Filosofia, Metafísica e Espiritualismo Na data em que escrevo e publico este ensaio, contabilizo a mesma idade em que Cristo foi assassinado na cruz infame. Não me comparo ao Cristo, obviamente, mas de algum modo eu sei, a priori, que um texto humilde e nobre como este causa, como causou nos assassinos do Cristo, atitudes de fúria, deboche, indiferença e desprezo. Escrevi este ensaio num ímpeto, quase todo em somente duas horas de uma manhã que se mostrava comum às demais. Aqui não estão apenas os conhecimentos adquiridos nesta minha atual existência, porém as certezas de uma trajetória de inúmeras reencarnações pelo tempo e o espaço. Como eu, todos também saberão, já sabem ou intuem as concepções basilares que me satisfazem e me lançam luz sobre o passado, o presente e o futuro. Do ponto de vista da Filosofia, este ensaio é tão originalíssimo como originais foram os ensinamentos do Cristo, pregado, humilhado e exposto pela mesma ignorância que provocará, da boca de acadêmicos, escárnio de minhas palavras. Por outro lado, sabedor de que todos os espíritos nascem simples e ignorantes e de que vão se preenchendo pelas sucessivas reencarnações, fixando conhecimentos e habilidades, o Espiritualismo entende que este ensaio não defende nada de extraordinário, mas apenas o que se faz comum segundo as leis da natureza e a vontade do Criador. Sou filósofo. Isso não significa, em absoluto, muita coisa. Já em outro texto, O Ensino da Filosofia, dissertei sobre essa questão. Agora me resta aprofundá-la sob nova luz, e não sob as trevas do filosofismo monstruoso praticado nas universidades. Por isso vou me deter num assunto que muito me interessa e creio, certamente, a você. Realçarei o conceito, e isso irá além de uma discussão em nível puramente teórico, de Espiritualismo. Detenhamo-nos em três dimensões teóricas, racionais e afetivas: Filosofia, Metafísica e Espiritualidade. Desde que o homem é homem, pelo menos desde em que foi alçado, e permita-me dizer, sob autorização de Deus, à condição de inteligência que o distingue, desde essa data o ser humano filosofa, imagina e crê, além de agir. Naturalmente que a evolução, e também nisso há a autorização de Deus, porque o evolucionismo, ao contrário do que apregoam espíritos científicos rasteiros, não nega o criacionismo, também a evolução, dizia eu, tem cumprido sua tarefa. E acrescente-se, no mais, o evolucionismo no plano espiritual, fator muito distante das análises biológicas consagradas. Muitas vezes, veja se o leitor não concorda comigo, ao homem falta objetividade para melhor seguir sua evolução como homem, ser racional, substância entre dois mundos, agente ético, ente criado. Evoluir não é fácil, e certamente Darwin e outros legaram à humanidade ensinamentos, sempre sob a autorização de Deus, sobre isso. Dizem os fatos, o bom senso e as proposições educacionais que aprendemos continuamente, sem cessar. Não sabemos tudo, embora conheçamos pessoas que pensam já saber tudo, a começar, diga-se de passagem, pelos filósofos de carreira, os doutos do saber. Porém, como somos pessoas sérias e honestas, nossas percepções são mais profundas, caro leitor. A Filosofia até hoje consagrada em livros e universidades, sob os cuidados e auspícios de alcoólatras da razão e drogados da epistemologia, traz consigo um histórico de infantilidades, monstruosidades e aberrações filosóficas das mais diversas, desde as homicidas às mais bizarras, passando pelas mais deturpadas, excludentes e manipuladoras. Muitas mistificações já foram consagradas e são louvadas sob o manto travestido da racionalidade. A Filosofia tem se revelado, e este é seu limite, tão-somente sinônimo de logicismo do intelecto e de intelectualismo. Assim, presta-se ela ao exibicionismo e à ociosidade de pessoas pouco espiritualizadas, ainda não suficientemente tocadas pela evolução espiritual. O intelectualismo, apesar de todo o pedantismo que o caracteriza, tem se afeito como uma mancha perispiritual na racionalidade vital e anímica dos indivíduos. Encontrar intelectuais céticos e materialistas não é exceção, porém regra. E perceba que mesmo alguém declaradamente cético é, sob algum nível, ser metafísico, e mesmo precariamente espiritualizado. Qualquer pensamento, por mais tosco, conduz ao abstrato e a alguma crença. Somos corpo e espírito e um perispírito a uni-los. Não há como, sob hipótese alguma, retalhar o ser humano em frações fora de seu elo de unidade. Mesmo assim, se abrirmos qualquer livro de História da Filosofia encontraremos as mais incríveis teorias, com inúmeras passagens dogmáticas e mal explicadas, aplaudidas por muitos, defendendo uma antropologia filosófica rasteira, falaciosa, não-fatível. E incorrer em falácias é prática, geralmente não declarada e supostamente superada por alguns filósofos megalomaníacos, autoconsagrados donos da Verdade, comum no universo intelectual da Filosofia. Por que isso ocorre? Por um motivo muito simples, 2 inclusive já presente no horizonte de nossos olhos e nos livros de História de Filosofia. Se atentarmos bem, no campo do conhecimento qualquer coisa é possível, mesmo para a austera ciência, tão ferrenha aos seus dogmas de lógica e comprovação. No fundo, cada um defende o que quiser e imputa uma Verdade Irrefutável qualquer, achandose inclusive no direito de recrutar adeptos à sua dantesca movimentação. E se atentarmos mais detidamente, constatamos que no campo da metafísica a assertiva vale muito mais. A razão, a linguagem e principalmente as conveniências humanas se prestam a qualquer tipo de construção filosófica e cada um julga, mesmo os que defendem uma posição relativista, possuir a Verdade. Quem conhece um pouco de Filosofia sabe que Kant defendeu que a razão se presta a especulações metafísicas, tratando-se de uma condição natural do ser humano. Que filósofos da linguagem dizem que esta se presta a qualquer tipo de construção mental, seja para erguer ou para destroçar qualquer argumento, ideia ou sistema. E sabe que David Hume, filósofo inspirador de filosofismos da linguagem, afirmou que as paixões e as conveniências humanas se prestam a deturpações filosóficas. Até aí, tudo bem. O problema é que o intelectual, no pedestal de sua megalomania e idolatria pelos filósofos A, B ou C, independente do credo bizarro a que se dedica, fica engessado e não segue adiante na vida e no trabalho que executa. Por outro lado, o espiritualista intui e sabe que se isso aconteceu na trajetória da Filosofia é porque Deus quis que fosse assim. Há um propósito. Há um caminho de pedras que se deve trilhar a fim de se chegar a um bom porto, segurança de conhecimento, ética, ciência e espiritualidade. Pressupostos filosóficos, pelo menos em tese, e quiçá porque a evolução e a autorização de Deus ainda não o permitiram, não podem ser comprovados pela experiência tal como se comprovam experimentos químicos numa pipeta de laboratório. Mas veja que o intelectual e o cientista acadêmico, por terem um lado demasiado evoluído, que é o da lógica racional (e tal atributo lhes é dado por Deus), esquecem, pelo menos a maior parte dos acadêmicos, que nem tudo o que não pode ser comprovado deixa de estar à disposição do homem para ser provado. Pense a respeito, caro leitor. Provamos Deus em nossas vidas a cada momento, a cada segundo. Permita-me um paralelo. O fato de eu não ver as milhares de estrelas durante um dia ensolarado nem sua inteligência, com a qual lês este texto, não 3 significa que ambas não existam. E assim ocorre com Deus, que nunca vemos mas sabemos e sentimos Sua Presença. De bom senso, diga honestamente: Você não sabe que é um ente criado? Será possível que todos nós, a natureza que nos rodeia e o Universo tenham sido criados por puro acaso, sendo mera hipótese como a de uma explosão ocorrida não sei quando? Quem promoveu a suposta explosão? Se Deus é justo, como podemos conceber que em uma única vida haja justiça? Se Deus é justo, e se criou a mim e a você, e sabendo nós da existência de milhões de sofredores e malvados pelo mundo, é justo que a reencarnação seja descartada como o processo infalível da pedagogia de Deus sobre os homens? Você já percebeu que quem combate a reencarnação se considera melhor do que outros? Que se considera mais sabido, mais ético e mais religioso? Você não crê que somente uma Inteligência Superior poderia ter-lhe criado e lhe dado a bondade de voltar nesta vida atual? Não sentes um sem-número de ideias e habilidades inatas em teu espírito? Não sabes que as mesmas vêm de outra vida? Não percebes que quem combate a reencarnação se acha mais privilegiado do que os outros? De igual forma, pensemos sobre a liberdade. Veja que provamos a liberdade em cada ato de pensar, em cada passo do agir, a cada congraçamento executado. E não provamos, alguns mais e outros menos, uma força tão certa e poderosa quanto a da gravidade, e tão 4 objetiva como esta, segundo a qual o destino se sobrepõe ao caos? E isto não se liga a uma ideia de que somos naturalmente livres e de que o futuro sempre cobra sua fatura? Já não te perguntastes a respeito? Já não sentiste esta força te coagindo na vida, te provando e purificando? As questões são muitas e profundas, e isso não significa que devemos ficar indefinidamente filosofando a respeito, sem rumo nem objetivos claros. Diz o senso comum que filosofar por filosofar é coisa de maluco, mas prefiro crer que quem filosofa por filosofar ainda não foi, sob a autorização de Deus, e segundo suas condições evolutivas de ser reencarnado, tocado para compreender a Verdade à altura de nosso e de todos os tempos. Da mesma forma que Deus nos coloca o desafio de desvendar o mistério da vida, de Sua Criação, Ele também nos dá a chave para o palácio do conhecimento, no qual contemplamos Sua Majestade. A Filosofia, cujo objeto é justamente o conhecimento e que, outrossim, deveria ser sinônimo de uma moral espiritualizada pura, deveria fazer-se mais honestamente esta pergunta: Como e o que podemos conhecer? Se pegarmos qualquer livro de História da Filosofia, vemos o seguinte. Empiristas convictos dizem que só podemos confiar nas comprovações da experiência, tudo sob a sacralização dos sentidos. Racionalistas afirmam que só podemos confiar em nossa razão e não descartam, invariavelmente, a comprovação dada pela experiência científica. Há ainda os que tentam o meio-campo entre o empirismo e o racionalismo, mas mesmo posições desta natureza redundaram em erro, tanto porque incorreram no louvor às ciências ou porque mergulharam em prisões conceituais perpétuas. Há ainda filósofos contemporâneos da linguagem, que de metafísicos são um zero à esquerda. Dizem eles que a Filosofia é um mero problema gramatical e semântico, questão de jogo de palavras e construção de linguagem. Mas percebam como são as coisas. Afinal, o que podemos saber e no que podemos confiar sem nos atermos à Filosofia e aos 5 livros de História da Filosofia? Veja que no campo do conhecimento qualquer coisa é possível. Já disse isso acima e afirmei que a própria História da Filosofia tem a resposta sob seus olhos. No campo do conhecimento, especialmente no campo da metafísica, qualquer coisa é possível porque não podemos confiar cegamente nem nos nossos sentidos, nem na nossa razão e nem na linguagem que usamos. Pergunto: Você já não traído por essas três coisas em algum momento de sua vida? Você já percebeu que pelos sentidos, pela razão ou pela linguagem é possível tanto crer como desacreditar em quaisquer questões metafísicas? Quantas teorias diferentes há num livro de História da Filosofia? Diante disso, por que a Filosofia tem se consagrado como uma investigação infrutífera e tem redundado em filosofismos acadêmicos intermináveis dando margem a suposições de ser um conhecimento inútil e estéril? Porque, evolutivamente falando, quem segue a Filosofia tem um lado intelectual avantajado em detrimento de menor metafísica e espiritualidade. Deus não deu a Verdade a ninguém de sua preferência, pois Sabe que todos um dia chegarão a um grau máximo de perfeição intelectual, moral e espiritual. Só nesse dia, e somente nesse dia, seremos gênios. E você diria que os filósofos são minoria no mundo. Sim, concordo. Mas de algum modo eles dão as Cartas da Verdade, mesmo discordando entre eles e concordando somente em seus abusos à metafísica e enforcamento da espiritualidade. Ou creem, sim, possuírem o Tabuleiro da Vida. Para eles próprios, com seus dados precários, é lógico. Mas felizmente adentramos numa altura histórica em que cada vez mais esses filosofismos acadêmicos estão se tornando insuportáveis. Porque tudo o que os filósofos defendem vai contra a espiritualidade hoje alcançada. Eles defendem o materialismo, o ceticismo, o ódio, a loucura, a ignorância disfarçada de ética e a falsa profundidade de ideias. Defendem os sofismas e a retórica fácil. Tudo se perde em tomos intelectualistas gigantescos, monstruosos, selvagens. Não sem razão que a metafísica dos filósofos atuais redunda numa metafísica dos chimpanzés, em que 6 o roubo de uma banana de seus comparsas vale risos intermináveis em palestras acadêmicas, em louvores agressivos entre boçais. Mas os homens e as mulheres sentem a pulsação da vida, trabalham, amam, criam, crescem, se espiritualizam, se educam, se fortalecem na provação, na moral, na reencarnação e na fenomenologia espírita. Aliás, coisa curiosa. Pegue qualquer livro de Filosofia até hoje consagrado e veja, faça-se esta indagação: Quantas páginas são dedicadas à aceitação da reencarnação e à certeza da influência do mundo espiritual sobre o mundo dos vivos? Meio parágrafo de um a cada mil livros, no máximo. Sim, os sabidos do mundo negam o que a maioria das pessoas não apenas creem, mas sabem por convicção lógica, racional, afetiva, ética, estética e metafísica. E isso não significa que a mediunidade, que é a capacidade de mediar o contato de espíritos desencarnados com os encarnados, seja a excelência do saber, a verdade absoluta do Universo. Como os sentidos, a razão e a lógica das palavras, as habilidades mediúnicas também podem nos enganar. Mas isso não significa, em absoluto, que a mediunidade seja um embuste como querem fazer crer materialistas e seguidores de religiões, de novo uso o termo, pouco evoluídas sob a autorização de Deus. É claro que os escritos de filósofos consagrados tiveram seu tempo, têm sua importância e eterna projeção. Porém Deus não deseja que tenhamos ídolos, fato, por exemplo, ditado pelos Evangelhos, a raiz eterna da árvore dos bons costumes. Nesse sentido, a razão pura da ética de Kant é a mais digna significação de uma moral elevada e faz, sob a autorização de Deus, a moral evangélica coincidir com a moral metafísica e a prática espírita. Aliás, Kant foi não apenas o maior filósofo moral de todos os tempos, mas também um dos maiores médiuns missionários e discretos de que se tem notícia. Naturalmente, tal fato não faz nem cócegas na mente encurtada de um intelectualista, alucinadamente agarrado às torres de seu castelo de areia. Kant encarnou-se como Immanuel Kant, tendo seu nome o significado de “Deus está no coração dos homens puros.” Enquanto Cristo foi o “ungido de Deus”, Kant foi o purificado. Quem quer que conheça as leis da espiritualidade sabe que o acaso é o que menos predomina neste mundo, que tudo segue uma lógica causal entre a liberdade humana e a vontade Deus. Em geral, a primeira fatalidade de uma vida é sempre o nome que seu protagonista carrega. 7 O mundo e sua natureza, o Universo, a vida e o privilégio de crescermos permanentemente estão aí à nossa inteira disposição. Deus não nos criou para contemplarmos a Criação, nem tampouco na expectativa de quando desencarnarmos contemplarmos Sua Paz, na imaginativa hipótese de passarmos a eternidade tocando harpa ou colhendo maçãs em jardins verdejantes. Além do mais, também não seremos lançados no fogo do inferno tal como a ignorância religiosa milenar tentou nos fazer acreditar, queimando espiritualistas em favor de intelectualistas, extirpando a humanidade em favor de conveniências filosóficas da brutalidade e do recalque de dirigentes religiosos. Cada um colhe, naturalmente, o que planta. O que é de cada um está guardado. E certamente muitos apanharão a colheita horrenda de suas ações no tempo do desencarne e em outra vida. O livro Nosso Lar, oriundo da psicografia abençoada de Chico Xavier, ditado por André Luiz, serve apenas como um exemplo de que tipo de destino muitos desencarnados experimentam na morada espiritual. Quem faz o mal e propaga o mal colherá o mal. Quem prejudica o próximo será prejudicado. O médium vaidoso e mercenário receberá o que merece. Quem foi um intelectual mistificador e mentiroso colherá o que lhe cabe, até o dia em que o filosófico seja subjugado pela forja de uma espiritualidade purificada. Cada vez mais o mundo material se funde no imaterial ao mesmo tempo em que a Filosofia acadêmica se desmoraliza, se dirige às celas do hospício solitário da vacuidade estéril. Gênio não é quem supostamente tudo compreende, mas quem metafisicamente sabe sua incapacidade e condição de ser criado. O abraço de Deus é muito maior, amoroso, acolhedor e generoso do que as garras da fenomenologia do espírito preconizada pelo filósofo Hegel, ídolo de muitos acadêmicos. Também Hegel deixou seu legado, mas não foi ele o fiscal designado por Deus para seccionar os homens. Deus não escolhe prediletos e, na hipótese de fazê-lo, evita publicidade. Hábito de Deus, isto sim, é o de fazer missionários. Certamente Hegel cumpriu sua missão como o cumpriram, por exemplo, os gregos, Santo Agostinho, Descartes, David Hume, Kant, Schopenhauer e José Ortega y Gasset. Estudar Filosofia é importante, mas mais fundamental é saber superá-la com argumentos, sem sofismas, falácias e retóricas egocêntricas, não nos deixando impressionar por filosofismos aparentemente 8 profundos, contrários à moral pura e à evolução da espiritualidade, como este logro chamado de pós-modernidade. Como espiritualistas, estamos destinados a entender a lógica de Deus no mundo. A humanidade é o leque divino dos destinos humanos. A cada novo século, estejas certo, o Espiritualismo sepultará mais a descrença. E quiçá a Paz Perpétua profetizada por Kant triunfe no âmago de cada indivíduo cumpridor de seu dever, no seio da humanidade espiritualizada. É imperativamente categórico, disse Kant, que sejamos metafisicamente puros, que façamos o bem sem saber a quem e não recebermos recompensa por isso. E você, como eu, que um dia irá feliz para um planeta mais avançado do que a Terra, liberto da opressão e da dor, poderá abençoar o que está escrito na lápide do decodificador da Doutrina Espírita, o missionário Allan Kardec: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei." Deus, muito obrigado. Seu criado, imortal, Daniel Aço. 9