Universidade Federal de minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas DIFERENCIAÇÃO ENTRE ESPÉCIES DE CERRRADO E MATA: RESPOSTAS FENOTÍPICAS Á LUZ EM DALBERGIA NIGRA (VELL.) FR. ALL. EX BENTH. E DALBERGIA MISCOLOBIUM BENTH. (LEGUMINOSAE – PAPILIONOIDEAE) Fernanda de Vasconcellos Barros Dissertação apresentada ao programa de pós – graduação em Ecologia, Conservação e manejo da Vida Silvestre para obtenção de título de Mestre em Ecologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador: Prof. Dr. José Pires de Lemos Filho Março / 2008 2 Agradecimentos Gostaria de agradecer a todos que fizeram parte desta conquista! Aos meus queridos pais e Nina que amo muito e que sempre estiveram ao meu lado, incentivando e apoiando todas minhas decisões. Ao professor e meu orientador José Pires Lemos Filho, com quem aprendi muito nestes anos de convivência; anos esses de grande importância na minha vida profissional e pessoal. Aos amigos do laboratório de Fisiologia Vegetal: pela amizade, pelas conversas, trocas de experiência e momentos de descontração. À Maíra pela amizade, conselhos, apoio profissional e ensinamentos. Ao Sérgio pela amizade e pela ajuda no desenvolvimento deste trabalho. Obrigada ao Marcos e à Ana Clara pela colaboração na coleta dos dados. Ao Eugênio e à Lúcia por me acolherem e por terem disponibilizado o sítio para a montagem do experimento. À Da. Leonora e ao Sr. Tadeu pelo carinho e atenção. Obrigada também ao Sr. Zé e à Da. Antônia por tanta dedicação às nossas plantas do viveiro. Aos meus familiares que também estiveram presentes em todos os momentos desta trajetória. A todos amigos que conquistei durante estes anos nesta universidade e que me acompanharam ao longo deste período. À professora Maria Bernadete que também participou no desenvolvimento do projeto. Ao pesquisador Fernando Valladares pelas sugestões na análise dos dados. À professora Queila Garcia e à Cristina Sanches por terem aceitado a participar da banca e contribuir com o aprimoramento do projeto. Agradeço a todos os outros professores que participaram desta caminhada. À Capes financiadora da bolsa de mestrado. À Fapemig pelo financiamento do projeto. 3 Sumário Resumo ...................................................................................................................................... 6 Abstract ..................................................................................................................................... 7 Introdução ................................................................................................................................. 8 Material e Métodos Espécies estudadas .......................................................................................................14 Populações estudadas ...................................................................................................18 Condições de crescimento ........................................................................................... 19 Medidas morfológicas e taxa de crescimento relativo ................................................ 21 Medidas fisiológicas ................................................................................................... 21 Análise de dados ........................................................................................................ 22 Resultados Respostas morfológicas e fisiológicas em relação à luz ............................................. 23 Variação nos caracteres e plasticidade fenotípica ...................................................... 33 Discussão Respostas morfológicas e fisiológicas em relação à luz ............................................ 38 Variação nos caracteres e plasticidade fenotípica ...................................................... 44 Conclusão ............................................................................................................................... 47 Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 48 4 Lista de figuras Figura 1: Foto de um indivíduo adulto de D. nigra e de flores e frutos desta espécie ............16 Figura 2: Foto de um indivíduo adulto de D. miscolobium e de flores e frutos desta espécie .17 Figura 3: Representação da quantidade de radiação incidente nos tratamentos a pleno sol e sombreado ............................................................................................................................... 19 Figura 4: Desenho ilustrativo da disposição das mudas de D. nigra e de D. miscolobium nas bancadas .................................................................................................................................. 20 Figura 5: Valores de altura em D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz durante quatro meses ............................................................................................................................ 26 Figura 6: Valores de diâmetro da base do caule em D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz durante quatro meses ................................................................................ 27 Figura 7: Índice “Slenderness” e comprimento do entrenó em D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz ............................................................................................................ 28 Figura 8: Valores de rendimento quântico efetivo da fotossíntese (∆F ∕F’m), taxa aparente de transporte de elétrons (ETR) e dissipação de energia não fotoquímica por densidade de fluxo de fótons (DFF) em D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz .................................................................................................................................................. 32 5 Lista de tabelas Tabela 1: Análise das características morfológicas e da taxa de crescimento relativo (TCR) em D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz ........................................................ 24 Tabela 2: Análise das características fisiológicas em D. nigra e de D. miscolobium nos dois tratamentos de luz ................................................................................................................... 24 Tabela 3: Valores da taxa de crescimento relativo (TCR) da altura e diâmetro do caule em D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz .............................................................. 29 Tabela 4: Características fisiológicas de plantas jovens de D. nigra e D. miscolobium nos dois tratamentos de luz ................................................................................................................... 30 Tabela 5: Coeficientes de variação das características morfológicas e da taxa de crescimento relativo (TCR) dentro de progênie, população e gênero ......................................................... 34 Tabela 6: Ìndices de plasticidade (RDPI) das características morfológicas e da TCR para D. nigra e D. miscolobium ........................................................................................................... 35 Tabela 7: Índices de plasticidade (RDPI) das características fisiológicas para D. nigra e D. miscolobium ............................................................................................................................ 36 6 Resumo Para avaliar as respostas morfológicas, fisiológicas e a plasticidade fenotípica de D. nigra, uma espécie de mata e D. miscolobium, espécie típica do cerrado, em relação à luz, foi conduzido um experimento em viveiro com mudas de duas populações de D. nigra e uma população de D. miscolobium submetidas a 25 e 100 % da radiação solar. Foram medidos: a altura, o diâmetro do caule, o índice “slenderness”, o número de entrenós, o comprimento do entrenó e a taxa de crescimento relativo (TCR). As variáveis fisiológicas, como a condutância estomática, a taxa máxima aparente de transporte de elétrons (ETR de fótons (DFF) em 1∕2 ETR máx , a máx), a densidade de fluxo radiação saturante, o rendimento quântico potencial (Fv ∕ Fm), o rendimento quântico efetivo (∆F ∕ F’m) e o teor de pigmentos, foram avaliadas somente entre as espécies. A plasticidade fenotípica de cada espécie foi determinada através de um índice de plasticidade (RDPI). No geral, as características morfológicas apontaram diferenças principalmente entre as espécies, sendo que o crescimento aéreo foi mais evidenciado nas populações de D. nigra. Nas variáveis fisiológicas houve diferença principalmente entre os tratamentos de luz, as plantas de sol apesar de menor rendimento quântico potencial e efetivo apresentaram maiores valores de ETR máx. A condutância estomática e o teor de carotenóides foram maior nas duas espécies a pleno sol e em D. nigra, enquanto que a quantidade de clorofila foi maior nos indivíduos crescidos em sombra. Apesar de D. nigra ter apresentado menores RDPIs na maioria das variáveis estudadas, ela apresentou maiores valores em algumas delas. Diferenças de plasticidade também foram detectadas mesmo entre as populações de D. nigra. Esses resultados foram relacionados à grande heterogeneidade espacial na distribuição da luz existente nos habitats de ocorrência das espécies e populações. As respostas morfológicas e fisiológicas à luz demonstraram uma adaptação destas espécies a seu habitat original. 7 Abstract D. nigra and D. miscolobium, species from Atlantic Forest and Cerrado respectively, were evaluated by their morphological and physiological characteristics and phenotypic plasticity in response to light. Seedlings of two populations of D. nigra and one of D. miscolobium were grown in a nursery, under 25 and 100 % of sun’s light. It was measured: the height, the steam diameter, the slenderness index, the number of internodes, the mean internode length and the relative growth rate (RGR). The physiological traits, like the stomatal conductance, the maximum apparent photosynthetic electron transport rate (ETRmax), the photosynthetically active photon flux density (PPFD) in 1∕2 ETR max, the saturating PPFD, the potential quantum yield of photosystem II (Fv ∕ Fm), the effective quantum yield (∆F∕F’m) and the pigments contents, were evaluated only between species. The phenotypic plasticity of each species was determined by a plasticity index (RDPI). In general, the morphologic characteristics had pointed differences between the species mainly; the aerial growth was greater in the populations of D. nigra. In the physiological traits the difference was mainly between the treatments of light, the sun plants although having a lower quantum yield showed higher values of ETR max. The stomatal conductance and the amount of carotenoides were higher in both species grown under sun and in D. nigra, while the content of chlorophyll was higher in the individuals of the shade. Although, D. nigra has presented lower values of RDPIs for most of traits, it showed greater values of plasticity in some ones. Differences of plasticity had been also detected between the populations of D. nigra. These results were related with the high heterogeneity in light distribution that exists in the habitats of occurrence of these species and populations. The morphologic and physiological answers to light demonstrated an adaptation of these species to their original habitat. 8 Introdução As espécies se distribuem na superfície terrestre em função de fatores históricos e de suas características ecológicas. Cada espécie possui seus limites de crescimento e sobrevivência. Tais limites estão relacionados aos fatores físicos e bióticos, como clima, solo, relevo e interações, ocupando o habitat mais apropriado para seus requerimentos específicos (Larcher 2004). Algumas espécies apresentam maior tolerância à variação destas condições, outras apresentam habitas muito restritos e isso explica a grande diferença encontrada na distribuição das espécies (Mark 1996). As diferenças apresentadas por espécies que ocupam ambientes contrastantes podem ser resultantes de divergentes linhagens evolutivas, de respostas às condições ambientais e ainda de pré-adaptações dos diferentes genótipos a determinados fatores ou condições ambientais (Reich 2003). A adaptação das espécies é resultado do processo de seleção natural de fenótipos mais adaptados ao ambiente (Reich 2003). A variação no comportamento morfológico e ecofisiológico de um genótipo em resposta a diferentes ambientes é denominada plasticidade fenotípica e o sucesso de algumas espécies depende desta plasticidade (Schlichting 1986 e Lüttge 1997), que é determinada geneticamente (Larcher 2004). A flexibilidade no desenvolvimento das plantas em resposta à variabilidade ambiental é importante para a evolução do fenótipo. Alguns estudos sugerem que estas variações fenotípicas seriam expressas mais fortemente em ambientes estressantes (revisado por Lemos Filho et al. 2004). Espécies diferentes num mesmo ambiente poderiam apresentar características relacionadas a um ancestral comum e/ou adaptações ao seu tipo de habitat. A maior parte dos trabalhos em ecofisiologia agrupa as espécies em grupos funcionais não levando em consideração sua filogenia (Prado & Moraes 1997, Moreira & Klink 2000, Franco & Lüttge 9 2002, Gebler et al. 2005a e Gebler et al. 2005b), entretanto, trabalhos mais recentes têm focado populações de uma mesma espécie, pares congenéricos ou até espécies de uma mesma família que ocupem ambientes contrastantes, como por exemplo, espécies de mata e de cerrado (Hoffmann & Franco 2003, Hoffman et al. 2004, Lemos Filho et al. 2004, Goulart et al. 2005 e Hoffmann et al. 2005). Comparações das características morfológicas e ecofisiológicas entre espécies de cerrado e de mata permitem inferir quais adaptações estariam envolvidas aos seus respectivos habitas (Hoffmann et al. 2004), além de contribuir para o entendimento da dinâmica ecológica nestas áreas. A interação do clima com fatores edáficos, geológicos e biológicos é essencial para entender a distribuição dos tipos de vegetação. Desde o fim do Pleistoceno, as alterações no clima, com alternância de períodos quentes e frios, têm causado grandes modificações na vegetação, provocando retração e expansão das florestas (Hoffmann 2005). Acredita-se que, no passado, a distribuição do Cerrado era mais ampla, favorecida pelo clima mais seco. Porém, com o aumento da umidade, as florestas se expandiram e muitas áreas de cerrado ficaram isoladas em formações disjuntas localizadas dentro de outros biomas (Henriques 2005). A mudança de uma vegetação para outra é caracterizada por mudanças na densidade de árvores e em sua composição, sendo que nem sempre há uma fronteira bem definida entre os tipos de formações (revisado por Hoffmann et al. 2005). Em muitas áreas formações de cerrado e floresta se misturam, formando um mosaico na paisagem, porém poucas espécies são compartilhadas entre florestas e áreas de cerrado (Hoffmann et al. 2005). No geral, a vegetação florestal esta associada à maior disponibilidade de nutrientes e água (Hoffmann et al. 2005). Apresenta uma densa cobertura vegetal, que resulta em baixa disponibilidade de luz no interior da floresta (Goulart et al. 2005). Antes da colonização européia, a Mata Atlântica, uma típica floresta tropical, estendia-se ao longo da costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio grande do Sul, chegando até o leste do Paraguai e 10 nordeste da Argentina (4° a 32° S), ocupando mais de 1,5 milhões de km2 (Tabarelli et al. 2005). Ocorre em altitudes desde o nível do mar a 2.900 m, o que causa grandes variações na temperatura do ar. A variação longitudinal na sua distribuição resulta em marcantes variações ecogeográficas, com aumento da sazonalidade e redução dos índices pluviométricos nas regiões mais interioranas (Tabarelli et al. 2005). Sua destruição começou com a colonização, mas se agravou nas últimas três décadas e hoje já perdeu mais de 93% da área total (Myers et al. 2000). As florestas remanescentes foram reduzidas a vários fragmentos florestais muito pequenos, na maioria das vezes, descontínuos (revisado por Tabarelli et al. 2005), mas ainda assim apresenta uma enorme biodiversidade, com mais de 8.000 espécies endêmicas (Myers et al. 2000). O Cerrado é constituído de grande heterogeneidade estrutural, englobando formações fisionômicas predominantemente campestres, até florestais, como o cerradão (Franco 2005). Esta diversidade fisionômica é resultante principalmente de diferenças nas características climáticas e edáficas. O fogo também exerce um papel importante na modelagem desta fisionomia, sendo responsável pela redução no porte das árvores (Henriques 2005). O clima é estacional, com período chuvoso de outubro a março, seguido de um período seco, de abril a setembro. A precipitação média anual é de 1500 mm e a temperatura média ao longo do ano varia de 22 a 27°C (Klink & Machado 2005). O Cerrado típico é caracterizado por um ambiente aberto com intensa radiação solar (Goulart et al. 2005). Os ambientes do cerrado possuem consideráveis variações sazonais na disponibilidade de água no solo e variações diurnas e sazonais na demanda evaporativa do ar. Durante a estação seca, a maioria das espécies diminui a assimilação de CO2 reduzindo a abertura dos estômatos. Isso também ocorre ao longo do dia quando a demanda evaporativa do ar aumenta significativamente (Franco 2005), independente da estação do ano. A densidade e altura da vegetação lenhosa aumentam com a profundidade e umidade dos solos (Henriques 2005). Os solos geralmente 11 são bem drenados, ácidos, com elevado teor de alumínio e baixa disponibilidade de nutrientes (Franco & Lüttge 2002). O Cerrado está distribuído no Brasil central, entre os estados de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. É o segundo maior bioma brasileiro e ocupava uma área maior que dois milhões de km2. Apresenta uma enorme biodiversidade, com mais de 7.000 espécies botânicas, sendo 44% endêmicas. A fauna também possuiu uma elevada riqueza de espécies (Klink & Machado 2005). O Cerrado e a Mata Atlântica encontram-se hoje extremamente ameaçados. Ambos possuem menos de 25% de sua vegetação original e são considerados importantes centros de endemismos do planeta. Por este motivo, em 2000 foram incluídos, por Myers et al.(2000), entre as 25 áreas no mundo mais importantes para a conservação da biodiversidade mundial, conhecidas como ‘hotspots’. Neste trabalho foram estudadas duas espécies de Dalbergia. D. nigra, uma espécie de mata atlântica e D. miscolobium, uma espécie típica do cerrado, ambientes que apresentam distinta cobertura vegetal e conseqüentemente ambiente lumínico diferenciado. Desta forma, assume-se que a luz possa também determinar estratégias adaptativas distintas que permitem a ocorrência das espécies características destes biomas. A maioria dos trabalhos na literatura aborda o efeito da luz em espécies de diferentes estágios de sucessão e a tolerância ao sombreamento (por ex.: Araus & Hogan 1994, Königer et al. 1995, Groninger et al. 1996, Nicotra et al. 1997, Krause et al. 2001, Bloor 2003 e Sánchez-Gómez et al. 2006). Na literatura existem muitos autores que descrevem características ecofisiológicas de plantas de sol e sombra, envolvendo trocas gasosas, produtividade, características foliares, pigmentação, alometria (Lüttge 1997, Krause et al. 2001, Valladares et al. 2002, Dechoum 2004, Larcher 2004 e Valladares et al. 2004), porém trabalhos mais recentes têm comparado o 12 comportamento fenotípico de espécies do cerrado e da mata atlântica em relação à luz. (Hoffmann & Franco 2003, Hoffmann et al. 2004 e Hoffmann et al. 2005). D. nigra e D. miscolobium ocorrem em algumas regiões de transição entre o cerrado e de mata atlântica, o que as torna um importante modelo biológico para se estudar aspectos evolutivos desses biomas. Considerando a luz como um fator de destaque nestes ambientes, foram apontadas as seguintes hipóteses sobre comportamento morfológico e ecofisiológico destas duas espécies em relação à luz: D. nigra e D. miscolobium apresentarão respostas diferenciais na morfologia e crescimento quando cultivadas a pleno sol e na sombra. Partindo do pressuposto que os ambientes florestais são extremamente competitivos e que a luz é o principal recurso limitante nessas áreas, espera-se que as espécies destes ambientes desenvolvam características para aumentar a captação deste recurso, como por exemplo, maior crescimento aéreo (Valladares et al. 2002 e Hoffmann & Franco 2003) que as espécies de cerrado, onde água e nutrientes são os recursos mais limitantes. Em ambientes de savana as características do solo e a ação do fogo teriam selecionado maior alocação de recursos nas raízes, reduzindo o investimento em estruturas aéreas. Além disso, estes ambientes são considerados mais estressantes e menos produtivos, o que conferiria a estas espécies características de tolerância a este estresse (Hoffmann & Franco 2003). Desta forma, pressupõe-se que D. nigra, apresentará maior crescimento da parte aérea que D. miscolobium, sendo este crescimento também maior em condições de sombreamento. Ao contrário das características morfológicas, as características fotossintéticas relacionadas com a atividade do fotossistema II, apresentarão diferenças principalmente entre os tratamentos de luz. Nesse caso é pressuposto que os parâmetros de fluorescência da clorofila a apresentem uma baixa variação genética em plantas sob condições não estressantes (revisado por Lemos Filho et al. 2004). Dessa forma, diferenças seriam observadas somente 13 sob condição de estresse e, portanto, independente de seu habitat, cerrado ou mata, é esperado que os indivíduos expostos à elevada radiação apresentem estratégias fotoprotetoras, bem como mecanismos que levem a uma maior eficiência no uso da água. As plantas crescidas a pleno sol apresentarão maior capacidade fotossintética que as plantas crescidas em ambientes sombreados. A variação no crescimento e nas características morfológicas será diferenciada em relação ao grau de parentesco entre os grupos. A capacidade de um genótipo em apresentar fenótipos distintos nos diferentes ambientes pode conferir uma maior amplitude ecológica e resultar em divergência adaptativa (Valladares et al. 2007). A plasticidade é alvo da seleção natural e pode evoluir sob mudanças nas condições ambientais (Valladares et al. 2004). Os genótipos apresentam diferentes graus de plasticidade fenotípica; além de diferenças específicas, ocorre também variação intra-específica no grau de plasticidade fenotípica. Considerando que a divergência genética aumenta com a distância filogenética, é esperado que grupos com maior grau de parentesco apresentem menor variação nos caracteres morfofisiológicos, sendo a variação fenotípica maior dentro de gênero que ao nível de populações e progênies. As duas espécies de Dalbergia apresentarão valores de plasticidade fenotípica equivalentes em resposta à luz. A heterogeneidade espacial na luz do sub-bosque florestal e entre diferentes fitofisionomias do cerrado teriam possibilitado o desenvolvimento de diferentes respostas fenotípicas no sentido de adequar suas características morfológicas e fisiológicas para ocupação e sobrevivência nestes ambientes. Nas florestas existe uma grande variação na qualidade e quantidade da luz que atinge os seus diferentes estratos (Bazzaz 1996), o dossel nunca se fecha completamente e a distribuição da folhagem ocorre de forma diferenciada na copa. Esta variação na cobertura do dossel é o primeiro fator a proporcionar uma heterogeneidade espacial no sub-bosque (Pearcy 2007). Por outro lado, a disponibilidade 14 da luz solar varia também de forma evidente entre as diferentes fisionomias do cerrado (Prado et al. 2005). O Cerrado exibe uma grande variação na disponibilidade de luz, o que poderia levar a uma maior plasticidade de resposta a essa variável nestes ambientes (Hoffmann & Franco 2003). Segundo Franco (2005), a capacidade das plantas lenhosas do cerrado de colonizarem os diferentes tipos vegetacionais existentes neste bioma estaria relacionada à tolerância e ao potencial de aclimatação destas espécies a diferentes níveis de luz. Para testar estas hipóteses, foi conduzido um experimento em viveiro submetendo progênies de populações das duas espécies de Dalbergia a dois tratamentos, pleno sol e sombra. As diferentes características apresentadas num mesmo tratamento de luz indicam a ocorrência de variações genéticas, enquanto que as diferenças observadas nos mesmos genótipos, entre os tratamentos de luz, estão relacionadas à plasticidade fenotípica. Material e Métodos Espécies estudadas A família Fabaceae possui distribuição cosmopolita e representa uma das maiores famílias de Angiospermas. Atualmente, é subdividida em três subfamílias: Papilionoideae, Caesalpinioideae e Mimosoideae (Souza e Lorenzi 2005). O gênero Dalbergia L.f. está inserido na subfamília Papilionoideae e tribo Dalbergieae Bronn ex D.C. Segundo Carvalho (1989), esta tribo foi descrita por De Condolle (1825) baseada em manuscritos produzidos pelo botânico alemão H.G Bronn. O gênero Dalbergia foi proposto em 1781 pelo filho de Linnaeus. Possui distribuição Pantropical e suas espécies são conhecidas por seu alto valor econômico. A primeira vez, em que espécies deste gênero foram citadas na literatura, foi em 1587, por Souza, no seu Tratado Descritivo do Brasil. O nome jacarandá foi utilizado para descrever certa árvore com madeira preta, dura e de 15 fragrância agradável. Acredita-se ser a espécie D. nigra pelas características e por ser uma descrição sobre a Bahia, área onde esta espécie encontrava-se abundante e era regionalmente conhecida pela qualidade de sua madeira (Carvalho 1989). D. nigra e D. miscolobium estão incluídas na seção Dalbergia que, segundo Carvalho (1989), apresenta espécies bem distribuídas, concentradas no centro e leste do Brasil, com somente uma espécie de ocorrência na região amazônica. Apesar de pertencerem a um mesmo gênero, segundo este mesmo autor, D. nigra seria mais próxima à D. laterifora, uma espécie também de Mata Atlântica, mas de ocorrência mais ao sul, em região de transição com restinga; e D. miscolobium seria mais relacionada à D. spuceana, espécie presente na Floresta Amazônica semi-decídua. Um trabalho de filogenia, mais recente, realizado por Ribeiro et al. (2007) com algumas espécies de Dalbergia confirma esta distância filogenética entre as espécies D. nigra e D. miscolobium. Dalbergia nigra é uma espécie de mata atlântica que ocorre no sul da Bahia, norte do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e litoral norte de São Paulo, entre as latitudes 13°15’S e 23°S (Carvalho 1994). É encontrada tanto no interior da mata densa como em formações secundárias, apresenta caráter pioneiro (Lorenzi 2002). É semi-heliófila, tolera sombreamento leve a moderado quando jovem. As árvores possuem entre 15 a 25 m de altura, dependendo da região onde são encontradas (Fig. 1A). Na floresta atlântica na Bahia, por exemplo, possui seu tamanho máximo, enquanto que em Minas Gerais, apresenta porte mais reduzido (Carvalho 1989). Possui folhas compostas imparipinadas, alternas, com 8 a 12 cm de comprimento, formadas por 11 a 17 folíolos de 1 a 1,5 cm de comprimento (Lorenzi 2002). Suas flores são amarelas em forma de taça com cinco pétalas, reunidas em cachos axilares (Fig. 1B). O fruto é do tipo sâmara, pequeno e achatado (Fig. 1C), de coloração marrom, com uma ou duas sementes. A polinização ocorre por melitofilia e a dispersão por anemocoria. A fenologia vegetativa e reprodutiva apresenta variações entre suas áreas de ocorrência 16 (Carvalho 1989; Carvalho 1994; Lorenzi 2002 e observações pessoais). Varia de semidecídua a decídua e a floração pode ocorrer de agosto a dezembro, com a maturação dos frutos geralmente entre agosto e setembro. As sementes possuem elevado potencial de geminação. D. nigra é a espécie de Dalbergia mais conhecida e utilizada, por ser uma das espécies madeireiras mais valiosas no Brasil. Possui madeira muito pesada, durável, de alta resistência e fácil de trabalhar, com bom acabamento e polimento natural, devido a sua oleosidade. É utilizada na fabricação de móveis de luxo, instrumentos musicais, artesanatos, óleos essenciais, além de seu uso ornamental e potencial para utilização em reflorestamento ambiental (Lorenzi 2002). A super-exploração de sua madeira, contribuiu para sua inclusão na lista oficial de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção (IBAMA 1992). Seu estado de conservação, segundo critérios da União de Conservação Mundial (IUCN 1994), está como vulnerável, o que representa um alto risco de extinção na natureza em médio prazo. A B C Figura 1 – Indivíduo adulto de D. nigra (A) e suas estruturas vegetativas e reprodutivas. Folhas, botões e flores (B); folhas e frutos verdes (C). 17 Dabergia miscolobium é uma espécie típica de cerrado, considerada uma das espécies brasileiras com maior distribuição, ocorrendo desde o estado do Piauí até o Paraná (Gibbs & Sassaki 1998), nas latitudes de 7° a 24° S. Pode ser encontrada em diferentes formações, na forma arbustiva em campo limpo ou na forma arbórea em cerradão. Possui características de planta heliófita e pioneira, sendo encontrada freqüente em formações abertas secundárias (Lorenzi 2002). As árvores apresentam em média 10 m de altura, podendo variar de 3 a 12 m dependendo das características do solo e da disponibilidade de água onde são encontradas (Carvalho 1989) (Fig. 2A). Possuem troncos e galhos tortuosos, casca cortiçada, folhas alternas, compostas com folíolos coriáceos, arredondados e arroxeados no verso. As flores são relativamente pequenas, roxas e reunidas em cachos auxiliares (Fig. 2B). O fruto é do tipo sâmara, achatado e alongado (Fig. 2C), com uma semente central. A polinização ocorre por melitofilia e a dispersão por anemocoria. A fenologia vegetativa e reprodutiva apresenta variações entre suas áreas de ocorrência (Carvalho 1989; Lorenzi 2002 e observações pessoais). O período de floração pode durar de janeiro a março com maturação dos frutos de maio a junho, porém os frutos permanecem viáveis na árvore por mais alguns meses. D. miscolobium apresenta madeira moderadamente pesada, dura, decorativa e de grande durabilidade natural. É utilizada em marcenaria, em construções civis e pode ser utilizada também na recuperação de áreas degradadas (Lorenzi 2002). 18 B A C Figura 2 – Indivíduo adulto de D. miscolobium (A) e suas estruturas vegetativas e reprodutivas: folhas, botões e flores (B); folhas, frutos verdes e maduros (C). Populações estudadas Sementes foram coletadas aleatoriamente de oito a doze indivíduos de duas populações de D. nigra e de uma população de D. miscolobium. As coletas ocorreram em áreas localizadas no estado de Minas Gerais, no final da estação seca, em setembro de 2005. Uma das populações de D. nigra amostradas foi de Bom Jesus do Amparo (19°45’S 43°31’O), região de mata atlântica. Sementes da outra população de D. nigra e da população de D. miscolobium foram coletadas em áreas naturais de Belo Horizonte (19°56’S 46°56’O), região caracterizada como uma área de transição entre os domínios de Cerrado e Mata Atlântica. 19 Condições de crescimento Aproximadamente 100 sementes de cada progênie foram selecionadas e a germinação foi realizada em câmaras germinativas a 25°C, com fotoperíodo de 12 horas; condições testadas anteriormente, obtendo-se mais de 80% de germinação em ambas as espécies. O experimento foi conduzido em viveiro, em bancadas de madeira (1 x 8 m) e com dois tratamentos de luz, a pleno sol e sombra. A condição de sombra foi proporcionada por telado neutro (sombrite) colocado a aproximadamente 1m acima da bancada, cobrindo também toda a lateral. A radiação fotossinteticamente ativa incidente em cada bancada foi medida com um sensor quântico (Licor, LI-189). Medidas foram feitas em três locais diferentes de cada bancada, a cada 30 minutos, num dia com céu limpo, em maio de 2006. O valor de radiação diário no tratamento sombreado representou cerca de 25 % da radiação solar plena (Fig. 3), num total de 6,1 mol.m-2.dia-1. Durante o período em que permaneceram no viveiro as plantas não sofreram restrição hídrica, foram irrigadas diariamente. 1600 -2 -1 PAR (mol.m .s ) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 10 12 15 16 -- Dia (horas) Figura 3 – Radiação medida nas bancadas do viveiro durante um dia de outono. A linha com símbolos vazios representa o tratamento a pleno sol e a linha com símbolos cheios representa o tratamento sombreado. 20 As plântulas foram plantadas, no início de 2006, em potes (~ 2,4 ℓ) preenchidos com substrato orgânico (mistura 3:1 de substrato orgânico enriquecido com nutrientes e areia), marcados, dispostos aleatoriamente nas bancadas e eventualmente rearranjados evitando sombreamento mútuo. O experimento foi conduzido em um modelo de blocos com três repetições. Foram avaliadas variáveis morfológicas e fisiológicas. As características morfológicas e de crescimento foram avaliadas em duas populações de D. nigra, uma de Bom Jesus do Aparo (A) e a outra de Belo Horizonte (H); e em uma população de D. miscolobium (C). Em cada população ainda foram avaliadas as famílias (progênies), oito na população A, 12 na H e nove na C. Para cada família foram amostradas três plântulas em cada bloco, no total de nove indivíduos por tratamento (Fig. 4). Para as variáveis fisiológicas foi desconsiderado o possível efeito dos blocos sendo avaliados somente indivíduos da população de D. nigra de Bom Jesus do Aparo e da população de D. miscolobium. Foram amostrados três indivíduos por progênie, sendo utilizadas as oito progênies da população de D. nigra e oito progênies da população de D. miscolobium, num total de 24 indivíduos de cada população por tratamento de luz. 8m 100 % 25 % 3 blocos, cada um com: 3 blocos, cada um com: 24 mudas da pop A - 3 x 8 famílias 27 mudas da pop H - 3x 12 famílias 36 mudas da pop C - 3x9 famílias 24 mudas da pop A - 3 x 8 famílias 27 mudas da pop H - 3x 12 famílias 36 mudas da pop C - 3x9 famílias Figura 4 – Desenho ilustrativo da disposição das mudas entre os blocos nas bancadas a 100 e 25 % da radiação. 21 Medidas morfológicas e taxa de crescimento relativo Medidas morfológicas da altura e diâmetro da base do caule foram avaliadas com um paquímetro digital (0,01 mm de precisão) nas mudas com dois, três, quatro, cinco e seis meses de idade, porém com o crescimento, a altura passou a ser medida com uma fita métrica. O número de entrenós foi contado somente no segundo e sexto mês e a presença ou ausência de ramificações também foi observada. O comprimento do entrenó foi estimado pela altura / numero de entrenós, considerando somente os indivíduos não ramificados. O índice ‘Slenderness’ foi calculado dividindo-se a altura pelo diâmetro do caule. A taxa de crescimento relativo (TCR) mensal dos indivíduos foi calculada para altura e para o diâmetro do caule, através da seguinte equação: TCR [ln( x2 ) ln( x1 )] / t 2 t1 sendo x1 (dois meses) e x2 (seis meses). Medidas fisiológicas As variáveis fisiológicas foram avaliadas durante o verão de 2007 em plantas jovens com aproximadamente um ano de idade. As medidas de condutância estomática e de fotossíntese foram feitas em um folíolo da folha mais expandida de cada indivíduo amostrado. A condutância estomática foi medida com um porômetro de difusão AP4 (Delta-T, UK), em dois horários, entre nove e 11h e entre 13 e15 horas. As medidas dos valores de fluorescência da clorofila a foram feitas com um fluorímetro portável Mini-PAM (Waltz, Germany), como em Lemos Filho et al. (2004). O rendimento potencial e o efetivo do fotossistema II (PSII) foram medidos no período entre 12 e 14 horas. O rendimento potencial é calculado como: Fv / Fm ( Fm F0 ) / Fm onde Fm e F0 são a máxima e mínima fluorescência respectivamente, medidos em folhas expandidas após 30 minutos de adaptação ao escuro. O rendimento quântico efetivo é obtido pela equação F/F´m = (F’m – F)/ F’m, onde F é a fluorescência mínima da clorofila na folha exposta à luz e F’m é a fluorescência máxima 22 da clorofila quando a radiação de saturação é imposta. Curvas de saturação de luz foram obtidas pelo programa de curvas de luz do aparelho Mini-PAM, onde a luz ativa é aumentada durante quatro minutos em oito níveis, com intervalos de 30 segundos. A cada nível um pulso de radiação é aplicado. A taxa fotossintética aparente de transporte de elétrons (ETR) é obtida pela fórmula F/F´m x DFF x 0,5; onde o valor 0,5 significa a mesma distribuição da energia luminosa entre os fotossistemas I e II. A taxa máxima aparente de transporte de elétrons (ETR máx) e a densidade de fluxo de fótons (DFF) de saturação foram determinadas através do ajuste de uma regressão não linear no programa Graph Pad Prism, conforme Rascher et al. 2000. O excesso relativo de DFF foi calculado através da fórmula (Fv / Fm - F/F´m) / (Fv/Fm), como feito por Lemos Filho et al. (2004). Dois folíolos de cada indivíduo foram coletados e digitalizados para determinação da área foliar, feita pelo programa de análise de imagens Easy Quantify. A extração de pigmentos foi efetuada em acetona 80% e o conteúdo de pigmentos (clorofila a, clorofila b e carotenóides) foi determinado utilizando as equações descritas em Lichtenthaler & Wellburn (1983). Análise de dados Para comparação das variáveis entre os tratamentos de luz e populações, os dados foram avaliados quanto a sua normalidade e homogeneidade. Para normalização alguns dados foram transformados em log (x+1) ou em arcsen (√x). As características com distribuição normal foram comparadas por ANOVA, considerando como fontes de variação o tratamento de luz, as populações e a interação tratamento de luz x população e no caso das variáveis morfológicas também foi considerado o efeito dos blocos. O teste Tukey foi utilizado posteriormente para comparação de médias. Os dados não paramétricos foram comparados pelo teste Kruscal Wallis entre tratamento de luz, entre população e ainda entre blocos, no caso das variáveis morfológicas, seguidos do teste Holm para a comparação das medianas. 23 Para avaliar a variabilidade morfológica dos caracteres dentro de progênie, população e gênero foram calculados os coeficientes de variação das respostas morfológicas das plantas com dois e seis meses de idade, juntando-se os valores obtidos por cada grupo de genótipos nos dois tratamentos de luz. A plasticidade fenotípica das populações de D. nigra e D. miscolobium foi avaliada para características morfológicas e fisiológicas utilizando-se o Índice de plasticidade baseado em distâncias relativas (“relative distance plasticity index” RDPI), descrito por Valladares et al. (2006). Para isso foram calculadas distâncias relativas (RD) entre os valores das características para todos os pares de indivíduos de uma mesma população crescidos em tratamentos de luz diferentes. As RD foram calculadas pela fórmula RD iji' j' d ij i' j' /(x i' j' x ij ) onde j e j’ são indivíduos pertencentes a diferentes tratamentos de luz i e i’. O RDPI varia de zero (nenhuma plasticidade) a um (plasticidade máxima) e é obtido como RDPI (d ij i ' j ' /( xi ' j ' xij )) / n onde n é o total de RD. No caso das características morfológicas, foram usados pares de valores médios, para ajudar na computação dos índices. Foi calculada uma média para cada família, dentro de cada bloco, resultando em três valores médios por família em cada tratamento. No total então foram 24 valores médios para a população A, 27 para a H e 36 para a C, por tratamento. A comparação dos RDPIs entre as populações foi feita pelo teste Kruscal-Wallis seguido de teste Holm para os dados que apresentaram distribuição não paramétrica e no caso de dados paramétricos, foi feita ANOVA e teste Tukey. Todas as análises estatísticas foram realizadas no programa JMP (versão 5.0). Resultados Respostas morfológicas e fisiológicas à luz A análise das 11 variáveis morfológicas apontou efeito significativo de blocos na altura, no índice “Slenderness” e no comprimento do entrenó apenas com dois meses após o 24 plantio (Tab.1). Das 22 variáveis analisadas, apenas a altura inicial e o diâmetro final do caule, não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos de luz (Tab. 1 e 2). Todas as características morfológicas e de crescimento apresentaram diferenças significativas entre as populações de D. nigra quando comparadas à população de D. miscolobium. Somente algumas variáveis apresentaram diferenças significativas entre as duas populações de D. nigra. A interação população*luz foi significativa no diâmetro inicial do caule e no comprimento do entrenó. Das variáveis fisiológicas, os valores obtidos com as curvas de saturação (ETR máx, DFF ½ ETR máx e DFF de saturação), o Fv/Fm , o ∆F / F’m e os teores de clorofila não apresentaram diferenças significativas entre as espécies. A interação espécie*luz foi significativa apenas para clorofila total, carotenóides e razão carotenóides: clorofila total (Tab. 2). Tabela 1 – Análise das características morfológicas e das taxas de crescimento relativo (TCR) nas duas populações de D. nigra e na população de D. miscolobium submetidas aos dois tratamentos de luz (72 < n < 108). Valor do X2 obtido no teste Kruscal Wallis para os dados não paramétricos e valor de F, obtido na ANOVA para os dados paramétricos (* = p<0,05; ** = p<0,01; *** = p<0,001 e n.s = não significante). Fonte de Variação Variáveis Bloco Tratamento de luz População Luz * População Altura da gema (dois meses) 7,02 * 0,88 n.s 144,50 *** - Diâmetro do caule (dois meses) 0,49 n.s 154,93 *** 23,15 *** 10,33 *** Ìndice “Slenderness” (dois meses) 10,64 ** 31,64 *** 229,85 *** - Nº de entrenós (dois meses) 4,66 n.s 26,98 *** 191,30 *** - Comprimento do entrenó (dois meses) 7,05 ** 25,90 *** 4,29 * Altura da gema (seis meses) 4,16 n.s 20,57 *** 272,78 *** - Diâmetro do caule (seis meses) 1,85 n.s 1,18 n.s 204,66 *** - Índice “Slenderness” (seis meses) 3,77 n.s 34,64 *** 210,67 *** - Nº de entrenós (seis meses) 5,64 n.s 36,26 *** 190,58 *** - TCR altura 2,76 n.s 61,55 *** 197,04 *** - TCR diâmetro do caule 2,27 n.s 55,95 *** 217,99 *** - 3,69 * 25 Tabela 2 – Análise das características fisiológicas avaliadas em plantas de D. nigra e de D. miscolobium submetidas aos dois tratamentos de luz (n = 24). Valor do X2 obtido no teste Kruscal Wallis para os dados não paramétricos e valor de F, obtido na ANOVA para os dados paramétricos (* = p<0,05; ** = p<0,01; *** = p<0,001 e n.s = não significante). Fonte de Variação Variáveis Tratamento de Luz Espécie Luz*espécie Condutância estomática (9-11 h) 10,22 ** 8,79 ** 2,24 n.s Condutância estomática (13-15 h) 6,58 * 9,54 ** 3,07 n.s ETR Max 30,82 *** 0,18 n.s 0,01 n.s DFF ½ ETR máx 29,50 *** 0,96 n.s 0,29 n.s DFF de saturação 29,45 *** 0,95 n.s 0,29 n.s Fv / Fm 9,33 ** 0,0056 n.s - ∆F / F’m 51,16 *** 1,32 n.s - Clorofila total 34,62 *** 0,03 n.s 4,82 * Razão clorofila a/b 54,02 *** 4,22 * 1,56 n.s Carotenóides 6,49 * 6,72 * 19,35 *** Razão Carotenóides/clorofila total 259,16 *** 25,03 *** 14,47 *** O crescimento da parte aérea foi diferenciado entre os tratamentos de luz. O crescimento em altura foi mais acentuado nas plantas mantidas sob baixa radiação em relação às plantas crescidas a pleno sol (Fig. 5), porém este comportamento foi mais evidente em D. nigra quando comparada a D. miscolobium. Na Figura 5, percebe-se ainda, que o tratamento sombreado proporcionou uma maior variação entre respostas apresentadas pelas progênies das populações A e H, que o ambiente ensolarado, sendo esta variação mais nítida na população A. O crescimento do diâmetro do caule (Fig. 6), apesar de inicialmente ter sido maior nas plantas mantidas sob elevada radiação, foi maior nas plantas do ambiente sombreado a partir do segundo ou terceiro mês, com valores finais similares aos apresentados pelas plantas do ambiente ensolarado. Desta forma, no total, as plantas na sombra tiveram um maior incremento relativo no diâmetro do caule que as plantas ao sol, crescimento este também mais evidente em D. nigra. Estes resultados observados nas Figuras 5 e 6 foram demonstrados 26 também pelos valores das taxas de crescimento relativo maiores no tratamento sombreado (Tab. 3) e pelo índice “slenderness” (Fig. 7A e 7B), que apontou para um maior estiolamento das plantas nestas condições. Sombra Sol Altura da gema (cm) 50 D. nigra - população A 40 30 20 10 Altura da gema (cm) 50 D. nigra - população H 40 30 20 10 Altura da gema (cm) 50 D. miscolobium - população C 40 30 20 10 2 3 4 Tempo (meses) 5 6 2 3 4 5 6 Tempo (meses) Figura 5 – Crescimento em altura (cm) de plantas jovens durante quatro meses. Cada linha representa as médias dos valores obtidos para cada progênie. 27 Sombra Sol Diâmetro da base (mm) 6 5 D. nigra - população A 4 3 2 1 0 Diâmetro da base (mm) 6 D. nigra - população H 5 4 3 2 1 0 Diâmetro da base (mm) 6 5 D. miscolobium - População C 4 3 2 1 0 2 3 4 5 6 Tempo (meses) 2 3 4 5 6 Tempo (meses) Figura 6 – Crescimento do diâmetro da base do caule (mm) de plantas jovens durante quatro meses. Cada linha representa as médias dos valores obtidos para cada progênie. As diferenças obtidas entre as populações, para as variáveis morfológicas, ocorreram especialmente entre as populações de D. nigra e a população de D. miscolobium. A altura foi maior em D. nigra e o diâmetro do caule inicial só foi significativamente maior nesta espécie no tratamento sombreado. O padrão de crescimento tanto em altura, quanto no diâmetro do 28 caule de D. nigra, foi bem diferenciado do apresentado por D. miscolobium. Este padrão manteve-se o mesmo nos dois tratamentos de luz, apesar de na sombra este crescimento ter sido maior. D. miscolobium apresentou menores taxas de crescimento relativo que D. nigra (Tab.3), demonstrando um crescimento aéreo mais lento (Fig. 5 e 6). As populações de D. nigra apresentaram maior índice “slenderness” e maior quantidade de entrenós. As populações A e H de D. nigra se diferenciaram na altura inicial, no diâmetro do caule e índice “Slenderness” finais e no número de entrenós, sendo todos maiores na população H. A população H também apresentou entrenós mais alongados que a população A em condições de sombra (Fig. 7C). Tabela 3 – Valor médio e desvio padrão (d.p.) da taxa de crescimento relativo (TCR) da altura e diâmetro do caule, avaliadas em plantas jovens de duas populações de D. nigra e na população D. miscolobium submetidas aos dois tratamentos de luz. Letras diferentes representam valores significativamente diferentes (p < 0.05). Letras maiúsculas comparam as populações e as letras minúsculas comparam os tratamentos de luz. D. nigra - população A TCR altura -1 -1 Média d.p. Média d.p. Média d.p. 100 0,1287 A b 0,0591 0,1210 A b 0,0575 0,0396 B b 0,0314 Aa 0,0746 0,2044 Aa 0,0755 0,0649 Ba 0,0438 0,0724 0,1889 A b 0,0668 0,0561 B b 0,0400 0,0546 Aa 0,0589 Ba 0,0502 25 0,2192 TCR diâmetro do caule 100 0,1864 A b -1 (mm.mm . mês ) D. miscolobium % de radiação (cm.cm . mês ) -1 D. nigra - população H 25 0,2630 Aa 0,2810 0,1001 Comparando as Figuras 7A e 7B, percebe-se uma redução do índice “slenderness” nas plantas do segundo mês pra o sexto. Esta diferença pode ser entendida observando o desenho das linhas de crescimento da altura e do diâmetro do caule. Os valores do diâmetro do caule parecem ter uma relação linear no tempo, enquanto que os valores de altura apontam para um crescimento mais acelerado no início, que depois tende a reduzir. A redução do o índice “slenderness” é causada exatamente por este crescimento diferenciado, pois com o tempo, a altura cresce menos que o diâmetro do caule. 29 O comprimento do entrenó foi significativamente maior no tratamento sombreado, somente para os indivíduos das populações H e C (Fig. 7C). Já o número de entrenós foi maior nas plantas cultivadas a pleno sol, sendo os valores obtidos inicialmente e no sexto mês, respectivamente: 15 e 35 na população H; 14 e 29, na A e 8 e 11, na C. Na sombra estes valores foram de 12 e 25 na população H; 11 e 20, na A e 2 e 9, na população C. 14 A Aa 12 10 Ba Bb Ab 8 Ca 6 Cb 4 2 Índice Slenderness (cm/mm) Índice Slenderness (cm/mm) Ca 14 B 12 10 Aa Aa 8 Ab Ab 6 Ba Bb 4 2 0 0 A H A C Comprimento do entrenó (cm) 1,8 1,5 H (a) (a) (b) (b) (b) C C (b) 1,2 0,9 0,6 0,3 0,0 A H C Populações Figura 7 – Valores médios com erro padrão do Índice “Slenderness” (cm/mm) de plantas de D. nigra população A e H e de D. miscolobium (população C) com dois (A) e seis meses (B) e do comprimento do entrenó com dois meses (C) de crescimento nos tratamentos a pleno sol (barras cinza) e 25% da radiação solar (barras pretas). Letras diferentes representam valores significativamente diferentes (p < 0.05). Letras maiúsculas comparam as populações e as letras minúsculas comparam os tratamentos de luz. No gráfico de comprimento do entrenó as letras, entre parênteses, representam o resultado da interação luz*população. 30 No geral as plantas que cresceram em pleno sol apresentaram valores maiores na condutância estomática, nos valores máximos da taxa relativa de transporte de elétrons (ETR máx), na densidade de fluxo de fótons em ½ ETR máx e no ETR max, porém apresentaram menor rendimento quântico potencial (Fv ∕ Fm) e efetivo (∆F ∕ F’m) do Fotossistema II (Tab. 4). As mudas do ambiente ensolarado também apresentaram maior razão clorofila a: b, maior teor de carotenóides e maior razão carotenóides: clorofila total. O teor total de clorofilas só foi significativamente maior nos ambientes sombreados na espécie D. nigra. Os valores de condutância estomática, da razão clorofila a: b, do teor de carotenóides, da razão carotenóides: clorofila foram significativamente diferentes entre as espécies. A condutância estomática foi maior em D. nigra e a razão clorofila a: b foi maior em D. miscolobium. O teor de carotenóides e a razão carotenóides: clorofilas só apresentaram diferenças entre as espécies no tratamento sombreado, onde foram maiores nos indivíduos de D. nigra (Tab. 4). Os valores de condutância estomática medidos entre 13 e 15 horas apresentaram uma redução de 40 a 50 % quando comparados com os valores medidos entre 9 e 11 horas (Tab. 4). 31 Tabela 4 – Valor médio e desvio padrão (d.p.) das características fisiológicas avaliadas em plantas jovens de D. nigra e D. miscolobium submetidas aos dois tratamentos de luz (n = 24). Letras diferentes representam valores significativamente diferentes (p < 0.05). Letras maiúsculas comparam as espécies e as letras minúsculas comparam os tratamentos de luz. Nas variáveis, clorofila total, carotenóides e razão carotenóides: clorofila total as letras, entre parênteses, representam o resultado da interação luz*espécie. D. nigra Variáveis % de radiação Média Aa Condutância estomática (9-11 h) 100 425,20 (mmol.m-2.s-1) 25 265,71 A b Condutância estomática (13-15 h) -2 1 100 242,55 Aa Ab 59,5 221,7 A a 81,6 22,6 124,9 Ab 60,3 197,8 736,7 A a 271,1 75,1 414,9 Ab 200,2 0,056 0,696 A b 0,093 25 0,756 Aa 0,048 0,755 Aa 0,070 100 0,356 A b 0,154 0,271 A b 0,163 0,039 0,626 Aa 0,123 (b c) 5,56 5,00 175,8 A a Ab (mol.m .s- ) 25 115,2 DFF de saturação 100 583,9 A a Ab (mol.m .s- ) 25 382,5 Fv / Fm 100 0,729 A b 0,677 Aa 100 14,65 (c) 4,79 16,60 25 23,64 (a) 5,62 20,87 (a b) 25 2,83 Ba 2,45 Bb 3,60 (a) 25 4,33 (a) 1,38 2,53 100 0,25 (a) 0,03 0,25 (a) 0,05 0,02 (c) 0,01 100 25 Carotenóide (µg.cm ) Razão carotenóides: clorofila total 101,31 126,61 16,55 100 -2 115,48 33,97 DFF ½ ETR máx Razão clorofila a: b 104,20 Ba 10,87 37,80 Clorofila total (µg.cm ) 179,15 B b 24,87 25 -2 176,97 Ab Ab (mol.m .s- ) ∆F / F’m 113,10 62,56 A a 62,40 A a 1 231,23 26,42 100 -2 258,26 53,52 ETR máx 1 d.p. Ba 93,45 134,85 -2 Média 77,06 25 1 d.p. Bb (mmol.m .s- ) -2 D. miscolobium 100 25 0,18 (b) 0,35 0,24 1,03 3,16 Aa 0,44 2,49 Ab 0,21 4,04 (a) 1,37 (b) 0,63 0,12 32 Na Figura 8, os ajustes das curvas do rendimento quântico efetivo do PS II, do ETR e do excesso relativo de fótons demonstram claramente a resposta das espécies em relação às condições de luz, ocorrendo uma nítida separação do comportamento fotossintético entre os dois tratamentos. Apesar disso o padrão de resposta observado nas curvas de saturação foi sempre o mesmo; em ambos os tratamentos houve uma queda brusca no rendimento quântico da fotossíntese com aumento da intensidade de radiação aplicada pelo aparelho (Fig. 8A), porém as plantas crescidas na sombra apresentaram uma redução ainda mais acentuada que as plantas desenvolvidas no sol. Com uma mesma quantidade de luz, os indivíduos crescidos a pleno sol atingiram maiores valores de ETR e a estabilidade da curva, interpretada como momento de saturação da fotossíntese, ocorreu em níveis mais elevados de radiação nestes indivíduos que nos outros crescidos na sombra (Fig. 8B). Estes resultados estão relacionados aos valores de ETR máx e DFF no ETR máx representados na Tabela 4. O excesso relativo de fótons foi elevado também para as duas espécies logo no início (~40 %). Este aumento, no entanto foi maior nas plantas mantidas sob baixa radiação. Um excesso relativo de DFF maior que 80% foi atingido também em menor nível de radiação nestes indivíduos (Fig. 8C). 33 A 0,8 0,7 F / F'm 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 B 60 -2 -1 ETR (mol.m .s ) 70 50 40 30 20 10 Excesso Relativo de DFF 0 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 C 0 500 1000 1500 -2 2000 -1 DFF (mol.m .s ) Figura 8 - Curvas obtidas com saturação de luz na fotossíntese (n = 24). A - rendimento quântico efetivo da fotossíntese (∆F∕ F’m), B - taxa aparente de transporte de elétrons (ETR) e C - dissipação de energia não fotoquímica por densidade de fluxo de fótons (DFF). (○) D. nigra - população A, a pleno sol; (●) D. nigra população A, a 25% da radiação; (□) D. miscolobium a pleno sol e (■) D. miscolobium a 25% da radiação. Variação nos caracteres e plasticidade fenotípica Os valores dos coeficientes de variação das características morfológicas estão apresentados na Tabela 5. Para todas as características avaliadas, a maior variação encontrada 34 foi dentro do gênero e a menor dentro de família (progênie), sendo que a variação dentro de populações obteve valores intermediários. Dentre as variáveis analisadas, o coeficiente de variação foi maior nas taxas de crescimento relativo. No total foram calculados os RDPIs de 18 variáveis (Tab. 6 e 7). Em geral, os RDPIs foram diferenciados entre as espécies e ∕ ou populações. A única variável, para a qual não foram observadas diferenças significativas entre as espécies, foi a condutância estomática entre 13 e 15 horas (Tab.7). Em relação às características morfológicas avaliadas, os RDPIs do número inicial de entrenós, do comprimento dos entrenós e das TCR (altura e diâmetro do caule) foram maiores na espécie D. miscolobium, enquanto que os RDPIs do índice “slenderness” e do número de entrenós com seis meses foram maiores em alguma ou em ambas as populações de D. nigra. Somente alguns RDPIs apresentaram diferenças entre as populações A e H de D. nigra. Os RDPIs do índice “Slenderness”, número de entrenós e comprimento do entrenó no segundo mês e a TCR da altura foram maiores na população de D. nigra de Belo Horizonte. Quanto às características fisiológicas, os RDPIs foram significativamente maiores em D. miscolobium para oito das 11 variáveis avaliadas. Os RDPIs foram maiores em D. nigra somente para condutância estomática entre 9 e 11 horas e clorofila total (Tab. 6 e 7). As variáveis apresentaram diferentes níveis de plasticidade. As variáveis fisiológicas, no geral, apresentaram RDPIs mais altos que as variáveis morfológicas. A TCR, a condutância estomática, o ETR máx, a DFF ½ ETR máx, a DFF de saturação e o ∆F / F’m apresentaram-se como as variáveis mais plásticas, com RDPIs médios entre as espécies, igual ou maiores que 0,30. A razão clorofila a:b, o Fv / Fm e o comprimento do entrenó apresentaram plasticidade mais baixa, menor ou igual a 0,10; quando tirada uma média entre os RDPIs obtidos para as populações ou espécies. 35 Tabela 5 – Coeficientes de variação das características morfológicas e da taxa de crescimento relativo (TCR), calculados para família, população, espécie e gênero. O Índice “Slenderness” foi avaliado com 60 e 180 dias e o número de folhas e comprimento do entrenó somente com 60 dias. Média e desvio padrão (d.p) entre os coeficientes de variação das famílias e das populações. Coeficiente de variação Dois meses Índice Slenderness Nº de entrenós Nível hierárquico Seis meses Comprimento do Índice Nº de entrenós entrenó Slenderness TCR altura TCR diâmetro do caule Média d.p. média d.p. média d.p. média d.p. média d.p. Média d.p. média d.p. Família - Pop A 0,331 0,06 0,249 0,05 0,194 0,04 0,263 0,05 0,418 0,07 0,437 0,077 0,319 0,069 Família - Pop H 0,311 0,06 0,252 0,07 0,213 0,04 0,258 0,03 0,381 0,08 0,457 0,097 0,319 0,070 Família - Pop C 0,308 0,07 0,332 0,10 0,233 0,05 0,222 0,04 0,325 0,08 0,698 0,135 0,579 0,119 0,316 0,06 0,276 0,08 0,214 0,04 0,248 0,04 0,374 0,08 0,526 0,156 0,400 0,149 Família População A 0,341 0,259 0,220 0,264 0,424 0,465 0,332 População H 0,315 0,274 0,229 0,263 0,406 0,485 0,331 População C 0,322 0,366 0,286 0,237 0,360 0,759 0,623 População Gênero 0,326 0,430 0,01 0,300 0,362 0,06 0,245 0,248 0,04 0,255 0,331 0,02 0,397 0,550 0,03 0,570 0,165 0,645 0,429 0,168 0,506 36 Tabela 6 – Valor médio, desvio padrão (d.p.) e mediana dos índices de plasticidade (RDPI) para as características morfológicas e para a TCR nas duas populações de D. nigra e na população de D. miscolobium. Teste Kruscal Wallis para variáveis não paramétricas. Comparação de medianas pelo teste Holm. ANOVA (valor de F) dos dados de RDPI da TCR altura, que apresentaram distribuição paramétrica. Tukey para a comparação de médias. Letras diferentes representam diferenças significativas (< 0,05) entre as populações. D. nigra - população A D. nigra - população H D. miscolobium -população C Média d.p. Mediana Média d.p. Mediana Média d.p. Mediana Índice Slenderness (dois meses) 0,15 0,10 0,13 b 0,16 0,10 0,16 a 0,15 0,11 0,13 b Nº de entrenós (dois meses) 0,11 0,09 0,09 c 0,13 0,10 0,11 b 0,14 0,10 0,12 a Comprimento do entrenó (dois meses) 0,08 0,06 0,07 c 0,09 0,07 0,08 b 0,13 0,09 0,12 a Índice Slenderness (seis meses) 0,12 0,08 0,10 a 0,12 0,08 0,11 a 0,10 0,08 0,09 b Nº de entrenós (seis meses) 0,21 0,15 0,17 a 0,20 0,12 0,19 a 0,16 0,12 0,14 b TCR altura 0,28 b 0,17 - 0,26 b 0,16 - 0,35 a 0,22 - TCR diâmetro do caule 0,20 0,13 0,17 c 0,20 0,12 0,20 b 0,34 0,22 0,31 a 37 Tabela 7 – Valor médio, desvio padrão (d.p.) e mediana dos índices de plasticidade (RDPI) para as características fisiológicas avaliadas nas espécies D. nigra e D. miscolobium. Valores não paramétricos avaliados pelo teste Kruscal Wallis, somente os RDPIs da condutância estomática (13 – 15 h) não apresenatram diferenças significativas entre as espécies. Comparação de medianas pelo teste Holm. Letras diferentes representam diferenças significativas (< 0,05) entre as espécies. D. nigra Média d.p. D. miscolobium Mediana Média d.p. Mediana a 0,25 0,17 0,23 b Condutância estomática (9-11 h) 0,36 0,23 0,34 Condutância estomática (13-15 h) 0,35 0,23 0,33 a 0,34 0,22 0,32 a ETR Max 0,28 0,17 0,27 b 0,35 0,21 0,34 a DFF ½ ETR máx 0,22 0,14 0,20 b 0,34 0,20 0,33 a DFF de saturação 0,22 0,14 0,20 b 0,34 0,20 0,33 a Fv/Fm 0,04 0,04 0,02 b 0,07 0,06 0,05 a ∆F / Fm 0,34 0,20 0,31 b 0,43 0,21 0,50 a Clorofilas 0,26 0,17 0,24 a 0,19 0,13 0,17 b Razão clorofila a:b 0,08 0,06 0,07 b 0,12 0,07 0,12 a Carotenóides 0,18 0,13 0,15 b 0,23 0,15 0,21 a Razão Carotenóides:clorofila 0,17 0,07 0,17 b 0,33 0,10 0,33 a 38 Discussão Respostas morfológicas e fisiológicas à luz D. nigra e D. miscolobium apresentaram diferenças morfológicas e fisiológicas quando submetidas a ambientes com intensidade luminosa contrastante. Algumas destas características seriam ainda apontadas como adaptações destas espécies ao seu ambiente natural. Segundo Larcher (2004), plantas intolerantes à sombra podem se aclimatar a sombra, mas não na mesma intensidade que as plantas de sombra, que já carregam algumas características genéticas selecionadas por estes ambientes. Geralmente, uma espécie que apresenta rápido crescimento em ambiente sombreado tende a apresentar um rápido crescimento também num ambiente com alta irradiância (Sack & Grubb 2001). Diferentes ambientes apresentam diferentes pressões seletivas (Petit & Thompson 1998) resultando em diferentes respostas adaptativas. O maior crescimento do caule, caracterizado pelas taxas de crescimento relativo, pelo índice “slenderness” e pelo comprimento do entrenó, maiores em geral no tratamento sombreado e na espécie D. nigra, demonstram que estas plantas teriam desenvolvido um tipo de escape da sombra (Valladares & Niinemets 2007), síndrome caracterizada por um acelerado crescimento em extensão, retardo no desenvolvimento das folhas, forte dominância apical, dentre outras. Estas características seriam uma estratégia em ambientes mais competitivos para otimização da captação da luz (Alvarenga et al. 2003 e Hoffmann & Franco 2003). Para D. nigra este mecanismo tem um papel importante na adaptação a ambientes florestais, permitindo aos indivíduos desta espécie competir espacialmente pela luz com outras espécies de crescimento rápido, que eventualmente dominam estas áreas (Groninger et al. 1996). Baixas condições de radiação evidenciaram grau de variação genética intra populacional nas populações A e H (D. nigra). Neste caso a limitação no fluxo quântico teria 39 proporcionado uma maior expressão das diferenças genotípicas. A variação fenotípica é importante no processo evolutivo, pois é onde a seleção natural atua. Na natureza, os genótipos que apresentaram o melhor desempenho no processo de competição pela luz no ambiente sombreado, seriam selecionados positivamente em detrimento dos outros que não apresentaram um bom desempenho. Apesar do crescimento aéreo maior nas plantas do tratamento sombreado, houve um contraste muito mais nítido entre o padrão de crescimento das duas espécies. Barbosa et al. 1999, também obtiveram valores maiores na taxa de crescimento relativo em espécies florestais, quando comparadas com espécies de cerrado. O menor crescimento aéreo em D. miscolobium tanto no ambiente sombreado quanto a pleno sol, estaria relacionado ao maior investimento destas plantas na biomassa de raízes, o que permite a sua sobrevivência e o seu estabelecimento em ambientes estressantes como o cerrado (Hoffmann & Franco 2003). Um maior investimento no sistema subterrâneo, com elevados valores da razão raiz: parte aérea, foi descrito por Hoffmann & Franco (2003) para outras espécies arbóreas do cerrado, dentre elas D. miscolobium. Esta característica seria uma estratégia de resistência à seca e ao fogo. O investimento em raízes assegura a exploração de recursos durante a estação chuvosa e permite a sobrevivência das plântulas às condições adversas da estação seca. O sucesso de D. miscolobium em áreas de cerrado foi atribuído às suas reservas, que permitiriam sua sobrevivência e rebrota após o fogo (Moreira & Klink 2000). Sassaki et al. (1996), estudando o crescimento de D. miscolobium em relação à sazonalidade, fotoperíodo e tipo de solo, concluíram que esta espécie é bem adaptada a escassez de nutrientes a elevada radiação, sendo desta forma bem adaptada a ambientes de cerrado. As características apresentadas por D. nigra e D. miscolobium indicam que o balanço entre o investimento no sistema aéreo e no sistema radicular teria uma forte herança adaptativa destas espécies à ambientes de mata e cerrado. 40 O crescimento aéreo reduzido em D. miscolobium pode explicar a limitação desta espécie à ambientes de cerrado, uma vez que ela teria menor capacidade de competir pela luz em ambientes florestais, sendo selecionada negativamente. D. nigra mostrou-se capaz de desenvolver bem em ambientes ensolarados, desta maneira, algum outro fator, que não a luz, seria responsável por impedir sua expansão para as áreas de cerrado. Algumas características como o alto teor de alumínio, a baixa disponibilidade de nutrientes no solo, marcada estação seca e ocorrência de fogos periódicos poderiam ser muito limitantes para D. nigra, uma vez que é uma espécie de mata, ambiente normalmente com solos mais férteis, ricos em nutrientes e com boa disponibilidade de água, como revisto por Hoffman et al. (2004). A eficiência intrínseca da fotossíntese, avaliada através das medidas de fluorescência da clorofila a, geralmente apresenta pouca ou nenhuma variação significativa entre as espécies ou condições de crescimento, a não ser em situações estressantes (Singsaas et al. 2001). O rendimento quântico potencial e o efetivo não apresentaram diferenças entre as espécies, porém, apresentaram maiores valores nas plantas crescidas na sombra. O aumento do rendimento quântico em ambientes sombreados pode ser explicado por uma maior eficiência na transferência da luz da clorofila para o fotossistema II (FSII) (Groninger 1996). O menor rendimento quântico nas plantas crescidas a pleno sol tem relação com a dissipação não fotoquímica da energia incidente. As medidas de Fv / Fm e ∆F ∕ F’m foram realizadas no período de maior radiação (12 às 14 horas), durante o qual é comum ocorrer uma redução natural e reversível do rendimento fotossintético (Ball et al. 1994). Esta capacidade de ajustamento nos processos fotoquímicos tem um papel fundamental na adaptação fotossintética em ambientes mais abertos, como o cerrado (Franco & Lüttge 2002). Segundo Lüttge et al. (1998), plantas com Fv / Fm menores que 0,8 estariam fotoinibidas, porém este valor parece questionável, uma vez que as plantas crescidas no ambiente sombreado também apresentaram rendimento quântico potencial abaixo de 0,8. 41 Além disso, um estudo comparando a fluorescência da clorofila a em folhas e frutos de D. miscolobium obteve constantemente valores de Fv / Fm menores que 0,8, inclusive no início da manhã (Lemos-Filho & Isaias 2004). Outro trabalho de fotoinibição (Araus & Hogan 1994) considera que valores de Fv / Fm, entre 0,75 e 0,85, são encontrados em plantas sob condições não estressantes. Desta forma, somente os indivíduos que cresceram a pleno sol estariam fotoinibidos. A fotoinibição é resultado de uma alteração no funcionamento do PSII, manifestada por um declínio reversível na atividade fotossintética (Thiele et al. 1996), que acontece quando o aparato fotossintético absorve mais energia do que consegue utilizar na fotossíntese (Ball et al. 1994). Em alguns casos, o excesso de energia promove danos à proteína D1 do centro de reação do fotossistema II (PSII) (Thiele et al. 1996). Mecanismos regulatórios convertem parte desta energia excessiva em calor, desta forma, a redução na eficiência do PSII é acompanhada por um aumento na dissipação de energia via não fotoquímica, uma estratégia de fotoproteção (Franco & Lüttge 2002 e Einhorn et al. 2004). As curvas de saturação da fotossíntese caracterizam as respostas aos fatores ambientais e o comportamento das espécies na utilização do recurso. Um maior ponto de saturação está relacionado a um maior ganho energético (Larcher 2004), que foi observado nas plantas crescidas a pleno sol. A redução mais acentuada nos valores de ∆F ∕ F’m observada nas plantas do ambiente sombreado estaria relacionado ao fato destas plantas não exibirem um aparato fotossintético adequado para lidar com o excesso de energia luminosa quando suas folhas são submetidas a níveis crescentes de irradiação. Este excesso de radiação luminosa levaria também a um o aumento da extinção não fotoquímica (Lemos Filho 2000). Esta dissipação de energia na forma de calor seria uma maneira de manter uma maior abertura do PSII, não causando danos ao fotossistema (Niinemets & Kull 2001). A adaptação fenotípica a radiação envolve também mudanças fisiológicas no uso da água e absorção de CO2. Nas folhas a pressão interna do CO2 nos espaços intercelulares é 42 regulada pela abertura dos estômatos, que se ajusta às oscilações dos fatores ambientais. As características do aparato estomático variam entre as espécies, podendo ser alteradas em função de adaptações locais (Larcher 2004). A condutância estomática maior no ambiente ensolarado aumenta a difusão do CO2 para o interior do mesofilo, mas potencializa uma maior perda de água por µmol de CO2 assimilado (Lüttge 1997). Desta forma, para manter um eficiente uso da água, as plantas a pleno sol apresentam maior capacidade fotossintética, compensando o aumento da transpiração. Este fato foi comprovado para as duas espécies de Dalbergia que apresentaram maiores valores de ETR máx quando crescidas a pleno sol. Nas plantas crescidas no ambiente sombreado foi observada menor condutância estomática, menores valores de ETR máx e saturação da fotossíntese num menor nível de radiação. A capacidade fotossintética é considerada uma característica plástica que evoluiu em resposta a diferentes condições ambientais (revisado por Silvestrini 2000). As espécies D. nigra e D. miscolobium não apresentaram diferenças na fotossíntese, avaliada a partir de medidas de fluorescência, porém foram encontradas diferenças na condutância estomática entre estas espécies. A menor condutância estomática observada em D. miscolobium pode ser um indicativo de que esta espécie possua uma maior eficiência no uso da água que D. nigra. Esta seria uma adaptação ao seu ambiente de origem, onde a água é um recurso mais limitante. Segundo Hoffmann et al. (2005), plantas de regiões mais secas possuem elevada concentração de Rubisco, que permite o uso de grande parte do CO2 interno acumulado e isso aumenta a eficiência do uso da água, permitindo a planta realizar fotossíntese efetivamente, mesmo com baixa condutância estomática. As trocas gasosas são influenciadas pelas condições ambientais (Larcher 2004). Geralmente, no período da manhã, quando a quantidade de vapor d’água no ar ainda é elevada e a radiação incidente é suficiente para a realização da fotossíntese, é observada maior condutância estomática. O aumento da temperatura no início da tarde reduz a umidade do ar (Larcher 2004), aumentando o déficit na pressão de vapor 43 entre a folha e o ar, o que aumentaria a transpiração. A abertura dos estômatos regula a perda de água para a atmosfera, fazendo um balanço entre a os níveis de transpiração e a quantidade de água disponível na planta (Franco & Lüttge 2002). Nas duas espécies estudadas, nos horários de maior demanda evaporativa, houve uma redução da condutância estomática, como observado em outros trabalhos (Sassaki et al. 1997, Franco & Lüttge 2002 e Lemos Filho & Isaias 2004). O conteúdo de clorofila e de pigmentos acessórios nas folhas é uns dos fatores responsáveis pela diferenciação no desempenho fotossintético das espécies (Dechoum 2004), uma vez que a absorção da radiação depende de sua concentração nos fotossistemas (Larcher 2004). O teor de clorofila apresentado por D. nigra foi maior nos indivíduos que cresceram na sombra. A maior quantidade de clorofilas no complexo antena assegura maior eficiência na captação de luz. A luz é um dos fatores associados ao metabolismo da clorofila (Alvarenga et al. 2003). O aumento de clorofila nos indivíduos crescidos em sombra estaria relacionado à maior produção deste pigmento nestes ambientes, ou então, o excesso de radiação teria causado uma maior degradação da clorofila foliar nos indivíduos do ambiente ensolarado, uma vez que as folhas são capazes de manter o balanço entre sua síntese e destruição em resposta a disponibilidade de luz (Niinemets & Kull 2001). O fato de só D. nigra ter apresentado menos clorofila a pleno sol, mostrou um comportamento diferenciado das espécies em resposta a luz, o que poderia estar relacionado a uma maior sensibilidade desta espécie a elevadas radiações. A razão clorofila a: b foi menor nas plantas crescidas na sombra, coerente com o estabelecido na literatura (p. ex Lüttge 1997). Isso ocorre devido a um aumento na concentração de clorofila b nestas condições, que assegura uma maior eficiência na captação da luz (Luttge 1997). Segundo Krause et al (2001), o aumento na razão clorofila a: b resulta em menor absorção de luz pelo PSII o que conseqüentemente diminui o estresse devido à elevada radiação. A maior razão clorofila a: clorofila b em D. miscolobium a 44 pleno sol, pode ser uma adaptação desta espécie às áreas de cerrado, como o observado em ambientes xeromórficos por Sánchez-Gómez et al. (2006). Os carotenóides são pigmentos que atuam na proteção do aparato fotossintético contra os efeitos destrutivos da alta radiação (Valladares et al. 2003). O menor teor de carotenóides encontrado nos indivíduos de D. miscolobium do tratamento sombreado confirma a função de fotoproteção deste pigmento, que nesta espécie apresentou maiores teores nas plantas a pleno sol. A maior razão carotenóides: clorofila total encontrada neste tratamento, também está relacionada a esta função fotoprotetora dos carotenóides. Outro papel importante dos carotenóides é a captação da luz em ambientes sombreados (Valladares et al. 2003 e SánchezGómez et al. 2006), e esse fato, explicaria os altos valores de carotenóides e da razão carotenóides: clorofila total apresentados por D. nigra no ambiente sombreado. Variação nos caracteres e plasticidade fenotípica O valor do coeficiente de variação total das características apresentadas por cada genótipo nos dois ambientes de luz pode ser usado para explorar a variabilidade fenotípica geral apresentada pelo grupo filogenético (Valladares et al. 2006). Um maior coeficiente de variação pode demonstrar maior variação genética para o caráter em questão dentro de cada grupo avaliado (progênies, população ou gênero) e ∕ ou maior capacidade deste grupo de genótipos expressarem diferentes respostas em condições ambientais distintas. Esta maior variação confere maior capacidade de adaptação a uma grande variedade de habitats deste grupo (Bazzaz 1996). A maior e menor variação das respostas morfológicas, observadas dentro do gênero Dalbergia e dentro das progênies, respectivamente, tem relação com o grau de compartilhamento genético de cada grupo analisado. Esta semelhança gênica tende a ser maior com o aumento no grau de parentesco, como ocorre entre indivíduos de uma mesma progênie ou de uma mesma população. A proximidade genética faz com que a amplitude de respostas fenotípicas obtidas nos diferentes tratamentos de luz seja menor que a obtida para 45 um grupo mais diversificado geneticamente. De fato, o trabalho realizado com marcadores moleculares por Ribeiro et al.(2007) aponta que D. nigra e D. miscolobium apesar de pertencerem ao mesmo gênero são relativamente distantes filogeneticamente. Os coeficientes de variação das taxas de crescimento relativo apresentaram maiores valores que os coeficientes das outras características avaliadas em todos os grupos. Este resultado pode estar associado à complexidade desta variável, que envolve um balanço entre o ganho de carbono na fotossíntese e a perda de carbono na respiração (Poorter & Garnier 2007), processos estes influenciados pelas características morfológicas e fisiológicas das plantas. Desta forma para se entender mais sobre a base fisiológica da variação da TCR é necessário um estudo maior sobre economia de carbono nas plantas. A plasticidade fenotípica pode ser uma característica adaptativa em ambientes bastante dinâmicos em relação à luz, enquanto que a estabilidade fenotípica provavelmente está relacionada a ambientes uniformemente iluminados (revisado por Valladares et al. 2003). Os índices de plasticidade (RDPI) apontaram diferenças principalmente entre as espécies. No geral, a maior plasticidade, nas características fisiológicas e nas TCR, observada em D. miscolobium estaria relacionada às características de seu habitat natural. Segundo Hoffmann & Franco (2003) a maior plasticidade fenotípica em relação à luz das espécies de cerrado provavelmente reflete adaptação destas espécies a altos níveis de radiação ou a maior variabilidade ambiental de luz. Apesar de no geral, D. nigra ter apresentado menores índices de plasticidade que D. miscolobium, em algumas características morfológicas ela apresentou maiores valores de RDPIs. Isso pode estar relacionado ao fato de que D. nigra é natural de um ambiente muito heterogêneo. Os ambientes florestais, apesar de receberem menor quantidade de luz (Miranda et al. 1997), possuem uma grande variação na disponibilidade de luz ao longo de seus estratos verticais (Niinemets & Valladares 2004). As alterações ambientais freqüentes nas florestas, incluindo a dinâmica de clareiras, proporcionaram a suas espécies 46 vegetais, desenvolver respostas morfológicas e fisiológicas, que permitissem sua ocupação e sobrevivência nestes ambientes (Silvestrini 2000). O fato da condutância estomática medida entre 13 e 15 horas não ter apresentado diferentes RDPIs entre as espécies, foi devido a um aumento nos valores de RDPIs apresentados por D. miscolobium em relação aos observados no período de 9-11 horas. Os indivíduos de D. nigra de ambos os tratamentos apresentaram em torno de 40 a 50% de redução na condutância estomática no período da tarde, porém em D. miscolobium, os indivíduos do tratamento a pleno sol apresentaram maior redução da condutância que os do tratamento sombreado, provocando o aumento no índice de plasticidade desta espécie. Em algumas características, os RDPIs variaram entre as populações de D. nigra. Muitos estudos já demonstraram esta variação na plasticidade entre populações (revisado por Schlichting 1986). A maior plasticidade na população H poderia estar relacionada às características e localização das populações estudadas. As sementes da população H foram coletadas em Belo Horizonte, região de transição entre os biomas de Cerrado e de Mata Atlântica, inclusive em regiões próximas de onde foram coletadas as sementes de D. miscolobium. Este ambiente por ser uma região de ecótone, pode ser considerado também mais heterogêneo e com maior disponibilidade de luz que uma região de mata atlântica. A alta plasticidade, principalmente em variáveis fisiológicas, aumenta a capacidade de exploração de áreas com elevada radiação. A maior plasticidade das características fisiológicas pode ser devido à forte pressão estabilizadora exercida sob estes caracteres quando comparados com os caracteres relacionados ao crescimento e alocação de biomassa. As características fisiológicas, embora fenotipicamente plásticas, devem apresentar menor variação genética (Nicotra et al. 1997) que as características morfológicas, o que explica os resultados apresentados nas respostas morfológicas e fisiológicas das espécies D. nigra e D. miscolobium em relação à luz. 47 Conclusões As espécies mostraram adaptações ao seu ambiente de origem, D. nigra e D. miscolobium apresentaram crescimento aéreo diferenciado, sendo este crescimento maior na espécie de mata. Ambientes tão distintos como o Cerrado e a Mata Atlântica teriam exercido diferentes pressões seletivas, que ao longo da evolução possibilitaram o sucesso e estabelecimento destas espécies nestas áreas. Quanto às características fisiológicas, no geral, variaram principalmente entre os tratamentos de luz, mostrando uma maior pressão ambiental que genética nestas características. Os diferentes níveis de parentesco entre os grupos propiciaram uma variação nas características morfológicas, sendo grupos mais abrangentes como o gênero fonte de maior variação. As duas espécies de Dalbergia apresentaram valores de plasticidade fenotípica diferenciados. A maior plasticidade nas variáveis fisiológicas em D. miscolobium e para algumas variáveis morfológicas em D. nigra foi interpretada com base na grande heterogeneidade espacial na distribuição da luz nos habitas de ocorrência das espécies e populações. Apesar do potencial em utilizar diferentes ambientes de luminosos, D. miscolobium se apresentou como uma competidora inferior, o que impediria a sua expansão para áreas de Mata Atlântica, ambientes extremamente competitivos. Já D. nigra, apesar do seu bom desempenho a pleno sol, não ocorre em regiões de cerrado. Outras pesquisas poderiam relacionar esta limitação de D. nigra a algumas características destes ambientes, como a baixa disponibilidade de nutrientes, a presença de fogo, o elevado teor de alumínio, a estação seca prolongada, além dos fatores bióticos. 48 Referências Bibliográficas Alvarenga, A.A., Castro, E.M., Junior, E.C.L. & Magalhães, M.M., 2003. Effects of different light levels on the initial growth and photosynthesis of Croton urucurana Baill. in southeastern Brazil. Revista Árvore 27(1): 53 – 57. Araus, J.L. & Hogan, K.P. 1994. Leaf structure and patterns of photoinhibition in two neotropical palms in clearings and forest understory during the dry season. American Journal of Botany 81(6): 726 – 738. Ball, M.C., Butterworth, J.A., Roden, J.S., Christian, R. & Egerton, J.G. 1994. Applications of Chlorophyll Fluorescence to Forest Ecology. Australian Journal of Plant Physiology 22: 311 – 319. Barbosa, A.R., Yamamoto, K. & Valio, I.F.M. 1999. 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