MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS AVALIAÇÃO DO EFEITO IMUNOSSUPRESSOR MEDIADO PELA DEXAMETASONA, CICLOFOSFAMIDA E TALIDOMIDA NO ENSAIO DO LINFONODO POPLITEAL EM RATOS RODRIGO NETTO COSTA Rio de Janeiro Setembro 2001 ii MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS AVALIAÇÃO DO EFEITO IMUNOSSUPRESSOR MEDIADO PELA DEXAMETASONA, CICLOFOSFAMIDA E TALIDOMIDA NO ENSAIO DO LINFONODO POPLITEAL EM RATOS RODRIGO NETTO COSTA Monografia apresentada à disciplina de Análises Clínicas da Universidade do Rio de Janeiro como requisito parcial a aprovação no Curso de Ciências Biológicas – Modalidade Médica. Rio de Janeiro Setembro 2001 iii FICHA CATALOGRÁFICA Costa, Rodrigo Avaliação do efeito imunossupressor mediado pela dexametasona, ciclofosfamida e talidomida no ensaio do linfono popliteal em ratos/ Rodrigo Netto Costa. - 2001 xvii, 68 f. Orientadora: Isabella Fernandes Delgado Monografia - Universidade do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Biológicas. 1. Ensaio do Linfonodo Popliteal. 2. imunossupressão. 4. Imunotoxicologia. I. Delgado, Isabella Fernandes. II. Universidade do Rio de Janeiro. III. Título. iv Monografia realizada sob orientação científica da Dra. Isabella Fernandes Delgado, pesquisadora do Laboratório de Toxicologia Ambiental da Escola Nacional de Saúde Pública, FIOCRUZ, e orientação acadêmica do Dr. Claude André Solari, responsável pelo Laboratório de Patologia Clínica do Hospital Universitário Gaffreé e Guinle, UNIRIO. v MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO ESCOLA DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS AVALIAÇÃO DO EFEITO IMUNOSSUPRESSOR MEDIADO PELA DEXAMETASONA, CICLOFOSFAMIDA E TALIDOMIDA NO ENSAIO DO LINFONODO POPLITEAL EM RATOS RODRIGO NETTO COSTA ORIENTADOR CIENTÍFICO:......................................................... Dra. Isabella Fernandes Delgado ORIENTADOR ACADÊMICO:........................................................ Dr. Claude André Solari Rio de Janeiro Setembro 2001 vi “É melhor tentar e falhar, que preocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver.” (Martin Luther King) vii Dedico este trabalho a Deus, que me formou e em sua infinita misericórdia resolveu me amar e dar sua vida por mim, me cobrindo de esperança, fé, amor e realizações. A Ti Senhor, dedico toda a minha gratidão, respeito e amor. viii AGRADECIMENTOS A meus pais que me educaram com todo o amor e me sustentaram com total diligência, dando-me todo o exemplo e apoio necessários para que eu alcançasse mais esta realização. Amo vocês! A minha noiva Tatiana, que me cativou com seu amor, paciência e dedicação, tornandose o grande amor da minha vida. E também a seus pais e irmãos por quem eu tenho um grande carinho! A minha irmã e meu cunhado que, com certeza, sempre foram e sempre serão meus grandes amigos. E, obrigado pelo computador! A minha sobrinha Gabi, que me deu muita alegria em vir ao mundo no ano passado, justamente no período de início deste trabalho. A Isabella Delgado, por confiar em mim, me dando esta oportunidade não só de um estágio, mas de um aprendizado que levarei por toda minha vida profissional. Obrigado pela grande orientação, pelo exemplo e pela amizade. Este trabalho é nosso! Ao Dr. Francisco Paumgarttem por ter me recebido em seu laboratório, e por ter me auxiliado no que foi preciso para a elaboração deste trabalho. ix Ao Dr. Claude por ter sido compreensivo com as nossas dificuldades no HUGG e por prontamente me ajudar no que foi preciso. A Karen e Márcia pela amizade, apoio e por me indicarem à vaga de estágio no laboratório. A Laísa e Erick pelo grande auxílio em toda a fase experimental deste trabalho. Sem vocês não iria ser possível! A Rosângela e Vanilda pelo grande exemplo de amizade, simpatia e prestatividade dedicados não só a mim, mas a todos do laboratório. A todos os demais profissionais e estagiários do Laboratório de Toxicologia que apesar de não terem sido mencionados individualmente, meu carinho e estima é por todos. Obrigado por serem tão profissionais e por fazerem um ambiente de trabalho tão agradável. A Marisa Soares e todo o pessoal do LAPSA por terem sido tão amigos e por terem me ajudado tanto no meu primeiro estágio. Aos amigos da faculdade que durante os anos da graduação fizeram esse tempo passar tão rápido. Obrigado a todos e, principalmente, à Larisse pela amizade contínua e duradoura. A todos os profissionais do Laboratório de Patologia Clínica do HUGG, em especial à Aninha da secretaria, por ter sido uma pessoa maravilhosa comigo. x Aos professores da UNI-RIO, principalmente aqueles que foram conselheiros e que não se preocuparam apenas em ministrar o conteúdo programático básico de suas disciplinas, mas em mostrar a importância humanista da nossa profissão. A todos do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Veterinária da UFF, em especial a Profa Ignez Bittencourt de Araújo, por tornar possível a manutenção dos animais no biotério, durante toda a fase experimental desse trabalho. A todas as ratas de laboratório por doarem suas próprias vidas em prol da ciência! Enfim, obrigado a todos que de um jeito ou de outro foram responsáveis pela realização desse trabalho. xi LISTA DE ABREVIATURAS ACTH – adrenocorticotropina ADCC – antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity Ad libitum – com livre acesso AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida AZP – azatioprina CAB – carbamazepina CCL – ciclosporina A CFA – ciclofosfamida CPZ – clorpromazina DMSO – dimetil sulfoxido DNA – ácido desoxirribonucleico DP – desvio padrão DPH – difenilhidantoína DXM – dexametasona EBV – Epstein-Barr virus e.g. – por exemplo (exempli gratia) ELP – Ensaio do Linfonodo Popliteal EST – estreptozotocina et al. – e colaboradores (et alii) EVH – enxerto-versus-hospedeiro HDZ – hidrazina IC – índice de celularidade i.e. – isto é (“id est”) Ig – imunoglobulina xii Il – interleucina IP – índice de peso LES – lupus eritematoso sistêmico MHC – complexo principal de histocompatibilidade MTX – metrotexano NaCl – clopreto de sódio ND – não determinado NF-kB – fator nuclear de transcrição Kapa B NK – natural killer PA – procainamida PBB – bifenilas polibromadas PCB – bifenilas policloradas PBS – solução tampão-fosfato PD – pata direita PE – pata esquerda PLN – popliteal lymph node PM – peso molecular qsp – quantidade suficiente para s.c. – sub cutânea TAL – talidomida TCDD – 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina v.o. – via oral ZMD – zimeldina xiii LISTA DE TABELAS E FIGURAS Tabela 1 – Funções do sistema imune e possíveis reações inadequadas induzidas por xenobióticos. 02 Tabela 2 – Incidência de tumores em indivíduos com imunodeficiência. 08 Figura 1 – Efeito de corticosteróides sobre o número de leucócitos circulantes. 09 Figura 2 – Efeito de corticosteróides e da ciclosporina sobre a produção de interleucinas. 11 Figura 3 – Efeito de corticosteróides sobre a transcrição gênica de citocinas. 13 Figura 4 – Fases do ciclo mitótico. 15 Figura 5 – Eventos celulares associados a um estímulo antigênico: fase de indução e fase estabelecida ou efetora. 16 Figura 6 – Efeito da ciclofosfamida sobre filamentos de DNA de linfócitos. 18 Figura 7 – Aumento do linfonodo popliteal induzido por clorpromazina. 23 Tabela 3 – Avaliação do efeito imunossupressor da dexametasona. 34 xiv Tabela 4 – Avaliação do efeito imunossupressor da ciclofosfamida. 35 Tabela 5 – Avaliação do efeito imunossupressor da talidomida. 36 Tabela 6 – Esquema de tratamento com dexametasona, ciclofosfamida e talidomida. 37 Tabela 7 – Efeito dos agentes imunossupressores sobre o índice de peso. 41 Tabela 8 – Efeito dos agentes imunossupressores sobre o índice de celularidade. 42 Tabela 9 – Efeito dos agentes imunossupressores sobre o peso dos órgãos imuno-relacionados. 43 Figura 8 – Relação dose-resposta dos agentes imunossupressores no ELP (índices de peso). 44 Figura 9 – Relação dose-resposta dos agentes imunossupressores no ELP (índices de celularidade). 45 Tabela 10 – Aumento do linfonodo popliteal de ratos com substâncias (e hemácias) positivas no ELP em diferentes laboratórios. 58 xv ÍNDICE Lista de abreviaturas Lista de tabelas e figuras Índice Resumo Abstract I. Introdução I.1 Imunotoxicologia I.2 Imunossupressão I.3 Complicações decorrentes de imunossupressão I.4 Terapia Imunossupressora I. 4.1 Corticosteróides I. 4.2 Agentes citotóxicos I. 4.3 Talidomida I.5 Ensaio do Linfonodo Popliteal I.6 Importância do trabalho xi xiii xv xvi xvii 01 01 03 06 07 08 14 19 21 24 II. Objetivo 26 III. Material e Métodos 27 III.1 Animais III.2 Biotério III.3 Fármacos e Reagentes III.3.1 Controle positivo no ELP III.3.2 Agentes imunossupressores III.3.3 Outros III.4 Preparo de soluções III.5 Desenho experimental III.5.1 DXM (Experimento 1) III.5.2 CFA (Experimento 2) III.5.3 TAL (Experimento 3) III.6 Análise estatística IV. Resultados IV.1 Efeito da DXM IV.2 Efeito da CFA IV.3 Efeito da TAL 27 27 28 28 28 29 30 31 34 35 35 36 38 38 39 40 V. Discussão 46 VI. Conclusões 59 VII. Referências 61 xvi RESUMO O Ensaio do Linfonodo Popliteal (ELP) é usualmente empregado como teste preditivo da capacidade de indução de reações auto-imunes por xenobióticos. Estudos adicionais (e.g. com a ciclosporina A) sugerem que com pequenas modificações, o ELP pode ser também aplicado como ensaio preditivo de imunossupressão induzida. No presente estudo, investigamos se o ELP modificado é realmente sensível para este tipo de detecção. Ratas Wistar (N=81) receberam injeção subcutânea de 5mg de clorpromazina (CPZ) na pata posterior direita. A pata esquerda recebeu apenas veículo (salina). Cada animal recebeu tratamento adicional com um dos agentes imunossupressores estudados, i.e. dexametasona (DXM), ciclofosfamida (CFA) ou talidomida (TAL). Cada grupo experimental foi comparado com um grupo controle tratado apenas com veículo. Sete dias após o tratamento com CPZ, os linfonodos popliteais foram retirados e os índices (direito/esquerdo) de peso (IP) e celularidade (IC) determinados. Os pesos de baço, fígado e timo foram igualmente analisados. O aumento de IP (3,00±1,07) e IC (21,73±19,87) induzido por CPZ foi inibido pela DXM nas doses de 1,0 mg/animal (IP:1,56±1,17 e IC:2,20±2,73) e 0,2 mg/animal (IP:2,19±1,37 e IC:6,48±9,56). Animais tratados com 0,02mg DXM ou com CFA (10mg/animal) não apresentaram alterações estatisticamente significativas de IP e IC, apesar de apresentarem drástica redução de peso de timo e baço. TAL não induziu alterações de peso dos orgãos imuno-relacionados nem dos IP e IC. Concluiu-se que o ELP não foi sensível para detectar o efeito dos agentes imunossupressores aqui estudados, mesmo em doses em que sinais de toxicidade sistêmica (e.g. atrofia de timo e baço) já eram evidentes. Portanto, o ELP não pode ser usado como ensaio preditivo de reações imunossupressoras induzidas por xenobióticos. xvii ABSTRACT The popliteal lymph node (PLN) assay is used as a predictive test for assessing the autoimmunogenic potential of xenobiotics. However, a quite different potential application of this assay is the rapid screening for immunosuppressive chemicals by assessing their effects on the PLN response to a known antigen. In this work we investigated whether this modified version of the PLN assay is really sensitive. Female Wistar rats (N=81) received subcutaneous injection of CPZ (5mg/animal) into the right hind footpad. The contralateral footpad was treated with saline only. All animals were additionally treated with an immunosuppresive drug, i.e. dexamethasone (DXM), cyclophosphamide (CFA) or thalidomide (TAL). Seven days after treatment with CPZ, the popliteal lymph nodes (PLN) were removed, and the weight (WI) and cellularity (CI) indices (right/left) were determined. The weights of spleen, liver and thymus were analyzed as well. The increase on PLN induced by CPZ (WI=3.00±1.07 and CI=21.73±19.87) was inhibited by DXM on doses of 1mg/animal (WI=1.56±1.17 and CI=2.20±2.73) and 0.2mg/animal (WI=2.19±1.37 and CI=6.48±9.56). Animals treated with 0.02mg/animal did not show statistically significant alterations (WI=2.81±1.50 and CI=8.76±5.87) when compared to the control group. All animals exposured to DXM (0.02; 0.2 or 1mg/animal) and CFA (10mg/animal) have shown a drastic reduction on thymus and spleen relative weights. CFA and TAL (10mg/animal) did not induce alterations on WI and CI. Our data show that the PLN assay is not sensitive for the detection of immunosuppressive effects, even when systemic toxicity (i.e. thymus and spleen atrophy) is already evident. Therefore, the PLN assay cannot be used as a predictive assay of induced immunossupression. 1 I. INTRODUÇÃO I.1 Imunotoxicologia Imunotoxicologia é a ciência que estuda a ação deletéria de xenobióticos sobre o sistema imune. Sendo um dos ramos mais recentes da toxicologia, esta ciência teve seu início relacionado ao cenário clínico da década de 1960. Neste período observa-se a introdução e ampla utilização de potentes drogas imunossupressoras, resultando nas primeiras descrições de efeitos adversos causados por estes novos tratamentos e, consequentemente, estimulando o interesse pela área de imunossupressão induzida por xenobióticos. Assim sendo, a introdução da terapia imunossupressora foi um marco importante que contribuiu não somente no progresso do campo de transplantes de orgãos, mas também colocou em evidência os efeitos adversos induzidos por substâncias imunossupressoras, gerando a preocupação com a possibilidade de que condições semelhantes de imunossupressão pudessem ser acidentalmente induzidas via exposição ocupacional ou ambiental. Isso fez com que nas décadas de 1970 e 1980, imunologistas e toxicologistas trabalhassem juntos na busca de estratégias para a avaliação não-clínica de imunotoxicidade. O produto final do esforço destas duas áreas foi o desenvolvimento de alguns modelos preditivos de imunossupressão induzida. Neste período, várias substâncias (entre elas, medicamentos, aditivos alimentares, pesticidas etc.) foram avaliados quanto ao seu potencial imunossupressor, enquanto outros aspectos menos estudados, porém de igual importância, e.g. indução de hipersensibilidade e auto-imunidade, foram posteriormente avaliados (Tabela 1). 2 Tabela 1: Funções do sistema imune e possíveis reações inadequadas induzidas por xenobióticos. Reação inadequada Função Defesa Homeostasia Imunovigilância Natureza do estímulo Exógeno Exemplo Microorganismo Endógeno ou Exógeno Remoção de células danificadas Endógeno ou Exógeno Remoção de células mutantes Exacerbada Ineficaz Hipersensibilidade Imunodeficiência Autoimunidade ... Transformação malígna ... Segundo Bellanti, 1991 Hoje, há diversos meios de se avaliar a indução de imunossupressão, entre eles, testes relacionados à imunidade não-específica (atividade das células natural killer (NK), fagocitose, etc), à imunidade humoral (e.g. ensaio das células formadoras de placa, proliferação de células B, etc) ou relacionados à imunidade mediada por células T (proliferação in vitro ou in vivo). Estas avaliações, via de regra, acompanham testes de toxicidade crônica, em que os animais são submetidos a longo período de exposição ao xenobiótico em questão, e então avaliados por meio dos testes acima relacionados. Tais estudos, além de longos, são bastante complexos. Freqüentemente envolvem mão de obra especializada, um grande número de animais, reagentes e sistemas caros, e ainda, devido a longa duração da exposição, representam um investimento alto na manutenção dos animais em teste. Diante disso, observa-se uma preocupação crescente com o desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos modelos que apresentem potencial preditivo para a avaliação de risco em imunotoxicologia. Tais modelos devem ser mais simples e contribuir num primeiro momento para a avaliação de risco de xenobióticos, permitindo uma análise inicial sobre o potencial imunomodulador de determinada substância e, desta forma 3 direcionando estudos posteriores mais complexos. Tais modelos atenderiam às necessidades rotineiras de avaliação de segurança e teriam aplicação importante, por exemplo, em estudos pré-clínicos de novos produtos. É neste contexto que o Ensaio do linfonodo popliteal (ELP) encontra aplicação. I.2 Imunossupressão Uma das funções essenciais do sistema imunológico é a defesa contra a infecção. Crianças nascidas com um defeito numa área crítica desse sistema sofrem infecções contínuas e, em muitos casos, dependendo do grau de comprometimento dos componentes imunológicos afetados ao nascimento, podem vir a morrer se não houver acesso à tecnologia médica avançada. A habilidade do organismo em responder de forma específica, flexível e mais eficaz à invasão de agentes estranhos ao organismo está filogeneticamente associada ao aparecimento dos vertebrados. Enquanto animais inferiores possuem os chamados mecanismos imunológicos inatos ou inespecíficos, tais como a fagocitose, animais superiores desenvolveram uma resposta imunológica adaptativa ou adquirida. A característica fundamental de componentes do sistema imune adaptativo, presente em vertebrados é a habilidade desenvolvida por membros deste filo no reconhecimento daquilo que não é próprio e na destruição/eliminação subseqüentemente do corpo estranho que pode representar risco ao organismo. Os mecanismos específicos de resistência do hospedeiro (memória, especificidade e capacidade de discriminar entre o que lhe é próprio e não-próprio) conferem aos organismos superiores importantes vantagens. Entretanto, esta reatividade imunológica contra agentes estranhos ao organismo pode estar comprometida em diversas situações. Um exemplo é o acometimento de 4 determinados indivíduos com conhecida predisposição genética para imunodeficiências específicas. A doença de Brutton (ou agamaglobulinemia ligada ao sexo), a deficiência isolada da IgA, a síndrome de DiGeorge (hipoplasia tímica), a imunodeficiência combinada grave (de células T e B), a síndrome de Wiskott-Aldrich (imunodeficiência com trombocitopenia), a síndrome do linfócito exposto, a deficiência de proteína de adesão leucocitária e as deficiências genéticas do sistema complemento são os exemplos deste grupo de doenças, comumente conhecidas como imunodeficiências primárias (Rey, 1999) e relacionadas a erros genéticos que afetam a imunidade específica (humoral ou celular) ou os mecanismos imunológicos inespecíficos do hospedeiro (i.e. mediados por proteínas do sistema complemento e células como os fagócitos e as células NK). As manifestações clínicas e o tratamento proposto para cada tipo de imunodeficiência primária dependem fortemente do componente do sistema imune por ela afetado. Assim sendo, não causa espanto a constatação de que as deficiências genéticas do sistema complemento, por exemplo, possam predispor o paciente a infecções piogênicas, ou seja, aquelas usualmente causadas por bactérias que só são fagocitadas com sucesso após opsonização (papel do complemento). Por outro lado, pacientes acometidos com deficiência seletiva de células T, e.g. síndrome de DiGeorge, apresentam vulnerabilidade a um padrão acentuadamente mais abrangente de infecções, sendo suscetíveis a aqueles vírus e fungos, que em indivíduos imunocompetentes seriam erradicados por componentes da imunidade do tipo celular. De um modo geral pode-se dizer que o estudo dos casos de imunodeficiência primária vem contribuindo muito para ampliar os conhecimentos sobre imunologia, tendo revelado as causas precisas de grande número de enfermidades devidas a erros genéticos. Entretanto, erros genéticos não são os únicos fatores que podem levar ao comprometimento de componentes do sistema imune. Também a presença de 5 determinados fatores exógenos pode induzir o aparecimento de imunodeficiências. A imunidade de tipo celular, por exemplo, pode estar comprometida em indivíduos desnutridos. A deficiência de ferro é particularmente importante neste contexto. Por outro lado, animais e pacientes humanos obesos mostram alterações em vários componentes da resposta imune, incluindo citotoxicidade, atividade das células NK e capacidade de fagócitos em destruir bactérias e fungos (Roitt et al., 1999). A imunossupressão é uma característica universal da infecção parasitária e compromete tanto as respostas mediadas por anticorpo como as mediadas por células. Com certa freqüência, infecções virais estão igualmente associadas à presença de imunodeficiência secundária. O sarampo no homem, a doença de Newcastle em aves e a peste bovina no gado são exemplos de condições patológicas associadas à imunossupressão, que nestes casos tem sido atribuída a um efeito citotóxico direto do vírus sobre as células linfóides (Roitt, 1989). Enquanto alguns vírus e outros agentes infecciosos (e.g. larvas jovens de T. spiralis liberam um fator solúvel linfocitotóxico) podem causar rompimento das células ou dos tecidos linfóides diretamente, muito da supressão pode resultar da interferência com a função macrofágica. Na hanseníase lepromatosa e na infecção malárica há provas de uma restrição na reatividade imunológica, imposta por uma distorção nas vias de tráfego normal dos linfócitos e, em última análise, a função dos macrófagos parece também ser aberrante. Fatores plasmáticos de pacientes com sífilis secundária bloqueiam in vitro a transformação de linfócitos de indivíduos normais pela fitoemaglutinina e podem ser os responsáveis pela redução geral da imunidade do tipo celular observada nesta doença. Muitos agentes, tais como raio X, drogas citotóxicas e os corticosteróides, embora freqüentemente empregados como agentes terapêuticos num contexto não-imunológico, podem não obstante, ter efeitos adversos severos sobre componentes do sistema imune. 6 I.3 Complicações decorrentes de imunossupressão A imunossupressão, sobretudo quando prolongada, pode acarretar em danos estruturais e/ou funcionais com conseqüências irreversíveis ao organismo. Alguns agentes imunossupressores são tóxicos para várias células, além de apresentarem o potencial de ativar infecções latentes e aumentar muito a susceptibilidade à infecções sérias, tais como aquelas provocadas por fungos, bactérias e vírus prevalecentes e que ordinariamente apresentam pouca patogenicidade (e.g. Candida, Nocardia, citomegalovírus, herpesvírus). Além disso, indivíduos submetidos a terapias que induzem imunossupressão crônica, assim como os que possuem imunodeficiências congênitas, apresentam um aumento de incidência de vários tipos de cânceres, especialmente linfomas e retículo-sarcomas. Embora haja uma incidência elevada de tumores em pacientes imunossuprimidos, o aumento mais drástico ocorre em tumores associados aos vírus oncogênicos (Tabela 2). Tal constatação apoia o conceito de que a vigilância imunológica provavelmente atue mais eficientemente contra os vírus do que contra os tumores (Roitt et al., 1999). Tabela 2: Incidência de tumores em indivíduos com imunodeficiência. Causa da imunodeficiência Imunodeficiência congênita Imunossupressão por transplante de órgãos ou por AIDS Tipos de tumores Vírus envolvidos Linfoma EBV Linfoma Câncer cervical Câncer de Pele Hepatoma Sarcoma de Kaposi EBV Papilomavírus Papilomavírus (?) Vírus da Hepatite B Herpes vírus humano 8 Segundo Roitt et al., 1999 7 I.4 Terapia Imunossupressora Somando-se ao interesse em relação à investigação dos efeitos adversos mediados por substâncias imunossupressoras; há um forte ímpeto pelo desenvolvimento de novos fármacos e de esquemas de tratamentos mais seguros e eficazes para a realização de transplantes de órgãos bem sucedidos e tratamento de muitas doenças provocadas por respostas imunológicas aberrantes. No decorrer das duas últimas décadas, houve considerável progresso na identificação de compostos capazes de produzir inibição inespecífica , ou seja, inibição da resposta imunológica independente de qual antígeno a inicia (Roitt et al., 1999). Com base em experimentos realizados com estes compostos em animais, descobriu-se que a resposta imunológica primária é mais facilmente inibida que uma reação secundária ou anamnéstica, ou seja, fármacos eficazes na supressão da resposta imune em animais não sensibilizados, geralmente só exibem atividade inibidora mínima no animal já sensibilizado. Além disso, a eficácia de um agente imunossupressor numa resposta primária depende fortemente do momento de sua administração em relação ao estímulo antigênico inicial. Com isso, agentes imunossupressores inespecíficos dividem-se em três grupos: I. Este grupo inclui formas de tratamento que exercem atividade imunossupressora máxima quando o fármaco é administrado imediatamente antes do antígeno, sendo menos eficaz quando utilizado após o estímulo imunológico. Neste grupo estão incluídos os corticosteróides, a irradiação e a citotoxina ciclo-inespecífica mostarda nitrogenada; 8 II. Este grupo inclui fármacos que só possuem atividade imunossupressora quando administrados imediatamente após o estímulo antigênico. Incluem-se aqui os agentes citotóxicos azatioprina (AZP) e o metrotexano (MTX); III. Este grupo inclui fármacos que exibem atividade inibidora quando administrados tanto antes quanto após a estimulação antigênica, entretanto possuem maior atividade imunossupressora após estímulo antigênico. A ciclofosfamida (CFA) constitui o principal agente imunossupressor deste grupo. I.4.1 Corticosteróides Os corticosteróides são hormônios esteróides amplamente utilizados para suprimir as manifestações de diversas reações inflamatórias e imunológicas. As pesquisas clínicas, porém, têm sido quase sempre um tanto confusas devido à dificuldade em reconhecer as diferenças na suscetibilidade à lise de línfócitos induzida por esteróides nas diferentes espécies de animais estudadas (Stites et al., 2000). Sabe-se que em camundongos, coelhos e ratos, estes hormônios provocam extensa destruição linfocitária (Burns et al., 1996), enquanto linfócitos normais de cobaias, macacos e seres humanos mostram-se altamente resistentes à lise. Entretanto, nem todos os linfócitos humanos são resistentes à lise induzida por esteróides. Estes hormônios destroem eficazmente as células da leucemia linfoblástica aguda e exercem efeitos citolíticos moderados sobre as células B neoplásicas na leucemia linfocítica crônica e nos linfomas não-Hodgkin. 9 Um dos efeitos mais importantes dos corticosteróides consiste em alterar transitoriamente o número de leucócitos circulantes (Figura 1). Observa-se neutrofilia, podendo esta ser provocada por duas vias distintas: i. a liberação de neutrófilos maduros das reservas medulares e/ou, ii. a redução da saída de neutrófilos dos espaços intravasculares para exsudatos inflamatórios, com conseqüente aumento da meia-vida dos neutrófilos circulantes. Figura 1: Efeito de corticosteróides sobre o número de leucócitos circulantes. Segundo Stites et al., 2000 Em contraste com a neutrofilia induzida por corticosteróides, observa-se acentuada linfopenia. Este efeito resulta do seqüestro das células linfóides recirculantes para os tecidos linfóides, incluindo a medula óssea. As células T circulantes são as mais afetadas, 10 seguindo-se de uma redução moderada de células B. Entre as subpopulações de células T, há uma maior vulnerabilidade de células CD4+ em relação a células CD8+. Monocitopenia, via de regra pronunciada, é uma das importantes alterações causadas por esteróides. A reduzida disponibilidade destas células foi considerada de suma importância no processo antiinflamatório mediado por esteróides. Verifica-se também uma redução no número de eosinófilos e basófilos circulantes, entretanto sem significado funcional conhecido até o momento. Além de alterar a distribuição de diferentes populações celulares, os corticosteróides alteram importantes funções de linfócitos e monócitos. A atividade de linfócitos T é consideravelmente afetada. As respostas linfoproliferativas in vitro são inibidas; em parte devido a uma redução na síntese de interleucina-2 (IL-2), essencial para a extenção clonal dos linfócitos ativados. A menor disponibilidade de IL-2 constitui, provavelmente, o resultado indireto da produção suprimida de IL-1 pelos monócitos (Figura 2). Corticosteróides exercem efeitos menores sobre linfócitos B. Pacientes tratados com doses moderadas de prednisona são capazes de responder normalmente a antígenos. Entretanto, a corticoterapia em altas doses reduz moderadamente as concentrações séricas de IgG e IgA. Células NK e efetores da citotoxicidade mediada por anticorpo (ADCC – Antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity) não são significativamente alteradas por corticosteróides. 11 Figura 2. Efeito de corticosteróides e da ciclosporina sobre a produção de interleucinas. Segundo Stites et al., 2000 Em relação aos monócitos e macrófagos, os corticosteróides suprimem as atividades bactericidas desta linhagem celular, reduzindo a fagocitose e a resistência do hospedeiro à infecção. Além disso, os corticosteróides também interferem na função destas células como apresentadoras de antígeno. Outros efeitos observados incluem: i. bloqueio da diferenciação de monócitos em macrófagos, ii. diminuição da migração dirigida em resposta a fatores quimiotáticos e iii. supressão da capacidade de monócitos de apresentarem receptores de Fc e do complemento, dificultando ainda mais suas atividades fagocíticas. Atualmente, sabe-se que uma das principais atividades dos corticosteróides parece ser mediada pela diminuição da função do fator nuclear de transcrição Kapa B (NF-kB), que é um regulador comum de genes de diferentes citocinas e moléculas de adesão celular. Um mecanismo recém-descrito passível de contribuir para as propriedades imunossupressoras dos corticosteróides consiste na ligação direta destes hormônios ao NF- 12 kB, impedindo a sua entrada no núcleo. Entretanto, há um segundo mecanismo que parece ser ainda mais importante. No citoplasma das células ainda não estimuladas, o NF-kB ligase a uma segunda proteína IkBα, fosforilando-a. Então, após ser liberado, o NF-kB é translocado para o núcleo, onde ativa genes produtores de muitas citocinas. Os corticosteróides parecem aumentar a transcrição do gene que controla a IkBα, resultando em aumento de sua concentração citoplasmática — uma situação que promove a sua ligação ao NF-kB. Consequentemente, há uma menor quantidade disponível para penetrar no núcleo e iniciar a transcrição dos genes das citocinas (Figura 3). Em suma, os corticosteróides em doses farmacológicas são capazes de inibir com eficácia um espectro de manifestações clínicas associadas a doenças imunologicamente mediadas. Seus efeitos benéficos resultam de uma associação das atividades imunossupressoras e antiinflamatórias inespecíficas que em numerosas circunstâncias podem salvar a vida do paciente. Entretanto, os corticosteróides apresentam efeitos adversos severos quando utilizados em altas doses e/ou em tratamentos prolongados. Nestes casos as manifestações clínicas incluem: a supressão das supra-renais (pela supressão da secreção do hormônio ACTH), efeitos metabólicos (inibição do crescimento, diabetes, osteoporose), retenção de sal e, até mesmo, psicoses (Katzung & Trevor, 1995). Contudo, as combinações farmacológicas contendo esteróides mostram-se extremamente úteis para suprimir as reações de rejeição de transplantes, bem como para inibir as manifestações das doenças auto-imunes (Stites et al., 2000). 13 Figura 3. Efeito de corticosteróides sobre a transcrição gênica de citocinas. Segundo Stites et al., 2000 A dexametasona (DXM) foi o corticosteróide de escolha do presente trabalho. DXM é um exemplo de corticosteróide sintético com mecanismos de ação idênticos ao do cortisol (ou hidrocortisona), que é o mais importante corticosteróide natural produzido pelo córtex da glândula supra-renal. A DXM quando comparada ao cortisol apresenta as seguintes propriedades: 1. maior potência antiinflamatória, 2. meia-vida e tempo de ação prolongados, 3. redução dos efeitos de retenção de sal, 4. melhor atividade tópica (Katzung & Trevor, 1995), e 5. maior efeito miopático, caracterizado por dores e um certo grau de atrofia muscular causado pelo flúor presente em sua composição (Silva, 1994). 14 I.4.2 Agentes citotóxicos Os agentes citotóxicos constituem um grupo de substâncias químicas com propriedade farmacológica de destruir células capazes de auto-replicação, entre elas linfócitos imuno-competentes. Estes fármacos foram originalmente introduzidos na medicina clínica como agentes anti-neoplásicos em 1959. Contudo, estudos posteriores revelaram que muitos destes fármacos possuem também atividade imunossupressora e por conseguinte, seu uso foi ampliado para o tratamento de doenças do tipo auto-imune e na inibição de reações de rejeição a transplantes. Os agentes citotóxicos não são seletivamente tóxicos para os linfócitos e podem afetar, em graus variáveis, todas as células imunologicamente competentes, resultando em supressão generalizada do sistema imunológico e, consequentemente tornando os pacientes tratados mais suscetíveis a infecções oportunistas, bem como a certas neoplasias (Stites et al., 2000). As atividades linfocitotóxicas dos diferentes agentes citotóxicos podem estar relacionadas com suas toxicidades para células em fases específicas do ciclo mitótico (Figura 4). Os grupos de fármacos que incluem a AZP e o MTX são denominados “faseespecíficos”, pois são citolíticos para as células apenas quando estas se encontram na fase S (síntese de DNA). A CFA e o clorambucil são classificados como “ciclo-específicos”, pois são tóxicos para as células em todas as fases do ciclo mitótico, incluindo linfócitos na fase intermitótica (G0). Entretanto, o grupo de fármacos “ciclo-específicos” exibem atividades catalíticas diferenciais, sendo mais tóxicos para as células que ativamente se encontram no ciclo celular do que para células em repouso (G0). Já o terceiro grupo de 15 substâncias, constituído pelos agentes “ciclo-inespecíficos”, é igualmente citotóxico para as células tanto em repouso como em mitose. A radiação é considerada uma modalidade terapêutica “ciclo-inespecífica”. Figura 4. Fases do ciclo mitótico. Segundo Stites et al., 2000 Segundo Stites et al., 2000 Como se sabe, os eventos celulares associados a um estímulo antigênico podem ser subdivididos em fase de indução e fase estabelecida ou efetora (Figura 5). A primeira refere-se ao intervalo entre a exposição ao antígeno e a produção de células T sensibilizadas ou de plasmócitos maduros, caracterizando-se pela rápida expansão proliferativa de precursores sensíveis ao antígeno. Posteriormente, a reação passa para uma fase estabelecida. Os agentes citotóxicos são, em sua maioria, eficazes quando o período de administração coincide com a fase de indução, tornando-se consideravelmente menos ativos quando administrados na fase estabelecida da resposta imune. 16 Figura 5. Eventos celulares associados a um estímulo antigênico: fase de indução e fase estabelecida ou efetora. Segundo Stites et al., 2000 Segundo Stites et al., 2000 A CFA foi o agente citotóxico utilizado neste trabalho. Sabe-se que tanto em nível experimental quanto clínico, este fármaco ciclo-específico é um importante imunossupressor linfocitotóxico. Pode, porém, apresentar uma alta toxicidade: depressão da medula óssea, reações gastrointestinais, cistite hemorrágica, esterilidade, malformações congênitas, alopecia, infecções oportunistas, neoplasias (linfoma, carcinoma da bexiga, leucemia mielógena aguda), síndrome de Goodpasture, entre outros (Silva, 1994). A CFA parece causar supressão mais pronunciada das respostas humorais do que aquelas atribuídas a reações celulares (Burns et al., 1996). Seus efeitos sobre os componentes da resposta imune celular são extremamente variáveis. A CFA pode 17 prolongar a sobrevida de enxertos cutâneos alogênicos quando administrada após o enxerto. Entretanto, quando utilizada antes do transplante, constitui um potente intensificador imunológico, fato que tem sido atribuído, em parte, a uma maior toxicidade para células T supressoras do que para linfócitos T auxiliadoras (Stites et al., 2000). Alguns estudos clínicos sugerem que os efeitos sobre diferentes subpopulações de linfócitos é altamente dependente da dose da CFA administrada. Assim, doses baixas de CFA causam depleção primária das células B e de linfócitos CD8+, enquanto doses mais altas resultam em redução semelhante no número total de linfócitos CD4+ e CD8+ (Stites et al., 2000). A CFA é um agente alquilante da classe das mostardas nitrogenadas, que foram utilizadas na quimioterapia do câncer a partir de 1942 (Chabner et al., 1996). Este fármaco, assim como outros agentes alquilantes, necessita de ativação metabólica prévia para exercer seus efeitos terapêuticos. As enzimas citocromo P450 hepáticas participam da biotransformação da CFA gerando mostarda fosforamida, acroleína e outros metabólitos farmacologicamente ativos e citotóxicos. Em ratos, a CFA é metabolizada principalmente por isoenzimas CYP2B1, com participação significativa de CYP2C6 e CYP2C11. Em humanos, a ativação ocorre, sobretudo, por CYP2B6, com participação de CYP2A6, -2C8 e –2C9 (Chang et al., 1993). Tanto no homem como em animais, a ativação da CFA pelos citocromos P450 parece ser a principal via de metabolização deste xenobiótico, apesar de existir evidências de sua ativação por outras enzimas em outros órgãos (Smith & Kehrer, 1991). 18 Após sua metabolização, os efeitos citotóxicos da CFA são primariamente devidos a sua capacidade de ligar-se a cadeias de DNA e efetuar ligações cruzadas. Porém, a CFA também pode reagir e consequentemente alterar a função de outras moléculas intracelulares. A atividade alquilante no DNA pode resultar em morte imediata da célulaalvo, ou lesão letal expressa durante a divisão mitótica seguinte. Nesta última circunstância, a célula lesada pode funcionar normalmente na fase intermitótica (G0). Por outro lado, se for possível reparar o DNA, a célula pode sobreviver funcionando normalmente (Figura 6). Figura 6. Efeito da ciclofosfamida sobre filamentos de DNA de linfócitos. Segundo Stites et al., 2000 19 I.4.3 Talidomida Talidomida (TAL) é uma droga sintética derivada do ácido glutâmico desenvolvida por Grünental. TAL é conhecida comercialmente como Contergan na Alemanha, como Distaval na Inglaterra, como Softenol em Portugal e como Kevadon nos Estados Unidos (apesar de nunca ter sido comercializada neste país devido a certos efeitos colaterais neurológicos que haviam sido divulgados). TAL tornou-se extremamente popular como sedativo e tranqüilizante quando introduzida no mercado europeu, principalmente na Alemanha Ocidental, no final da década de 1950. Entretanto, no início da década de 1960, um número crescente de bebês com deformações congênitas, i.e. apresentando severas malformações nas extremidades dos membros (focomelia), nasceram de mães que haviam recebido TAL no primeiro trimestre da gravidez (Taussing, 1962). Diante desta constatação, TAL foi prontamente retirada do mercado europeu; e desde então, testes para avaliação do caráter teratogênico, realizados em duas espécies (incluindo testes em primatas), tornaram-se obrigatórios na análise pré-clínica de novos medicamentos. Em meados de 1965 surgiram os primeiros relatos de que TAL poderia exercer um rápido efeito benéfico em pacientes leprosos que apresentavam lesões de pele caracterizadas pela infiltração de nódulos sensíveis e eritematosos (eritema nodoso hansênico); sugerindo um possível efeito imunossupressor mediado por este fármaco (Sheskin, 1965). Desde então, grupos de pesquisadores e clínicos têm publicado um número crescente de artigos científicos sobre o valor do tratamento com TAL em doenças como a artrite reumatóide, fotodermatite, hanseníase, síndrome de Behcet, lupus 20 eritematoso sistêmico (LES) e outras condições dermatológicas que não respondem adequadamente à terapia convencional (Randall, 1990). Em 1985 foram relatados os primeiros testes com TAL no tratamento e na prevenção da doença enxerto-versus-hospedeiro (EVH), a mais importante causa de morte após o transplante de medula óssea (Vogelsang et al., 1986). Como resultado destes testes, conclui-se que TAL é extremamente eficaz no tratamento e na profilaxia das reações do EVH. Posteriormente, pesquisadores da “Johns Hopkins Medical Institutions” em Baltimore utilizaram experimentos com técnicas de imunofluorescência para melhor elucidar os efeitos da TAL no sistema imune (Randall, 1990). Estes estudos revelaram que TAL liga-se menos avidamente aos linfócitos T auxiliadoras do que aos linfócitos T supressores e citotóxicos, como visto com outras drogas imunossupressoras, i.e. a ciclosporina A (CCL). Paradoxalmente, é este modelo de ligação que efetivamente suprime a atividade dos linfócitos T auxiliadores; permitindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento dos linfócitos T supressores e citotóxicos - células que exibem um papel crítico na manutenção da doença EVH controlada, permitindo uma boa tolerância ao transplante. Ainda hoje, os mecanismos de ação de TAL sobre o sistema imune não são totalmente elucidados; contudo, estudos conduzidos por Keenan e colaboradores (Keenan et al., 1991) demostram que esta droga inibe de forma dose-dependente a proliferação de linfócitos in vitro e confirmam seus efeitos aditivos quando utilizada em combinação com CCL (Hess et al., 1988). Sabe-se, também, que TAL suprime a produção de citocinas, 21 corroborando para efetividade do tratamento profilático da doença EVH (Abbas et al., 1997). É importante ressaltar que as terapias com TAL, utilizadas sobretudo no tratamento de eritema nodoso hansênico ou após transplante de medula óssea não são empregados em mulheres em idade fértil (Randall, 1990). Em relação aos seus efeitos adversos, o tratamento com este fármaco pode apresentar: tontura, ressecamento das mucosas, obstinação, urticária, edema unilateral dos membros inferiores ou superiores, neurite com sensação de queimor nas palmas (Silva, 1994); porém sem maiores complicações se comparados com muitos dos efeitos tóxicos mediados por esteróides e outros tratamentos para a doença EVH (Randall, 1990). A TAL foi o terceiro e último agente imunossupressor utilizado no presente estudo. 1.5 Ensaio do Linfonodo Popliteal O ELP foi inicialmente desenvolvido com a finalidade de quantificar uma reação EVH local (Ford et al., 1970). Ele surgiu a partir da observação de que, quando em uma das patas determinadas doses de células linfóides são administradas por via subcutânea (s.c.), o linfonodo popliteal mais próximo apresenta grande aumento de peso. Já o tratamento com células singênicas na pata oposta não induz alteração significativa neste órgão linfóide. Com este ensaio tornou-se possível a observação de que quanto maiores as disparidades entre os locus do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) entre animais, mais severa é a reação local do linfonodo popliteal. Por esta razão, durante alguns anos da década de 1970, o ELP foi unicamente empregado com a finalidade de quantificar 22 o fator de imunização entre ratos de diferentes cepas, medido através da atividade da reação EVH (Bonney & Feldbush, 1973). Somente em 1976, a partir da comparação entre sinais clínicos observados em reações EVH e os efeitos adversos induzidos pelo anticonvulsivante difenilhidantoina (DPH), Gleichmann & Gleichmann (1976) propuseram que em ambas as situações, a patogênese produzida era bastante semelhante. Sintomas como hiperplasia linfóide, hipogamaglobulinemia e reações adversas na pele e pulmões, foram descritos em ambas as patologias. Em 1981, após injeção s.c. de DPH em roedores, Gleichmann induziu aumento de peso e alterações locais do linfonodo popliteal semelhantes àquelas observadas após injeção de células linfóides por Ford (1970), confirmando assim sua hipótese inicial de que mecanismos semelhantes aqueles observados na reação EVH estariam envolvidos na reação local provocada pela DPH. O conceito proposto por Gleichmann (1981) começou a ganhar maior credibilidade quando no final da década de 1980, em estudos realizados em camundongos (Kamüller et al., 1989) e em ratos (Verdier et al., 1990) cerca de 70 compostos foram testados no ELP. Com estes estudos, portanto, tornou-se possível concluir que a grande maioria de xenobióticos – senão todos – que no homem estão claramente associados à indução de reações auto-imunes, quando aplicadas por via s.c. em uma das patas posteriores de roedores, induzem aumento de peso e celularidade do linfonodo popliteal. (Figura 7). Por outro lado, xenobióticos, que nunca foram descritos como possíveis indutores de auto-imunidade em humanos, são negativas neste ensaio. Este foi o ponto de partida para a utilização do ELP como ensaio preditivo de reações auto-imunes provocadas por xenobióticos. 23 Simultaneamente a utilização do ELP como ensaio preditivo de auto-imunidade induzida, alguns autores propuseram uma versão modificada deste ensaio. Nesta versão, o ELP teria aplicação bem diferente da descrita acima, e seria utilizado para avaliar o potencial imunossupressor de xenobióticos. Neste caso, a substância a ser testada quanto ao seu potencial imunossupressor é administrada repetidamente pela via de interesse, i.e. a via preconizada para uso humano, antes e/ou após a administração de um estímulo antigênico. O estímulo antigênico pode ser de natureza biológica i.e. células de outros animais ou drogas sabidamente positivas no ELP (e.g. clorpromazina (CPZ), DPH, carbamazepina (CAB), estreptozotocina (EST) etc.). De acordo com estudos anteriores (Gleichmann & Gleichmann, 1990; Korte et al., 1990 e Schorlemmer et al., 1998 e 1999) drogas com potencial imunossupressor podem inibir de forma seletiva o aumento do linfonodo popliteal induzido por estes agentes imunogênicos. Figura 7. Aumento do linfonodo popliteal induzido por clorpromazina. PE PD 12X PD: linfonodo da pata direita; PE: linfonodo da pata esquerda; 12X: aumento de doze12X vezes em microscópio estereoscópico Stemi SV11 (Zeiss, Alemanha). 24 Desde o início da década de 1990, o ELP modificado vem sendo utilizado para avaliar o potencial imunossupressor de diversas substâncias. Entre elas: 1. drogas sabidamente imunossupressoras, como CCL (Gleichmann & Gleichmann, 1990), CFA (Korte et al., 1991), hidrocortisona, DXM, mometasona e FK506 (Homey et al., 1997), 2. drogas imunossupressoras de nova geração (anti-reumática), como metabólitos da leflunomida: malononitrilamidas (Schorlemmer et al., 1998) e A771726 (Schorlemmer et al., 1999), e 12X 3. poluentes ambientais (Vos et al., 1973 e Korte et al.,1990 e 1991), tais como 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (TCDD). 1.6 Importância do trabalho Os casos descritos no item 1.3 retratam a morbidade e letalidade que podem estar associadas à imunossupressão induzida por xenobióticos e reiteram a importância do desenvolvimento de ensaios preditivos para essas condições. O ELP é um ensaio simples, de baixo custo e que segundo alguns autores (Bloksma et al., 1995 e Goebel et al., 1996), representa um modelo eficaz na identificação da ação imunosupressora da CFA e outras drogas imunossupressoras. Entretanto, ao nosso ver, os 25 dados apresentados até o momento são insuficientes para que se consagre de forma definitiva o ELP como ensaio preditivo de imunossupressão induzida, e além disso, são controversos. Enquanto a maioria dos autores identificou substâncias imunossupressoras por meio deste ensaio (Gleichmann & Gleichmann, 1990; Homey et al., 1997; Schorlemmer et al., 1998 e 1999), outros foram incapazes de reproduzir o efeito imunossupressor induzido no ELP modificado (Korte et al., 1991). 26 II. OBJETIVO O objetivo do nosso estudo foi avaliar se o ELP poderia ser utilizado para evidenciar a imunossupressão induzida por xenobióticos. Para isso, investigamos o efeito de substâncias sabidamente imunossupressoras (i.e. DXM, CFA e TAL) sobre o aumento do linfonodo popliteal induzido pela CPZ em ratos. 27 III. MATERIAL E MÉTODOS III.1 Animais Foram utilizadas ratas Wistar, com idade entre 7 e 11 semanas, originárias do Centro de Criação de Animais de Laboratório/CECAL da FIOCRUZ. As ratas foram fornecidas com 5 semanas de idade e, a partir de então, mantidas no Biotério do Laboratório de Toxicologia da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense, onde o experimento foi realizado. Os animais foram distribuídos ao acaso em cada grupo experimental e alojados individualmente em gaiolas de plástico com tampa de aço inoxidável (33,5 x 40,5 x 17,0 cm) e cama de maravalha de pinho branco autoclavada. III.2 Biotério Durante o período de aclimatação e durante todo o experimento, foram fornecidas água e ração comercial para ratos (Nuvilab - Nuvital Ltda., Curitiba, Paraná) ad libitum. Todos os animais foram mantidos no biotério com os seguintes controles ambientais: temperatura (23 ± 2oC), umidade relativa do ar (aproximadamente 70%) e ciclo claroescuro constante (período claro de 7 às 19 horas). As trocas das camas de maravalha, água e ração foram feitas duas vezes por semana. 28 III.3 Fármacos e Reagentes Os seguintes fármacos e reagentes foram usados neste estudo. III.3.1 Controle positivo no ELP • Clorpromazina (10-H-Fenotiazina-10-propanamino, 2-cloro-N, N-dimetil- monocloridrato ou 2-cloro- 10-[(3-dimetilamino-propil)] fenotiazina monocloridrato) C17H19ClN2S.HCl PM: 355,32 Temperatura ambiente CAS: 69-09-0 Procedência: Farmanguinhos – FIOCRUZ III.3.2 Agentes imunossupressores • Dexametasona (21-fosfato sódico) CH3 C20H25O4F C Lote: 993366 MS: 1.0235.0326 OH HO Temperatura ambiente O F O EMS Indústria Farmacêutica Ltda (Hortolândia, SP, Brasil) CH3 29 • Ciclofosfamida (Genuxal®) C7H15O2N2PCl2 O CH2CH2Cl P Temperatura: ambiente NH MS: 1.2117.0025 N CH2CH2Cl O ASTA Medica Ltda (São Paulo, SP, Brasil) • Talidomida (Alpha ( N-phthalimido) glutarimida) C13H10O4N2 O Temperatura: ambiente C MS: 1.1209.0031.001-6 CEME (Fundação Ezequiel Dias) N C O III.3.3 Outros • Óleo de Milho Mazola Procedência: Refinações de Milho Brasil, Brasil • Azul de Trypan (C123850; azul direto 14) C34H24N60 14S4Na4 Pureza: 40% PM: 960,8 CAS: 72-57-1 Sigma Chemical Co. O O N H 30 III.4 Preparo de soluções Solução salina 0,9% (p/v) • Cloreto de sódio (NaCl) ------------------------------- 9g Água q.s.p. ---------------------------------------- 1000 mL Preparo no dia do uso PBS ( solução tampão-fosfato) (pH 7,4) • - Solução estoque: Fosfato monobásico de sódio diidratado -------------2,89g (NaH2PO4.2H2O) Fosfato dibásico de sódio heptaidratado ------------22,49g (NaHPO4.7H2O) - Solução final: Solução estoque ------------------------------------------10 mL Água destilada --------------------------------------------90mL Ajustar pH em 7,4 (neutro), manter sob refrigeração de 2-5ºC • Azul de Trypan 0,5% (p/v) Azul de Trypan ------------------------------------------- 1 g PBS (solução final)-------------------------------------20 mL Diluir 1:1 em solução final de PBS Manter frasco protegido da luz a 2-5ºC 31 Solução Descontaminante (CFA) • KOH ------------------------------------------------------- 8 g Metanol------------------------------------------------- 1000 mL Manter no mínimo por 24 horas. III.5 Desenho experimental Este estudo foi realizado em três etapas, cada uma referente ao agente imunossupressor estudado, i.e. DXM, CFA ou TAL. Em todas as três etapas, a CPZ foi utilizada como agente indutor do aumento do linfonodo poplietal. No dia do tratamento com CPZ, os animais foram pesados, alojados em gaiolas individuais e incluídos aleatoriamente em cada um dos grupos experimentais. Cada animal foi então anestesiado por inalação de éter etílico e recebeu injeção por via s.c. na planta da pata posterior direita. A dose de CPZ utilizada em todas as etapas deste estudo foi de 5mg/animal. O volume final da injeção foi de 50µL. A pata esquerda serviu como controle, e nela foi injetado apenas veículo (salina fisiológica). Após 24 horas e 7 dias do tratamento com CPZ, cada animal foi pesado e submetido a exame clínico, visando a detecção de alterações externas. Os casos de edema e eritema ou qualquer sinal de toxicidade sistêmica e/ou alteração comportamental foram registrados. Sete dias após o tratamento com CPZ, os animais foram sacrificados por inalação de CO2. Cada animal foi colocado em decúbito dorsal e, através de uma incisão 32 longitudinal na região ventral dos membros posteriores, foram observadas alterações de tamanho, consistência, localização e coloração dos linfonodos popliteais. O tecido adiposo, que armazena o linfonodo popliteal, foi retirado e transferido para tubos eppendorf devidamente identificados, contendo 500µL de solução de PBS (cerca de 4oC). As amostras foram então levadas a um microscópio estereoscópico Stemi SV11 (Zeiss, Alemanha) para que em um aumento de aproximadamente 12x, fossem separados o linfonodo popliteal do tecido adiposo adjacente (Figura 7). Em seguida, os linfonodos popliteais foram pesados e os valores obtidos foram expressos como índices de peso (IP), calculados pela razão do peso do linfonodo da pata direita e o peso do linfonodo da pata esquerda. Então: IP = Peso do Linfonodo Popliteal Direito Peso do Linfonodo Popliteal Esquerdo Em seguida, os linfonodos popliteais foram individualmente homogeneizados em homogeneizador de vidro, e as células ressuspendidas em volume final de 200µL de PBS. Da suspensão celular obtida, 20µL foram transferidos para tubo eppendorf contendo 200µL (1:10) de solução de azul de trypan em PBS. Em seguida, aproximadamente 10µL dessa amostra foi colocada em câmara de Neubauer (Superior, Alemanha) para contagem das células ao microscópio óptico Axiolab (Zeiss, Alemanha) em aumento de 20X. O número total de células por linfonodo popliteal foi calculado através da seguinte fórmula: 33 Nº de células/mL = fator de diluição x volume da suspensão celular x número de células por câmara x 2,5. O índice de celularidade (IC) foi obtido através da razão entre o número de células do linfonodo direito e o número de células do linfonodo esquerdo. Então: IC = No de células do Linfonodo Popliteal Direito No de células do Linfonodo Popliteal Esquerdo Foram considerados positivos (Vial et al., 1997), índices de peso maiores ou iguais a 2 (IP ≥ 2) e/ou índices de celularidade maiores ou iguais a 5 (IC ≥ 5). Além dos linfonodos popliteais, outros orgãos imuno-relacionados foram examinados e pesados em cada um dos animais em teste. Para isso foi feita uma incisão longitudinal na cavidade abdominal e torácica de cada animal logo após o sacrifício e fígado, baço e timo foram retirados para posterior pesagem. O timo de cada animal foi levado a microscópio estereoscópico (Stemi SV11 Zeiss, Alemanha) para que em um aumento de aproximadamente 10x fosse separado do tecido adiposo adjacente. Então, fígado, baço e timo foram pesados e os pesos relativos de cada um destes orgãos foram calculados. O esquema de tratamento empregado na avaliação do efeito imunossupressor da DXM, CFA e TAL está resumido na Tabela 6 e se deu como segue: 34 III.5.1 DXM (Experimento 1) No experimento 1 (realizado com DXM), os animais foram tratados em intervalos de 48 horas por via intraperitoneal (i.p.) dois dias antes (dia -2), no dia do tratamento com CPZ (dia 0) e 2 dias (dia +2), 4 dias (dia +4) e 6 dias (dia +6) após o tratamento com CPZ (Tabela 6). Cada animal recebeu injeções de DXM nas doses de 0,02mg, 0,2 e 1,0 mg/animal/dia (Tabela 3). O grupo controle foi tratado com veículo (PBS). O volume de aplicação em todos os grupos foi de 500µL. A ocorrência de qualquer sangramento durante ou após a aplicação foi registrada. Tabela 3: Avaliação do efeito imunossupressor da dexametasona. Grupos Nº de animais Controle N=18 0,02 mg/animal/dia (~0,1 mg/Kg/dia) N=9 0,2 mg/animal/dia (~1 mg/Kg/dia) N=9 1 mg/animal/dia (~5 mg/Kg/dia) N=7 Total: 43 animais 35 III.5.2 CFA (Experimento 2) No experimento 2, os animais foram tratados por via i.p. nos dias +1, +3 e +5 após tratamento com CPZ (Tabela 6). Cada animal recebeu injeções de CFA na dose 10mg/animal/dia (Tabela 4). O grupo controle foi tratado com veículo (água destilada). O volume de aplicação foi de 500µL. A ocorrência de qualquer sangramento durante ou após a aplicação foi registrada. Todo o material não descartável utilizado neste experimento foi exposto à solução descontaminante. Tabela 4: Avaliação do efeito imunossupressor da ciclofosfamida. Grupos Nº de animais Controle N=9 10 mg/animal/dia (~50 mg/Kg/dia) N=9 Total: 18 animais III.5.3 TAL (Experimento 3) No experimento 3, os animais foram tratados diariamente por via oral (v.o.) através de entubação gástrica nos dias -1, 0, +1, +2, +3, +4, +5 e +6 (Tabela 6). Cada animal recebeu TAL na dose de 50 mg/Kg/dia (Tabela 5). Os grupos controles foram tratados com 36 veículo (óleo de milho). O volume de aplicação foi de 5 ml/Kg/dia. Este volume variou de 800µL a 1200µL de acordo com as diferenças de pesos entre cada animal em cada dia de tratamento. Tabela 5: Avaliação do efeito imunossupressor da talidomida. Grupos Nº de animais Controle N=10 50 mg/Kg/dia (~10 mg/animal/dia) N=10 Total: 20 animais III.6 Análise Estatística A análise dos pesos relativos dos órgãos imuno-relacionados e dos IP e IC foi realizada por testes não-paramétricos, i.e. o teste de Kruskal-Wallis seguido do teste U de Mann-Whitney. Outros parâmetros foram avaliados pela análise de variância de um critério (one-way), seguida pelo teste t de Student. Em todos os casos a diferença entre os grupos foi considerada estatisticamente significativa quando p ≤ 0,05. Os cálculos estatísticos foram realizados com o software MINITAB 10.5 (MINITAB Statistical SoftwareTM , Minitab Inc., PA, USA, 1995). 37 Tabela 6: Esquema de tratamento com dexametasona, ciclofosfamida e talidomida. CPZ (s.c.) dias DXM (i.p.) 0,02; 0,2 e 1,0mg/animal -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5 +6 ELP X X CFA (i.p.) 10mg/animal TAL (v.o.) ~10mg/animal Sacrifício X X X X X X X X X X X X X X +7 38 IV. RESULTADOS Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos na avaliação do efeito imunossupressor da DXM, CFA e TAL sobre o aumento do linfonodo popliteal induzido pela CPZ em ratos e sobre os pesos de baço, fígado e timo. IV.1 Efeito da DXM Animais tratados com CPZ na pata direita e que não receberam DXM por via i.p. apresentaram um aumento de cerca de 3 vezes no peso do linfonodo popliteal direito (IP: 3,00 ± 1,07) – Tabela 7 e Figura 8. O número de células por linfonodo aumentou de 0,33 x106 no lado esquerdo (lado controle) para 3,55 x106 no lado direito (lado tratado com CPZ). O IC deste grupo foi 21,73 ± 19,87. O aumento induzido por CPZ tanto no peso (Tabela 7 e Figura 8) quanto na celularidade do linfonodo popliteal (Tabela 8 e Figura 9) foi inibido pela DXM nas doses de 0,2 e 1,0mg/animal. Tal inibição foi dose-relacionada e estatisticamente significativa tanto quando analisamos os valores absolutos (e.g. peso e número de células dos linfonodos dos lados direito e esquerdo) quanto após a análise de IP e IC. Em contraste com as maiores doses estudadas, animais tratados com 0,02mg DXM não apresentaram alterações estatisticamente significativas de IP e IC, apesar de termos observado redução significativa do peso e da celularidade dos linfonodos popliteais. 39 Em todos os níveis de dose estudados a DXM alterou o peso e a celularidade tanto do linfonodo tratado quanto do linfonodo não-tratado com CPZ. Com relação aos outros orgãos estudados, a DXM provocou drástica redução de peso (relativo e absoluto) de timo e baço em todos os níveis de dose estudados (Tabela 9). Em doses iguais e maiores que 0,2 mg/animal, o peso relativo médio do timo (0,03 ± 0,02) chegou a valores 5 vezes menores que o valor médio observado no grupo controle (0,15 ± 0,03). Alterações no peso do fígado foram observadas em doses iguais e maiores que 0,2mg/animal. Neste caso o tratamento com DXM induziu um aumento dose-relacionado do peso relativo do fígado. IV.2 Efeito da CFA Como observamos nas Tabelas 7 e 8 e Figuras 8 e 9, o grupo tratado unicamente com CPZ (grupo controle) apresentou tanto IP (4,15 ± 2,39) quanto de IC (14,15 ± 13,36) maiores que os limites de positividade usualmente empregados no ELP (i.e. IP ≥ 2,0 e IC ≥ 5,0). O tratamento com CFA, assim como observado após tratamento com DXM, inibiu o número de células do linfonodo popliteal, tanto do linfonodo do lado tratado quanto do lado não-tratado com CPZ (Tabela 8). Vale ressaltar, que tanto IP quanto IC não foram parâmetros sensíveis para a detecção do efeito imunossupressor da CFA (Tabelas 7 e 8 e Figuras 8 e 9), mesmo em 40 doses (10mg/animal) em que sinais de toxicidade sistêmica (tais como atrofia do timo e baço) já eram evidentes (Tabela 9) IV.3 Efeito da TAL Assim como observado nos experimento 1 (DXM) e 2 (CFA), no grupo controle do experimento 3, animais tratados exclusivamente com CPZ apresentaram aumento dos IP (3,78 ± 1,84) e IC (19,72 ± 16,84) (Tabelas 7 e 8 e Figuras 8 e 9). TAL (10mg/animal) não inibiu o efeito da CPZ e os IP e IC permaneceram maiores que os limites de positividade (i.e. IP=3,25 ± 0,80 e IC=13,04 ± 5,90). TAL foi o único dos três agentes imunossupressores estudados que não alterou o peso dos outros orgãos imuno-relacionados (Tabela 9). 41 Tabela 7: Efeito dos agentes imunossupressores sobre o índice de peso. N IP PESOS DOS DIREITO LINFONODOS (g) ESQUERDO Experimento 1 DXM(mg/animal) 0 0,02 0,2 1,0 18 9 9 7 3,00 ± 1,07 2,81 ± 1,50 2,19 ± 1,37 a 1,56 ± 1,17 a 0,019 ± 0,006 0,011 ± 0,003 a 0,006 ± 0,003 a, b 0,003 ± 0,001 a, b, c 0,007 ± 0,002 0,004 ± 0,002 a 0,004 ± 0,001 a 0,002 ± 0,001 a, b, c Experimento 2 CFA (mg/animal) 0 10 8 9 4,15 ± 2,39 2,74 ± 1,11 0,031 ± 0,014 0,015 ± 0,003 a 0,008 ± 0,002 0,006 ± 0,002 Experimento 3 TAL (mg/animal) 0 ~10 10 10 3,78 ± 1,84 3,25 ± 0,80 0,029 ± 0,007 0,025 ± 0,007 0,009 ± 0,003 0,008 ± 0,002 Os dados são apresentados como média ± desvio padrão. Os valores dos índices de peso (IP) foram analisados pelo teste KruskalWallis, seguido pelo teste de Mann-Whitney. Outros parâmetros foram avaliados pela análise de variância de um critério (one-way), seguida pelo teste t de Student. Em todos os casos a diferença foi considerada como estatisticamente significativa quando p< 0,05. Os símbolos são designados como segue: 0 : grupo controle; a: diferente do grupo controle; b: diferente da dose de 0,02 mg/animal (DXM) e c: diferente da dose de 0,2 mg/animal (DXM). 42 Tabela 8: Efeito dos agentes imunossupressores sobre o índice de celularidade. NÚMERO DE CÉLULAS x 106 DIREITO ESQUERDO N IC Experimento 1 DXM(mg/animal) 0 0,02 0,2 1,0 18 9 9 7 21,73 ± 19,87 8,76 ± 5,87 6,48 ± 9,56 a, b 2,20 ± 2,73 a, b 3,55 ± 1,52 0,90 ± 0,73 a 0,29 ± 0,26 a, b 0,10 ± 0,07 a, b 0,33 ± 0,24 0,10 ± 0,05 a 0,09 ± 0,09 a 0,06 ± 0,02 a, b Experimento 2 CFA (mg/animal) 0 10 9 9 14,15 ± 13,36 8,25 ± 5,38 6,81 ± 6,34 0,43 ± 0,32 a 0,52 ± 0,38 0,06 ± 0,03 a Experimento 3 TAL (mg/animal) 0 ~10 10 10 19,72 ± 16,84 13,04 ± 5,90 5,04 ± 1,83 3,29 ± 1,25 a 0,50 ± 0,42 0,27 ± 0,10 Os dados são apresentados como média ± desvio padrão. Os valores dos índices celularidade (IC) foram analisados pelo teste Kruskal-Wallis, seguido pelo teste de Mann-Whitney. Outros parâmetros foram avaliados pela análise de variância de um critério (one-way), seguida pelo teste t de Student. Em todos os casos a diferença foi considerada como estatisticamente significativa quando p≤0,05. Os símbolos são designados como segue: 0 : grupo controle; a: diferente do grupo controle e b: diferente da dose de 0,02 mg/animal (DXM). 43 Tabela 9: Efeito dos agentes imunossupressores sobre o peso dos órgãos imuno-relacionados. PESOS BAÇO absoluto % Experimento 1 DXM(mg/animal) 0,46 ± 0,06 0,25 ± 0,03 0 0,39 ± 0,04 a 0,22 ± 0,01 a 0,02 0,39 ± 0,07a 0,22 ± 0,04 a 0,2 1,0 0,32 ± 0,04 a, b, c 0,17 ± 0,02 a, b, c DOS ÓRGÃOS (g) FIGADO TIMO absoluto % absoluto % 9,98 ± 1,38 10,40 ± 1,32 10,77 ± 0,92 11,83 ± 0,33 a, b, c 5,50 ± 0,65 0,28 ± 0,06 0,15 ± 0,03 6,05 ± 0,69 0,12 ± 0,04 a 0,07 ± 0,02a 6,09 ± 0,55 a 0,05 ± 0,03 0,03 ± 0,02 a, b a, b 6,40 ± 0,38 a 0,06 ± 0,03 0,03 ± 0,01 a, b a, b Experimento 2 CFA (mg/animal) 0,56 ± 0,07 0,28 ± 0,02 0 0,31 ± 0,04 a 0,15 ± 0,02 a 10 10,42 ± 1,40 10,42 ± 0,86 5,29 ± 0,52 4,88 ± 0,48 Experimento 3 TAL (mg/animal) 0 ~10 11,37 ± 1,50 10,54 ± 1,47 5,35 ± 0,71 5,24 ± 0,58 0,51 ± 0,04 0,50 ± 0,06 0,24 ± 0,01 0,25 ± 0,02 0,33 ± 0,08 0,17 ± 0,04 0,05 ± 0,01 a 0,02 ± 0,01a 0,34 ± 0,04 0,29 ± 0,07 0,16 ± 0,02 0,14 ± 0,03 Os dados são apresentados como média ± desvio padrão. Os valores percentuais foram analisados pelo teste KruskalWallis, seguido pelo teste de Mann-Whitney. Outros parâmetros foram avaliados pela análise de variância de um critério (one-way), seguida pelo teste t de Student. Em todos os casos a diferença foi considerada como estatisticamente significativa quando p≤0,05. Os símbolos são designados como segue: 0 : grupo controle; a: diferente do grupo controle; b: diferente da dose de 0,02 mg/animal (DXM) e c: diferente da dose de 0,2 mg/animal (DXM). 44 Figura 8: Relação dose-resposta dos agentes imunossupressores no ELP (índices de peso). 5 Índices de peso 4 3 * * 2 1 0 0 0,02 0,2 1,0 DXM(mg/animal) 1 0 10 CFA(mg/animal) * p≤0,05 = diferente do grupo controle. 0 10 TAL(~mg/animal) 45 Figura 9: Relação dose-resposta dos agentes imunossupressores no ELP (índices de celularidade). Índices de celularidade 25 20 15 10 ** 5 0 ** 0 0,02 0,2 1,0 DXM (m g/anim al) 1 0 10 CFA(m g/anim al) 0 10 TAL(~m g/anim al) ) ** p≤0,05 = diferente do grupo controle e do grupo tratado com DXM na dose de 0,02mg/animal. 46 V. DISCUSSÃO O estudo das imunodeficiências primárias e secundárias contribuiu em muito para ampliar o conhecimento sobre os eventos que controlam o sistema imune e os efeitos seletivos capazes de alterar suas funções. A incapacidade de um indivíduo em produzir respostas imunológicas normais frente a estímulos antigênicos adequados leva ao aparecimento de determinadas manifestações clínicas, que incluem o aumento da vulnerabilidade do hospedeiro ao desenvolvimento de patógenos oportunistas (e.g. candidíase, pneumonia, tuberculose, amebíase, etc.), e o aumento de incidência de neoplasias, sobretudo, no desenvolvimento de linfomas e retículo-sarcomas. A percepção da gravidade das manifestações clínicas decorrentes dos quadros de imunodeficiência gerou entre membros da comunidade científica a preocupação com a possibilidade de que condição semelhante de imunodeficiência pudesse ser acidentalmente - via exposição ocupacional ou ambiental - induzida por xenobióticos e incentivou estudos sobre o potencial imunotóxico destas substâncias. (e.g. medicamentos, metais, substâncias químicas naturais ou industriais, etc.) A partir daí, muitos xenobióticos foram descritos como supressores da resposta imune, entre eles poluentes ambientais, tais como hidrocarbonetos aromáticos halogenados (e.g. as bifenilas policloradas (PCB), bifenilas polibromadas (PBB) e o 2,3,7,8tetraclorodibenzo-p-dioxina ou TCDD), metais (As, Pb, Hg, Cd e Sn) e pesticidas (Burns et al., 1996). É importante ressaltar que muitos destes estudos demonstram que o sistema imune pode estar comprometido sem que qualquer outro sinal de toxicidade sistêmica seja 47 observado e que os testes rotineiros de toxicidade crônica e subcrônica não são suficientes para evidenciar efeitos imunotóxicos. Muito do que conhecemos sobre imunossupressão induzida por xenobióticos provêm de estudos bastante complexos e de longa duração. De um modo geral, nestes estudos os animais são submetidos a avaliações imunológicas (e.g. quantificação de imunoglobulinas, citocinas, subpopulações celulares, etc.) após longo período de exposição à substância em questão. Ainda hoje, a comunidade científica carece de estratégias (i.e. modelos mais simples) que contribuam de maneira significativa num primeiro momento da avaliação de risco de xenobióticos, permitindo uma análise inicial sobre o potencial imunomodulador de determinada substância e, desta forma direcionando estudos posteriores mais complexos. Tais modelos atenderiam às necessidades rotineiras de avaliação de segurança e teriam aplicação importante, por exemplo, em estudos préclínicos de novos produtos. Neste caso, como em qualquer outro ensaio toxicológico, o “bom” modelo preditivo deve unir características desejáveis (i.e. fácil aplicabilidade, curta duração e baixo custo) e características imprescindíveis (i.e. sensibilidade e reprodutibilidade). É neste contexto que o ELP encontra aplicação. O ELP - ou ensaio do peso do linfonodo como inicialmente denominado - foi desenvolvido há mais de três décadas com o objetivo de se avaliar a atividade de células linfóides contra antígenos histoincompatíveis em roedores (Ford et al., 1970). A superioridade do ELP foi prontamente detectada, quando este ensaio foi comparado a outros testes de avaliação da medida da reação EVH. Dentre as vantagens oferecidas pelo ELP podemos citar: 1. maior sensibilidade na detecção da reação contra antígenos histoincompatíveis, i.e. cerca de 10 vezes maior do que aquela observada para o ensaio do 48 peso de rins (ou ensaio de Elkins), 2. melhor reprodutibilidade de resultados e 3. menor duração do tempo do ensaio, o que na prática representa uma diminuição significativa nos gastos necessários para a manutenção de animais em laboratório e uma redução na demanda de mão-de-obra. Além disso, o número de células linfóides necessárias para induzir a reação contra antígenos histoincompatíveis e o número de animais utilizados por teste são menores no ELP do que em outros ensaios de avaliação da reação EVH (e.g. ensaio do peso do baço). Por estas razões, o ELP tornou-se, ainda na década de 1970, um modelo promissor, considerado de boa aplicabilidade na avaliação da reação EVH local em roedores. Nos anos seguintes, outros autores investigaram os mecanismos envolvidos na linfodenopatia induzida pela reação EVH em camundongos (Emeson & Thursh, 1973) e em ratos (Rolstad, 1976). De acordo com Piquet et al. (1977), em ratos o aumento do linfonodo popliteal é primordialmente causado pela proliferação de linfócitos. Estes autores descreveram que não somente o peso, mas, sobretudo a celularidade, encontra-se significativamente aumentada no linfonodo mais próximo à pata tratada. Vos (Vos et al., 1973), em estudo realizado com TCDD, foi um dos primeiros autores a propor a utilização do ELP na avaliação de efeitos imunossupressores de xenobióticos. Neste estudo, os animais expostos à droga em questão foram aqueles que serviram como doadores de células linfóides histoincompatíveis. O tratamento de camundongos com diferentes doses de TCDD se deu uma vez por semana por um período de quatro semanas. As células esplênicas destes animais foram então, isoladas e injetadas em novos camundongos. Como resultado, observou-se que a exposição a células provenientes de animais previamente expostos ao TCDD, induzia um aumento do 49 linfonodo popliteal significativamente menor do que aquele observado em animais que receberam células não expostas ao TCDD. Já na década de 1980, um achado importante observado por Gleichmann evidenciou a possibilidade de uma nova aplicação deste ensaio. Helga & Ernst Gleichmann (Gleichmann, 1981 e Gleichmann et al., 1984) através de estudos desenvolvidos com uma droga anti-epilética, i.e DPH, foram os primeiros a demonstrar que xenobióticos associados ao aparecimento de reações do tipo auto-imune no homem, induzem em roedores alterações de peso e celularidade do linfonodo popliteal. Tal efeito foi detectado como sendo semelhante aquele observado na reação EVH e foi o ponto de partida para a utilização do ELP como ensaio preditivo de reações auto-imunes provocadas por xenobióticos. O conceito proposto por Gleichmann (1981) alcançou maior credibilidade quando, no final da década de 1980, cerca de 70 compostos foram testados através do ELP (Kamüller et al., 1989 e Verdier et al., 1990). Isto tornou possível concluir que a grande maioria dos xenobióticos que estão claramente associados à indução de reações autoimunes no homem (e.g. CAB, CPZ, DPH, EST, hidrazina (HDZ), penicilamina, zimeldina (ZMD), entre outras), induz resposta positiva no ELP; enquanto aqueles que nunca foram descritos como possíveis indutores de auto-imunidade no homem (e.g. barbital, cafeína etc.) são negativos no ensaio. Uma revisão detalhada de diversas metodologias propostas e/ou aplicadas ao ELP encontram-se em Descotes & Verdier, 1995. É importante ressaltar que, em linhas gerais, há um consenso entre aqueles que empregam o ensaio. Por exemplo, apesar de não 50 haver diferença evidente quanto ao sexo e idade de animais utilizados no teste, normalmente roedores com idade entre 06 e 11 semanas, e preferencialmente de um único sexo são usados em um mesmo experimento. O ELP pode ser realizado em ratos ou camundongos, ambos susceptíveis a grande maioria de substâncias positivas. Entretanto, o rato é usualmente a espécie de escolha, principalmente por ser maior em tamanho, o que facilita a retirada dos linfonodos popliteais. A substância a ser testada é sempre injetada por via s.c. em uma das patas posteriores (preferencialmente a pata direita), enquanto a pata esquerda serve como controle e nela é injetado somente o veículo. Os veículos empregados são, via de regra, salina ou dimetil sulfoxido (DMSO). Outros veículos, tais como etanol e acetona não devem ser usados, pois podem alterar tanto peso quanto celularidade do linfonodo popliteal em conseqüência de um efeito irritante primário. Devido a sua viscosidade, veículos como óleo de milho, óleo de parafina e propileno glicol também podem induzir resposta positiva no linfonodo popliteal (Goebel, 1996). O volume de injeção é sempre de 10µL em camundongos e 50µL em ratos, apesar de estudos sobre os efeitos volume-relacionados serem escassos. Com relação à dose da substância que leva ao estímulo antigênico, arbitrariamente, definiu-se 1mg/camundongo e 5mg/rato como sendo as doses máximas a serem empregadas neste ensaio. Entretanto, principalmente nos casos de substâncias, cuja ação imunogênica requer indução da ativação metabólica, e.g. isoniazida e procainamida (PA), observou-se que um aumento na dose pode ser útil. Por outro lado, o aumento na dose pode levar a um quadro de toxicidade sistêmica, como aquele observado após tratamento com mercúrio (Verdier et al., 1993). Na grande maioria dos casos, assim como no presente estudo, os linfonodos popliteais são retirados sete dias após o tratamento por via s.c. Entretanto, para algumas 51 substâncias, como, por exemplo EST e ZMD, este tempo pode não ser válido, por apresentar comportamentos farmacocinéticos (absorção, distribuição e excreção) diferentes (Thomas et al., 1989 e Krzystyniak et al., 1992). Quanto aos parâmetros avaliados, os índices de peso e celularidade são os mais freqüentemente empregados. Estes índices são sempre calculados através da razão entre valores encontrados no lado direito (tratado) pelo lado esquerdo (veículo). Outros parâmetros podem ser avaliados, tais como análise de receptores de membrana celular através de citometria de fluxo, análise histológica ou imunoquímica, análise de imunoglobulinas por ELISA, análise hematológica e bioquímica e produção de citocinas. Entretanto, a utilização de tais endpoints, além de aumentar significativamente o custo do ensaio, não se mostra útil e, de um modo geral, não contribui de maneira significativa para a interpretação final dos dados obtidos (Descotes, 1999). Enquanto diversos autores colaboravam na tentativa de consagrar o ELP como um ensaio preditivo de auto-imunidade induzida por xenobióticos (Hutenbach et al., 1987; Katsutani et al., 1992; Kubicka-Muranyi et al., 1993; Patriarca et al., 1993; Descotes et al., 1997 e Vial et al., 1997), Helga & Ernst Gleichmann (Gleichmann & Gleichmann, 1990) propuseram pela primeira vez uma versão modificada do ELP. De acordo com estes autores, tal versão serviria para detectar a ação imunossupressora de xenobióticos e manteria características interessantes e peculiares ao ELP, tais como curta duração, baixo custo e simplicidade. Na versão modificada do ELP proposta por Gleichmann & Gleichmann, os animais são tratados com a substância em questão por via sistêmica (em geral a via preconizada 52 para uso humano) e caso a substância tenha potencial imunossupressor será capaz de inibir o aumento do linfonodo popliteal induzido por um agente imunogênico. O agente imunogênico pode ter diferentes origens, i.e. drogas sabidamente positivas no ELP (e.g. CPZ, DPH, CAB, EST, etc.) ou células provenientes de outra espécie (e.g. hemácias humanas, células linfóides de outros roedores, etc). Com esta versão, Gleichmann & Gleichmann (1990) foram capazes de demonstrar com sucesso a ação imunossupressora da CCL em camundongos. Posteriormente, dados de Korte et al. (1990) confirmaram os achados de Gleichmann & Gleichmann, a partir da demonstração em ratos das propriedades imunossupressoras de outros agentes imunossupressores, i.e. a CFA e o TCDD. À primeira vista, a versão modificada do ELP parecia ser bastante promissora, o que contribuiu para que este ensaio fosse por diversas vezes citado como sendo um modelo versátil e vantajoso (Bloksma et al., 1995; Goebel et al., 1996 e Homey et al. 1997). Isto fez com que o ensaio deixasse de ser usado de forma ainda incipiente e mais recentemente fosse aplicado com a finalidade de detectar o efeito imunossupressor de novos medicamentos (Schorlemmer et al., 1998 e 1999) Entretanto, ao nosso ver, para que este ensaio possa ser definitivamente consagrado como modelo preditivo de um determinado desfecho, é necessário que muitos estudos de validação ainda sejam realizados. Neste sentido, questões importantes sobre o ELP merecem maior atenção. Por exemplo, é primordial que os mecanismos imunológicos envolvidos no ensaio sejam melhor compreendidos e que a interferência de questões importantes, tais como a natureza do estimulo antigênico, diferenças entre espécies, cinética e duração do tratamento com o xenobiótico estudado, seja melhor investigada. 53 Além disso, o fato de Korte, em estudo realizado ainda em 1991, (Korte et al., 1991) não ter sido capaz de reproduzir os dados obtidos em estudo prévio sobre o potencial imunossupressor do TCDD (Korte et al., 1990), parece ter sido negligenciado por aqueles que hoje aplicam o ELP. Outras questões importantes merecem maior atenção. Por exemplo, a proposta de se utilizar a versão modificada do ELP como modelo preditivo de imunossupressão induzida por xenobióticos, parte do princípio de que alterações induzidas por um agente imunogênico podem ser inibidas de forma seletiva por determinadas substâncias. Se isso ocorre, há uma inibição do aumento do peso e do número de células no linfonodo popliteal, e se o efeito é seletivo, a diminuição do linfonodo popliteal será exclusiva do lado tratado com o agente imunogênico. Em decorrência do efeito inibitório provocado pelo agente imunossupressor, observaremos uma redução dos IP e IC. Entretanto, nosso estudo não confirma tal seletividade. Embora tanto DXM (em todos os níveis de dose estudados), quanto CFA tenham reduzido o peso e o número de células induzidas pela CPZ (lado tratado), estas drogas atuaram de forma não seletiva, provocando diminuição significativa do linfonodo popliteal tanto no lado tratado quanto no lado não-tratado com CPZ. Se a substância em questão induz alteração não seletiva, i.e. diminuindo tanto o lado tratado quanto o lado não-tratado, a utilização do agente imunogênico torna-se totalmente indispensável. Em termos práticos, tanto para DXM quanto para CFA teríamos identificado o efeito imunossupressor, mesmo sem utilizar a CPZ. O mesmo ocorreu em estudos conduzidos por Homey (Homey et al., 1997), em que o efeito imunossupressor dos três corticosteróides usados teriam sido evidenciados independente da utilização do estímulo imunogênico (i.e. oxazolone). 54 Vale aqui um comentário adicional. Se tivéssemos analisado os resultados somente pelos IP e IC, como usualmente é feito, poderíamos ter concluído que a exposição a TAL, a CFA e a menor dose de DXM não causa imunossupressão. Estes dados nos fazem refletir sobre a aplicabilidade do ensaio e, sobretudo, sobre a utilização do IP e IC como parâmetros finais no ELP. Estes índices, embora sejam medidas amplamente utilizadas entre aqueles que empregam o ELP, mostraram-se parâmetros pouco sensíveis para avaliação de efeito imunossupressor das três drogas imunossupressoras utilizadas, mesmo em níveis de dose tão elevados que sinas de toxicidade sistêmica (tais como atrofia de timo e baço) já se faziam aparentes. Em nosso laboratório, o índice médio máximo de peso e celularidade obtidos nos três experimentos com a CPZ alcançaram valores de IP:4,15 e IC: 21,73 (Tabela 10). A variação entre experimentos não foi elevada, tendo sido menor do que aquela encontrada em estudos de validação inter-laboratorial (Vial et al., 1997) em que substâncias de mesma origem foram testadas em três diferentes laboratórios. Apesar da variabilidade genética existente entre doadores (Korte et al., 1991), a variação dos IP e IC observada em diferentes experimentos conduzidos com hemácias humanas (3,0 x 107 células por animal) foi equivalente àquela observada em nosso laboratório (Tabela 10). Com relação a amplitude do efeito induzido no linfonodo popliteal por outros agentes químicos (Tabela 10), podemos afirmar que alguns xenobióticos, tais como HDZ e EST induzem um aumento mais acentuado do linfonodo que outros, e.g. CPZ e ZMD (Vial et al., 1997). A CPZ pode ser considerada um agente imunogênico com potencial 55 moderado, e como pode ser visto na Tabela 10, nem mesmo induziu aumento do IP (i.e. IP<2,0) em um dos laboratórios que participaram do estudo de validação do ensaio. Por outro lado, o aumento de peso do linfonodo popliteal induzido em ratos híbridos Lewis x Brown-Norway (F1), que receberam aloenxerto de seus pais (i.e. 1x108 esplenócitos de ratos Lewis) é muito maior que aquela observada após indução por substâncias químicas (Schorlemmer et al., 1998 e 1999). Além de maior, a reação induzida por aloenxerto é bem mais rápida, sendo o aumento de peso do linfonodo popliteal já evidente 72 horas após o tratamento com este agente imunogênico. Apesar de não podermos prever a resposta da DXM, CFA e TAL em ensaios induzidos por outros estímulos antigênicos, acreditamos que se o ELP não se mostrou suficientemente sensível para detectar de forma seletiva a inibição de efeitos induzidos pela CPZ (considerado moderado), certamente não o seria para agentes imunogênicos mais potentes. Em diversos estágios metabólicos, os corticosteróides causam ampla deposição de glicogênio no fígado de ratos e camundongos (Laloux et al., 1983), além de aumentarem de forma significativa a concentração de proteínas nas células hepáticas (Guyton & Hall, 1997). Este fato foi, provavelmente, o que levou ao aumento dose-relacionado do peso relativo do fígado de animais tratados com as doses de 0,2 e 1,0mg DXM/animal. As profundas alterações no peso de timo, baço e linfonodos induzidas pela DXM estão de acordo com relatos anteriores (Stites et al., 2000). Corticosteróides exercem uma extensa destruição linfóide em ratos, estando este efeito relacionado à indução de apoptose em linfócitos. Além disso, através da modulação de moléculas de adesão presentes na superfície celular, corticosteróides inibem a migração de células circulantes para os linfonodos locais (Morison & Pike, 1985). 56 Nossos dados também sugerem que a redução de peso induzida por DXM está ligada à redução da celularidade dos linfonodos popliteais. Vale observar que, e.g. no caso da dose de 0,02mg DXM/animal, o número de células do lado tratado com CPZ (0,90 ± 0,73 x 106) foi cerca de três vezes maior que o número encontrado no linfonodo esquerdo (não-tratado) de animais não imunossuprimidos (0,33 ± 0,24 x 106) (Tabela 8). Isto significa que mesmo em animais profundamente imunossuprimidos, a CPZ induziu aumento do linfonodo popliteal. Porém, não sabemos se as células restantes no local da reação estão funcionalmente comprometidas. Vale ressaltar que o objetivo do presente estudo foi avaliar a aplicabilidade do ELP modificado na identificação de um efeito imunossupressor. Desta forma as drogas aqui estudadas são sabidamente imunossupressoras e induziram imunossupressão maciça, causando inclusive atrofia de outros orgãos imuno-relacionados. Mesmo assim, o ensaio não foi sensível e os IP e IC não revelaram de forma satisfatória o potencial imunossupressor destas drogas. Estes dados sugerem que, provavelmente um efeito imunossupressor mais brando, como aquele a que mais provavelmente estaríamos sujeitos após exposição acidental, dificilmente seria detectado pelo ELP modificado. Estes dados devem incentivar a pesquisa sobre o desenvolvimento de novos modelos mais sensíveis. Outra limitação do ELP é o fato de que entre diferentes indivíduos, observamos que a amplitude da reação induzida por agentes imunogênicos, sejam eles de origem biológica ou não, é extremamente variável. Esta variação não é exclusividade do modelo animal, é também observada após a exposição humana a drogas positivas no ELP. A PA, por exemplo, está associada ao aparecimento de LES no homem. Isto ocorre em aproximadamente 30% dos pacientes cronicamente expostos a PA e hoje se sabe que a 57 indução de LES por PA depende fortemente de características genéticas e metabólicas do paciente. As diferenças individuais observadas nas respostas induzidas no ELP aumentam a variação dos resultados, o que na prática, vai levar a um aumento obrigatório no número de animais por experimento. Num momento como o que vivemos hoje, em que observamos uma forte tendência internacional de redução no número de animais envolvidos na pesquisa científica, é difícil justificar a implementação de ensaios como o ELP. Além disso, vale ressaltar que apesar de amplamente utilizado, até hoje, desconhecemos os princípios imunológicos envolvidos no ensaio, o que ao nosso ver, deve servir de incentivo para o desenvolvimento de um maior número de pesquisas científicas neste ramo específico da imunotoxicologia. Diante de todos os fatos acima descritos, vemos como, no mínimo, prematura a afirmativa de alguns autores (Gleichmann & Gleichmann, 1990; Goebel, 1996; Homey et al., 1997 e Schorlemmer et al., 1998 e 1999) de que o ELP tem boa aplicabilidade como ensaio preditivo de imunossupressão induzida por xenobióticos. Apesar do ELP ser um ensaio extremamente simples, algumas limitações – como as que foram aqui discutidas – dificultam a implementação definitiva deste ensaio na rotina da avaliação imunotoxicológica. Esperamos que, com a presente avaliação, tenhamos contribuído na discussão sobre a aplicabilidade deste ensaio. 58 Tabela 10: Aumento do linfonodo popliteal de ratos com substâncias (e hemácias) positivas no ELP em diferentes laboratórios. Lab. 1 a Lab. 2 Lab. 3 Exp. 1 b Exp. 2 Exp. 3 Exp. 1 c Exp. 2 Exp. 3 N=8 N=8 N=8 N=6 N=10 N=31 N=18 N=9 N=10 1,38 ± 0,34 4,74 ± 1,03 16,04 ± 2,23 4,45 ± 0,49 58,03 ± 14,72 ND ND ND ND ND ND 3,00 ± 1,07 4,15 ± 2,39 3,78 ± 1,84 21,73 ± 19,87 14,15 ± 13,36 19,72 ± 16,84 7,77 ± 3,70 23,11 ± 9,75 7,28 ± 1,63 94,65 ± 31,71 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND 6,30 ± 1,00 21,73 ± 9,97 8,39 ± 3,79 146,61 ± 62,10 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND 3,63 ± 0,62 16,95 ± 8,46 4,82 ± 0,86 37,48 ± 21,05 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND CPZ IP IC 13,33 ± 10,42 HDZ IP IC 9,03 ± 2,34 64,46 ± 4,74 EST IP IC 7,98 ± 1,06 36,73 ± 9,38 ZMD IP IC 3,23 ± 0,59 24,43 ± 8,81 Hem IP ND ND ND ND ND ND 3,2 ± 1,3 4,4 ± 7,9 2,5 ± 0,9 IC ND ND ND ND ND ND 16,8 ± 8,2 17,1 ± 11,3 12,5 ± 9,6 O ELP foi realizado como descrito na seção de material e métodos. Em todos os casos foram usadas ratas Wistar entre 7 e 11 semanas de idade. O veículo foi salina e a dose do agente imunogênico 5mg/animal. O intervalo de tempo entre o tratamento com o agente imunogênico e o sacrifício dos animais foi de 7 dias. a: segundo Vial et al., 1997; b: segundo Korte et al., 1991; c: nosso laboratório; Lab.: Laboratório, Exp.: Experimento e Hem.: Hemácias. 59 VI. CONCLUSÕES O ELP não foi sensível para detectar o efeito dos agentes imunossupressores aqui estudados, mesmo em doses em que sinais de toxicidade sistêmica já eram evidentes. A análise de cada uma das três etapas do estudo nos permite concluir que: 1. em todos os níveis de dose estudados, a exposição à DXM causa redução dos pesos absolutos e relativos de timo e baço, além de reduzir o peso e a celularidade dos linfonodos popliteais. Entretanto, a diminuição de peso e celularidade induzida pela DXM ocorreu tanto na pata tratada quanto na pata não-tratada com CPZ. Os IP e IC foram menores nas duas maiores doses de DXM mas a diminuição é relativamente discreta se comparada à drástica redução de celularidade e peso dos linfonodos observada nestas doses. Além disso, o tratamento com 0,02mg DXM/animal não induziu diminuição significativa dos IP e IC; 2. a exposição à CFA reduz o peso absoluto e relativo de timo e baço, além de reduzir o peso e a celularidade dos linfonodos popliteais. Também aqui, a diminuição induzida pelo agente imunossupressor não é seletiva, tendo sido observada tanto na pata tratada quanto na pata não-tratada com CPZ. A exposição a CFA não alterou significativamente os IP e IC; 3. A TAL foi a única droga estudada que não causou alteração de peso dos orgãos analisados. Apesar de ter reduzido significativamente o número de células do 60 linfonodo popliteal da pata tratada com CPZ, a TAL não alterou significativamente os IP e IC. Em conjunto, os resultados obtidos neste trabalho nos permitem concluir que o ELP não pode ser usado como ensaio preditivo de reações imunossupressoras induzidas por xenobióticos. 61 VII. REFERÊNCIAS ABBAS, A.K., LICHTMAN, A.H. & POBER, J.S. Celular and Molecular Immunology, W.B. Sanders Company, 3th edition, 1997. BELLANTI, J.A. Immunotoxicology: overview and future perspectives. Annals of Allergy, 66: 465-473, 1991. BLOKSMA, N., KUBICKA-MURAMYI, M., SCHUPPE, H.C., GLEICHMANN, E. & GLEICHMANN, H. Predictive immunotoxicological test systems: suitability of the popliteal lymph node assay in mice and rats. Crit Rev Toxicol, 25 (5): 369-396, 1995. BONNEY, W.W. & FELDBUSH, T.L. Graft-versus-host reaction in the rat popliteal lymph node. Transplantation, 15 (2):215-220, 1973. BURNS, L. A., MEADE, B. J. & MUNSON, A. E. Toxic responses of the immune system. Casarett & Doulls Toxicology. The basic science of poisons, Ed. Klaassen C.D., International Edition, 355-402, 1996. 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