o anglo resolve a 2ª- fase da GV-SP Economia

Propaganda
o
anglo
resolve
a
2ª- fase
da GV-SP
Economia
novembro de
2009
É trabalho pioneiro.
Prestação de serviços com tradição de confiabilidade.
Construtivo, procura colaborar com as Bancas Examinadoras em sua tarefa de
não cometer injustiças.
Didático, mais do que um simples gabarito, auxilia o estudante no processo de
aprendizagem, graças a seu formato: reprodução de cada questão, seguida da
resolução elaborada pelos professores do Anglo.
No final, um comentário sobre as disciplinas.
Para o curso de Economia (55 vagas), a FGV-SP realiza um vestibular anual em
duas fases.
1ª- FASE
Consta de oito provas com testes de múltipla escolha das seguintes disciplinas:
Horário
Manhã
(das 8h30 às 12h30)
Tarde
(das 14 às 18h)
Disciplina
Quantidade
Matemática
30
Língua Portuguesa
15
História
15
Geografia
15
Inglês
15
Biologia
15
Física
15
Química
15
Eliminam-se os candidatos que acertam menos de 20% das questão de qualquer das provas.
Classificam-se para a 2ª- fase os 200 candidatos com as melhores médias aritméticas simples das notas estatisticamente padronizadas. Aqueles que empatam na 200ª- posição são todos classificados para a 2ª- fase.
2ª- FASE
Consta de três provas discursivas (cujo número de questões não é previamente
divulgado):
Duração
das 8 às 10 h
Disciplina
Raciocínio Matemático
Língua Portuguesa (1h)
das 10h30min às 13 h
Redação em Língua Portuguesa (1,5 h)
Peso
3
1
1
A média de cada candidato na 2ª- fase é a média ponderada das notas estatisticamente padronizadas. Ausência ou zero em qualquer das provas resulta em
desclassificação.
A média (MF) é dada pela seguinte fórmula:
MF = (0,4 × média da 1ª- fase) + (0,6 × média da 2ª- fase)
Observação: 1) Cada disciplina tem pontuação de zero a dez.
2) Não é utilizada a nota do ENEM
▼
MATEM ÁT ICA
Questão 1
a) Construa o gráfico das funções f(x) = 2 + sen x e g(x) = 2 + cos 2x para 0 ⭐ x ⭐ 2π.
b) Admita que f(x) e g(x) indiquem as cotações das ações das empresas F e G na bolsa de valores de São Paulo
no intervalo de horas 0 ⭐ x ⭐ 2π (x = 0 indica 12h00, e x = 2π ≈ 6,28 indica, aproximadamente, 18h17).
Determine algebricamente (equações e/ou inequações) o intervalo de horas, com 0 ⭐ x ⭐ 2π, em que a
cotação das ações da empresa F foi maior ou igual à cotação das ações da empresa G.
Resolução
a) Do enunciado, temos:
– 1 ⭐ senx ⭐ 1 ∴ – 1 + 2 ⭐ 2 + senx ⭐ 1 + 2
∴ 1 ⭐ f(x) ⭐ 3 e períodof =
2π
= 2π;
1
– 1 ⭐ cos 2x ⭐ 1 ∴ – 1 + 2 ⭐ 2 + cos 2x ⭐ 1 + 2
∴ 1 ⭐ g(x) ⭐ 3 e períodog =
2π
= π.
2
Temos os esboços dos gráficos, para 0 ⭐ x ⭐ 2π:
y
3
g
2
f
1
0
π
2
GV – ECONOMIA/2010
π
3
3π
2
2π
x
ANGLO VESTIBULARES
b) Do enunciado, temos f(x) ⭓ g(x), com 0 ⭐ x ⭐ 2π.
Assim:
2 + senx ⭓ 2 + cos 2x
∴ sen x – cos 2x ⭓ 0
∴ sen x – (cos 2 x – sen2x) ⭓ 0
∴ sen x – (1 – 2sen2x) ⭓ 0
∴ 2sen 2x + sen x – 1 ⭓ 0
Δ = 12 – 4 ⋅ 2 ⋅ (– 1)
+ 0
–
Δ=9
–1
sen x =
–1 ± 3
4
sen x =
0
1
2
+ sinal de 2sen2 x sen – 1
x
1
2
senx = – 1
Da inequação, temos sen x ⭐ –1 ou sen x ⭓
1
.
2
Na circunferência trigonométrica:
5π
6
1
2
π
6
–1
3π
2
Temos
π
6
⭐x⭐
5π
3π
ou x =
.
2
2
3π
,
e
6 6
6
indicam, respectivamente, 12h31, 14h37 e 16h43. Assim, o intervalo de tempo pedido é das 12h31 às
14h37 ou às 16h43.
Como x = 0 e x = 2π indicam, respectivamente, 12h00 e 18h17, temos que os números
π 5π
▼
Resposta: das 12h31 às 14h37 ou às 16h43.
Questão 2
Observe o padrão indicado na tabela a seguir:
x
3x
7x
0
1
1
1
3
7
2
9
49
3
27
343
4
81
2401
5
243
16807
6
729
117649
7
2187
823543
8
6561
5764801
9
19683
40353607
…
…
…
a) Determine o algarismo da unidade de 32009.
b) Determine o algarismo da unidade de 3423 + 7651 – 258.
GV – ECONOMIA/2010
4
ANGLO VESTIBULARES
Resolução
a) O algarismo das unidades de 3x, com x ∈ IN, repete-se de 4 em 4.
Observe-se a tabela:
31
32
33
34
35
36
37
38
3
9
27
81
243
729
2187
6561
Sendo r o resto da divisão de x por 4 e u o algarismo das unidades de 3x, temos a tabela:
r
1
2
3
0
u
3
9
7
1
Como o resto da divisão de 2009 por 4 é 1, o algarismo das unidades de 32009 é 3.
Resposta: 3
b) O resto da divisão de 423 por 4 é r = 3. Logo, o algarismo das unidades de 3423 é dado por u = 7, conforme
a tabela (r, u) na resolução do item anterior.
Do enunciado, podemos concluir que, sendo r o resto da divisão de x por 4 e u o algarismo das unidades de
7x, temos a tabela:
r
1
2
3
0
u
7
9
3
1
O resto da divisão de 651 por 4 é r = 3. Logo, o algarismo das unidades de 7651 é dado por u = 3.
Observe-se, nas tabelas a seguir, o algarismo das unidades de 2x, com x ∈ IN.
x
1
2
2x
2
4
x
3
4
5
6
2x
8
16
32
64
x
7
8
9
2x
128 256
10
512 1024
Note-se que 58 = 2 + 14 ⋅ 4, e temos a tabela:
x
55
56
57
58
2x
…8 … 6
…2
…4
Logo, o algarismo das unidades de 258 é 4.
▼
Resumindo, os algarismos das unidades dos números 3423, 7651 e 258 são, nessa ordem, 7, 3 e 4. Assim, o
algarismo das unidades de 3423 + 7651 – 258 é dado por 7 + 3 – 4 = 6.
Resposta: 6.
Questão 3
Uma pirâmide de base quadrada é seccionada por um plano paralelo à sua base, distante 2 m dela. A área total
da pirâmide menor, obtida pela secção, é igual à metade da área total da pirâmide original.
a) Calcule a altura da pirâmide original.
b) Calcule o volume do tronco de pirâmide obtido pela secção para o caso em que a aresta da base da pirâmide
maior mede 3 m.
GV – ECONOMIA/2010
5
ANGLO VESTIBULARES
Resolução
H–2
H: altura da pirâmide original
H
2
a) Sendo A’T e AT, respectivamente , as áreas totais da pirâmide menor e da pirâmide maior, temos:
A ’T
1
=
2
AT
1
A ∴
2 T
A’T =
Logo, sendo k a razão de semelhança, segue que:
k2 =
1
2
∴ k=
1
2
. Assim,
1
H–2
=
H
2
∴ H=4+2 2
Resposta: 4 + 2 2m
b) O volume V da pirâmide maior é V =
1
⋅ 32 ⋅ (4 + 2 2 )
3
∴ V = 12 + 6 2
Sendo V’ o volume da pirâmide menor e
⎛ 1 ⎞
= ⎜
⎝ 2 ⎟⎠
12 + 6 2
V'
V’
= k3, temos:
V
3
∴ V’ = 3 + 3 2
O volume do tronco é dado por V – V’ = 9 + 3 2
▼
Resposta: 9 + 3 2 m3
Questão 4
Sabe-se que a1, a2, a3, …, a2009 representa um arranjo aleatório dos números 1, 2, 3, … , 2009.
a) Determine se o produto (a1 – 1) ⋅ (a2 – 2) ⋅ (a3 – 3) ⋅ … (a2009 – 2009) é um número par ou ímpar, justificando
sua resposta com argumentos matemáticos.
b) Qual é a probabilidade de que o arranjo a1, a2, a3, …, a2009 tenha seus 1 000 primeiros termos em progressão aritmética de razão 2? (não há necessidade de fazer cálculos, apenas deixe seu resultado indicado com
notação fatorial)
Resolução
a) Dentre os 2009 termos dados, 1004 são pares e 1005 são ímpares.
Por outro lado, indicando por:
Dp = (a2 – 2)(a4 – 4)(a6 – 6) … (a2008 – 2008)
Di = (a1 – 1)(a3 – 3)(a5 – 5) … (a2009 – 2009)
temos que Dp tem 1004 fatores e Di tem 1005 fatores.
Assim, o produto P = (a1 – 1)(a2 – 2)(a3 – 3) … (a2009 – 9) pode ser indicado por:
P = Dp ⋅ Di
GV – ECONOMIA/2010
6
ANGLO VESTIBULARES
Observe-se que, para o produto Dp, temos uma e somente uma das possibilidades abaixo:
I) Pelo menos um dos 1004 fatores é par.
II) Todos os 1004 fatores são ímpares.
Na primeira possibilidade, Dp é par. Nesse caso, o produto P é par.
Na segunda possibilidade, Dp é ímpar e a2, a4 , a6 , … a2008 são ímpares, o que corresponde a 1004 termos
ímpares dentre os 1005 termos ímpares da sequência a1, a2, a3, …, a2009.
Logo, necessariamente, existe um único k ímpar com ak ímpar. Consequentemente, um dos fatores de Di,
(ak – k) é par e, portanto, Di é par, o que implica que P é par.
Portanto, dos argumentos matemáticos utilizados, fica justificado que o produto é par.
b) O número total de arranjos a1, a2, a3, …, a2009 é 2009!
Uma progressão aritmética de razão 2 com 1000 termos e primeiro termo igual a a é da forma:
(a, a + 2, a + 4, …, a + 1998).
Os arranjos a1, a2, a3, …, a2009 com 1000 termos iniciais em P. A. são da forma:
(a, a + 2, a + 4, …, a + 1998, —, —, …, —).
1009 termos
Nessas condições, a ⭓ 1 e a + 1998 ⭐ 2009, o que implica 1 ⭐ a ⭐ 11.
Assim, o número desses arranjos é 11 ⋅ 1009!.
Logo, a probabilidade pedida é
11 ⋅ 1009!
2009!
Resposta:
GV – ECONOMIA/2010
11 ⋅ 1009!
2009!
7
ANGLO VESTIBULARES
▼
POR TUGU ÊS
Questão 1
Analise a tira.
Sr. Rusga e dr. Rabuja
QUE TOM
PRECISO DE
É ESSE? ESTÁ PROVAS. MOSTRE
DEUS
BEM… EU
ACHANDO QUE
FOTOS DE
CRIOU
FUI CRIADO
NÃO SOU
TODOS SEUS
TODAS AS POR DEUS!
FILHO DE
ANCESTRAIS
COISAS!
DEUS?
AQUI
ESTÁ:
FAMÍLIA
REUNIDA!
PARABÉNS!
BELA
CRIAÇÃO
DE
CHIMPANZÉS
(Folha de S.Paulo, 10.12.2008)
a) No primeiro quadrinho, a palavra Deus ocorre na fala das duas personagens. Explique a função sintática
que ela assume em cada uma dessas ocorrências.
b) No segundo quadrinho, a personagem afirma: Preciso de provas. Supondo que ela utilizasse uma frase completa, com as informações do seu interlocutor, reescreva a frase que resultaria dessa mistura, iniciando com
Preciso de provas e justificando a escolha dos elementos que devem unir as informações.
Resolução
Em “Deus criou todas as coisas”, o substantivo “Deus” é o termo responsável pela flexão da forma verbal
“criou”, pelo que se classifica como sujeito. No trecho “(...) eu fui criado por Deus”, o termo “por Deus” associa-se à forma verbal passiva “fui criado” indicando o autor da ação na voz passiva; classifica-se, portanto, como
agente da passiva.
b)
Na frase “Preciso de provas”, pode-se subentender uma oração subordinada que complemente o substantivo “provas”. Explicitando-a, tem-se: “Preciso de provas de que você seja filho de Deus”. Os elementos que
unem a oração principal e a subordinada são os seguintes: a conjunção integrante “que” — conector que relaciona subordinadas substantivas a orações principais — e a preposição “de” — obrigatória, já que a subordinada é completiva nominal.
▼
a)
Questão 2
Observe as frases:
I. Tecnologia da informação: do campus para o campo.
(Jornal Unesp, agosto de 2009)
II. Durante a
(sessão/seção) plenária, o deputado deixou claro que, a partir daquele momento,
não se discutiriam mais as
(exceções/excessões). O mais importante seria o
(cumprimento/comprimento) da pauta, atendendo, assim, aos interesses dos
(cidadãos/cidadões).
a) Nomeie e explique a figura de linguagem estabelecida pelo par campus-campo, em I.
b) Transcreva, respectivamente, os termos que completam corretamente as lacunas em II.
Resolução
a)
b)
A figura é a paronomásia, pois se exploraram vocábulos de sonoridade semelhante: “campus” e “campo”.
Os termos que completam corretamente as lacunas são, respectivamente, “sessão”, “exceções”, “cumprimento” e “cidadãos”.
GV – ECONOMIA/2010
8
ANGLO VESTIBULARES
▼
Questão 3
Leia o texto.
Como diz o sociólogo Domenico De Masi, contratação inadequada: você seleciona gente “quadrada” e quer
que elas passem, de repente, a ser “redondas”.
(...)
Mais importante que a alta rotatividade, dirão alguns, é saber lidar com os desligamentos. Se demissões são
inevitáveis, o mínimo a fazer é tratar os demitidos com respeito, dignidade e transparência, assegurando os
direitos trabalhistas e estendendo benefícios por um período maior. Não é crível, contudo, que hajam defensores de turnover elevado. Alta rotatividade é doença (grave) e não deve ser subestimada.
(Jornal Nota 10, PR, agosto de 2009)
a) No contexto, explique a concordância do termo redondas, justificando se está correta ou não.
b) No texto, há um erro de concordância verbal. Transcreva-o, corrija-o e justifique a correção.
Resolução
Na passagem “você seleciona gente ‘quadrada’ e quer que elas passem, de repente, a ser ‘redondas’”,
o substantivo ‘gente’ — singular na forma gramatical, porém com valor semântico de coletivo — é retomado por um pronome de 3ª- pessoa do plural (“elas”), o que constitui uma silepse de número. O adjetivo
“redondas” liga-se a esse pronome e concorda com ele em gênero e número — respectivamente, feminino
e plural —, o que está de acordo com a norma padrão do Português.
b)
O problema está no trecho “(...) hajam defensores (...)”. Adequando essa passagem à variedade padrão,
teríamos “haja defensores”, pois o verbo “haver”, no significado de existir, constitui um caso de predicado
sem sujeito e permanece, portanto, no singular.
▼
a)
Questão 4
Leia o poema de Manuel Bandeira.
Mudança
A alegre, a festiva agitação das panelas e tachos
A inútil zanga dos velhos armários de mogno, solenes,
Achando tudo aquilo uma grande palhaçada...
As xícaras e pires fazendo tlin-tlin-tlin-tlin
As gaiolas dos passarinhos cantando em coro com os próprios passarinhos
Oh! a alegria das coisas com aquela mudança
Para onde? Não importa! Desde que não seja
Este eterno mesmo lugar!
a) Explique o processo de formação das palavras zanga e tlin-tlin-tlin-tlin.
b) Explique o sentido que assume, no contexto, a expressão Desde que, no penúltimo verso. Redija um período em que ela seja empregada com sentido diverso ao do poema.
Resolução
a)
A palavra zanga é formada por derivação regressiva ou deverbal do verbo zangar. Quanto a tlin-tlin-tlin-tlin, trata-se de palavra formada por um processo de criação onomatopeica, já que ela simula o som
produzido pelo choque entre xícaras e pires.
b)
No texto, a expressão desde que tem sentido condicional, equivalendo, portanto, à expressão contanto que.
Além desse sentido condicional, a expressão desde que pode ter também valor temporal: Ela está
morando com a mãe desde que o marido foi transferido para Londres.
GV – ECONOMIA/2010
9
ANGLO VESTIBULARES
▼
Questão 5
Leia o texto.
Como bem mostra João Adolfo Hansen, no prefácio, Samuel Beckett atinge a história nessas eliminações da
voz. Como matéria manuseada,
que está no meio, entre o dentro e o fora, entre o
crânio e o mundo, só resta falar, “continuar a tagarelice aterrorizada dos condenados ao silêncio”. Recusando,
contudo, todas as determinações, conceitos e os pretensos sentidos, impedindo que a voz se torne universal;
esvaziá-la, até torná-la estéril, entulho do fracasso histórico do sensus communis e do linguistic turn: para
Beckett, verso e reverso de uma vida historicamente danificada.
(Jornal de Resenhas, número 4, agosto de 2009)
a) A lacuna do texto deve ser preenchida com a voz ou à voz? Justifique a sua resposta.
b) Considerando as palavras recondito, femur, hifens, paul, bacharel e aljofar, transcreva e acentue aquelas
que, a exemplo de estéril, devem receber acento gráfico por serem paroxítonas.
Resolução
a)
A lacuna deve ser preenchida por à voz, já que a expressão está sintaticamente relacionada com “só
resta falar”, exercendo a função de objeto indireto do verbo restar. Com efeito, o termo à voz responde
à pergunta: a quem só resta falar? A crase da expressão resulta da fusão da preposição a, pedida pelo verbo
restar, como o artigo a, que determina o substantivo voz.
b)
As palavras que, a exemplo de estéril, devem receber acento por serem paroxítonas são fêmur e aljôfar.
Leia o texto para responder às questões de números 06 a 10.
Sub Solo 1
“Mundo, mundo, vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não uma solução.” Os versos
de Drummond me desabaram na cabeça assim que saí do elevador no andar errado, num prédio da Berrini, e
dei com um piso inteiro de restaurantes; uma praça de alimentação submersa em toneladas de concreto, no
centro empresarial de São Paulo.
Então assim é o mundo — pensei —, aqui que estão as pessoas normais. As pessoas que têm emprego, FGTS,
férias remuneradas, chefes que admiram e/ou detestam, colegas com quem competem e se comprazem,
horário de almoço e happy hour, todo mundo, enfim, que sai de casa toda manhã para trabalhar num
escritório, em vez de caminhar, só, em direção a uma edícula, no fundo do quintal.
Eu leio sobre o mundo com frequência, nos jornais. De vez em quando, leio livros sobre o mundo. Pensando
bem, estudei o mundo por cinco anos, na Faculdade de Ciências Sociais, mas raramente vou até ele, e precisei
do choque daquela praça de alimentação para dar-me conta de quão distante nós estávamos — eu e o mundo.
Para um escritor, poucas constatações podem ser mais trágicas.
Posso me acabar de ler Shakespeare, Dostoievski, Kafka e Goethe, mas os verdadeiros Macbeths, Ivans
Karamazovs, Gregors Sansas e Faustos estão entre as máquinas de café e os scanners, tiram fotinhos na portaria e alimentam as catracas com seus crachás. Nos 20 andares acima daquelas bandejas, todo dia, sonhos
medram ou murcham, homens competem, traem, fofocas são discretamente difundidas, alguém entregará o
que tem de mais precioso em nome de uma causa; a glória e o fiasco espocam, das oito da manhã às sete da
tarde. Como posso querer ser um escritor se só trato com o ser humano por e-mail? Se só o vejo amistoso e
calmo, no cinema ou num restaurante, no fim de semana?
Voltei ao elevador decidido a raspar essa barbicha calculadamente desleixada, meu crachá de escritor, que pretende dizer, ingenuamente, “não faço parte do mundo” — e arrumar um emprego na Berrini. Pode ser de
quinto auxiliar de almoxarifado ou subanalista de cafezinho, não importa. Só preciso ter acesso ao coração do
mundo. Uma vez ali dentro, ouvirei as moças falando mal do chefe na fila do Subway, descobrirei o que planejam os jovens de terno na mesa do Súbito, verei a felicidade do garoto do interior que acabou de ser contratado e o ódio de seu vizinho de baia, que não foi. Depois, e só depois, poderei voltar para minha edícula e
tentar escrever algo que preste. Algo que, um dia, espero, chegue aos pés do último verso do poema de
Drummond: “Mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto é meu coração.”
(Antonio Prata. O Estado de S.Paulo, 31.05.2009. Adaptado)
GV – ECONOMIA/2010
10
ANGLO VESTIBULARES
▼
Questão 6
a) Nomeie e explique o jogo de idéias que se estabelece entre os verbos medram e murcham em — … sonhos
medram ou murcham … e entre os verbos admiram e detestam em — …chefes que admiram ou detestam…
b) Interprete, no contexto, a pluralização dos nomes próprios em — … os verdadeiros Macbeths, Ivans
Karamazovs, Gregors Sansas e Faustos… e identifique o processo de figurativização de linguagem dela
decorrente.
Resolução
Em “sonhos medram ou murcham” e “chefes que admiram e/ou detestam”, temos uma aproximação
de palavras de sentidos opostos (medrar [que significa “crescer”] × murchar e admirar × detestar), o que
configura uma antítese.
b)
Ao usar certos nomes próprios no plural (“Macbeths”, referência à tragédia de Shakespeare; “Ivans
Karamazovs”, que remete ao romance Os irmãos Karamazov, de Dostoievski; “Gregors Sansas”, alusão ao
protagonista de A metamorfose, de Kafka; e “Faustos”, que faz referência à mais conhecida obra de
Goethe), o enunciador procura falar não sobre as célebres personagens literárias, que só existem no mundo
ficcional, e sim sobre as pessoas de carne e osso, que “tiram fotinhos na portaria e alimentam as catracas
com seus crachás”. Generalizar o alcance dos substantivos próprios, flexionando-os para o plural, é uma
forma de empregar o particular, o específico para designar o geral, o universal, o que é característico da
figura de linguagem conhecida como metonímia.
▼
a)
Questão 7
Quanto à morfologia, explique o emprego das palavras em destaque:
a) mal em … ouvirei as moças falando mal do chefe na fila do Subway… e em — O mal é as moças não
respeitarem a ausência do chefe na fila do Subway.
b só em … em vez de caminhar, só, em direção a uma edícula, no fundo do quintal. — e em — Só preciso
ter acesso ao coração do mundo.
Resolução
Em “falando mal”, a palavra em destaque associa-se ao verbo, permanece invariável e expressa circunstância de modo; trata-se, por isso, de um advérbio. Em “O mal”, o vocábulo destacado é núcleo do grupo
nominal, funcionando como substantivo.
b)
No trecho “em vez de caminhar, só, em direção a uma edícula”, a palavra em negrito caracteriza um
indivíduo — pelo contexto, um escritor — que se dirige à edícula sozinho; trata-se de um adjetivo. Em “Só
preciso ter acesso”, o termo negritado associa-se à locução verbal “preciso ter”; é, por isso, um advérbio.
▼
a)
Questão 8
Observe a pontuação dos segmentos frasais:
a) Assim que saí do elevador no andar errado os versos de Drummond me desabaram na cabeça. Você constata
um erro de pontuação? Explique.
b) Voltei ao elevador decidido a raspar essa barbicha calculadamente desleixada, meu crachá de escritor. Justifique
o emprego da vírgula no período.
Resolução
a)
O erro de pontuação consiste na ausência de uma vírgula depois da palavra errado. Com efeito, essa
vírgula era necessária para separar, da oração principal, uma subordinada adverbial que inicia o período.
b)
A vírgula é necessária para separar o aposto — “meu crachá de escritor” — da expressão a que ele se refere:
“essa barbicha calculadamente desleixada”.
GV – ECONOMIA/2010
11
ANGLO VESTIBULARES
▼
Questão 9
Atente para as formas verbais dos segmentos:
a) Uma vez ali dentro, ouvirei as moças falando mal do chefe na fila do Subway, descobrirei o que planejam
os jovens de terno na mesa do Súbito, verei a felicidade do garoto do interior… . Os verbos ouvirei, descobrirei e verei, no contexto, indicam uma ação concluída? Explique.
b) … fofocas são discretamente difundidas… . Articule outra possibilidade de voz passiva da frase, sem alterar
o tempo do verbo.
Resolução
Não. O uso da expressão adverbial “Uma vez ali dentro” indica que o enunciador vai começar a falar
de uma situação hipotética. Assim, as formas verbais no futuro do presente (“ouvirei”, “descobrirei” e
“verei”) designam ações que podem vir a ocorrer. Trata-se, pois, de ações não concluídas.
b)
Difundem-se discretamente fofocas.
▼
a)
Questão 10
Atente para o trecho:
Depois, e só depois, poderei voltar para minha edícula e tentar escrever algo que preste. Algo que, um dia,
espero, chegue aos pés do último verso do poema de Drummond: “Mundo, mundo, vasto mundo, mais vasto
é meu coração.”
a) Identifique a ideia expressa pelas preposições para em — … voltar para minha edícula… — e de em — …
poema de Drummond.
b) Aponte no verso de Drummond a palavra que designa a ideia de um coração grandioso e identifique a
classe gramatical a que ela pertence.
Resolução
a)
A preposição para em “voltar para minha edícula” é um marcador espacial, que indica destino, lugar
ao qual se vai. Já a preposição de em “poema de Drummond” indica posse, o que equivale a dizer que
Drummond escreveu o poema, que o texto lhe pertence, que o poema é de sua autoria.
b)
Trata-se do adjetivo “vasto”.
GV – ECONOMIA/2010
12
ANGLO VESTIBULARES
RE DAÇ ÃO
Leia os textos para elaborar sua redação, que deverá estar em conformidade com a norma culta da língua portuguesa.
Texto 1
A indústria automobilística nacional registrou retomada de 92,7% da fabricação de veículos (automóveis, comerciais leves e caminhões) no mês de janeiro, totalizando 186,1 mil unidades fabricadas. Em dezembro [de 2008],
a produção foi de apenas 96,6 mil. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (9) pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
(www.carplace.virgula.uol.com.br)
Texto 2
Os números do mercado brasileiro de motocicletas indicam melhoras em termos de produção e mercado interno neste segundo trimestre de 2009. Segundo dados divulgados pela Abraciclo (Associação Brasileira dos
Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), no comparativo entre abril e
maio deste ano, as vendas para as concessionárias tiveram uma ligeira queda, de 7,1% — devido ao número
de dias úteis ter sido menor que no mês anterior — enquanto a produção e a exportação apresentaram resultados positivos: aumento de 11,1% e 13,2%, respectivamente.
(www.motonline.com.br)
Texto 3
Na última década, a frota de veículos no ABC cresceu três vezes mais que a população das sete cidades juntas,
o que representa uma proporção de um carro para cada 2,32 habitantes da região. Esse ritmo acelerado de
crescimento traz como consequências para o motorista um número cada vez maior de acidentes e engarrafamentos.
(www.metodista.br/rronline/cidades/aumento-da-frota-de-veiculos-gera-problemas-no-transito-da-regiao)
Texto 4
SÃO PAULO — A restrição de caminhões teve impacto direto no aumento da frota de utilitários da capital
paulista. Entre maio de 2008 (um mês antes do início da medida adotada pela Prefeitura) e maio deste ano,
o número de veículos de carga de menor porte cresceu quase cinco vezes mais que o de caminhões. De acordo com os dados obtidos pelo jornal O Estado de S.Paulo, com base no Resumo Mensal da Companhia de
Engenharia de Tráfego (CET), a frota de utilitários da capital passou de 561,9 mil para 624,4 mil, uma alta de
11% (no Estado, a alta foi de 9%). Enquanto o número de caminhões nas ruas subiu 2,99% (no Estado, foram
4,9%), chegando a 166,6 mil veículos no mês passado.
(www.estadao.com.br/noticias/geral,sem-caminhao-cresce-11-a-frota-de-utilitarios-em-sp,394765,0.htm)
Texto 5
MTV PUBLICA Reinvente a cidade! Metrô combina com skate, patins e bicicleta!!
Com base nas informações dos textos e em outras do seu conhecimento, elabore um texto dissertativo, em
prosa, discutindo o tema:
Trânsito nas grandes metrópoles: problemas e alternativas
GV – ECONOMIA/2010
13
ANGLO VESTIBULARES
Análise da proposta
Como em anos anteriores, a Banca da GV-Economia propôs a elaboração de um texto dissertativo em
prosa, sobre um tema explícito. Foi oferecida aos candidatos uma coletânea de 5 excertos com muitas informações, dados estatísticos e algumas opiniões sobre Trânsito nas grandes metrópoles: problemas e alternativas.
O texto 1 compara os números relativos à produção de veículos (automóveis, comerciais leves e caminhões)
entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009: segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores), nesse período houve um crescimento de 92,7% da atividade industrial desse setor. É
importante lembrar que o Brasil, bem como outros países, enfrentava então enormes incertezas econômicas
provocadas pela crise financeira que abateu o mundo a partir de setembro de 2008.
O texto 2 apresenta números da produção e comercialização de motocicletas no Brasil, entre abril e maio
de 2009. Apesar da queda de 7,1% nas vendas às concessionárias (justificada pelo menor número de dias úteis
em maio), a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas,
Bicicletas e Similares) registrou crescimento de 11% na produção e de 13,2% na exportação de motocicletas.
O texto 3 informa o alarmante dado de que, na última década, a frota de veículos no ABC cresceu três
vezes mais que a população daquela região paulista (formada por Santo André, São Bernardo do Campo, São
Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Segundo o autor do texto, mais acidentes de trânsito e engarrafamentos são dois efeitos notórios desse fenômeno.
No texto 4, o aumento da frota de utilitários — veículos de carga de menor porte — é apontado como
efeito direto da política municipal de restrição à circulação de caminhões. Segundo dados do Resumo Mensal
da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a alta foi de 11%, superior à de 9% verificada no estado de
São Paulo. Por outro lado, segundo o texto do jornal O Estado de São Paulo, a medida contra os caminhões
rendeu algum efeito positivo: enquanto o crescimento do número desses veículos na cidade foi de 2,99%, no
estado foi de 4,9%.
O texto 5, uma campanha institucional da MTV, põe em evidência sugestões para facilitar a mobilidade
urbana, como a utilização de skates, patins e bicicleta associados ao uso do metrô.
Possibilidades de encaminhamento
Para elaborar uma redação adequada ao tema proposto, o candidato deveria refletir sobre problemas e
alternativas para o problema do trânsito, podendo contemplar, entre outras, as seguintes ideias:
Problemas do trânsito
• O crescimento desenfreado da produção e comercialização de veículos automotores (automóveis, caminhões e motocicletas), a despeito dos problemas de trânsito que evidentemente acarreta, está ligado ao
atendimento das necessidades individuais de locomoção, conforto, transporte de mercadorias e pessoas. É
possível, portanto, inscrever o problema num embate entre soluções individuais/individualistas e coletivas
para o transporte em grandes metrópoles.
• A crise financeira deflagrada em setembro de 2008 fragilizou economias, disseminando desemprego e incertezas quanto ao crescimento dos países. Nesse cenário, o crescimento da produção de veículos e da frota (como informam os textos 1, 2 e 3) desponta como um termômetro da recuperação da atividade industrial
e da economia como um todo. Portanto o trânsito caótico das grandes metrópoles pode ser analisado sob uma
perspectiva econômica, como um efeito nocivo do modelo de desenvolvimento econômico-social baseado
na produção industrial, da qual a indústria automotiva é expoente.
• Os automóveis, além da função de transporte, estão intimamente ligados à noção de status, são transformados em distintivos sociais. Os problemas de trânsito, porém, começam a relativizar a importância desse aspecto cultural.
• Grandes metrópoles, como São Paulo, não sofrem apenas com o trânsito produzido pelos seus habitantes.
A interdependência entre a capital e os municípios da região metropolitana cria necessidades de transporte
que, se não atendidas satisfatoriamente pelo setor público, abrem espaço para soluções individuais, privadas. Com esse cenário se explicam, por exemplo, o crescimento da frota de carros no ABC paulista ou a consolidação da rede de ônibus fretados, os quais sofreram restrições de circulação em 2009.
Alternativas para o trânsito
• O crescimento dos números relativos à produção e comercialização de motocicletas revela que esse meio de
transporte, mais barato, mais ágil, de manutenção mais barata, tem-se tornado uma saída para os engarrafamentos, atrasos e políticas de rodízio de carros, apesar dos riscos à segurança dos usuários.
GV – ECONOMIA/2010
14
ANGLO VESTIBULARES
• Políticas públicas que restringem a circulação de automóveis, caminhões e ônibus fretados são soluções polêmicas. Argumento favorável a elas é a redução do crescimento do número de caminhões e dos índices de
congestionamento; contra, a compra de um automóvel, ou mesmo a do segundo carro, para os dias de rodízio, ou o crescimento do número de veículos de menor porte para driblar a restrição a caminhões.
• Além das alternativas clássicas, como a construção de novas vias (como é o caso da ampliação da Marginal
Tietê), de novas linhas de metrô, de novos corredores de ônibus, poderiam ser consideradas soluções menos
convencionais, como skates, patins e bicicletas associados ao uso de metrô, em que pese sua eficiência, numa
cidade de topografia irregular e grandes distâncias, e a mudança de mentalidade necessária para que sejam
respeitados no trânsito.
GV – ECONOMIA/2010
15
ANGLO VESTIBULARES
CO MENTÁRI OS
Matemática
Com apenas 4 questões, a banca conseguiu elaborar uma prova com questões interessantes e adequadas à área
a que se destina.
Português
Em dez questões, todas divididas em dois itens, o exame de 2ª- fase da GV-Economia avaliou a competência
linguística dos candidatos sem apresentar surpresas. As questões, mais de Gramática do que de Interpretação de
Texto, cobraram assuntos variados, de ortografia a figuras de linguagem, passando por análise sintática e morfológica. Não faltaram também itens que exigiam domínio da norma culta em casos específicos de concordância
e pontuação.
GV – ECONOMIA/2010
16
ANGLO VESTIBULARES
Download