Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa

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Construção do Conhecimento
e Metodologia da Pesquisa
Marlise There Dias
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD
Construção do Conhecimento e
Metodologia da Pesquisa
Livro-texto EaD
Natal/RN
2010
DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
Reitoria
Sâmela Soraya Gomes de Oliveira
Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária
Sandra Amaral de Araújo
Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação
Aarão Lyra
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP
Coordenação Geral
Barney Silveira Arruda
Luciana Lopes Xavier
Coordenação Pedagógica
Edilene Cândido da Silva
Coordenação de Produção
de Recursos Didáticos
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Coordenação de Produção de Vídeos
Bruna Werner Gabriel
Revisão de Linguagem
e Estrutura em EaD
Priscilla Carla Silveira Menezes
Thalyta Mabel Nobre Barbosa
Úrsula Andréa de Araújo Silva
Apoio Acadêmico
Flávia Helena Miranda de Araújo Freire
Assistente Administrativo
Eliane Ferreira de Santana
Gabriella Souza de Azevedo
Gibson Marcelo Galvão de Sousa
Giselly Jordan Virginia Portella
Coordenação de Logística
Helionara Lucena Nunes
D541c Dias, Marlise There.
Construção do conhecimento e metodologia da pesquisa /
Marlise There Dias. – Natal: [s.n.], 2010.
256p. : il. ; 20 cm
1. Metodologia científica. 2. Metodologia da
pesquisa.I.Título.
RN/UnP/BCSF
CDU 001.8
Marlise There Dias
Construção do Conhecimento e
Metodologia da Pesquisa
Livro-texto EaD
Natal/RN
2010
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Delinea Tecnologia Educacional
Coordenação Pedagógica
Margarete Lazzaris Kleis
Coordenação de Editoração
Charlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira
Revisão Gramatical e Linguagem em EaD
Simone Regina Dias
Diagramação
Alexandre Alves de Freitas Noronha
Ilustrações
Alexandre Beck
Coordenação de Produção de Recursos Didáticos da UnP
Michelle Cristine Mazzetto Betti
Ilustração do Mascote
Lucio Masaaki Matsuno
Sou graduada em Ciência da Computação pela Universidade
do Vale do Itajaí - UNIVALI (1997). Em 2003, recebi o grau de
especialista em Desenvolvimento de Software para Web também
pela UNIVALI. Realizei meu mestrado em Ciência da Computação
no ano de 2009 na UNIVALI.
Desde 1999, atuo como docente na Universidade do Vale do
Itajaí, em disciplinas da área de ciência da computação e relacionadas
ao conhecimento. Durante este período, já ministrei disciplinas
específicas da computação, fui professora da disciplina de estágio
no curso de Administração e também de metodologia em vários
cursos presenciais. Atuei como docente também na disciplina de
metodologia da pesquisa no curso de administração - modalidade
a distância - dentre várias outras disciplinas nesta modalidade.
Atualmente, sou docente nas disciplinas de Metodologia da
Pesquisa (curso de Ciências Contábeis) e Administração de Sistemas
de Informação (curso de Administração). Na modalidade de ensino
a distância, atuo como professora responsável pelos estágios nos
cursos Ciências Contábeis e Administração, sendo também docente
da disciplina de Estágio.
CONHECENDO O AUTOR
MARLISE THERE DIAS
Para tratar sobre esta disciplina, começo questionando você
sobre o que deseja ao ler este material. O que você buscou quando
se matriculou em um curso superior? Acredito que, rapidamente,
você pensou em respostas como: aprender, conhecer, descobrir,
e se não foram exatamente estas palavras, pensou em outras
semelhantes. Afinal, se considerarmos nossas vidas, veremos que
estas são palavras presentes durante todo o tempo em nossa casa,
com nossa família, no trabalho e ainda mais na academia. Isso
mesmo, academia. E o significado é diferente daquele que, num
primeiro momento, pode ter passado pela sua mente.
Pensar em meio acadêmico, em academia, nos remete ao
conhecimento e à pesquisa. Um lugar em que buscamos, queremos
conhecer coisas novas, andar por caminhos não percorridos e
alçar novas descobertas. Chamo sua atenção para não pensar em
academia apenas pelo fato de estar matriculado em um curso
superior. Você será considerado um acadêmico de verdade se
conseguir, ao longo dos anos de estudo, colher frutos que lhe farão
um profissional no curso superior escolhido.
Acredito que, neste momento, tenha sentido um “frio na barriga”
e esteja questionando a si próprio se conseguirá obter êxito nesta
empreitada. Pode até estar com vontade de questionar: “mas professora,
como eu consigo isto? Será que consigo?” Sim, isto é totalmente possível
e ocorrerá se você, durante os anos de curso superior, se empenhar para
ter um contato muito próximo com o máximo de conhecimento.
Então, lembre-se que você, ao ingressar em um curso superior
e almejar um título de graduação, se coloca na posição de estudante.
E o que significa ser um estudante do ensino superior? Facilmente,
estou ouvindo: “essa é fácil, professora – é alguém que estuda
para obter o referido título”. Muito bem! Resposta correta! Mas
não pode ser uma resposta vazia, é preciso que você compreenda
realmente o significado dela e é por isso que falaremos sobre a
“construção do conhecimento e metodologia da pesquisa”.
CONHECENDO A DISCIPLINA
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E
METODOLOGIA DA PESQUISA
Esta disciplina mostrará a você o que significa ser um estudante de um curso
superior, um acadêmico. Você perceberá que é relevante estar sempre buscando
conhecimento e que também é possível, no meio acadêmico, produzi-lo. Para tanto,
estudaremos nesta disciplina as formas pelas quais você pode fazer isto.
Veremos a origem da busca pelo conhecimento, partindo de conceitos
básicos de filosofia à identificação da natureza do conhecimento. Compreender
conceitos relacionados à ciência e pesquisa e conhecer as formas de estudo e leitura
e de divulgação de conhecimento auxiliarão você no processo de investigação e
descoberta durante todo o curso superior.
Agora, convido você a mergulhar neste oceano de descobertas e vislumbrar
as mais variadas formas de conhecer que serão apresentadas durante os capítulos
desta disciplina.
CURSO: NEaD - DISCIPLINAS DE GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA: CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
E METODOLOGIA DA PESQUISA
PROF. AUTOR: MARLISE THERE DIAS
MODALIDADE: A DISTÂNCIA
2 EMENTA
A filosofia, o conhecimento e as ciências. Epistemologia da
pesquisa. Fundamentos metodológicos de pesquisa. Metodologias
de pesquisa. Métodos de pesquisa. Técnicas de pesquisa. Estratégias
metodológicas. Projeto de pesquisa.
3 OBJETIVOS
• Compreender a natureza do conhecimento científico como
objeto da pesquisa científica.
• Compreender os procedimentos da metodologia da
pesquisa para elaboração de trabalhos técnico-científicos
que vislumbrem a pesquisa para produção de conhecimento
científico na referida área de estudo.
4 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS
• Competências: ao final da disciplina, o aluno deve ser
capaz de compreender os conceitos relacionados à ciência,
conhecimento e pesquisa; reconhecer os diferentes tipos de
trabalhos acadêmico-científicos e sua estrutura; desenvolver
trabalhos acadêmico-científicos; compreender e utilizar
técnicas apresentadas buscando leitura proveitosa de
referências; reconhecer fontes de pesquisa adequadas;
identificar os diferentes tipos de métodos e pesquisas
existentes; aplicar os conceitos desenvolvendo um projeto de
pesquisa.
• Habilidades: desenvolver trabalhos acadêmico-científicos e
projeto de pesquisa de acordo com a estrutura apresentada.
PLANO DE ENSINO
1 IDENTIFICAÇÃO
5 VALORES E ATITUDES
O aluno deve ser despertado para atividades de leitura e pesquisa em busca do
conhecimento científico, levando-se em conta uma postura ética.
6 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS
UNIDADE I
• Noções de filosofia e aspectos da filosofia contemporânea.
• Relação entre a construção do conhecimento e as ciências.
• Epistemologia da pesquisa: fundamentos filosóficos aplicados à pesquisa e
à construção do conhecimento.
• Metodologias de pesquisa: pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa
suas técnicas e recursos.
UNIDADE II
• Estratégias metodológicas: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa de opinião,
o estudo de caso, pesquisa-ação, pesquisa-intervenção, o trabalho de campo
(a observação participante, o questionário, a entrevista, diário de campo).
• Trabalhos científicos. Memorial. Monografia. TCC. Artigos.
• As fontes de pesquisa. Normas da ABNT na elaboração de trabalhos
científicos, resumos, resenhas, citações e referências.
• Projeto de pesquisa: estrutura e finalidade. Introdução. Objeto de estudo.
Problema de pesquisa. Metodologia. Referencial teórico. Cronograma de
pesquisa.
7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
• Utilização de material didático impresso (livro-texto).
• Interação através do Ambiente Virtual de Aprendizagem.
• Utilização de material complementar (sugestão de filmes, livros, sites,
músicas, ou outro meio adequado à realidade do aluno).
8 ATIVIDADES DISCENTES
• Pontualidade e assiduidade na entrega das atividades propostas no material
didático impresso (livro-texto) e solicitadas pelo tutor no Ambiente Virtual
de Aprendizagem.
• Realização das avaliações presenciais obrigatórias.
9 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação ocorrerá em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem
considerando:
• leitura do de material didático impresso (livro-texto);
• interação com tutor através do Ambiente Virtual de Aprendizagem;
• realização de atividades propostas no material didático impresso (livrotexto) e/ou pelo tutor no Ambiente Virtual de Aprendizagem;
• aprofundamento de temas em pesquisa extra material didático impresso
(livro-texto).
10 BIBLIOGRAFIA
10.1 BIBLIOGRAFIA BÁSICA
AZEVEDO, I. B. de. O prazer da produção científica: descubra como é fácil e
agradável elaborar trabalhos acadêmicos. 11. ed. São Paulo: Hagnos, 2001.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, R. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo:
Pearson, 2007.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.
10.2 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
MARCONI, M. A.; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2007.
SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
10.3 BIBLIOGRAFIA INTERNET
Associação Brasileira de Normas Técnicas: http://www.abnt.org.br/
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq):
http://www.cnpq.br/
Capítulo 2 - A ciência e a pesquisa ............................................................. 49
2.1 Contextualizando .......................................................................................................... 49
2.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 49
2.2.1 Natureza do conhecimento ............................................................................ 49
Conhecimento empírico (vulgar ou de conhecimento do povo) ....................................51
Conhecimento filosófico ................................................................................................................53
Conhecimento teológico ............................................................................................................... 54
Conhecimento científico ................................................................................................................55
2.2.2 A ciência e a filosofia .......................................................................................... 57
Classificação das ciências ............................................................................................................... 61
2.2.3 Noções gerais sobre pesquisa ........................................................................ 66
Áreas de pesquisa ............................................................................................................................. 70
2.2.4 Etapas da pesquisa ............................................................................................. 72
2.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 73
2.3.1 Resolvendo ............................................................................................................ 74
2.4 Para saber mais .............................................................................................................. 75
2.5 Relembrando .................................................................................................................. 75
2.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 76
Onde encontrar ..................................................................................................................... 77
Capítulo 3 - Métodos de pesquisa ............................................................. 79
3.1 Contextualizando .......................................................................................................... 79
3.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 80
3.2.1 Métodos de pesquisa ........................................................................................ 80
3.2.2 Relevância do método ...................................................................................... 88
3.2.3 Métodos científico e racional ......................................................................... 91
3.2.4 Métodos dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo e dialético ........... 92
3.2.5 Métodos experimental, observacional, estatístico e comparativo ... 97
3.3 Aplicando a teoria na prática ...................................................................................101
SUMÁRIO
Capítulo 1 - Noções de filosofia e aspectos da filosofia
contemporânea ........................................................................................... 17
1.1 Contextualizando .......................................................................................................... 17
1.2 Conhecendo a teoria .................................................................................................... 17
1.2.1 Noções de filosofia ............................................................................................. 17
Origem .................................................................................................................................................. 19
Períodos da filosofia grega ............................................................................................................20
1.2.2 O que é filosofia? ................................................................................................. 25
1.2.3 Filosofia contemporânea ................................................................................. 28
1.2.4 A razão e a verdade ............................................................................................ 36
Razão ..................................................................................................................................................... 36
Verdade ................................................................................................................................................. 40
1.3 Aplicando a teoria na prática .................................................................................... 42
1.3.1 Resolvendo ............................................................................................................ 43
1.4 Para saber mais .............................................................................................................. 44
1.5 Relembrando .................................................................................................................. 45
1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................ 46
Onde encontrar ..................................................................................................................... 47
3.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................101
3.4 Para saber mais .....................................................................................................................................102
3.5 Relembrando .........................................................................................................................................103
3.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................104
Onde encontrar ............................................................................................................................................105
Capítulo 4 - Pesquisa ....................................................................................................107
4.1 Contextualizando .................................................................................................................................107
4.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................108
4.2.1 Pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa: origem,
características e recursos .........................................................................................................108
4.2.2 Níveis de pesquisa .....................................................................................................................112
4.2.3 Estratégias ou delineamentos de pesquisa ......................................................................116
Pesquisa bibliográfica ................................................................................................................................................. 117
Pesquisa de opinião .................................................................................................................................................... 119
Pesquisa-ação ................................................................................................................................................................ 119
Pesquisa-intervenção ................................................................................................................................................. 120
Estudo de caso .............................................................................................................................................................. 121
Trabalho de campo ..................................................................................................................................................... 121
4.2.4 Métodos de coleta de dados .................................................................................................123
Observação participante ........................................................................................................................................... 123
Entrevista ........................................................................................................................................................................ 125
Questionário e formulário ......................................................................................................................................... 127
Diário de campo ........................................................................................................................................................... 129
4.2.5 Análise de dados ........................................................................................................................129
Análise estatística ......................................................................................................................................................... 129
Análise de conteúdo ................................................................................................................................................... 130
Análise de discurso ...................................................................................................................................................... 130
Análise qualitativa ....................................................................................................................................................... 131
4.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................131
4.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................132
4.4 Para saber mais .....................................................................................................................................133
4.5 Relembrando .........................................................................................................................................133
4.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................134
Onde encontrar ............................................................................................................................................136
Capítulo 5 - Estudo e leitura .........................................................................................137
5.1 Contextualizando .................................................................................................................................137
5.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................138
5.2.1 Fontes de pesquisa ....................................................................................................................138
5.2.2 Resumos ........................................................................................................................................148
5.2.3 Resenhas .......................................................................................................................................150
5.2.4 Fichamento ..................................................................................................................................153
5.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................157
5.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................159
5.4 Para saber mais .....................................................................................................................................160
5.5 Relembrando .........................................................................................................................................162
5.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................162
Onde encontrar ............................................................................................................................................165
Capítulo 6 - Trabalhos acadêmico-científicos .............................................................167
6.1 Contextualizando .................................................................................................................................167
6.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................168
6.2.1 Trabalhos científicos ..................................................................................................................168
6.2.2 Memorial .......................................................................................................................................173
6.2.3 Monografia ...................................................................................................................................174
6.2.4 TCC ...................................................................................................................................................179
6.2.5 Dissertação ...................................................................................................................................180
6.2.6 Tese ..................................................................................................................................................182
6.2.7 Artigo .............................................................................................................................................184
6.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................188
6.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................189
6.4 Para saber mais .....................................................................................................................................190
6.5 Relembrando .........................................................................................................................................192
6.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................193
Onde encontrar ............................................................................................................................................195
Capítulo 7 - Apresentação de trabalhos acadêmico-científicos ................................197
7.1 Contextualizando .................................................................................................................................197
7.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................198
7.2.1 Estrutura de trabalhos acadêmico-científicos .................................................................198
7.2.2 Citações .........................................................................................................................................210
7.2.3 Referências ...................................................................................................................................214
7.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................221
7.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................222
7.4 Para saber mais .....................................................................................................................................222
7.5 Relembrando .........................................................................................................................................223
7.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................223
Onde encontrar ............................................................................................................................................224
Capítulo 8 - Projeto de pesquisa ..................................................................................225
8.1 Contextualizando .................................................................................................................................225
8.2 Conhecendo a teoria ...........................................................................................................................226
8.2.1 Estrutura e finalidade ...............................................................................................................226
8.2.2 Introdução: tema, problema de pesquisa, objetivo de estudo, justificativa ........230
8.2.3 Metodologia da pesquisa .......................................................................................................237
8.2.4 Referencial teórico .....................................................................................................................242
8.2.5 Orçamento e cronograma de pesquisa .............................................................................244
8.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................246
8.3.1 Resolvendo ...................................................................................................................................247
8.4 Para saber mais .....................................................................................................................................248
8.5 Relembrando .........................................................................................................................................249
8.6 Testando os seus conhecimentos ...................................................................................................250
Onde encontrar ............................................................................................................................................252
Referências .....................................................................................................................................................253
CAPÍTULO 1
NOÇÕES DE FILOSOFIA E ASPECTOS
DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
1.1 Contextualizando
Conhecer a origem do que estudaremos nos permite uma melhor visualização
para o aprendizado, fazendo que estejamos situados no conteúdo. Este capítulo
ajudará na compreensão de como chegamos a pensar em conhecer algo, a nos intrigar
com o que é apresentado. Você verificará que o ser humano pode passar de um
estado em que simplesmente recebe informações para uma posição de questionador.
O texto mostrará que, quando você passa a exigir maiores explicações a
respeito de fatos e acontecimentos, está na situação de alguém em busca da
verdade ou em busca de questioná-la.
O capítulo 1 apresentará a você noções de filosofia e um pouco da história desta
área tão intrigante e interessante, que revelou os maiores pensadores da história,
inclusive de tempo atuais. Você perceberá o quanto os filósofos questionaram a
sociedade, o que era imposto ao ser humano, sem aceitar tudo o que lhes era dito.
Espera-se que, ao final do estudo, você seja capaz de definir filosofia,
conheça sua origem, alguns filósofos e, principalmente, consiga visualizar
porque este assunto é apresentado nesta disciplina.
1.2 Conhecendo a teoria
1.2.1 Noções de filosofia
Se você é daqueles que, quando ouve falar que determinado sujeito
é filósofo, já faz uma cara insinuante e acha que se trata de algum louco,
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
17
Capítulo 1
este tópico pretende mostrar o que realmente pretende a filosofia. Os
filósofos são, muitas vezes, estigmatizados como humanos que escrevem e
falam coisas que não são compreendidas por outros de sua espécie, ou que
estariam sempre fora da realidade.
Esta atitude preconceituosa e de julgamento faz com que muitos
estudantes não se sintam à vontade quando ouvem falar sobre tal área de
conhecimento. Porém, pretendo mostrar a você o quão relevante são os
conceitos da filosofia para sua vida acadêmica.
Pensando bem, todos nós filosofamos, pois estamos sempre tentando
dar sentido às coisas. De acordo com os pensamentos de Gramsci (1978, apud
ARANHA e MARTINS, 1993, p. 74), “não se pode pensar em nenhum homem
que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque pensar
é próprio do homem como tal”. As escolhas que fazemos em nosso cotidiano
fazem parte de nossa filosofia de vida, a forma como nos alimentamos, como
fomos educados e educamos, a nossa rotina, etc.
Durante nosso desenvolvimento, acabamos por nos acomodar em
conhecimentos que nos são apresentados facilmente. Algumas atividades de
nossa rotina são realizadas de maneira tão automática que nem pensamos em
questionar o porquê de estarmos realizando daquela forma.
Chauí (2003) apresenta o desenvolvimento automático destas
atividades cotidianas para nos mostrar que o fato de não questionarmos
significa que aceitamos algo como real. E exemplifica: quando você
pergunta a alguém as horas está confirmando que acredita que o tempo
existe, acredita nas horas, e também na idéia de que o passado não volta
mais. Os aspectos em que você acredita o fazem diferente de outra pessoa
que pode ter suas próprias crenças.
Agora pense no seu dia-a-dia com seus colegas e relembre se, em
determinado momento, frente a uma brincadeira, um questionamento,
uma frase bonita dita por alguém, você não se viu dizendo: “fulano está
filosofando”. Quando uma pessoa resolve perguntar ou discutir a respeito
de algo considerado muito normal, é comum ser julgada ou estigmatizada,
quando, na verdade, apenas está querendo conhecer. É essa capacidade de
questionar verdades que a filosofia pode despertar.
18
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
REFLEXÃO
Procure refletir a respeito de sua vida cotidiana,
as atividades que desenvolve, as atitudes que
toma e reflita: você é um agente que questiona
ou apenas aceita o que o mundo lhe apresenta?
Como está sua relação com o conhecimento,
com o saber hoje? Você o ama, o respeita?
Origem
O surgimento da filosofia para os historiadores data do final do século VII
a.C. e durante o século VI a.C. na Grécia, em uma cidade chamada Mileto, tendo
como primeiro filósofo Tales de Mileto (ARANHA e MARTINS, 1996). Filosofia
é uma palavra grega composta de philo e sophos. A primeira palavra significa
amizade, amor fraterno e a segunda quer dizer sabedoria. Desta forma, fica fácil
compreender o significado literal da palavra como sendo: amor à sabedoria.
BIOGRAFIA
Tales de Mileto é o primeiro filósofo ocidental
de que se tem notícia. De ascendência fenícia,
nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na
Ásia menor, atual Turquia, por volta de 625
a.C. e faleceu aproximadamente em 547 a.C. segundo o historiador grego Diógenes Laércio,
morreu com 78 anos durante a 58ª Olimpíada.
Tales é apontado com um dos sete sábios da
Grécia antiga e foi o fundador da Escola Jônica.
Os primeiros filósofos chamaram-se pré-socráticos por surgirem antes de
Sócrates, figura central na filosofia grega (MARTINS FILHO, 2000). Seus pensamentos
fizeram ruir uma realidade na Grécia antiga conhecida como mitologia.
Você deve conhecer alguns personagens relacionados à mitologia, como
Eros, o Deus do amor, e já deve ter ouvido a expressão “deuses do Olimpo”.
Estes se referem a mitos cultuados na época do surgimento da filosofia.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
19
Capítulo 1
Pode-se compreender o mito como a narrativa sobre a origem de algo,
como a geração dos seres naturais, como o ar frio, por exemplo. A palavra
Mito tem origem grega mythos, formada da junção de dois verbos: narrar algo
(mytheyo) e anunciar, conversar (mytheo).
O povo grego considerava mito um pronunciamento público realizado
por alguém indicado e autorizado pelos deuses. Assim, havia uma confiança
total no que era proferido sem espaço para qualquer questionamento.
No entanto, o pensamento dos filósofos rompe a realidade onde não se
questiona e apresenta aquela em que se problematiza e se convida a discutir.
A filosofia entende o sobrenatural como irreal e não cultiva, nem crê nas
explicações divinas (ARANHA e MARTINS, 1993).
O surgimento dos primeiros filósofos, os questionadores, não ocorreu
como um milagre grego. De acordo com Chauí (2003), alguns acontecimentos
históricos favoreceram a origem da filosofia. Em resumo, pode-se citar:
• as viagens marítimas: em que os gregos puderam verificar que não
havia deuses nos lugares indicados;
• a invenção do calendário: por mostrar a percepção do tempo
como algo natural em que fatos se repetem e não mais como
poder divino;
• o surgimento da vida urbana: que diminuiu o prestígio dos aristocratas
criadores dos mitos para interesse próprio;
• e a invenção da política: que institui a lei como vontade coletiva, o
direito de cada cidadão, e não mais a vontade dos deuses e o estímulo
ao pensamento compreensível por todos.
Períodos da filosofia grega
Os primeiros estudos da filosofia fixaram-se em conhecer a origem do
mundo natural e suas transformações. Este período chamou-se pré-socrático
ou cosmológico.
20
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
LEMBRETE
Caro(a) acadêmico(a): lembre-se que o período
pré-socrático apresenta esta nomenclatura
pelo fato da divisão da filosofia grega ter
como referência o filósofo Sócrates de Atenas
(MARTINS FILHO, 2000).
A palavra cosmologia surge da junção de cosmos e logia. A primeira
faz referência ao mundo organizado e a segunda tem como significado
o pensamento racional. Observando o objeto inicial da filosofia, você
pode perceber porque o primeiro período denomina-se cosmológico.
Alguns filósofos deste período forma Tales de Mileto, Pitágoras de Samos e
Zenão de Eléia.
O período seguinte é denominado socrático, em função do surgimento
do filósofo Sócrates, ou ainda chamado antropológico (do grego ântropo =
Homem), por se preocupar com temas relacionados à realidade humana, como
o estudo da ética, política e técnicas.
A educação sofre interferência neste período. Os aristocratas, enquanto
donos do poder, possuem como padrão a educação baseada em poetas que
consideravam o guerreiro belo o homem perfeito. Com o surgimento da
democracia, prima-se por uma educação em que o padrão ideal é o bom
orador. Com isso, surgem os sofistas (sophos = sábio = professor de sabedoria),
considerados filósofos pioneiros neste período; em troca de pagamento, os
sofistas ensinavam aos filhos dos aristocratas a nova educação, contestando as
ideias dos filósofos do período pré-socrático.
SAIBA QUE
No período socrático, os filósofos sofistas
que mais se destacaram foram: Protágoras
de Abdera, Górgias de Leontini e Isócrates de
Atenas.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
21
Capítulo 1
As afirmações cultuadas pelos primeiro filósofos do período em seus
ensinamentos fizeram com que Sócrates, filósofo conceituado e considerado o
pai da filosofia, levantasse uma bandeira contra os sofistas. Acusava os sofistas
de não serem filósofos por não demonstrarem amor e respeito à sabedoria e
à verdade (CHAUÍ, 2003).
CURIOSIDADE
O filósofo considerado patrono da filosofia não
deixou qualquer documento que discorra a respeito
de seus pensamentos, suas posições ou inquietudes.
Por isso, os relatos de Sócrates (469–399 a.C)
são descritos por outros filósofos, como Platão,
Xenofonte e Aristóteles. Alguns historiadores,
inclusive, afirmam que só se pode falar de Sócrates
como um personagem de Platão, por ele nunca ter
deixado nada escrito de sua própria autoria.
Figuras 1 e 2 - Bustos de Aristóteles e Platão
Fonte: <http://images.google.com>.
A proposta de Sócrates direcionava a filosofia para a preocupação com
o homem. O filósofo acreditava que, antes de conhecer a origem do mundo,
era necessário ao homem conhecer a si próprio. Para Sócrates, as percepções
sensoriais nunca chegam à verdade; são sempre questionadas e fonte de
mentira ou erro (CHAUÍ, 2003).
Outro filósofo deste período é Platão, que cultua o processo de
compreensão do real e cria a palavra ideia (eidos). Para este filósofo, existe
22
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
um mundo imutável e um mundo real que sofre interferência do imutável. Em
seu livro A república, Platão utiliza-se do Mito da caverna para demonstrar seu
pensamento relativo aos dois mundos.
BIOGRAFIA
Platão (427-347 a.C.), filho de aristocratas e discípulo de Sócrates,
escreveu mais de 30 obras, como Menexeno; Ménon; Crátilo; O
banquete; A república; dentre outras. Basicamente, suas obras eram
escritas em forma de diálogos. Curiosamente, esses diálogos não
apresentam Platão como personagem principal, e, sim, Sócrates.
Para melhor entender as ideias de Platão, vamos viajar em seus
pensamentos conhecendo a alegoria da caverna. Concentre-se na leitura para
que possa compreender as relações realizadas pelo autor.
Neste trecho do livro, o filósofo descreve seres acorrentados desde a
infância em uma caverna subterrânea. A forma como estão algemados não
permite que tenham acesso à entrada, ficando obrigados a enxergar apenas
o fundo da caverna. Por não estar totalmente fechada, uma luz adentra
proveniente de uma fogueira e é possível ver apenas as sombras do que está
se passando às suas costas. As sombras mostram homens carregando objetos e como isto é a realidade que conhecem, para eles, tudo é verdadeiro. Afinal,
por estarem ali desde que nasceram, é a única coisa que viram.
Figura 3 - Mito da caverna
Fonte: < http://media.photobucket.com >
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
23
Capítulo 1
Agora imagine que um destes homens consiga se libertar das correntes e
sair da caverna. É o que Platão descreve a seguir e questiona o que aconteceria,
o que ele faria. Provavelmente, no primeiro momento, todos os movimentos do
homem trariam algum tipo de problema a ele, como dor no corpo, e olhar para
luz com certeza lhe causaria incômodo. Apesar disso, o homem questionaria tudo
o que vê tentando compreender o que ocorre fora da caverna. Seria possível a
ele perceber que a fogueira, na verdade, era a luz do sol e que, refletida, gerava
as sombras vislumbradas por todos no fundo das cavernas.
Acredita-se que o homem, ansioso por contar aos outros o que vira, retorne
à caverna atrapalhado pela escuridão e conte o que vislumbrou. Na caverna,
alguns acreditariam que as imagens que viam não eram retrato da realidade,
outros o questionariam, o teriam como louco, sendo capazes até de matá-lo.
Esta alegoria demonstra que Platão acredita que a caverna é nosso
mundo, o prisioneiro que sai da caverna é o filósofo, que vislumbra a luz do
sol, que seria a verdade (CHAUÍ, 2003).
O objetivo da filosofia seria incitar a busca de novas descobertas
e conhecimento e o mito das cavernas demonstra que você pode ficar
em sua zona de conforto com o que já conhece ou empreender esforços para
mudar a realidade, agregando conhecimento e partindo para um novo mundo.
Vejamos se você está atento. Estamos agora no terceiro período chamado
de período sistemático, que tem como principal filósofo Aristóteles (nascido
na Macedônia) e discípulo de Platão. Possui como discurso agregar todas as
áreas de pensamento (o saber total) como uma forma de conhecer tudo aquilo
que existe no mundo.
Apesar de ser discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles escrevia de forma
sistemática diferente de seu mestre, que o fazia em forma de poesia e analogias. Há
também diferenças entre seus pensamentos, pois Aristóteles não aceitava o mundo
das ideias. O filósofo afirmava que era necessário compreender como o pensamento,
de forma geral, funcionava, independente do conhecimento. E com este objeto de
estudo, deu origem à Lógica, que é uma das áreas da filosofia atualmente.
Aristóteles, por suas crenças, institui uma classificação filosófica de áreas
de conhecimento, incluindo as ciências produtivas – em que há ação humana
para produção de algo, como exemplo, arquitetura, medicina, escultura,
24
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
poesia, etc.; as ciências práticas – estudam a prática humana, sendo o próprio
ato realizado, como a ética e a política; e as ciências teoréticas – destinam-se
à compreensão de coisas que existem sem a influência do ser humano, como
exemplos, a física, biologia, psicologia, teologia, entre outras (CHAUÍ, 2003).
Para Santos (2009), atualmente ainda há resquícios da forma aristotélica de
pensar em relação à ciência, embora haja um novo paradigma científico, com
uma melhor observação de fatos e visão de mundo.
Por fim, temos o período helenístico da filosofia, em que se afirma que o
mundo é a sua cidade e que somos cidadãos do mundo. Constitui-se a filosofia
de grandes doutrinas, buscando explicar a natureza, o homem e a relação
entre os dois. Neste período, há uma preocupação com a ética, com a física,
com a teologia e com a religião.
Estes períodos apresentam o início da filosofia e os pensamentos dos
primeiros filósofos. Esse entendimento permite que você compreenda a busca
incessante do ser humano pelo conhecimento, apesar de apresentar foco
diferenciado em cada um dos períodos apresentados.
CURIOSIDADE
Em Nova York, no zoológico do Bronx, um
grande espaço é destinado aos primatas como
chimpanzés e gorilas. Em uma das jaulas,
separadas das outras e muito protegida, há
um letreiro informando que ali você pode
encontrar o primata mais perigoso e destruidor
do mundo. Quando você se aproxima vê sua própria imagem em um
espelho. O zoo chama a atenção para o fato de tudo que o homem
já causou à natureza e a si mesmo. Pretende que o ser humano pare
e se questione sobre como está vivendo e o que vem fazendo para o
bem ou mal deste planeta (MATURANA e VARELA, 2001).
1.2.2 O que é filosofia?
Agora que você já teve acesso a algumas informações referentes à filosofia
e sua origem, seria capaz de dizer o que compreende por filosofia? Você já
está convencido do conceito desta ciência? Supondo que algumas dúvidas ainda
pairem em seus pensamentos, vamos conversar um pouco sobre o que é filosofia.
Porém, cabe alertá-lo que não há um conceito único e preciso para a ciência.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
25
Capítulo 1
Como vimos, em sua essência, a palavra filosofia vem do grego e
significa amor e respeito à sabedoria. Pode-se dizer que, mesmo considerando
a origem da filosofia cujo foco mudou no decorrer do tempo, o objeto se
manteve. A filosofia é a ciência em que seus praticantes destinam seus estudos
ao questionamento do que inicialmente é verdade.
Você pode encontrar em seus estudos diferentes definições para a
filosofia. Alguns filósofos famosos definiram filosofia de acordo com a época
em que viveram: Platão apresenta a filosofia com um conhecimento verdadeiro
a serviço da humanidade; Descartes a definiu como o estudo da sabedoria de
todas as coisas necessárias à vivência humana; e Marx dizia que a filosofia
deveria conhecer o mundo a fim de transformá-lo (CHAUÍ, 2003).
Se você perguntar a explicação da filosofia em rápidas palavras, diria
que é um ato de pensar e ajuda no desenvolvimento de nossas habilidades
mentais. Pensando em seu objeto e sua epistemologia, pode-se dizer que a
filosofia é uma ciência que, caso não existisse, o mundo continuaria como é;
ainda assim, é o mais útil de todos os saberes por fornecer à sociedade meios
para ser consciente de si e de suas ações.
Pitágoras foi o criador da palavra filosofia e afirmava que “o filósofo
[...] é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas,
as ações, a vida; em resumo pelo desejo de saber” (CHAUÍ, 2003, p. 25). Como
você pode perceber, voltamos à origem da palavra filosofia.
O filósofo, em seus estudos, se baseia em problemas da existência,
porém para compreendê-los, precisa afastar-se deles e encontrar maneiras de
promover mudanças.
Como você acredita que está tendo uma atitude filosófica? No começo
do capítulo, comentei sobre o julgamento que fazemos a colegas dizendo que
está filosofando como sendo algo pejorativo. Espero que, neste momento,
filosofar seja algo mais relevante para você.
Se a partir de agora, você se concentrar mais nas atividades de sua rotina
diária e começar a questionar certas verdades, você estará se afastando de
si para compreender melhor aquilo no que acredita e julga correto. Assim,
estará tendo uma atitude filosófica.
26
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
A nossa não aceitação direta ao que nos é imposto ou dito nos impulsiona ao
ato de filosofar. O que está ao nosso redor pode não ser tão óbvio e a filosofia nos
convida a jamais aceitar como verdade antes de uma investigação ou compreensão.
Você pode começar pela sua dedicação aos estudos nas disciplinas.
Quando você não aceitar ou não se convencer de algum conceito ou definição
de determinado autor, pode ter uma atitude filosófica em relação ao tema e
buscar conhecimento suficiente para ter opinião a respeito e ter a sua verdade
com compreensão real.
Morris (2000) afirma que a filosofia desenvolve três habilidades
em quem a estuda, e justifica nisso a necessidade desta nos currículos escolares.
Estas habilidades serão apresentadas para, mais uma vez, ajudar você a
compreender o porquê de estudar filosofia. A primeira delas relaciona-se à
necessidade imposta pela filosofia em analisar temas discutíveis. Ao estudar
os filósofos mais conhecidos, você pode aprender com eles como desenvolver
esta habilidade. Pode, assim, analisar aspectos de sua vida como: entender
pensamentos negativos, quais são suas aptidões e como educar melhor seus
filhos. Morris (2000) alerta: ao analisar, devemos ser imparciais e não deixar o
sentimento atrapalhar os pensamentos em demasia.
E quando você se depara com situações conflitantes, como, por exemplo:
está em uma loja e decide realizar uma compra, você pode se questionar se
o objeto de compra é realmente necessário ou apenas está atendendo a um
capricho seu. A sua habilidade de avaliação neste momento é crucial para que
você tome uma decisão. Muitas vezes, nossos desejos não são necessidades, e
precisamos ser capazes de avaliar.
Os pensamentos filosóficos podem ser avaliados se você realizar
questionamentos como: é coerente? É completo? É correto? E demonstrar
discernimento para obter uma afirmativa para as perguntas.
A terceira habilidade desenvolvida pelo estudo da filosofia possibilita
que você faça o uso correto do argumento na defesa ou refutação de um
pensamento. Algumas pessoas podem confundir esta habilidade e achar
que se trata de gritar mais alto do que quem possui outra posição, afirmar
incisivamente o que acredita ou ainda fazer provações. O que se deseja do
argumento é a exposição com conteúdos fundamentados, favorecendo a sua
posição sobre determinado pensamento a fim de chegar a uma conclusão.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
27
Capítulo 1
Como você já descobriu, a relevância de estudar filosofia passa pelo
desenvolvimento das habilidades de análise, avaliação e argumentação. E
você deve se preocupar em ter atitudes filosóficas.
A tríade o que, como e por que demonstra que você tem atitude filosófica.
Saber qual a realidade ou natureza do objeto identifica o primeiro questionamento
da tríade. Em “como”, a filosofia busca qual estrutura e relações referem-se ao
objeto. E a origem ou causa do objeto é questionada em “por quê”.
Além disso, autores afirmam que a filosofia pressupõe uma reflexão
filosófica por parte de quem decide pensar com maior rigidez. Por sua
definição, reflexão é um “movimento de retorno a si mesmo” (CHAUÍ,
2003, p. 20). Na filosofia, o rigor da reflexão obriga ao filósofo indagar
a si próprio, encontrar motivos para o que fazemos ou dizemos, chegar às
últimas consequências até encontrar a conclusão ideal, conhecer o objetivo de
determinado questionamento e entender o conteúdo sobre o qual estamos
pensando, filosofando.
Cabe deixá-lo ciente de que, conforme Chauí (2003), a filosofia precisa de
enunciados rigorosos, com obtenção de provas para apresentar resultados, e é
sistemática, exigindo que seus questionamentos sejam válidos e verdadeiros,
constituindo ideia verdadeira.
1.2.3 Filosofia contemporânea
Este período envolve os conhecimento e direcionamento filosóficos até
os dias atuais. Para que você compreenda de forma facilitada o que a filosofia
atual discute, vou apresentar a cronologia dos períodos da história da filosofia
e como os aspectos discutidos vão modificando. Os períodos apresentados
serão os considerados por Chauí (2003): filosofia antiga, patrística, medieval,
renascença, moderna, iluminista e contemporânea.
A filosofia antiga é datada do VI a.C. ao século VI d.C.; refere-se à fase
de origem da filosofia, que discutimos incluindo o período pré-socrático,
socrático, sistemático e helenístico.
Datada do século I ao século VII, a filosofia patrística (vem de
padre) tem como objeto subsidiar a evangelização com base nas epístolas de
João e Paulo, atividade antes esquecida devido à filosofia antiga (MARTINS
28
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
FILHO, 2000). Este período trouxe à tona a ideia de pecado, de santíssima
trindade, de criação do mundo ideias, que foram esquecidas na filosofia
idealizada pelos gregos como Sócrates e Platão. Os principais filósofos que se
destacam no período são: Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano.
SAIBA QUE
Alguns autores dividem a filosofia medieval
em patrística e escolástica (que seria o mesmo
que medieval) e consideram que a patrística
parte da medieval em função de apresentar
temas que se sucedem. No entanto, estamos
adotando a divisão sugerida por Chauí (2003),
em que se tem a patrística e a medieval é
também chamada escolástica.
A filosofia medieval surge com a queda do Império Romano e data
do século VII ao século XIV, sendo uma especulação filosófica voltada ao
teologismo. Neste período, culturalmente, o que regia a sociedade eram os
valores cristãos e por isso surge, nesta época, o que se chamou filosofia cristã.
Também chamada escolástica, a filosofia medieval sistematiza a teologia e
filosofia ensinadas nas escolas medievais (MARTINS FILHO, 2000).
Imagine você que, nesta época, a temática religiosa estava prevalecendo
sobre a da razão; desejava-se que a fé fosse a justificativa da verdade. Com
grandes temas, os filósofos medievais discutiam a relação humana e religiosa,
como o corpo e alma, o que diferencia a razão da fé, e afirmavam que aquele
que estava mais ligado a Deus era considerado ser superior. Assim, os padres
estavam acima dos reis e autoridades.
A exposição de ideias filosóficas era realizada por meio de apresentação
de uma tese, que seria aceita ou não, com base em conceitos de outros
filósofos, como Aristóteles ou até pelo que dizia a Bíblia. Esta técnica ficou
conhecida como Disputa. Alguns filósofos de destaque da filosofia medieval
foram: Santo Anselmo, Santo Alberto Magno, Roger Bacon e Averróis (árabe)
e Maimônides (judaico).
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
29
Capítulo 1
CURIOSIDADE
No século XI, surgem as universidades espalhadas
por toda a Europa, entre elas, a de Paris, de
Bologna e de Oxford. As universidades são
consideradas associações corporativas livres de
alunos e professores. Havia duas vertentes: uma
voltada à preparação filosófica; e a teológica, que
estudava profundamente a sagrada escritura.
Figura 4 - Universidade de Oxford – Inglaterra
Fonte: <http://images.google.com>.
A seguir, temos a filosofia da Renascença, que trouxe a
conhecimento obras de grandes filósofos, como as de Platão e novos
conhecimentos deixados por Aristóteles. A filosofia da Renascença é o período
da História da Filosofia que, na Europa, está entre a Idade Média e o Iluminismo.
As linhas de pensamento que predominavam eram de Platão, em que
o homem faz parte da natureza e a ideia de dois mundos, como o mito da
caverna; a ideia de defesa de ideais republicanos; e o homem como aquele
que decide sua vida e seu destino. Alguns dos filósofos dessa época foram
Dante, Maquiavel e Thomas Morus.
Conhecida também como Grande Racionalismo Clássico, a filosofia moderna
data do século XVII e tem participação marcante de Lutero e Descartes. O primeiro
foi responsável pela ruptura da religião, possibilitando o acesso livre à Bíblia. O
segundo fez uma ruptura filosófica, criando novos alicerces para o pensamento.
30
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
Na filosofia moderna, o pensamento passa a ter as marcas do racionalismo, do
antropocentrismo e do saber ativo. Para os filósofos deste período, o conhecimento
pode ser apresentado desde que seja relacionado com ideias que possam ser
comprovadas de forma racional. Os conceitos e conhecimentos são formulados por
quem os procura, os transforma e são completamente conhecidos por este.
Como antropocentrismo, entenda a necessidade do homem de estar
no centro de tudo. Agora, os filósofos discutem se o ser humano pode
descobrir qualquer coisa, desejam saber qual sua capacidade intelectual. O
conhecimento foco da filosofia está naquele que aprende, e não mais apenas
no objeto do conhecimento.
O conhecimento partindo da própria realidade - esta é submetida a
experimento e volta à realidade - constitui o foco do saber ativo. O homem tem o
poder de, por meio da observação e da razão do que acontece no Universo, conhecer
e compreender os acontecimentos e transformar a realidade. Este pensamento
implica no homem dominando, por meio de técnicas, a natureza e a sociedade.
REFLEXÃO
Releia e pense no parágrafo anterior. Reflita
e tente relacionar o saber ativo a algo que já
conhece ou estudou. O que o saber ativo pode
ter trazido para nosso cotidiano?
A característica do pensamento moderno, relacionada ao saber ativo,
diz respeito a vários aspectos de nossa realidade. Esta crença na capacidade
da humanidade em transformar a realidade, em coletar dela informações,
possibilitou a percepção do binômio teoria e prática, propondo os conceitos
de experiência e tecnologia.
Ou seja, os estudiosos conseguiram teorizar o que viam na realidade e assim
surgem algumas ciências ou base para estas, como a Matemática (geometria,
cálculo, probabilidade), fenômenos elétricos, criação do barômetro, explicação
da circulação sanguínea, entre outros. Destacam-se neste período pensadores
como Fernat, Descartes, Newton, Leibniz, Hooke, Galileu, Pascal, Huygens.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
31
Capítulo 1
A filosofia iluminista, datada do século XVIII ao início do XIX, preocupavase pela relevância dada às ciências, principalmente a biologia como campo da
filosofia de vida e pelas artes, consideradas expressões do progresso humano.
Além disso, prepondera o questionamento sobre a riqueza do mundo e
pensamentos sobre economia.
Chauí (2003) aponta aspectos que eram afirmados pela filosofia
iluminista: a liberdade e a conquista social e política podem ser alcançadas
com o uso da razão; seria possível o aperfeiçoamento, progresso e perfeição
humana (não existiriam preconceitos ou medos) pelo uso da razão; a razão
seria aperfeiçoada dependendo da evolução e progresso das civilizações; e
por fim, entendia que a natureza era formada por suas leis e pelas relações de
causa e efeito e nenhuma relação existia com a civilização. Assim, o homem
livre apresenta, por sua vontade, perfeição moral, política e técnica. Como
principais pensadores, temos: Rousseau, Kant, Fichte e Voltaire.
Agora que você está situado no tempo da filosofia e conseguiu
vislumbrar as abordagens adotadas em cada período filosófico, vamos
conhecer a filosofia contemporânea.
Por muitos autores, ela é considerada a mais complexa das várias
correntes existentes. Também é difícil de ser explanada por ainda estar em
evolução, já que contempla até os dias atuais.
Na filosofia, este período, iniciado no século XIX, é marcado
por descobertas no campo das artes, ciências, história do homem e
da sociedade. Uma delas é que a humanidade progride acumulando
conhecimentos e aperfeiçoando suas tecnologias, se comparado ao que
existia em um período anterior. A filosofia apostava suas fichas no saber
científico e tecnologia como forma de controlar a natureza e a sociedade.
De certa forma, estas características do período demonstravam uma
grande euforia em relação aos resultados que seriam alcançados por meio
das ciências, gerando uma aversão à reflexão filosófica, pois o que se
imagina eram respostas inquestionáveis e controle sobre a natureza e
sociedade (SANTOS, 2009).
Este otimismo exagerado no progresso humano denominou-se
positivismo e teve como pai, Augusto Comte. As teorias filosóficas do
século XIX foram questionadas no século XX e os resultados esperados
32
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
inicialmente não foram alcançados. Os questionamentos vieram em
função de que a pregação do progresso permitia a legitimidade de que
os mais adiantados poderiam dominar os atrasados, identificados como as
ideias do colonialismo e imperialismo. Além disso, entendia-se que havia
transformação contínua, acumulativa e progressiva da humanidade, o que
foi negado pelos registros, já que cada época da história traz conhecimentos
e práticas próprias do período.
CURIOSIDADE
O filósofo Augusto Comte concordava com as
ideias otimistas do progresso e responsabilizava
a ciência por esta possibilidade, prevendo que
o desenvolvimento social aconteceria com base
no conhecimento científico e controle científico
da sociedade. Devido a isso, Comte criou o
conhecido: ORDEM E PROGRESSO, que está na
bandeira do Brasil (CHAUÍ, 2003).
Figura 5 - Bandeira do Brasil
Fonte: <http://images.google.com>.
Alguns filósofos desse período “apostam suas fichas” no saber científico e
tecnológico como forma de manter controle sobre o ser humano, a sociedade
e a natureza. Várias ciências foram pensadas como salvadoras neste período,
como a sociologia (julgava-se, pelo conhecimento que teria do homem e da
sociedade, que haveria controle racional sobre estes); e a psicologia (em que
seria possível controlar as causas de emoções e comportamentos humanos). Com
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
33
Capítulo 1
os acontecimentos do século XX – as guerras, bombas, devastação da natureza,
sofrimentos mentais, problemas éticos e políticos –, ficou claro à filosofia (e à
humanidade) que o otimismo relacionado à ciência e à tecnologia era demasiado.
Assim, surge uma vertente em que se teria a razão instrumental, voltada
ao técnico-científico como meio de intimidação ao ser humano, e a razão
crítica, considerando-se que as mudanças verdadeiras na sociedade só ocorrem
quando há a busca pela emancipação do ser humano.
A desilusão com os ideais científicos e tecnológicos cedeu lugar à crença
nos ideais revolucionários para a construção de uma sociedade mais justa e
feliz. Porém, o surgimento, no século XX, do fascismo e nazismo fez os filósofos
abandonarem estas ideias. Os questionamentos estavam em torno de saber se
o ser humano seria mesmo capaz de criar a tão sonhada sociedade, justa e feliz.
Outra vertente da filosofia estava no reconhecimento da cultura como o
exercício da liberdade possível, a sociedade que tornava os homens diferentes
dos animais. No século XIX, os filósofos julgaram que cultura seria algo global,
dado ao que se pensava neste século. Porém, como para falar de cultura seria
necessário que o filósofo direcionasse suas atitudes para a busca, no passado,
das tradições, já que cada povo tem uma maneira de se relacionar, tem sua
própria linguagem e forma de expressão, a ideia de cultura universal na
filosofia do século XX foi questionada.
Várias questões filosóficas ainda perduram, como a criada por Marx,
chamada ideologia. O autor sustenta que a sociedade impõe, a você e a mim,
determinada maneira de agir, que no nosso modo de pensar parece ser fruto
de nossa vontade. Marx sustenta que as classes dominantes exercem seu
poder sobre todas as classes de forma “que suas ideias pareçam ser universais”
(CHAUÍ, 2003, p. 53) e todos que fazem parte daquela sociedade devem tê-las
como verdade absoluta.
Outra descoberta realizada por Freud é a do inconsciente, conceituado
como um poder invisível que domina o nosso consciente. Para Freud, o ser
humano tem a ilusão de que tudo o que faz, sua forma de agir, suas escolhas,
suas ambições, está plenamente controlado por sua consciência. Trata-se de
uma forma de “[...] poder que domina e controla invisível e profundamente
nossa vida consciente” (CHAUÍ, 2003, p. 53).
34
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
Outros filósofos de nossos tempos são: Michel Foucault, Wittgenstein e
Husserl. Alguns filósofos brasileiros de destaque são: Miguel Reale, Antonio
Paim e Luis Washington Vita.
Atualmente, a filosofia possui seus conhecimentos limitados e possui
seus próprios campos de reflexão. Pode-se citar: lógica, epistemologia,
ontologia, ética, filosofia política, filosofia da história, filosofia da arte,
filosofia da linguagem, história da filosofia e teoria do conhecimento
(CHAUÍ, 2003).
Você pode observar que as descobertas realizadas por Marx e Freud,
respectivamente, ideologia e inconsciente, promoveram uma retomada das
ideias de ilusão e imaginação. Os conceitos do início da filosofia contemporânea
foram colocados à prova e o fato de conhecer aspectos relacionados à razão
começa a ser questionado.
Cervo, Bervian e Silva (2007) citam que a filosofia contemporânea propõe
questões como: será o homem dominado pela técnica? A máquina substituirá
os homens? Quando chegará a vez do combate contra a fome e a miséria? A
tecnologia traz real benefício à sociedade?
PRATICANDO
Lembrando dos períodos da origem da filosofia
e da cronologia filosófica apresentada neste
tópico, apresente o período da origem e da
história da filosofia em que as ideias retomadas
por Freud e Marx relacionadas à ilusão foram
discutidas. Qual filósofo retratou a ilusão? Que
recurso utilizou para demonstrá-la?
Ao conhecer as várias fases da filosofia, você entrou em contato com
nomes que são conhecidos, atualmente, também como cientistas. Isto porque,
durante certo tempo, não havia uma definição clara entre ciência e filosofia e
também porque são os questionamentos sugeridos pela filosofia que, muitas
vezes, levam a resultados científicos. Santos (2009) afirma que, por meio da
reflexão, é possível aos cientistas adquirir competência e interesse filosófico
em problematizar suas práticas científicas. Com isso, sugere que, atualmente,
têm-se cientistas-filosóficos, como não se viu em outras épocas na história.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
35
Capítulo 1
1.2.4 A razão e a verdade
Ao conhecer aspectos básicos da filosofia, você deve ter percebido
que algumas palavras são comentadas durante vários períodos e momentos.
Isto demonstra o grau de relevância desses termos para o estudo que
você está realizando.
Razão e verdade são dois termos que, em vários momentos, são
contestados, negados ou lembrados. Neste sentido, acredito que seja
importante a você, acadêmico, compreender alguns aspectos relativos a
estes conceitos.
Razão
A origem da palavra razão advém de duas fontes: o ratio, do latim,
que significa juntar, calcular, reunir, e logos, que vem do grego, e apresenta
semelhança no significado. Você consegue expor o que compreende até este
momento por razão e o significado de sua origem?
Na filosofia, a razão foi exageradamente cultuada em uma das correntes
filosóficas, o Iluminismo, sendo considerada a responsável pelo progresso da
humanidade. Como vimos, Marx e Freud fizeram os filósofos repensarem a
razão por meio de suas descobertas na filosofia contemporânea.
O que você pensa quando ouve a palavra razão? Que associações você
consegue fazer? Acredito que uma das primeiras ideias que passam em sua
cabeça seja o termo racional, isto é, eu, como ser humano, tenho razão
diferente de um animal, considerado irracional. E que difere do emocional, da
ilusão, do que diz a religião e do místico.
Chauí (2003) afirma que utilizamos a palavra razão de maneiras diferentes
e podemos estar fazendo uso dela de forma parcial, considerando a amplitude
de seu conceito (ARANHA e MARTINS, 1993). Reflita agora em que momentos
de sua rotina você utiliza a palavra razão? Em quais situações faz uso dela?
Eu, por exemplo, utilizo esta palavra no supermercado, quando digo ao
gerente que tenho razão de reclamar em função do mau atendimento. Posso
fazer uso dela para argumentar com meu filho a razão de ter quebrado um
brinquedo por vontade própria ou a razão de estar chorando por tanto tempo.
36
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
Em uma discussão de trânsito, quando alguém, distraído, bateu na traseira do
carro, meu marido, muito exaltado, saiu do carro, começou uma discussão e eu
disse a ele para se acalmar ou poderia perder a razão.
Ao afirmar o uso da palavra razão para tantas situações diferentes, estou
contrapondo o que disse ser o pensamento da maioria das pessoas sobre a
palavra, no segundo parágrafo deste tópico. Pascal (apud CHAUÍ, 2003, p. 60),
lá no século XVII tem uma frase que você deve conhecer: “O coração tem
razões que a razão desconhece”. A frase reafirma os diferentes sentidos da
palavra razão, que para a filosofia pode ser: “certeza, lucidez, motivo, causa”
(CHAUÍ, 2003, p. 60).
DESAFIO
Você reconhece os dois significados diferentes
da palavra razão na frase dita por Pascal: “O
coração tem razões que a razão desconhece”?
Explique.
Agora que já conversamos sobre alguns aspectos relacionados à razão,
retomo a pergunta que fiz no primeiro parágrafo: considerando a origem da
palavra e o que você compreende por razão, consegue vislumbrar a relação?
O significado, conforme a origem do termo, é juntar, calcular, reunir.
Ao pensar sobre estas palavras, o que você compreende como atividades que
faria para desenvolvê-las? Quando você faz uma prova de matemática e a
questão apresentada pelo professor pede que você calcule os juros em uma
determinada situação-problema, qual a sua atitude? A resposta pode ser: “eu
entrego a prova, pois não sei nem por onde começar” ou você se concentra
na atividade procurando ordenar seus pensamentos a fim de expor, em forma
de palavras, a resposta. Lembro que, inicialmente, os gregos representavam
número como letras.
E agora ficou mais fácil para você fazer a relação? Razão, de acordo
com sua origem, refere-se ao pensamento e fala de maneira ordenada e
clara, com possibilidade de compreensão para o outro (CHAUÍ, 2003). Morris
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
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Capítulo 1
(2000) afirma que a razão é o poder que o ser humano possui para organizar e
interpretar a experiência adquirida ao longo da vida e a capacidade de chegar
a conclusões confiáveis.
Russel (apud MORRIS, 2000, p. 45) diz que “a mente é uma máquina
estranha capaz de combinar das formas mais espantosas os materiais que lhe
são oferecidos”. Ou seja, tudo o que recebemos pode ser combinado com
nossas experiências, gerando novos conhecimentos.
A filosofia divide a atividade racional em intuição e raciocínio. No
primeiro caso, o conhecimento do objeto ou fato é geral e completo.
Esse discernimento pode vir na forma do simples ato de reconhecer
uma pessoa, um carro, uma bolsa e define a intuição sensível. Quando
a percepção foca nas qualidades do objeto, como cor, forma, texturas,
refere-se à intuição empírica.
A razão discursiva ou raciocínio são demonstrações que comprovam os
resultados e conclusões obtidos no processo do conhecimento, e para isso, são
possíveis três procedimentos: dedução, indução e abdução.
No caso de dedução o raciocínio parte de uma verdade global e se prova
que todos os casos específicos (que são iguais) podem ser aplicados. Quando
o raciocínio é o inverso, pensa-se em um fato particular e se busca encontrar
a verdade geral; trata-se aqui de indução. A abdução, abordada por alguns
autores, é como uma intuição que ocorre em etapas; este raciocínio acontece
quando uma nova área está sendo descoberta.
A razão, por sua natureza, incorpora algumas características ao conceito,
nomeados por alguns autores como princípios da razão. A identidade afirma
que “eu sou eu”, ou seja, eu sou conhecida por ser esta pessoa e isto deve
ser mantido desta forma para que eu tenha a minha identidade. Isso pode
se relacionar às coisas, por exemplo, o que você conhece por uma caneta
ou um dispositivo qualquer, com suas características exatas, será sempre
reconhecido desta maneira.
A não-contradição também é explícita na razão. Exemplos: você não
pode afirmar que está e não está com fome; que tem e não tem carteira de
motorista; foi aprovado e não foi em determinada disciplina neste semestre;
a razão não permite a afirmação e negação de uma coisa, em determinado
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Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
momento, em determinada situação e determinada relação realizada.
Diferente de afirmar que eu reprovei na disciplina neste semestre, mas serei
aprovado no próximo.
A decisão de um dilema é foco no chamado excluído, em que se pode
escolher entre duas situações apenas. Exemplos de exclusão ocorrem nas
situações apresentadas: em determinado horário, em um dia da semana,
você precisa decidir se naquele momento vai à praia ou ao futebol; se vai ao
casamento com este ou aquele vestido.
A razão suficiente pressupõe que para algo acontecer há uma causa
relacionada. Como exemplo, tem-se que, em uma partida de futebol
decisiva (apenas um dos times precisa sair vencedor), um dos times irá
ganhar e, consequentemente, o outro time perderá. Logo, se o time 1
ganhar, necessariamente o time 2 perdeu, e se o time 2 perdeu é porque o
time 1 ganhou.
Ao observar a teoria a respeito da razão, você percebe que tem atitudes
racionais todos os dias desde o momento em que acorda, sejam intuitivas ou
racionais. Mas você já se perguntou como recebeu capacidade de raciocínio?
A filosofia apresenta duas respostas para este questionamento. Uma
delas afirma que, ao nascer, já trazemos as características referentes ao
raciocínio e à inteligência, chamando esta vertente de inatismo.
O empirismo contraria o inatismo e afirma que adquirimos a razão, as
verdades e ideias. Acredita-se que o ser humano é como uma folha em branco
e a razão é uma forma chegar ao conhecimento; a partir das experiências que
vivenciamos, aprendemos e vamos escrevendo na folha em branco.
Ambas as respostas apresentam conflitos. No caso de a razão ser inata,
não poderia sofrer influência externa e você jamais mudaria seu intelecto. No
empirismo, a forma como é inserido o conceito impossibilita o conhecimento
objetivo da realidade universal.
Lembre-se da viagem que fizemos à história da filosofia e como os
aspectos discutidos pelos filósofos se modificaram, foram descartados e
retornaram ao pensamento filosófico. Percebe-se que a compreensão da razão
se altera conforme a perspectiva de leitura de mundo adotada.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
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Capítulo 1
Verdade
Você compreendeu do que se trata a razão e suas características.
Mas o que a razão pretende? Ou ainda, o que você pretende quando adota
um ato racional?
Ao tomar uma atitude racional, o ser humano pretende agir da melhor
forma possível frente a uma situação. Você deve considerar que, ao raciocinar
frente a determinado fato, está considerando suas crenças. Embora seu
objetivo seja a busca pela justiça e verdade, como pressupõe a filosofia.
A forma como você percebe o mundo, como age, as atitudes que
apresenta dependem de suas crenças. Estas proposições sobre o mundo nós
temos em grande número e sua relevância pode ser vista quando um pai
educa seu filho ou quando ocorre um atentado terrorista. Mas nem todas
as crenças que temos são verdadeiras em virtude de falta de informação,
distração ou apenas de não perceber a presença de determinado objeto
(MORRIS, 2000).
Você já percebeu como deseja insistentemente que tudo aquilo no qual
acredita seja verdade? Isto não é possível ao ser humano, pois sempre haverá
alguma crença que não será verdade. Citando a religião, existe uma infinidade
e apenas uma pode estar certa ou nenhuma ou concepções de várias delas.
Quando você deseja que sua crença seja verdadeira e se torne algo
verdadeiro a todos, pretende chegar ao conhecimento. Para isso, sua crença
precisa ser justificada, pois a crença que considera verídica pode ser falsa.
Podemos analisar filosoficamente uma crença para que esta seja justificada
e você pode decompô-la em várias condições. Morris (2000) exemplifica esta
situação utilizando como crença o que é um homem solteiro. Para tanto, o
autor busca uma definição em que o solteiro é um ser humano, que não é
casado, do sexo masculino e possui idade para casar. O próximo passo seria
decompor as informações. Você consegue encontrar quatro condições?
São elas: ser humano, não casado, sexo masculino e idade para casar:
• caso atenda apenas à condição do sexo, poderia ser um cachorro;
logo, preciso usar outra condição que afirma ser um homem;
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Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
• pode não ser solteiro e ser homem, logo, a condição não casado
precisa ser satisfeita;
• satisfeitas as três condições, a crença pode não ser justificada, pois
pode ser um bebê; a quarta condição deve ser considerada para o
conceito de solteiro.
No exemplo, a crença seria justificada e teríamos um conhecimento.
Então, tem-se a sequência apresentada na figura 6, como sugere Morris (2000).
Crença
Verdade
Conhecimento
Figura 6 - A crença deve ser verdadeira para ser considerada conhecimento
Você percebe o desejo de que sua crença se torne uma verdade? Você
já não desejou que Papai Noel existisse? Segundo Chauí (2003), desejar que
algo seja verdadeiro vem de nossa infância. Quando criança, o ser humano
mergulha nas histórias que ouve, e a todo tempo deseja que os brinquedos
sejam reais e pergunta se é “de verdade”.
A verdade pode ser considerada a manifestação do que realmente é ou
existe e se contrapõe ao falso (CHAUÍ, 2003). Pode ser também conceituada
como um conjunto de crenças aceitas pelos indivíduos, que o tornou consenso
(ARANHA e MARTINS, 1993). Pode-se dizer ainda que verdade é o ser humano
se encontrando com desvelamento (CERVO, BERVIAN e SILVA , 2007).
Encontrar a verdade pode ser uma atividade prazerosa, mas pode ser
também algo triste se estiver ligado à decepção. Tome como exemplo situações
que vivencia no trabalho, com sua família e no meio acadêmico e conseguirá
observar o contraponto. Uma pessoa que está à procura de seu pai biológico
e o exame de DNA afirma que o encontrou tem aí uma verdade prazerosa.
Agora, se uma pessoa descobre apenas quando jovem que foi adotada, esta
verdade pode ser uma decepção.
A busca pela verdade não é muito aceita em nossa sociedade e Chauí
(2003) aponta alguns aspectos que justificam sua afirmação. A quantidade
de meios de comunicação existentes hoje é o primeiro motivo. São tantas
informações que as pessoas não se preocupam em buscar a verdade, pois
acreditam que já estão recebendo. Mas é possível que, se você acessar
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
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Capítulo 1
diferentes mídias em um mesmo dia, tenha informações diferentes a respeito
de um assunto específico. A publicidade é mais um fator que inibe a busca
pela verdade, por não oferecer ao seu espectador informações sobre o
produto anunciado, e sim utilizar-se de ideias fantasiosas, como a de que o
uso do produto trará felicidade.
As atitudes negativas da política também atrapalham a busca das pessoas pela
verdade. Se você já está convencido de que não há verdade na política, possivelmente
você não acreditará em seu voto, na validade do seu poder de mudança.
Embora a verdade, em seu total, não possa ser captada por um ser humano,
o esforço por encontrá-la pode ajudar a grandes descobertas no mundo.
A busca pela verdade é o queremos para provar um conhecimento. O
desejo de que algo seja verdadeiro é fruto de uma forte vontade que temos de
que seja de determinada forma. Para isso, questionamos e buscamos respostas.
Ao atestarmos a verdade, baseado no que temos de experiências, em provas
concretas, em nossas crenças divinas ou em deduções possíveis, acreditamos
ter gerado conhecimento (assunto a ser abordado no capítulo 2).
A razão nos permite refletir sobre os aspectos ou fatos que são de nosso
interesse em busca de uma verdade que se espera ser única. Veremos que
dependendo da maneira como esta é descoberta, podemos estar fazendo
ciência, assim como se percebe que várias ciências podem se cruzar para
contemplar um determinado conhecimento.
1.3 Aplicando a teoria na prática
A seguir, apresento uma situação rotineira e uso um nome fictício para
narrar uma situação em que você pode se reconhecer.
João acordou cedo como todos os dias. Foi ao banheiro e realizou a
higiene pessoal, como sempre fazia. Voltou ao quarto, olhou a esposa, que
ainda dormia, e pensou como era feliz por ter alguém como ela ao seu lado.
Ao mesmo tempo, uma onda de dúvidas o cercou e conversando consigo,
pensou: como se pode amar tanto uma pessoa? Como explicaria o que é o
amor? Como se diferenciava do amor incondicional que sentia pela filha de
três anos que dormia no quarto ao lado?
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Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
Continuando sua rotina, dirigiu-se à cozinha tomou seu café, voltou ao
quarto e preparou-se para ir ao trabalho. Foi ao quarto da filha, deu-lhe um beijo
na testa e pensou: como Deus havia sido generoso ao oferecer-lhe uma filha
tão linda, uma casa, comida e roupas. Estava realmente agradecido ao criador
e sentia que sua aumentava a cada dia pelas maravilhas que aconteciam a ele.
Ao descer a garagem do prédio em que morava, percebe uma discussão
entre o zelador e um dos condôminos. Ao descer com seu cachorrinho para
passear, o morador deixou o animal fazer suas necessidades no jardim e já
ia indo embora sem realizar a devida limpeza e o zelador tentava convencer
o rapaz de que deveria limpar a sujeira do cão. Entrou no carro e por estar
atrasado foi pensando o quanto o rapaz estava errado. Pensou que talvez o
zelador pudesse fazer um documento com dados comprovados pela ciência de
que fezes de animais podem causar doenças aos moradores do prédio.
No trânsito, estava ouvindo músicas que gostava muito, quando um
motoqueiro lhe chamou atenção pela forma que dirigia. A moto era conduzida
em velocidade alta, à frente havia uma parada de ônibus, o ônibus parou como
de costume, a seguir, dois carros. Distraído, o motoqueiro bateu na traseira
do último carro parado na fila. Ninguém se feriu, mas a fila se formou. João
percebeu que o motoqueiro culpava o motorista do carro, porém ele havia
batido na traseira e não se tem como discutir esse tipo de situação.
Enfim, chegou ao trabalho, o chefe estava histérico por algo que não
havia dado certo. Preso em seu mundo, não admitia discutir com qualquer
colega de trabalho o que poderia ser feito, preferia ficar com sua frustração.
João foi para a sua mesa e resolver trabalhar. Sabia que não adiantaria sua
força de vontade em ajudar.
Inspirado pelo estudo que realizou, identifique, no caso apresentado,
aspectos relacionados aos assuntos abordados neste capítulo. Lembre: você
estudou filosofia, verdade e razão, noções sobre o conhecimento. É possível
que, em uma situação, você encontre relação com mais de um tópico do estudo.
1.3.1 Resolvendo
Ao apresentar uma solução para o caso, eu destaco os principais aspectos
encontrados para cada atividade realizada pelo personagem. É possível que
você encontre outras informações que complementem a resposta.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
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Capítulo 1
A situação apresentada inicia com filosofia pura. Ao questionar-se sobre o
amor e a existência de tipos de amor, João está tendo uma atitude filosófica. Ele
não se preocupa apenas que ama aquela mulher e a filha, quer entender porque
isso ocorre, se o amor que sente pela mulher é diferente do que sente pela filha.
Ao remeter tudo o que tem a Deus, João nos faz relembrar do período em
que a responsabilidade por tudo que ocorria com o ser humano estava nos Deuses.
Quando pensa a respeito da situação entre zelador e condomínio, João
utiliza a razão para definir do lado de quem fica. Para ele, era óbvio que o
zelador estava com a razão. Isto nos remete à fase da filosofia de Aristóteles,
período sistemático, que se preocupa, entre outros aspectos, com a prática
humana, discutindo o significado da ética.
A situação encontrada quando João chega ao trabalho nos lembra
Platão, e o caso dos homens estarem presos na caverna, ou seja, o chefe
parecia preso naquilo em que acredita, não conseguia acreditar que poderia
haver outra solução, outra realidade para a situação. Se João tentasse ajudar,
poderia ser demitido (ou morto, como na alegoria da caverna).
1.4 Para saber mais
Sugiro algumas leituras para que você se atualize sobre o tema estudado
no capítulo 1:
MATURANA, H. R.; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento. São Paulo: Palas
Athena, 2001. Cap. 1.
Neste livro, no capítulo indicado - “Conhecer o conhecer” - o autor
discute a relevância de questionamentos e mostra situações em que somos
enganados pelo que julgamos ver.
PLATÃO. A República. Bauru: EDIPRO, 1994.
Se desejar conhecer mais sobre o filosofo Platão e seus pensamentos,
este livro é uma sugestão. Nele, você encontra na íntegra a alegoria da caverna
que discutimos no capítulo.
Edgar Morin - <http://www.edgarmorin.org.br>
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Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
Esta sugestão é para que conheça a obra de um dos mais importantes
pensadores da filosofia contemporânea. Formado em Direito, História e Geografia,
realizou estudos em Filosofia, Sociologia e Epistemologia. Possui vários livros na área.
Portal da filosofia - <http://portal.filosofia.pro.br/>
O site apresenta os maiores filósofos de todos os tempos apresentando
em detalhes suas histórias e principais contribuições para o universo da
filosofia. Aborda as ideias dos filósofos Descartes, Kant, Marx, Weber, entre
outros, além de apresentar vários conceitos relacionados à filosofia que podem
complementar seus estudos filosóficos.
Crítica - Revista de Filosofia - <http://criticanarede.com/>
O periódico apresenta artigos e entrevistas destinados a estudantes,
professores e pesquisadores que tenham relação e afinidade com a área de
filosofia e busquem conhecimento complementar ao assunto.
1.5 Relembrando
O capítulo 1 apresentou:
• noções de filosofia: em que apresentamos sua origem, conhecendo e
compreendendo os períodos da filosofia grega, além de estudar a busca pelo
conceito de filosofia com base em diferentes autores. Foi possível vislumbrar
vários filósofos considerados relevantes para o desenvolvimento da área;
• aspectos da filosofia contemporânea: a fim de situá-lo e auxiliar na
compreensão da filosofia atualmente, foi apresentado o histórico
do mundo filosófico desde a filosofia antiga até a contemporânea.
Os períodos da filosofia estudados foram: filosofia antiga, patrística,
medieval, renascença, moderna, iluminista e contemporânea;
• noções de razão e verdade e a influência da filosofia: a compreensão
da razão como forma de nos expressar de modo a propiciar a
compreensão do outro e a verdade como sendo evidência da crença
que se tinha sobre algo gerando conhecimento.
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Capítulo 1
1.6 Testando os seus conhecimentos
1) Em se tratando da origem filosofia, relacione a coluna da direita com a da esquerda.
a) Pré-socrático
( ) Busca o conhecimento humano, e natureza
dos homens e da natureza, a relação entre
estes e destes com Deus.
b) Socrático
( ) Foca os estudos em compreender o lugar
do homem no mundo investigando
questões humanas.
c) Sistemático
( ) Preocupação exclusiva em descobrir sobre a
criação do mundo e as mudanças na natureza.
d) Helenístico
( ) Desejo de provar que tudo pode ser objeto
da filosofia, obedecendo a critérios de
verdade e ciência.
Assinale a alternativa que possui a sequência correta.
a)
b)
c)
d)
e)
a, b, c, d
d, b, a, c
c, a, b, a
a, c, b,d
d, a, c, b
2) Qual dos personagens a seguir é considerado o primeiro filósofo da história?
a)
b)
c)
d)
e)
Platão
Sócrates
Aristóteles
Tales de Mileto
Descartes
3) Com relação à verdade, assinale a alternativa correta.
a) A crença não tem qualquer influência na busca da verdade.
b) A verdade pode ser absoluta, desde que comprovada.
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Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
Capítulo 1
c) A verdade pode ser obtida com base apenas nas crenças que temos.
d) A relação entre razão e verdade é inexistente.
e) A verdade propicia o surgimento do conhecimento.
4) Explique a alegoria da caverna, ressaltando sua relevância para a filosofia.
5) Alguns acontecimentos históricos favoreceram o aparecimento dos filósofos.
Quais foram eles e por que tiveram esta influência?
Onde encontrar
ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 2.
ed. rev. atual. São Paulo: Moderna, 1993.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A; SILVA, R. da. Metodologia científica. 5. ed. São
Paulo: Pearson, 2007.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2003.
MARTINS FILHO, I. G. Manual esquemático de história da filosofia. 2. ed. rev.
e ampl. São Paulo: LTR, 2000.
MATURANA, H. R.; VARELA, F. J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas
da compreensão humana. Trad. Humberto Mariotti e Lia Diskin. São Paulo:
Pala Athenas, 2001.
MORRIS, T. Filosofia para Dummies: como usar os ensinamentos dos mestres
no dia-a-dia. Trad. Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
SANTOS, B. de S. Um discurso sobre as ciências. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2009.
Construção do Conhecimento e Metodologia da Pesquisa
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