SOCIOLOGIA 1. Explicitar em que consiste a realidade social A realidade social é o conjunto das interações que os seres humanos estabelecem entre si e entre eles, e aquilo que os rodeia, tendo como suporte um sistema comunicacional durável que exprime e assegura a vida dos indivíduos em grupo, num dado espaço e tempo. 2. Constatar a complexidade e a totalidade da realidade social A realidade social é complexa dado que sofre influências de diversas ordens, sendo a ação do meio natural muito importante nas práticas dos indivíduos. A construção de casas à base de um determinado material abundante numa dada região mostra que a ação do homem foi influenciada pelo meio natural; da mesma maneira, os povos que veneram o mar são, certamente, pescadores ou dependem do mar de qualquer outra forma. Por seu lado, o homem também exerce a sua ação sobre o meio natural, tornando possível afirmar que existe uma relação recíproca entre o homem e o meio. Essa ação permanente entre o homem e o meio, seja ele natural ou social, é a realidade social. 3. Identificar o objeto de estudo das diferentes ciências sociais A realidade social, pelo facto de ser complexa, poderá ser estudada por várias ciências sociais, cada uma ocupando-se de aspetos específicos, ou seja, o conjunto das ciências sociais (Sociologia, Economia, História, Demografia, Psicologia, etc.) estuda a mesma realidade social, mas cada uma das ciências sociais estudará a realidade social de acordo com os seus “interesses” ou perspetivas de análise. Da complementaridade dos diferentes contributos dados por cada uma das ciências sociais poderemos ter uma compreensão mais profunda da realidade social. Em síntese, as ciências sociais têm por objeto de estudo a realidade social que é suscetível de ser analisada segundo perspetivas diferentes e complementares por cada uma das ciências sociais (que estudarão aspetos específicos dessa realidade, consoante a sua perspetiva ou o seu “interesse” próprio). 4. Justificar a complexidade da vida social como a razão da intervenção das ciências sociais Realidades sociais como a família, o divórcio, a educação, a empresa, os conflitos de gerações, a comunicação social, a participação dos cidadãos na vida política do país, a religião, a emigração, etc., são realidades que decorrem na nossa vida coletiva e que, como tal, são designadas por realidades sociais ou fenómenos sociais. O estudo destas realidades sociais cabe, naturalmente, a um tipo de ciências, no caso, as ciências sociais. Apesar das suas diversidades e particularidades, as realidades sociais fazem parte de um grande conjunto a que chamamos vida social. Sendo a vida social uma unidade complexa, resultante da multiplicidade dos fenómenos sociais, é suscetível de ser abordada segundo perspetivas disciplinares ou “interesses” diferentes. Embora a realidade social seja suscetível de ser artificialmente compartimentada para maior facilidade de análise, ela é sempre a mesma realidade ou a mesma unidade, e é o seu estudo que constitui o objeto das ciências sociais. 5. Reconhecer na interdisciplinaridade a atitude metodológica das ciências sociais O social exige uma atitude metodológica própria, dada a sua complexidade. A realidade social é só uma (una e total), mas todos os fenómenos da realidade social são fenómenos sociais totais, isto é, são fenómenos que têm implicações em diferentes níveis do real (histórico, político, religioso, sociológico, etc.), sendo, portanto, suscetíveis de interessar a várias, ou mesmo a todas as Ciências Sociais. O real social é, pois, complexo e pluridimensional e, por isso, suscetível de ser abordado de diferentes maneiras pelas diversas ciências sociais. A complexidade dos fenómenos sociais exige, no seu estudo, o recurso à ação conjugada das várias Ciências Sociais. As diferentes ciências analisam as mesmas realidades, os mesmos fenómenos "sociais totais", mas por perspetivas diferentes, o que leva a que as investigações realizadas numa disciplina qualquer possam ser fundamentais para outra. Os fenómenos são complexos porque podem ter mais que uma causa e consequentes efeitos. A esta atitude metodológica que procura integrar o contributo de várias ciências no sentido de encontrar uma explicação e um entendimento mais profundo da realidade social chamamos interdisciplinaridade. Esta é pois a atitude metodológica das ciências sociais, que permite adquirir um conhecimento mais profundo da realidade social, e de modo a que este conhecimento seja o mais próximo possível da verdade. A investigação de qualquer fenómeno social, pelo facto de ele ser complexo e denso, exige a interdisciplinaridade, que consiste na ação integradora do contributo de várias ciências que, com “olhos” diferentes, fornecem informações sobre o fenómeno em estudo. 6. Contextualizar historicamente o surgimento da sociologia (no mundo e em Portugal) A Sociologia nasceu do positivismo, tendo sido o filósofo Auguste Comte, denomidado o “pai” da Sociologia, o primeiro a defender o método científico para o estudo da realidade social, à semelhança do que acontecia com as ciências naturais. Foi, todavia, Émile Durkheim quem aplicou o método científico ao estudo de um problema social grave na sua época. Mas a origem da Sociologia tem outra vertente – as preocupações com as questões sociais decorrentes da nova sociedade resultante da industrialização do século XIX. Foi com a intenção de compreender os novos problemas sociais que os novos investigadores, utilizando o método científico, deram origem à Sociologia. Em Portugal, após a instauração do regime democrático do pós-25 de Abril, a Sociologia afirmase no domínio das ciências sociais, em consequência das áreas de estudo e do número de investigadores e estudiosos. Em 1985 foi criada a Associação Portuguesa de Sociologia, principal organização científicoprofissional dos sociólogos portugueses, que apoia a disciplina e o estudo desta nova profissão. 7. Distinguir o conhecimento científico do senso comum O senso comum é subjetivo, espontâneo, ingénuo e dogmático, enquanto que o conhecimento científico é objetivo, universal, sistemático, metódico, verificável, crítica e antidogmático. O senso comum são ideias que adquirimos empiricamente, através do nosso quotidiano. O senso comum é uma forma de conhecimento empírico, baseado nos sentidos, em sensações e impressões, e em ideias que circulam na sociedade sem terem sido testadas ou demonstradas. O conhecimento científico, podendo partir do senso comum, é sempre testado e comprovado pelo método científico. A diferença fundamental está na comprovação científica das hipóteses explicativas. 8. Identificar características do conhecimento científico O conhecimento científico é objetivo, universal, sistemático, metódico, verificável, crítica e antidogmático. 9. Explicar as dificuldades que se colocam à produção do conhecimento científico em sociologia São vários os obstáculos e resistências que se colocam à produção do conhecimento científico. Senso comum – o “sempre foi assim” surge como uma atitude determinística difícil de romper. Essa dificuldade é tanto maior quanto mais “evidente” e “natural” parecer a explicação dada. Perante “evidências”, mudar atitudes, nomeadamente no sentido de abertura a outras evidências e explicações é difícil, pois a explicação que já detemos satifaz-nos plenamente. Familiaridade com o social – “conhecimento” que temos dos fenómenos sociais, porque com eles convivemos diariamente, dificulta a produção científica na medida em que, aparentemente, já não precisamos de procurar o “conhecimento” das coisas, porque já o possuimos. Ilusão da transparência do social – uma coisa que todos aprendemos mais cedo ou mais tarde, com os amigos, os familiares, os professores, os colegas ou, muito simplesmente, com os “azares” que nos acontecem, é a de que “é preciso ler nas estrelinhas”. Perante uma situação que exige uma avaliação, uma decisão, um compromisso, etc., é importante que procuremos interpretações que vão para além daquilo que nos é dado a conhecer por outrem, e que nós decidimos aceitar como “a verdade”. A aparente transparência do social torna-se, assim, um enorme obstáculo à produção científica, na medida em que torna dispensável a investigação sobre aquilo que já se sabe e que se compreende, pelo simples facto de darmos um pouco de atenção aos fenómenos sociais. Naturalismo – refere-se ao facto da sociedade poder ser vista como algo de natural, como o corpo humano, por exemplo. No entanto, não há nada de mais “antinatural” que o social. De facto, o que é social é “construído” pelo ser humano, ao contrário do que acontece com os fenómenos naturais. Individualismo – reconhece no indivíduo o único elemento de decisão na ação social. Embora o indivíduo seja um “ser de liberdade”, a sua prática social é-lhe imposta por modelos e valores sociais que ele acaba por aceitar por força do processo de socialização e do controlo social, sob pena de ser rejeitado pela sociedade. Este facto não impede, no entanto, que os indivíduos, enquanto seres livres com capacidade de opção, ajam de acordo com a sua vontade real. Etnocentrismo – atitude de um indivíduo ou coletividade que, quando se refere a indivíduos de culturas diferentes, os avalia e os ajuíza em referência aos seus modelos que, obviamente, julga superiores. 10. Compreender os obstáculos mais significativos ao conhecimento científico Os obstáculos epistemológicos são: o senso comum, a ilusão da transparência do social, a familiridade com o social, o naturalismo (tudo o que é social é criado pelo homem, não é natural), o individualismo (a Sociologia estuda a ação social em que o comportamento individual é um produto) e o etnocentrismo cultural (quando o investigador faz da sua cultura a referência para avaliar outras). 11. Distinguir as principais estratégias de investigação As principais estratégias de investigação são: a estratégia de investigação intensiva, a estratégia de investigação extensiva e a investigação-ação. 12. Justificar a adequação de cada uma das estratégias ao tipo de investigação a efetuar Estratégia de investigação intensiva, que se caracteriza por uma investigação em profundidade, procurando-se o maior número de informações e exigindo uma grande proximidade entre investigador e investigado; Estratégia de investigação extensiva, que se caracteriza por um estudo sobre uma população mais extensa, a partir de uma amostra representativa do universo. É um estudo mais abrangente, generalista e menos profundo; Investigação-ação, que se caracteriza pelo facto de o investigador fazer parte do grupo que pesquisa, procurando soluções para os problemas a estudar, no decorrer dos trabalhos de investigação que vai realizando.