UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I PEDAGOGIA – HABILITAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL DIANA FELICE FERNANDES CEDRAZ DE ALMEIDA O FAZER PEDAGÓGICO E AS CONCEPÇÕES CONSTRUTIVISTAS: reflexões sobre o Colégio Célestin Freinet Salvador 2012 DIANA FELICE FERNANDES CEDRAZ DE ALMEIDA O FAZER PEDAGOGICO E AS CONCEPÇÕES CONSTRUTIVISTAS: reflexões sobre o Colégio Célestin Freinet Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia com Habilitação em Educação Infantil, do Departamento de Educação, Campus I, da Universidade do Estado da Bahia, sob a orientação do Profª. Drº Gilmário Moreira Brito Salvador 2012 FICHA CATALOGRÁFICA Sistema de Bibliotecas da UNEB Almeida, Diana Felice Fernandes Cedraz de O fazer pedagógico e as concepções construtivas: reflexões sobre o Colégio Celestin Freinet / Diana Felice Fernandes Cedraz de Almeida . - Salvador, 2012. 55f. Orientador: Prof. Dr. Gilmário Moreira Brito. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2012. Contém referências. 1. Educação - Bahia. 2. Aprendizagem. 3. Construtivismo (Educação). I. Brito, Gilmário Moreira. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 370.1523 DIANA FELICE FERNANDES CEDRAZ DE ALMEIDA O FAZER PEDAGOGICO E AS CONCEPÇÕES CONSTRUTIVISTAS: reflexões sobre o Colégio Célestin Freinet Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia com Habilitação em Educação Infantil, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob a orientação do Profª. Drº Gilmário Moreira Brito Salvador, 30 de março de 2012. Aprovada em, 30 de março de 2012. BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Prof. Drº. Gilmario Brito – Orientador Universidade do Estado da Bahia ______________________________________ Profª. Msc. Adelaide Rocha Badaró Universidade do Estado da Bahia ______________________________________ Profª. Msc. Rilza Cerqueira Santos Universidade do Estado da Bahia Dedico este trabalho a toda minha família, por incentivar e impulsionar esta conquista, principalmente a minha Mãe, pessoa que me deu motivo para trilhar este caminho. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus por ter permitido alcançar esta vitória, concluindo mais uma etapa da minha vida. Agradeço a Ele, por ter colocado durante a minha trajetória acadêmica, anjos que me orientaram, me acolheram nos momentos que pensei em desistir, me ajudando a dar mais um passo em busca desta conquista. Não posso deixar de mencionar os nomes daqueles que foram imprescindíveis, contribuindo de forma incisiva na minha formação. Então queridas amigas, Fabiana Trindade, Noenil Costa, Daniele Caldas, muito obrigada! Obrigada professor, Gilmário, pela paciência, pela dedicação e pelas orientações no decorrer deste trabalho de conclusão de curso! Obrigada querida professora Adelaide Badaró, por me estender a mão, por ouvir meus anseios e por me acalmar com suas orientações neste momento tão importante. Obrigada a vocês, pessoas especiais da minha vida, que contribuíram mesmo que indiretamente para esta conquista, obrigada pais, irmãos e amigos e namorado, sem o amor e carinho de vocês, jamais teria força para chegar até aqui. “Seja como for, temos de esquecer a nossa formação escolar em que a objetividade pretendia explicar tudo e as nossas obrigações estritamente pedagógicas se identificavam com a mania de ensinar; à nossa frente, sem nos pedir licença, a criança enveredava por outros caminhos, os que lhe são próprios, e por processos de tentativas, essencialmente instintivos, deslocando-se para onde quer, certa do concurso dos seus poderes como o caracol segregando a concha. Há que entrar resolutamente no reino da infância.” CÉLESTIN FREINET (1997, p.297) RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar as observações feitas no Colégio Célestin Freinet, com as turmas e os professores do sétimo ano e do nível dois, onde é analisada a forma que os educadores abordam a aprendizagem, levando em consideração a concepção construtivista e a maneira que lidam com a teoria na hora de colocá-la em prática. Para isto inicialmente é apresentado à história do Colégio, dos professores observados e também a relação que a instituição possui com o educador Célestin Freinet, que dá nome a instituição e sua influência nas práticas pedagógicas. A pesquisa aborda os projetos pedagógicos adotados pelo colégio e o cotidiano da sala de aula, expondo a forma como os alunos aprendem. Palavras chave: Aprendizagem, Construtivismo, Colégio Célestin Freinet. ABSTRACT This paper aims at presenting the observations made in Celestin Freinet College, with classes and teachers in the seventh grade and level two, where it is analyzed the way educators approach learning, taking into account the constructivist conception and the way they deal with the theory's time to put it into practice. For this is initially presented to the history of the College, the teachers observed and also the relationship which the institution has with the educator Celestin Freinet, which names the institution and influence on teaching practices. The study discusses the pedagogical projects adopted by the college and everyday life of the classroom, exposing the way students learn Keywords: Learning, Constructivism, College Celestin Freinet SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10 1. O COLÉGIO CÉLESTIN FREINET ................................................................. ............12 1.1 HISTÓRIA DO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET ..................................................................12 1.2 ENTRE O PROJETO POLÍTICO E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET........................................................................................................................16 2. PROCESSO DE APRENDIZAGEM SEGUNDO ABORDAGENS CONSTRUTIVISTA. ..................................................................................................... 21 2.1 A APRENDIZAGEM NO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET. .................................................21 3. A TEORIA E PRÁTICA CONSTRUTIVISTA NA DOCÊNCIA DO PROFESSORES DA TURMA DO SÉTIMO ANO DO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET. ........... ..... 34 3.1 PROJETOS PEDAGÓGICOS ADOTADOS PELO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET ...........34 3.2 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS APLICADAS NA SALA DE AULA. .................................43 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 52 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 55 10 INTRODUÇÃO Ao levar em consideração o processo da ação educativa exercida por professores em situações planejadas de ensino-aprendizagem, bem como os fenômenos educacionais emergentes, uma questão fundamental permeia preocupações básicas no que tange a prática dos professores que atuam em sala de aula: como podem os professores articular o pensar e o fazer pedagógico numa concepção construtivista? O construtivismo se desenvolve pela interação do individuo com o meio físico e social, constituindo-se pela força da ação e não por qualquer trabalho prévio. Deste modo, podemos entender que os fenômenos construtivistas, devem ser um processo de construção, a partir do qual o conhecimento deve ser gerado pela interação entre o educando e o educador, como também pelas interações sociais e culturais de cada sujeito que está envolvido no processo de ensino-aprendizagem. Ressaltamos que a concepção construtivista tem bases teóricas nos estudos de Célestin Freinet, Piaget, Vygostky entre outros estudiosos que se dedicaram a estudar como se desenvolvem as estruturas mentais, sociais e culturais, que possibilitam a aquisição do conhecimento. Esses estudiosos contribuíram teórica e metodologicamente para ultrapassar os métodos arraigados na escola tradicional, graças aos resultados das suas pesquisas, as possibilidades de trabalho que podem se desenvolvidas no campo da educação hoje, não se limita apenas a repetição de conhecimentos cristalizados. Baseado nesta temática, a presente pesquisa tem como objetivo fazer um estudo, de como a concepção construtivista é desenvolvida em duas turmas do Colégio Célestin Freinet, as turmas são do sétimo ano, do ensino fundamental e a do nível dois, da educação infantil. A pesquisa traz relatos de observações a cerca da prática pedagógica utilizada pelos professores em sala de aula, respondendo a seguinte pergunta: Como os alunos do Colégio Célestin Freinet aprendem e como os professores ensinam? Para responder as perguntas foi feito uma observação no Colégio Célestin Freinet, no período do estágio supervisionado, durante seis meses. O Colégio está situado no subúrbio ferroviário de Salvador-BA, no bairro de Periperi, na Rua Cosme de Farias. A instituição existe a vinte e quatro anos e atualmente conta com aproximadamente trezentos e cinquenta alunos. Os alunos 11 deste colégio em sua maioria são de classe média baixa, muitos filhos de pais que não tiveram acesso à educação, trago estas informações por ser necessária para entendermos um pouco da realidade do aluno. O trabalho de observação fundamentou-se na epistemologia do educador Célestin Freinet, que ajudou a perceber como ocorre a aquisição do conhecimento do aluno, o qual pode sofrer influência do meio social em que está inserido. Durante as observações procurei compreender e verificar as contribuições das teorias construtivistas no trabalho desenvolvido em sala de aula e também fora dela, para isso foi necessário observar a metodologia utilizada pelos professores do sétimo ano e a professora do nível dois, no desenvolvimento de algumas atividades e projetos, analisando os efeitos da aplicação de princípios construtivistas nas salas do Colégio Célestin Freinet. Esta pesquisa apresenta a opinião dos professores da instituição, sobre a aprendizagem construtivista e expõe as concepções de ensino do Educador Célestin Freinet, mostrando quais as práticas utilizadas que se referem aos estudos e teorias do educador. São apresentados os momentos em que o Colégio se aproxima e se afasta dos conceitos trazidos pelo referido autor. Veremos nos capítulos a seguir, os relatos sobre as observações realizadas no Colégio Célestin Freinet, principalmente nas salas de aulas do sétimo ano e do nível dois, da educação infantil. Os capítulos desta pesquisa irão apresentar a história e abordagem pedagógica do Colégio, como acontece o processo de ensino aprendizagem e como os professores põem em prática o construtivismo. 12 1. O COLÉGIO CÉLESTIN FREINET A pesquisa começa, apresentando neste primeiro capítulo o Colégio Célestin Freinet e sua história, como surgiu, estrutura física, sua localização, o público alvo, o quadro de funcionários, assim como: objetivo pedagógico, metodologias de ensino adotadas pelo colégio, suas crenças e metas. Será exposta a forma que o Colégio Célestin Freinet endente a Educação e o processo de aprendizagem, mostrando a influência da pedagogia do educador Célestin Freinet para a prática pedagógica da instituição, bem como os procedimentos adotados que divergem do pensamento do educador. As informações apresentadas nesta pesquisa são dados coletados através das observações feitas nas salas do sétimo ano e do nível dois; entrevistas com a Diretora e o Coordenador do colégio; análise do Projeto Político Pedagógico e do regimento da instituição. 1.1 HISTÓRIA DO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET A escola Célestin Freinet, fundada em 08 de março de 1988, pela diretora Adinoam Cedraz de Almeida, está atualmente localizada na Rua Cosme de Farias nº 12, no Bairro de Periperi. Logo quando foi fundada, a escola funcionou durante um ano em um espaço cedido por outra escola, no mesmo bairro de Periperi, com alunos da Educação Infantil a quarta série do ensino fundamental. Com o objetivo de ampliar o número de turmas, a escola se mudou para o atual local e depois de aproximadamente cinco anos, o Colégio se organizou para receber turmas da quinta até a oitava série e posteriormente, expandiu para oferecer turma do primeiro ao terceiro ano do ensino médio. O Colégio hoje é amplo, com treze salas de tamanhos adequados ao número de alunos, com espaços que proporcionam a aprendizagem como: sala de vídeo, laboratório, palco para apresentações e quadra esportiva, além destes espaços o colégio possui uma área onde os alunos passam o intervalo, nela existe jogos de mesa, casinha para as crianças menores, jogos desenhados no chão, uma pracinha que promove a interação entre os alunos e a cantina. Para atender aos pais e aproximadamente a trezentos e cinquenta alunos, trabalham no Colégio, a diretora, duas secretárias, três coordenadores, vinte e dois professores da Educação Infantil até o nível médio, três funcionários de apoio e um porteiro. 13 Por estar situado numa área do subúrbio ferroviário de Salvador, mais especificamente Periperi, o público do Colégio é em sua maioria de classe média baixa, sendo geralmente o pai que trabalha para garantir o sustendo da família enquanto a mãe cuida dos afazeres do lar. Os pais dos alunos do sétimo ano e do nível dois da Educação Infantil trabalham a maioria, como motorista de ônibus, marceneiro, pedreiro, padeiro, policiais, vendedores de loja, técnicos em enfermagem e professores. As mães geralmente trabalham em casa, poucas trabalham fora como empregada doméstica, técnicas em enfermagem, cozinheiras e professoras. O Colégio Célestin Freinet é uma escola particular, que possui os valores da mensalidade abaixo das demais escolas particulares da região, o que atrai os pais que não querem por o filho na escola pública, mas que também não podem pagar uma escola mais cara. Estas informações foram obtidas através de documentos do Colégio e as fichas dos alunos. Os alunos do Colégio Célestin Freinet, estão inseridos na cultura do subúrbio ferroviário, que liga a região da calçada até o bairro de Periperi, abrangendo vinte e dois bairros. Até 1970 o local era formado por lugarejos, comunidades tradicionais de pescadores e veranistas que aproveitavam a pesca e as praias banhadas pelas águas da Baía de Todos os Santos. Hoje o Subúrbio Ferroviário se vê ocupado em sua grande maioria por moradores das classes populares. Após a construção da Avenida Afrânio Peixoto, conhecida como a Avenida Suburbana, o aumento das ocupações informais foi significativo, crescendo de forma desordenada, por falta de atenção dos órgãos públicos competentes. A Suburbana, como é conhecida, concentra boa parte das comunidades populares da cidade, que convive com a falta de emprego, abandono, violência urbana, moradia precária e pobreza. Apesar de todos os problemas, a região é enfeitada por praias de água calma, cultura popular retratada nos diversos grupos de capoeira, samba, música, terreiros e casas de candomblé, e na simbologia natural do Parque de São Bartolomeu. A história do subúrbio ferroviário e de Periperi pode ser conferida no site da Prefeitura de Salvador. O bairro de Periperi está inserido no contexto dos bairros que compõem o subúrbio ferroviário, surgiu como uma fazenda em meados do século XIX. Periperi deu início a seu crescimento desenfreado a partir da construção do trecho Calçada - Paripe. Alguns empregados da ferrovia, que corta todo o subúrbio ferroviário, arrendaram terrenos e construíram suas casas; assim surgiram os primeiros aglomerados. Com a instalação de complexos industriais na região, o número de moradores cresceu ainda mais. Hoje Periperi 14 cresce de forma desordenada, suas ruas mal conservadas, calçadas quase inexistentes, onde a população anda pelo meio da rua, disputando o espaço com carros, motos, bicicletas e até mesmo uma feira que acontece todos os dias na rua principal de Periperi. O bairro possui uma praça, chamada de Praça do Sol que é o local de lazer do bairro. Nesta localidade não há muitos espaços de lazer e diversão para os jovens, que acabam se envolvendo precocemente com a droga e sexo, sendo está uma região que existe muita criminalidade. No bairro a música escutada pela maioria dos moradores do bairro é o pagode, que toma conta das esquinas, e do pensamento das crianças e dos adolescentes. A música influência também no modo de vestir, falar, dançar e se comportar socialmente. É dentro deste panorama, desta cultura, que vivem os alunos do Colégio Célestin Freinet, que levam suas experiências para escola, tendo esta, que estar preparada para acolhê-los, ouvindoos e analisando cada um deles, para compreender como trabalhar em cima das suas necessidades e da realidade em que estão inseridos. Ao longo deste capitulo para entendermos melhor as escolhas das práticas pedagógicas do Colégio Célestin Freinet, vamos apresentar os agentes destas práticas, os professores do sétimo ano e a professora do nível dois, as informações foram obtidas através de uma entrevista concedida pelos mesmos. Veremos também como o Colégio Célestin Freinet se relaciona com a educação, quais os objetivos pedagógicos, como coloca em prática o construtivismo e qual a aproximação com o educador Célestin Freinet. Tendo em vista buscar conhecer os sujeitos que operam as práticas pedagógicas do colégio, vamos apresentar os professores do sétimo ano, tentando compreender suas posturas como docentes, em decorrência da formação acadêmica que cada um teve e sua vida social. Existem alguns pontos comuns entre os professores do sétimo ano, todos estudaram no período colegial em colégios públicos de Salvador e todos residem em bairros populares. Os professores do sétimo ano são: André professor de História de 28 anos, que mora no bairro de Plataforma, que também faz parte do subúrbio ferroviário de Salvador, participa da mesma cultura dos seus alunos. Para ele, “o conhecimento acontece a partir da interação do aluno com mundo em que vive, e este vai à escola com conhecimentos que a cultura o oferece.” Ao entrar na Universidade Federal da Bahia conheceu outras realidades, viajou, conviveu com outras pessoas e o conhecimento adquirido no curso, o fez enxergar a vida de outros ângulos. 15 Faz três anos que o professor trabalha com educação; a professora Telma, de 35 anos, que trabalha com educação há oito anos, é graduada em Letras pela Universidade do Estado da Bahia, para ela “o conhecimento leva o aluno a ser um cidadão critico reflexivo e de opinião própria, sendo gerado principalmente a partir interação entre o aluno, o professor e o meio social em que vive”. Durante a entrevista a professora avalia o construtivismo como um método que norteia o aluno a construir seus conhecimentos; o professor de Ciências José, formado em Biologia pela Universidade Católica de Salvador, morador do bairro de Brotas, tem 28 anos, trabalha em sala de aula há seis anos, e acredita que “o conhecimento mais significativo acontece quando o aluno aprende na prática, através do experimento”, sendo esta sua visão construtivista da aprendizagem; o professor Rogério de Geográfica, de 30 anos, que mora no bairro de Periperi, onde está localizado o Colégio. Rogério é formado em Geografia há cinco anos, tempo que começou a trabalhar com educação, para ele “o conhecimento é o ato de possuir um saber gerado a partir do contato com o objeto de estudo”. O professor pontuou ainda, durante o decorrer da entrevista, a importância do mediador, para que o aprendiz seja direcionado ao saber; e o professor Antonio, que é recém-formado pela Universidade Federal da Bahia, tem 25 anos, trabalha há dois anos na área de educação. Para ele “o aluno aprende com a prática”, acredita numa aula participativa e no caso da matemática, na utilização de “instrumentos e ferramentas que levem o aluno a perceber a matéria no mundo real”. Dentro desta perspectiva, observei que o professor Antonio mesmo não conhecendo propriamente as teorias construtivistas, adota em suas aulas uma prática que se refere ao construtivismo, desde quando relaciona o objeto de estudo com a realidade dos alunos. Acima foram apresentados os professores do sétimo ano, mas durante a pesquisa também foi observada a sala do nível dois, com a professora Rosa. Com 34 anos, é moradora de Periperi, bairro onde está localizado o Colégio, começou a ensinar aos 18 anos, como professora do magistério e é graduada em Pedagogia há 5 anos. Para ela, “o conhecimento do aluno da Educação Infantil acontece principalmente por meio da curiosidade, do manuseio do objeto e pela experiência”. Ao analisar o perfil dos educadores por meio da entrevista e dos questionários, notei que a maioria dos professores é de jovens, com poucos anos de experiência profissional, que muitos estão no processo de conhecer e se aprofundar sobre as concepções construtivistas, porém 16 utilizam práticas construtivistas, mesmo que sua compreensão teórica sobre o método seja limitada. Quando o professor começa a fazer parte do corpo docente do Colégio Célestin Freinet, a coordenação pedagógica lhe recomenda uma leitura cuidadosa do Projeto Político Pedagógico, e o Regimento Escolar, nos quais se encontram os fundamentos didáticos pedagógicos, as metas e os objetivos da instituição. Este primeiro contato já mostra a postura que a coordenação do colégio assume frente à educação, sinalizando qual apoio teórico que norteia a suposta prática a ser encontrada no Colégio. Este professor chega à escola com a sua própria bagagem teórica, sua visão de como ensinar e como os alunos devem apreender. Quando o mesmo se depara com o projeto pedagógico, pode encontrar aspectos que divergem do seu fazer pedagógico, já que ainda não experimentou trabalhar na perspectiva proposta do Colégio. Este professor então deve aprender a metodologia do Colégio, para desenvolver um trabalho interdisciplinar na instituição. Através destas informações referidas acima, será possível entender melhor a prática dos professores, os projetos adotados pelo Colégio Célestin Freinet e até mesmo analisar o fazer pedagógico da instituição, verificando como é trabalhada a cultura do aluno e seus conhecimentos prévios. 1.2 ENTRE O PROJETO POLÍTICO E AS PRÁTICAS PEDAGOGICAS DO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET Através do Regimento Escolar e do Projeto Político Pedagógico do Colégio Célestin Freinet vamos conhecer os fundamentos teóricos e objetivos da instituição, a fim de conhecer a proposta e de que forma o professor é convidado a trabalhar. A partir da leitura do Projeto Político Pedagógico o professor pode ter uma referência que deve nortear as ações pedagógicas dentro desta instituição de ensino. O regimento apresenta os princípios básicos do Colégio que estão fundamentados numa educação cristã, porém sem compromisso com igreja, numa orientação sociopolítica de base democrática, que procura acompanhar a dinâmica do tempo atenta às mudanças sociais tecnológicas e pedagógicas, educando para a formação do homem integral. Tendo como objetivo desenvolver no educando desde a Educação Infantil, suas potencialidades naturais, é 17 dado ênfase ao desenvolvimento de atitudes critica e reflexivas, através de atividades e vivencias que os levem ao autoconhecimento e autodescoberta, auxiliando-os a crescerem aptos a viver e conviver como cidadãos integrados socialmente e afetivamente, sendo agentes de transformação para o bem estar comum. Com intuito de alcançar estes objetivos acima citados, o Colégio tem como proposta pedagógica, desenvolver atividades que levem os alunos a: autodisciplina, utilizar recursos pedagógicos que os proporcionem conhecer e superar as limitações, apropriar de dinâmicas que os estimulem a descobrir a importância do outro, promover atividades que os façam reconhecer a realidade social da qual fazem parte, incentivar bons hábitos, conceber liberdades e exigir responsabilidade. De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Colégio Célestin Freinet, o lema da instituição, é Educar para a formação do Homem Integral, na busca deste homem. A direção propõe, aos professores, alunos e a todos que interagem com o ambiente escolar, valores como: respeito a si mesmo, ao outro, ao bem comum, a ordem democrática, solidariedade, autonomia, sensibilidade, habilidade, criatividade e curiosidade para atuar no mundo. O Colégio entende que a aprendizagem é construída através da interação do sujeito com o objeto do conhecimento, e da consequente relação entre o sujeito (aluno) e o facilitador de aprendizagem (professor) e todas as outras pessoas envolvidas no processo, não descartando os conhecimentos anteriores, afetivo e emocional. O fundamento didático pedagógico do Colégio parte das concepções prévias do aluno, propondo também que sejam criadas condições favoráveis para que o aluno construa seu próprio conhecimento; estabeleça relações significativas entre elementos de um universo simbólico proposto; exercite as operações mentais exigidas no estabelecimento das relações; aprenda significativamente e manifeste esta aprendizagem através das atividades desenvolvidas na escola; como também tenha iniciativa e autonomia para enfrentar desafios e empreender ações de mudanças e de desenvolvimento social. Após a leitura do Projeto Político Pedagógico, percebi que existe uma estreita relação entre o nome do Colégio e as práticas recomendadas pelo educador Frances Célestin Freinet, muitos dos princípios mencionados nos parágrafos anteriores, é correspondente aos pensamentos deste educador construtivista, que visava transformar a educação. A pedagogia Freinet (1976) tinha por objetivo, formar um homem mais livre, autônomo e responsável. Um homem 18 com condições de cooperar na transformação da sociedade. O trabalho escolar para Freinet deve estimular os alunos a aprender na escola da mesma maneira que são estimulados a aprender fora do ambiente escolar. Para ele a educação deve recorrer ao cooperativismo, produto do processo de integração, colaboração e cooperação para fazer e refazer, envolvendo o grupo no trabalho. Ele acredita que para o processo de aprendizagem, o professor deve proporcionar o contato da criança com as atividades manuais, com a terra e os bichos, buscando os centros de interesse das às crianças para que elas aprendam a partir de suas curiosidades. Todas estas abordagens apresentadas por Freinet podem ser vistas não só no Projeto Político Pedagógico da escola de uma forma teórica, como também na prática, pois durante o período de observação foi observado, projetos e práticas docentes que adotam as concepções de Freinet. Alguns dos projetos elaborados pelo Colégio têm o cunho educativo semelhante a propostas sugeridas pelo educador, a exemplo da aula-passeio, dos cantinhos pedagógicos e da troca de correspondência entre escolas. Com as observações nas salas do sétimo ano e do nível dois, foi possível perceber que o Colégio também segue as propostas de Freinet, quanto: ao texto livre, utilizado pela professora de português Telma, do sétimo ano, com o intuito de estimular os alunos a registrarem por escrito suas ideias, vivências e histórias; a cooperativa escolar que realiza reuniões periódicas com intuito de manter contato frequente com os pais. A este respeito Freinet (1977), defendia que a escola deveria ser extensão da família e acreditava que o conhecimento é fruto do tateamento experimental como atividade que possibilita formular hipóteses e testar sua validade. Seguindo estas recomendações algumas práticas pedagógicas do Colégio permitem aos alunos experimentar para chegar a uma conclusão e transformar a experiência em aprendizagem. Quanto a isso, observei que determinadas ações pedagógicas do colégio, levam os alunos a manusear o objeto de estudo, através de alguns projetos como: “Todos contra Dengue” e “Deixando o bairro mais bonito”, além de aulas, como a ministrada pela professora Rosa, do nível dois, que proporciona os alunos a aprender os conceitos de números ao manusear o objeto de estudo. Outra prática observada no referido Colégio, que segue a concepção Frenetiana é a questão da Auto-avaliação, momento no qual o aluno expressa o que aprendeu, faz criticas sobre as aulas e se classifica em nível de aprendizagem. O processo de auto-avaliaçao pode ser observado na 19 sala do sétimo ano, na aula ministrada pelo professor de História André, ao fechar a segunda da unidade do ano letivo. Segundo Freinet (1997), os alunos e os professores devem se avaliar constantemente. Ao comparar as ações pedagogias e as informações trazidas no Projeto Político Pedagógico do Colégio, notamos semelhas com a pedagogia do Educador Célestin Freinet, mas durante as observações foi possível perceber que também existem pontos divergentes, da postura Freneitiana. Célestin Freinet acreditava que o aluno devia ser olhado individualmente, para que o professor pudesse dar uma atenção especial, para isso o ideal seria que o número de alunos na sala de aula não ultrapassasse vinte. Contrariando a proposta de Freinet, o Colégio observado, apesar de ter uma sala de cada série, o grupo do sétimo ano era composto por 35 alunos, o que aumentava a demanda do professor, tornando-se mais complicado trabalhar a partir da realidade e dificuldades especificas de cada aluno. Não apenas no número de aluno por sala, que o Colégio diverge do educador Freinet. Apesar de o Colégio trabalhar de acordo com os conhecimentos prévios dos alunos, levando em conta sua realidade, em alguns momentos da observação na sala do sétimo ano, pude perceber que o cotidiano é trabalhado até certo ponto, pois os conteúdos acadêmicos precisam ser cumpridos, existindo uma exigência para isto e um prazo. Ou seja, o professor nem sempre consegue inserir o conteúdo previsto em uma prática pedagógica que vislumbre a experiência ou o cotidiano do aluno, ministrando uma aula mais expositiva e presa ao conteúdo didático, que vai de encontro às recomendações de Freinet (1973), pois o mesmo defende a ideia de que “ não é necessário sufocar as crianças com matérias para que elas consigam aprender”. Para ele, o papel da escola e dos professores é de proporcionar situações por meio das quais as crianças sintam necessidade de agir, ou seja, fazer com que elas se dediquem intensamente à descoberta de algo desperte seu interesse. Porém, por exigência da aplicação do conteúdo, nem sempre o Colégio consegue agir de acordo com a proposta do educador. Pude perceber durante o período da observação, que o colégio adota muitas posturas apresentadas pelo o Educador Célestin Freinet, porém os professores encontram flexibilidade para dialogar com outras concepções, não havendo austeridade quanto ao método pedagógico. É de interesse do Colégio, seguir os fundamentos básicos ao se tratar da aprendizagem a partir da experimentação, levando em consideração a cultura, a realidade em que vive o aluno, e principalmente o seu conhecimento prévio, mas além destes aspectos, a instituição assume 20 algumas posturas construtivistas de outros autores, como a de Vygotsky e a aprendizagem interacionista, e até a exigida pelo sistema de Educação Brasileira, que determina ao Colégio seguir alguns modelos, como de avaliação, as sequencias de conteúdos e também a preparação para o vestibular. Durante este trabalho, me perguntei se é possível nos dias atuais, utilizar apenas uma corrente teórica para alcançar uma aprendizagem significativa? Nesta pesquisa tentei responder a esta pergunta, nos capítulos seguintes vamos apresentar como o Colégio Célestin Freinet aborda a aprendizagem e relaciona a teoria e a prática no seu cotidiano escolar. 21 2. PROCESSO DE APRENDIZAGEM SEGUNDO ABORDAGENS CONSTRUTIVISTAS. Este capítulo apresenta observações feitas em duas turmas do Colégio Célestin Freinet, à turma do sétimo ano da educação fundamental e a do nível dois, da educação infantil. As observações contemplam as maneiras como os alunos destas turmas aprendem, levando em consideração os métodos pedagógicos utilizados pelo Colégio e pelos professores das turmas. Serão expostos relatos do coordenador do Colégio, referente aos aspectos que interferem na aprendizagem, mencionado às sugestões que traz o Projeto Político Pedagógico no que diz respeito ao ensino-aprendizagem, como também as observações sobre o trabalho feito na sala de aula, com foco nas práticas pedagógicas construtivistas. 2.1 A APRENDIZAGEM NO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET. A escola contribui para o desenvolvimento na medida em que aprender não é copiar ou reproduzir a realidade, dado que para a algumas concepções construtivista o aprender ocorre quando o aluno é capaz de elaborar uma representação pessoal sobre o objeto da realidade ou conteúdo que se deseja aprender. E para que a assimilação ocorra, é preciso que haja aproximação entre o conteúdo com o objetivo de apreendê-lo, que não deve ser vazia, mas rica de experiências, interesses e conhecimentos prévios. Nesse sentido é importante dialogar com Azenha (1993) para quem, ... nenhum conhecimento se deve somente às percepções, pois estas são sempre dirigidas e enquadradas por esquemas de ações. O conhecimento procede, pois, das ações, e toda ação que se repete ou se generaliza por aplicação a novos objetos gera, por isso mesmo, um ‘esquema’, ou seja, uma espécie de conceito práxico. A ligação fundamental construtivista de todo o conhecimento não é, portanto, uma ‘simples associação’ entre objetos, mas a assimilação dos objetos aos esquemas do indivíduo. (1993, p.42). Desse modo, determinados aspectos poderão adquirir novos significados e conceitos na concepção construtivista, se partir da formulação de definições que já possuam. O conhecimento pode sofrer modificações na forma de interpretação dos conteúdos, fenômenos ou situações, nesse processo, não só há modificações ao que já possui como também integração e apropriação de novos sentidos. 22 Os aspectos apresentados acima também puderam ser observados no Projeto Político Pedagógico do Colégio Célestin Freinet, quando menciona que o aluno deve se desenvolver, na medida em que produz significados adequados em relação aos conteúdos que fazem parte do currículo escolar. Sendo proposto pelo Colégio, que o professor direcione a prática de modo que o aluno contribua ativamente com as atividades e demonstre os conhecimentos prévios. O Projeto Político Pedagógico do colégio sugere ainda, que o professor aja como guia mediador entre as situações externas, levando em consideração a cultura e realidade do aluno. Observei então com a leitura do Projeto Político Pedagógico, que o Colégio Célestin Freinet recorre a métodos usados no construtivismo para direcionar o trabalho do professor. O Projeto Político Pedagógico do Colégio solicita que o educador perceba os alunos como seres compostos por saberes acarretado pelas suas experiências de vida, onde não é possível ignorar seus conhecimentos prévios, ensinando apenas o que é desejado que eles aprendam. Diante disto, se compreendermos que o processo mental está vinculado e articulado a função e estrutura cognitiva complexas, recorrentes e ativadas em todas as situações continuas, a ideia de tratar os alunos como ser manipulável está longe de uma concepção de ensino construtivista. Para o construtivismo, a aprendizagem de qualquer conteúdo escolar, requer atribuir um sentido e construir significados a tal conteúdo. Sobre a maneira como os alunos aprendem observei no Colégio Célestin Freinet, que é de interesse dos professores que os alunos aprendam, a partir do conhecimento que já possuem a partir daquilo que já tem um significado, que foi construído através da experiência social de cada um. Desta forma os alunos baseado nos conhecimentos que já existentes, continuam aprendendo gradativamente, reconfigurando novos conceitos, contando para isto com o auxílio do professor. Nessa direção Ferreiro e Teberosky interpretam Piaget e passam a compreender que o aluno é, ... um sujeito que procura ativamente compreender o mundo em que rodeia e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca. Não é um sujeito que espera que alguém que tenha conhecimento o transmita a ele por um ato de benevolência. É um sujeito que aprende basicamente através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo, que constrói suas próprias categorias ou pensamento ao mesmo tempo em que organiza o mundo. (1985, p.26) Assim compreende-se que, segundo apontam Ferreiro e Teberosky, que ao iniciar um determinado processo de aprendizagem o aluno apresenta uma determina disposição para 23 realizar as atividades propostas, que pode fazer surgir das assimilações dos conteúdos aparente, inexplicáveis, ou imprevisíveis, um ponto de partida para que ele possa inseri-lo na sua dinâmica cotidiana e conferi-lhes novos valores. A partir das observações diárias feitas no referido Colégio e das reflexões realizadas a cerca de como o aluno aprende, compreendi que vários aspectos interferem no processo de aprendizagem, tais como alguns aspectos pessoais que envolvem o equilíbrio do aluno, a autoestima, as suas experiências anteriores de aprendizagem, a capacidade de assumir riscos e esforços, como a capacidade de receber e pedir ajuda. Estas questões interferem em todo o desenvolvimento da aprendizagem, sendo de total relevância para o bom andamento de todo o processo. A exemplo disso cito o dia da observação feita no sétimo ano, quando no momento das rodas de discussões, feitas na aula de Historia ministrada pelo professor André, o mesmo chamou atenção para o aluno Neto, que sempre se omitia, calava, não debatia o tema e quando era solicitado na aula demonstrava nervosismo e não conseguia falar. Este problema era recorrente, o aluno Neto nunca colaborava com a discussão em sala de aula e não exprimia sua opinião. Neto falava com os colegas e com o professor nos momentos que não se sentia observado e avaliado, mas nas situações do debate em público, ele se calava. A postura que notei do professor frente a esta situação apresentada acima, foi que mesmo sabendo da dificuldade do aluno de se expressar em publico, o manteve presente nas rodas de discussão e sempre solicitava a sua participação, instigando sua fala através de perguntas que orientasse sua colocação quanto ao tema. Devido a atenção, a insistência e a forma como o professor conduziu a situação, fez com que Neto se expressasse aos poucos, no ultimo dia da observação o aluno já formulava seu pensamento em pequenas frases. Então diante desta situação percebo que o aluno também aprende através das dificuldades e principalmente a partir do auxilio do professor e da maneira que conduz a situação. Cabe ao professor perceber tais questões que interferem e atrapalha a aprendizagem, para que possa ajudar o aluno a superá-las e assim ter um bom rendimento, não só no que diz respeito ao meio acadêmico como na vida social. A maneira como os alunos aprendem no Colégio Célestin Freinet está principalmente ligada aos conhecimentos prévios do aluno, da bagagem intelectual que trazem antes mesmo de entrar nas escolas, saberes adquiridos diante da realidade em que vivem e das suas experiências. Para chegar a esta conclusão, obsevei o Projeto Político Pedagógico da escola e 24 a turma do sétimo ano. A situação que chamou atenção e que confirma o que citei, foi durante a aula de português com a professora Telma, onde o conteúdo a ser estudado eram as rimas. Foi solicitado pela professora que os alunos trouxessem para apresentar na sala de aula, poemas ou veros, de maneira que viessem na forma que os alunos os conheciam, ou seja, em forma de música, texto, recital. O material trazido pelos alunos retratou a realidade do bairro onde moram, a experiência individual de cada aluno, seus gostos e a familiaridade ou não com poemas. Muitos trouxeram músicas de pagode para mostrar as rimas, outras músicas de rap, pouquíssimos trouxeram rimas encontradas em poemas na forma de texto, esta é a realidade vivida e experimentada por eles. Com está atividade ficou claro a interferência que o meio provoca na formação do aluno, no nível de seu conhecimento. Dando sequência ao trabalho da professora, a mesma pediu para que todos expusessem o material trazido, mostrando onde existia rima, falou sobre elas, estudaram primeiro cada material e só então a professora mostrou para os alunos outros tipos de rimas encontrados em músicas e poemas brasileiros, trazendo autores renomados e dando a oportunidade do aluno expandir seus conhecimentos adquirindo um novo saber, uma nova aprendizagem. Quanto à aprendizagem de um novo conteúdo, podemos dizer que este é o produto de uma atividade mental construída pelo aluno, já que advêm de um conhecimento antes adquirido. É nessa atividade que se constrói e incorpora à estrutura mental, os significados e representações relativas ao novo conteúdo. Podemos observar com o exemplo da aula citada a cima, que a tarefa construtivista não pode partir do nada, pois a possibilidade de construir um novo significado, de assimilar um novo conteúdo, passa pela experiência de entrar em contato com o conhecimento prévio. Segundo Coll (1996), quando um aluno enfrenta um novo conteúdo a ser aprendido, sempre faz armado com uma serie de conceitos, concepções, representações e conhecimentos adquiridos no decorrer de suas experiências anteriores, que utiliza como instrumento de leitura e interpretação e que determina em boa parte as informações que selecionará como organizará e que tipo de relação estabelecera entre elas. (1996, p.61) Entretanto de acordo com que o aluno já sabe, pode fazer uma primeira leitura do novo conteúdo, atribuindo um novo significado e sentido iniciando dessa forma o processo de sua aprendizagem (re) alimentando e (re) processando informações continuamente. Os conteúdos são assimilados após a construção individual do mesmo. O ponto mais importante do processo 25 educacional é o aluno, sendo ele um ser ativo que aprende a aprender e para auxiliar nesta competência encontra a mediação do professor. Durante a observação feita no Colégio Célestin Freinet, constatei que além da atenção aos conhecimentos prévios, o aluno precisa em qualquer situação de aprendizagem de determinadas capacidades, instrumentos, estratégias e habilidades para completar o processo da aquisição do saber. É necessário contar além de tudo, com sua capacidade cognitiva, raciocínio, memória, algumas aptidões motoras, equilíbrio pessoal e com relação interpessoal, como já foi citado anteriormente. Entendendo que aprender é construir conhecimentos, identificando como funciona essa construção e a importância dos conteúdos vinculados a ação de entender conceitos, o Colégio Célestin Freinet, busca organizar atividades didáticas, desenvolvendo diversos conteúdos, que atendam todas as fases do saber. O plano de aula, ou até mesmo os projetos são pensados de forma que se trabalhe toda a dimensão da aprendizagem, ou seja, a prática do professor é pensada de forma que o aluno passe por todas as etapas, como a procedimental, que consiste principalmente no momento da observação, a etapa a conceitual, onde desenvolve o significado do objeto e a atitudinal, que é a forma como o aluno internaliza o conteúdo, como trabalha ou aguça a sua curiosidade. Então percebi que o plano de aula no Colégio é pensado em todas as suas fases, para que o aluno aproveite cada uma delas, a fim de que aprenda e internalize o conhecimento. Ao vivenciar o processo da construção do plano de curso, observei que esta é uma atividade complexa, que além do professor, demanda o envolvimento de toda a comunidade escolar. Para a sua construção o professor participa da jornada pedagógica, na qual os coordenadores do Colégio explicam o modo de trabalhar; após essa socialização do método de trabalho então o professor começa a planejar as atividades do ano letivo, incluindo já a elaboração de projetos. O plano de curso é pensado antes do início das aulas, para que durante o primeiro mês de do ano letivo já se tenha planejado os recursos e as interferências que serão necessárias para a construção e assimilação dos conteúdos novos, daí por diante o plano de aula é feito semanalmente. Toda a quinta feira, o professor entrega o plano de aula da próxima semana ao seu coordenador que analisa toda a didática da aula, dá suas opiniões ou acrescenta ideias para que então o plano seja executado. 26 Na prática cotidiana de ensino-aprendizagem, a utilização de métodos pedagógicos que levam os alunos a construírem o conhecimento, é bastante frequente no Colégio Célestin Freinet. Esse processo de ensino aprendizagem eu observei ao acompanhar uma aula de matemática para alunos de cinco anos do nível II, na qual entraram em contacto com o conceito de número através de jogos onde eles interagiram,fazendo interferências até que obtivessem o resultado, ponto culminante da aprendizagem, ou melhor, da reflexão sobre o conteúdo ali disposto. Na aula que observei o conteúdo trabalhado era o “Sucessor dos números”, a professora Rosa, confeccionou com os alunos um jogo de boliche, onde eles faziam os números de 1 até o 20 e colavam nas garrafas pets. Após a construção do jogo, as peças do boliche foram arrumadas aleatoriamente, um pouco distante uma da outra, para que o aluno, após o sorteio de um número, derrubasse o pino correspondente ao sucessor do numero sorteado. Notei no decorrer da atividade, que o aluno se mantinha entretido com a atividade, participando do jogo, interagindo com os colegas na tentativa de ajudar a descobrir o sucessor do número pedido. Desta maneira o aluno chega ao conhecimento através da prática, envolvendo-se com o conteúdo, gerando desta forma a vontade de aprender, construindo o saber passo a passo. Segundo Piaget (1973) “Conhecer não consiste em copiar o real, mas em agir sobre ele e transformá-lo.” Com base nesse pensamento podemos verificar que o Colégio Célestin Freinet, busca que o aluno experimente através da prática, formas e esquemas que culminem na aquisição do conhecimento, oferecendo oportunidades para que eles aprendam e se desenvolvam através do raciocínio e o manuseio do objeto do seu saber. Aliada a preocupação em subsidiar o aluno na aquisição dos conhecimentos necessários a sua etapa de desenvolvimento o Colégio Célestin Freinet se preocupa com os aspectos afetivos, e emocionais por considerar que o aluno apresenta dificuldade de aprendizagem quando estes aspectos não vão bem, influenciando na sua autoestima, no modo como se relaciona com os outros e até mesmo com o conhecimento; por isto o colégio trabalha com o acompanhamento psicopedagogico, focando principalmente na motivação dos alunos. Estas informações foram dadas pelo coordenador e psicopedagogo do Colégio que explica como funciona este acompanhamento com os alunos do Colégio Célestin Freinet. Segundo ele, o trabalho feito com o psicopedagogo, procura verificar as fragilidades do aluno, no que interfere na aprendizagem, pois ao diagnosticar o problema, pode-se pensar na melhor maneira para trabalhar com o mesmo, afim de que se obtenha uma melhor relação com conhecimento. O 27 coordenador explica ainda, que o aluno é encaminhado pelo professor do Colégio, que alerta sobre determinadas atitudes e comportamentos dos alunos que são dignos de um acompanhamento ou ajuda. Fora desta situação o aluno do Colégio Célestin Freinet, também pode procurar a ajuda por espontânea vontade, para isto existe o atendimento ao aluno todas as quintas-feiras, durante os dois turnos de funcionamento do colégio. No Projeto Político Pedagógico do colégio é recomendado que o psicopedagogo ao diagnosticar ou verificasse as dificuldades do aluno, principalmente no que diz respeito à aprendizagem, siga com atividades e com procedimentos que venham a ajudar o aluno a superar os problemas, sendo este um trabalho continuo, mesmo após ser verificado um avanço ou melhora, cabendo a este profissional também promover o diálogo com a família para explicar o que ocorre com o aluno, para que a família esteja ciente das necessidades do aluno e para que entendam como o colégio faz todo o acompanhamento. O projeto sugere que, caso o problema do aluno necessite de um acompanhamento de outra ordem, seja então solicitado aos pais que deem ao aluno o tratamento devido, encaminhando para o profissional mais apropriado para o caso. Este trabalho feito pelo Colégio Célestin Freinet é discutido por muitos autores que discutem sobre a interferência da afetividade no processo da aprendizagem, um deles é a autora Isabel Solé (2001), que ressalta no seu livro, a importância de reconhecer os aspectos afetivos para a motivação e interesse pela construção do conhecimento, pois para ela, o autoconhecimento e a autoestima, ligados ao processo educativo, possuem a função de mediadora na aprendizagem. Depois da conversa com o coordenador e o psicopedagogo do Colégio Célestin Freinet e ao refletir a citação de Solé, compreendi que além da atenção ao processo de ensinoaprendizagem em si, é necessário atenção aos aspectos que interferem nesta aprendizagem, pois a construção do conhecimento depende de muitas esferas existentes na sua realidade, como o as questões psíquicas do aluno, sua motivação e autoestima. Estas questões interferem diretamente no processo de aprendizado do aluno, pois quando bem trabalhado é um ponto aliado para a aquisição do saber, de modo que o aluno é mais confiante para buscar o conhecimento. No Colégio Célestin Freinet, segundo o coordenador e psicopedagogo Mario, existem atitudes educacionais no colégio e acompanhamentos psicopedagogicos que lidam com a motivação e com as relações psíquicas dos alunos que buscam entende-los e ajuda-los para que os mesmos estejam aptos a participar de forma significativa do processo de ensino- 28 aprendizagem. Por não ter tido a oportunidade de presenciar o trabalho feito pelo psicopedagogo, às informações dadas a cima foram originadas das observações feitas através do Projeto Político Pedagógico e de uma conversa com o coordenador e psicopedagogo do Colégio Célestin Freinet. Como já foi citado anteriormente, a prática mais utilizada para que o aluno aprenda e internalize o conteúdo no Colégio Célestin Freinet, está baseada numa postura atenta as experiências vividas pelos alunos e os saberes prévios. Observei na sala do sétimo ano, que as aulas começam sempre de modo a considerar aquilo que o aluno já sabe, dando valor aos seus conhecimentos para então aprofundá-los e até mesmo iniciar um novo conteúdo. Como exemplo desta postura, podemos citar a aula de historia, ministrada pelo professor André que tinha como tema o Feudalismo. O professor começou a aula, interrogando os alunos e considerando os esquemas de conhecimento que os alunos já tinham em relação com o conteúdo a ser trabalhado. O professor propôs desafios aos alunos à medida que os questionava e fazia com que elaborassem a reposta para aquilo que estava sendo perguntado. Depois do debate os alunos produziram um texto escrito sobre o que tinham aprendido durante toda a discussão. Desta forma observei que não foi ignorado o que o aluno já sabia, mas ele aprendeu a partir das interferências do professor, sobre assuntos que ainda não sabiam ou que não dominavam o bastante. O aluno aprende então nessa situação incrementando ainda mais a sua compreensão, sendo também autônomo, podendo atuar durante o processo de aprendizagem, estabelecendo também uma relação com o professor. Quando analisei o modo como os alunos aprendem na sala do sétimo ano, compreendi que o ensino no construtivismo deve ser incluído como um auxílio ao processo de ensinoaprendizagem, indispensável para que o aluno possa compreender a realidade e atuar nela. Verifiquei que o aluno aprende construindo seu próprio conhecimento e que recebe do professor a direção e instruções para a aprendizagem. Neste exemplo citado acima podemos verificar na prática a visão construtivista de Vygotsky (1989) sobre a forma como os alunos aprendem, ao dizer que todo processo de aprendizagem é ensino-aprendizagem, incluindo a relação daquele que aprende e aquele que ensina, explicando a relação entre desenvolvimento e aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal, que é segundo Vygotsky, um “espaço dinâmico” entre os problemas que o aluno pode resolver sozinho e os que dependem da ajuda do professor para 29 que o ele consiga dominar o conteúdo, ou seja, é o espaço entre o conhecimento que o aluno já possui e o que ele vai adquirir com a ajuda do outro. Sobre a Zona de desenvolvimento proximal, Vygotsky explica: Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (VYGOTSKY, 1998, p. 112). Através das práticas pedagógicas mencionadas, observei que no Colégio Célestin Freinet, tanto na sala do sétimo ano, quanto na sala do nível dois, os alunos aprendem através de pesquisas de grupo e da experimentação, onde os professores elaboram atividades que instiga e estimula ainda mais o raciocínio e senso critico dos alunos. Percebi que a maneira que o plano de aula é trabalhado, possibilita que o aluno aprenda a investigar e a pesquisar, desta forma é possível que o mesmo procure e construa o conhecimento. Os instrumentos utilizados na sala de aula do nível dois para proporcionar o momento de aprendizagem, geralmente são jogos que envolvem a participação de todos onde o aluno pode aprender brincando e as músicas, onde são trabalhados a interpretação de texto e o vocabulário. O uso da música na sala do nível dois faz parte da rotina diária, elas são selecionadas com objetivo de introduzir um conhecimento novo, socializar, enriquecer o vocabulário. No momento da rodinha de musica, os alunos aprendem palavras novas e interagem interpretando o que estão ouvindo através dos gestos e desenhos. Já no sétimo ano outra postura observada que leva os alunos a aprender, são os vídeos ou filmes, que proporcionam aos alunos de maneira lúdica, um momento de conhecer um assunto novo, de somar seus conhecimentos com a experiência ou com a realidade mostrada nos filmes. Observei uma aula onde os alunos do sétimo ano assistiram a um filme sobre a guerra de Canudos e depois com intermédio do professor André, debateram as questões trazidas pelo filme. Diante do teor do debate constatei que o filme possibilitou que os alunos compreendessem melhor o fato histórico. Este método utilizado pelo professor conseguiu prender a atenção dos alunos e os deixar envolvidos de forma que as informações passadas através do filme foram transformadas em conhecimento, intensificado ainda mais pelo momento do debate, onde foram esclarecidas as dúvidas e pontuado os fatos mais importantes da guerra de Canudos mostrado no filme. 30 Os professores tanto do sétimo ano, como do nível dois, começam suas aulas ouvindo os alunos, após este momento prossegue a aula baseando-se inicialmente pelo que foi dito. Desta forma é possível traçar o caminho para a aprendizagem efetiva. Observei que diante desta prática, o aluno constrói o seu conhecimento a partir da interação entre o aluno e o aluno, o aluno e o professor e o aluno e o ambiente meio em que vive. Estas práticas pedagógicas trazem o pensamento de alguns autores construtivistas, como Wallon, o próprio educador que dar nome ao colégio, Célestin Freinet, Paulo Freire e Vygotsky, todos eles acreditam que o aluno aprende em todo lugar, a todo o momento, dentro ou fora da escola, inclusive em situações informais, enfatizando principalmente a interação do aluno com o meio. Vygotsky (1998), acredita que a interação que o indivíduo estabelece com o meio, promove o aprendizado, capaz de movimentar o processo de desenvolvimento do sujeito. Para ele os processos de aprendizagem unidos ao processo de desenvolvimento compõem o aluno, através das relações diretas e indiretas mantidas por ele no meio em que vivem. Ao decorrer de toda a observação percebi que o meio sociocultural e familiar do aluno, é levado em conta para o andamento da aula e o seu planejamento, sendo o primeiro passo a ser considerado para se iniciar uma nova aprendizagem. Os projetos e a forma como o Colégio Célestin Freinet trabalha, estão vinculados a realidade do aluno do subúrbio ferroviário de Salvador, precisamente do bairro de Periperi, as ações são planejadas após verificar o que esta entorno do mesmo, partindo do que possivelmente o aluno conhece, para então assim mostrarlhes outros horizontes. Vygotsky (1994), ao enfatizar o valor das interações sociais, apresenta a ideia da “mediação” e da “internalização” como aspectos essenciais para a aprendizagem, acreditando que a construção do conhecimento acontece através do processo de interação entre as pessoas. Deste modo, é a partir de sua introdução na cultura que o aluno, por meio da interação social, se desenvolve. Conhecendo as práticas culturais já estabelecidas, o aluno desenvolve-se da maneira elementar do pensamento para formas mais abstratas, que a auxiliarão a conhecer e controlar a realidade. Nesta perspectiva, Vygotsky enfatiza o valor do outro não só para a construção do 31 conhecimento, mas até para a formação do próprio sujeito. Segundo ele, o processo de assimilação abrange uma série de transformações que colocam em relação o social e o individual. Conclui-se então que o papel do outro para a aprendizagem é de extrema importância. Tendo a mediação e a qualidade das interações sociais em destaque. Smolka e Góes (1995) trazem à ideia de mediação como uma relação sujeito-sujeito-objeto, ao dizer que “é através de outros que o sujeito estabelece relações com objetos de conhecimento, ou seja, que a elaboração cognitiva se funda na relação com o outro” (p. 9). Mais uma vez é apresentada a ideia de que o aluno aprende principalmente a partir das relações que estabelecem com as pessoas, com meio sociocultural em que vive, diante das trocas com o outro e com o objeto. De modo que o outro é um sujeito necessário para mediar o contato com o mundo e os objetos geradores do conhecimento. Desta forma, criam-se esquemas, aprendem através da experiência trazida pela vivencia, observações e leitura de mundo. No Colégio Célestin Freinet, verifiquei que os projetos pedagógicos e os trabalhos feitos nas salas de aula do sétimo ano e do nível dois, proporciona que o aluno aprenda com o contato com o objeto de estudo, seja visitando lugares para conhecer na prática o conteúdo trabalhado em sala de aula, ou manuseando objetos que levam a descoberta do saber. No Colégio os alunos tem a oportunidade de vivenciar a aprendizagem, seja assistindo um filme, uma peça de teatro, escutando uma musica e principalmente através da troca de saberes e experiências entre os próprios alunos, entre os alunos e a comunidade e entre o aluno e o professor, sendo este o sujeito responsável por conduzir o aluno ao encontro com o saber, oferecendo a ele ferramentas, objetos e meios de construir o conhecimento. A prática pedagógica principal e que norteia os trabalhos desenvolvidos pelo Colégio Célestin Freinet, é o dialogo baseado no interacionismo. A exemplo disto podemos citar outro método utilizado para que o aluno aprenda as rodas de conversa. As rodas de conversa antecedem os momentos expositivos das aulas de redação, ministrada pela professora Jene, e pôde ser observado na turma do sétimo ano. Nestas rodas de conversa geralmente são discutidos temas aleatórios, não necessariamente ligados ao conteúdo a ser trabalhado, é um momento onde cada um pode emitir sua opinião exprimindo na fala a sua realidade e experiência. Depois da roda de conversa a professora explicou sobre o texto narrativo e pediu que cada um fizesse uma redação com base nos assuntos discutidos. Esta prática utilizada pela professora Jene, tem o intuído de desenvolver no aluno alguns comportamentos, como de prestar atenção no 32 que os colegas dizem no momento de falar e também a importância de refletir ou pensar antes de expor a opinião, contribuindo também nos momentos da elaboração dos textos, por ser uma prática que faz o aluno a refletir, ser crítico e que gera conhecimentos, onde o aluno aprende através da troca e do dialogo. Esta prática das rodas de conversa era utilizada pelo teórico e educador construtivista Célestin Freinet. Para ele uma das primeiras manifestações intelectuais está em conseguir retirar de uma conversa o que é importante ser ouvido e saber o que é relevante ser dito. Segundo o educador: Ajudar a criança, manter nela o desejo e a necessidade do trabalho, deixar que seja ela a interrogar e a pedir conselhos, e arranjemos as coisas de maneira que lhe faça o bem (...) e, triunfante, possa admirar o resultado do próprio esforço.(FREINET, 1995, p. 80). Célestin Freinet acreditava na expressão livre do aluno, onde o mesmo pode exprimir suas ideias e suas conclusões sobre temas. Ele é contra os manuais escolares que muitas vezes não tem haver com a realidade da criança e limita a prática pedagógica. Para ele o aluno aprende a partir das experiências e das descobertas. O educador acredita que o conhecimento vem através dos questionamentos, das perguntas e da curiosidade do aluno. Sendo o professor o responsável por aguçar esta curiosidade, instigando a vontade do aluno de aprender, mas só deve intervir no processo de aprendizagem quando for solicitado. O aprender para o Colégio Célestin Freinet está principalmente relacionado com o experimentar, o aprender fazendo. Por isto as práticas pedagógicas utilizadas pelo colégio priorizam momentos de contato com o objeto. Peças de teatro, musicais documentários, são alguns dos recursos utilizados pelo colégio para que o aluno aprenda e internalize o conhecimento. O Projeto Político Pedagógico do Colégio sugere que o professor trabalhe de forma lúdica e de modo que oportunize o aluno a construir seu conhecimento. Em uma conversa com o coordenador Mario sobre como é colocado em prática o que diz o Projeto Político Pedagógico, o mesmo relatou que os alunos constroem roteiros para peças teatrais e documentários para apresentar a turma ou para todo o colégio. Estes trabalhos são feitos a partir da solicitação do professor, que ao final de um conteúdo pede para que o aluno apresente o que foi ensinado. Segundo o coordenador, esta é mais uma maneira do aluno aprender, pois exige que o aja sobre o conteúdo, interagindo com o mesmo, possibilitando 33 uma aproximação maior entre o aluno e o conteúdo estudado. Desta forma o aluno precisa pesquisar mais sobre o que foi ensinado, buscar o conhecimento e interagir com ele, para então poder externar o que foi aprendido. Durante este processo o aluno pode adquirir mais saberes, além do que foi exposto pelo professor, e se ver pesquisador, observador, construindo sua aprendizagem e elaborando a forma de apresentar o que foi aprendido. Considerando as observações feitas a cerca de como os alunos do sétimo ano e do nível dois aprendem, e diante dos estudos teórico sobre o tema compreendi que é importante para o processo de aprendizagem que os alunos participem de aulas significativas, trabalhe juntamente os conhecimentos prévios e os conteúdos novos, tenha equilíbrio nas questões emocionais, estabeleçam relações com o outro e com o meio, a fim de somar e dividir o conhecimento, sejam pesquisadores e questionadores e que aprendam a partir e diante de uma experiência. O professor tem um papel importante na aprendizagem do aluno, levando-o a aprender quando possibilita que todos participem das atividades, quando analisa as necessidades dos alunos modificando ou reajustando seu plano de aula, quando busca entender o que aluno já conhece e utiliza este conhecimento para agregar mais saberes, quando permite que o aluno construa seu conhecimento, seja autônomo. O professor é o “outro” que encaminha o aluno para a construção do conhecimento, sendo responsável por criar situações de aprendizagens onde o aluno descobre o saber. Então, termino este capitulo com um pensamento de Piaget citado por Palangana, que abrange tudo que foi dito a cima. Para Piaget a aprendizagem tem mais chance de ser efetivada quando pautada sobre as necessidades da criança. Primeiro, porque o interesse parte da própria criança, revelando que o seu nível de organização mental está apto a realizar tal aquisição, já que a necessidade traz implícitas as formas ou estruturas cognitivas das quais a criança dispõe. Segundo, porque a aprendizagem passa a ser o meio através do qual a necessidade pode ser satisfeita, a aprendizagem passa a ser necessária. (Palangana, 1994, p.73). 34 3. A TEORIA E PRÁTICA CONSTRUTIVISTA NA DOCÊNCIA DOS PROFESSORES DA TURMA DO SÉTIMO ANO DO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET. Este capítulo apresenta algumas observações feitas no Colégio Célestin Freinet, durante o estágio feito na instituição, tendo como objetivo problematizar a maneira como o Colégio aborda o ensino, ou melhor, a educação, para tanto vamos apresentar o plano político pedagógicos, os projetos específicos do Colégio e o trabalho dos professores da turma do sétimo ano, no qual foi observado principalmente de que maneira é posta em prática a teoria construtivista. 3.1 PROJETOS PEDAGÓGICOS ADOTADOS PELO COLÉGIO CÉLESTIN FREINET Não é por acaso que o Colégio Célestin Freinet, situado no subúrbio ferroviário de Salvador, adotou o nome do educador francês Célestin Freinet. A prática pedagógica adotada pelo Colégio é influenciada por posturas e concepção teórica do educador, que orientam projetos como: a “Aula passeio”, “Correspondência entre escolas”, e “Cantos pedagógicos”. Estes projetos são inspirados nas propostas de Célestin Freinet, onde é evidenciada a aprendizagem gerada a partir de descobertas e experiências. O projeto “Aula passeio”, foi iniciado no referido Colégio Célestin Freinet desde 1989, um ano depois da sua fundação. Este projeto possibilita que os alunos possam vivenciar a aprendizagem na prática, realizando descobertas a partir das observações, experimentando ao tatear e ao desbravar o ambiente da “aula passeio”. No momento desta aula, o aluno pode se expressar livremente e também exercer o espírito de cooperação. As ações pedagógicas que constituem este projeto ocorrem pelo menos duas vezes ao ano, e à medida que surge a oportunidade e a necessidade de recorrer à realidade, ou ao experimento as “aulas passeio” podem ser requisitadas, ou executadas. A aula passeio observada teve como destino a Limpurb, empresa de limpeza urbana. Esta aula foi feita com os alunos do sétimo ano, pois o conteúdo trabalhado no momento com os mesmos trazia como temática o Lixo e a Reciclagem, tornando a ida a Limpurb um destino 35 obrigatório da aula-passeio. Para se deslocar até o destino da aula, os alunos, acompanhado pelo professor de ciências José e o coordenador Mario, locaram um ônibus que fez o translado, saindo do colégio as trezes hora, retornando às dezesseis e trinta. Na visita os alunos conheceram na prática o que foi estudado em sala de aula, vivenciando o processo da coleta do lixo, desde a chegada, o armazenamento, a separação do material reciclável, reciclagem das garrafas “pets” e o produto originado após todo o processo de reciclagem. No momento das explicações pôde-se observar que os alunos mantinham-se interessados por tudo que foi dito e mostrado, ao participar do processo os alunos puderam experimentar e questionar todo procedimento. Os alunos ouviram atentamente tudo que lhes era explicado, prestando atenção em tudo a sua volta, podendo manusear algumas das máquinas, separar a garrafa pet dos demais lixos, conversar com os garis responsáveis pela coleta, conhecendo seu trabalho de forma direta e participativa. Percebi ao acompanhar as atividades planejadas na aula passeio que a experiência de poder verificar na prática o que foi apresentado em sala pelo professor José, permitiu que os alunos aprofundassem seus conhecimentos, tirando suas duvidas. Compreendi então, que está prática pode despertar no aluno um maior interesse sobre o assunto, aguçando a curiosidade e a vontade de aprender. Este pode ser o caminho para levar o aluno a ser pesquisador, autônomo e critico. O projeto possibilita que o aluno aprenda de uma forma mais fácil e prazerosa, onde a aprendizagem ocorre a partir das observações e da realidade ali vivida. Após a volta da aula-passeio, foi requisitado aos alunos que demonstrassem o que haviam aprendido no decorrer de todo o processo, ou seja, durante as aulas expositivas e a aulapasseio. Neste momento os alunos foram divididos em grupos e ficaram livres para criar sua forma de apresentação. Para expor o que aprenderam, os alunos utilizaram de cartazes, maquetes explicativas e textos livres e apresentaram para toda a turma e para o professor. Depois que cada um expos seus conhecimentos a cerca do tema trabalhado e das experiências vividas, o projeto foi finalizado. As atividades pedagógicas dessa natureza estão embasadas nas reflexões de Freinet (1998) para quem, os alunos têm um interesse maior para o que acontece fora do colégio do que dentro. Com base nessa orientação pedagógica, os professores, a direção e a coordenação do Colégio Célestin Freinet, resolveram incluir no projeto pedagógico as “aulas-passeio”, tendo 36 como um dos objetivos, buscar motivações extraescolares no processo de ensinoaprendizagem, possibilitando que o aluno interaja com o meio, aprendendo de forma lúdica, vivenciando o conteúdo. Todo o planejamento da “aula- passeio” é feito levando em conta a realidade e a necessidade dos alunos. Nas observações feitas com a turma do sétimo ano, foi possível acompanhar outro projeto, “Correspondência entre escolas”, que consiste na troca de cartas, presentes, fotos, desenhos e o que mais for desejado, entre os alunos do Colégio Célestin Freinet e alunos de outras escolas, tanto de Salvador como de outras cidades da Bahia e de outros Estados. A escola escolhida para participar deste projeto é feita anualmente e engloba todas as series. O projeto “Correspondência entre escolas” tem o intuito de trabalhar diversas questões como, a interação entre sujeitos de uma realidade diferente, onde um acrescenta o saber do outro, conhecendo novas culturais e hábitos, havendo sempre a troca de experiências. Nessa perspectiva, o projeto trabalha estimulando os alunos para a construção de texto, ortografia, tipos de texto como a carta, fotos, desenhos, poemas, podendo englobar diversos conteúdos a serem trabalhados da matéria, Língua Portuguesa e outras, como Historia, Geografia, Literatura, deixando o professor a vontade para desenvolver o trabalho conforme as possibilidades de trocas de informação a cerca de um assunto estudado. Podemos citar o exemplo da Literatura, onde os alunos conhecem sobre poetas, escritores de outra região, através das cartas, havendo uma troca de informações, onde o aluno abrange seus conhecimentos, aprendendo ainda mais sobre a cultura do outro. Com a turma do sétimo ano, foi observado este projeto no momento da aula de Historia, ministrada pelo professor André. O professor pediu aos alunos, que escrevessem sobre sua cidade, estimulando-os a falar sobre os principais costumes, guerras, revoltas, fatos que marcaram uma época, e temas atuais que caracterizam a realidade da cidade que residem. Os alunos escreveram a carta de acordo com o que foi solicitado pelo professor, mas antes de enviá-las, as cartas foram trabalhadas ainda com a professora de português, Telma, responsável por discutir sobre a construção do texto e sua ortografia. Estas cartas foram trocadas com os alunos do sétimo ano de um Colégio particular situado na cidade de Jacobina, interior da Bahia. Ao observar toda a dinâmica do processo para a execução do projeto, foi verificado o empenho dos alunos para descrever os costumes da sua cidade, recorrendo a fotos e fatos que caracterizassem melhor a realidade descrita. A empolgação e ansiedade para 37 receber a resposta das cartas foram notórias, promovendo até uma discussão entre os alunos, que conversavam sobre o que sabiam a respeito de Jacobina, cidade de destino das cartas. Para abrir este projeto a primeira carta foi de apresentação, onde os alunos falaram quem são, onde moram, o nome do colégio que estudam o que gostam de fazer, enfim, um texto livre, onde expressaram o que tiveram vontade, enviando também suas fotos, para que o destinatário pudesse conhecê-los ainda melhor. A partir de então os conteúdos das cartas são orientados pelos professores, que geralmente associam ao conteúdo estudado em classe, mas sempre deixando o aluno livre para se expressar, ou inserir alguma informação ou pergunta que deseje. A professora de português é responsável pela correção e orientação dos textos, e os demais por orientar os temas e as perguntas que devem existir na carta, trabalhando o conteúdo em cima das respostas das cartas, montando um esquema, onde o aluno pode visualizar tudo que foi dito a respeito do assunto, assimilando assim conteúdo. Assim foi observado na turma do sétimo ano, quando a carta após dez dias retornou. O professor de Historia Andre, pediu para que os alunos lessem a carta e falassem às informações que havia sobre a cidade de Jacobina, no mesmo momento foi escrevendo no quadro e cada aluno complementou as informações, criando desta forma um panorama sobre a cidade. Ao fim ficaram expostos no quadro todos os elementos trazidos sobre Jacobina, e o professor buscou a partir dos apontamentos encaminhar sua aula, trazendo novas informações, articulando com o conteúdo e promovendo discussões quanto à realidade das duas cidades, apontando as diferenças de cada uma. O que foi observado com esta atividade foi o entrosamento do aluno com o conteúdo, ao se mostrar seguro e se posicionar nas discussões. O aluno pôde construir seu conhecimento através da troca, do diálogo e o professor teve o papel de facilitar o entendimento e a compressão a cerca do tema estudado, complementando o saber dos alunos ao expor dados importantes que não foram citados, levando-os a refletir e explorar o conteúdo. É importante mencionar que a troca das cartas acontece entre os alunos da mesma série, formando duplas entre um aluno do Colégio Célestin Freinet e outro aluno do Colégio participante; para construir um vinculo permanente de comunicação o remetente e o destinatário deve permanecer sempre o mesmo. Essa troca de correspondência dura o ano todo, à medida que se vai recebendo as cartas, elas são respondidas, quando chega ao final do 38 ano, os alunos do Colégio Célestin Freinet, fazem um agradecimento pelo contacto que durante todo ano possibilitou outras aprendizagens e se despede enviando uma carta de Natal e se desejarem uma lembrança da cidade. Ainda é mantido o modelo da correspondência através das cartas, porque o corpo docente entende que através desta forma de comunicação, o aluno pode trabalhar com os estilos de texto, ser acompanhado pelo professor que trabalha com ortografia, bem como resgatar o costume do envio de cartas, que incentiva uma boa escrita. É possível com este método trabalhar a forma de se dirigir a alguém e também ensinar como se redige uma carta, habito que vem sendo esquecido pelas facilidades que a tecnologia nos oferece ao que se refere à comunicação. Para coordenação do Colégio, não poderia trabalhar de forma mais aprofundada e abrangente, se ao invés de usar a carta, utilizasse os métodos atuais, como o email, facebook e outras redes de relações sociais. A conclusão que a minha observação trouxe sobre a troca de correspondências entre as escolas, é que esta é uma fermenta utilizada pelo professor para que o aluno aprenda e ratifique o que já sabe, uma vez que ao escrever as cartas com informações dadas por eles, os alunos estão colocando no papel os seus conhecimentos já adquiridos, sendo uma forma de reforçar o conhecimento, e ao receber a carta, podem aprender com o conhecimento do outro, complementando a aprendizagem concebida na sala de aula. A correspondência interescolar proporciona principalmente a troca cultural entre os alunos, os mesmos podem conhecer na carta diferentes formas de se expressar, característica da região do destinatário, assim como, conhecer através dos relatos os costumes e hábitos da região, como brincadeiras, preferências músicas, comidas, enfim, o projeto leva o aluno a conhecer mais sobre a realidade e a cultura do outro. Outro projeto permanente adotado pelo Colégio Célestin Freinet, com base nas sugestões do educador francês Freinet, são os “Cantinhos Pedagógicos”. Por todo o colégio, existem cantos que dispõem de materiais ou objetos, que possibilitem ou gerem o conhecimento como, o “Cantinho da Leitura”, que deixa a disposição dos alunos, livros, revistas, historias infantis, revista em quadrinho e jornais. No cantinho da leitura, o aluno pode manusear, o jornal, a revista, ler um livro, no momento do intervalo, ou quando é orientado pelo professor. Este canto oferece o espaço para o aluno se atualizar, provocando o saber de forma espontânea e 39 prazerosa, pois não é uma atividade obrigatória, e sim, feita pela própria escolha e vontade do aluno. O professor auxilia neste projeto, incentivando o aluno a ler, falando sobre algo interessante que está no cantinho da leitura, ou disponibilizando material. O Colégio atualiza as revistas e jornais, assim como o acervo, procurando saber o conteúdo que os alunos estão estudando para dispor material sobre o tema. Mas este é um projeto que deixa o aluno livre, para ler o que quiser e se quiser. Foi observado na turma do sétimo ano que a professora de português, Telma, traz sempre novidades relacionadas ao conteúdo da aula, como livros, poemas, revistas e os dispõe no cantinho da leitura. Como atividade complementar ela sugere a leitura aos alunos, incentivando a ida dos alunos ao cantinho para que ampliem ainda mais seus conhecimentos. Observei que os alunos do colégio, não só do sétimo ano, tem uma relação estreita com o cantinho da leitura, pois no momento do intervalo, é comum ver os alunos sentados nos bancos, lendo jornal, revistas, se distraindo com alguma leitura. Segundo Célestin Freinet (1973), não é necessário que os alunos se restrinjam apenas as matérias para que consigam aprender. Ele acredita que a escola e o professor devem proporcionar situações nas quais os alunos sintam necessidade de agir, fazendo com que se dediquem profundamente à descoberta de algo que desperta seu interesse. Para o referido autor, o exercício da educação tem o dever de respeitar o conhecimento originado pela experiência de vida do aluno. Para Freinet (1966), “a função educativa não está de modo algum confinada às paredes da escola”. As teorias de Célestin Freinet norteiam as ações pedagógicas de todo o Colégio. Para isto é levado em consideração às necessidades, restrições e a realidade encontrada num colégio situado no subúrbio ferroviário. Não é possível utilizar de forma idêntica, os métodos pedagógicos desenvolvidos por Freinet durante o ano de 1920 com seus alunos franceses, até por que se os procedimentos utilizados pelo Colégio fossem iguais aos realizados na França, a instituição de ensino do subúrbio ferroviário de Salvador, não estaria seguindo a rigor a teoria Freinetiana, já que ela recomenda que a prática pedagógica seja baseada nas experiências individuais e no meio social que vive o aluno. 40 O Colégio Célestin Freinet trabalha ainda com outros projetos pedagógicos que foca principalmente a relação do aluno com a sua comunidade, como o projeto “Todos contra a Dengue” e “Deixando o Bairro mais Bonito”. O bairro que o colégio está situado é um local sem uma boa infraestrutura, principalmente ao se tratar da rede de esgoto e saneamento básico, seus moradores são pessoas em sua maioria que vivem com um salário mínimo e muitos não tiveram acesso à educação de qualidade, conforme vimos com mais detalhes no primeiro capítulo. Então pensando em toda a realidade que envolve o bairro e as pessoas que residem nele, o Colégio elaborou estes dois projetos com o objetivo de estabelecer uma relação maior entre o aluno e o meio em que vive, fazendo-os interagir de forma construtiva na a solução dos problemas do bairro, oportunizando no fazer o advento da aprendizagem. O projeto Todos contra a Dengue surgiu da necessidade de alertar a população do bairro, sobre o perigo e os cuidados que se devem ter com a dengue, a fim de evitar a proliferação do mosquito na comunidade e diminuir os indicies de dengue no local. O bairro, não tem um bom serviço de esgotamento sanitário, possui muitos terrenos abandonados e a coleta de lixo também é precária, provocando e gerando ambientes favoráveis para o surgimento do mosquito da dengue. Diante da situação que o bairro se encontra surgiu a proposta de levar os alunos às ruas em passeata, distribuindo panfletos e portando cartazes, onde os alunos conversam com os moradores e alertam sobre os riscos que traz o mosquito dengue para a saúde pública. A preocupação com a comunidade levou os alunos do Colégio Célestin Freinet as ruas, a fim de combater os focos da dengue, instruindo os moradores sobre a forma de prevenir o surgimento do mosquito. Para isto os alunos produzem os cartazes e panfletos contendo alertas sobre o problema, convidam a população para participar de palestras no Colégio e saem em passeata pelas ruas, revirando entulhos para evitar água parada, na tentativa de diminuir os focos da dengue pelo bairro. Durante a observação com os alunos do sétimo ano, no dia do preparo dos materiais para a passeata, pôde-se perceber que os alunos pesquisavam na internet e nos livros, dados e informações importantes sobre o mosquito e a doença transmitida por ele, levantando os problemas do bairro e buscando observar quais eram as possibilidades de resolvê-los. Com este projeto, deu para perceber, que os alunos são levados a uma maior conscientização sobre o problema da dengue e todas as questões envolvidas nesta situação. O projeto mostra a importância da participação efetiva de todos para o combate da dengue, delegando responsabilidade a cada um, na luta contra doença, fazendo com que o aluno perceba a 41 necessidade de se trabalhar em equipe e o sentido da cooperação, os levando a entender a importância de ser um cidadão participante, formando também um ser crítico. O professor de ciências José neste momento apenas tirou as duvidas dos alunos, deu sugestões e orientou nas pesquisas, deixando que os alunos produzissem seus conhecimentos a partir do que já havia sido explicado na aula e diante do material que estava sendo pesquisado. O projeto “Todos contra a dengue” acontece uma vez ao ano, apesar de acompanhar o sétimo ano, o projeto é realizado pelos alunos do segundo ao nono ano. O projeto teve inicio em abril, primeiramente com um trabalho de conscientização com os alunos, onde os professores falaram sobre o tema, os levando a participar de palestras, levantando os problemas encontrados no bairro, fazendo um estudo na aérea para saber o motivo do surgimento do mosquito, enfim trazendo para a escola o debate sobre a dengue e suas consequências, assim como os motivos que trazem o surgimento do mosquito e a forma de prevenção. Os alunos também apresentam trabalhos sobre o assunto, como observei na sala do sétimo ano, onde os mesmos produziram cartazes e panfletos explicativos sobre o mosquito da dengue, trazendo informações sobre como prevenir e o perigo da doença, utilizando este material para distribuir e desfilar na comunidade no dia da passeata. A passeata aconteceu no final de maio, quando os alunos já estavam preparados para falar sobre o assunto com a população e quando já haviam aprendido como agir ao encontrar um foco do mosquito. Durante a passeata os alunos, saíram desfilando com os cartazes, acabando com os focos de dengue, como garrafas pets vazias, virando potes e vasos que encontravam pelas ruas e também conversavam sobre o problema com moradores do bairro e distribuído panfletos. Observei durante e ao final do projeto, que os alunos sentiram-se úteis à sociedade, enxergando que podem contribuir para melhorar o local em que vivem, sentindo-se importantes e valorizados pela comunidade. A conclusão tirada no dia desta observação foi que o aluno a partir da ação de ajudar a comunidade a se esclarecer sobre o problema da dengue, exerceu seu papel de cidadão ativo, colaborando para o bem estar do bairro. Com a participação no projeto Todos contra a Dengue, o aluno tem a possibilidade de interagir com o conteúdo e principalmente com a sua realidade, podendo agir diante dela. O processo de aprendizagem a partir deste projeto aconteceu diante das trocas que o aluno estabeleceu com o meio que está inserido, com os colegas, o professor e toda a comunidade. 42 Outro projeto que contribui para a interação do aluno com o meio é o projeto, “Deixando o bairro mais Bonito”. Neste projeto os alunos plantam árvores no bairro, como objetivo tornar o lugar mais agradável, revitalizar a vegetação já existente, limpando o terreno, regando as árvores, flores e catando os entulhos que ficam ao redor das plantas, contribuindo para a organização e preservação dos terrenos da comunidade. Este projeto é executado nas proximidades do Colégio, onde os alunos são os responsáveis por plantar e cuidar das plantas. Sobre a orientação ainda do professor de ciências, José os alunos fazem todos os processos para o plantio e a manutenção de sua planta. É reservado trinta minutos da aula de ciências, uma vez na semana, para que cada aluno cuide da sua planta e ajude na manutenção das plantas já existentes. A cada ano que passa, o processo se repete, as plantas já existentes são cuidadas pela nova turma, que também faz uma nova plantação e é responsável por ela. Este projeto foi criado a partir de uma conversa entre o professor José e a coordenação do colégio, que sentia necessidade de ensinar os alunos sobre as plantas, os vegetais, o seu processo de respiração, entre outros enfoques sobre o tema, utilizando a prática, dando a oportunidade ao aluno de aprender fazendo e a partir das suas observações. Pelo que pude perceber este é um projeto de ciências que leva o aluno a aprender todo o processo a partir de sua própria experiência ao plantar e cuidar da planta, observando como acontece cada estágio. Desta forma o aluno tem a oportunidade de aprender com o objeto, através do contato, do fazer e de suas observações. O professor José, participa mediando todo o processo ao explicar sobre o crescimento, os cuidados, a fotossínteses e varias outras abordagens como inclusive a cidadania, desmatamento e preservação da natureza. Foi então que notei, durante o acompanhamento dos projetos, posturas construtivistas, pois todos eles levaram os alunos a obter o conhecimento principalmente através da experiência e da observação feita ao longo de toda a prática pedagógica. Os projetos além de possibilitar a interação entre o aluno, o professor e a comunidade, o faz aprender através da troca e do dialogo, o despertando para novos interesses. Com estes projetos, o processo de aprendizagem dependeu mais do aluno do que do professor, pois a forma como os projetos foram planejados exigiu que os alunos construíssem seus conhecimentos, tendo no professor um suporte para encontrar os caminhos do saber, ao instigar o aluno o ser pesquisador, curioso e autônomo. Quanto ao professor, a postura observada foi de mediador, assumindo a posição de articulador entre o aluno e o conhecimento, dando ao aluno as ferramentas para a aquisição do saber, mas o deixando livre para manuseá-las e construir o seu próprio esquema mental, seus 43 pensamentos e criticas. Sobre a colaboração do professor para aprendizagem do aluno, os autores construtivistas, Coll e Solé ressaltam: ... o aluno, graças à ajuda que recebe do professor, pode mostrar-se progressivamente competente e autônomo na resolução de tarefas, na utilização de conceitos, na prática de determinadas atitudes e em numerosas questões. É uma ajuda porque é o aluno que realiza a construção; mas imprescindível, porque essa ajuda, que varia em qualidade e quantidade, que é continuada e transitória... (COLL e SOLÉ, 1998, p.22/23). O acompanhamento contínuo dos professores do sétimo ano, do Colégio Célestin Freinet, na elaboração dos projetos, durante o processo para a execução dos trabalhos, nas explicações e discussões a cerca de um tema, ao aguçar a curiosidade dos alunos, como também ao permitir que chegassem as próprias conclusões sobre algo estudado, deram aos seus discentes a chance de se desenvolverem intelectualmente e despertar o interesse pela aprendizagem. Os professores a partir de suas práticas pedagógicas levaram os alunos a aproveitar os métodos dispostos, para que então construíssem de forma autônoma o seu conhecimento. A conclusão desta observação permite afirmar que o professor foi, ou melhor, é a ponte entre o aluno e o saber, levando o aluno a construir o conhecimento a partir da sua prática pedagógica, podemos notar isto ao analisar que professor planejou os projetos, determinou as tarefas ou ações dos alunos, dando instrumentos, ferramentas e embasamento teórico, suporte necessário para que os mesmos pudessem a partir da prática, do experimento, dos seus conhecimentos prévios, chegassem por conta própria a aquisição do saber. 3.2 AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS APLICADAS NA SALA DE AULA. As ideias construtivistas para aprendizagem devem ser utilizadas de acordo com a necessidade encontrada em determinada situação, o professor deve empregá-las após a reflexão sobre a prática pedagógica, pois não há uma receita ou um manual a ser seguido. A observação feita no Colégio Célestin Freinet, com a turma do sétimo ano, possibilitou perceber que mesmo utilizando recursos ou ideias construtivistas os professores da turma ainda utilizam os métodos antigos, fazendo uso das aulas expositivas. Foi verificado então que não existe apenas uma prática ou um método único de ensino e sim, uma mescla que 44 proporciona ao professor escolher sua prática como lhe for mais apropriado para o momento, ou para o conteúdo a ser trabalhado. No primeiro dia de observação feita na turma do sétimo ano, houve na aula procedimentos construtivistas, pois o professor de História André, deu oportunidade dos alunos falarem sobre temas atuais, como as guerras ocorridas no Oriente Médio, colhendo, assim, informações prévias de cada aluno, construindo um diálogo, incentivando o aluno a prestar mais informações e dados que poderiam contribuir para aprofundar os conhecimentos a cerca do tema. Adotando um procedimento metodológico que amplia o diálogo, o professor não só ouviu os alunos, como os levou descobrir mais sobre o assunto estendendo o conhecimento dos mesmos, presumisse que sua prática também aguçou a curiosidade e a vontade de aprender dos mesmos. De acordo com Sanny Rosa (1997): Quando os teóricos do construtivismo constataram que o aluno é sujeito de sua própria aprendizagem", o que equivale a dizer que ele atua de modo inteligente em busca de compreensão do mundo que o rodeia, automaticamente estão dando uma grande "dica" aos educadores, e lançando também um grande desafio. É como se dissessem: "sejam o centro do processo de ensino, criem junto com os alunos os seus próprios caminhos, descubram alternativas pedagógicas em sala de aula. (ROSA, 1997, p. 4041) Rosa ressalta então que o aluno aprende principalmente a partir de suas próprias descobertas e experiências, cabendo ao professor mediar à aprendizagem de forma que auxiliem o aluno a buscar o conhecimento, criando para isto maneiras e estratégia, a partir de uma prática pedagógica, que possibilite o aluno procurar e encontrar o saber. Porém, voltando às observações registradas na sala de aula do sétimo ano, foi notado que os professores desta turma se preocupam com a prática pedagógica, com o planejamento do plano de aula, buscando que o mesmo seja construindo de forma a oportunizar o envolvimento dos alunos com o conteúdo a ser trabalho. Isto foi analisado ao assistir as aulas e ao verificar que as ações, discussões e tarefas eram previamente planejadas e pensadas para cada momento, mesmo que no desenvolvimento das atividades não ocorressem como o esperado, o professor tinha a segurança para retomar ao foco devido ao apoio encontrado na programação antecipadamente estudada. Com a observação pode-se perceber que em sua maioria as aulas eram planejadas de forma que o aluno interagisse com o assunto proposto 45 partindo principalmente das experiências do aluno para a construção de um determinado conhecimento. Durante o período de observação foi constado que a prática pedagógica do colégio prioriza a interação do aluno com o objeto, desta maneira podemos dizer que o professor do Colégio Célestin Freinet sai do lugar de detentor do saber, para buscar a aprendizagem no experimento, na realidade, ao manusear o objeto de estudo, ao observa-lo e vivencia-lo. A respeito do processo de organização do conhecimento numa perspectiva construtivista, Maria da Gloria Seber considera que, Durante a evolução da aprendizagem, a criança reelabora do seu modo o que é transmitido e extrai de suas experiências aquilo que seu nível de entendimento possibilita. Mas, a evolução das suas conquistas, é de fato no ato de criação. (SEBER, 1996. p.31) Segundo Seber, o aluno aprende realmente no ato da experimentação, no momento da criação, no fazer pedagógico, levando em consideração a sua realidade e sua experiência de vida. Mesmo quando lhe é transmitido alguma informação o aluno, busca na sua experiência um significado para tal conteúdo, para ai então internalizar, ou assimilar, o conhecimento. Sobre as questões interacionistas uma prática pedagógica chamou atenção, no decorrer das observações feitas no sétimo ano. Numa aula de Geografia, o professor da matéria Rogério, ministrou sua aula a partir das pesquisas, discussões e debates promovidos pelos alunos a cerca de determinado tema. Cada assunto a ser trabalhado pelo professor antes passou por uma triagem feita pelos alunos, ou seja, o professor deu o tema da aula seguinte e pediu para que os alunos produzissem um texto escrito, para que no dia seguinte fossem lidos e discutidos em sala de aula. Os temas escolhidos para a elaboração dos textos seguiam o cronograma do livro adotado pelo Colégio e o plano de aula do professor. O professor pediu para que os alunos lessem seus textos, promovendo a discussão sobre o tema, puxando os pontos mais relevantes para dinamizar e dar sequencia ao debate, intervindo quando necessário para acrescentar alguma informação ou tirar duvidas. Esta dinâmica aconteceu no primeiro horário da sua aula, ao encerrar esta etapa, o professor retomou o tema esclarecendo algumas questões e acrescentando algumas informações relevantes, trazendo um vídeo e indicando outros tipos de textos, como figuras e entrevistas, para complementar e ainda intensificar a aprendizagem. O assunto que foi debatido no dia da observação era a “Globalização”. Os alunos escreveram principalmente a respeito de situações vivenciadas, ou analisadas anteriormente, trazendo relatos vistos na televisão e no cotidiano. No momento do debate, os temas relacionados à 46 globalização foram surgindo e os alunos exprimiram sua opinião. Foi observado que devido a está prática cotidiana, o professor Rogério conseguiu intensificar na sala o respeito em relação ao que o outro fala. Pela expressão dos alunos e seus posicionamentos eles agregaram o conhecimento, somando os seus saberes já adquiridos com o que estava sendo dito, pelas suas declarações muita coisa também foi desconstruída, sendo aberto o espaço para o novo, para uma nova maneira de pensar. A aula se tornou participativa os alunos do sétimo ano teve o espaço para também ensinar, contribuindo com aprendizagem dos demais inclusive com a do professor Rogério, que por h pode descobrir novas visões sobre o tema. Esta troca de informações e ideias fez de todos, sujeitos participativos em prol do conhecimento. Os alunos por sua vez, conseguiram diante desta prática pedagógica elaborar um esquema mental, organizando as informações, transformando em saber, construindo o conhecimento a partir da troca e das descobertas feitas através do debate. O professor Rogério fez a mediação entre o saber e os alunos, orientando o processo e incitando ainda mais o debate, enriquecendo a discussão, a fim de aprofundar ainda mais o tema estudado. Ele auxiliou em todo o processo, trazendo informações novas e elaborando questões provocativas, com o objetivo de que o aluno construísse e procurasse o conhecimento, interferiando quando buscava avanços que não ocorriam espontaneamente. Podemos relacionar esta prática pedagógica com a visão construtivista, ao perceber que a sala de aula se transformou em um processo interativo, onde todos tiveram a possibilidade de falar, levantar hipóteses, onde o aluno passou a se perceber parte de um processo dinâmico de construção a procura do saber. O professor se coloca como articulador dos conhecimentos, mas todos se tornam parceiros de uma grande construção. Desta forma o professor consegue fazer com que os alunos entendam inclusive que o conhecimento está em todos, que o pensar coletivamente traz muitas possibilidades e respostas para o assunto em pauta. Deste modo o professor conseguiu por em prática na sala de aula elementos encontrados na teoria construtivista. Sobre o processo de ensino-aprendizagem e a prática do professor, Silva (1999) diz: Na sala de aula há necessidade de uma construção recíproca dos atores do processo: o aluno agiria em favor da construção e reelaboração do conhecimento e o professor estabeleceria com sua atitude um caminhar a dois (SILVA, 1999, p. 99). 47 Para ajudar o aluno, o professor deve criar situações que facilitem a aprendizagem. O que deve acontecer em sala de aula é realmente uma troca entre o aluno e professor, ambos colaborando para aprendizagem do outro construindo juntos o saber. Ao decorrer do trabalho de observação chamou atenção à forma que os professores, em sua maioria, lidam com o erro. Na sala observada, a correção a cerca do assunto estudado passou a ser mais um momento de aprendizagem, não havendo uma censura. O fato que chamou atenção para esta questão foi no momento da correção de uma atividade de matemática, na turma do sétimo ano, cujo assunto era Expressão Algébrica. O professor da matéria, Antonio, pediu para que os alunos fossem ao quadro resolver uma expressão, quando chamou o aluno João para ir à frente. No momento que João deu a resposta da expressão algébrica, o professor notando que a resposta não estava correta, pediu para que João voltasse à frente, fazendo com ele etapa por etapa da expressão, pois tinha notado que João não sabia os passos para se resolver a questão, então junto com ele e com a ajuda dos outros alunos de uma maneira natural, a expressão foi sendo solucionada. Durante o processo de resolução do problema de álgebra observei que o professor havia notado a dificuldade do aluno desde o inicio, mas o deixou concluir seu raciocínio, para só então intervir e junto com o educando procurou responder a questão formulada. João pode neste momento tirar as duvidas com o professor e todo o processo foi encarado como uma situação comum por toda a turma. No momento da experiência citada acima percebi, que o erro não é encarado como algo negativo, digno de censura, mas sim respeitado e analisado como forma de chegar ao acerto, sendo utilizado também como um método de aprendizagem. Esta questão é um ponto discutido no construtivismo, pois se acredita que o erro é uma maneira de perceber em que estágio do desenvolvimento o aluno se encontra, sendo uma maneira para o professor nortearse e planejar a aula de acordo com as necessidades do aluno. O teórico construtivista Piaget não deu atenção ao erro escolar, mas alguns autores construtivistas consideram estupidez o erro ser visto como algo negativo sem ao menos pensar em como ele pode ser a ponte para o conhecimento. Segundo La Taille (1997) os erros efetuados pelos alunos podem se transformar em dicas importantes sobre as capacidades de assimilação, condenar e desprezar o erro pode significar um desrespeito à inteligência infantil, rebaixando a autoestima da criança, podendo contribuir para que ela abandone seus esforços espontâneos de reflexão. Nessa perspectiva o mesmo autor ainda considera que, 48 Um erro pode ser mais profícuo que um êxito precoce (...). Vale dizer que um erro pode levar o sujeito a modificar seus esquemas, enriquecendo-os. Em uma palavra, o erro pode ser fonte de tomada de consciência e, como tal, pode tornar-se valioso aliado da pedagogia. (LA TAILLE, 1997, p.36) O erro é o caminho para o acerto já que através dele pode-se conceber formas para se obter o êxito. O experimento e as tentativas para chegar às repostas corretas, oferecem para o individuo a chance de conhecer ainda mais sobre um processo, oportunizando a descoberta inclusive de outros assuntos, que podem estar relacionados, mas pertence a outro saber. Então pelo erro se constrói um conhecimento muito mais do que o esperado, é a chance para uma aprendizagem obtida através de muitas descobertas, tornando-se uma aprendizagem ainda mais completa e duradoura. Ao fim das observações sobre práticas pedagógicas utilizadas pelos professores, do sétimo ano, do Colégio Célestin Freinet, nota-se que em relação às atitudes tomadas no encadeamento dos trabalhos com os conteúdos em sala de aula, os mesmos não seguem um modelo prévio ou uma única teoria pedagógica, pois as ações pedagógicas são flexíveis por levar em conta a realidade e experiência do aluno. Diante de toda a observação, chego à conclusão que mesmo que os professores não sigam a risca uma corrente teórica, por considerar que o ensino deve se adequar as necessidades e o meio que o aluno está inserido, ele deve e pode reunir, ao longo de suas experiências e a partir de trocas com outros educadores uma serie de possibilidades de intervenção, sendo possível adotar posturas que conduza uma aula construtivista. Estas posturas são: criar situações para envolver o aluno, onde exponha tudo que sabe; considerar hipóteses formuladas pelo aluno para explicar fatos observados; partir do conhecimento prévio do aluno para trabalhar algum tema; fornecer espaço para o desenvolvimento da curiosidade, da capacidade de observação; fornecer a integração do aluno com eventos culturais; elaborar atividades que o aluno possa ouvir diferentes pontos de vistas, recriar as práticas pedagógicas a partir do êxito do aluno nas tarefas desafiadoras; possibilitar a interação com o meio em que vive; promover momentos que o aluno descubra o conhecimento através de sua experiência. Ao utilizar estes métodos pedagógicos para ministrar uma aula, estaríamos pondo em prática às posturas sugeridas pela teoria construtivista. 49 O autor Macedo (1992) traz na citação abaixo uma ideia que sustenta as práticas pedagógicas observadas neste trabalho. Como então não considerar que conceitos sejam reconfigurados, revistos e a partir daí concordar que uma aula, ... não construtivista pede silencio e a contemplação dos ouvintes, para que o conferencista possa extasiá-la com os seus conhecimentos e sua sabedoria. Pede a limpeza e o florido de uma sala de jantar, preparada para receber amigo querido. Uma aula construtivista pede o ruído e a manipulação, nem sempre jeitosa, daqueles que, diante de uma pergunta, não estão satisfeitos com o nível de suas respostas. Pede a sujeira e o experimento de uma cozinha. (MACEDO, 1992, p.25/26). Ao observar a docência dos cinco professores do sétimo ano, do Colégio Célestin Freinet, chego à conclusão que é fundamental ter cautela quando se vai estabelecer um caráter de relação entre a teoria e a prática, pois que no decorrer de determinadas situações de ensino tanto as teorias, como, determinados referenciais, servem como marco de auxílio para o desenvolvimento das atividades, podendo contar com elementos presentes, ao mesmo tempo em que estão sujeitos a todo um conjunto de decisões que não são de responsabilidade apenas do professor, mas sim toda a comunidade escolar. O professor deve ajustar a sua prática num pensamento estratégico que dirija e regule a situação que tem em mãos para assim ajustá-las aos seus objetivos. Para tal fim ele necessitara de teorias, as quais serão usadas para interpretar, analisar, intervir e avaliar sob a realidade. Vale a pena considerar que a prática do professor se manifesta em uma grande diversidade de funções: elaborar o currículo, escolher o conteúdo, diagnosticar como os alunos estão aprendendo, criar estratégias de ensino-aprendizagem, organizar espaços e atividades estabelecendo normas junto às turmas, saber avaliar, regular as relações. Tais diversidades pressupõem uma infinidade de saberem pertinentes e específicos, que englobam mais do que uma teoria ou método, já que precisa ainda ser ajustado de acordo com a realidade que vive o aluno. Sobre estas questões, Ferreiro (1989) nos deixa uma reflexão: Nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas são apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem. São provavelmente essas práticas, mais do que métodos em si que tem efeitos mais duráveis, a longo prazo (...). Conforme se caracterize a ambos, certas práticas aparecerão como normais ou berrantes. (FERREIRO, 1989, p.31). De acordo com o Projeto Político Pedagógico do Colégio Célestin Freinet, e diante da postura dos professores, é visto que o Colégio não adota somente uma postura construtivista. Existem como já foi mencionando práticas construtivistas inseridas no processo de aprendizagem, mas 50 estas não são as únicas, pois é entendido pela instituição que as práticas devem ser pensadas indispensavelmente de acordo com a realidade e necessidade dos alunos. Por vezes é necessário utilizar de outros métodos, outras práticas no fazer pedagógico, para obter o desejado em determinados momentos, de forma que a aprendizagem se torne significativa para o aluno. Então, embora o Colégio recorra ao construtivismo como método principal, ele não é puramente construtivista. Para os professores da turma do sétimo ano, a teoria construtivista serve de referencia para a contextualização e operacionalização das metas e finalidades priorizadas, sendo um modo de refletir sobre a prática, sobre como se deve ensinar para que o aluno aprenda, mas não é a única teoria adotada por eles. As observações dos planos de aula e dos projetos possibilitou perceber que os professores utilizam como base para a aprendizagem os aspectos que envolvem o meio que o aluno vive, utilizando recursos que tornem as aulas significativas, que busquem a realidade e as necessidades do aluno. Diante disso foi observado que a prática mais recorrida pelos professores esta baseada no dialogo, indispensável para a teoria construtivista, empregado como forma de diagnosticar os conhecimentos prévios dos alunos, suas duvidas e inquietações, seu modo de articular o pensamento, deixando-os livres para se expressarem, sendo um meio de incentivar o cidadão crítico e autônomo. O dialogo entre o professor e o aluno, é principalmente uma forma de perceber como orientar o mesmo, refletindo sobre a teoria e a prática mais adequada para conduzir o processo de ensino- aprendizagem. Consequentemente a prática do dialogo levou a outro fazer pedagógico, ponto chave da concepção construtivista, muito discutido por Vygotsk, o interacionismo. As aulas-passeio observadas, como os outros projetos que envolveram a comunidade onde o Colégio Célestin Freinet está localizado, assim como as discussões e ações pedagógicas ocorridas em sala de aula, proporcionaram ao aluno a interação com o meio em que vive. Desta forma os conhecimentos foram construídos através das trocas recíprocas entre o aluno, o professor e o meio, sendo que cada um influiu sobre o outro. Para comentar a prática interacionista observada no Colégio, cito as palavras de Rego (1995): “nesse processo, o indivíduo ao mesmo tempo em que internaliza as formas culturais, as transforma e intervém em seu meio. É, portanto na relação dialética com o mundo que o sujeito se constitui e se liberta” (REGO, 1995, p. 94). Os processos de aprendizagem observado no Colégio foram principalmente desencadeados pelas relações de troca, que professor proporcionou entre o aluno e o meio. Foi observado que 51 as aulas que mais proporcionaram uma aprendizagem significativa, foram aquelas que possibilitaram uma interação dialética entre ambos, onde o aluno se apropriou do conhecimento, sendo ele ainda mais sólido por ser fruto de uma experiência que permitiu o contato com a realidade. Isto foi constado no decorrer das discussões após os alunos vivenciarem a experiência de uma aula prática, pois os discursos antes desta acontecer, eram baseados no senso comum, em alguma leitura, nos conhecimentos prévios, depois da oportunidade de perceber o assunto de forma real o discurso trouxe conhecimento muito mais aprofundado, mais rico, demonstrando domínio e propriedade ao tratar do assunto, tornando o discurso mais explicativo e muito mais critico. Desta maneira, percebo que o objetivo do professor ao querer que o aluno aprenda, internalize o conhecimento, adquira o saber, venha a ser um cidadão pensante, atuante perante a sociedade, pode ser alcançada quando é dado para este aluno à oportunidade de relacionar os conteúdos acadêmicos com a realidade encontrada no mundo em que vive, começando primeiramente com os aspectos encontrados na vida de cada aluno, dando significado aquilo que está, ou vai ser aprendido. Ao fim da observação sobre a Teoria e a prática docente, do professor do sétimo ano, do Colégio Célestin Freinet, percebo que a teoria e a prática sempre caminham juntas, por mais que o professor não saiba qual corrente teórica está utilizando para determinada prática, a mesma está sendo guiada por uma teoria, pois toda prática para ser executada necessita partir de uma reflexão, de uma ideia, de um pensamento. Os professores do sétimo ano, do Colégio Célestin Freinet, demonstraram nas suas práticas que procuram um embasamento teórico ao planejar a aula, recorrendo muitas vezes ao Projeto Político Pedagógico do colégio, que propõe principalmente as concepções construtivistas trazidas pelo educador Frances Célestin Freinet. 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao falar em mudanças na educação brasileira, principalmente ao que diz respeito às ações escolares, não é possível desprezar a perspectiva construtivista, que pressupõe articular o pensar e o fazer pedagógico é tarefa árdua e depende muito do desempenho do educador. No entanto, é necessário que o professor antes de decidir qual será a bússola norteadora do seu fazer pedagógico, pesquise, busque informações, analise a realidade da comunidade em que está inserida a escola, para que sua prática seja realmente promotora de desenvolvimento das estruturas mentais, sociais e afetivas do aluno. Por fornecer outro paradigma epistemológico, a concepção construtivista subverte papeis, atitudes e mudanças na forma de pensar dos professores comprometidos com a educação. Porem, assumir essa postura diante do ensino não se resume apenas em modificações didáticas metodológicas, tal atitude implica em revê-se como pessoa e como profissional. Levando em consideração a prática desenvolvida pelos professores do sétimo ano do ensino fundamental e da professora do nível dois da educação infantil do Colégio Freinet, a partir da leitura e analise dos dados obtidos no período da observação, as entrevistas e os questionários, considero que os professores apropriaram de alguns aspectos da concepção construtivista, utilizando como método de aprendizagem. Porém percebi que o referido conhecimento foi construído em atividades profissionais desenvolvidas no Colégio, principalmente nas reuniões pedagógicas, nas quais os professores se aproximam a proposta pedagógica, que incentiva o construtivismo nas práticas e métodos de ensino. Muitos dos professores não estudaram com profundidade na faculdade o Construtivismo, conhecendo o básico desta concepção, porém a partir dos diálogos estabelecidos nos seminários, formação continuada, nas próprias reuniões, foram se aproximando da metodologia de ensino adotada pelo Colégio, passando a compreender o construtivismo como alternativa para ao fazer pedagógico. Observei que os professores ao se apropriarem de aspectos construtivistas passaram a encaram a aprendizagem dos alunos um processo de construção, considerando que o aluno aprende por etapas, onde cada uma precisa ser vencida para passar para outra, até gerar por fim, um saber consistente. 53 Percebi nas observações feitas na sala do sétimo ano, que colocar em prática aspectos da teoria construtivista, implica em desconstruir um ensino dito tradicional, ao qual a maioria dos professores foi submetido quando alunos. Notei que está não é uma tarefa fácil, pois as práticas tradicionais fazem parte da história dos professores, mesmo considerando que o construtivismo pode ser nas práticas pedagógicas, os professores não deixam de intercalar no fazer construtivista os aspectos do ensino tradicional. Ao analisar as repostas dos professores registradas no questionário, quando perguntei como o ensino tradicional pode ajudar os alunos a aprender, observei que os professores ainda utilizam algumas posturas e ações pedagógicas tradicionais, embora tenha sido constatado que empregam também práticas que podem ser consideradas construtivistas. Neste sentido percebo a necessidade de fazer uma análise dos conceitos e métodos adotados na prática pedagógica, para que seja evitada uma dissociação entre a forma de pensar e de agir dentro de uma nova proposta de ensino. Para ser um professor com posturas construtivistas ele precisa primeiro mudar as atitudes, sair da postura do detentor do saber e transmissor de informações e passar a proporcionar descobertas, para isto é necessário fazer uma revisão de si mesmo, a fim de descobrir a melhor forma de atuar como educador. Durante minha observação notei que os professores estão descobrindo e se apropriando do construtivismo, muitas vezes recorrem a práticas ainda com resquícios tradicionais. Então percebo que o construtivismo é algo novo e que os professores estão buscando se ajustar, até mesmo por acreditar no potencial da prática construtivista para processo de aprendizagem. Observei que o Colégio Célestin Freinet ainda não conseguiu romper totalmente com as práticas do ensino tradicional, porém acredita numa prática educativa construtiva e dar espaço e incentiva seus professores a utiliza-las. Percebi que este é um trabalho continuo do Colégio, fazer os professores entender o que é o construtivismo. Esta questão me fez refletir, que apesar do Colégio ter vinte e quatro anos de existência, ter no seu Projeto Político Pedagógico aspectos que recorrem a uma pedagogia construtivista, ele depende do professor para executar as práticas, o que torna complicado se intitular como um colégio construtivista, pois muitos 54 dos professores chegam à escola sem conhecer o construtivismo, trazendo sua maneira própria de ensinar, levando um tempo para entender a forma como o Colégio concebe a educação. Com esta pesquisa e a partir da observação feita no Colégio Célestin Freinet compreendi que é necessário realizar uma nova visão na postura e na forma de pensar e fazer educação. Notei que este é o objetivo do Colégio, provocar novas aprendizagens, novas construções de conhecimentos, envolvendo ativamente o aluno e todo o grupo, em uma aventura de descobertas, de indagações e aplicações. 55 REFERÊNCIAS AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo- De Piaget a Emília Ferreiro. São Paulo: Ática, 1993. 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