XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DE SAPINDACEAE OCORRENTES NO ESTADO DE PERNAMBUCO Diogenes José Gusmão Coutinho1, Mitsuo Albuquerque Ishiguro2, Taciana Gomes da Silva3, Luana Cristina Andrade Mendes4 Antonio Fernando Morais de Oliveira5 Introdução A família Sapindaceae stricto sensu (s.s.) compreende 141 gêneros e 1900 espécies distribuídas, predominantemente, em regiões tropicais e subtropicais (Acevedo-Rodríguez, 2011). No Brasil, ocorrem 25 gêneros e 411 espécies, das quais 91 ocorrem na Floresta Atlântica do Nordeste (Somner, 2013), sendo citadas entre as três famílias mais ricas em número de espécies nesse ecossistema (Rezende & Ranga, 2005). Serjania é o maior gênero com 220 espécies seguido de Paullinia (150) e Allophylus (100) (Somner et al., 2013). A família pode ser caracterizada morfologicamente por suas folhas alternas, compostas, flores com nectários conspícuos e pétalas apendiculadas, e apresenta algumas sinapomorfias químicas (aminoácidos de ciclopropano) e moleculares (baseadas nos genes rbcL e matK) que reforçam sua monofilia (Harrington, 2005). Para este trabalho será considerada a delimitação da família sensu Radlkofer (1931-1934), recentemente reforçado por Buerki et al. (2009). Radlkofer (1931-1934) estruturou a família em 14 tribos, das quais a tribo Paullinieae é a única com espécies que apresentam hábito trepador. Seus representantes são importantes constituintes da vegetação de florestas tropicais e exibem diferentes formas de vida, englobando desde as trepadeiras, como Serjania Miller e Paullinia L. tanto em bordas quanto em interiores de fragmentos, até as altas árvores, como em Talisia Aublet e Cupania L. ocorrendo no dossel (Guarim Neto, 2000). As trepadeiras desempenham importante papel na dinâmica ambiental formando verdadeiros “corredores biológicos” no dossel das florestas permitindo o deslocamento de animais arborícolas, além de servirem como fonte de recursos nutricionais para espécies de animais características da Floresta Atlântica (Aschoff, 2012). Mais de 50 espécies de Sapindaceae são utilizadas pelo homem com finalidades econômicas, sendo estas aplicadas na construção civil, indústria madeireira, alimentícia, farmacêutica e de biocombustíveis (Guarim-Neto, 2000). Diante do exposto é que o presente trabalho se propõe a realizar o levantamento florístico da família no estado de Pernambuco, a fim reconhecer sua real representatividade de espécies para o Estado. Material e métodos A. Florística Foram realizadas expedições durante o período de janeiro 2012 a julho de 2013 para observações de campo e coletas botânicas de espécies de Sapindaceae. A coleta e o processamento do material obtido seguiram a metodologia proposta por Mori et al. (1989). Nesta ocasião, serão realizadas observações de campo para obtenção de informações essenciais ao entendimento do grupo como dados morfológicos, fenológicos e ecológicos. Parte das amostras a serem coletadas será herborizada segundo técnicas usuais e os vouchers depositados no Herbário Geraldo Mariz (UFP) e da Universidade Federal de Pernambuco. Amostras de partes reprodutivas (flores e frutos) e vegetativas (folhas, caule e ramos) serão fixadas em FAA 50% (formaldeído, ácido acético glacial, etanol 50 %) e, posteriormente, conservadas em álcool a 70°GL, para utilização nos estudos morfológicos. B. Tratamento Taxonômico A identificação dos táxons será realizada através de bibliografia especializada. Para abreviação dos nomes dos autores dos táxons será utilizado Brummit & Powell (1992). A partir dos dados morfológicos foram elaboradas chaves de identificação e a descrição taxonômica de cada espécie. Resultados e Discussão Até o momento foram coletadas, identificadas e descritas dezesseis espécies de Sapindaceae para o estado (Tabela 1). Esse número de espécies é reduzido quando comparado com outros levantamentos para a família 39 espécies - GuarinNeto (2000), 22 espécies - Resende e Ranga (2005). Esse número reduzido é resultado do pequeno número de fragmentos de floresta atlântica visitados (apenas seis). A família Sapindaceae no Estado foi descrita como sendo composta por árvores, arbustos, subarbustos eretos ou decumbentes, lianas ou raro trepadeiras herbáceas; monóicas, raro dióicas; latescentes. Folhas compostas, paripinadas ou imparipinadas, às vezes pinadas (3-folioladas, 5-folioladas, ¹ Primeiro autor é Doutorando do Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Departamento de Biologia, Universidade Federal de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rego s/n, Cid. Universitária. CEP: 50.670-901, Recife – PE, Brasil. E-mail. [email protected] ² Segundo Autor é geógrafo e estudante de biologia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE CEP 52171-900, Brasil 3 Terceiro autor é bióloga, Universidade Estadual Vale do Acaraú. Avenida da Universidade, 850, Campus da Betânia - Sobral - CE, CEP 62040-370 4 Quarto autor é bióloga pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Recife, PE CEP 52171-900, Brasil 5 Quinto é professor do departamento de biologia, área botânica, Universidade Federal de Pernambuco, Av. Prof. Moraes Rego s/n, Cid. Universitária. CEP: 50.670-901, Recife – PE, Brasil. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. biternadas ou 3–4-jugadas), bipinadas, alternas ou subopostas, margem geralmente denteado-serreada, inteira ou subinteira. Tirso simples ou composto, nas trepadeiras 2 gavinhas na base da raque. Flores diclinas ou raramente monoclinas; actinomorfas ou zigomorfas; cálice tetrâmero com 2 sépalas externas e 2 internas (1 anterior e 1 posterior), a anterior emarginada, ou pentâmero com 2 sépalas externas e 3 internas. Flores pistiladas com estaminódios, androceu excêntrico, estames 8, livres ou soldados na base, anteras bitecas, geralmente dorsifixas, indeiscentes; gineceu cêntrico, estaminódios 8, semelhantes aos estames; ovário súpero, (2) 3-carpelar, (2) 3-locular, estilete filiforme, estigma bífido, trífido ou com lóbulos soldados. Fruto cápsula loculicida ou septífraga, esquizocárpico com mericarpos samaróides ou cocos drupáceos; sementes exalbuminadas, não aladas, com ou sem arilo; embrião curvo, radícula geralmente alojada em uma dobra do tegumento. Foram amostrados oito gêneros no total, entretanto, o gênero Filicium é representante de espécies exóticas e Talisia representa uma espécie nativa, porém cultivada. Os gêneros de espécies nativas foram: Allophylus, Cardiospermum, Cupania, Matayba, Paullinia e Serjania. Abaixo segue a chave de identificação para os gêneros nativos amostrados. Chave para identificação dos gêneros. 1. Trepadeiras sublenhosas ou lenhosas, gavinhas e estípulas presentes. 2. Fruto esquizocarpo com 3 mericarpos, núcleo seminífero no ápice do fruto .................................... Serjania 3.Fruto com pericarpo subcarnoso, vermelho, semente com arilo carnoso ..................................... Paullinia 4. Fruto com pericarpo cartáceo, castanho-amarelado, semente com arilo seco ............... Cardiospermum 1’ Árvores, gavinhas e estípulas ausentes. 5. Fruto esquizocárpico. 6. Mericarpos drupáceos, folhas imparipinadas, trifoliolada ................................................... Allophylus 5’ Fruto loculicida. 7. Cálice gamossépalo, com abertura precoce ....................................................................... Matayba 7’ Cálice dialissépalo, sem abertura precoce ........................................................................ Cupania A maioria das espécies foi representada pelas lianas (56,25% das espécies) seguida das árvores (43,75%). Todas as lianas estão inclusas na tribo Paullineae com as demais tribos com apenas representantes de porte arbóreo. Algumas espécies estudadas distribuem-se por diferentes tipos vegetacionais, como florestas semidecíduas, em vegetação secundária, caatingas arbóreas, pastagens, campos inundáveis e nas matas ciliares. Nesse contexto, pode-se salientar que Cardiospermum corindum, Paullinia pinnata e Allophylus edulis por terem distribuição ampla, ocorrendo em mais de um desses tipos fisionômicos. Algumas espécies são utilizadas pelas populações que vivem no entorno dos fragmentos florestais, como a espécie Allophylus edulis com pequenos frutos comestíveis e com possibilidades ornamentais; Cardiospermum corindum, Paullinia pinnata e P. elegans, trepadeiras com possibilidades ornamentais, forrageiras; e Talisia esculenta que possui frutos comestíveis e com possibilidades ornamentais (Resende e Ranga, 2005). Espera-se com mais esforços de coleta ampliar o número de espécies para o Estado, registrar novas ocorrências, a confirmação das espécies já referidas e a descrição de todos os indivíduos, para ampliação do tratamento taxonômico. Agradecimentos Os autores agradecem a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pelo incentivo financeiro. Referências Acevedo-Rodríguez, P.; Van Welsen, P.C.; Adema, F.; Van der Ham, R.W.J.M. Sapindaceae, in: Kubitzki, K. (Ed.), The families and Genera of Vasculares Plants ´Flowering plants Eudicots: Sapindales, Curcubitales, Myrtaceae. Springer-Verlag Berlin Heidelberg. 10, pp. 356-406. 2011. http://www.amazon.com/Flowering-Plants-Eudicots-Sapindales-Cucurbitales/dp/3642143962. Aschoff, L. Variação Sazonal e Longitudinal na Ecologia do Guariba-de-Mãos-Ruivas, Alouatta belzebul (Primates, Atelidae), Na Fazenda Pacatuba, Paraíba. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação. UFSE, São Cristóvão, SE, Brasil. 2012. Buerki, S. Forest, F.; Acevedo-Rodríguez, P.; Callmander, M.W.; Nylander, J.A.A.; Harrington, M.; San Martín, I.; Küpfer, P.; Alvarez, N. Plastid and nuclear DNA markers reveal intricate relationships at subfamilial and tribal levels in the soapberry family (Sapindaceae). Molecular Phylogenetics and Evolution. 51, 238-258. 2009. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19405193. Doi: May;51(2):238-58. Harrington, M.G.; Edwards, K.J.; Johnson, S.A.; Chase, M.W.; Gadek, P.A. Phylogenetic inference in Sapindaceae sensu lato using plastid matK and rbcL DNA sequences. Systematic Botany. 30, 366-382. 2005. http://www.bioone.org/doi/abs/10.1600/0363644054223549?journalCode=sbot. Doi: http://dx.doi.org/10.1600/0363644054223549 Guarim Neto, G.; Santana, S. R.; Silva, J. V. Notas etnobotânicas de Sapindaceae Jussieu. Acta Botanica Brasilica. 14, 327-334. 2000. http://www.scielo.br/pdf/abb/v14n3/5177.pdf Radlkofer, L. 1931. Sapindaceae, in: Engler, A. (Ed.), Das Pflanzenrelch, 98 Engelmann, Lepzlg. Radlkofer, L. 1933-1934. Sapindaceae, in: Engler, A. (Ed.), Das Pflanzenreich: Regni Vegetabilis Conspectus (IV) 165 (Heft 98ah). Leipzig (Wilhelm Engelmann). Rezende, A. A.; Ranga, N. T. Lianas da Estação ecológica do Noroeste Paulista, São José do Rio Preto/Mirassol, SP, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 19, 273-279. 2005. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-33062005000200009&script=sci_arttext. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33062005000200009 Somner, G.V.; Ferrucci, M.S.; Acevedo-Rodríguez, P.; Coelho, R.L.G. Sapindaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 2013. (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB216). XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Tabela 1. Lista florística das espécies de Sapindaceae coletadas no estado de Pernambuco e Paraíba. Tribo/Espécie Thouinieae Allophylus laevigatus Radlk. A. quercifolius (Mart.) Radlk. A. edulis (A.St.-Hil.) Hieron. Cupanieae Cupania racemosa (Vell.) Radlk. Matayba guianensis Aubl. Doratoxyleae Filicium decipiens Thwaites Paullineae Cardiospermum corindum L. Paullinia elegans Cambess. P. pinnata L. P. trigonia Vell. P. racemosa Wawra Serjania caracasana Willd S. lethalis A.St.-Hil S. paucidentata DC. S. salzmanniana Schltdl. Melicocceae Talisia esculenta Radlk Localidade Hábito Origem Voucher Aldeia, PE Buíque, PE Aldeia, PE Árvore Árvore Árvore Nativa Nativa Nativa UFP 69.883 PEUFR 50.502 UFP 69.886 Recife, PE Recife, PE Árvore Árvore Nativa Nativa HST 15.321 HST 15.322 Recife, PE Árvore Cultivada PEUFR 50.502 São Lourenço, PE Recife, PE Paulista, PE Aldeia, PE Igarassu, PE Paulista, PE Buíque, PE Igarassu, PE Recife, PE Liana Liana Liana Liana Liana Liana Liana Liana Liana Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa Nativa UFP 69.885 UFP 69.844 UFP 69.887 UFP 69.882 HST 15.324 PEUFR 57.342 UFP 69.83 HST 15.323 UFP 69.839 Paulista, PE Árvore Nativa UFP 69.841