A ale ga ção do Pre si den te e so ció lo go Fer

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Sexta-feira
19
DIÁRIO DO SENADO FEDERAL
A alegação do Presidente e sociólogo Fernando
Henrique Cardoso de que não haveria no País profissionais em número suficiente com curso de Sociologia e Filosofia para ministrar as disciplinas é um grande erro que salta aos olhos, e por tal é contestada pelos abalizados depoimentos do Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação,
Carlos Augusto Abicalil, e pelo Presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia, Antônio Prado.
Merece realçar que o projeto de autoria do Deputado Padre Roque, do PT do Paraná, atendeu a
uma proposta elaborada pelo Fórum Nacional em Defesa de Escola Pública e por muitos estudiosos desde
o ano de 1988, quando foi iniciada a discussão sobre
a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dos textos aprovados em 1990 e 1993 na Câmara
dos Deputados, como também no texto aprovado no
Senado em 1994, já constava esta proposição.
Tanto a justificativa do projeto como o relatório
oferecido nesta Casa pelo Relator, ilustre Senador
Álvaro Dias, fizeram uma correta defesa da propositura. O Congresso Nacional se manifestou e atendeu o
apelo da sociedade; o Presidente, insensível, vetou.
Sua Excelência, ao qualificar o projeto de “contrário ao interesse público”, desserve à nacionalidade
por se assentar sobre falsas premissas e por privar o
pensamento nacional da reflexão crítica, promovendo
um verdadeiro apagão cultural.
Em correspondência recebida pelo professor
universitário Paulo Ghiraldelli Júnior, da Unesp, assim
se expressou uma colega européia:
Paulo, eu consigo entender um absurdo: um país como o Brasil com racionamento de energia; mas não consigo entender
este outro absurdo: um país como o Brasil
com racionamento de professores de Filosofia e Sociologia.
Prossegue o professor Ghiraldelli, com justa razão, afirmando que a Filosofia e a Sociologia são disciplinas tão significativas no patrimônio da cultura ocidental quanto a Matemática, a Física, a Biologia, a
Química, o Desenho e outras.
E mais, que o próprio ensino da Filosofia e da
Sociologia em nível superior, em nosso País, não
pode mais sobreviver gerando pessoas cujo trabalho
se resume em pesquisar assuntos que não são minimamente de razoável domínio público e em ensinar
aqueles que, uma vez tendo procurado a Filosofia e a
Sociologia em nível superior, não tiveram o direito de
ter contato com elas no ensino pré-universitário.
Outubro de 2001
Em sua brilhante análise, conclui o ilustre filósofo paulista que a ”economia de energia elétrica vai
passar. Talvez nos ensine alguma coisa sobre nós
mesmos. Talvez não. A economia de filosofia e sociologia no ensino médio é algo que já durou muito e nos
ensinou uma boa lição sobre nós mesmos: ensinou-nos que tínhamos a oportunidade de adquirir,
com a escola, uma cultura média melhor do que a que
temos agora e que está na hora de reconstruirmos
essa oportunidade. Depende de nós mesmos.“
s
Srª e Srs. Senadores, o divórcio entre as soluções tecnocráticas e o compromisso ético da construção de uma sociedade justa perdurará, a depender da
vontade deste Governo, que, ao que tudo indica, deseja um ensino conservador e fisiológico, manuseado
de forma a preservar uma comunidade de pessoas
autômatas, subservientes aos interesses internacionais e incapazes de entender a função social do trabalho.
O apagão filosófico e sociológico que o sociólogo de ontem pretende impor à sociedade nos remete
à seguinte conclusão: Fernando Henrique Cardoso, o
sociólogo, pede ao povo brasileiro, aos estudantes e
professores que esqueçam não só o que ele disse,
mas também que esqueçam que Sua Excelência um
dia foi professor e sociólogo.
s
Srª e Srs. Senadores, este projeto foi elaborado
de maneira criteriosamente ética e recebeu milhares
de manifestações de apoio dos mais distintos segmentos da sociedade e dos mais variados matizes
políticos.
Argüir a falta de recursos para deixar de investir
na formação dos adolescentes é admitir a falência do
País, no mínimo, da educação, é renunciar a qualquer
perspectiva de um futuro com independência e dignidade, é capitular, sem glória, na luta de conduzir a Pátria a seu devido lugar entre as nações soberanas do
Universo.
Nada pode justificar que se continue privando o
cidadão brasileiro das bases de uma cultura humanista que entenda a razão de ser da pessoa, de seu relacionamento com o próximo e de sua inserção no corpo da sociedade.
Por tudo isso, dirijo-me a meus Pares nesta
Casa e na Câmara, para que façamos valer a vontade
do povo e dos Estados federados que aqui se fazem
representar, a fim de derrubarmos o veto.
Eram essas as considerações e o registro que
eu gostaria de fazer, Sr. Presidente. Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Ramez Tebet) – Sobre a
mesa, projetos de lei do Senado que serão lidos pelo
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