Capítulo 2 CINEMÁTICA DE UM SISTEMA DE PARTÍCULAS 2.1 INTRODUÇÃO Por sistema de partículas, ou sistema de pontos materiais, designa-se um conjunto finito ou infinito de partículas, de tal modo que a distância entre qualquer dos seus pontos permanece invariável durante o movimento. Isto significa que apenas se irá considerar sistemas de partículas rígidos. O sistema constituído por um número discreto ou finito de partículas é vulgarmente designado por sistema de partículas discreto ou simplesmente por sistema de partículas. O sistema constituído por um número infinito de partículas é vulgarmente designado por sólido. Note-se que a noção de corpo rígido é uma abstracção científica porque na realidade se sabe que não existem corpos completamente indeformáveis. Neste capítulo será abordado a cinemática de corpos rígidos, investigando-se as relações existentes entre o tempo, as posições, as velocidades e as acelerações das várias partículas que formam um corpo rígido. Os vários tipos de movimento de corpos rígidos podem ser agrupados da seguinte maneira: • Movimentos simples – Translação: 48 quando qualquer linha recta no interior do corpo se mantiver na mesma direcção durante o movimento. Capítulo 2 – Rotação (em torno de um eixo fixo): as partículas movem-se em planos paralelos e segundo circunferências em torno do mesmo eixo fixo, designado por eixo de rotação (as partículas situadas nesse eixo têm velocidade e aceleração nulas). • Movimentos compostos – Movimento plano geral: todas as partículas se movem em planos paralelos podendo, os seus movimentos, ser decompostos nos dois movimentos simples (translação e rotação). – Movimento em torno de um ponto fixo: trata-se de um movimento tridimensional de um corpo rígido ligado num ponto fixo (por exemplo, o movimento de um pião numa superfície rugosa). – Movimento geral: qualquer movimento de um corpo que não se enquadre em nenhum dos anteriores. 2.2 MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO 2.2.1 Definição e características Considere-se um sistema de partículas em movimento e sejam A e B duas partículas quaisquer. No instante de tempo t, os vectores posição de A e B em relação a um sistema de referência fixo designam-se r r por rA e rB , respectivamente, r designando rB / A o vector que liga A a B. Figura 2.1 – Movimento de translação. 49 Cinemática de um sistema de partículas r r Assim, o vector posição rB pode ser obtido a partir do vector posição rA , se r for conhecido rB / A , da seguinte maneira: r r r rB (t ) = rA (t ) + rB / A (t ) (2.1) Se o movimento do sistema de partículas é de translação (rectilínea ou r curvilínea), então o vector rB / A tem direcção e grandeza constante. Isto é, um segmento que une dois pontos quaisquer de um sistema de partículas em movimento de translação mantém-se com um comprimento constante e paralelo a si mesmo. Derivando a expressão (2.1) em ordem ao tempo, t, vem: r r r r drB drA drB / A vB = = + dt dt dt (2.2) r r r tendo em conta que rB / A é constante no tempo, portanto, drB / A dt = 0 , e r r v A = drA dt , então: r r vB = v A , ∀A, B (2.3) portanto, num sistema de partículas em translação, a velocidade é igual em todos os pontos. Derivando uma vez mais: r r aB = a A , ∀A, B (2.4) identicamente, a aceleração é igual em todos os pontos. Assim, quando um sistema de partículas se encontra em translação, todos os pontos do corpo têm, em qualquer instante, a mesma velocidade e a mesma aceleração. Portanto, a caracterização cinemática do movimento de translação de um corpo rígido é a mesma para uma partícula qualquer desse corpo. 50 Capítulo 2 2.2.2 Casos particulares do movimento de translação 1º caso) Translação com velocidade vectorial instantânea constante Se em qualquer instante t, a velocidade é constante em direcção, sentido e grandeza em todos os pontos do corpo rígido, isto é: r ∀t , A, B : v (t ) = constante (2.5) Figura 2.2 – Translação rectilínea e uniforme. então as trajectórias de todos esses pontos são rectilíneas. Neste caso, o movimento é designado de translação rectilínea e uniforme. 2º caso) Translação com velocidade vectorial instantânea constante em grandeza – Translação curvilínea Como só a grandeza da velocidade é constante, isto é: ∀t , A, B : r v (t ) = constante (2.6) então o sentido e a direcção podem variar. Figura 2.3 – Translação uniforme curvilínea. Neste caso, o movimento é designado de translação uniforme curvilínea. 3º caso) Translação com velocidade vectorial instantânea não constante Neste caso, como a velocidade é variável no tempo, a translação diz-se variável. 51 Cinemática de um sistema de partículas 2.3 MOVIMENTO DE ROTAÇÃO (EM TORNO DE UM EIXO FIXO) 2.3.1 Definição e características Diz-se que um sólido executa um movimento de rotação quando existem pontos de uma dada linha recta, ∆, que se encontram fixos (em repouso) durante o movimento. A esta direcção, ∆, de pontos fixos dá-se o nome de eixo de rotação. Todas as partículas que não se encontram sobre o eixo de rotação descrevem uma trajectória circular cujo plano é normal ao eixo e cujo centro se situa sobre esse eixo. Figura 2.4 – Rotação em torno de um eixo fixo. Portanto, todas as partículas do corpo rígido têm a mesma velocidade angular no mesmo instante, podendo, todavia, ser diferente de instante para instante. Por isso, o movimento de rotação de um sólido é mais facilmente descrito em termos de deslocamentos angulares e de velocidades angulares, uma vez que eles são, num dado instante, iguais entre as diferentes partículas. O movimento de rotação é, usualmente, descrito de dois modos alternativos: − através do ângulo de rotação, θ(t); ou, − através do vector rotação ou vector velocidade angular, ω(t). 2.3.2 Descrição do movimento de rotação através do ângulo de rotação θ(t) Considere-se um corpo rígido em movimento de rotação e sejam A e B duas partículas quaisquer não pertencentes ao eixo de rotação. Sejam θA e θB os ângulos de rotação nesses pontos medidos em relação a um plano de referência que contém o eixo de rotação Oz e o eixo Ox, e seja ϕ o ângulo de desfasamento dos planos 52 Capítulo 2 temporais que contêm, respectivamente, A e B e o eixo de simetria. O ângulo de rotação θA(t) pode ser definido por: θ A (t ) = θ B (t ) + ϕ , ∀A, B a) Representação no sistema Oxyz. (2.7) b) Corte por um plano perpendicular ao eixo de rotação Oz. Figura 2.5 – Movimento de rotação em torno do eixo Oz. Como o movimento do corpo rígido é de rotação, então o ângulo de desfasamento, ϕ, é constante durante esse movimento. Portanto, derivando a expressão em ordem ao tempo, vem: ωA = dθ A dθ B dϕ = + dt dt dt (2.7) como o ângulo ϕ é constante no tempo, a derivada dϕ dt é igual a zero, logo: ω A = ω B ; ∀A, B (2.8) ou seja, as velocidades angulares instantâneas são iguais em todas as partículas. Face ao exposto, fica evidente que as grandezas cinemáticas, como a r r velocidade vectorial instantânea, v (t ) , e a aceleração vectorial instantânea, a (t ) , de um corpo rígido em movimento de rotação, podem ser definidos de forma idêntica àquela abordada para a cinemática da partícula, uma vez que o ângulo de rotação, a velocidade angular e, consequentemente, a aceleração angular é igual em todos os pontos do corpo. 53 Cinemática de um sistema de partículas Assim, a velocidade vectorial instantânea de um corpo rígido sujeito a um movimento de rotação é definida por ter: − Direcção: tangente à trajectória no ponto considerado, que se encontra localizado num plano perpendicular ao eixo de rotação passando pela partícula considerada. − Sentido: o da progressão do movimento associado à trajectória circular de cada partícula. r r r − Grandeza: v (t ) = vθ (t ) = r (t ) ⋅ ω Da mesma forma, a aceleração vectorial instantânea de um corpo rígido sujeito a um movimento de rotação é definido por: r r r a (t ) = at (t ) + an (t ) ; r r dv r d 2 s r at (t ) = dt ⋅ u = dt 2 ⋅ u = r ⋅ α ⋅ u 2 ar (t ) = v ⋅ nr = r ⋅ ω 2 ⋅ nr n R (2.9) − Direcção: é definida de forma a que tg (δ ) = at an . − Sentido: para o interior da trajectória. r − Grandeza: a = at2 + an2 = r ⋅ α 2 + ω 4 2.3.3 Descrição do movimento de rotação através do vector rotação Quando se estudou o movimento circular de uma partícula viu-se que a velocidade vectorial instantânea pode ser expressa por: r r r v A (t ) = ω (t ) × rA (t ) ; ∀A (2.10) Também se viu no ponto anterior que num corpo rígido em rotação as velocidades angulares em todas as partículas desse corpo são iguais num dado instante, isto é: ∀A, B ω A (t ) = ω B (t ) (2.11) Isto significa que a velocidade angular de qualquer partícula de um corpo rígido em rotação designa a velocidade angular do sólido. 54 Capítulo 2 Sabendo que o vector velocidade angular tem direcção perpendicular ao plano do movimento circular (ou seja, a direcção do eixo de rotação, ∆) então esse vector pode ser definido como: r r ω (t ) = ω (t ) ⋅ u∆ (2.12) r onde u ∆ é o versor do eixo de rotação ∆. r Deforma idêntica, o vector aceleração angular, α , do sólido em rotação é definido por: r r dω (t ) dω (t ) r α (t ) = = ⋅ u ∆ = α (t ) ⋅ u ∆ dt dt r (2.13) Verifica-se que a velocidade vectorial instantânea do sólido em rotação é sempre dada por: r r r dr (t ) r = ω (t ) × r (t ) v (t ) = (2.14) dt independentemente da origem do sistema de eixos cartesiano, desde que esteja situado no eixo de rotação. Figura 2.6 – Definição do movimento de rotação através do vector rotação. A justificação da afirmação anterior pode ser obtida definindo o vector r posição r (t ) ilustrado na figura 2.6 através da seguinte adição vectorial: r r r (t ) = r ' (t ) + O' O (2.15) então, r r r r r r r r dr (t ) r v (t ) = = ω (t ) × r (t ) = ω (t ) × r ' (t ) + O ' O = ω (t ) × r ' (t ) + ω (t ) × O' O dt [ ] (2.16a) r r como os vectores ω (t ) e O ' O são paralelos, então o produto vectorial ω (t ) × O ' O é igual ao vector nulo. Verifica-se portanto que: 55 Cinemática de um sistema de partículas r r r r r dr (t ) r v (t ) = = ω (t ) × r (t ) = ω (t ) × r ' (t ) ; ∀O, O ' dt (2.16b) Assim, a determinação do vector velocidade instantânea pode ser obtida a partir do vector rotação e do vector posição, independentemente da origem, O ou O', considerada no eixo de rotação. De igual modo, a aceleração vectorial instantânea de qualquer partícula P de um corpo rígido em movimento de rotação é definida como: r r r dv p (t ) d r r r r dω (t ) r drP (t ) a p (t ) = = [ω (t ) × rP (t )] = × rP (t ) + ω (t ) × = dt dt dt dt r r r r = α (t ) × rP (t ) + ω (t ) × v p (t ) (2.17) r A aceleração vectorial instantânea a p pode ser definida através da soma das seguintes duas parcelas: r r r a p (t ) = at (t ) + an (t ) ; com P P r r r at (t ) = α (t ) × rP (t ) r r r an (t ) = ω (t ) × v p (t ) P (2.18) P r 2.3.4 Operador de rotação, ω × r Como se viu anteriormente, a velocidade vectorial instantânea, v (t ) , de um sólido em rotação é dada por: r r r v (t ) = ω (t ) × r (t ) (2.19) independentemente da posição do ponto de origem situado no eixo de rotação. Como, por definição: r r dr (t ) v (t ) = dt então igualando as expressões (2.19) e (2.20), vem: r r dr (t ) r = ω (t ) × r (t ) dt 56 (2.20) (2.21) Capítulo 2 Isto significa que o operador matemático d dt de derivação temporal é equivalente r r ao operador matemático ω × , desde que o operando (neste caso r ) sobre o qual o operador actua seja um vector de grandeza constante. Na realidade, num corpo rígido em rotação, todas as partículas mantêm a mesma distância ao eixo de rotação, r embora a direcção e o sentido de r se altere. NOTA: Em geral, o movimento de rotação de um sólido apresenta uma velocidade vectorial instantânea de grandeza variável. Por isso é que: r r dv (t ) r ≠ ω (t ) × v (t ) (2.22) dt r No entanto, quando o movimento circular é uniforme (isto é, v =constante) então verifica-se a seguinte igualdade: r r dv (t ) r = ω (t ) × v (t ) (2.23) dt De facto, viu-se anteriormente que no movimento circular uniforme o vector aceleração instantânea só tem componente normal dada por: r r r an (t ) = ω (t ) × v (t ) (2.24) r Mais uma vez se confirma que o operador de rotação ω × tem o significado do operador matemático d dt quando o operando tem grandeza constante. Exercício de aplicação 57 Cinemática de um sistema de partículas 58 Capítulo 2 59 Cinemática de um sistema de partículas 2.4 MOVIMENTO GERAL DO SÓLIDO 2.4.1 Velocidade e aceleração O movimento geral de um corpo rígido no espaço pode ser decomposto em movimentos simples elementares independentes constituídos por movimentos de translação e rotação. O movimento de um corpo rígido pode ser caracterizado por um dos seguintes movimentos-tipo: – Movimento plano: Todas as partículas se deslocam em planos paralelos. – Movimento em torno de um ponto fixo: O corpo efectua a designada precessão em torno de um ponto fixo (por exemplo, o pião a girar em torno de um ponto de contacto com o solo). – Movimento de rotação e deslizamento (movimento roto-translatório): Os pontos do eixo de rotação deslocam-se sobre ele, permanecendo sobre essa direcção (exemplo: movimento de um parafuso ou movimento helicoidal). Sejam A e B duas partículas de um corpo rígido. Como se viu anteriormente, o vector posição r rB pode ser obtido da seguinte maneira: r r r rB (t ) = rA (t ) + rB / A (t ) (2.25) Desta forma, o vector r velocidade em B, vB , é por definição igual a: r r r r drB (t ) drA (t ) drB / A (t ) = + vB (t ) = dt dt dt (2.26) Figura 2.7 – Movimento geral. 60 Capítulo 2 Ou seja: r r r vB (t ) = v A (t ) + vB / A (t ) (2.27) r em que vB / A (t ) é a velocidade de B relativamente ao referencial Ax'y'z', ligado ao ponto A e de orientação fixa. Dado que o ponto A está fixo neste referencial, o movimento do corpo relativo a Ax'y'z' é o movimento de um corpo com um ponto r fixo. Assim, a velocidade vB / A (t ) pode obter-se como a velocidade em torno do r ponto fixo A, ou seja, do movimento circular, com vector rotação ω , em torno do eixo de rotação que passa pelo ponto A: r r r vB / A (t ) = ω (t ) × rB / A (t ) (2.28) Portanto, a velocidade num ponto qualquer, B, de um corpo rígido com um movimento geral é dado por: r r r r vB (t ) = v A (t ) + ω (t ) × rB / A (t ) (2.29) r em que a primeira parcela da soma vectorial, v A (t ) , representa a componente de r r translação e a segunda parcela, ω (t ) × rB / A (t ) , representa a componente de rotação. A aceleração de B obtém-se por um raciocínio idêntico. Primeiro escreve-se: r r r aB (t ) = a A (t ) + aB / A (t ) (2.30) r em que aB / A é a aceleração de B relativamente ao referencial Ax'y'z' ligado a A e de r orientação fixa. Assim, a aceleração aB / A pode obter-se como a aceleração em torno do ponto fixo A, ou seja, do movimento circular em torno do eixo de rotação que r passa por A e é caracterizado pelo vector rotação ω : r r r aB / A (t ) = (aB / A )t (t ) + (aB / A )n (t ) = r r r r = α (t ) × rB / A (t ) + ω (t ) × vB / A (t ) = r r r r r = α (t ) × rB / A (t ) + ω (t ) × [ω (t ) × rB / A (t )] (2.31) Portanto, a aceleração num ponto qualquer, B, de um corpo rígido em movimento (geral) é dado por: r r r r r r r aB (t ) = a A (t ) + α (t ) × rB / A (t ) + ω (t ) × [ω (t ) × rB / A (t )] (2.32) 61 Cinemática de um sistema de partículas r em que a primeira parcela da soma vectorial, a A (t ) , representa a componente de translação e as segunda e terceira parcelas representam a componente de rotação, r r correspondendo a segunda parcela, α (t ) × rB / A (t ) , à componente tangencial e a r r r terceira parcela, ω (t ) × [ω (t ) × rB / A (t )], à componente normal. As equações de velocidade e de aceleração de um corpo rígido em movimento geral mostram que esse movimento é equivalente, num dado instante, à soma de uma translação, na qual todas as partículas do corpo têm a mesma velocidade e a mesma aceleração que a partícula de referência A, e um movimento (de rotação) no qual a partícula A se considera fixa. 2.4.2 Teoria do campo das velocidades de um corpo rígido Como se viu no ponto anterior, a velocidade absoluta da partícula B em movimento geral, no referencial absoluto ou fixo, é dada por: r r r drA drB / A + = vB = dt dt r r r r di ' dj ' dk ' = vA + x ⋅ + y⋅ + z⋅ (2.33) dt dt dt r sendo v A a velocidade no ponto A do referencial móvel relativamente ao referencial fixo. Por outro lado, de acordo com o conceito de operador de rotação, visto em 2.3.4, o operador matemático d dt de derivação temporal é equivalente ao r r r r operador matemático ω × desde que os operandos (neste caso i ' , j ' e k ' ) sobre o qual o operador actua, sejam vectores de grandeza constante. Assim, r di ' r r =ω ×i ' (2.34a) dt r dj ' r r = ω × j' (2.34b) dt r dk ' r r =ω ×k' (2.34c) dt representando estas três expressões as fórmulas de Poisson. Assim, 62 Capítulo 2 ( r r r r r r vB = v A + ω × x ⋅ i '+ y ⋅ j '+ z ⋅ k ' ) (2.35) ou seja, como se viu anteriormente: r r r r vB = v A + ω × rB / A (2.36) representando esta expressão a designada lei das velocidades de um corpo rígido, r onde vB representa o vector do campo de velocidades. Assim, r vB – Velocidade absoluta de B pertencente ao sólido móvel em movimento geral, no referencial fixo ou absoluto. r vA r – Velocidade vectorial instantânea no referencial fixo do ponto A do sólido móvel e, portanto, do referencial móvel; como se o sólido não rodasse no espaço, isto é, como se o sólido apenas estivesse submetido ao movimento de translação independente da velocidade de todas as partículas dada por r vA . r ω × rB / A – Velocidade vectorial instantânea de qualquer partícula B do sólido móvel, devido ao movimento de rotação instantâneo do sólido em torno do seu eixo de rotação instantâneo r caracterizado pelo vector ω . NOTAS: O vector do campo de velocidades do movimento geral de um sólido contém os casos particulares de translação pura e rotação pura. 1. Translação pura (movimento geral de um corpo rígido sem rotação): r r r r ∀A, B ω = 0 ⇒ vB = v A (2.37) 2. Rotação pura (movimento geral de um corpo rígido sem translação): r r r r r ∀A, B v A = 0 ⇒ vB = ω × rB / A (2.38) r 3. ω é um vector livre Verifica-se que a expressão (2.36) é sempre a mesma qualquer que seja o referencial considerado: r r r r vB = v A + ω × rB / A (2.39a) 63 Cinemática de um sistema de partículas r r r r vC = v A + ω × rC / A (2.39b) subtraindo as expressões (2.39a) e (2.39b) obtém-se: r r r r r vB − vC = ω × (rB / A − rC / A ) ⇒ ⇒ r r r r vB = vC + ω × rB / C r ou seja, ω é um vector livre. Exercício de aplicação 64 (2.40) Capítulo 2 65 Cinemática de um sistema de partículas 2.5 MOVIMENTO PLANO DO SÓLIDO 2.5.1 Definição O movimento plano de um corpo rígido é um movimento durante o qual todos os pontos do corpo se deslocam paralelamente a um plano fixo. Durante o movimento plano, todos os pontos do corpo situados sobre uma perpendicular ao plano deslocam-se do mesmo modo. 2.5.1.1.1.1.1.1 a) Movimento paralelo a um plano fixo π. Por isso, para se estudar o movimento do corpo basta estudar o movimento de qualquer secção, S(t), obtida pela intersecção do corpo por um plano paralelo ao plano fixo de referência. b) Corte obtido pelo plano β paralelo ao plano π. Figura 2.8 – Movimento plano de um sólido. Figura 2.9a – Decomposição do movimento plano (exemplo 1). 66 Capítulo 2 Figura 2.9b – Decomposição do movimento plano (exemplo 2). Como se pode observar nos dois exemplos das figuras 2.9 (a e b), o movimento plano geral de um sólido pode ser considerado como a soma de uma translação com uma rotação. 2.5.2 Velocidade absoluta e velocidade relativa no movimento plano No ponto anterior viu-se que qualquer movimento plano de uma placa pode ser substituído por uma translação, definida pelo movimento de qualquer ponto de referência A e, simultaneamente, por uma rotação em torno de A. A velocidade r absoluta vB de uma partícula B da placa obtém-se a partir da fórmula da velocidade relativa deduzida em 2.4.1: r r r vB (t ) = v A (t ) + vB / A (t ) (2.41) Figura 2.10 – Velocidade absoluta e velocidade relativa. 67 Cinemática de um sistema de partículas r A velocidade v A corresponde à translação da placa com o ponto A, enquanto r que a velocidade relativa vB / A está associada à rotação da placa em torno do ponto A e é medida em relação ao referencial centrado em A e com orientação fixa. r r Representando por rB / A o vector posição de B relativamente a A, e por ω (ou r ω ⋅ k ) a velocidade angular da placa em relação aos eixos com orientação fixa r então, a velocidade relativa, vB / A , pode ser definida por: r r r vB / A (t ) = ω (t ) × rB / A (t ) ; com r vB / A = r ⋅ ω (2.42) na qual r é a distância do ponto A ao ponto B. Substituindo na expressão (2.41), vem: r r r r vB (t ) = v A (t ) + ω (t ) ⋅ k × rB / A (t ) (2.43) A caracterização da cinemática do movimento plano através das representações vectoriais com produtos vectoriais é, de certo modo, mais trabalhosa que outros tipos de representação cinemática do movimento plano que recorrem a outras características do movimento plano. Assim, como a teoria do campo de velocidades (TCV), isto é a cinemática, é uma teoria de campo de momentos (TCM) do vector campo de velocidade, também existe uma propriedade projectiva da TCV obtida de modo análogo à propriedade projectiva da TCM (vista na disciplina de Mecânica I): r r r r vB = v A + ω × rB / A ⇒ ⇒ r r r r r r r vB ⋅ rB / A = v A ⋅ rB / A + ω × rB / A ⋅ rB / A (2.44) r r r como os vectores ω × rB / A e rB / A são perpendiculares, então o seu produto escalar é nulo, vindo: Figura 2.11 – Propriedade projectiva. 68 ⇒ r r r r vB ⋅ rB / A ⋅ cos β = v A ⋅ rB / A ⋅ cos α ⇒ vB ⋅ cos β = v A ⋅ cos α ⇒ (2.45) Capítulo 2 Por intermédio desta relação, se for conhecido o vector velocidade num ponto e a direcção da velocidade noutro ponto, a grandeza dessa outra velocidade é determinável pelo teorema das projecções das velocidades. A caracterização cinemática do movimento plano pode então ser feito através das trajectórias dos pontos da secção plana, das suas velocidades e acelerações, como já referido anteriormente. – Equações paramétricas (duas equações temporais para a localização no espaço, para cada instante t, e uma equação temporal para definir a variação angular, ϕ, em cada instante t): x = x(t ) y = y (t ) ϕ = ϕ (t ) (2.46) O ângulo de rotação de qualquer direcção será: θ (t ) = ϕ (t ) − ϕ (t0 ) ; geralmente t0 = 0 (2.47) – As velocidades de qualquer ponto B serão tais que: r r r r vB (t ) = v A (t ) + ω (t ) ⋅ k × rB / A (t ) (2.48) – As acelerações serão: r r r r r r r dvB (t ) r aB (t ) = = a A (t ) + α (t ) ⋅ k × rB / A (t ) + ω (t ) ⋅ k × ω (t ) ⋅ k × rB / A (t ) dt [ ] (2.49) r em que a primeira parcela da soma vectorial, a A (t ) , representa a componente de translação e as segunda e terceira parcelas representam a componente de rotação, correspondendo a segunda parcela, r r α (t ) ⋅ kr × rB / A (t ) r, à componente tangencial e a terceira parcela, r ω (t ) ⋅ k × ω (t ) ⋅ k × rB / A (t ) , à componente normal. [ ] 69 Cinemática de um sistema de partículas Exercício de aplicação 70 Capítulo 2 2.5.3 Centro instantâneo de rotação (CIR) no movimento plano O conceito de centro instantâneo de rotação (CIR) permite aplicar um processo alternativo ao anterior de descrever o campo de velocidades de uma secção plana em movimento geral. Define-se centro instantâneo de rotação como sendo o ponto do plano da secção que num determinado instante tem velocidade nula. Figura 2.12 – Centro instantâneo de rotação (CIR). 71 Cinemática de um sistema de partículas Assim, as velocidades de todas as partículas da secção são as mesmas que se obteriam pela rotação dessa secção em torno de um eixo perpendicular ao plano e que passasse pelo ponto CIR: v A = ω ⋅ rA / CIR (2.50) em que rA / CIR representa a distância entre o ponto genérico A e o centro instantâneo r r de rotação (CIR). Note-se que os vectores v A e rA / CIR são perpendiculares. A posição do CIR pode definir-se através da consideração das direcções dos vectores velocidade de duas partículas, A e B, da secção. O CIR obtém-se r pelo traçado da perpendicular a v A passando por A e r da perpendicular a vB passando por B e determinando o ponto de intersecção destas duas linhas. Figura 2.13 – Determinação da posição do CIR. Para verificar que de facto o ponto assim determinado é o centro instantâneo de rotação, considere-se, por redução a uma hipótese absurda que a velocidade no CIR não era nula, isto é, vCIR ≠ 0 . Por aplicação do teorema das projecções das velocidades tem-se que: v A ⋅ cos α = vCIR ⋅ cos β (2.51) r r como os vectores v A e rA / CIR são perpendiculares, ou seja α é igual a 90° (portanto, cos α = 0 ), então: v A ⋅ cos α = 0 ⇒ vCIR ⋅ cos β = 0 (2.52) como se considerou por hipótese que a velocidade no CIR não era nula ( vCIR ≠ 0 ) então a segunda igualdade expressa em (2.52) só seria possível se cos β = 0 , ou seja, se β fosse igual a 90°. Neste caso, a velocidade no CIR teria que se r perpendicular a rA / CIR . Considerando o mesmo raciocínio entre B e CIR, e mantendo a mesma hipótese (absurda) inicial, concluí-se que a velocidade em CIR também teria que ser r r r perpendicular a rB / CIR . Como rA / CIR e rB / CIR não têm a mesma direcção, então a igualdade: 72 Capítulo 2 vCIR ⋅ cos β = 0 (2.53) só é possível se a velocidade no CIR for nula ( vCIR = 0 ). O grande interesse na aplicação do conceito de centro instantâneo de rotação consiste na possibilidade de determinar de forma expedita a velocidade em qualquer ponto da secção, uma vez conhecida a localização do CIR. Nesta situação, a velocidade em qualquer ponto da secção pode ser obtida multiplicando unicamente a velocidade angular com a distância desse ponto ao CIR. De facto, pela lei geral das velocidades tem-se que: r r r r vB = vCIR + ω × rB / CIR (2.54) r r como vCIR = 0 , então: r r r vB = ω ⋅ k × rB / CIR (2.55) ou seja: r r v B = ω ⋅ rB / CIR (2.56) Portanto, a grandeza das velocidades em dois quaisquer pontos são proporcionais às suas distâncias ao CIR: v A ω ⋅ rA / CIR rA / CIR = = v B ω ⋅ rB / CIR rB / CIR (2.57) Alguns casos particulares de localização do CIR 1º) Movimento plano de rolamento, sem deslizamento, de um cilindro qualquer sobre uma superfície fixa O centro instantâneo de rotação em qualquer instante – CIR(t) – situa-se no ponto de contacto do corpo com a superfície fixa (vsup.fixa=0): 73 Cinemática de um sistema de partículas Figura 2.14 – Localização do CIR na superfície fixa de contacto. Neste caso, a superfície fixa é a trajectória dos CIR’s (lugar geométrico dos pontos instantâneos com velocidade nula) 2º) Localização do CIR quando as velocidades em dois pontos quaisquer A e B são paralelas e a direcção AB não é perpendicular à direcção comum das velocidades Figura 2.15 – Localização do CIR dum corpo em translação instantânea. Pelo teorema das projecções das velocidades, vem: v A ⋅ cos α = vB ⋅ cos β (2.58) como o ângulo α é igual ao ângulo β, então os respectivos co-senos são iguais, logo, a igualdade (2.58) só será válida se as velocidades em A e B forem iguais: α = β ⇒ cos α = cos β ⇒ v A = vB ; ∀A, B (2.59) Este caso corresponde a uma situação de translação instantânea pura, logo as velocidades em qualquer ponto são iguais e, consequentemente, o CIR encontra-se no infinito. 3º) 74 Localização do CIR quando as velocidades em dois pontos quaisquer A e B são paralelas e a direcção AB perpendicular à direcção comum das velocidades Capítulo 2 Como se viu anteriormente, v A rA / CIR = vB rB / CIR (2.60) Pelo teorema de Tales é possível determinar a posição do CIR. Figura 2.16 – Localização do CIR. Exercício de aplicação 75 Cinemática de um sistema de partículas 2.6 CINEMÁTICA DO MOVIMENTO RELATIVO 2.6.1 Considerações gerais e definições O objectivo deste sub-capítulo é estudar as características do movimento de uma partícula ou de um sistema de partículas num referencial móvel, conhecida a descrição desse movimento num referencial (pseudo-)fixo em relação ao qual o movimento do referencial móvel é detectado. Existem inúmeras aplicações deste tipo de movimento, como por exemplo: – movimento de um passageiro num comboio em movimento relativamente à estação; – movimento de um astronauta relativamente à nave em movimento relativamente à Terra; – movimento de zonas atmosféricas ou oceânicas relativamente a outras zonas atmosféricas ou oceânicas em movimento; – etc. Neste tipo de movimentos consideram-se dois referenciais: um referencial S1(x, y, z) considerado absoluto ou fixo e um referencial S(x, y, z) considerado móvel em relação ao referencial S1 fixo. O movimento absoluto de uma partícula M, ou de um sistema de partículas, em relação ao referencial fixo S1, pode ser considerado como a resultante cinemática do movimento de condução e do movimento relativo, assim definidos: – Movimento relativo – movimento de qualquer partícula M em relação ao referencial móvel S. – Movimento de condução, transporte ou arrastamento – movimento do referencial móvel S relativamente ao referencial fixo S1, como se as partículas M não se movessem no referencial móvel S, isto é, como se pertencessem a um corpo que está “colado” ao referencial S. 76 Capítulo 2 No exemplo atrás referido de um passageiro em movimento num comboio em movimento relativamente à estação (fixa), as analogias são as seguintes: – Movimento relativo – é o movimento do passageiro em relação ao comboio (ou seja, está ligado ao referencial móvel); – Movimento de condução, transporte ou arrastamento – é o movimento do comboio relativamente ao exterior ou à estação (ou seja, é o movimento que o passageiro teria em relação ao exterior se estivesse “amarrado” à cadeira); – Movimento absoluto ou resultante – é o movimento do passageiro que se encontra sobre um comboio que, por sua vez, também está em movimento relativamente à estação (fixa). Figura 2.17 – Movimento relativo. Neste caso, a posição de um ponto M qualquer pode ser obtido da seguinte forma: r r r rM / O (t ) = rO / O (t ) + rM / O (t ) ; ∀M , ∀t (2.61) 1 1 ou seja, r r r r r r r x1 (t ) ⋅ i1 + y1 (t ) ⋅ j1 + z1 (t ) ⋅ k1 = rO / O (t ) + x(t ) ⋅ i (t ) + y (t ) ⋅ j (t ) + z (t ) ⋅ k (t ) 1 (2.62) 77 Cinemática de um sistema de partículas r r r r r r onde i1 , j1 e k1 são os versores espacialmente e temporalmente fixos; e, i , j e k são os versores de orientação espacial variável no tempo. De seguida vai-se identificar quais as variáveis e as constantes associadas aos movimentos absoluto, relativo e de transporte (ou condução). – Movimento relativo: r r r r variáveis – x1(t), y1(t), z1(t), x(t), y(t), z(t), i (t ) , j (t ) , k (t ) , rO / O (t ) r r r constantes – i1 , j1 , k1 1 – Movimento condução, transporte ou arrastamento: r r r r variáveis – i (t ) , j (t ) , k (t ) , rO / O (t ) 1 constantes – x(t), y(t), z(t) – Movimento relativo: variáveis – x(t), y(t), z(t) r r r r constantes – i (t ) , j (t ) , k (t ) , rO / O (t ) 1 2.6.2 Teorema da composição das velocidades Por definição, a velocidade absoluta é dada por: r r r r drM / O (t ) r = x&1 (t ) ⋅ i1 + y&1 (t ) ⋅ j1 + z&1 (t ) ⋅ k1 vabs (t ) = dt 1 ou então, [ ] r r d r vabs (t ) = rO / O (t ) + rM / O (t ) dt r r r r drO / O (t ) d = + x(t ) ⋅ i (t ) + y (t ) ⋅ j (t ) + z (t ) ⋅ k (t ) dt dt r r r r r r r drO / O (t ) di dj dk = + x& ⋅ i + x ⋅ + y& ⋅ j + y ⋅ + z& ⋅ k + z ⋅ dt dt dt dt 1 1 1 78 [ ] (2.63) Capítulo 2 = r drO / O (t ) 1 dt r r r r di r r dk dj + x& ⋅ i + y& ⋅ j + z& ⋅ k + x ⋅ + y ⋅ + z ⋅ dt dt dt ( ) Mas, por sua vez, a velocidade relativa é: r r r r r drM / O (t ) d = x(t ) ⋅ i + y (t ) ⋅ j + z (t ) ⋅ k vrel (t ) = dt dt r r r r ⇒ vrel (t ) = x& ⋅ i + y& ⋅ j + z& ⋅ k [ ] (2.64) ⇒ (2.65) Comparando com a velocidade absoluta e tendo em conta que, r r r vabs (t ) = vrel (t ) + vcond (t ) (2.66) r então conclui-se que a velocidade de condução ou de transporte, vcond , é dada por: r r r r drO / O (t ) di r dk dj + x ⋅ + y ⋅ + z ⋅ vcond (t ) = dt dt dt dt 1 (2.67) Tendo em conta as fórmulas de Poisson, apresentadas nas expressões 2.34, sabe-se que: r r di r dt = ω cond × i r r dj r = × j ω cond dt r dk r r = ω cond × k dt (2.68) r onde ω cond é o vector rotação associado à rotação do corpo rígido (e, portanto, do referencial móvel que lhe está associado), com movimento de condução de r velocidade angular ω cond . Deste modo, r r r r drO / O (t ) r dk dj di + x⋅ + y⋅ + z⋅ vcond (t ) = dt dt dt dt r r r r drO / O (t ) r r r = + x ⋅ ω cond × i + y ⋅ ω cond × j + z ⋅ ω cond × k dt r r r r dr (t ) r = O/O + ω cond × x ⋅ i + y ⋅ j + z ⋅ k dt 1 1 1 ( ) 79 Cinemática de um sistema de partículas = r drO / O (t ) 1 dt r r + ω cond (t ) × rM / O (t ) (2.69) ou seja, é uma expressão do tipo: r r r r vcond (t ) = v0 (t ) + ω cond (t ) × rM / O (t ) (2.70) que traduz a cinemática do movimento geral do corpo rígido. Resumindo, o teorema da composição das velocidades refere que a velocidade vectorial absoluta de uma partícula M que se encontra em movimento em relação a um referencial fixo é a soma vectorial da velocidade relativa dessa partícula em relação ao referencial móvel com a velocidade do referencial móvel em relação ao referencial fixo (velocidade de transporte, condução ou arrastamento), ou seja: r r r vabs (t ) = vrel (t ) + vcond (t ) r r r r vrel (t ) = x& ⋅ i + y& ⋅ j + z& ⋅ k r r r r vcond (t ) = v0 (t ) + ω cond (t ) × rM / O (t ) 2.6.3 Teorema da composição das acelerações ou teorema de Coriólis Por definição, a aceleração absoluta é dada por: r r r r d 2 rM / O (t ) r & & & & & & x ( t ) i y ( t ) j z ( t ) k aabs (t ) = = ⋅ + ⋅ + ⋅ 1 1 1 1 1 1 dt 2 1 ou então, r r r r r r r r d drO / O (t ) di dj dk + x& ⋅ i + x ⋅ + y& ⋅ j + y ⋅ + z& ⋅ k + z ⋅ aabs (t ) = dt dt dt dt dt r r r r r r r d 2 rO / O (t ) di di d 2i dj = + &x& ⋅ i + x& ⋅ + x& ⋅ + x ⋅ 2 + &y& ⋅ j + y& ⋅ + dt 2 dt dt dt dt r r r r r 2 2 r dj d j dk dk d k + y& ⋅ + y ⋅ 2 + &z& ⋅ k + z& ⋅ + z& ⋅ + z⋅ 2 dt dt dt dt dt 1 1 80 (2.71) Capítulo 2 r r r r r d 2i r r d 2 rO / O (t ) r d2 j d 2k aabs (t ) = + &x& ⋅ i + &y& ⋅ j + &z& ⋅ k + x ⋅ 2 + y ⋅ 2 + z ⋅ 2 + dt 2 dt dt dt r r r di dj dk + 2 ⋅ x& ⋅ + y& ⋅ + z& ⋅ dt dt dt 1 ( ) Por sua vez, a aceleração relativa é: r r r r r dvrel (t ) d arel (t ) = = x& (t ) ⋅ i + y& (t ) ⋅ j + z& (t ) ⋅ k dt dt r r r r ⇒ arel (t ) = &x&(t ) ⋅ i + &y&(t ) ⋅ j + &z&(t ) ⋅ k [ ] (2.72) ⇒ (2.73) Também por definição, a aceleração de transporte é: r r r r r r dvcond (t ) d drO / O di dj dk acond (t ) = = + x⋅ + y⋅ + z⋅ dt dt dt dt dt dt 1 ⇒ r r r r d 2 rO / O (t ) r d 2i d2 j d 2k + x⋅ 2 + y⋅ 2 + z⋅ 2 acond (t ) = dt 2 dt dt dt 1 ⇒ (2.74) Identificando os termos respectivos com a expressão (2.72), verifica-se que: r r r di r r r dj dk aabs = arel + acond + 2 ⋅ x& ⋅ + y& ⋅ + z& ⋅ dt dt dt (2.75) onde a parcela adicional que surge nesta expressão (e que não aparece na correspondente expressão da velocidade) é designada de aceleração complementar ou aceleração de Coriólis: r r r di r dj dk acor = 2 ⋅ x& ⋅ + y& ⋅ + z& ⋅ dt dt dt (2.76) ou aplicando as fórmulas de Poisson (2.34): ( r r r r r r r acor = 2 ⋅ x& ⋅ ω cond × i + y& ⋅ ω cond × j + z& ⋅ ω cond × k r r r r = 2 ⋅ ω cond × x& ⋅ i + y& ⋅ j + z& ⋅ k ( ) ) (2.77) r vrel 81 Cinemática de um sistema de partículas assim a aceleração de Coriólis pode ser definida condensadamente pela seguinte expressão: r r r acor = 2 ⋅ ω cond × vrel (2.78) Então, o teorema da composição das acelerações diz que: r r r r aabs = arel + acond + acor (2.79) Note-se que esta parcela adicional da aceleração (a aceleração de Coriólis) é calculada a partir de características dos movimentos elementares tais como a r r velocidade angular ω cond do movimento de condução e a velocidade vrel do movimento relativo. Logo, em qualquer corpo móvel, num referencial móvel em movimento relativamente a um referencial fixo existirá aceleração de Coriólis, a qual implicará o desenvolvimento de uma força adicional (ou complementar) sobre o corpo (de r r acordo com o princípio fundamental da dinâmica: F = m ⋅ a ), que é designada de r força de Coriólis, Fcor . Entre as aplicações e as consequências da existência da força de Coriólis em problemas de cinemática de movimento relativo, menciona-se alguns exemplos: – sentido de rotação dos vórtices atmosféricos nos hemisférios norte e sul; – forças de Coriólis associadas ao movimento do astronauta reparando um satélite no espaço; – forças de Coriólis associadas a determinados fenómenos marítimos; – variação terrestre das marés; – estudo da evolução de fenómenos meteorológicos. 2.6.4 Casos particulares – Princípio da relatividade newtoniana Se o sistema referencial móvel S tiver um movimento de translação em relação r r r ao referencial fixo S1, então os versores i , j e k , bem como qualquer direcção considerada no referencial móvel, ocuparão durante o movimento posições paralelas r r r entre si, pelo que os versores i , j e k , serão vectores constantes. Logo: 82 Capítulo 2 r r r di dj dk r = = =0 dt dt dt (2.80) e os teoremas da composição das velocidades e da composição das acelerações serão expressos, respectivamente, por: r r r v abs = vrel + vcond ; em que r r r r v rel = x& ⋅ i + y& ⋅ j + z& ⋅ k r d rO / O (t ) r vcond = dt (2.81) 1 r r r r arel = &x& ⋅ i + &y& ⋅ j + &z& ⋅ k r d 2 rO / O (t ) r r r r (2.82) aabs = arel + acond ; em que acond = 2 dt r r acor = 0 r r r A aceleração de Coriólis é nula atendendo ao facto dos versores i , j e k , serem vectores constantes, ou seja, as respectivas derivadas são nulas, como está expresso em (2.80), resultando, de acordo com a expressão (2.76), no anulamento da aceleração de Coriólis. 1 r r Note-se que drO / O dt e d 2 rO / O dt 2 representam, respectivamente, as velocidades e as acelerações do centro do referencial móvel em movimento de translação, as quais coincidem com as velocidades e as acelerações do designado movimento de transporte (condução ou arrastamento) do referencial móvel S relativamente ao referencial fixo S1. 1 1 Se para além das premissas anteriores, o movimento de translação do referencial móvel S relativamente ao referencial fixo S1, for um movimento r r rectilíneo e uniforme, então d 2 rO / O dt 2 = 0 e o teorema da composição das acelerações será: 1 r r aabs = arel (2.83) Desta expressão conclui-se que um corpo terá a mesma aceleração em dois referenciais que executem, um em relação ao outro, um movimento de translação 83 Cinemática de um sistema de partículas rectilíneo e uniforme. Isto traduz o designado Princípio da Relatividade Newtoniana. Assim: 1º) Um movimento de translação rectilíneo e uniforme comum aos aparelhos de medida e aos observadores, não altera as observações mecânicas; 2º) É impossível justificar com experiências mecânicas, realizadas num sistema de partículas mecânico, se este está em repouso ou em movimento rectilíneo e uniforme. Ou seja, repouso e movimento rectilíneo e uniforme são duas facetas equivalentes da mesma realidade mecânica. 84