Técnicas Laboratoriais de Física Ano Lectivo 2010/11 TRABALHO PRÁTICO Nº 5 DETERMINAÇÃO DA ACELERAÇÃO DA GRAVIDADE (Mesa de ar) Objectivo - Neste trabalho pretende-se determinar o valor local da aceleração da gravidade utilizando uma mesa de ar inclinada. A mesa de ar permite trabalhar em condições de atrito desprezável. 1. Introdução Um corpo colocado (sem velocidade inicial) num plano de inclinação θ iniciará um movimento r de descida ao longo do plano, uma vez que sobre ele actua uma força resultante F . Num plano r sem atrito, essa força é igual à componente do peso P do corpo segundo a tangente ao plano inclinado (figura 1). r N r F θ r P θ Figura 1 Forças aplicadas a um corpo que desliza num plano inclinado sem atrito: peso do corpo reacção do plano r P e r r N . Na ausência de atrito, a resultante das forças aplicadas, F , é igual à r componente de P segundo a tangente ao plano inclinado. De acordo com a 2ª lei de Newton, o movimento do corpo efectua-se com uma aceleração r a constante, cuja grandeza é dada por: F = m.a = P senθ ⇒ a= P senθ , m (1) sendo θ o ângulo de inclinação do plano e m a massa do corpo em movimento. Ora, como da P = g , sendo g a aceleração da gravidade, m então é possível, medido o valor de a, determinar o valor de g. De facto, substituindo na definição de peso de um corpo de massa m se tem equação (1), tem-se: a = g .senθ (2) Se o corpo partir do repouso (velocidade inicial nula) e o tempo t for medido a partir do instante inicial do movimento (ou seja, t0 = 0), a sua velocidade v será dada por v = a .t . Departamento de Física da FCTUC 1/4 Técnicas Laboratoriais de Física Ano Lectivo 2010/11 Tomando como origem do deslocamento a posição inicial do corpo (x0 = 0), a lei do movimento é, então: x= 1 2 a .t 2 (3) Assim, efectuando muitas medidas do tempo t gasto pelo corpo para se deslocar entre o mesmo par de pontos da trajectória (à distância x um do outro), poder-se-á calcular a aceleração do corpo. Conhecida a aceleração a, facilmente se calcula a aceleração da gravidade g (eq. 2). Material necessário Para a realização deste trabalho serão necessários: uma mesa de ar, um cronómetro, uma fita métrica, uma régua graduada, um medidor de ângulo (apenas para “orientar” a inclinação a dar à mesa), cunhas de madeira e 1 disco (objecto deslizante). O atrito entre o disco e o plano inclinado é eliminado pela criação de uma camada de ar entre as duas superfícies. O ar é forçado a sair através de pequenos orifícios existentes no tampo da mesa em intervalos regulares, sendo o peso do disco suportado pela pressão do ar. d 2. Execução experimental h h’' θ Figura 2 2.1. Com a ajuda do medidor de ângulo e das cunhas de madeira, dê à mesa de ar uma inclinação de cerca de 6º. 2.2. Utilizando as equações 2 e 3 e os dados da figura 2, escreva uma equação que defina a aceleração da gravidade, g, em função de todas as grandezas que vai medir directamente. 2.3. Depois, utilizando a fita métrica e a régua graduada realize as medidas das grandezas d, h e h’ indicadas na figura 2. Não se esqueça das incertezas e de registar tudo no seu logbook. 2.4. Antes de ligar o compressor de ar, comece por verificar que o atrito entre o disco e a superfície da mesa de ar é suficiente para não permitir a movimentação do disco. Ligue o compressor de ar e verifique que o disco se movimentou, descendo pelo plano inclinado. Segurando o disco em cima da mesa, verifique a existência de uma camada de ar que impede o contacto entre as superfícies do disco e da mesa. 2.5. Faça algumas experiências preliminares de largada do disco e de medidas do tempo com o cronómetro, a fim de decidir de que posição vai largar o disco e em que posição vai parar o cronómetro. Repare que o movimento do disco deve decorrer em condições de atrito desprezável e que há zonas da mesa onde não há furos para a saída do ar. Por outro lado, tenha em conta que o disco deve percorrer sempre a mesma trajectória, a que corresponde à menor distância entre os pontos de partida e de chegada (trajectória A da figura 3). Outros percursos (como o B da figura 3) não devem ser tidos em conta para a medida do tempo. Com estes testes preliminares, tente perceber bem quais são as dificuldades que vai encontrar na execução experimental deste trabalho, de modo a precaver-se contra elas tanto quanto possível. Departamento de Física da FCTUC 2/4 Técnicas Laboratoriais de Física Ano Lectivo 2010/11 2.6. Meça então a distância entre a marca de onde decidiu iniciar o movimento do disco (começando a contagem do tempo) e a marca onde decidiu terminar a medida do tempo. Registe essa distância, bem como a imprecisão associada. 2.7. Largue o disco da marca de partida tentando não lhe imprimir qualquer velocidade inicial e dando início à contagem do tempo. Quando o disco chegar à marca final pare o cronómetro e registe a leitura do tempo. 2.8. Repita a medida descrita no ponto anterior até obter 200 resultados. Registe cada um dos valores Não utilize folhas soltas para registar os dados. Figura 3 DIRECTAMENTE no seu LOGBOOK. Recomenda-se, para tornar a experiência mais realista, que os dados não sejam seleccionados; REJEITE APENAS as medidas em que considere ter havido DESVIO DA TRAJECTÓRIA PRETENDIDA ou ERRO EVIDENTE NA UTILIZAÇÃO DO CRONÓMETRO. Não deverão ser feitas tentativas no sentido de “melhorar” os resultados, para não viciar o processo. 3. Tratamento dos dados 3.1 – Distribuição de frequências. Histograma ou gráfico de barras. 3.1.1. – Introduza o resultado das 200 medidas de tempo num programa de cálculo adequado. 3.1.2. – Utilizando as potencialidades do programa: i) Escolha o menor e o maior dos valores de tempo registados nas 200 medidas e determine o intervalo de tempo ∆ que medeia entre ambos; ii) Divida esse intervalo ∆ num nº ímpar (k) de intervalos de tempo menores e iguais ∆k e especifique os valores extremos de cada um desses intervalos; iii) Conte o nº de vezes nk que o tempo medido caiu em cada ∆k. iv) Como sabe, a frequência Fk das medidas que caem no intervalo ∆k é dada por nk , onde nk é o nº de medidas que cai em ∆k e N é o nº total de medidas. N Por outro lado, Fk também corresponde à área da coluna (num histograma ou gráfico de barras) cuja largura é o intervalo ∆k e cuja altura é fk, ou seja, Fk = f k ∆ k . Então, deduzimos que a altura de cada coluna é dada por n 1 fk = k . Determine os diferentes fk e verifique que ∑ Fk = ∑ f k ∆ k = 1 , N ∆k k k Fk = ou seja, que a sua distribuição de frequências está normalizada. v) Faça um histograma representando fk em função da largura dos intervalos ∆k considerados, como se exemplifica na figura 4. Departamento de Física da FCTUC 3/4 Técnicas Laboratoriais de Física Ano Lectivo 2010/11 3.2 – Valor médio, desvio padrão e desvio padrão da média Utilizando o mesmo programa, determine o valor médio dos tempos medidos e o erro associado, ou seja, obtenha t ± σ t . 3.3 – Curva de distribuição normal ou Gaussiana 3.3.1. Usando os valores adequados do ponto anterior, trace a curva de distribuição normal ou Gaussiana que corresponderia a ter realizado um número infinito de medidas do tempo. Sobreponha essa curva sobre o histograma experimental e comente. FWHM Figura 4 3.3.2. A partir da curva de Gauss que acabou de traçar, determine a largura a meia-altura da distribuição normal (FWHM – Full Width at Half Maximum) (Figura 4) e mostre que essa largura se relaciona com o desvio padrão σt por: FWHM = 2.35σ t . 3.4 – Determinação da aceleração da gravidade Usando a equação definida no ponto 2.2 determine o valor da aceleração da gravidade e a respectiva incerteza, g ± σg. 4. Discussão Tendo em conta o intervalo de valores obtidos para a aceleração da gravidade e o valor esperado, faça agora a análise crítica das condições experimentais e dos resultados obtidos. Bibliografia [1] M. Alonso e E. Finn, Física, Addison-Wesley Iberoamericana (1999) [2] M.C. Abreu, L. Matias e L.F. Peralta, Física Experimental - Uma introdução, Lisboa, Editorial Presença (1994). [3] Apontamentos para a disciplina de Técnicas Laboratoriais de Física, 2010/11, capítulos IV e VI. Departamento de Física da FCTUC 4/4