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Coleção Philosophica
coordenada por Rachel Gazolla
• A ciência e o mundo moderno
Alfred North Whitehead
• Introdução à filosofia antiga: Premissas filológicas e outras “ferramentas de trabalho”
Livio Rossetti
• Busca do conhecimento: Ensaios de filosofia medieval no Islã
Rosalie Helena S. Pereira (org.)
• Cosmologias: Cinco ensaios sobre Filosofia da Natureza
Rachel Gazolla (org.)
• As ambiguidades do prazer: Ensaio sobre o prazer na filosofia de Platão
Francisco Bravo
• Sofista
Giovanni Casertano
• Platão e Aristóteles na doutrina do Nous de Plotino
Thomas Alexander Szlezák
• A arte e o pensamento de Heráclito:
Uma edição dos fragmentos com tradução e comentário
Charles Kahn
• Espinosa e Vermeer: Imanência na filosofia e na pintura
Sara Hornäk
• A sabedoria grega (I)
Giorgio Colli
• O pensamento de Gadamer
Jean Grondin (org.)
• Estrutura e significado da Metafísica de Aristóteles
Enrico Berti
• Teoria das ideias de Platão: Uma introdução ao idealismo (2 Vols.)
Paul Natorp
Paul Natorp
Teoria
das Ideias de Platão
uma introdução ao idealismo
Edição e Introdução de Vasilis Politis
Tradução para o inglês de Vasilis Politis e John Connolly
Posfácio de André Laks
Volume II
Título original: Plato’s Theory of Ideas – An Introduction to Idealism
© 2004, Academia Verlag, Alemanha
ISBN 3-89665-250-8
Tradução: Euclides Calloni e Saulo Krieger
Direção editorial: Zolferino Tonon
Coordenação editorial: Claudiano Avelino dos Santos
Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes
Revisão filosófica: Rachel Gazolla
Revisão: Tiago José Risi Leme (transliteração do grego)
Iranildo Bezerra Lopes
Diagramação: Dirlene França Nobre da Silva
Capa: Marcelo Campanhã
Impressão e acabamento: PAULUS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Natorp, Paul, 1854-1924.
Teoria das ideias de Platão: uma introdução ao idealismo: volume II / Paul Natorp; edição e introdução de Vasilis Politis; tradução para o inglês de Vasilis Politis e John Connolly; posfácio de André Laks; tradução Euclides Calloni, Saulo
Krieger. — São Paulo: Paulus, 2012. — (Coleção Philosophica / coordenada por
Rachel Gazolla)
Título original: Plato’s Theory of Ideas – An Introduction to Idealism
ISBN 978-85-349-3411-4
1. Idealismo 2. Ideia (Filosofia) 3. Platão - Crítica e interpretação I. Politis, Vasilis.
II. Connoly, John. III. Laks, André. IV. Gazolla, Rachel. V. Título. VI. Série.
12-08139
Índices para catálogo sistemático:
1. Platão: Teoria das ideias: Filosofia 184
1ª edição, 2012
©PAULUS – 2012
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 • São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5087-3700
www.paulus.com.br • [email protected]
ISBN 978-85-349-3411-4
CDD-184
Agradecimentos
Agradeço de modo muito especial ao meu cotradutor, John Connolly, a colaboração sempre abnegada e gratificante. Sou particularmente grato a John Dillon, a força
motivadora original deste projeto e também tradutor do
Capítulo II. Agradecimentos efusivos também para Werner Beierwaltes, David Charles, André Laks, James Levine, Brendan O’Byrne e Cordula. E ainda para Martine
Maguire-Weltecke por sua incansável dedicação à formatação do texto.
Pelo generoso apoio, eu gostaria de agradecer:
Ao Dublin Centre for the Study of the Platonic Tradition;
Ao Programme for Mediterranean and Near Eastern
Studies em Trinity College, Dublin;
À Trinity College Dublin Association and Trust;
Ao Trinity College Dublin Arts and Social Sciences
Benefactions Fund.
Agradecimentos especiais também para o Comitê
Editorial da International Plato Society, e de modo particular para Luc Brisson, Michael Erler, Christopher Rowe,
María Isabel Santa Cruz, Thomas Szlezák e Mauro Tulli.
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Sumário
Volume II
9
VII. Parmênides
95 VIII. O Sofista
147
IX. O Filebo e O Político
211
X. O Timeu e As Leis
255
XI. Aristóteles e Platão
309
XII. A crítica aristotélica à teoria das ideias
367 Apêndice Metacrítico (1920). Logos – Psique – Eros
451Notas
ANDRÉ LAKS
485 Platão entre Cohen e Natorp
485 Aspectos da interpretação neokantiana das ideias platônicas
493 Kant e a “interpretação moderada” da Ideia platônica
495 O Platão do jovem Hermann Cohen (1866)
505 Platão e o programa neokantiano
512 A interpretação de Cohen de 1878
524 O Platão de Paul Natorp
537 A abordagem por Natorp da lógica do conhecimento puro
de Cohen
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CAPÍTULO VII
PARMÊNIDES
Introdução
O resultado final da investigação conduzida até aqui
pode ser enunciado como segue: ideias significam métodos, não coisas. A existência de postulados puros no pensamento pode ser reconhecida mesmo pela concepção
dominante que, então, com todo o direito, se mostrará
surpreendida com existências absolutas sendo postuladas pelo pensamento puro. O pensar puro não pode estabelecer existências puras, pode tão somente empregar
funções cognitivas de maneira que justifique a ciência.
Essa ciência não consiste no estabelecimento de existências absolutas, mas no progresso sem empecilhos de um
procedimento cujos resultados, adquiridos passo a passo,
podem ser mais bem descritos como objetos hipotéticos,
e não absolutos; o que se tem é a solução de problemas
que sempre está trazendo à luz novos problemas, e requer novas soluções. Precisamente por isso, ideias são o
que não poderiam ser de acordo com a concepção dominante: bases para a investigação interessada nos fenômenos. Fenômenos “participam” delas, isto é, ainda que não
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| Paul Natorp |
sejam representadas como desdobramentos paulatinos de
modos de procedimento significados por ideias, eles seriam pensados como tais. Ideias significam o objetivo, o
ponto infinitamente distante que determina a direção do
caminho de experiência, já que significam a lei do processo da experiência.
O termo “dialética”, porém, tem sido usado para
descrever a elaboração pura dos modos de processo em
si mesmos. E foi de tal forma enfatizado, que só mesmo
nos desdobramentos puros do método, nas puras lógica
e matemática – que dispensam a ajuda dos sentidos –,
que o rigor total da justificação, e, portanto, da ciência no
pleno sentido da palavra, é algo que pode ser atingido.
Isso enquanto toda aplicação desses modos de procedimento quanto aos fenômenos sensíveis e, portanto, todo
e qualquer enunciado feito acerca deles – até mesmo pela
ciência que, de maneira mais rigorosa, se ocupa do sensível com base em números, medidas e pesos – se mantêm meramente hipotéticos enquanto não puderem ser
derivados puramente da lei do processo, e sem produzir
premissas auxiliares. Essa derivação é requerida de forma
incondicional e universal, mas tal exigência, na verdade,
jamais é satisfeita na experiência real, nem pode ser satisfeita de modo algum que se possa antever.
Contudo, partindo de tal desesperança na experiência como ciência, surgem riscos consideráveis de que postulados puros no pensamento, que são as ideias, seriam
inteiramente postos à parte da tarefa de justificar a experiência como ciência. Se não houvesse genuína, completa
ciência dos fenômenos, poderia até mesmo parecer mais
científico o ato de alijar-se totalmente dos fenômenos, e
contentar-se com o desenvolvimento puro de conceitos.
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| Parmênides |
O próprio Platão parece transitar sem nenhuma reserva
nesse capricho. Muito embora passos significativos para
uma introdução real do método das ideias no campo da
experiência já estejam presentes na teoria da ciência, o
que se tem no Fédon e na República, esse jogo dava mostras de prevalecer em última instância: só existe propriamente ciência das ideias em si mesmas — então, deixem
os fenômenos em paz! (República, 529b: “Não há ciência
do sensível”; ou 530c: “O que quer que esteja nos céus,
deixem-no em paz!”).
Se, por uma ânsia natural pelo absoluto, algum indivíduo ainda estiver insatisfeito com o trabalho conceitual
puro e simples, se o indivíduo se recusa a lidar com as
coisas conhecidas, é quase que inevitável deixar que as
ideias se insinuem no lugar das coisas. O significado do
método das ideias foi perdido. Mas, com isso, a teoria das
ideias, precisamente em sua nítida oposição à experiência
como ciência ostensiva [angeliche Wissenchaft na edição
alemã], acabou sendo uma nova e a mais peculiar variante do empirismo. Tal como o próprio Platão o admite, na
realidade o indivíduo adquire até os conceitos mais puros
trabalhando com a experiência, concedendo-se, porém,
que aqueles não sejam derivados desta. O indivíduo para
quem a experiência deixou de ser um problema, e, portanto, para quem as próprias ideias já não podem desdobrar-se no problema da experiência considerada como
ciência, para ele, o mundo das ideias está fadado a ser
fossilizado em alguma coisa na natureza de outro mundo de coisas dadas, mera contraimagem do mundo das
coisas da experiência comum não científica que, mesmo
verbalmente negada, assumiu suas obstinadas reivindicações de fato. Estava fadado a ser algo que, no fundo, era
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| Paul Natorp |
não mais e sim menos que o mundo das coisas e sua mera
sombra; ostensivamente, um objeto de puro pensamento, mas na realidade sensível como o mundo, exceto por
ter sua sensibilidade esvanecida, não supersensível, e sim
subsensível.
Aí se tem a estranha forma pela qual, de acordo com a
concepção que virtualmente prevalece, a teoria das ideias
não vive – por não ser capaz de viver –, mas está sendo sempre novamente dada como morta. É bem a forma
como já a via Aristóteles, e mesmo ele, ao que tudo indica, não teria sido o primeiro a aventar esse ponto de vista,
mas o encontrou pronto como visão aceita dessa teoria,
assumindo-a de maneira um tanto quanto inescrupulosa.
O que ele havia aceito e usado de Platão – e não raro de
maneira contraditória – em seu próprio sistema, talvez
fosse visto por ele mais como uma descoberta casual de
alguém que, em todo caso, penetrou mais fundo do que
a maioria, ou como um efeito tardio dos ensinamentos
benéficos da metodologia socrática, que na verdade não
poderiam ter sido inteiramente perdidos em Platão, mas
que ele, Aristóteles, acreditava estar a ponto de restaurar
em sua pureza e tornar genuinamente produtivos. Isto, é
claro, se ele não tivesse alimentado a crença – equivocada
– de que havia originalmente desenvolvido o seu sistema
a partir de hesitantes sugestões platônicas, e, na verdade,
descoberto o seu sistema no que diz respeito ao seu significado verdadeiramente científico. Pois, se ele estivesse
consciente de que toda uma imensidão do que era devido a Platão fosse propriedade intelectual tão somente de
Platão, é bem possível que não tivesse uma imagem tão
distorcida, como teve, da teoria mais importante de seu
precursor.
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