LESÕES DA MUCOSA ORAL EM CRIANÇAS E

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LESÕES DA MUCOSA ORAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES HIVINFECTADAS EM TRATAMENTO COM ANTIRRETROVIRAL
Helly Karinny Pereira Soares (bolsista do PIBIC/CNPq), Lúcia de Fátima Almeida de
Deus Moura(Orientadora, Depto de Patologia e Clínica Odontológica– UFPI)
Introdução
Lesões na mucosa oral podem ser os primeiros sinais e sintomas da infecção pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV) em crianças (MELESS et al., 2014). O reconhecimento dos tipos de
lesões permite diagnóstico e intervenção precoces durante exame clínico bucal e são preditoras do
estado imunológico e redução da morbidade na população infantil (RANGANATHAN et al., 2010).
A cavidade bucal é susceptível à infecções oportunistas por abrigar microrganismos capazes
de proliferar em condições de supressão imunológica, causando infecções fúngicas, virais e
bacterianas, além de lesões neoplásicas (SUBRAMANIAM e KUMAR, 2015). Em crianças HIV
positivo, alterações bucais como candidíase, estomatite herpética, úlcera aftosa e aumento da
glândula parótida são frequentes (JOSE et al., 2013, CHAMBERS et al., 2015).
O objetivo do estudo foi determinar a frequência de lesões na mucosa oral em crianças e
adolescentes HIV-infectados em tratamento com antirretroviral.
Metodologia
Trata-se de estudo observacional transversal. População censitária de pacientes na faixa
etária de 3 a 14 anos que frequentaram o ambulatório infantil do Instituto de Doenças Tropicais
"Nathan Portella" (IDTNP) no período de janeiro a junho de 2015. A pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI (Parecer 890.553). Projeto piloto foi realizado com 10
crianças/adolescentes frequentadoras da Clínica Infantil da UFPI para avaliação da metodologia
proposta. Nenhuma alteração foi necessária.
Antes da realização do estudo, foram realizados treinamento e calibração da cirurgiã-dentista
examinadora. O treinamento in lux consistiu na apresentação de slides com imagens de lesões orais
associadas ao HIV, usando o Oral Research Alliance HIV/AIDS (SHIBOSKI et al. 2009). Projeções
de casos clínicos de lesões bucais foram realizadas em dois momentos com intervalo de uma
semana para calibração da examinadora (valor do índice Kappa=1,00) (MELESS et al, 2014).
A coleta de dados foi realizada em três momentos: aplicação de questionários aos pais ou
responsáveis, exame clínico bucal e coleta de dados médicos. O questionário abordou aspectos
sócio-econômico-demográficos e relacionados à dieta, higiene bucal e outros hábitos bucais da
criança/adolescente. Os pacientes foram examinados utilizando espelho bucal e gaze estéril, em
consultório odontológico convencional e sob iluminação artificial de refletor. No exame clinico foi
observada a presença de lesões na mucosa bucal e condições como linfadenopatia e gengivite não
foram incluídas.
Após exame clínico cada criança/adolescente recebeu informações sobre o processo
saúde/doença, instruções de escovação e dieta. Realizou-se um treinamento de higiene bucal e
distribuição de folhetos educativos, doação de escova e creme dental fluoretado. Consulta aos
prontuários médicos foi realizada para a obtenção de dados como contagem de células CD4 e
adesão à terapia.
Os dados foram analisados no programa Statistical Package for the Social Science (SPSS®
for Windows, versão 20.0, SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Análise descritiva dos dados foi realizada
através da distribuição de frequências e o Teste Qui-quadrado de Pearson (²) para determinar
associação entre variáveis independentes e presença de lesões em tecidos moles bucais.
Resultados e Discussão
A população foi constituída por 47 pacientes com idade média de 8,64 anos de ambos os
sexos, sendo 26 meninos e 21 meninas. A maioria dos pacientes (89,4%) tinha renda familiar entre 0
e 2 salários mínimos e os responsáveis possuíam escolaridade entre 8 e 11 anos. Houve uma perda
de 5 (10,63%) pacientes que se recusaram a realizar o exame clínico.
Embora as manifestações bucais associadas à infecção pelo HIV em adultos tenham sido
bem documentadas, pouco se conhece sobre
a presença dessas lesões em crianças
(RANGANATHAN et al., 2010). De acordo com os resultados deste estudo, a frequência de
manifestações em tecidos moles bucais foi de 10,7%. Estudos semelhantes apontaram frequências
superiores (SANTOS et al. 2009, RIBEIRO et al., 2013) e essas variações podem ser explicadas
pelas diferenças nas metodologias aplicadas.
Nesse estudo, condições como linfadenopatia e
gengivite não foram incluídas.
As lesões bucais observadas nos pacientes examinados foram candidíase, eritema linear
gengival, herpes simples e pigmentação que foram consistentes com outros estudos (GONÇALVES
et al. 2013, SUBRAMANIAM et al., 2015). Contudo, lesões como pigmentação oral são raras e
observadas, principalmente, em crianças sob tratamento antirretroviral (TARV) (JOSE et al., 2013).
Não existe causa definida quanto à ocorrência desse tipo de lesão, no entanto, estudo sugere que
algumas condições orais podem ocorrer como parte da reconstituição imunológica resultante da
terapia antirretroviral (SUBRAMANIAM et al., 2015).
Apesar das manifestações bucais serem frequentes em pacientes pediátricos com HIV,
observou-se redução na ocorrência e gravidade dessas lesões em decorrência do aumento na
adesão à TARV (JOSE et al., 2013). A maioria dos pacientes examinados fazia uso regular de
medicações que combatem a replicação do vírus. A terapia antirretroviral é o tratamento padrão de
infecção pelo HIV e contribuiu para redução global de lesões orais associadas a esse vírus
(NITTAYANANTA et al., 2015). No Brasil, o acesso aos medicamentos antirretrovirais alcança níveis
elevados, sendo o primeiro país em desenvolvimento a adotar política pública de distribuição desses
medicamentos (NUNN et al., 2009).
Estudos demonstram que o estado imunológico individual também pode estar envolvido no
desenvolvimento de lesões em mucosa bucal (JOSE et al., 2013, RIBEIRO et al, 2013). Nesse
estudo, foi observada associação significativa entre número de células CD4 e presença de lesões em
tecidos moles bucais. Pacientes com maior comprometimento do sistema imunológico apresentam
aumento da frequência de manifestações bucais (MOSAM et al., 2013).
Apesar do número reduzido de crianças/adolescentes examinados ser uma das limitações do
presente estudo, esse fato reflete a atual realidade epidemiológica da infecção pelo HIV no Brasil, em
que a prevalência de transmissão vertical do HIV é baixa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). Esse
decréscimo se deve ao conhecimento do estado sorológico da infecção pelo HIV por gestantes e a
precocidade do diagnóstico, tornando possível a adoção de medidas que reduzem substancialmente
o risco de transmissão vertical (NUNN et al., 2009). Dos pacientes atendidos no ambulatório de
Pediatria do IDTNP, a maioria era de bebês expostos ao HIV durante a gravidez, mas que não foram
infectados em razão do uso de medicamentos antirretrovirais pela mãe.
Conclusão
As crianças e adolescentes HIV positivo apresentaram baixa frequência de lesões de mucosa
bucal.
Apoio: Programa de Pós-Graduação em Odontologia UFPI
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Palavras-chave: Manifestações bucais. HIV. Criança.
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