PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN Representações sociais da prevenção da infecção neonatal no olhar dos enfermeiros Social representations of prevention of neonatal infection in the eyes of the nurses Las representaciones sociales prevención de la infección neonatal en los ojos de los enfermeros Karla Joelma Bezerra Cunha Mestre em Enfermagem pela UFPI. Professora da Faculdade Santo Agostinho. Maria Eliete Batista Moura Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ. Professora da Faculdade NOVAFAPI. Professora da Graduação e do Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí – UFPI. RESUMO As infecções neonatais são consideradas um grande problema de saúde pública, pois atinge uma parcela considerável de recém-nascidos (RNs) que, devido a sua vulnerabilidade fisiológica, tornam-se vítimas frequentes desse agravo, situação que pode evoluir para o óbito. Essas infecções apresentam taxas significativas nos países desenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, em que os serviços de saúde enfrentam muitas dificuldades e carências de recursos. O estudo tem como objetivos apreender as Representações Sociais da prevenção da infecção neonatal por enfermeiros e analisar a relação dessas Representações com a assistência prestada. Trata-se de uma pesquisa exploratória realizada com enfermeiros de uma maternidade pública do município de Teresina-PI. Os dados foram produzidos através de entrevista semi-estruturada, processados no software ALCESTE 4.8 e analisados pela Classificação Hierárquica Descendente. Os resultados foram apresentados em duas classes semânticas: prevenção e controle das infecções neonatais, em que os enfermeiros citam a necessidade de se adotar práticas que minimizem a incidência das infecções; e o cuidado de enfermagem, que mostra o cuidar e as técnicas desenvolvidas pelos enfermeiros. As classes revelaram que os enfermeiros objetivaram as infecções neonatais pelos vocábulos “prevenção” e “administração”. Os sujeitos demonstraram preocupação com o desenvolvimento de práticas seguras na assistência, com ênfase na prevenção das infecções e reconhecem a importância do cuidado de enfermagem sistematizado. Descritores: Enfermagem. Infecção neonatal. Representações Sociais. ABSTRACT Neonatal infections are considered a major public health problem, since it affects a sizable portion of newborns (NB) who, because of their physiological vulnerability, become frequent victims of this problem, a situation that can lead to death. These infections have significant rates in developed countries and in developing countries, where health services are facing many difficulties and shortages of resources. The study aims to understand the Social Representations of the prevention of neonatal infection by nurses and analyze the relationship of these Representations with the care provided. This is an exploratory research with nurses from a public maternity hospital in the city of Teresina-PI. The data were collected through semi-structured interviews and processed in ALCESTE 4.8 and analyzed by means of the Descending Hierarchical Classification. The results were presented in two semantic classes: prevention and control of neonatal infections, in which nurses cite the need to adopt practices that minimize the incidence of infections, and nursing care, which shows the care and the techniques developed by nurses. The classes revealed that the nurses addressed neonatal infections by the words “prevention” and “management. “ The subjects were concerned with the development of safe practices in care, placing emphasis on prevention of infections and recognize the importance of systematic nursing care. Descriptors: Nursing. Neonatal infection. Social Representations. RESUMEN Submissão: 30/10/2009 Aprovação: 30/11/2009 34 Las infecciones neonatales se consideran un problema importante de salud pública, ya que afecta Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.34-39, Jan-Fev-Mar. 2010. Representações sociais da prevenção da infecção neonatal no olhar dos enfermeiros a una parte considerable de los recién nacidos (RN) que, debido a su vulnerabilidad fisiológica, se convierten en víctimas frecuentes de esta lesión, una situación que puede conducir a la muerte. Estas infecciones tienen tasas significativas en los países desarrollados y en los países en desarrollo, donde los servicios de salud enfrentan a muchas dificultades y escasez de recursos. El estudio tiene como objetivo comprender las representaciones sociales de la prevención de la infección neonatal por personal de enfermería y analizar la relación de estas representaciones con la asistencia. Se trata de una investigación exploratoria con las enfermeras de uma maternidad pública en la ciudad de Teresina-PI. Los datos fueron recolectados a través de entrevistas semi-estructuradas y procesadas en el software ALCESTE 4.8 y analizados por la clasificación jerárquica descendente. Los resultados fueron presentados en dos clases semánticas: la prevención y el control de las infecciones neonatales, en los que las enfermeras subrayan la necesidad de adoptar prácticas que reduzcan al mínimo la incidencia de infecciones, y atención de enfermería, lo que demuestra el cuidado y las técnicas desarrolladas por los enfermeros. Las clases revelaran que las enfermeras abordaran las infecciones neonatales por las palabras “prevención” y “administración”. Los sujetos estaban preocupados con el desarrollo de prácticas seguras en la atención, con énfasis en la prevención de las infecciones y reconocen la importancia del cuidado de enfermería de forma sistemática. Descriptores: Enfermería. Infección neonatal. Representaciones Sociales. 1 INTRODUÇÃO As infecções neonatais são consideradas um problema de saúde pública, pois fazem parte do contexto das Infecções Relacionadas à Assistência de Saúde (IRAS), estão presentes nos países desenvolvidos, e naqueles em desenvolvimento. Essas infecções merecem atenção, já que são causas da morbimortalidade neonatal, e estão relacionadas a múltiplos fatores que vão desde as condições básicas da atenção primária, no que se refere à assistência pré-natal, até a rede hospitalar de maior complexidade. Em virtude da ampliação do foco que não se restringe mais apenas ao ambiente hospitalar é que o termo Infecção Hospitalar (IH) foi substituído por IRAS, que se refere à infecção relacionada à assistência de saúde em todos os níveis de atenção. Essa denominação foi modificada pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) no “guideline” para precauções de isolamento de 2007 (SIEGEL et al., 2007), e está sendo utilizada pelos serviços de saúde. É importante ressaltar o conceito de IH nas instituições de saúde, que segundo a Portaria nº 2.616/98 do Ministério da Saúde (MS), define como IH aquela adquirida após a admissão do paciente e que se manifesta durante a internação ou após a alta, desde que esteja relacionada com a internação ou a procedimentos hospitalares. Elas podem se manifestar de forma sistêmica ou local, e com aparecimento após 48 horas da admissão hospitalar (BRASIL, 1998). A redução média anual da taxa de mortalidade infantil (TMI) no País foi de 4,8% ao ano, entre 1990 e 2007, tendo o componente pós-neonatal (28 dias a um ano de vida incompleto) apresentado maior tendência de queda (7,3% ao ano) e o componente neonatal precoce (0 a 6 dias de vida) a menor tendência de queda, 3,1% ao ano. A taxa de mortalidade neonatal mantém níveis de 13,2/1000 nascidos vivos em 2007. Essa taxa é considerada elevada quando comparada à taxa de outros países no ano de 2004, como Argentina (10/1000), Chile (5/1000), Canadá (3/1000), Cuba (4/1000) e França (2/1000). Houve pouca modificação do componente Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.34-39Y, Jan-Fev-Mar. 2010. neonatal precoce nas últimas décadas, que responde por pelo menos 50% das mortes infantis (BRASIL, 2009). Entre as causas de óbito neonatal, destacam-se os RNs de muito baixo peso, que são bastante vulneráveis aos agravos infecciosos. No entanto, eles têm sobrevivido a diversas situações, devido aos avanços na área da Neonatologia, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) que utiliza tecnologia de ponta no atendimento desses pacientes, nesses locais são necessários adoção de medidas, para orientar os procedimentos e as atividades realizadas, para a recuperação da saúde do paciente , assim como a prevenção de infecções, especialmente aquelas relacionadas à assistência (DUTRA, 2006). Os procedimentos cada vez mais invasivos, o uso indiscriminado e a resistência aos antimicrobianos são fatores que apontam as infecções hospitalares como um grave problema de saúde pública. Elas representam complicações relacionadas à assistência à saúde e constituem a principal causa de morbidade e mortalidade hospitalar, aumentando o tempo de internação dos pacientes e, com isso, elevam os custos dos hospitais e reduzem a rotatividade de seus leitos (OLIVEIRA; MARUYAMA, 2008). Nesse contexto, a Teoria das Representações Sociais (TRS) se torna um elemento importante para a compreensão das relações existentes nesse campo do conhecimento, visto que ela engloba uma série de fenômenos sociais, assistenciais, científicos e um mundo de interações de comportamento e atitudes humanas baseadas no conhecimento do senso comum socialmente compartilhado. Devido à situação em que se encontram as taxas de infecção neonatal, assim como os diversos fatores críticos relacionados a ela, surgiram os seguintes questionamentos: quais são as Representações Sociais da prevenção da infecção neonatal por enfermeiros e qual a relação dessas representações com a assistência prestada? A proposta de desenvolvimento dessa pesquisa tem como objetivos: apreender as Representações Sociais da prevenção da infecção neonatal por enfermeiros e analisar a relação dessas representações com a assistência prestada. Dessa forma, a relevância dessa temática justifica-se devido às IRAS serem consideradas como uma das causas da mortalidade neonatal, responsável pelo sofrimento de muitas famílias e por gastos públicos. A enfermagem está diretamente ligada a essa situação, visto que ela cuida do ser humano desde a concepção, entretanto, esse cuidado deve ser realizado de forma padronizada e sistemática para reduzir o aparecimento e as complicações da infecção. A representação social designa tanto um conjunto de fenômenos quanto o conceito que os engloba e a teoria construída para explicá-los, bem como afirmações que se originam no cotidiano através de comunicações inter-individuais, que contribuem para a formação de condutas e a orientação das comunicações sociais. Desde a origem da formulação proposta por Moscovici, em 1961, as representações sociais são caracterizadas como fenômenos complexos que dizem respeito ao processo pelo qual o sentido de um dado objeto é estruturado pelo sujeito, no contexto de suas relações (MOSCOVICI, 2003). 2 METODOLOGIA Este estudo é do tipo descritivo de caráter exploratório, no qual foram utilizadas as bases conceituais da Teoria das Representações Sociais. Realizado em uma maternidade de referência no atendimento de gestantes de alto risco, no município de Teresina - Piauí. Possui o maior 35 Cunha, K. J. B.; Moura, M. E. B. número de leitos obstétricos e neonatais do Estado, com um total de 278. Esta instituição presta serviços de urgência e emergência obstétricas, assim como o atendimento de mulheres vítimas de violência. É responsável pelo atendimento de 45 pacientes por dia, com uma média de 1.400 internações e 900 partos por mês. Os sujeitos foram 25 enfermeiros que trabalham nas unidades neonatais. Em relação à caracterização dos sujeitos, foram selecionadas as variáveis evidenciadas no quadro seguir: SUJEITO suj_01 suj_25 (sujeitos entrevistados de 01 ao 25) IDADE ida_01 (menor de 30 anos): 6 ida_02 (maior ou igual a 30 anos): 19 GENÊRO TEMPO DE SERVIÇO TEMPO DE FORMAÇÃO ESPECIA-LIZAÇÃO tes_01 (maior ou igual a dois anos): 16 tes_02 (menor do que dois anos): 9 tef_01 (menor do que dois anos): 2 tef_02 (maior ou igual a dois anos): 23 esp_01 (dentro da área): 2 esp_02 (fora da área): 23 sex_01 (feminino): 22 sex_02 (masculino): 3 Quadro 1: Banco de dados para a codificação das variáveis fixas. Para a produção dos dados, foi utilizada a técnica de entrevista por meio de um instrumento do tipo roteiro semi-estruturado, que além de caracterizar os sujeitos através de variáveis fixas, abordou aspectos como: o conhecimento sobre a infecção neonatal, no que tange à prevenção, à aquisição, ao tratamento , à recuperação, à assistência ao recém-nascido com infecção e ao cuidar do recém-nascido com infecção. Para o processamento dos dados, utilizou-se o software ALCESTE (Analyse dês Lexemes Cooccurrents dans lês Enoncés d um Texte) na versão 4.8. Este programa faz análise lexical, por meio da Classificação Hierárquica Descendente (CHD), que recorre a co-ocorrências das palavras no enunciado que constituem o material discursivo. O software organiza as informações consideradas mais relevantes, e possui como referência em sua base metodológica a abordagem conceitual lógica e dos mundos lexicais (OLIVEIRA; GOMES; MARQUES, 2005). O ALCESTE é um software que analisa o material a partir das grandes Unidades de Contexto Iniciais (UCIs), que podem ser entrevistas, de diferentes sujeitos reunidos no corpus, respostas e perguntas específicas, normalmente abertas, de questionários e texto de jornais e revistas. O texto completo é formatado e dividido em segmentos menores denominados de Unidades de Contexto Elementares (UCEs) que correspondem ao material discursivo ou escrito referente à formação das classes ou de categorias (OLIVEIRA et al., 2007). A partir do corpus, o software forneceu o número de classes resultantes da análise do contexto semântico e as UCEs características de cada classe, que foram interpretadas à luz da Teoria das Representações Sociais. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, sendo aprovado através do parecer CAAE nº 0219.0.045.000-09. Vale ressaltar que o projeto também foi aprovado pelo maternidade, onde foi realizado o estudo. Após a aprovação, foi iniciada a coleta de dados, sendo precedido pelo consentimento expresso dos sujeitos, mediante o conhecimento dos mesmos do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) elaborado de acordo com os princípios norteadores dispostos na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde – CNS do Ministério da Saúde – MS (BRASIL, 2003). A partir deste instrumento, os sujeitos participantes da pesquisa tiveram garantia da confidencialidade, privacidade, proteção da imagem, não estigmatização e da não utilização de informações em prejuízo das 36 SETOR DE TRABALHO set_01 (enfermaria): 6 set_02 (UCIN): 8 set_03 (UTIN):11 pessoas, além de serem informados da autorização desse estudo pelo Comitê de Ética da UFPI. 3 RESULTADOS E ANÁLISE Para apreender as Representações Sociais da prevenção da infecção neonatal por enfermeiros foram realizadas a organização e a análise dos resultados da pesquisa a partir dos depoimentos extraídos do conhecimento comum de um grupo homogêneo de sujeitos, que trabalham e prestam assistência direta e indireta aos recém-nascidos, apresentados pelas relações entre as classes semânticas, os quais atribuíram os seus respectivos sentidos originados das suas experiências cotidianas, em um ambiente comum e compartilhados entre eles. Essas classes foram nomeadas pelas autoras do estudo de acordo coma a semelhança das idéias expressas nas UCEs da seguinte maneira: classe 1: Prevenção e controle das infecções neonatais; classe 2: cuidado de enfermagem. As duas classes semânticas foram originadas das UCEs do corpus que trazem um vocabulário específico selecionado dos depoimentos dos sujeitos, sendo que estes são indicativos de manifestações, conceitos e explicações sobre a infecção neonatal. Além disso, as classes foram descritas considerando-se as variáveis e os sujeitos que contribuíram para a produção das UCEs de cada uma, e que foram selecionadas de acordo com o seu valor de X2 (qui-quadrado). Classe 1: Prevenção e controle das infecções neonatais A classe 1 é constituída por 50 UCEs extraídas essencialmente dos depoimentos dos sujeitos 5, 6, 8, 15, 19, 20 que representou 26,32% das UCEs do corpus. Sendo a maior classe, está diretamente relacionada à classe 2 e o grupo de vocábulos que a compõe evidencia as manifestações sobre a prevenção e o controle das infecções neonatais. Os vocábulos mais frequentes nas UCEs desta classe foram: prevenção, mão, lavagem, assépticos, neonatal, utilização, natal e segmentos lexicais. Eles aparecem com maiores valores de X2 correspondentes a: 43.79, 39.51, 33.55, 27.88, 26.45, 23.28, 19.08, 18.57 respectivamente. Outros termos também foram importantes para o estudo e obtiveram menores valores de X2 são eles: evita, transmissão, presta, com: 10.76, 10.39, 10.21, no qual, mostraram as RS dos enfermeiros quando citam em suas palavras a necessidade de se adotarem práticas e condutas que minimizem a incidência das infecções, e que estas estão relacionadas aos aspectos Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p34-39, Jan-Fev-Mar. 2010. Representações sociais da prevenção da infecção neonatal no olhar dos enfermeiros multifatoriais da prestação de cuidados ao recém-nascido, conforme é relacionado nas UCEs: (...) prevenção e a lavagem das mãos, utilização de luvas, máscaras e outros. A aquisição se deve ao manuseio sem técnicas assépticas, nascimento, infecção no pré-natal não tratadas. A assistência ao neonato com infecção deve ser feita por meio do uso de técnicas assépticas (...) (...) as infecções no período neonatal são responsáveis por um índice significante de mortalidade neonatal. Práticas devem ser utilizadas para prevenir a infecção, como a lavagem das mãos (...) Os pensamentos dos enfermeiros aqui registrados emergiram a partir da experiência desses profissionais, do seu cotidiano prático que os permitem discorrer sobre algumas condutas importantes na prevenção da infecção neonatal e citam com freqüência a lavagem das mãos como uma medida simples e eficaz nesse processo,assim como a padronização de procedimentos em obediência aos rigores da técnica asséptica. Os sujeitos atribuíram à lavagem das mãos, a forma mais efetiva de se evitar as infecções dentro do ambiente hospitalar, e enfatizaram que deve ser feita antes e após a realização de qualquer atividade ligada ao paciente. No entanto, relatam que a sua técnica deve ser cumprida de maneira correta, com o objetivo de conseguir o controle e combater a transmissão das infecções. É a lavagem das mãos de maneira correta que evita a disseminação de maior número de micro-organismos aos pacientes. Por meio contato direto ou através de objetos, ela é indicada antes de ministrar me¬dicamentos por via oral e preparar a nebulização, antes e após a realização de trabalhos hospitalares, atos e funções fisiológicas ou pessoais, antes e depois do manuseio de cada paciente, do preparo de materiais ou equipamentos, da co¬leta de espécimes, da aplicação de medicamentos injetáveis e da higienização e troca de roupa dos pacientes (MARTINEZ; CAMPOS; NOGUEIRA, 2009). Outra forma importante de prevenção das IRAS é o uso correto e adequado dos EPIs. De acordo com os sujeitos, eles são essenciais para a realização das técnicas e dos procedimentos invasivos, servem como proteção para o profissional e impedem a disseminação e o contato direto com fontes potencialmente contaminadas, conforme revelam as UCEs abaixo: (...) utilizar as precauções padrões como o uso de luvas, máscaras, gorro, dimensionar um funcionário para os cuidados do neonato com infecção (...) (...) deve se também ter controle sobre as técnicas o tempo, quantidade das técnicas invasivas realizadas sobre o neonato, deve ser realizada de forma asséptica, utilizando materiais como: gorro, máscara, luvas de procedimento ou estéreis, e outros(...) No entanto os sujeitos do estudo pontuam que para evitar as IRAS, é preciso, além do uso de EPIs, o controle e a realização dos procedimentos de forma asséptica, esse último se constitui como um fator de proteção para bloqueio da disseminação de patógenos entre a população assistida. Essa situação levantada pelos profissionais deve ser respeitada de acordo com o grau de gravidade do paciente a ser cuidado. Outro aspecto levantado pelos depoentes se refere à assistência pré-natal. Eles relatam que as ações desse programa são importantes estratégias para o controle de infecções congênitas. No entanto, a sua relevância é bem mais ampla: essa assistência previne tanto agravos maternos com repercussão para a criança como promove a saúde do binômio mãe-filho. Ela é capaz de evitar problemas que tornem o recém-nascido ainda mais vulnerável, como o baixo peso e a prematuridade. Os sujeitos do estudo relatam que os tipos e causas de infecção poRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.34-39, Jan-Fev-Mar. 2010. dem ser identificados e abordados profilaticamente durante o pré-natal e no ambiente hospitalar, com a realização de estratégias no sentido de que ela não apareça e, dessa maneira, contribuir para a promoção da saúde livre de danos, conforme expresso nas UCEs: (...) infecção neonatal é uma doença que acomete o recém-nascido e possui diferentes etiologias, pode ser adquirida de forma congênita ou hospitalar. Na forma congênita, sua prevenção baseia-se no tratamento da infecção pré-existente das gestantes e, na forma hospitalar, com os cuidados necessários com o recém-nascido (...) (...) as infecções neonatais têm diferentes causas, têm diferentes etiologias, podem ser adquiridas por via intra-uterinas, durante o parto ou após o parto. Portanto, a prevenção deve ser iniciada no pré natal e deve ser continuada na sala de parto (...) Os enfermeiros apontam que as infecções neonatais possuem causas que podem estar diretamente ligadas ao cuidar, como também as de origem materna, e esta última pode ser efetivamente abordada nas consultas de pré-natal, a partir ,principalmente, da identificação precoce de fatores de riscos que acometem o feto intra-útero. Além disso, relatam que essa assistência deveria ser continuada no intra parto e pós parto, sinalizando para um atendimento em rede. O termo “IRAS em Neonatologia” contempla tanto as infecções relacionadas à assistência, como aquelas relacionadas à falha na assistência, quanto à prevenção, diagnóstico e tratamento, a exemplo das infecções transplacentárias e infecção precoce neonatal de origem materna. Os depoentes referenciam que há diferentes etiologias das infecções, nas quais, citam que elas podem ser adquiridas por via congênita e hospitalar, esta última relacionada à prestação de cuidados ao recém-nascido internado sem o uso de técnica asséptica e com falhas ou ausência da sistematização da assistência voltadas para a prevenção dessas infecções. Observa-se que os enfermeiros consideram como uma das causas da infecção neonatal, aquelas adquiridas intra-útero, durante o parto e após o nascimento com ênfase para a prevenção desse agravo ainda no pré-natal, mas com a continuidade do cuidado na assistência hospitalar. É presente no discurso dos sujeitos a conotação abrangente desses profissionais em relação ao tema, que vai além dos muros hospitalares e enfoca a importância das infecções congênitas. As infecções maternas não tratadas no pré-natal são uma das principais fontes de infecção precoce do recém-nascido, e as tardias estão mais relacionadas ao ambiente do berçário e a procedimentos técnicos. As infecções que se manifestam na primeira semana de vida são, usualmente, resultado da exposição a microorganismos de origem materna, porém, as que se apresentam de forma tardia podem ter origem tanto materna como ambiental (PINHEIRO et al., 2007). Classe 2: O cuidado de enfermagem A classe 2 constituída por 20 UCEs extraídas predominantemente dos depoimentos dos sujeitos 18, 22 e 26 que representam 10,53% das UCEs do corpus, está relacionada diretamente a classe 1. Ela mostra o cuidar de enfermagem e a realização da técnica dos cuidados, o fazer do enfermeiro, que abrange vários aspectos: o do paciente, da equipe e da família, constitui-se em um trabalho pluralista com muitos focos de atenção que necessitam de assistência, assim como, de organização para o desenvolvimento das atividades que compõe a rotina do serviço de saúde, considerando-se o grau de prioridades estabelecidas. Dentro das concepções abordadas pelos sujeitos do estudo foram enfatizados alguns vocábulos em seus depoimentos com os seus respectivos X2, ou seja, a freqüência com que estes aparecem em cada classe, os quais foram essenciais para a análise do estudo. Eles também se relacio37 Cunha, K. J. B.; Moura, M. E. B. nam entre si, nas suas formas reduzidas. Os vocábulos mais frequentes nas suas formas associadas dentro das UCEs foram: administração, medicação, higiene, orientação, hídrico, vitais, horário, medicamento, com os maiores valores de X2 que correspondem respectivamente a: 54.02, 38.78, 31.62, 26.32, 25.91, 25.91, 23.95, 20.73. Com menos freqüência aparecem os vocábulos: equipamento, pela, realização, nascido e recém ,todos com o X2 de oito, que correspondem respectivamente a: 9.33, 8.28, 8.28, 7.62, 7.62. As formas associadas das palavras que apareceram mais vezes demonstram o cuidar de enfermagem e a realização da técnica, enquanto que as palavras que apareceram em menor número de vezes, se referem ao ser, objeto do cuidado. Os termos dessa classe permitiram descrever as RS dos enfermeiros relacionadas com o cuidar de enfermagem ao recém-nascido com infecção, com ênfase para o atendimento tecnicista enraizado na profissão. Nessa perspectiva, os sujeitos manifestaram as representações do cuidado com o RN com infecção a partir dos depoimentos que mostram o fazer de enfermagem na sua rotina, evidenciados por atividades como supervisão, administração de medicamentos, aferição de sinais vitais, controle hídrico. Entre outros, podem-se destacar também os cuidados relacionados com a família no que se refere às orientações sobre o a situação de saúde do RN com infecção, e a preocupação com o ambiente e os equipamentos utilizados. (...) administrando medicações e detectando alterações do quadro clínico. O manejo do neonato com infecção pelo enfermeiro refere-se à supervisão dos cuidados realizados pela equipe de técnicos em enfermagem relacionados à administração de medicação, horário, realização do controle hídrico, sinais vitais (...) (...) todo esse cuidado durante a aplicação na hora da aplicação, no tempo de uso desse medicamento, o cuidado para ele ser essencial de qualidade tem que se terem as medidas de precauções universais e os cuidados para se evitar a contaminação (...) Os depoimentos se referem ao fazer técnico do enfermeiro atrelado às suas atividades cotidianas permeadas por situações que surgem ao longo do desenvolvimento do processo de trabalho. Percebe-se a realização das tarefas da equipe de enfermagem centrada no atendimento das necessidades individuais do RN, desde procedimentos básicos, até o controle das funções mais elaboradas. Observa-se que existe uma preocupação dos enfermeiros com o fenômeno da infecção que está diretamente relacionado à prática de enfermagem. Dessa forma, existe um posicionamento sobre o agir da equipe de enfermagem, no que se refere à adoção de precauções padrões para o desenvolvimento de técnicas mais invasivas, como o rompimento de barreiras biológicas. Embora recaísse sobre os enfermeiros uma grande responsabilidade sobre a prevenção e controle das infecções, suas ações são dependentes e relacionadas e podem ser consideradas coletivas e agrupadas em uma estrutura organizacional, que envolve políticas governamentais, administrativas e institucionais, relações intersetoriais e interpessoais no trabalho, a normatização do serviço, a batalha biológica que aborda a identificação de microorganismos, ressurgência de outros, resistência antimicrobiana, o envolvimento profissional, adoção de medidas de controle, compromisso com o serviço e com o paciente, educação continuada, epidemiologia das infecções (PEREIRA et al., 2005). Diante do cumprimento dos cuidados técnicos, os sujeitos levantam a importância da assistência humanizada, enfatizam que esses cuidados são necessários não somente para o RN mas também para a sua 38 família que desempenha um papel importante na sua recuperação, fato evidenciado nas UCEs: (...) A assistência deve ser humanizada direcionada para o recém-nascido, a mãe e sua família (...) (...) O que fazemos é orientar a mãe quanto aos possíveis problemas identificados, o tratamento ao qual o seu bebê será submetido, e aos cuidados que deverá ter para com seu filho (...) Os sujeitos relatam em seus depoimentos a necessidade da humanização na assistência neonatal, referem que esta deve incluir a mãe e a família do RN, mostram que mesmo sobrecarregados e com muitas atribuições, eles dedicam algum tempo para orientar, informar aos pais sobre as condições de saúde dos seus filhos e tentam aproximar e fortalecer o vínculo entre eles. Esse reconhecimento da necessidade de cuidado ampliado com a participação da família junto ao RN internado está sendo implantado em muitas instituições, no sentido de melhorar a própria condição de saúde do paciente. O cuidado de enfermagem aos pais dos recém-nascidos não pode ser reduzido ao seu aspecto relacional, nem ao técnico. A ampliação de um conhecimento técnico e científico e a presença de um profissional bem preparado são importantes para o equilíbrio do cuidado expressivo e tecnológico (CONZ; MERIGHI; JESEUS, 2009). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As IRAS em Neonatologia são importantes fatores de morbimortalidade, continuam presentes no âmbito hospitalar, mesmo após o avanço incontestável nessa área da saúde. O enfretamento dessa problemática é um grande desafio para os profissionais, pois a sua prevenção, as causas, o controle, diagnóstico, tratamento e recuperação dependem de todos que trabalham neste cenário. Na classe 1, prevenção e controle das infecções neonatais, as formas associadas nos discursos dos enfermeiros foram prevenção, asséptica, neonatal, utilização, natal. Nessa classe, os sujeitos expressaram que as infecções neonatais podem ser prevenidas a partir da realização de práticas assistenciais seguras devidamente realizadas pela equipe de saúde que cuida do recém-nascido. Referem, ainda, a importância de se definir as causas da infecção como meio de garantir a abordagem precoce e correta para evitar a contaminação e a morbimortalidade da infecção. Os enfermeiros manifestam a sua preocupação e a importância das medidas de prevenção e controle das infecções neonatais, no entanto, ainda trabalham de forma individual com realização de procedimento pontuais, sem planejamento prévio, sem participação da equipe e sem o apoio de comissões específicas relacionadas às IRAS, o que demonstra uma fragilidade no acompanhamento das ações relacionadas a essa problemática. No que diz respeito à classe 2, o cuidado de enfermagem, as formas associadas foram administrar medicação, higiene, orientar, hídrico, vitais, horário, medicamento. Nesta classe, as enfermeiras manifestaram suas preocupações com a prática da enfermagem, no que se refere ao fazer técnico, pontuaram que desenvolvem atividades de supervisão e realização dos procedimentos ligados ao modelo biomédico. Os enfermeiros reconhecem que a assistência envolve não somente os recém-nascidos, mas também a família. A sua presença e participação é importante, pois contribui positivamente para a recuperação e fortalece Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.3, n.1, p.34-39, Jan-Fev-Mar. 2010. Representações sociais da prevenção da infecção neonatal no olhar dos enfermeiros os vínculos de afetividade. Verifica-se que os sujeitos representam o cuidado de enfermagem ao recém-nascido com infecção, pela preocupação com o desenvolvimento de práticas seguras na assistência, com ênfase na prevenção das infecções e reconhecem a importância do cuidado de enfermagem sistematizado. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, 1996. Brasília, 2003. _______Ministério da Saúde. Rede Interagencial de Informações para a Saúde: informe de situação e tendências, demografia e saúde. 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