PAUL RICOEUR E A FENOMENOLOGIA DA VONTADE Gastón Mauricio Guillaux Salinas Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, SP 1. Objetivos Procura-se neste estudo acompanhar o desenvolvimento da primeira filosofia de Paul Ricoeur, entendendo como tal os seus estudos sobre a filosofia e a fenomenologia de Edmund Husserl, tomando por base principalmente a introdução de sua tese de doutorado, Philosophie de la volonté, e alguns artigos escritos durante a década de 1950, coligidos no livro Na Escola da Fenomenologia. . 2. Métodos/Procedimentos Nosso método de pesquisa se baseou primeiramente em um levantamento da produção bibliográfica de Ricoeur no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial. A partir deste primeiro levantamento, foram escolhidos como foco da análise a introdução de sua tese de doutorado, intitulada Philosophie de la volonté, (publicada em 1950) e alguns ensaios posteriores redigidos nos anos 50. Os textos principais foram fichados e analisados, tornando evidente a sua estruturação e facilitando a localização da temática da vontade em seu interior. Por fim, a leitura de uma bibliografia secundária, de caráter mais historiográfico e complementar, permitiu situar os textos na temática mais geral da filosofia francesa do século XX, além de indicar como a temática da fenomenologia da vontade ensejou questões que fizeram Ricoeur percorrer, posteriormente, os caminhos da psicanálise freudiana e da hermenêutica. 3. Resultados Após o levantamento bibliográfico, a seleção, leitura e análise dos textos foi possível verificar qual foi o percurso intelectual de Paul Ricoeur entre as décadas de 1940 e 1950. Principalmente, tornou-se mais claro como ele se aproximou durante esse período da filosofia e da cultura alemãs e da fenomenologia husserliana, dialogando assim com suas questões e continuando o projeto husserliano de ampliação e aplicação do método de análise da fenomenologia aos objetos do querer, ou seja, os objetos da vontade e seus fenômenos (a decisão, a ação voluntária, a liberdade e a ação involuntária). 4. Conclusões Verificou-se que, inspirado pelos trabalhos de Jean-Paul Sartre e de Maurice Merleau-Ponty nos anos 40, Ricoeur decidiu analisar o campo da vontade sob o escopo da fenomenologia. Complementando esta tarefa, sua tradução do livro Ideen I de Husserl permitiu que ele dominasse o vocabulário husserliano e legitimasse a sua investigação. Assim, a Philosophie de la volonté tornou possível abordar a questão da ação voluntária no interior da fenomenologia. Porém, esta obra também constatou que o fenômeno da ação involuntária escapa ao método fenomenológico, permanecendo ininteligível para o mesmo. Tal conclusão levará Ricoeur a se questionar sobre a possibilidade de conhecimento a respeito de um involuntário absoluto, identificando-o posteriormente como o “inconsciente” freudiano. Desta forma, em torno destas questões, sua reflexão se encaminhará aos campos da psicanálise e da hermenêutica dos signos. 5. Referências Bibliográficas RICOEUR, P. Philosophie de la volonté : le volontaire et l’involontaire. Éditions de Points, Paris, 2009. RICOEUR, P. Na Escola da Fenomenologia. Vozes, Rio de Janeiro, 2009. HUSSERL, E. Ideias para uma fenomenologia pura e para uma filosofia fenomenológica. Ideias e Letras, Aparecida, 2006.