Ressonância magnética para estudo do cérebro: uma técnica intrinsecamente digital Gabriela Castellano 09/02/2015 1 Por que ressonância magnética (RM)? 2 RM: Vários tipos de dados imagem anatômica mapa de difusão imagem funcional fibras neuronais espectro angiograma imagens de metabólitos 3 Experimento básico de RM 4 B0 B1 (RF pulse) FID 5 Scanner de RM 6 Fonte: http://www.fonar.com/ Fonte: http://www.fonar.com/ 7 Componentes de um scanner de MRI Fonte: http://www.cis.rit.edu/htbooks/mri/ 8 Campos magnéticos estático e gradientes Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 9 Bobina de superfície Bobina de volume Bobinas de radiofrequência Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 10 Medidas de segurança Fonte: http://www.simplyphysics.com/flying_objects.html 11 Geração do sinal de RM 12 Spins de 1H (prótons) num campo magnético Efeito Zeeman Frequência de Larmor 13 Fenômeno de RM = B0 90 = B0 Fonte: de Graaf, R. In vivo magnetic resonance spectroscopy, 2ed, 2007. 14 Excitação e relaxação • Excitação => ocorrem 2 coisas: 1) 2) • Alguns spins “pulam” para estado de maior energia “Spins entram em fase” Relaxação => 2 processos: 1) 2) Spins voltam para estado de menor energia “Spins defasam” 15 Relaxação • 2 processos independentes: – Relaxação longitudinal (spin-rede) => recuperação de Mz com constante de tempo T1 – Relaxação transversal (spin-spin) => decaimento de Mxy com constante de tempo T2 • Na prática, a relaxação transversal segue constante de tempo T2* < T2 • Importante: tecidos diferentes têm tempos de relaxação diferentes 16 Sequências de pulsos básicas e contraste de imagens 17 Sequências de pulsos • Receitas para controlar o hardware do scanner • Permitem que RM seja extremamente flexível • Parâmetros importantes: – TR = tempo de repetição – TE = tempo ao eco T1 T2 Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 18 Sequência FID /2 19 Formação do eco de spin 20 Fast Spin Fast Spin t=TE/2 t=0 Slow Spin Slow Spin t=TE/2 t=0 Slow Spin Slow Spin Pulso 180 Pulso 180 t=TE Fast Spin Fast Spin t=TE Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 21 Sequência spin-eco 22 Contraste em MRI • P.ex., para sequência FID: • 0, T1, T2* parâmetros intrínsecos da amostra • TR, TE parâmetros (manipuláveis) da aquisição 23 Formação da imagem 24 Localização do sinal • Para saber de onde vem o sinal é necessário um B diferenciado em cada ponto do espaço • Dado que 0 = B0 • Substitui-se B0 por B = B0 + G.r 25 26 26 • Cada voxel na fatia selecionada tem: – Valor de frequência e de fase dependente de sua localização espacial, e – Intensidade dependente da densidade de prótons • FID medido: mistura dos sinais de todos os voxels da fatia selecionada • Componentes do FID são separadas via Transformada de Fourier (FT) 27 Dados são medidos no espaço-k, ou espaço das frequências espaciais 28 Frequências espaciais 29 Transformação espaço-k – imagem Espaço-k Espaço da imagem FT Dados adquiridos Imagem final Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 30 Matematicamente temos: • Dados são medidos no espaçok, cuja variável k = (kx, ky, kz) depende dos gradientes aplicados • O sinal medido no espaço-k é a transformada de Fourier (FT) da densidade de spins efetiva • Portanto esta densidade pode ser recuperada fazendo a FT inversa do sinal medido 31 Sequências básicas revisitadas 32 Sequência de pulsos gradiente-eco (GE) 33 Preenchimento do espaço-k: GE kx Gx e ky Gy Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 34 Sequência de pulsos spin-eco (SE) 35 Preenchimento do espaço-k: SE kx Gx e ky Gy 36 Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ Para o estudo do cérebro, temos interesse em • Anatomia, estrutura • Metabolismo • Funcionamento 37 Para o estudo do cérebro, temos interesse em • Anatomia, estrutura • Metabolismo • Funcionamento 38 Contrastes anatômicos estáticos: densidade de prótons e tempos de relaxação • Tecidos diferentes têm tempos de relaxação diferentes Ponderada T1 Densidade deem prótons T2 Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 39 Densidade de prótons Ponderada em T1 Ponderada em T2 Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 40 Contraste anatômico dinâmico: imagens ponderadas por difusão (DWI) (1) a (3): Imagens adquiridas com diferentes pesos de difusão (4) Mapa do coeficiente de difusão aparente (ADC) Fonte: http://ej.rsna.org/ej3/0095-98.fin/index.htm 41 Imagem do tensor de difusão (DTI) • Na substância branca do cérebro, a difusão da água é anisotrópica => restrita por tratos de fibra dos axônios • DTI => fornece informação sobre a localização e orientação desses tratos • Tensor substitui o parâmetro escalar ADC Fonte: Le Bihan D, Nature Reviews Neuroscience, 4: 469-480, 2003 42 DTI Fonte: http://www.biac.duke.edu/education/courses/fall04/fmri/ 43 Para o estudo do cérebro, temos interesse em • Anatomia, estrutura • Metabolismo • Funcionamento 44 Espectroscopia de RM (MRS) • Imagem (MRI) => informação sobre distribuição espacial de núcleos • Espectro (MRS) => informação sobre propriedades químicas de núcleos 45 Deslocamento químico • Núcleos (de um mesmo elemento) imersos em diferentes ambientes (moléculas) possuem frequências de ressonância levemente distintas FT • In vivo MRS: vários núcleos podem ser usados, p.ex.: 1H, 31P, 13C, 19F 46 Imagem espectroscópica de RM (MRSI) 47 MRSI NAA Fonte: Cendes F et al, Epilepsia, 43(1): 32-39, 2002 Cr 48 48 Para o estudo do cérebro, temos interesse em • Anatomia, estrutura • Metabolismo • Funcionamento 49 fMRI - Contraste BOLD • fMRI: functional Magnetic Resonance Imaging • BOLD: Blood Oxygenation Level Dependent – Variação de sinal que ocorre nas imagens de RM devido à variação nas concentrações locais de oxihemoglobina e desoxihemoglobina – Oxihemoglobina (HbO): diamagnética – Desoxihemoglobina (Hb): paramagnética 50 Resposta BOLD ou hemodinâmica 51 fMRI – experimento 52 fMRI – resultados 53 Alguns exemplos de aplicações 54 Análise de textura de MRI para diferenciação de tecido são e patológico 55 Análise de textura de imagens anatômicas • Textura? • Objetivo: detectar variações sutis em imagens de pacientes em relação a imagens de grupo controle 56 Análise de textura histograma matriz de co-ocorrência matriz de run-length magnitude do gradiente 57 Aplicações • Diferenciação de estruturas cerebrais em: – Doença de Alzheimer e déficit cognitivo leve (corpo caloso e tálamo) – Epilepsia mioclônica juvenil (tálamo) – Doença de Machado-Joseph (núcleos caudados, tálamo e putâmen) – Ataxia de Friedreich (ponte e bulbo) • Conseguimos detectar diferenças não perceptíveis visualmente entre controles e pacientes de todas essas neuropatologias 58 Uso de MRS para análise da variação da concentração de GABA durante estímulo visual 59 GABA • Principal neurotransmissor inibitório – [GABA] no córtex visual inversamente correlacionado com a amplitude da resposta BOLD a estímulo visual − Amplitude do BOLD depende da frequência do estímulo (maior a 8 Hz) • Objetivo: utilizar espectros obtidos durante experimento funcional para avaliar a variação de GABA no córtex visual • Hipótese – concentração de GABA é menor para estímulo visual de 8 Hz 60 Experimento • 16 indivíduos sadios 61 Resultados com 3 análises diferentes Área sob a curva Fonte: Ricardo C. G. Landim, 2012 LCModel Gannet Fonte: Patricia Oliveira, 2014 62 Uso de MRI para avaliação de espessura e volume cortical em pacientes de Machado-Joseph 63 Análise de espessura cortical usando Freesurfer • Objetivos: Fonte: http://freesurfer.net/fswiki/FreeSurferAnalysisPipelineOverview – Determinar se pacientes com doença de MachadoJoseph possuem dano cortical cerebral e identificar essas possíveis regiões lesadas – Correlacionar o dano cortical com manifestações motoras e cognitivas da doença 64 Resultados – análise de grupo (vertexwise) • Diferenças entre pacientes com MJD e controles para as estruturas: Estrutura MJD média (mm) Controle média (mm) Hemisfério Esquerdo Giro Precentral 2,49 ± 0,18 2,63 ± 0,20 Hemisfério Direito Giro Precentral 2,43 ± 0,25 2,62 ± 0,22 Central Sulcus 1,62 ± 0,12 1,72 ± 0,12 Fonte: Thiago J. R. Rezende, 2013 65 Resultados – análise de grupo (ROI) Left Lateral 21 3 4 Left Medial 5 Right Lateral 76 Right Medial 8 • Diferenças entre pacientes com MJD e controles para as estruturas: Código 1 Dorsal 2 1 4 6 7 Ventral 4 2 MJD média (mm) Hemisfério Esquerdo Precentral 2,27 ± 0,15 Caudal medial 2,18 ± 0,16 frontal Estrutura Controle média (mm) 2,40 ± 0,14 2,29 ± 0,13 3 Temporal transverso 2,08 ± 0,25 2,24 ± 0,22 4 Occipital Lateral 1,93 ± 0,14 2,04 ± 0,15 Paracentral 2,11 ± 0,19 Hemisfério Direito Precentral 2,23 ± 0,19 Supramarginal 2,29 ± 0,16 Paracentral 2,12 ± 0,17 2,24 ± 0,13 5 6 7 8 2,38 ± 0,15 2,38 ± 0,12 2,29 ± 0,16 Fonte: Thiago J. R. Rezende, 2013 66 Discussão • Atrofia cortical difusa, principal achado: dano no córtex motor e hipocampos • Corrobora achados anatomopatológicos (Seidel et al. 2012; Rüb et al, 2008) • Disfunção motora não é exclusivamente causada pelo dano cerebelar • Espessura do Giro Precentral como possível biomarcador 67 Uso de DWI para identificação de áreas cerebrais danificadas em pacientes com paraparesia espástica hereditária (SPG4-HSP) 68 TBSS - Tract-Based Spatial Statistics • TBSS: informação sobre conectividade anatômica utilizando análise estatística baseada em dados de DTI • Objetivos: – Identificar regiões do SNC danificadas em pacientes com SPG4-HSP – Identificar possível correlatos clínicos com os parâmetros de imagem Fonte: fsl.fmrib.ox.ac.uk/fsl/fslwiki/TBSS/UserGuide 69 Resultados TBSS • Áreas de FA reduzida e MD, RD e AD aumentados em pacientes com mutações SPG4 após comparação com controles pareados por sexo e idade • Áreas com FA reduzida e MD, RD e AD aumentados estão mostradas em amarelo-vermelho e representam valores baseados em clusters (p < 0.05, corrigido) Fonte: Thiago J. R. Rezende, 2014 70 Resultados tractografia • Tractografia automática para os tractos corticoespinais em pacientes e controles FA values Corticospinal Tract Left Hemisphere Right Hemisphere Average Mean Control Mean Patient 0.653701 ± 0.021689 0.642387 ± 0.030750 0.600654 ± 0.021279 0.622842 ± 0.031106 0.608979 ± 0.045752 0.582428 ± 0.019791 p-value 0.002 0.019 0.028 Fonte: Thiago J. R. Rezende, 2014 71 Uso de fMRI para análise de padrões de conectividade cerebral usando grafos 72 Grafos • Objetivo: Aplicar a teoria de grafos a dados de fMRI para avaliar padrões de conectividade em diferentes instâncias: – Estado de repouso X tarefa de linguagem – Hemisfério esquerdo X direito (durante tarefa de linguagem) • Cérebro dividido em 90 regiões (45 / hemisfério) • 12 indivíduos sadios (controles) 73 Construção dos grafos Fonte: Wang J, Zuo X, He Y. Frontiers in systems neuroscience 4 (2010). 74 Resultados • hemisfério esquerdo (preto) X direito (verde) • repouso (azul) X tarefa (vermelho) Fonte: Luis Carlos T. Herrera, 2014 75 Discussão • Repouso X tarefa – maioria dos voluntários (8 de 12) apresentou uma diminuição do grau médio da rede na execução da tarefa quando comparado ao estado de repouso • Hemisfério esquerdo X direito (tarefa de linguagem) – resultados obtidos com análise por grafos reproduzem resultados da análise de fMRI – Ativação predominante do hemisfério esquerdo vista no fMRI é refletida como maior grau médio da rede esquerda comparada com a direita 76 Conclusões • RM é uma técnica extremamente versátil, que possui inúmeras aplicações no estudo do cérebro • Além dos dados de MRI serem inerentemente digitais, a grande maioria das análises secundárias feitas a partir desses dados também usa algoritmos computacionais sofisticados • Em suma: difícil fugir do computador se você quer estudar Neurociência... 77 Agradecimentos • Todos ex-participantes e participantes atuais do grupo de Neurofísica, em particular, alunos que trabalharam e trabalham comigo • Colaboradores da Neurologia da FCM e do DSPCom e Robótica da FEEC 78 Contato e mais informações [email protected] www.brainn.org.br https://www.youtube.com/user/abcerebrotv 79