AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE MÉRTOLA Escola EB 2,3/Secundária de S. Sebastião, Mértola Ano Lectivo 2011/2012 Disciplina de Psicologia B – 12º Ano – Turma A Ficha Formativa de Trabalho de Grupo Nº12 Docente: Rui Nunes Kemp Silva 11-4-2012 (quarta-feira) Tema 2 – Eu: 2.3. A Mente – Inteligência, Imaginação, Criatividade A. Objectivos da aprendizagem – no final deste tema os alunos devem ser capazes de: 1. Compreender a especificidade da mente humana 2. Analisar o conceito integrador de mente. 3. Compreender a interdependência entre os domínios cognitivo e emocional. B. Os principais conteúdos/conceitos-chave a trabalhar são os seguintes: Inteligência, Mente, Significado, Imaginação. C. Metodologia de trabalho: Leitura da informação que acompanha esta ficha. Posteriormente, a partir da leitura de outros manuais de Psicologia e de pesquisas na Internet, publicações de especialidade, ou de dicionários/enciclopédias, os alunos devem reunir informação que lhes permita elaborar as respostas para as questões relacionadas com a noção psicológica de mente e alcançar os objectivos da aprendizagem referidos em A. _________________________________________________________________________________ Questões/actividades 1. O conceito de inteligência pode definir-se como uma capacidade da mente para resolver problemas abstratos. Concorda com esta definição? Porquê? 2. «A inteligência emocional mostra como a mente estabelece uma ligação entre a cognição e as emoções». Esclareça o significado desta afirmação. 3. Identifique os principais factores que influenciam a inteligência. 4. Esclareça o conceito de Q.I. (Quociente intelectual) através de um exemplo da sua autoria. 5. O uso de testes de inteligência por parte dos psicólogos tem sido objeto de controvérsia. Esclareça duas críticas que se atribuem aos testes de inteligência. 6. O pensamento é um conceito com significado técnico na psicologia. Apresente a definição clara e rigorosa deste conceito. 7. «O pensamento divergente é mais importante que o pensamento convergente». Concorda com esta afirmação? Porquê? Que diferença existe entre estes dois tipos de pensamento? 8. Explique as principais características do pensamento criativo. 9. «A imaginação é uma capacidade mental humana que pode ser compreendida com uma dupla funcionalidade: reprodução e criação». Esclareça o significado desta afirmação. 10. «A mente humana é um conjunto de processos integrados que constrói significados acerca de nós e do mundo envolvente». Elabore uma composição sobre a complexidade da mente humana. (Cotação de 200 pontos: 10 itens x 20 pontos = 200 pontos) BOM TRABALHO! 1 INFORMAÇÃO I - Noção de inteligência Embora o conceito de inteligência não seja unívoco, há pelo menos três aspectos gerais que permitem qualificar o seu conceito: a inteligência é a capacidade para resolver problemas, fazer uso do pensamento abstrato e uma capacidade para aprender rapidamente e de forma versátil. A inteligência é a capacidade dinâmica que os seres humanos possuem para se adaptarem com eficácia e rapidez às novas circunstâncias do meio em que vivem, respondendo-lhes com soluções criativas, arriscadas e originais. A inteligência não pode ser vista apenas como uma realidade unitária, mas também como uma faculdade multifacetada em virtude da existência de várias competências ou capacidades que integram a sua composição e se manifestam no comportamento humano; destacam-se na composição da inteligência a capacidade de entender símbolos abstratos, conceitos e representações, a capacidade de aprender novas matérias e de aprender com a experiência, enfim, a capacidade de nos adaptarmos a novas situações e de resolver, em sentido lato, problemas, quer no domínio puramente teórico, quer no plano do quotidiano (social e emocional), quer ainda no plano prático. Saber se a inteligência depende apenas de um fator geral, ou se, pelo contrário, depende de múltiplos factores, é uma questão que tem dividido os psicólogos da área cognitiva. Há psicólogos que defendem a existência de uma única inteligência, que depende de um único factor global, outros defendem a existência de várias aptidões separadas mas que são multifactoriais, outros ainda defendem que não há uma só inteligência, mas um conjunto de inteligências múltiplas. Outro aspecto não menos importante na composição da inteligência é o domínio emocional e social (a inteligência emocional), isto é, compreender as emoções, as nossas e das outras pessoas, no momento oportuno, e responder-lhes adequadamente, revela que as nossas respostas emotivas e sociais são também manifestações de uma base emocional da inteligência humana que influencia nossa a capacidade de decisão e de acção. Este paradigma da inteligência é bastante recente nas investigações encetadas em Psicologia. II - Factores de inteligência Os principais fatores que potenciam e desenvolvem, ou inibem e bloqueiam o desenvolvimento intelectual são fundamentalmente três: (1) Hereditariedade; (2) meio social e cultural; (3) expetativas. A hereditariedade refere-se à herança genética, à componente biológica, que constitui um potencial para o desenvolvimento intelectual, está ligado ao processo de maturação fisiológica, em particular, do sistema nervoso. O genótipo, o conjunto de informação genética que um indivíduo herda dos pais, representa uma condição para a inteligência se desenvolver normalmente. Está por provar se há uma relação determinista entre genes e Q.I.; tudo parece indicar, em termos científicos, que não há uma relação determinista e que os fatores sociais e culturais são, de longe, mais importantes para um desenvolvimento equilibrado das capacidades intelectuais. Assim, um meio familiar estimulante, um meio social que seja economicamente vantajoso e onde o acesso à informação, educação e cultura não têm obstáculos, constituem fatores positivos para o desenvolvimento da inteligência. O potencial hereditário pode ser (ou não) desenvolvido por circunstâncias favoráveis dos contextos sociais e culturais. Quanto às expetativas, relacionam-se com os outros e com a própria pessoa, podem ser positivas ou negativas e influenciam a inteligência. O que os outros – sobretudo os pais, professores, grupo de pares e amigos – esperam de uma pessoa influencia a capacidade de ser inteligente: se as expectativas são positivas, estimulam as capacidades intelectuais; se são negativas, bloqueiam o desenvolvimento da inteligência. O “efeito de Pigmalião” afecta a confiança que uma pessoa pode ter acerca das suas reais capacidades, uma pessoa pode adoptar comportamentos (que correspondem a expetativas dos outros acerca de nós) de baixa auto-estima e fazer uma imagem negativa de si própria. Este efeito mostra até que ponto as expetativas, quer nossas, quer dos outros, afectam e influenciam o desenvolvimento da inteligência. 2 III - Principais críticas à aplicação dos testes de inteligência Os testes psicológicos (de QI ou de personalidade) são uma situação experimental que serve de estímulo para um determinado comportamento. De facto, os testes garantiram maior objectividade às investigações em psicologia, ainda que limitada a um nível de probabilidade na predição e medição quantitativa dos fenómenos do comportamento. No entanto, de um ponto de vista crítico, os testes apresentam dificuldades na sua aplicação: são demasiado estáticos no sentido em que privilegiam os resultados e não o processo dinâmico que conduz os sujeitos a responder, portanto, os testes mostram e, ao mesmo tempo, ocultam. Por outro lado, a vulgarização dos testes mal elaborados, em jornais, revistas e noticiários de televisão, tem contribuído para o seu descrédito e ceticismo junto da opinião pública; uma outra crítica que se pode fazer em relação à aplicação dos testes está ligada à sua isenção social, política e cultural: os testes de inteligência estão padronizados para a classe média de raça branca; quando se aplicam estes testes a pessoas de grupos culturais com diferentes valores, costumes e educação, os resultados obtidos por estes grupos ficam abaixo da média padronizada, o que é óbvio dada a prévia situação de desvantagem. Em última instância, a aplicação dos testes em contexto artificial, o “stress” ou nervosismo que a sua realização causa nas pessoas, o facto de o teste medir apenas uma situação específica, um aspecto parcelar da inteligência, reduz em grande parte o seu alcance na investigação psicológica. Outro caso que constitui ponto de crítica ao uso dos testes diz respeito à margem de subjetividade da sua interpretação, em particular, nos testes projetivos ou de personalidade. Ainda podemos referir o facto de uma medida, um número, servir de estigma ou meio de rotular negativamente as pessoas que obtiveram resultados abaixo da média normal num dado teste. Em síntese, o uso dos testes em psicologia implica limitações devido (1) à medição parcelar de aspectos da inteligência, (2) aplicação adequada apenas à população para a qual foram padronizados, (3) artificialismo da situação de teste e (4) utilização ambígua ou perversa dos resultados. IV - Distinção entre pensamento convergente e pensamento divergente. O pensamento convergente e o pensamento divergente são conceitos formulados pelo psicólogo Guilford e referem-se ao modo de operar da inteligência perante situações de resolução de problemas. O pensamento convergente significa que uma pessoa, perante um problema, explora uma resposta ou solução única, a resposta que parece mais lógica, que está de acordo com a rigidez das normas, com um esquema mental fixo. É um pensamento dominado pela lógica e objectividade, pela racionalidade e paixão do rigor, do conformismo. Um problema, uma solução única. O pensamento divergente é um tipo de pensamento sinónimo de criatividade, intuição e originalidade: perante um problema, uma pessoa tende a explorar diversas hipóteses ou soluções usando a imaginação: é um pensamento criador, mais flexível e versátil, inovador; procura, por aproximações sucessivas, experimentalmente, ensaiar várias tentativas de solução, diversas opções, para resolver um problema. Um problema, várias soluções possíveis. Estes dois modos de pensamento não são radicalmente opostos, antes pelo contrário, são complementares, interagem entre si na resolução de problemas. Embora existam pessoas que são tendencialmente convergentes, isso não significa que não possuam um pensamento divergente, ou que sejam rotuladas como inferiores de um ponto de vista das suas capacidades mentais. V - Características do pensamento criativo. A criatividade é a característica essencial do pensamento divergente, do pensamento criador, manifestase na resolução inovadora e arriscada de um problema concreto do quotidiano e na produção estética (artística), científica, política, etc.. Existem três características essenciais do pensamento criador ou da criatividade: (1) a fluidez (de palavras e ideias), (2) a flexibilidade e a (3) originalidade. 3 A fluidez refere-se à facilidade de expressão e à mobilidade de ideias; a articulação entre diversas ideias ou conceitos diferentes e o uso de muitos sinónimos traduzem a grande mobilidade do pensamento criador. A flexibilidade diz respeito à capacidade de uma pessoa poder mudar rapidamente de estratégias para resolver um problema, é a mudança de ponto de vista perante o risco de cometer erros e continuar, de modo persistente, em busca de novas soluções. É a versatilidade própria da dinâmica do pensamento criador. A originalidade é a produção de algo novo, inédito, traduz-se na descoberta de novas, múltiplas e diferentes soluções, novas formas e expressões. VI – A Imaginação Se há um aspecto notável na espécie humana é a sua capacidade de se reinventar constantemente, de tal modo que nenhuma geração se limita a repetir os mesmos gestos, hábitos, comportamentos, conhecimentos e valores, enfim, o modo de vida próprio dos seus antecessores. Cada geração encaminha-se de modo vigoroso para o futuro, para a ruptura dos limites, pois há uma força que nos impulsiona para desbravar novos mundos, penetrar no desconhecido, correr riscos, aventurar-se no jogo, experimentar, criar novos desafios e metas mais ambiciosas, desenhar projectos arrojados e obter vitória e reconhecimento. A mente humana implica sonho, antevisão, pressentimento, invenção, projecto, numa única palavra, imaginação. Os psicólogos sempre se interessaram pelo poder sedutor da imaginação enquanto capacidade gerar coisas novas, mundos repletos de significados originais. Neste sentido, estabeleceram uma distinção clássica no que diz respeito à função da imaginação: esta é entendida como capacidade mental reprodutora ou como capacidade criadora. A imaginação reprodutora refere-se ao poder mental para evocar imagens provenientes de percepções anteriores e de proceder à sua reestruturação, conferindo-lhes uma forma original de modo a produzir novos padrões, afastados dos dados sensoriais. Quer dizer, tendo como ponto de partida as imagens perceptivas, a imaginação reprodutora é capaz de recombinações inéditas, de modo a que o resultado seja uma estrutura nova, pouco tendo a ver com o que se percepcionou. A imaginação criadora é a capacidade mental que consiste em lidar e estabelecer combinações de elementos que nunca foram percepcionados. Neste sentido, a imaginação é sinónimo de fantasia, ficção, capacidade de colocar algo completamente afastado da percepção e da realidade vulgar quotidiana por nós experimentada. A imaginação é um poder criador que se torna invenção, descolagem, originalidade, colocação de novos mundos, antevisão do futuro. Se na imaginação reprodutora ainda é possível reconhecer algumas analogias com os objectos percepcionados, na imaginação criadora, a analogia é de natureza diferente, podendo estabelecer-se através de um símbolo, de uma metáfora, de um esquema, de um signo, de realidades substitutas (representações), que raramente correspondem às coisas percebidas na realidade quotidiana. Assim, o que há de comum entre a pátria e o seu símbolo, uma bandeira? E que têm a ver os jovens com a metáfora da Primavera? Os esquemas apresentados por uma carta topográfica serão semelhantes à natureza dos acidentes do terreno que representam? E qual a semelhança entre a paragem obrigatória e o signo “sinal vermelho”? A imaginação é a marca da diferença da espécie humana, aliada à racionalidade e às emoções, capacita a mente para agir sobre o próprio sujeito e o mundo envolvente. A imaginação é a aptidão mental para formar e activar imagens mentais na ausência de qualquer modelo percebido – neste sentido inicial, confunde-se com a capacidade de evocação ligada à memória. Num segundo sentido, a imaginação designa a capacidade de combinar imagens em quadros ou sucessões. A imaginação reprodutora é a capacidade de reorganizar, sob uma nova forma, traços mnésicos relativos a acontecimentos resolvidos, já vividos pelo sujeito psicológico. A imaginação criadora consiste numa evocação de acontecimentos potenciais (possíveis), mas que nunca foram percebidos pelo sujeito. Considerando estas duas dimensões da imaginação, o mundo em que vivemos será uma pura construção mental? 4 Correcção da Ficha de Trabalho de Grupo 12 – Psicologia B – 12ºA Apresentam-se alguns dos tópicos de resposta. 1. Não é possível concordar com a definição de inteligência enquanto capacidade da mente para resolver problemas abstractos. A definição é pouco inclusiva, demasiado restrita, insuficiente ou limitada. O conceito de inteligência abarca mais competências para além da resolução de problemas abstractos. Os psicólogos não estão de acordo quanto a uma teoria global da inteligência humana. A definição do conceito de inteligência é relativo a uma teoria psicológica particular. Note-se no desenvolvimento actual que é conferido à dimensão emocional do comportamento inteligente. Há alguns aspectos gerais que podem ser referidos para uma definição incompleta do que é a inteligência. 2. Apresenta-se a definição da autoria de Daniel Goleman sobre o conceito de IE. É possível responder à questão referindo a proposta de António Damásio que destaca o papel das emoções no processo de decisão: a hipótese do marcador somático e o seu significado. Os casos clínicos de Elliot e de Phineas Gage como uma fonte de evidências acerca dos efeitos cognitivos provocados por défices emocionais. 3. Referir os principais factores de inteligência: a hereditariedade e a idade, a influência do meio sociocultural, as expectativas (pode-se referir aqui o «efeito de Pigmalião») e a motivação. 4. O conceito de QI expressa uma relação entre a IM e a IC cujo produto final é multiplicado por 100 (que é o valor considerado como média normal da inteligência). Se a IM, aferida pela aplicação de um conjunto de testes psicométricos, for superior à IC, a idade real, então, o QI será sempre superior à média. O inverso mostra que há um défice cognitivo. É muito discutível que a inteligência seja captada por uma fórmula tão abstracta como o QI. 5. Entre as várias críticas aos testes psicológicos, em particular, aos que pretendem medir a inteligência, destacam-se: (a) a tentativa de manipular ideologicamente os resultados e de promover atitudes de discriminação; (b) o facto de os testes serem demasiado estáticos - ao colocar a ênfase nos resultados, o processo psíquico, o dinamismo das operações mentais, não é apreendido. Ora, é este dinamismo intelectual que interessava investigar e determinar por parte dos psicólogos, e é isto que os testes deixam de lado. 6. A noção de pensamento envolve uma sequência de operações mentais, de inferências, raciocínios, de estratégias cognitivas, que têm por alvo resolver um problema ou executar uma dada tarefa, quer seja um problema abstracto, quer seja um problema concreto. 7. Não é possível concordar com a afirmação: os dois aspectos do pensamento são complementares entre si: o pensamento convergente está orientado para a procura de respostas únicas, lógicas e objectivas, subordinadas a regras rígidas, inflexíveis, e que expressa um tipo de pensamento rigoroso, disciplinado, assente em rotinas. O pensamento convergente está relacionado com a memória e com a aprendizagem – é um pensamento dedutivo e analítico, a base das aprendizagens escolares. O pensamento divergente, por seu lado, revela uma pessoa capaz de proceder a uma exploração mental de várias soluções para um dado problema, procura a criatividade, a originalidade, o uso da imaginação criadora e uma grande flexibilidade intelectual e sensibilidade. Daí a diferença entre estes tipos de pensamento, a diferença entre lógica e imaginação, rigor e criatividade. Todavia, a criatividade não surge do nada, não é um talento caído do céu ou que deva a sua existência apenas uma combinatória casual da hereditariedade individual: o pensamento criativo precisa de se apoiar no pensamento convergente: uma pessoa pode ter imensas ideias novas, originais, mas ser incapaz de seleccionar as melhores ou de aplicá-las (concretizá-las na prática). Há pessoas que podem ser mais ou menos divergentes, mas os dois tipos de pensamento coexistem e complementam-se entre si. 8. O pensamento criativo possui como características a fluidez, a flexibilidade e a originalidade. 5 9. A imaginação reprodutora está ligada à memória e consiste fundamentalmente na capacidade cognitiva de evocar informação existente, derivada de percepções anteriores, com o objectivo de criar novas formas, novos padrões, através de recombinações inéditas das formas originais. A imaginação criadora consiste em estabelecer combinações de elementos, de formas, que nunca foram percepcionados, ou experimentados, pelo sujeito cognitivo: o produto imaginário deste poder criativo é a ficção, o mundo da fantasia, do irreal, a geração de novos mundos e a invenção do próprio futuro. 10. A mente humana é complexa devido aos processos psicológicos integrados e interdependentes que a constituem, dando origem a respostas comportamentais diversas e individualizadas. Os nossos comportamentos são complexos em função da actividade mental que lhes dá origem: pensar, imaginar, sentir, querer, desejar, amar, experimentar emoções, estar motivado para realizar objectivos, memorizar e aprender, em suma, construir cada um o seu projecto de vida pessoal e definir a sua identidade pessoal, são todos os aspectos que fazem parte da nossa vida mental. A mente humana é uma unidade de processos cognitivos, emocionais e motivacionais (conativos). A mente humana é o lugar da totalidade da actividade psíquica. É um sistema integrado e integrador de processos dinâmicos que, em interacção, se organizam e auto-organizam de forma complexa. A mente não é, por conseguinte, um mero conjunto de componentes ou de estados independentes. Cada processo tem uma importância vital na operacionalidade de outros processos, afectando-os e sendo afectado por eles. Isto é particularmente notório nos défices emocionais e o seu impacto na vida mental e pessoal de cada indivíduo. A análise de casos clínicos como o de Elliot (investigado e relatado pelo neurocientista António Damásio) permitem-nos concluir que a ruptura, ou colapso, de um dos aspectos da mente, ou a dissociação entre componentes e processos, não afecta apenas uma parcela circunscrita, mas a sua unidade psíquica e integrativa. Os processos cognitivos, emocionais e conativos são interdependentes – a dissociação entre cognição e emoção compromete a capacidade de planear o futuro. Existe assim uma estreita interacção entre mente, cérebro e comportamento. O conceito de mente remete-nos para a relação de reciprocidade que esta mantém com o comportamento (manifestação observável dos processos mentais), por um lado, e com o seu suporte material (mecanismos neuronais), por outro. Mente, cérebro, e comportamento constitui um triângulo de componentes interdependentes e relacionadas (funcional e estruturalmente). A integração harmoniosa dos diferentes processos mentais é um todo funcional e único que nos permite conhecer, sentir e agir sobre o mundo em que se desenrola e se constrói a nossa existência pessoal. A capacidade de antecipar o futuro, de planear, formular cenários e prever resultados, diz respeito à dimensão consciente da mente, e é uma capacidade exclusivamente humana, inseparável da imaginação, da emotividade e da intencionalidade da vida psíquica. Na mente humana, a imaginação assume um papel relevante na forma como construímos o nosso mundo próprio. Imaginar, isto é, produzir imagens mentais, depende da capacidade simbólica e está associado a processos cognitivos, emocionais e conativos. Imaginação reprodutora e criadora conjugam-se na nossa capacidade de atribuir significados e de planear, decidir e prever o futuro. Pensamento e acção criam o sentido que atribuímos ao mundo envolvente e à nossa própria existência, contribuindo em permanência para a construção da identidade pessoal. A identidade pessoal é o produto, sempre em aberto, da auto-organização que cada indivíduo faz da sua história biológica e relacional. A mente é, em última análise, o lugar do nosso «eu», é o lugar da personalidade e é aquilo que assegura a unidade, a singularidade e continuidade de cada sujeito psicológico como pessoa. 6