SISEPA - assunção livre

Propaganda
0
ÍNDICE
1. – INTRODUÇÃO .................................................................................PAG 2
2. – APRESENTAÇÃO ............................................................................PAG 3
– Solo..........................................................................................PAG 3
– Luz do sol.................................................................................PAG 3
– Água ........................................................................................PAG 4
– Ar .............................................................................................PAG 4
3. – SIST. SEMIÁRIDO DE PROD. DE ALIMENTO – SISEPA ...............PAG 4
– Preparo do local .......................................................................PAG 5
– preparo dos canteiros ..............................................................PAG 5
– Irrigação e sistematização dos canteiros e plantas .................PAG 6
4. – PÚBLICO ALVO E DINÂMICA DE EXECUÇÃO ..............................PAG 7
5. – CONCLUSÃO ...................................................................................PAG 8
1
SISTEMA SEMIÁRIDO DE PRODUÇÃO DE ALIMENTO
1. INTRODUÇÃO
A partir de estudos e convivência com o ambiente do semiárido brasileiro,
principalmente na região de Castelo do Piauí, no Piauí, onde se observa uma concentração
muito grande de solo arenoso, sol intenso no período de maio a dezembro, chuvas espaçosas
nos meses de janeiro a abril, não chegando muitas vezes, a um total de 500mm de chuva no
período, porém com vegetações diversas sendo metade caatinga e metade chapada, com
flora e fauna resistentes a fortes períodos secos.
Observamos também o histórico dos habitantes desta região que apresentam uma raça
mística composta por negros, índios, brancos, pardos e com posturas físicas diferentes, mas
com a mesma adaptação ao clima, cultura e resistências aos desastres naturais e desafios
impostos pela humanidade, com coragem para suportarem com passividade a exclusão
social, o acesso à saúde de qualidade, educação de qualidade e outros mecanismos que
facilitam a vida nestes tempos modernos.
Com o surgimento da Articulação de Convivência com o Semiárido Brasileiro – ASA nos
últimos dez anos, a água de beber está chegando a todos através da tecnologia “cisterna de
placa”, trazendo não somente o saciar da sede, mas também uma série de mudanças na vida
dos habitantes do semiárido, entre eles, o resgate da cidadania e a independência.
Quase resolvido o problema da água de beber, o desafio da ASA neste momento é a
produção de alimentos, através de uma tecnologia econômica, sustentável, acessível a todos
e que não possa agredir o meio ambiente. Uma maneira de produzir alimentos orgânicos que
possa atender às necessidades das famílias que a produzem e ao setor mercado local.
Diante da situação o projeto, através de observações experimentadas pelo orientador,¹
vem apresentar uma nova orientação de produção de alimentos orgânicos, prático, barato e
econômico, capaz de produzir alimentos sem a necessidade de muita água e sem uso de
inseticidas, uma maneira simples adaptável ao contexto do semiárido a qual denominamos de
“sistema semiárido de produção de alimento - SISEPA”, uma tecnologia justificada pela
própria vegetação adulta da região e que pretendemos a partir deste conceito compartilhar
com as famílias do semiárido a partir de cursos práticos.
O Sistema Semiárido de Produção de Alimento – SISEPA já está sendo praticado no
município de Assunção do Piauí/PI, na Comunidade Serrinha, pela família de Rosa e
Nascimento, onde a altitude do local atinge os 720 metros, com temperatura acima dos 40°C
no período de setembro a dezembro, tendo como fonte de água uma cisterna de 52 mil litros
construída pela ASA através do Centro Regional de Assessoria e Capacitação – CERAC,
tendo como orientador e observador o autor deste projeto e que já mostra resultados do ponto
de vista alimentar e financeiro para a família, na produção de legumes e verduras.
1. Orientador - José Caetano da Silva, Ensino Médio (Escola Estadual Isaac Swerner - Amazonas), Presidente de Honra do STTR Assunção
do Piauí/PI, Diretor do CEFESA, Curso de Gestão Pública / MDS / ASA / UFRGS – 2012 e Articulador de Convivência com o Semiárido.
2
2. APRESENTAÇÃO
O Sistema Semiárido de Produção de Alimento – SISEPA tem como metodologia a
composição do solo, com a semente da planta, com a água, com a luz do sol e com o ar.
Claro! Antes que você diga que isso e a lógica de vida de toda planta e que na teoria e na
prática o resultado é o mesmo e que todo mundo faz isso em suas hortas e etc., queremos
concordar com você e concordamos também com todas às outras teorias e práticas
ensinadas até agora desde as cartilhas que vem do sul do Brasil até as cartilhas feitas no
nordeste do Brasil e, nem podemos discordar mesmo porque, de certa forma, todas elas
mostram resultados, resultados de muitas tentativas de adaptações, uso exagerado de água,
altos investimentos de irrigações e um pouquinho de veneno de vez em quando. O SISEPA
trás os elementos essenciais da natureza para a vida de uma planta, porém adequado ao
clima e solo do semiárido a partir do entendimento da responsabilidade e função de cada
elemento sem faltar e sem ultrapassar, ou seja, nem sol demais e nem água demais, cada
elemento na dose certa, de forma térmica, sólida e úmida.
Antes de irmos para o ponto principal do SISEPA vamos entender um pouco sobre a
relação e o comportamento de cada um dos elementos existentes na nossa região semiárida
(Castelo do Piauí/PI), conforme segue:
2.1 – Solo
Os solos da região são provenientes da alteração de arenitos, siltitos, folhelhos e
conglomerados. Compreendem solos litólicos, álicos e distróficos, de textura médios, pouco
desenvolvidos, rasos a muito rasos, fase pedregosa, com floresta caducifólia e/ou floresta
sub-caducifólia/cerrado. Associados ocorrem solos podzólicos vermelho-amarelos, textura
média a argilosa, fase pedregosa e não pedregosa, com misturas e transições vegetais de
floresta sub-caducifólia e caatinga. Secundariamente, ocorrem areias quartzosas, que
compreendem solos arenosos essencialmente quartzosos, profundos, drenados, desprovidos
de minerais primários, de baixa fertilidade, com transições vegetais de fase caatinga
hiperxerófila e/ou cerrado sub-caducifólio e floresta sub-caducifólia (Jacomine et al., 1986)².
Em resumo, observa-se que este solo não é capaz de armazenar água por muito tempo
na sua superfície, muito tempo quer dizer por período de 24 horas depois de dada uma chuva
e que, uma vez que não armazena água também não irá armazenar calor. No período do dia
se mantém aquecido pela luz e durante a noite bastante resfriado, exceto os pontos úmidos.
2.2 – Luz do sol
Nesta região temos uma temperatura mínima de 25°C e máxima de 40°C, com sol
nascendo por volta das 5:45h. e anoitecendo às 18:06h., com freqüência de ventos
levimentes fortes durante o dia, tornando o clima bem ventilado. Nota-se também, que na
medida em que o sol vai subindo a temperatura vai aumentando, ficando mais intenso entre
às 12:00h. e 13:00h., começando a esfriar o tempo a partir das 15:30h. e quando chega às
18:45h. o chão já está praticamente frio.
Do Sol também saem ondas que chegam até a terra. Essas ondas têm comprimentos
diferentes. As ondas de comprimento pequeno são os raios gama e os raios-x, que são
absorvidos na alta atmosfera. A luz ultravioleta tem cumprimento de onda um pouco maior e
é quase toda absorvida pela camada de ozônio da atmosfera. Os corpos aquecidos emitem
luz de comprimento maior do que o da luz que enxergamos. É a luz infravermelha. Essa nós
não enxergamos. Os raios do Sol chegam a Terra onde encontram matéria. Essa matéria
esquenta e solta raios infravermelhos.³
2 – Fonte: Serviço Geológico do Brasil – CPRM.
3 – Fonte: Telecurso 2º Grau / Química – Pag. 88.
3
2.3 – Água
Na região de Castelo do Piauí, distinguem-se como domínio hidrogeológico, as rochas
sedimentares. Pertencem à Bacia do Paraíba e correspondem ao Grupo Serra Grande, que é
constituído de arenitos e conglomerados, normalmente apresentando um potencial médio, no
que diz respeito à ocorrência de água subterrânea, tanto do ponto de vista quantitativo quanto
qualitativo. Tal aqüífero se constitui no mais importante elemento de armazenamento de água
subterrânea, levando em consideração que esta formação ocorre principalmente em três
municípios da região.
A água como um dos principais elementos básicos da vida, apesar de grande
quantidade no subsolo faz muita falta na superfície, característica que fez com que muita
gente partisse indo embora para outras regiões do Brasil por não saber conviver com o
semiárido e por não haver cidadania no meio social, sem falar nas crianças e idosos que
morreram por excesso de desidratação. Através dos movimentos sociais foi colocada em
prática a sabedoria de captar a água da chuva e armazenar em cisternas, fazendo com que
às famílias do semiárido passassem a entender a seca como um fenômeno natural e não
como uma praga, trazendo também, conhecimentos sobre o comportamento da água e como
administrá-la no uso do dia a dia.
É o único elemento capaz de ficar, naturalmente, em três diferentes estados: sólido,
líquido e gasoso, e 97% da água do planeta estão no mar. Quando a chuva cai à água vem
totalmente pura, tornando fácil sua penetração no solo e ao mesmo tempo abrindo espaços
para um possível retorno ao ar através do processo de evaporação, dependendo do tipo de
solo. No solo arenoso a água não fica muito tempo na superfície, ela segue imediatamente
para o subsolo e a parte não aproveitada pelas plantas, no tempo preciso, evapora-se. Na
floresta amazônica a água da chuva cai em um “colchão” de folhas secas e corre entre as
folhas em direção aos rios, embaixo das folhas é impossível acontecer evaporação.
2.4 – Ar
O principal de todos os elementos, apesar de estar com baixa umidade na maioria dos
dias do ano o ar que respiramos no semiárido ainda é puro e livre de agentes tóxicos
principalmente nas áreas rurais do sertão. Nesta região o ar apresenta baixa umidade nos
meses de agosto a novembro, fazendo acontecer a chamada poluição sonora, a olho nu é
possível ver as partículas de oxigênio se movimentando a distância “no pingo do meio dia”,
como diz o ditado “o sol está fervendo”.
O ar é uma mistura homogênea de vários gases, composto por nitrogênio, oxigênio,
argônio e carbono, cada um com sua finalidade, lembrando sempre que dois elementos não
ocupam o mesmo espaço. O carbono é essencial para a vida das plantas ou a matéria prima
para a produção de oxigênio.
Para cada 100 partícula de ar temos no total 78 de nitrogênio, 21 de oxigênio e o 1 que
falta para completar os 100% é representado por gás carbônico, vapor de água, argônio e
poeiras ³.
3. PROJETO SISTEMA SEMIÁRIDO DE PRODUÇÃO DE ALIMENTO – SISEPA
A partir deste momento vamos conhecer como funciona na prática o SISEPA, juntando
todas as justificativas químicas reais que já foram apresentadas, respeitando às funções de
cada elemento e, sobretudo o fator economia de água e o clima do semiárido, o que poderá,
por exemplo, ser praticado na horticultura e plantas frutíferas.
4
3.1 – Preparo do local
Vamos pegar um terreno medindo 20,00m. de frente por 20,00m. de fundo ou 400,00m²,
independente de seu relevo, exceto um lajeiro, e a partir daí começaremos a preparar os
canteiros no chão, como nossa região é semiárida, vamos deixar os canteiros com sentido na
direção do vento, assim para obtermos maior ventilação, conforme exemplo abaixo:
ÁREA DO TERRENO
CANTEIRO
FLUXO DA VENTILAÇÃO
Na região semiárida, geralmente o vento surge do leste juntamente com a radiação,
dependendo da sua força ele altera o movimento das partículas de oxigênio, principalmente
ao meio dia (no capú do carro isto é mais visível), o que também altera a posição dos raios
solares sobre a superfície.
Os canteiros deverão ficar distantes, no mínimo 0,50m., um do outro, tanto para facilitar
a ventilação como para o agricultor trafegar.
3.2 – Preparo dos canteiros
Os canteiros serão construídos diretamente no chão, obedecendo a um comprimento
máximo de 5,00m. e largura máxima de 1,00m., não podendo sua superfície ficar acima no
nível do terreno, em virtude da temperatura que a planta tem que sentir a noite. Alguns
agricultores preferem fazer os canteiros com relevo muito acima do nível do terreno, se isto
acontecer, neste caso não pode exceder a altura máxima de 0,10cm.
O agricultor escavará a terra com uma profundidade máxima da altura de uma enxada
(ou no máximo 0,20cm.), sempre batendo a enxada e puxando a terra da lateral para o centro
do canteiro, deixando a terra livre em toda a extensão do canteiro. Depois de preparada terra
vem o adubo, ou melhor, esterco de bode ou de boi/vaca devidamente curtido¹. Depois de um
dia de adubado o canteiro e aplicado sobre ele a primeira água, o agricultor irá aplicar às
sementes ou às mudas de legumes, observando que esta etapa deverá ser feita depois das
5
4:00h. da tarde. Enquanto às plantas não nascem e depois de nascidas até os 0,03cm. o
canteiro deverá ser regado levemente pela manhã e pela tarde.
Quando as plantas nascidas atingirem 0,03cm. de altura o agricultor irá aplicar encima
do adubo e em toda a superfície do canteiro uma camada de areia lavada, de preferência
areia fina, numa espessura de 1 e ½ cm. deixando a planta com a mesma medida fora da
camada de areia. No caso de mudas a camada de areia deverá ser aplicada no mesmo dia de
transferência, deixando o adubo e a camada de areia separadamente nivelados. Para mudas
de tomate, pimentão e outros, a camada de areia pode ser de 0,03cm. A partir deste momento
o canteiro deverá ser regado (de forma leve) somente uma vez por dia, de preferência a partir
das 4 da tarde.
ABAIXO: SISTEMA DO CANTEIRO EM
FUNCIONAMENTO
PLANTA
AREIA LAVADA
ADUBO ORGÂNICO
TERRA
Curtido – É o nome que se dá ao resultado do processo pós preparação do
“esterco” para aplicar no canteiro, por exemplo: pega o esterco em quantidade
significante, num local separado aplica-lhe água e em seguida abafa com palhas de
coco ou um plástico, uma vez por dia durante 3 dias, quando nasce as primeiras
sementes no próprio esterco já é sinalização de processo concluído.
3.3 – Irrigação e sistematização dos canteiros e plantas
Neste sistema o agricultor irá colocar água no canteiro, levemente de forma econômica,
duas vezes ao dia até a planta atingir os 0,03cm, enquanto não se coloca a camada de areia.
Depois de colocada a camada de areia o agricultor irá perceber a necessidade de colocar
água na planta somente uma vez por dia, haja vista que água debaixo da areia não sofrerá
evaporação imediata.
A areia tem a função de desacelerar o processo de evaporação da água, permanecendo
a água mais tempo nas raízes, controla a temperatura da planta fazendo com que durante o
dia o adubo permaneça frio e durante a noite permaneça aquecido (por conta da umidade).
Os raios solares ao bater no adubo penetram em grande quantidade e velocidade,
tornando a superfície do canteiro e as raízes das plantas bastante aquecidas, deixando a
planta totalmente desidratada e levando embora toda a água, além de destruir a matéria
orgânica contida no adubo. Com a areia na superfície do canteiro os raios solares irão bater
nos grãos de areia e retornar para a atmosfera, deixando penetrar na areia somente os raios
infravermelhos,¹ que são responsáveis pela temperatura no interior da planta e que será
percebido somente a noite quando o exterior já está frio.
6
A radiação solar, resultado do impacto da luz do sol com a areia, faz luminosidade muito
forte aos olhos dos insetos que vieram para danificar as plantas e com isso eles irão embora,
não havendo, portanto a necessidade do agricultor aplicar inseticidas nas plantas, daí o
porque também, das plantas serem regadas somente a partir das 04:00h. da tarde, tendo em
vista que a água também atrai insetos. Daí a pergunta, por que algumas formigas preferem a
noite para sair em busca dos alimentos? E porque o sapo desce até 0,50cm de profundidade
para hibernação? ².
RADIAÇÃO SOLAR
OUTROS RAIOS
INFRAVERMELHO
1.
Infravermelho – Tipo de raio solar capaz de entrar nos corpos e torna-los aquecidos, porém sem poder de transformação
da matéria.
2.
Hibernação - Sono letárgico de certos animais durante o inverno ou verão.
4. – PÚBLICO ALVO E DINÂMICA DE EXECUÇÃO
O projeto é direcionado para aquela família que habita na zona rural dos municípios do
semiárido brasileiro e que possui água específica para atender a um quintal produtivo,
principalmente às famílias beneficiárias do P1+2 (programa da ASA) que já tem certa relação
com manejo e gestão de água, de forma econômica e sustentável.
O SISEPA tem como caráter principal a educação da família, no contexto do semiárido,
para melhor relação entre o agricultor e os componentes da natureza, de forma equilibrada e
sustentável. Será necessário incutir, através de cursos práticos, na cabeça do agricultor a
importância real da vida e o ecossistema semiárido.
Para tanto, será necessário preparar primeiro os atores que estão mais diretamente com
este público, animadores de campo das UGT´s e técnicos agrícolas do setor, dentro de uma
linguagem fácil de compreender e um manejo ações simplificadas. Para cada município a
implantação de uma unidade de produção acompanhado de um curso prático com a
participação de 20 (vinte) famílias e um custo investimento de aproximadamente 5 mil reais.
7
5. – CONCLUSÃO
O SISEPA é o resultado de uma pesquisa feita no semiárido brasileiro, especificamente
no município de Assunção do Piauí/PI, que traz uma visão um pouco diferente das que já foi
apresentada, porém com os mesmos componentes do semiárido. Com um manejo altamente
sustentável e econômico, visando em primeiro lugar um entendimento entre o homem e o
semiárido, extraindo-se deste relacionamento uma alimentação acessível, barata, saudável e
em curto prazo.
Contudo, o SISEPA nasce no coração do semiárido e vai de encontro com o Programa
de Aquisição de Alimentos – PAA, Programa Nacional da Alimentação Escolar – PNAE,
Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN e outros do Governo Federal.
Vai trazer de imediato, segurança alimentar e nutricional para as famílias da zona rural e
indiretamente para as famílias da zona urbana, sustentação econômica dos pequenos
municípios e a existência de uma SOBERÂNIA e INCLUSÃO SOCIAL para todos e todas.
Que a sabedoria de Deus mantenha em nós
uma luz que não se apague!
José Caetano da Silva
[email protected]
[email protected]
Tel. (86) 3254 8003
3254 0084
8121 5622
8
Download