análise da influência da vegetação no geoturismo e na - Unifal-MG

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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DA VEGETAÇÃO NO GEOTURISMO E NA
GEOCONSERVAÇÃO DOS ARENITOS NO PARQUE ESTADUAL DE VILA
VELHA, PR
Cristiane Tavares
Profª de Geografia SEED-PR
[email protected]
Dra. Maria Lígia Cassol Pinto
[email protected]
Universidade Estadual de Ponta Grossa
RESUMO: O Parque Estadual de Vila Velha foi criado em 1953, com a finalidade de
conservar e proteger o patrimônio geológico local e um dos últimos remanescentes da
vegetação do bioma campo. Atualmente administrado pelo Instituto Ambiental do ParanáIAP, o parque já serviu como laboratórios para pesquisas agrícolas e de silvicultura e, por
longo tempo, à atividade turística desordenada. Neste período foram introduzidas, no
entorno dos monumentos naturais, algumas espécies vegetais de grande porte com a
finalidade de criar zonas de conforto aos turistas (sombra). A partir de 2004, com a
revitalização o Parque, passou a cumprir sua real função, turismo e preservação ambiental,
agora contando com guias e monitores especializados. O objetivo deste trabalho incluiu
tanto a identificação da vegetação junto às geoformas areníticas do Parque Estadual de
Vela Velha, como os impactos decorrentes da proximidade da vegetação aos arenitos.
Complementarmente fez-se um inventario expedito da satisfação dos turistas em visita ao
Parque em relação à presença desta vegetação. A metodologia apoiou-se nos trabalhos de
campo para a identificação, descrição e situação das espécies localizadas no setor 1 da
trilha principal – a Vila, e na entrevista com visitantes, no período de setembro e outubro de
2010. Os resultados apontaram o descontentamento por parte dos visitantes pela pouca
visibilidade dos arenitos pela presença predominante de vegetação arbórea – angicos. O
levantamento das espécies apontou certo nível de risco à conservação das formações
rochosas, não somente na área estudada como ao longo de toda a trilha que circunda os
arenitos.
Palavras-chave: Parque Estadual, vegetação, geoturismo, geoconservação.
RÉSUMÉ : Le parc d'état Vila Velha a été créé en 1953 afin de conserver et de protéger le
patrimoine géologique local, et des derniers vestiges de la végétation de biome champ.
Actuellement géré par l'Institut de l'environnement de Paraná - IAPAR , le parc a servi de
laboratoires pour des recherches agricoles et de sylviculture et , pour longtemps , l'activité
touristique désordonnée. Cette période a été introduit parmi les monuments naturels ,
certaines espèces de plantes , de grande porte , afin de créer des zones de confort pour les
touristes (de l'ombre). A partir de 2004, avec la revitalisation, lu parc, a commencé à remplir
sa fonction réelle, le tourisme et la préservation de l'environnement , en comptant maintenant
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sur l'aide des guides et des moniteurs spécialisés. Cette étude a pour but la caractérisation
de la végétation le long des reliefs de grès du parc Vila Velha, et aussi la caractérisation des
effets de la végétation environnante - grès. En outre, on a fait un inventaire sur la satisfaction
des touristes visitant le parc à la présence de cette végétation. La méthodologie a été basée
sur un travail pour l'identification, la description et la situation des espèces situées dans le
secteur 1 de la piste principale – la Vila, et des interviews avec les visiteurs, entre
Septembre et Octobre 2010. Les résultats ont montré le mécontentement des visiteurs avec
la mauvaise visibilité de grès par la présence prédominante de la végétation ligneuse angicos. L'enquête de l'espèce a montré un certain niveau de risque pour la conservation
des formations rocheuses trouvées, pas seulement dans la région étudiée mais aussi tout le
long de la piste qui entoure les grès.
Mots-clés : Parc d'état, végétation, géotourisme géoconservation
INTRODUÇÃO
O Parque Estadual de Vila Velha, Ponta Grossa- PR, não é somente um patrimônio
natural, geológico e biológico, é também um patrimônio cultural em escala regional. Isto
porque ele encerra parte do processo histórico de construção do território brasileiroparanaense e da história natural da face oriental da Bacia Sedimentar do Paraná. Seu
relevo, suas geoformas testemunham diferentes processos morfogênicos ocorridos nesta
região geológica, os vestígios das variações bioclimáticas e, nos últimos cinco séculos, parte
da história de ocupação do Sul do Brasil (Figura 1).
Por sua importância para a história regional se faz necessário tanto a manutenção da
divulgação (geoturismo) de suas características, quanto a geoconservação de seu sítio.
Entendendo-se por geoconservação a parte da consistência de avaliar o patrimônio
geológico com estudos, ações de proteção, dispositivos legais etc., que visem à proteção e
uso adequado do patrimônio geológico (GUIMARÃES, MELO e MOCHIUTTI, 2009).
“A
Geoconservação, em sentido amplo, tem como objetivo a utilização e gestão sustentável de
toda a Geodiversidade, englobando todo o tipo de recursos geológicos” (BRILHA, 2005,
pg.51). Conservar os arenitos ou o geossitio de Vila Velha também se justifica pela presença
de um “relicto” de vegetação denominada de Campos Gerais que para Maack (1948), é uma
região fitogeográfica natural que ocupava grande parte do atual território paranaense.
Originalmente era coberta por vegetação de campos limpos e matas galerias ou capões
isolados de Floresta Ombrófila Mista em solos rasos e arenosos do Segundo Planalto
Paranaense. Uma significativa parte desta vegetação vem sendo retirada desde a década
de 1850, quando da chegada dos imigrantes e, posteriormente substituída pela expansão
das atividades produtivas, expandidas graças tanto à modernização da agricultura, com
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auge nas décadas de 1950-1960, quanto às novas técnicas do desenvolvimento Industrial
no Brasil (BRUM, 1988).
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Figura 1: Localização do Parque Estadual de Vila Velha dentro do Município de Ponta
Grossa, região Fitogeográfica dos Campos Gerais do Paraná.
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Fonte: Plano de Manejo do PEVV, 2004.
Com a modernização da agricultura, na década de 1950, tem-se a criação do Parque
Estadual de Vila Velha (PEVV), apoiado no objetivo de proteção do patrimônio geológico
conhecido como Arenito Vila Velha, por estar sofrendo alterações, em especial provocadas
pela ação antrópica (PLANO DE MANEJO, 2004). No entanto, desde a sua criação um fato
vinha interferindo negativamente na conservação deste patrimônio geológico, qual seja: a
introdução assistemática de uma vegetação que, embora nativa à região dos Campos
Gerais, é exótica à área do Parque. Algumas espécies arbóreas foram plantadas em sua
maioria ao longo da conhecida “Trilha dos Arenitos”- que é, provavelmente, anterior à
própria criação do Parque. Observações apontam que no decorrer dos últimos anos foram
introduzidas espécies vegetais exóticas ao local, acarretando na descaracterização do
bioma campo e o bloqueio da visão dos monumentos geológicos encontrados no Parque,
descaracterizando assim o Geoturismo (GUIMARÃES; MELO e MOCHIUTTI, 2009). Fato
que se tornou motivo de reclamações por parte dos visitantes turistas e geocientistas, além
de provocarem danos pelo crescimento das raízes e galhos (bioturbações). A partir da
reativação das atividades do PEVV estas interferências passaram a preocupar e tornaremse o foco de atenção do processo de manejo e condução das atividades de turismo.
Estudos realizados anteriormente sobre as influencias advindas da presença de
espécies exóticas (ZILLER, 2004 e CARPANEZZI, 2007) apontaram como resultados, entre
outros, a redução na diversidade genética local e na variabilidade natural das espécies,
além de afetarem os processos que garantem a biodiversidade da região. O grau de impacto
negativo leva em consideração o número de espécies presentes no local e os danos que
podem causar a estes monumentos. Dentro desta perspectiva este trabalho se inscreve
voltado a verificar a influencia (impacto negativo) da presença e expansão de espécies
vegetais que, embora nativas da região, são exóticas ao sitio do Parque (inicialmente na
Trilha dos Arenitos).
O levantamento de campo se deteve, em primeiro lugar, na identificação e
quantificação das espécies; determinação de sua posição em relação aos monumentos
areníticos; dimensão dos caules e presença de raízes sobre as feições geomórficas. Numa
etapa seguinte, foram aplicados questionário para os visitantes turistas (%), no quais
constavam desde os dados pessoais - idade e escolaridade; sobre Geoturismo e
geoconservação e, em especial sobre as condições de visibilidade das feições areníticas ao
longo de toda a trilha. Os resultados confirmaram as hipóteses levantadas.
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OBJETIVOS:
O objetivo geral deste trabalho foi identificar a vegetação junto às geoformas
areníticas do Parque Estadual de Vela Velha, e a influência (impacto negativo) à
conservação dos arenitos pela expansão de espécies exóticas à área do parque, embora
sejam elas nativas da região dos Campos Gerais.
Especificamente tinham-se como objetivos (a) identificar os locais pontuais onde
ocorre atrito dos galhos das árvores sobre as feições areníticas e registrar possíveis
cicatrizes; (b) mensurar as distâncias de todos os caules em relação às feições
geomorfológicas situadas no setor 1 da Trilha - a Vila; (c) Registrar a presença superficial de
raízes diretamente nas feições; (d) identificar os possíveis agentes que favorecem a
expansão das espécies exóticas no setor 1 da referida trilha (figura 2)
FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
A partir do inicio da década de 2000, com da Lei nº 9.985, ficou instituído o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC. Como consequência o que
prega a Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 225, III, atribuiu ao poder Publico
(Federal, Estadual ou Municipal), a definição de espaços territoriais para a proteção, sendo
que qualquer alteração, nestes espaços seria permitida somente através de leis.
Unidades de Conservação (UCs), segundo o SNUC, são porções do território
nacional, incluindo as águas territoriais, com características naturais de relevante valor, de
domínio público ou privado, legalmente instituídas pelo Poder Público com objetivos e limites
definidos e em regimes especiais de administração, às quais se aplicam garantias
adequadas de proteção. A consolidação do SNUC busca a conservação in situ da
diversidade biológica, centrando-a em um eixo fundamental do processo conservacionista.
De acordo com a legislação ambiental, os Parques Estaduais são áreas geográficas
extensas e delimitadas, dotadas de atributos naturais excepcionais, objeto de preservação
permanente, submetidos à condição de inalterabilidade e indisponibilidade. As áreas
enquadradas com o a categoria de parques se constituem em bens públicos, destinadas a
serem de uso comum do público. Como parque seu objetivo primeiro deve ser a
preservação dos ecossistemas naturais contra qualquer alteração que os descaracterize.
Dessa forma, cabe às autoridades competentes, preservá-las e mantê-las como tal.
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Em particular, no estado do Paraná, o primeiro parque criado foi o Parque Nacional
do Iguaçu, por Decreto Federal em 1939. Em 1942, através do Decreto Lei 86, foi declarado
de utilidade pública o imóvel caracterizado como Lagoa Dourada e Vila Velha. Somente 11
anos mais tarde (em 1953) através da Lei Estadual 1292, foi criado o Parque Estadual de
Vila Velha, sendo o primeiro Parque Estadual do Paraná. (Plano de Manejo do PEVV, 2004).
O PEVV, assim como os parques nacionais “Tem como objetivo básico a
preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica,
possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de
educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo
ecológico” (PLANO DE MANEJO, 2004, pg. 06 – encarte1). Neste caso, de acordo com a
legislação do SNUC; IV - Monumento Natural- Tem como objetivo básico preservar sítios
naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.
Para consolidar o que reza a lei, no entorno de monumentos naturais foram abertas
trilhas interpretativas por serem importante instrumento de acesso de visitantes aos
principais atrativos e ferramenta de manejo de visitantes, além de promoverem a interação
do turista ao ambiente, com mínimo impacto. Além de instrumento de interpretação,
permitem ao visitante realizar suas experiências com segurança. Como técnicas de manejo,
as trilhas devem ser equipadas com estrutura adequada, e integrada ao ambiente, com
objetivo de minimizar os impactos ambientais.
O Parque Estadual de Vila Velha possui trilhas implementadas que permitem o
acesso aos principais atrativos naturais, apresentando para cada uma delas o cálculo de
capacidade de carga. Ressalta-se que os números estipulados são parâmetros para
controle de visitantes de acordo com a fragilidade do ambiente e estrutura disponível. Além
disso, será necessário adotar metodologias de monitoramento para prevenção de prováveis
impactos. O limite através de números, não é suficiente para um manejo eficiente de
visitantes.
A principal trilha do Parque é a Trilha dos Arenitos, com extensão de 2.452,25m,
para observação e interpretação das formações rochosas únicas. Nesta trilha poderão ser
desenvolvidas dinâmicas de interpretação ambiental, a ser aplicada pelos monitores ou
condutores de visitantes de ecoturismo. Esta trilha permite a observação da fauna e flora
locais promovendo a interação mais efetiva entre os elementos do ambiente e o visitante.
Visando evitar processos erosivos, a trilha encontra-se calçada em toda sua
extensão, pavimentada com rochas (quartzito) que embora exóticas, apresentam
características similares aos dos arenitos, sendo mais resistentes ao desgaste. Com isto
procurou-se oferecer maior segurança ao visitante durante a caminhada buscando minimizar
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os impactos produzidos pelo pisoteio dos mesmos. A trilha conta com ponto de partida e
chegada, com paradas estratégicas para observação, contemplação e interpretação do
ambiente.
Na manutenção da qualidade do parque faz-se necessário delimitar a capacidade de
carga. Segundo o Plano de Manejo do PEVV (2004), o valor apresentado como capacidade
de carga para as trilhas, de acordo com a metodologia CIFUENTES (1992), no qual os
parâmetros analisados não se limitam ao número apresentado de capacidade de carga
efetiva, sendo apenas uma referência para o manejo, sendo flexível entre Capacidade Real
e Capacidade Física, de acordo com a estrutura e a dinâmica da UC. A estimativa de limite
de visitantes na área de uso intensivo do Parque Estadual de Vila Velha, mais
especificamente nos espaços compreendidos pela trilha que acessa os arenitos é calculada
considerando-se que cada pessoa ocupa 1m(CCF); que a distância entre os grupos deve
ser igual a 200m; que o horário de visita deve ser de 10h/dia; que o tamanho dos grupos
deva ter 20 pessoas mais um guia.
Como a metragem da trilha dos Arenitos é de 2.452,25m, tem-se que o fluxo de
visitantes, considerando esta metragem, seguindo em sentido circular único, com saída e
chegada ao mesmo ponto de partida:
CCF= 2.452,25m /221= 11,10 grupos (21p)= 233,10 pessoas ao mesmo tempo
distribuídas na trilha.
Como o percurso é aproximadamente de 2h tem-se:
10 horas/dia / 1h 30min.= 6,6
233,10 pessoas x 6.6 = 1.553,9 pessoas/dia
No cálculo de Capacidade de Carga Real, o cálculo é:
- CCR – Capacidade de Carga Real
Graus de subjetividade segundo CIFUENTES:
Perturbação a fauna: 3 meses/ano/12 x 100 = 25%
Fragilidade do meio físico = solo arenoso classificado como alto = 30% (já considerando a
pavimentação da trilha)
CCR = 1.553,9 x 100-25/100 x 100-30/100
CCR = 1.553,9 x 0,75 x 0,70 = 815,79
De outro ponto de vista, deve-se considera a Capacidade de Carga Efetiva que considera:
- CCE = Capacidade de Carga Efetiva
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Considerando o parque fechado um dia por semana para manutenção, isso resulta em um
mês por ano o parque fechado.
1mese/ano/12 x 100 = 8,33%
Assim, tem-se que:
CCE = 815,79 x 100-8,33/100 = 0,91
CCE = 815,79 x 0.91 = 747,8 visitantes/dia
Dentro desta metodologia foi aplicado para a Trilha dos Arenitos a Capacidade de
Carga Real, ou seja, 815 visitantes por dia.(CIFUENTES, 1992)
METODOLOGIA: Procedimentos
Observado o estado da vegetação dentro deste sítio do PEVV, decidiu-se que, para
a realização deste trabalho, se fazia necessário: delimitar um segmento dentro da trilha
principal que contorna o conjunto de geoformas, que fosse significativo pela presença de
espécie exóticas e ocultação dos arenitos, identificar a vegetação junto às geoformas de
acordo com as espécies e número de indivíduos; proximidade entre indivíduos (arvores,
arbustos..); proximidade entre arvores e os arenitos; presença ou não de raízes junto ou
sobre os arenitos; sinais de ação direta da vegetação nos arenitos, ex: cicatrizes por atrito;
queda de blocos, entre outros; mensurar a circunferência de cada uma das árvores (caule e
copa) situada ao longo da trilha, no setor de estudo. Feito isto, foi possível a construção de
um croqui mostrando a distribuição das espécies e o número por espécie ao longo do setor
de estudo.
A segunda fase do trabalho consistiu em elaborar e aplicar um instrumento de
coleta de dados – questionário entrevista, com perguntas fechadas e abertas tratando da
opinião dos turistas em relação à presença da vegetação e ocultação dos arenitos. Este
instrumento foi aplicado a um número de 100 visitantes-turistas no período de setembro e
outubro de 2010.
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RESULTADOS
O segmento de trilha selecionado corresponde ao início da Trilha Principal – (P.1- até
a Garrafa), tem uma extensão de 80m, por 2m de largura, com sentido W-E. Em alguns
lugares a trilha alcança até 4m de largura para favorecer a observação dos arenitos. Ele foi
subdividido em 3 (três) setores: A;B;e C (Figura 2);
A área em questão corresponde: (a) Setor A: a partir do P-01, início da trilha, local
onde os visitantes recebem informações sobre a trilha e as feições; (b) no Setor B, local da
feição denominada de Camelo, a primeira feição encontrada na trilha; (c) Setor C, destacase a Garrafa, assim denominada por sua semelhança com uma garrafa de refrigerante “a
Coca-cola”.
O levantamento das espécies indicou a presença de 20 (vinte) espécies arbóreas, e
2 (duas) gramíneas exóticas (capim gordura – melinis minutiflora e braquiária – brachiaria
spp.) no segmento de trilha entre o P-1 até a Garrafa. Destas somente 5 (cinco) são nativas
da região (local), a saber:
(1) Aroeira – Schius terebinthifolia, (2) Jerivá – Syagrus romanzofiana, (3) Miguelpintado – Cupania vernalis, (4) Café-brabo – Casearia syivestris e (5) Pinheiro do
Paraná – Araucaria angustifolia.
Para a localização/identificação dos indivíduos com mais 0,80m de altura utilizou-se
um conjunto de cores, como mostra o esboço (Figura 02). Não foi feita a identificação
daqueles menores que 0,80m (h), pois estavam encobertos pelas gramíneas, também
exóticas, dificultando o trabalho de contagem.
Cabe lembrar que o Plano de Manejo tem previsto a roçada periódica da área
compreendida no P-01 no SETOR A. Nos demais setores B-C, a roçada deve ser realizada
somente em 1,5 m no entorno da trilha (em toda sua extensão). Os locais que não
apresentam nenhuma marcação de espécies arbóreas estão encobertas por vegetação
rasteira de gramíneas exóticas, como Brachiaria e Capim-gordura, formando um tapete
denso onde se torna rara a observação de outras espécies.
SETOR A:
Ponto 01: Inicio da trilha, onde o visitante recebe todas as instruções para começar o
passeio, as principais feições neste segmento têm formas de torres e pináculos, e
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caracterizam o nome de Vila Velha. Sugerem uma cidade construída de pedras, com seus
paredões e falhas lembrando as ruas abandonadas com prédios em ruínas.
As figuras 03A e 03B mostram, através de dois registros fotográficos, a diferença
deste setor entre 1979 e 2014, em relação à presença de vegetação ao longo da trilha e no
entorno das geoformas.
Espécies encontradas:
(1) Angico-branco – Anadenanthara colubrina: encontradas ao longo de todo o trecho,
são as árvores de maior porte, medem aproximadamente 20-30 m de altura com
copa que varia de 15-20 m, as plantas adultas se encontram cerca de 10 m uma da
outra, estão no seu auge de reprodução. Estas espécies são naturais das matas
ciliares, encontra-se em torno de três mil plantas em um quadro de 25 m² no entorno
das árvores nas áreas que não são roçadas, com tamanhos que variam de 10 cm a 2
m. A dispersão das sementes é severa, visto que são encontradas em maior número
ao longo do trecho estudado.
(2) Branquilho - Sebastiana commersoniana: encontradas em sua maioria, plantadas em
linha (forma de um semi-arco), no início da trilha, no P-01. Constatou-se também que
a partir deste ponto esta espécie começa a exercer dominância, nesta área não se
encontra outras espécies fora as duas citadas (ressalvo uma canela-amarela em um
ponto isolado). Estas árvores medem cerca de 10-12 m e sombreia as áreas que não
são cobertas pelo angico-branco.
(3) Cipó de São João: Pyrostegia venusta - trepadeira encontrada nos paredões de
arenito em conjunto com outras espécies rupícolas.
SETOR B:
São encontradas neste setor as mesmas espécies do SETOR A, porém em menor
quantidade, disputando espaço com outras espécies:
(4) Araucária - Araucaria angustifólia: encontrou-se somente uma planta com 3 m de
altura.
(5) Ariri, guariri - Allagoptera campestris: planta de no máximo 0,5 m de altura, espécie
nativa de campo, foi encontrada somente três exemplares.
(6) Aroeira - Schinus terebinthifolia: planta de 5-10 m de altura ocorre em várias
formações vegetais, foram encontradas três plantas adultas.
(7) Café-brabo - Casearia sylvestris: planta de 4-6 m de altura, Ocorre em todo
território brasileiro em quase todas as formações florestais, foram encontrados alguns
exemplares bem distribuídos.
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Figura 2: Distribuição das espécies vegetais ao longo do Segmento de Trilha –P.1
Fonte: Cris/2010
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(8) Canela amarela ou fedida - Nectandra lanceolata: planta de 15-25 m de altura,
ocorre desde o Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, em regiões de altitude (sub
bosque de pinhais) dos três estados sulinos, algumas plantas jovens nas encostas dos
paredões.
(9) Figueira – Ficus garanitica: foram encontradas duas plantas.
(10) Guamirim - Eugenia florida: Altura de 5-9 m, copa arredondada pouca densa,
ocorre em quase todo o território brasileiro, na maioria das formações vegetais
arbóreas, em solos profundos e férteis, preferencialmente no interior de matas
secundárias,
(11) Jerivá - Syagrus romanzoffiana: Altura de 10-15 m, ocorre em todo o Paraná em
quase todas as formações vegetais, três exemplares.
(12) Limão-cravo – Citrus limonia: espécie exótica invasora originária da Ásia,
encontrado um exemplar.
(13) Miguel pintado - Cupania vernalis: Altura de 3-15m ocorre de São Paulo até o Rio
Grande do Sul em todas as formações florestais, encontrado sete plantas.
(14) Pau-cigarra - Senna multijuga: Altura de 4m ocorre em todo o país, principalmente
na mata pluvial da encosta atlântica até o alto da serra, uma planta encontrada
(15) Pessegueiro-bravo - Prunus sellowii: duas plantas jovens com altura de 4-6 m
ocorre do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul a mata pluvial atlântica e nas
florestas semidecíduas.
Este setor é importante para o turista, porque nele observam-se as geoformas
denominadas “o Camelo e a Cabeça de cachorro” (totalmente encoberta pela vegetação).
SETOR C:
Neste setor encontra-se a maior parte das espécies, mas foram marcadas no esboço
apenas as plantas com mais de 3 m de altura. Aqui se verificou um acúmulo de plantas tanto
nas paredes das geoformas como nas laterais da trilha. Os espaços sem marcações
estavam encobertos por Brachiaria e Capim gordura.
Foram encontradas algumas das espécies já mencionadas nos setores A e B, mas
com uma redução significativa no número de Angico branco – Anadenanthera colubrina,
devido ao afastamento dos pontos de dispersão.
Aparece neste setor apenas 1 (uma) espécie nova, e não havia presente nos outros
setores:
(16) Acácia manduirana - Senna macranthera: planta de 6-8 m de altura, ocorrendo
desde o Estado do Ceará até São Paulo e Minas Gerais na floresta semidecídua de
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altitude. É uma espécie exótica e invasora para nos campos e na Floresta de
Araucária. No PEVV, no local onde hoje são encontradas, em processo de
regeneração (A= 15 m²), já haviam sido retidas outras 18 plantas adultas em 2006
(arquivos de erradicação do PEVV) .
A geoforma mais significativa deste setor é a “Garrafa”, feição curiosa por sua
semelhança com aquela de “Coca-cola”. Desperta o interesse dos turistas logo ao chegarem
ao Parque, assim como a geoforma símbolo do Paraná a Taça. Em função do crescimento
da vegetação de entorno, parte da “Garrafa” não pode ser observada, causando frustração
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aos turistas.
Os resultados obtidos a partir da aplicação do questionário – entrevista – mostrou
que 86% dos entrevistados estão descontentes com a presença de vegetação no entorno e
sobre as geoformas. Um percentual semelhante é favorável à retirada das mesmas, apesar
de fazerem parte da vegetação nativa. A eliminação desta vegetação deve ser, em parte,
por roçada e poda, no caso das árvores mais altas, como prevê o Plano de Manejo do PEVV
e, em alguns pontos pode-se utilizar o fogo, técnica bastante discutida pela comunidade
científica e aprovada pelos profissionais cientistas do Conselho Consultivo do PEVV.
Figura 3-A: Visão do Ponto 01, início da trilha
(1979),obtida a partir do topo do Camelo.
Fonte: Zeca Coelho, 1979.
Figura 3-B: Visão do Ponto 1, inicio da Trilha
(2014), obtida a partir do mesmo ponto da
Figura 3-A.
Fonte:
Cris
Tavares,
2014
CONCLUSÃO
Partindo do conceito de Geoconservação e Geoturismo, observa-se que o PEVV
vem perdendo em ambos os sentidos, pois, os visitantes perdem o interesse na visita,
porque não conseguem mais ver as formações tão famosas mundialmente e, eles mesmos
reconhecem que é necessário alguma intervenção, e estes fatos causam transtorno a
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muitos, não só turistas, como também aos monitores e funcionários da UC que escutam a
todas as reclamações. De outro lado, a maior parte da vegetação encontrada nas bordas
dos arenitos, não ocorre neste ambiente, causando a sua descaracterização.
A influência que a vegetação exerce sobre a formação rochosa não está vinculada
somente a obstrução da observação das rochas, o que causa transtorno por parte de
turistas do mundo inteiro, mas também aos impactos que esta causa ao próprio ambiente.
O PEVV recebeu por muitos anos turistas de forma desordenada o que lhe causou
severos danos. Desde seu fechamento e posterior reinauguração, ele trabalha voltado a um
turismo diferenciado, que aposta na educação ambiental como base para a sustentabilidade,
ensinando turistas que o visitam a respeitar a natureza. Deste modo, levando em
consideração o avanço da vegetação (Figura 02 e 03), independente se nativa ou não,
dentro de algum tempo não será mais possível manter a visitação às formações rochosas de
Vila Velha, pois estas estarão totalmente encobertas. Estimou-se, em 2010, que dentro de
aproximadamente de três a cinco anos, toda a formação rochosa compreendida dentro da
área abordada, estaria encoberta por vegetação arbórea, impossibilitando a visualização
das feições. Atualmente (2014), já se percebe o encobrimento destas feições, ainda mais
rápido do que se imaginava.
Não há mais o que esperar, a intervenção deve ser imediata, em conjunto com
outros profissionais (biólogos, geógrafos, geólogos e turismólogos), que também montaram
seus relatórios em cima deste tema, verificou-se a necessidades de um manejo, que se dará
pela poda das espécies nativas deste ambiente e a retirada das exóticas. Proposta esta,
analisada e aprovada pelo Conselho Consultivo do PEVV e Comunidade Cientifica do
estado do Paraná.
Vila Velha reabriu suas portas para uma nova forma de ver e vivenciar o turismo, o
Geoturismo. Porém, se não buscar soluções para o manejo desta vegetação, poderá perder
seu foco, não só para este novo segmento, mas também para a Geoconservação, visto que
a proteção do patrimônio geológico é o principal fator de sua existência, devendo-se
priorizar o manejo de espécies destas áreas.
REFERÊNCIAS
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I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014
1764
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