DETERMINAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE CONVERSÃO ENERGÉTICA DO SISTEMA DE PROPULSÃO DE UM VEÍCULO A PARTIR DE TESTES DE ESTRADA Manuel Gameiro da Silva1, Mohammadhossein Ghodsirad1, João Teixeira1, Luis Serrano1,2,Ana Cristina Campos3, Paulo Breda3 (1) ADAI, LAETA Department of Mechanical Engineering, University of Coimbra, School of Technology and Management – Polytechnic Institute of Leiria, Leiria (2) (3) Galp Energia, Lisboa, Portugal Sumário A determinação da eficiência de conversão de energia do sistema de propulsão de um veículo pode ser baseada em testes de estrada em condições reais de operação; em ensaios em banco de rolos ou em ensaios de motores em bancos dinamométricos. Neste artigo, é descrita uma metodologia desenvolvida para permitir a medição do desempenho de conversão de energia do sistema de propulsão de um veículo, através da utilização conjunta dos dados recolhidos em ensaios de estrada e de um modelo de simulação que calcula as várias componentes do balanço de forças durante o movimento. Palavras-chave: Eficiência de Conversão Energética/ Ensaios em Estrada / Medição de Consumo. 1 INTRODUÇÃO A determinação da eficiência de conversão energética do sistema de propulsão de um veículo pode ser baseada em testes de estrada em condições reais de operação; em ensaios em banco de rolos em que o veículo é submetido a um dado ciclo de carga; e, finalmente, em ensaios de motores em bancos dinamométricos, em que o objeto de teste é o próprio motor, sendo as condições de ensaio definidas a partir de uma sequência de passos impostos pelas condições de operação de um freio. Apesar de ser o método em que as condições reais de utilização são reproduzidas com maior facilidade, os testes de estrada, devido à maior incerteza que lhe está associada, têm sido muitas vezes substituídos em testes padronizados ou em processos de investigação pelas duas outras metodologias. Assim, há alguma escassez, na literatura científica recente [1], [2], de trabalhos sobre a análise de energia com base no uso de testes de estrada realizados com veículos movidos a motores de combustão interna. No entanto, o potencial dos atuais sistemas de medição e aquisição de dados, que permitem a monitorização simultânea de um grande número de parâmetros com elevada resolução temporal, pode melhorar claramente a qualidade de avaliações realizadas a partir de ensaios de estrada. Usando os dados medidos do consumo de combustível e das principais grandezas relacionadas com o deslocamento do veículo, é possível fazer a correções das influências dos principais fatores perturbadores e melhorar claramente a qualidade das avaliações. Assim, a taxa de consumo de combustível pode ser continuamente medida e registada durante o deslocamento do veículo, enquanto que, com os dados da trajetória, a energia necessária para assegurar o deslocamento pode ser calculada com um modelo de simulação. Integrando ao longo do tempo os valores da potência média em cada intervalo de tempo, é calculada a energia total necessária para assegurar o deslocamento do veículo, enquanto que integrando simultaneamente a taxa de combustível ao longo do tempo de duração da viagem, o consumo total de combustível é calculado. O quociente entre a energia teoricamente necessária e a energia efetivamente gasta dá a eficiência de conversão do sistema de propulsão do veículo. No presente artigo, a metodologia anteriormente descrita foi aplicada, sendo complementarmente utilizado um esquema de correção do efeito perturbador do vento atmosférico. 1 2 METODOLOGIA O consumo de combustível num motor é, em cada momento, função dos dois parâmetros utilizados para definir a sua situação de funcionamento, i.e. a velocidade de rotação e o binário resistente que o mesmo tem de vencer. No caso em que o motor está montado num veículo a circular em estrada, o binário resistente é aplicado ao veio do motor através do sistema de transmissão e resulta da força que as rodas propulsoras transmitem ao solo para garantir o movimento, que é dada pela seguinte equação: Fmot Rrol Raerod Finerc Fgrav [1] na qual Fmot é a força motriz, Rrol representa a resistência de rolamento, Raero a resistência aerodinâmica, Finerc as forças inerciais (que correspondem a uma resistência nos momentos de aceleração e que ajudam a garantir o movimento nos momentos de desaceleração) e Fgrav as forças gravitacionais que representam uma resistência ao avanço nas subidas e ajudam ao movimento nas descidas. Na equação seguinte cada um dos termos do segundo membro da equação anterior é substituído pela sua expressão analítica: Fmot M g cos ( K 0 K1v gr ) 2 1 2 C x A vair M a M g sin 2 [2] em que: M – A massa do veículo [kg] – O ângulo de declive da estrada [º] K0 – O coeficiente de atrito estático K1 – O coeficiente de atrito dinâmico vgr – A velocidade do veículo em relação ao solo [m/s] Cx – O coeficiente de resistência aerodinâmica – A massa específica do ar [kg/m3] A – A área frontal do veículo [m2] vair – A velocidade do veículo em relação ao ar [m/s] a – A aceleração do veículo [m/s2] A partir dos termos do segundo membro da equação anterior é possível calcular, em cada instante, com base nas informações recolhidas por um sistema de monitorização que forneça os dados correspondentes ao deslocamento do veículo em estrada e de alguns dados relativos ao veículo de testes (massa total, coeficiente de resistência aerodinâmica, área frontal e coeficientes de atrito dos pneus), as várias componentes de força que somadas permitem obter a força motriz total exercida em cada momento pelas rodas do veículo. A massa total do veículo, o coeficiente de resistência aerodinâmica e a área frontal do veículo estão disponíveis a partir de informação comunicada pelos fabricantes, quer nos catálogos, quer em outras informações técnicas disponíveis. Os coeficientes de atrito K0 e K1 podem ser obtidos a partir das informações técnicas de fabricantes de pneumáticos ou, em alternativa, determinados a partir de ensaios de desaceleração feitos em troços de estrada retos e de inclinação praticamente nula, desde que sejam conhecidos os valores da massa do veículo, da sua área frontal e do coeficiente de resistência aerodinâmica. Como referido anteriormente, a soma dos valores do segundo membro da equação 2, permite obter os valores da força motriz que em cada momento seria precisa para manter o veículo em movimento. Se, para um dado intervalo de tempo, correspondente ao percurso de um dado troço de estrada, multiplicarmos essa força pelo deslocamento, teremos a energia que seria necessária para assegurar o movimento do veículo. Por outro lado, se o consumo de combustível do veículo for monitorizado através de um sistema de medição e aquisição de dados 2 que permita uma elevada frequência de amostragem temporal (tipicamente da ordem de 1 a 10 Hz), será possível, uma vez multiplicado o volume de combustível num dado intervalo de tempo pelo seu poder calorífico inferior, ter a evolução temporal da quantidade de energia efetivamente gasta para assegurar o deslocamento do veículo. A eficiência de conversão energética do sistema constituído pelo motor e pela transmissão do veículo é assim obtida a partir do quociente entre a energia teórica necessária para assegurar o movimento e a energia efetivamente despendida. 3 MONTAGEM EXPERIMENTAL O sistema de medição e aquisição de dados projetado e posteriormente montado a bordo do veículo foi concebido com o objetivo de permitir a amostragem com uma elevada frequência dos valores do consumo de combustível, bem como de todos os outros parâmetros que podem afetar essa grandeza. Assim, considerou-se fundamental recolher: - Os dados necessários para a completa definição dos trajetos percorridos, para o que é necessária a evolução temporal dos valores das coordenadas geográficas (latitude, longitude e altitude) e da velocidade de deslocamento do veículo; - As informações disponíveis na unidade de processamento central do motor do veículo, comummente designada como centralina, sobre o funcionamento do mesmo; - Os dados necessários para avaliar a perturbação induzida nas necessidades de potência do veículo pela ocorrência de vento durante o trajeto. O sistema montado encontra-se representado esquematicamente na Figura 1. Pode-se considerar dividido em dois blocos, conforme o equipamento de registo usado para a gravação dos dados. P1 E: GPS Antenna Can Bus (Fuel Rate Data) G: Vbox GPS Data Logger C: OBD 2 Plug P0 F: Kystler On-Board Fuel Consumption Meter B: Pressure Transducers P din P1-P2 D: Dash Dyno Data Logger P2 A: Pressure Taps Fig.1. Representação esquemática do sistema de medição montado no veículo O Bloco 1 é constituído pelos equipamentos referenciados no esquema como: 3 - A: conjunto de tomadas de pressão P0, P1 e P2; - B: transdutores elétricos piezoresistivos de pressão Omega, com uma gama de medição de ±2000 Pa;- C: ficha OBD 2 (“On-Board Diagnostics”); - D:Registador de dados Auterra Dash-Dyno. Na figura 2 apresenta-se uma representação mais detalhada dos vários componentes que constituem o Bloco 1 do sistema de medição instalado no veículo. Na tabela 1 apresenta-se a lista de parâmetros selecionados para serem registados durante os ensaios de estrada no registador do Bloco 1. D: Dash-Dyno DataLogger A: Pressure Taps B: Piezoresistive Pressure Sensors C : OBD II Plug Fig.2. Representação dos componentes do Bloco 1 do sistema de medição montado no veículo Tabela 1 – Lista dos parâmetros registados no Dash Dyno Data Logger 4 Canal Parâmetro Canal Parâmetro 1 Posição de acelerador 9 Temperatura de ar de admissão 2 Carga Calculada 10 Temperatura de fluido de refrigeração 3 Entrada Analógica 2 - Pdinâmica 11 Pressão na linha de combustível 4 Fluxo de combustível - Analógico 12 Pressão de ar de admissão 5 Fluxo de ar de admissão MAP 13 Pressão no coletor de admissão 6 Fluxo de ar de admissão MAF 14 Velocidade de rotação do motor RPM 7 Entrada Analógica 3 - Pdif 15 Velocidade do veículo 8 Pressão do turbo-compressor 16 Fluxo de combustível (calculado) A Figura 3 representa os equipamentos e as ligações do Bloco 2, com mais detalhes. A antena GPS está ligada ao sistema de aquisição da unidade de processamento de dados através de um cabo elétrico que transmite sinais analógicos em tensão, enquanto o sistema de medição do combustível usa um cabo multi-fios que transmite um sinal digital codificado de acordo com o protocolo de comunicação CAN-Bus correspondente ao consumo de combustível medido durante um determinado intervalo de tempo (0,1 segundo). O sistema Kistler-Datron DFL 3 x 5 bar é utilizado para a medição consumo de combustível do motor do veículo em tempo real. O princípio de funcionamento é baseado numa bomba de deslocamento positivo. Quatro pistões são utilizados para manter constante o nível de líquido num reservatório intermédio que é interposto no circuito de alimentação de combustível. O consumo instantâneo de combustível é determinado a partir da velocidade de rotação da bomba de deslocamento positivo, a partir da frequência de uma série de impulsos gerados por sensores de efeito de Hall. A resolução volumétrica do sistema é 0,033 ml / impulso, que corresponde a uma resolução de 1,19 l / h, no caso de o período de integração de 0,1 s. O sistema foi instalado no compartimento de bagagem do veículo (ver Figura 3), dado este foi considerado o local mais racional para não ocupar espaço na cabine e pela facilidade de acesso ao circuito do combustível, uma vez que a bomba do circuito normal está colocada sob o assento traseiro direito. Dado que o equipamento de medição do consumo de combustível não tem capacidade para armazenar as informações, foi decidido comunicar a mesma através da interface CAN-Bus disponível na sua unidade de processamento ao sistema de registro de dados GPS (VB2SX10 Racelogic), que regista também os dados da trajetória do veículo, após o processamento do sinal de GPS adquirido com uma frequência de 10 Hz. Os dados de GPS consistem na informação sobre o instante temporal, as coordenadas geográficas (latitude, longitude e altitude) e a velocidade de deslocação do veículo. . Fig. 3 – Representação dos equipamentos do Bloco 2 do sistema de aquisição de dados montado no veículo 4 RESULTADOS Após a verificação da qualidade metrológica dos dados recolhidos pelos sistemas utilizados para medir a velocidade de deslocamento do veículo e o consumo de combustível, foi realizado um conjunto de testes de estrada para comparar formulações diferentes de combustíveis. Foram selecionados dois trajetos diferentes de viagem com o objetivo de assegurar uma boa diversidade de condições em termos da gama dos valores de carga do motor. Para reduzir o número de fatores de perturbação, as viagens foram feitas a uma velocidade constante de 120 km/h, com o sistema de controlo automático de velocidade ativado e a caixa de velocidades na sexta relação. Um dos ensaios foi realizado nas autoestradas A1, A25 e A62 entre Coimbra e Salamanca. O percurso é mostrado na Figura 4, onde os dados recolhidos pelo gravador GPS Racelogic VB2SX10 são representados na plataforma Google Earth. Além de rota (linha vermelha) do ensaio, que corresponde à evolução dos dados de latitude e longitude, o perfil de altitude medido pelo sistema ao longo do trajeto está também representado. O ponto de partida na cidade de Coimbra corresponde ao lado esquerdo do perfil de altitude no gráfico, enquanto a altitude máxima de 842 m corresponde ao distrito de Salamanca, no lado direito do perfil de altitude. 5 Fig. 4 – Rota e perfil de altitude de um ensaio de estrada realizado entre Coimbra e Salamanca Fig 5 – Evoluções temporais das velocidades do veículo em relação ao solo e em relação ao ar Na Figura 5 representa-se a velocidade de deslocamento medida pelo sistema GPS e a velocidade relativa entre o veículo e o ar calculada a partir dos valores da pressão dinâmica medida na frente do veículo. Desde o início da contagem, até cerca de 10 minutos, os desenvolvimentos de velocidade correspondem ao caminho do veículo a partir do interior da cidade de Coimbra para a portagem de Coimbra Norte- na autoestrada A1. Do minuto 10 ao 40, uma velocidade nominal constante de 120 km/h é mantida na rota até a saída da A1 para a A25, altura em que a direção do deslocamento na figura 4 se altera de Norte-Sul para Oeste-Este. 6 A velocidade constante de 120 km/h foi mantida até ao minuto 77, onde a diminuição observada se deveu à existência de uma zona com radar, onde a velocidade máxima de circulação permitida é de 80 km / h. A partir do minuto 77 até ao 130, manteve-se uma velocidade estabilizada de 120 km/h, tendo ocorrido uma perda de sinal GPS por volta do minuto 117. A alteração de velocidade entre os 125 e 130 minutos, deveu-se à zona de fronteira entre Portugal e Espanha. Entre os 132 e 187 minutos, a velocidade constante de 120 km/h foi mantida até à saída de autoestrada para Salamanca. Analisando em conjunto as evoluções temporais das duas velocidades indicadas na figura 5, é possível concluir que, na maior parte do tempo, o deslocamento foi feito com vento de cauda, uma vez que a velocidade relativamente ao ar é consistentemente mais baixa do que a velocidade do carro relativamente ao solo. Tipicamente, a velocidade relativamente ao ar foi cerca de 10 km/h menor do que a velocidade relativamente ao solo. Na figura 6, são mostradas as evoluções temporais das quatro componentes de força associadas ao deslocamento do veículo. As evoluções apresentadas foram calculadas usando os termos incluídos no segundo membro da equação 2 e os dados recolhidos pelo sistema de aquisição de dados instalado no veículo. Os valores são apresentados em pontos separados por intervalos de 10 segundos. Assumiu-se que o trajeto entre dois pontos consecutivos foi linear e com declive constante. O valor de deslocamento foi calculado multiplicando a velocidade média entre dois pontos consecutivos pela duração do intervalo de tempo, enquanto o ângulo de inclinação foi determinado como o arco cuja seno é o quociente entre diferença de altitudes entre dois pontos consecutivos e o deslocamento linear entre os mesmos. Para o cálculo da resistência aerodinâmica, foram usados os valores de catálogo do fabricante Cd = 0,29, para o coeficiente de resistência aerodinâmica, e a área frontal projetada A = 2,23 m2. A massa do carro nas condições de ensaios foi medida tendo sido obtido um valor de 1720 kg. Os coeficientes de atrito K0 e K1 usados no cálculo da resistência foram determinados através do processamento de dados de ensaios de desaceleração. Fig. 6 – Evoluções temporais das quatro componentes de força durante o ensaio de estrada Na figura 6, a resistência aerodinâmica, representada pela linha a traço cheio cinzento claro, varia entre 250 e 440 N, enquanto a resistência de rolamento, representada pela linha preta tracejada é bastante constante, tipicamente de 175 N, ao longo de todo o curso, uma vez que a velocidade é constante e o efeito das alterações de inclinação é muito fraca na resistência ao rolamento. As forças de inércia, representadas por uma linha preta a traço cheio, apresentaram valores absolutos muito baixos, oscilando em torno de zero, sendo as flutuações devidas às respostas do sistema de controlo da velocidade de cruzeiro em função das mudanças da carga do motor. A linha a tracejado cinzento claro representa a evolução das forças gravitacionais que tiveram alterações 7 muito fortes, com a sua amplitude variando tipicamente entre -1400 e 1400 N, devido aos efeitos da inclinação da estrada durante a viagem. A evolução da soma das quatro componentes da força é representada na figura 7, juntamente com a evolução do consumo de combustível em litros/100 km. O nível médio da força total, que é cerca de 590 N, é principalmente garantido pela soma das resistências aerodinâmicas e de rolamento, enquanto as suas variações são devidas principalmente a alterações na força gravitacional, com um efeito quase negligenciável das variações da força de inércia. O valor máximo da força total 1923 N ocorreu cerca do minuto 47 quando o veículo estava a subir uma das zonas de maior declive, correspondendo a uma potência máxima de tração de 64,1 kW nas rodas de carro. Fig. 7 – Evoluções temporais da força total calculada e do consumo de combustível medido É patente uma muito boa correlação entre os valores da força total calculada e o consumo de combustível medido, sendo muito semelhantes os padrões das evoluções temporais das duas quantidades. É também facilmente identificada uma alteração da natureza dos dois sinais após o minuto 140, quando diminui a ocorrência de declives mais pronunciados no terreno. Na figura 10, o consumo de combustível em litros/100 km é representado como uma função da força motriz média ao longo de intervalos com uma duração de 10 segundos, nas fases em que o sistema de controlo da velocidade de cruzeiro estava ativo. Uma vez que a velocidade do carro foi mantida quase constante (a velocidade média foi de 120,2 km / h, com um desvio padrão de 0,39 km/h) e a caixa de engrenagens foi mantida sempre em sexta, a velocidade de rotação do motor de carro pode também ser considerada praticamente constante. Assim, a linha de tendência utilizada para ajustar os pontos experimentais de dados da figura 10, é como um corte no mapa de consumo específico do motor, em que a carga é crescente e a velocidade de rotação do motor foi mantida constante. Os valores reais de consumo de energia foram obtidos multiplicando o volume medido do combustível consumido em cada intervalo de tempo pelo poder calorífico inferior do gasóleo (35,9 MJ / litro). As necessidades de energia para os mesmos intervalos foram calculadas multiplicando-se o valor de potência média calculada pela duração do intervalo de tempo. Para o período total analisado, correspondente a um trajeto de 328 km percorridos com o sistema de controlo de velocidade de cruzeiro ativado, os valores acumulados de energia são, respetivamente, 192,5 MJ, para a energia teórica requerida, e 769,8 MJ, para o consumo real de energia, o que significa um valor de eficiência de conversão energética de 25,01%. Este valor é confirmado através da análise visual da Figura 9 onde é patente uma relação da ordem de 4 para 1, entre as duas evoluções representadas. Em termos do indicador de energia por quilómetro percorrido, os valores são 2,35 MJ / km, para o consumo real de energia e de 0,59 MJ /, km, para as necessidades teóricas de energia. 8 Fig. 8 – Consumo de combustível medido em função da força motriz calculada e histograma dos dados de consumo Figure 9 – Evoluções temporais dos consumos de energia (real e requerida) em intervalos de 10 s 9 5 CONCLUSÕES Uma nova metodologia para realizar testes de estrada com veículos equipados com motores de combustão interna foi desenvolvida. A metodologia é baseada no acoplamento dos dados resultantes do sistema de aquisição instalado a bordo com os cálculos efetuados com recurso a um modelo simplificado do balanço de forças durante o movimento do veículo, a fim de obter a eficiência de conversão de energia do sistema de propulsão do carro. Os resultados obtidos no conjunto de testes realizados com condições meteorológicas estáveis indicam um bom nível de precisão do sistema. O sistema de aquisição de dados e de análise e a metodologia de cálculo foram testados num ensaio de estrada com a duração de 3 horas, a uma velocidade do veículo constante de 120 km / h. As correlações entre as medições dos consumos de combustível e as potências necessárias para garantir o deslocamento do veículo ao longo de cada troço elementar do percurso são muito elevadas, o que demonstra o potencial de utilização do método apresentado para calcular a eficiência de conversão de energia do sistema de propulsão do carro ao longo de uma viagem. Novos desenvolvimentos estão previstos para melhorar a metodologia descrita, nomeadamente através da correção do efeito de alguns fatores perturbadores, como, por exemplo, os parâmetros ambientais, como a altitude, pressão barométrica e temperatura do ar, as alterações na resistência ao rolamento devido a situações de curva e a correção da massa do veículo, em testes de longa duração, devido ao consumo de combustível. 6 REFERÊNCIAS 1. L. Serrano, V. Carreira, R. Câmara and M. G. d. Silva, "On-road performance comparison of two identical cars consuming petrodiesel and biodiesel," Fuel Processing Technology, p. 9, 2011. 2. M. Ghodsirad, J. Teixeira, P. Breda, C. Campos, L. Serrano and M. Gameiro da Silva, "A Methodology to Evaluate the Performance and Consumption of Vehicles in Comparative On-Road Tests," in FISITA World Automotive Congress, 2-6 June, Maastricht, 2014. 10