ENTREVISTAS PRELIMINARES E TRANSFERÊNCIA

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ENTREVISTAS PRELIMINARES E TRANSFERÊNCIA: SUA IMPORTÂNCIA PARA
O ATENDIMENTO CLÍNICO
Cleuza Maria de Oliveira Bueno1
Romualdo Nunes dos Santos2
RESUMO
O presente artigo traz uma reflexão sobre a importância das entrevistas preliminares e
transferência no processo psicoterapêutico a luz da psicanálise. A discussão do artigo
parte das experiências no serviço de psicologia de uma clínica escola da Universidade
do Sul de Santa Catarina, construindo assim uma articulação entre teoria e prática.
Para tanto, apresentar alguns casos clínicos para ilustrar como ocorre o estabelecimento das condições transferências nas entrevistas preliminares.
Palavras chave: Psicoterapia; Psicanálise; Entrevistas preliminares; Transferência.
Psicóloga, professora e orientadora do Estágio Especifico em Psicologia Clínica, Universidade do Sul de Santa
Catarina – UNISUL Campus Araranguá.
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Acadêmico 10° semestre do Curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL Campus Araranguá.
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ENTREVISTAS PRELIMINARES E TRANSFERÊNCIA SUA IMPORTÂNCIA PARA O
ATENDIMENTO CLÍNICO
O artigo relata a experiência de um trabalho de atendimento Psicoterapêutico no Serviço de Psicologia (SP), na clínica escola da Universidade do sul de
Santa Catarina – campus Araranguá. Muitas são as questões que surgem a partir da
experiência de iniciação nos estágios clínicos oferecidos aos alunos de graduação de
Psicologia, entre elas escolhemos para tratar aqui, à luz da psicanálise, o tema entrevistas preliminares que se estende até a transferência, queixa, demanda. Para tanto
será feita uma articulação entre teoria e prática.
Para esclarecer melhor, primeiramente se faz necessário contextualizar o
ambiente e as condições destes atendimentos que ocorrem na clínica escola. Para
começar, o tratamento é limitado no tempo: dois semestres letivos os quais equivalem
efetivamente a nove (9) meses.
Os usuários do serviço de psicologia são pessoas que frequentemente não
podem pagar por uma terapia, seja porque são oriundos de uma classe menos favorecida, seja porque são jovens e estudantes ou são também pessoas ligadas à comunidade universitária, estudantes e funcionários. Chegam, muitas vezes, porque foram
aconselhados a procurar o serviço por um amigo, um professor, um psicólogo, um
profissional de outro serviço de atendimento, um cliente da clínica, um aluno da universidade, etc.
Inicialmente, gostaria de apresentar algumas questões relativas à clinica,
no que se refere ao lugar das entrevistas preliminares. Clínica é uma palavra oriunda
do grego Kline que significa leito ou também instrução médica dada ao lado do leito do
doente, podendo ainda significar inclinar-se, ou exercício ou prática da medicina conforme Cumotto, (2008). A autora lembra que Canguilhem amplia o conceito da atividade clínica para outras áreas do conhecimento afirmando que é uma arte situada na
confluência da várias ciências, mais do que uma ciência propriamente dita.
.Assim, esse artigo propõe abordar um assunto há muito discutido e estu-
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dado por todos que atuam na área clínica, constituinte do movimento inicial do dispositivo analítico, que são entrevistas preliminares, ou como Freud conceitualiza, em seu
texto “O Início do Tratamento”, de Tratamento de Ensaio. Nesta obra, Freud faz algumas recomendações sobre a técnica psicanalítica, levando em conta a extraordinária
diversidade das constelações psíquicas envolvidas. Freud (1974) em seus atendimentos tinha o hábito de aceitar os pacientes de modo provisório, por um período de duas
semanas somente. Considerava que se o tratamento se interrompesse poupava-se ao
paciente uma impressão aflitiva de cura que falhou. Relata que apenas se empreendia
em uma sondagem a fim de conhecer se o paciente era adequado para psicanálise.
Este experimento preliminar, segundo Freud (1974), contudo, é próprio da
psicanálise e deve ser conforme as regras desta. Nesse modo o paciente é livre para
falar quase todo o tempo e não se explica mais do que o absolutamente necessário
para continuar no que está dizendo. Não há uma obrigação de continuar o tratamento
por certo período de tempo, Freud permite a interrupção quando quiser e esclarece ao
paciente que tendo pouco tempo de trabalho o paciente não terá sucesso satisfatório.
As entrevistas preliminares correspondem para Lacan o tratamento de ensaio de Freud (1996). Na clínica da psicanálise elas são um recurso através do qual, o
entrevistado na posição daquele que procura ajuda, direciona sua fala ao entrevistador
na função de psicanalista, a partir do entendimento de que, nessa relação de linguagem, algo pode surgir (Bueno, 2002).
As entrevistas preliminares partem da escuta do sujeito do inconsciente, do
sujeito como efeito do discurso do Outro. Segundo Martins (2000), é preciso ao analista escutar o paciente não como “um outro”, mas sim aquele paciente diferente de
qualquer outro. A comunicação com o paciente é feita de maneira singular.
Estas entrevistas iniciais servem para investigar os motivos que trazem o
paciente àquela consulta, constitui a mola mestra que vai direcionar o analista a montar suas hipóteses iniciais. O que acontece nesses primeiros encontros de certa
maneira determina o curso da análise, ou mesmo se ela vai acontecer ou não. Freud
(1974) anuncia que o objetivo primeiro do processo psicanalítico é ligar seu paciente
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ao tratamento e ao terapeuta, isso se dá através das entrevistas preliminares.
Nas entrevistas preliminares o analista ou o psicoterapeuta que trabalha orientado pela psicanálise, oferece sua escuta à queixa do paciente. Dependendo de
como é feita essa escuta, o paciente vai endereçar a mesma ao terapeuta, ou seja, vai
formular a ele um pedido de ajuda para seu sofrimento. A isso a psicanálise chama demanda.
Para Bueno (2002) a psicanálise enquanto articulação de uma teoria com
uma prática, desde seus primórdios, vem empregando a entrevista como instrumento
através do qual o entrevistado, na posição de analisante, fala a um entrevistador na
posição de psicanalista, a partir de um pressuposto de que, nessa relação de linguagem, algo pode se produzir. As entrevistas acontecem em uma série de sessões,
ao longo de um tempo que para a condição de clínica-escola é previamente delimitado.
Nas entrevistas preliminares a queixa inicial do sujeito, segundo Bueno
(2002), quase sempre demanda uma cura. A possibilidade dessa cura está justamente
na abordagem analítica de uma queixa que é a abertura a novas significações, para
além do que o analisante diz. Isso é o que vai possibilitar ao paciente no final do processo, livrar-se do seu sinto-ma ou dar um novo sentido a ele.
O paciente ao pedir o auxílio de alguém, ao formular uma demanda ao terapeuta, supõe que este saiba algo do seu sofrimento, podendo tratá-lo. Isto não é o
suficiente para que a análise ou mesmo a psicoterapia ocorra, mas é seu ponto de partida. Às vezes a queixa não é formulada diretamente pelo paciente, mas por aquele
que o traz, muitas vezes aquele que sofre ou se incomoda com o sintoma do outro,
como é o caso de atendimentos clínicos com as crianças que vêm trazidas por um familiar.
Esse é o caso da mãe de uma menina de (5) cinco anos que recebi para o
atendimento no serviço de psicologia da clínica escola em uma entrevista de acolhimento. Este é primeiro contato que o paciente tem com a instituição e o terapeuta o
atendimento é feito na modalidade de entrevista.
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As entrevistas de acolhimento têm como objetivos, acolher o cliente, com
suas queixas, demandas e sofrimento; colher informações objetivas, subjetivas e situacionais que subsidiem os alunos e supervisores na tomada de decisão sobre o melhor
encaminhamento possível que pode oferecer para cada cliente. Logo que a mãe senta
na poltrona, antes mesmo de eu lhe perguntar o motivo de trazer a menina para
terapia, ela diz que a criança D. sempre se porta assim, inibida. Começa falar sobre
sua queixa, diz que D. tem dificuldades de se relacionar com os colegas, não brinca
com outras crianças, não gosta de realizar atividades em grupo e que esta foi encaminhada pela professora da escola.
Segundo a mãe, sua filha se encontra assim desde os quatro (04) anos
quando ela estava na creche. Relata que numa ocasião a menina ficou de castigo
presa no banheiro, episódio ao qual associa sua inibição. A mãe tem além de D. mais
duas filhas uma de vinte cinco (25) anos, casada, outra de vinte dois (22) anos que
mora ainda com a mãe.
O terapeuta deve conduzir o atendimento, pontuando o que é trazido pelo
paciente, ao ponto dessa queixa se transformar em demanda, ou seja, um ponto importante para as entrevistas preliminares em psicanálise é que vale para os atendimentos clínicos ou psicoterapia, é que o sujeito consiga chegar a perceber que está
comprometido com outra coisa, que no drama da sua existência ele não é só efeito,
mas também agente do que lhe acontece (BUENO, 1999).
No decorrer da entrevista fiz uma pergunta à mãe de Daniela se haviam perdas na família que pudessem ser significativas para ela. Ela relata a perda de um bebe
há uns três anos antes do nascimento de Daniela. Após essa perda passou um tempo
fazendo casaquinhos de bebê e dando aos vizinhos e conhecidos como forma de
preencher seu vazio, sendo que ela ainda guarda em um armário suas roupinhas
desse bebê morto. Conta que um dia Daniela descobriu essas roupas e perguntou de
quem eram. A partir daí ela sempre voltava a esse assunto e em determinado momento começou a perguntar como se faz para morrer. Nesse caso em que a queixa é
da mãe, embora a situação sintomática seja da menina, ela pode trazer um ponto fundamental que deveria ser trabalhado para que ela pudesse perceber a ligação do seu
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desejo com o que a menina está apresentando.
Este primeiro contato pode ser exatamente o momento no qual se detectará
o que é possível ou não ser “tratado” em termos psicanalíticos, podendo, além disso,
propor-cionar em si mesmo um resultado terapêutico.
A partir do relato da entrevista de acolhimento supervisionado encaminhei
apenas a mãe para o atendimento na clínica escola, passando assim, para a psicoterapia propriamente dita, visto que se evidenciava um caso de luto não elaborado e a
identificação da menina com o bebê morto. Dessa forma apenas tratar dos sintomas
não resolveria e seria necessário que mãe e a filha, fossem atendidas, mesmo porque
a mãe poderia falar com mais liberdade da sua situação em um atendimento individual.
As pessoas que procuram uma terapia porque estão em crise ou com algum
problema devem ser respeitadas em seu sofrimento, como é o caso dessa mãe que
sofre com os comportamentos da sua filha, pois ela entende que ela está assim introvertida por motivos de uma situação um mal entendido sobre o castigo que ocorreu na
escolinha. Não se dá conta que isso diz respeito à sua vida e a perda de um bebê.
Apesar de a mãe se emocionar e contar isso chorando, ela não parece fazer uma ligação com os sintomas da filha.
Aquilo de que o paciente se queixa não corresponde necessariamente ao
seu sintoma. É importante se considerar que o sintoma pode ser a condição do seu
gozo e nem sempre há a disposição a abdicar dele, sendo isso já parte do trabalho a
ser feito. Conforme Bueno (1999), para que isso aconteça, há uma condição necessária para que o tratamento seja possível, a instauração da transferência. Nesse
sentido, para que essa transferência possa ser instalada é necessário que se realize o
trabalho nas entrevistas preliminares. Isto vai depender do paciente e do terapeuta.
O processo psicanalítico tem seu ponto de apoio na transferência. Entretanto, Quinet (2009) ressalta a busca pela análise está vinculada à hipótese de que há
um saber em jogo no sintoma do qual o indivíduo quer se desvencilhar, uma préinterpretação, feita pelo sujeito, de seu sintoma. Assim, para que uma análise se inicie
é necessário que haja o estabelecimento da transferência, muito embora não seja motivada pelo analista e sim pelo analisante. Não é, portanto, uma função do analista,
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mas, do paciente. O desafio para o analista é saber manejá-la.
Transferência é um termo progressivamente introduzido por Freud e Sandor
Ferenczi entre 1900 e 1909 para designar o processo constitutivo do tratamento psicanalítico mediante o qual os desejos inconscientes do analisando concernentes a objetos externos passam a se repetir, no âmbito da relação analítica, na pessoa do analista, colocando na posição destes diversos objetos (Roudinesco, 1998 p.766).
Sabemos da importância do conceito de transferência na teoria psicanalítica, pois é devido a este fenômeno que a situação analítica pode instalar-se e o
trabalho de análise acontecer ou de psicoterapia em qualquer das duas modalidades
pode acontecer. Também podemos dizer que toda relação seja pessoal ou institucional
pode ser modulada e alimentada graças aos fenômenos transferenciais, como ocorre
nos pacientes usuários do serviço de psicologia da Unisul. Muitos deles vêm à procura
do atendimento terapêutico motivado por ser um serviço já conhecido.
A instituição oferece permanentemente ajuda, sempre que necessário,
através de todo um suporte técnico e humano que se apresenta como um ponto de
referência para os pacientes, pois estes sabem que podem utilizar tais serviços sempre. Aqui entra o que me parece de fundamental importância em relação ao trabalho
institucional e que se refere à transferência institucional. Como afirma Pinheiro (2002),
há dois tipos distintos de vínculos transferenciais: um que se estabelece com o analista e outro com a instituição. Ambos exercem, cada um a seu modo, efeitos sobre o
tratamento.
No processo de transferência, para Pinheiro (2002) é necessário destacar e
observar que diferentes contextos criam diferentes formas de atuação e de inserção
transferencial, acredita que a psicanálise possa ser utilizada na clínica escola sem
perder sua especificidade, basicamente se a tomarmos por sua vertente ética, ou seja,
como um trabalho que, indo além do alívio sintomático, refere-se à construção de uma
verdade singular sobre o sujeito e o desejo do inconsciente de cada paciente.
Segundo o mesmo autor (2002), sempre que desejarmos promover uma
análise sobre o conceito de transferência na obra freudiana devemos tomar como centrais as relações estabelecidas entre esta e três outros conceitos estreitamente correlacionados.
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O conceito de sugestão: na medida em que se encontra no fator sugestivo
contido na transferência, a possibilidade de o analista exercer uma influência sobre o
paciente que o leva à mudança psíquica.
O conceito de repetição: permite, enquanto transferência, a atualização da
realidade do inconsciente no interior das sessões clínicas, tornando possível, com
isso, a re-significação do conflito neurótico.
O conceito de resistência: posto que em sua dupla função, a transferência
indica que, por um lado, os complexos inconscientes foram atingidos, e, por outro, que
os mecanismos psíquicos contrários à manifestação dos elementos inconscientes foram ativados.
No atendimento de M., ela veio apenas a um atendimento individual, pois o
atendimento seguinte faltou, alegando ao Serviço de Psicologia, ter um novo compromisso para o horário no qual seria atendida, não podendo mais vir. Pode-se levantar a
hipótese, assim, baseado no seu discurso, que o fato de ela não vir foi uma forma de
manifestar sua resistência ao processo terapêutico, resistência essa que mobilizou
conteúdos inconscientes que tentou encobrir. É possível presumir que M. a não estava
em condições de trabalhar os conflitos. Como foi dito, nem todos pacientes estão dispostos a trabalhar os conflitos porque corresponde a trazer a dor e o sofrimento à
terapia, isso por sua vez causa desconforto ao paciente.
Assim a transferência, no tratamento analítico, invariavelmente nos aparece,
desde o início, como a arma mais forte da resistência, e podemos concluir que
a intensidade e a persistência da transferência constituem efeito e expressão
da resistência (FREUD [1912], 1974 p.131).
Em outro caso atendido na clínica escola, podemos evidenciar uma relação
transferencial, foi quando atendi D. um rapaz de 25 anos, homoafetivo aluno do curso
de psicologia de uma outra universidade. Esse paciente trouxe como queixa a sua dificuldade de relacionamento e ao sofrimento de ter sido abandonado, na época o seu
namorado havia rompido com ele. Percebi que D. tinha uma relação afetiva com muita
ideação, ele tinha seu namorado como alguém que lhe supria todas as suas necessidades, enfim uma verdadeira paixão.
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Ao longo das sessões mostrou como era seu relacionamento com sua mãe
e pude perceber que ele tinha com ela uma relação de muita proximidade onde ele
não conhecia os limites entre ele e sua mãe, como se não houvesse cortado o cordão
umbilical. Em seus relatos dizia que ligava para ela chorando, pois não conseguia lidar
com a solidão pelo fato de morar em uma cidade distante da sua mãe.
Nos atendimentos percebi que ele sempre se colocava na posição de igualdade comigo não reconhecendo a distinção entre seu relacionamento com seus amigos, familiares e comigo na posição de terapeuta, me convocando muitas vezes a concordar com ele. D. é um aluno do curso de psicologia e por vezes fazia referencia a
mim dizendo:
“Eu sei o que a psicologia diz a respeito disso, isso é verdade não é
mesmo?”.
Certa vez buscou justificar sua homossexualidade falando do Complexo de
Édipo, e me pergunta:
“Não é mesmo assim?”
Quando comecei a atender D. já tinha bastante contato com a teoria psicanalítica, já havia estudado a questão da transferência na clínica. No entanto nunca
tinha vivido uma relação transferencial no papel do terapeuta.
Assim podemos entender que a transferência é como Freud (1912) aponta:
Alcançamos normalmente sucesso em fornecer a todos os sintomas da
moléstia um novo significado transferencial e em substituir sua neurose
comum por uma neurose de transferência. ´(...) A transferência cria, assim,
uma região intermediária entre doença e vida real, através da qual a transcrição de uma para outra é realizada (...). Trata-se de um fragmento de experiência real, mas um fragmento que foi tornado possível por condições especialmente favoráveis e que é de natureza provisória (FREUD [1912], 1974
P.133).
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No entanto, o que parece ser facilmente solucionado do ponto de vista teórico não o
é na prática, uma vez que, para que a transferência adquira contornos de resistência é necessário
o suporte da transferência afetuosa. Freud pontua é importante que cada associação isolada, cada
ato da pessoa em tratamento tem de levar em conta a resistência e representa uma conciliação
entre as forças que estão lutando no sentido do restabelecimento e as que se lhe opõe, já descritas por mim (FREUD [1912], 1974).
Para Freud (1974), em outras palavras, transferência positiva e negativa
precisa coexistir. Esta é a condição para o tratamento psicanalítico. Freud aponta que
nas neuroses, sentimentos afetuosos e hostis, conscientes e inconscientes ocorrem
lado a lado e são dirigidos simultaneamente para a mesma pessoa. Assim, repetir, resistir e elaborar são trabalhos que ocorrem neste espaço que engloba a dimensão da
ambivalência. Em outras palavras, o que possibilita o trabalho de elaboração da transferência negativa, dentro dos limites do que é possível elaborar numa terapia, é a ocorrência da coincidência dos afetos de amor e ódio dirigidos à figura do terapeuta. Freud
(1974) pontua a impossibilidade de influência ou cura nestes casos em que a transferência negativa domina. No caso de sentimentos hostis, leva ao abandono do tratamento, no caso de sentimentos eróticos inconscientes pode levar a um tratamento que
nunca chega ao fim, o que ocorre com freqüência em instituições.
Diante das perguntas que D. fazia a mim no atendimento psicoterapêutico
de modo que eu coagisse com ele, tentei não responder do lugar onde eu estava. A
partir de então que percebi e pude entender como o sujeito atualiza na relação algo
dele como no sintoma dele onde ele tem como tendência a não fazer diferenciações.
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