Saúde e Gênero: questões e conceitos na

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Sebold LF, Waterkemper R, Martines JG, Meirelles BHS
Artigos de
Revisão
SAÚDE E GÊNERO: QUESTÕES E CONCEITOS NA PRODUÇÃO
CIENTÍFICA DE ENFERMAGEM
HEALTH AND GENDER: REVIEWING THE CONCEPT OF NURSING IN
SCIENTIFIC PRODUCTION
SALUD Y GÉNERO: CUESTIONES Y CONCEPTOS EN LA PRODUCCIÓN
CIENTÍFICA DE ENFERMERÍA
Luciara Fabiane SeboldI
Roberta WaterkemperII
Jussara Gue MartinesIII
Betina Hörner Schlindwein MeirellesIV
RESUMO: Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão sistemática, que visa buscar questões de saúde e gênero abordadas
pela enfermagem em suas publicações e estimular profissionais da saúde a refletirem acerca de seu cotidiano considerando essas questões e conceitos correlatos. O trabalho destaca a análise de 14 artigos sobre o tema, na área da enfermagem,
publicados de 2005 a 2007 nas bases de dados LILACS e SCIELO. As categorias encontradas foram sexualidade, corpo
e saúde. Os conteúdos subsidiaram a compreensão das relações entre gênero, saúde e a enfermagem. Considera-se que
aprofundar o conhecimento sobre as discussões quanto à origem da ciência e de gênero permite vislumbrar caminhos
para a compreensão da evolução social e da convivência humana e amplia as perspectivas do profissional de enfermagem como cuidador.
Palavras-chave: Gênero; saúde; enfermagem; cuidado.
ABSTRACT
ABSTRACT:: This study makes a systematic review of gender and health in nursing publications in order to stimulate
health professionals to reconsider gender-related issues in their everyday lives. The essay underlines the analysis of
fourteen articles published between 2005-2007 on the LILACS and SCIELO databases, which provide the grounds for
gender-related issues in nursing. Categories found were sexuality, body, and health; As one deepens the discussions
regarding the origin of science and gender one can better make sense of social evolution and human conviviality in
addition to widening the horizons of the nursing professional as a caretaker.
Keywords: Gender; health; nursing; care.
RESUMEN: Se trata de una investigación del tipo revisión sistemática, que intenta buscar asuntos de salud y de género
enfocados por la enfermería en sus publicaciones y estimular los profesionales de la salud a reflexionar acerca de su
cotidiano considerando eses asuntos y conceptos correlatos. El trabajo destaca el análisis de 14 artículos sobre el tema,
en el área de la enfermería, publicados de 2005 a 2007 en las bases de datos LILACS y SCIELO. Las categorías encontradas fueron sexualidad, cuerpo y salud. Los contenidos subsidiaron la comprensión de las relaciones entre género, salud
y la enfermería. Se considera que profundizar el conocimiento sobre las discusiones cuanto a la origen de la ciencia y de
género permite vislumbrar caminos para la comprensión de la evolución social y de la convivencia humana y de ampliar
las perspectivas del profesional de enfermería como cuidador.
Palabras clave: Género; salud; enfermería; cuidado.
INTRODUÇÃO
A ciência se desenvolve enraizada na essência
da coletividade desde o início da história da humanidade. Os vários conceitos dela advindos, tais
como família, grupo social, homem e mulher, foram construídos a partir do uso da própria palavra
ou de uma expressão que determinaram passo a
I
Enfermeira. Aluna o Curso de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Especialista em Acupuntura pelo
Centro Integrado de Estudo e Pesquisa do Homem – CIEPH. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidando e Confortando da UFSC. Professora
Substituta da UFSC. IIEnfermeira. Aluna o Curso de Mestrado em Enfermagem da UFSC. Especialista em Formação Pedagógica em Enfermagem pelo
Ministério da Saúde, e em Gestão de Serviços de Enfermagem pela UFSC. Membro do Grupo de Pesquisa Educação Saúde e Enfermagem da UFSC.
Enfermeira Assistencial da Unidade de Cuidados Paliativos do Centro de Pesquisa Ontológicas – CEPON. Email: [email protected].
III
Enfermeira. Doutora em Educação. Professora Adjunta do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC.
IV
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC.
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Saúde e gênero
passo, e ao longo dos tempos, os sentidos que a elas
atribuímos1.
Essa conectividade de palavras e idéias pode
nos mostrar como tais conceitos são insuficientes,
pois somente por meio das conectividades não se
consegue expressar verdadeiramente o sentido absoluto do conceito. Revela-se, então, a existência
de uma ciência ainda insuficiente e que está sempre
em construção e reconstrução assim como os conceitos. É através das construções coletivas e do momento histórico vivenciado pelo homem que os significados são moldados, pois a evolução da humanidade e da ciência passa por reflexões de conceitos
tanto como suas reformulações.
Acreditando nos elementos construídos pela
ciência na história e na atualidade, este trabalho
apresenta reflexões e análises sobre gênero e saúde,
colaborando para a compreensão de questões que
envolvem saúde e a cultura contemporânea.
Assim, este estudo teve como objetivo buscar
questões de saúde e gênero abordadas pela enfermagem, em suas publicações e provocar reflexões nos
profissionais da saúde acerca de seu cotidiano, considerando essas questões e conceitos correlatos.
REFERENCIAL TEÓRICO
O cenário dos estudos culturais é um campo ainda jovem. Desenvolveu-se a partir dos meados da
década de 50, através de vertentes de pensamento
que buscavam fazer novas investigações e reflexões
nos campos da sociologia, filosofia, economia e da
história. O objetivo era enriquecer o conhecimento
científico, o entendimento sobre as práticas dos cientistas e as articulações entre a ciência, a sociedade e os pensamentos tradicionais, principalmente no
período do pós-guerra1,2.
Com essa busca incessante pela construção de
conceitos de ciência chegou-se a um esgotamento
intelectual, originando o que se denominou de virada lingüística, representada por Wittgenstein, que,
em seu entendimento, a racionalidade da ciência é
engendrada na história e na coletividade. A partir
desse momento, compreendeu-se que a ciência e os
estudos culturais têm sua origem nas práticas sociais
e em suas relações cotidianas. E que a linguagem não
seria propriamente uma representação da realidade
feita pelos sujeitos, mas sim constituidora de sujeitos
e da realidade1,3.
A investigação sobre o conhecimento científico mostra valores e práticas da própria sociedade.
Esse conhecimento deixa de ser entendido como
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resultado de um aparato cognitivo que seguiria uma
lógica interna cuja racionalidade seria independente das atividades sociais, mas sim que seria influenciado pelo meio externo representado pela economia,
pela política e pela vida social1. Assim, a ciência seria entendida como produto de uma atividade cujo
objeto é a própria sociedade. É um campo profundamente comprometido e envolvido com a prática
social. É o estudo das relações entre elementos que
vivenciam o mesmo contexto. É uma tentativa de
desvelar a organização dos relacionamentos1,2.
Fazer ciência significa tirar as vendas, criar. Criar
significa buscar novas possibilidades, novas vertentes; quebrar paradigmas, pois seguir uma regra é limitar o pensamento, não um ato de criação, e não é
ciência. A partir dessa compreensão, percebe-se que
a sociedade, sendo objeto de estudo e pesquisa da
ciência, apresenta-se doente por deixar de participar, questionar as práticas sociais e lutar por ideais
coletivos4.
A partir dessa necessidade observada na sociedade, surge a preocupação pelo estudo do gênero
como uma necessidade social de estudo e pesquisa a
partir das práticas sociais. Discute- se a
representatividade do elemento homem e do elemento mulher na sociedade, emergindo com o movimento feminista dos anos 605-7.
O ponto inicial dessas discussões foi o
questionamento do conceito de patriarcado. Apresenta sua validade como instrumento teórico
mobilizador de ação política, entretanto insuficiente como aplicação analítica, uma vez que careceu
de precisão em termos das unidades de análise (a
família, o casal, as relações sociais, o estado), não
levando em conta os possíveis cortes históricos e a
variabilidade cultural, daí ter sido aplicado como uma
categoria fixa e universal3-8.
Procurou-se, então, articular modos de resistência ao questionamento de verdades estabelecidas que
permeiem a produção e reprodução das relações sociais entre os homens e mulheres. Além disso, buscavase entender o gênero, também, como uma construção social e uma luta de poder. Pode-se, ainda, dizer
que a palavra gênero vem representar a mulher e o
homem, sendo que falar de um implica no estudo do
outro, assim como a Ciência e os estudos culturais.
O gênero como resultado da construção social
e histórica apresenta conceitos que se fundamentam
nesses dois universos. Não apenas sociedades diferentes teriam diferentes concepções de homem e
mulher, como também no interior de uma sociedade
tais concepções seriam diversificadas, conforme a
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classe, a religião, a raça e a idade - e esses conceitos
sofreriam e sofrem mudanças ao longo do tempo.
O gênero é mais do que uma identidade aprendida. Constitui-se e é instituído pelas múltiplas instâncias e relações sociais, pelas instituições, símbolos,
formas de organização social, discursos e doutrinas5-10.
Assim, o conceito de gênero busca contrapor-se
a todos que baseavam suas análises em argumentos
essencialistas, ou seja, focando uma essência biológica feminina ou masculina. Todos esses conceitos acreditam nos processos de construção ou formação, históricos, lingüísticos e sociais do homem e mulher não
somente como sujeitos que se fazem homem e mulher, mas sim um processo contínuo, dinâmico, pois é
mais do que uma identidade aprendida, mas uma categoria imersa nas instituições sociais3,5-7, 11,12.
Através da ruptura dos conceitos tenta-se questionar verdades absolutas, as quais são inconstantes e
momentâneas. As construções sociais sobre o papel
do homem e da mulher e o significado do seu papel
social dão margem ao surgimento de outras verdades,
outros binários, como os já mencionados, modelos e
regras de comportamento. A idéia de uma construção social remete, necessariamente, a uma articulação com outras categorias sociais como classe, raça/
etnia e religião, entre outros, já que, nessa perspectiva social, o gênero se constrói com e nela mesma13.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo revisão sistemática. Para a compilação deste artigo, foi realizado um
resgate em artigos publicados entre os anos de 2005
e 2007, nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS)
e Scientific Eletronic Library Online (SCIELO).
No total foram resgatados 8087 artigos nas diferentes áreas de conhecimento com o descritor gênero. Desse total, foram identificados 14 estudos da
área da enfermagem que serviram de base para a pesquisa das questões de gênero e saúde. Para análise
das publicações, foi realizada a leitura flutuante dos
textos e a reflexão das autoras a respeito dos conceitos apresentados, tentando identificar as tendências
do conhecimento nas discussões sobre gênero, saúde e enfermagem.
Os temas abordados nos 14 artigos foram: identidade masculina e feminina na visão do profissional; gênero e idoso; gênero e paternidade; gênero e
drogas; gênero e saúde da mulher; gênero e imagem
corporal da enfermeira; gênero e sexualidade doente mental; gênero e educação infantil; Gênero e
enfermagem (profissão); gênero e enfermagem (cuidado); gênero e cuidado com o corpo; gênero e violência doméstica.
Assim, observa-se que as tendências do conhecimento de gênero estão voltadas para a dicotomia:
masculino e feminino, pois ainda a sociedade faz diferenciações entre os sujeitos e suas relações com a
sexualidade, o papel social e o poder. Percebe-se também que ainda há insuficiência de produção científica sobre essa temática na enfermagem, lembrando
que essa profissão está voltada para o cuidar das pessoas holisticamente e que a discussão sobre o gênero
faz parte de seu cotidiano.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos 14 textos sobre o gênero, foram identificadas
as seguintes categorias: sexualidade, corpo e saúde.
Sexualidade
A discussão sobre a sexualidade inicia-se ao se
pensar que é produzida em contextos históricos, e,
por essa convicção, exigiria uma análise mais
aprofundada do tema em questão.
Na enfermagem, a categoria sexualidade passa a
ser mais discutida pela preocupação com a delimitação do papel social de cada sexo. Esse papel é demonstrado com o aprimoramento da ginecologia, que
buscou dedicar-se ao estudo dos corpos femininos e
suas respectivas peculiaridades, principalmente por seu
papel social e cultural de reprodução e manutenção
da prole em sociedade. Acreditava-se que a reprodução é fundamental para a natureza da mulher, não
tendo o mesmo enfoque para o homem. A biologia
feminina servia de maneira privilegiada para repensar
a ordem social a partir da natureza. Hoje, em determinados programas de televisão e impressos, essa percepção da mulher como representante do sexo e da
reprodução ainda é destacada, como se o corpo feminino determinasse as diferenças sociais7, 14-16.
Corpo
Nessa categoria, a exposição dos corpos femininos como algo diferente, em grande parte, é influenciada pela da publicidade e dos meios de comunicação. Esses mecanismos têm como objetivo primário educar os sujeitos (homem x mulher) para viverem de acordo com as regras estabelecidas socialmente, escondidos atrás do prazer e da diversão, que também educam e produzem conhecimento7,17.
Esses conhecimentos produzem significados de
interação e construção dos sujeitos sociais. A sexuRev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008 jul/set; 16(3):415-0.
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Saúde e gênero
alidade é um assunto que, no contexto da saúde, pode
ser desenvolvido e trabalhado através da publicidade
e dos meios de comunicação, permitindo-nos, assim,
identificar de que formas são socialmente constituídos os tipos de corpos, os modos de viver, os mais variados comportamentos e valores representados15,16.
O corpo sexual é construído, de certa forma,
pelos discursos dominantes, divulgados através dos
meios de comunicação, publicidade, religião e grupos sociais, que exercem determinado poder sobre a
sociedade, que procuram limitar algumas formas de
expressão consideradas imorais e promover e legitimar outras como normais, impondo novos valores e
conceitos7,16,17.
Saúde
Quanto à categoria saúde, seu conceito pode
ser amplamente interpretado diante de suas várias
definições. Com a influência da mídia, este conceito pode ser transmitido e/ou construído pelos sujeitos como padrões a serem seguidos e que muitas vezes podem não representar o que realmente significa
a saúde dentro dos preceitos da ciência18.
A mídia provoca a construção de imagens que
valorizam determinada forma de corpo, comportamento, de estilo de vida ou de pessoa. É, então, uma
forma de regulação social que reproduz padrões mais
comumente aceitos e que contribuem para a construção visual de um ser saudável19.
Entretanto, a preocupação dos sujeitos ao serem induzidos pelo contexto social e pelo conhecimento do que é “adequado” ou esperado pelas convenções sociais, é o ponto no qual surge a resistência às normas correntes. Esses mesmos sujeitos são
induzidos a terem um comportamento que estimula
conflitos internos, alterando seu estado emocional,
ou que sentem como incorretos14,20.
Essa construção social se reflete na questão da
igualdade e da identidade entre os sujeitos masculinos, femininos e os grupos, sendo que sua autonomia é limitada pelos padrões promovidos pelos próprios grupos. A identidade é um processo complexo
e susceptível a transformações. É um aspecto inevitável da vida social e da vida política, e as duas são
interconectadas porque as diferenças de grupos se
tornam visíveis, salientes e problemáticas em contextos políticos específicos7,13,21.
Os estudos que vêm sendo realizados sobre os
corpos e os seus questionamentos como um produto
cultural inacabado estão em constante transformação. Essas colocações atuam como um exemplo para
historicizar as condições de produção de conhecip.418 •
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mento biológico, ligando-os às representações de
homem e de mulher de uma época, estendendo-se
para o crescimento de uma visão crítica em relação
à própria ciência21-24.
O Significado do Gênero no Cenário da
Contemporaneidade na Saúde
O conhecimento é construído ao longo da história da humanidade pela prática vivenciada pelos
sujeitos em sociedade, sendo a construção deste conhecimento um processo dinâmico em que o tempo
e as mudanças sociais são estimuladores das reflexões e reconstruções.
A ciência tornou-se uma representação coletiva do mundo assim como a religião era há séculos
atrás detentora da verdade absoluta e inquestionável.
A investigação sobre o conhecimento científico é
uma oportunidade para a descoberta de valores e
práticas da própria sociedade que está arraigada a
reflexões decorrentes de questionamentos sobre verdades, os quais a sociedade não mais aceita. Os conceitos e seus significados desenvolvidos pelas diferentes culturas das sociedades são ferramentas que
devem ser utilizadas para revelar novas possibilidades do presente e do futuro, desde que haja reflexões, criações e transformações. Assim, ao se pensar
em gênero, perpassa-se também pela reflexão da
construção do conhecimento científico.
Um dos questionamentos de novos significados de construção social é a questão dos papéis assumidos por homens e mulheres hoje, independentemente da idade. Quantos homens transformam-se
em mulheres, biologicamente, e assumem identidade e comportamento feminino? Como olhamos para
um sujeito que troca de identidade sexual? O que é
ser saudável dentro dessas identidades?
Esses papéis aparecem frequentemente em conteúdos disponibilizados por alguns meios de comunicação, pelos quais, ao longo da história, foram colocados como verdades. Essa realidade faz com que
haja dificuldades em lidar com situações que fogem
dos padrões considerados socialmente aceitos e saudáveis, visto que o enraizamento dos preconceitos e
significados talvez tenha sido pouco questionado pela
sociedade. Esses são paradigmas ainda em construção e transformação.
A lógica das verdades nos revela o quanto as
pessoas tendem, ainda, a seguir padrões sociais
preestabelecidos, tanto de papéis de homens e mulheres como também buscam apresentar corpos com
tendências sociais — masculina e feminina — atrelados aos padrões de saúde e normalidade impostos
Sebold LF, Waterkemper R, Martines JG, Meirelles BHS
pela mídia. Assim, os modos de sermos homens e
mulheres são construídos social e culturalmente e
não se dissolvem com facilidade.
A mídia utiliza-se dos significados do feminino
e do masculino para produzir seus objetos de desejo
e desconsidera as questões de gênero discutidas,
pesquisadas e disponibilizadas pela ciência. Dessa
forma, o que prevalece é a lei do consumo e por isso
os significados sobre o corpo feminino e masculino
são representados de múltiplas maneiras.
Por sua capacidade de divulgação e de transmissão de informações de massa, os meios de comunicação têm um potencial para a construção de imagens e conceitos valorizando determinados tipos de
comportamento, estilos de vida, características físicas, como forma de tentar estabelecer regulação social e que é aceita e seguida por parte considerável
da sociedade. A grande maioria dessas estratégias
termina por guiar os sujeitos a viverem dentro de
padrões preestabelecidos socialmente. Será que é
uma forma de ensinar ou uma forma de impor um
modelo social ou de exclusão?
De alguma forma, esse processo de transmissão
de idéias torna-se um campo para a construção de
sujeitos. Mas que tipo de sujeitos? Dependendo do
que os meios de comunicação transmitem, podem
também tornar-se uma fonte de exclusão social, de
desconstrução social e de outras concepções de ser
saudável.
Avaliando os tópicos discutidos, pode-se entender, então, que as verdades não são finitas, absolutas e inquestionáveis, mas sim resultado de conflitos que se criam ao seu redor, por meio de debates
políticos, históricos, econômicos e, principalmente,
de confrontos sociais.
CONCLUSÃO
Percebe-se que a essência das discussões está no
estímulo do leitor para a criticidade e a compreensão da construção da ciência a partir do desenvolvimento da sociedade e da sua relação com a saúde.
A partir das leituras e discussões encontradas
na revisão sistemática sobre o tema gênero, passouse a compreender a sua importância para o cotidiano da enfermagem visto que a melhoria do cuidado
depende também do entendimento dos valores culturais dos sujeitos, bem como de seus papéis assumidos nos diferentes contextos sociais. As categorias
identificadas nos textos estudados foram sexualidade, corpo e saúde.
O conhecimento não é estanque, transformase conforme a sociedade , estrutura-se e evolui. Na
enfermagem, é fundamental desenvolver a competência para o questionamento das verdades e para a
compreensão dos diferentes significados construídos
ao longo da história como uma forma inteligente e
criativa de compreender a saúde da coletividade e
assim poder direcionar a educação em saúde.
Considera-se que aprofundar o conhecimento
sobre o desenvolvimento da ciência, estudos culturais, gênero e saúde permite abrir caminhos para a
compreensão da evolução da sociedade e da convivência humana — reforça os valores da cidadania e
amplia as perspectivas do profissional da área da enfermagem como cuidador. Entender as origens de
conceitos e seus significados, a partir da ciência, são
formas de aproximação dos sujeitos e de seus contextos, elementos que compõem os cenários do cuidado na enfermagem.
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