 2 minutos. O conversor termoeléctrico tem 71 pares de arrefecimento termoeléctrico. Estes são compostos por dois elementos de semicondutor de telureto de bismuto (uma liga quaternária de bismuto, telúrio, selénio e antimóio) fortemente dopados para criar um excesso (tipo N) ou deficiência (tipo P) de electrões. Os pares, ligados electricamente em série e termicamente em paralelo, são integrados na ‘bomba de calor termoeléctrica’. Este dispositivo é empacotado entre placas de cerâmica metalizada. 3. Funcionamento Efeito Seebeck O conversor termoeléctrico serve para demonstrar a relação entre as 1ª e 2ª Leis da Termodinâmica. Use o conversor de acordo com a Figura 2. Posicione o interruptor para cima e uma das placas de alumínio num copo com água perto do ponto de ebulição e a outra num copo com água perto do ponto de gelo. Parte da energia térmica da água quente é convertida em trabalho realizado pelo motor, fazendo rodar uma ventoínha. De seguida, mistura-se a água quente com a fria num só copo e introduzem-se as duas placas de alumínio nesse copo. A ventoínha deixa de funcionar. Departamento de Física da FCTUC 1/3 Termodinâmica Ano Lectivo 2004/05 A energia interna total da água não se altera quando se mistura a água quente com a fria, de modo que ainda deve existir energia na água para fazer rodar a ventoínha. Mas isto violaria a 2ª Lei da Termodinâmica. (Nota: Como demonstração de que ainda existe energia na água misturada, coloque-se uma das placas neste último copo e a outra noutro copo com água perto do ponto de gelo.) A violação da 2ª Lei da Termodinâmica pode ser explicada em termos de entropia, usando a expressão ∆S = Q/T, onde ∆S é a variação de entropia, Q o calor transferido e T a temperatura à qual é transferido o calor.Considerando apenas a transferência de calor nos copos de água, verificase que: 1 – A variação de entropia da água quente, ∆Sh = Qh/Th, é negativa, uma vez que o calor flui da água para o conversor. 2 – A variação de entropia da água fria, ∆Sc = Qc/Tc, é positiva, uma vez que o calor flui do conversor para a água. 3 – De acordo com a 2ª Lei, a variação total de entropia, ∆St = ∆Sc + ∆Sh, deve ser positiva. Sendo assim, o processo só ocorrerá se Qc/Tc > Qh/Th. 4 – Para que a ventoínha rode, algum do calor transferido da água quente deve ser convertido em trabalho e não estará disponível para ser transferido para a água fria. Sendo assim, desde que a ventoínha rode, Qh > Qc. 5 – As equações dos pontos 3 e 4 só podem ser simultaneamente verdadeiras se Th > Tc. Quando a água é misturada, contudo, Th = Tc, se a ventoínha rodasse violaria a 2ª Lei. Da Termodinâmica. Durante o efeito Seebeck, o calor que entra na célula de semicondutor aumenta o nível de energia de alguns dos electrões (Figura 3). No nível de energia mais elevado, os electrões deixam de estar ligados à estrutura do cristal do semicondutor e são livres para se deslocarem. Quando se deslocam, deixam uma lacuna. Os electrões de mais baixa energia, embora não se possam deslocar livremente, podem saltar de lacuna em lacuna. Deste modo, as lacunas também podem migrar através do material do semicondutor. Os electrões migram através do material semicondutor de tipo N e as lacunas migram através do material de tipo P. Os electrões deslocam-se através do circuito exterior e fazem rodar a ventoínha. Junto da extremidade fria da célula, os electrões encontram as lacunas do material de tipo P, podendo ser capturados e cedendo alguma energia em excesso na forma de calor. Efeito Peltier Durante o efeito Peltier, uma corrente a percorrer a ‘bomba de calor termoeléctrica’ origina uma diferença de temperatura. Ligue uma fonte DC com 5 V e 3 A aos terminais do conversor. Posicione o interruptor para baixo (E → ∆T). (Para esta demonstração, não necessita imergir as placas em água). Em alguns minutos deverá poder sentir a diferença de temperatura entre as duas placas do conversor (Figura 4). NOTA – Não deixe a fonte ligada por mais de 2 minutos, nem exceda 8 V. A diferença de potencial eléctrico faz com que os electrões e lacunas migrem de um dos extremos do material semicondutor de tipo N e P para o outro. O movimento dos electrões no semicondutor de tipo N resulta numa transferência de energia interna desse terminal do semicondutor e ele arrefece. O mesmo resultado ocorre para o semicondutor de tipo P durante a migração das lacunas. A transferência de energia da placa ‘fria’ para a placa ‘quente’ é proporcional Departamento de Física da FCTUC 2/3 Termodinâmica Ano Lectivo 2004/05 à corrente de transportadores de carga que passa através do circuito e o número de células termoeléctricas (Figura 5). Departamento de Física da FCTUC 3/3