1 Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DO MESTRADO EM CIÊNCIAS DO CUIDADO EM SAÚDE ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO Niterói - RJ Dezembro/2011 2 ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre. Linha de pesquisa: Cuidados coletivos em Enfermagem e Saúde nos seus processos educativos e de gestão. Orientadora: Profª Drª. ZENITH ROSA SILVINO Niterói – RJ Dezembro/2011 3 R 696 Rodrigues, Andréa Maria dos Santos. O cuidado com a saúde auditiva em motoristas de ônibus urbano em uma empresa de transporte coletivo no Rio de Janeiro / Andréa Maria dos Santos Rodrigues. – Niterói: [s.n.], 2011. 92 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Cuidado em Saúde) Universidade Federal Fluminense, 2011. Orientador: Profª. Zenith Rosa Silvino. 1. Audiologia. 2. Audiometria. 3. Audição. 4. Perda auditiva. 5. Saúde do trabalhador. 6. Enfermagem CDD 617.8 4 ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Aprovado em 12/12/2011. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Profª Drª Zenith Rosa Silvino – Presidente Universidade Federal Fluminense ______________________________________________________________________ Profª Drª Márcia Cavadas Monteiro – 1ª Examinadora Universidade Federal do Rio de Janeiro ______________________________________________________________________ Profª Drª Elaine Antunes Cortez – 2ª Examinadora Universidade Federal Fluminense ______________________________________________________________________ Profª Drª Heidi Elisabeth Baeck – 1ª Suplente Universidade Veiga de Almeida - RJ ______________________________________________________________________ Profª Drª Fátima Helena do Espírito Santo – 2ª Suplente Universidade Federal Fluminense 5 Dedico este trabalho a minha filha Beatriz que com sua alegria de criança me contagia. Através de seu olhar posso ver um mundo melhor e cheio de novas perspectivas. 6 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, quem me capacita todos os dias da minha vida, sozinha nada poderia fazer. Toda honra e toda glória sejam dadas a Ele. Ao meu marido Marcelo, pelos momentos de apoio e incentivo e que com muito amor entendeu os momentos de ausência e sempre confiou em mim, meu companheiro nesta caminhada. Aos meus pais Horácio e Lêda pelo suporte e auxílio em todos os momentos que precisei para conclusão de mais uma etapa em minha vida. Obrigada por acreditarem sempre em mim. A amiga e fonoaudióloga Jéssica Novais pela amizade, ajuda e apoio e pelas palavras de encorajamento. A minha orientadora Dra Zenith, pelos ensinamentos, pela paciência e por ter me possibilitado crescer no meio acadêmico. A todos os professores do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde pela ajuda na construção de novos saberes e pelo estímulo a pesquisa. Em especial as professoras Dra Fátima Helena e Dra Sônia Mara. As professoras componentes da banca examinadora Dra Márcia Cavadas, Dra Heidi Baeck e Dra Elaine Cortez, obrigada pelo carinho e disponibilidade. Aos meus colegas de turma do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde, tão especiais, cada um na sua essência, foi muito bom nosso convívio nesse período. Em especial agradeço pelas novas amigas que conquistei nesses anos com as quais dividi muitos momentos de alegrias e de ansiedade: Mônica Simões, Glaucimara Riguete, e Luana Pestana. A amiga e fonaoudióloga Andréa Carielo pela cooperação e pelo companheirismo. Em especial aos motoristas de ônibus pela disponibilidade e atenção. A empresa de transporte coletivo que autorizou a realização do estudo, contribuindo para construção deste trabalho. Ao inspetor de tráfego e ao funcionário do Setor de Recursos Humanos da Empresa de transporte coletivo, pois sempre estiveram prontos a colaborar com a pesquisa. A todos que direta ou indiretamente estiveram presentes e acompanharam a elaboração desta pesquisa, meu sincero agradecimento. 7 “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatos desprezam a sabedoria e a disciplina.” (Provérbios 1:7) 8 RESUMO Trata-se de uma pesquisa desenvolvida junto ao Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde que tem como objeto de estudo o cuidado com a saúde auditiva em motoristas de ônibus urbanos, considerando que a saúde auditiva é um dos aspectos fundamentais para a comunicação humana. A pesquisa fundamentou-se nos pressupostos teóricos da audição, na área da saúde do trabalhador e na perspectiva do cuidado em saúde, pois cuidar da saúde do trabalhador é buscar espaços e condições de trabalho saudáveis fazendo com que sua atividade diária seja cada vez menos prejudicial, tanto no campo físico quanto no campo psíquico. Os objetivos do estudo foram: identificar a existência de variação nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus através das audiometrias ocupacionais ao longo de três anos consecutivos; verificar os saberes dos motoristas de ônibus urbano em relação aos riscos de exposição ao ruído e sobre o cuidado com sua saúde auditiva; descrever o Programa de Conservação Auditiva da Empresa de Transporte Coletivo; e discutir ações de cuidado com a saúde auditiva para compor o Programa de Conservação Auditiva. A abordagem metodológica utilizada foi um estudo de caso em uma empresa de transporte coletivo localizada na Cidade do Rio de Janeiro. A caracterização do estudo é observacional, do tipo coorte, que significa a seleção de indivíduos conforme o status de exposição, sendo acompanhados para avaliação da incidência de doença. Para análise dos dados estatísticos foram utilizados como métodos: ANOVA de Friedman para verificar a existência de variação significativa nas audiometrias, ao longo de três anos consecutivos; o teste de comparações múltiplas de Nemenyi, para identificar quais os anos que apresentam diferenças significativas entre si; e o teste dos postos sinalizados de Wilcoxon para verificar a existência de variação na audiometria entre as orelhas, direita e esquerda. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/ UFF) sob CAAE - 6141.0.000.258-10. Os resultados da pesquisa apontam que existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus ao longo de três anos consecutivos, separadamente, por orelha. Comparando-se os limiares da orelha direita e esquerda observou-se que a orelha direita não apresentou diferenças significantes nas frequências analisadas dos exames audiométricos realizados, porém a orelha esquerda apresentou diferenças significativas em três frequências (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz). De acordo com a Classificação da Portaria 19 (1998), evidenciou-se que houve uma redução do número de motoristas com exame de referência dentro dos limites de normalidade, em relação ao terceiro ano observado (exame sequencial). Cabe ressaltar, que a ocorrência das classificações de agravamento ou desencadeamento de Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) não foram identificadas na amostra avaliada. Destaca-se que os motoristas de ônibus em sua maioria não possuem conhecimento sobre os riscos de exposição e cuidados com a saúde auditiva, advindos da falta de informação. Esse estudo aponta que a atuação do fonoaudiólogo através de ações de cuidado inseridas no Programa de Conservação Auditiva é imprescindível para promover a saúde auditiva no ambiente de trabalho. Descritores: Audiologia, audiometria, audição, perda auditiva, saúde do trabalhador, enfermagem. 9 ABSTRACT This is a survey developed along the Academic Masters in health care sciences that have as an object of study the hearing health care in urban bus drivers, since the hearing health is one of the fundamental aspects to human communication. The survey was based on theoretical assumptions of the hearing, in the area of workers' health and the prospect of health care because care of workers' health is seeking spaces and healthy working conditions causing their daily activity to become less and less harmful, both in physical and psychic field. The objectives of the study were to: identify the existence of variation in auditory thresholds of bus drivers through the occupational audiometries over three consecutive years; verify the knowledge of urban bus drivers in relation to risks of exposure to noise and about the care of their health hearing; describe the company's Hearing Conservation program of Collective Transport; and discuss actions of hearing health care to compose the Hearing Conservation program. The methodological approach used was a case studied in a public transportation company located in the city of Rio de Janeiro. The characterization of the observational study is of a kind cohort, which means the selection of individuals as the exposure status, being monitored with a view to assessing the incidence of the disease. For analysis of the statistical data were used as methods: Friedman's ANOVA to verify the existence of significant variation in audiometries, over three consecutive years; multiple comparisons testing Nemenyi, to identify which year that have significant differences between themselves; and testing of flagged posts of Wilcoxon to verify the existence of variation in audiometry between the ears, right and left. This research was approved by the Ethics Committee and University Hospital Research Antonio Pedro of the Universidade Federal Fluminense (HUAPUFF) under CAAE-6141.0.000.258-10. Search results show that there are variations in the auditory thresholds of bus drivers over three consecutive years, separately, by ear. Comparing left and right ear thresholds observed that the right ear did not present significant differences in frequencies of audiometric tests conducted, analyzed but the left ear presented significant differences in three frequencies (500 Hz, 1000 Hz and 3000 Hz). According to the classification of the Gatehouse 19, it showed that there was a reduction in the number of drivers with reference examination within the bounds of normality, in relation to the third year observed (sequential examination). Please note that the occurrence of the trigger or worsen ratings for Noise-induced hearing loss (PAIR) were not identified in the sample evaluated. It is noteworthy that the bus drivers mostly do not have knowledge about the risks of exposure and hearing health care, from lack of information. This study points out that the actions of the audiologist through careful actions entered in the Hearing Conservation program is essential to promote hearing health in the working environment. Keywords: Audiology, audiometry, hearing, hearing loss, occupational health, nursing. 10 Lista de Quadros QUADRO 1 CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE AUDIÇÃO 25 QUADRO 2 RECONHECIMENTO E AVALIAÇÃO DE RISCOS PARA AUDIÇÃO 61 QUADRO 3 CARACTERIZAÇÃO DA EXPOSIÇÃO 61 QUADRO 4 GERENCIAMENTO AUDIOMÉTRICO 62 QUADRO 5 MEDIDAS DE PROTEÇÃO COLETIVA 62 QUADRO 6 MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL 63 QUADRO 7 EDUCAÇÃO E MOTIVAÇÃO 63 QUADRO 8 GERENCIAMENTO DE DADOS 64 QUADRO 9 AVALIAÇÃO DO PROGRAMA 64 11 Lista de Tabelas TABELA 1 DELTA ENTRE FREQUÊNCIA ORELHAS (OE-OD) PARA CADA ANO E 47 TABELA 2 ANÁLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA DIREITA 49 TABELA 3 ANÁLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA ESQUERDA 50 TABELA 4 DELTAS ABSOLUTOS ENTRE OS TRÊS ANOS OBSERVADOS POR ORELHA E FREQUÊNCIA 55 TABELA 5 CLASSIFICAÇÃO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS EXAMES CONSECUTIVOS 56 TABELA 6 INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO DO EXAME AUDIOMÉTRICO SEGUNDO A PORTARIA 19 56 TABELA 7 DESCRITIVA DO FORMULÁRIO (N = 94) 58 12 Lista de Gráficos GRÁFICO 1 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 500 HZ POR ORELHA 51 GRÁFICO 2 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 1000 HZ POR ORELHA 51 GRÁFICO 3 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 2000 HZ POR ORELHA 52 GRÁFICO 4 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 3000 HZ POR ORELHA 52 GRÁFICO 5 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 4000 HZ POR ORELHA 53 GRÁFICO 6 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 6000 HZ POR ORELHA 53 GRÁFICO 7 AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 8000 HZ POR ORELHA 54 GRÁFICO 8 AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 AO LONGO DE TRÊS MOMENTOS OBSERVADOS 57 13 Lista de abreviaturas e siglas ANOVA CEREST CESTEH CFFa CRFa CIPA CLT dB dB (NA) DP DVRT EP ENSP EPI FUNDACENTRO Hz INSS HUAP kHz MTB NR-7 NR-9 NR-15 NIOSH OMS OPAS OD OE PR PAINPSE PAIR PCA PCMSO PPRA RJ SP SES SESDEC SSST SMAC SESMT SMTR SUS UFF VA VO Análise de Variância Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana Centro de Referência em Saúde do Trabalhador Conselho Federal de Fonoaudiologia Conselho Regional de Fonoaudiologia Comissão Interna de Prevenção de Acidentes Consolidação das Leis do Trabalho Decibel Decibel (Nível de Audição) Desvio Padrão Distúrbio de voz relacionado ao trabalho Erro Padrão Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca Equipamento de Proteção Individual Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho Hertz Instituto Nacional do Seguro Social Hospital Universitário Antônio Pedro Quilohertz Ministério do Trabalho Norma Regulamentadora No. 7 Norma Regulamentadora No. 9 Norma Regulamentadora No. 15 National Institute for Occupational Safety and Helth Organização Mundial de Saúde Organização Panamericana de Saúde Orelha Direita Orelha Esquerda Unidade Federativa do Estado do Paraná Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados Perda Auditiva Induzida por Ruído Programa de Conservação Auditiva Programa de Controle de Medicina e Saúde Ocupacional Programa de Prevenção de Riscos Ambientais Unidade Federativa do Estado do Rio de Janeiro Unidade Federativa do Estado de São Paulo Secretaria do Estado da Saúde Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho Secretaria Municipal de Meio Ambiente Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho Secretaria Municipal de Transportes Sistema Único de Saúde Universidade Federal Fluminense Via aérea Via Óssea 14 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 15 INTRODUÇÃO 16 CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 20 1.1 A Audição e o Sistema auditivo 20 1.1.1 Estruturas periféricas do sistema auditivo 21 1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo 22 1.1.3 Alterações no sistema auditivo 22 1.1.4 Avaliação do sistema auditivo 24 1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E A PAIR 27 1.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR E A ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA 30 1.4 PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA 33 1.5 A SAÚDE AUDITIVA E O CUIDADO EM SAÚDE 36 CAPÍTULO II – ABORDAGEM METODOLÓGICA 40 2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 40 2.2 LOCAL DO ESTUDO 41 2.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO 42 2.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA 42 2.5 COLETA DE DADOS 43 2.5.1 Identificando os limiares auditivos 43 2.5.2 Formulário sobre a exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva 43 2.5.3 Descrição do Programa de Conservação Auditiva 44 2.6 ANÁLISE DOS DADOS 45 CAPÍTULO III – RESULTADOS 46 3.1 ANÁLISE INICIAL DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE 48 AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE) 3.2 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO 48 DE TRÊS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA 3.3 COMPARAÇÃO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS 54 ORELHAS DIREITA E ESQUERDA 3.4 RESULTADOS DOS EXAMES AUDIOMÉTRICOS CONFORME A CLASSIFICAÇÃO DA PORTARIA 19 56 15 3.5 RESULTADO DO FORMULÁRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS 58 3.5.1 Caracterização dos sujeitos da amostra 60 3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA 60 CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO 65 4.1 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS 65 4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS SOBRE A EXPOSIÇÃO AO 68 RUÍDO E CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA 4.2.1 Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas 68 4.2.2 Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído 70 4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA DA EMPRESA DE 71 TRANSPORTE COLETIVO 4.4 AÇÕES DE CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA 73 CONSIDERAÇÕES FINAIS 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77 APÊNDICES 84 Apêndice A: Formulário para descrição do Programa de Conservação Auditiva 84 Apêndice B: Formulário sobre a exposição ao ruído e cuidado com a saúde auditiva 85 Apêndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 86 ANEXOS 87 Anexo A: Ministério do Trabalho e Emprego – Portaria 3214 – NR 7 – anexo I – quadro II 87 Anexo B: Parecer do Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade de Medicina/HUAP 92 15 APRESENTAÇÃO Desde a graduação no curso de Fonoaudiologia surgiu o interesse em estudar sobre a saúde dos trabalhadores que poderiam desenvolver algum déficit no processo comunicativo devido às atividades laborais. Nesta ocasião como trabalho de conclusão de curso, foi desenvolvido um estudo sobre a oratória como instrumento do resgate da expressão natural, pessoal e funcional da voz facilitando a prática profissional dos advogados. O interesse em estudar sobre os aspectos que envolvem a saúde auditiva surgiu durante a atuação profissional na área da audiologia ocupacional. Destaca-se que no cotidiano de trabalho, durante a realização de exames audiométricos em trabalhadores de empresas de transporte coletivo observou-se a prevalência de diagnósticos sugestivos de perda auditiva por níveis de pressão sonora elevada, a falta de conhecimento e do cuidado por parte dos trabalhadores em relação á audição. Em busca de novos saberes na área da saúde do trabalhador considerando que atualmente a fonoaudiologia conta com um deslocamento de muitos profissionais para novos campos de atuação ingressei como aluna especial na disciplina de Gestão de Programas Ocupacionais do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Universidade Federal Fluminense (UFF) e no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Cidadania e Gerência na Enfermagem (NECIGEN) na linha de pesquisa de saúde do trabalhador que tem como uma de suas propostas, a análise dos aspectos envolvidos na investigação e intervenção dos agravos à saúde do trabalhador. Como Aluna Efetiva do Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde (MACCS/UFF) desenvolvi o estudo junto à linha de pesquisa de cuidados coletivos em enfermagem e saúde nos seus processos educativos e de gestão, por conter atividades de cuidado no contexto político social e no processo de trabalho em saúde. Saúde das populações vulneráveis. Gestão do cuidado e do trabalho em saúde 16 INTRODUÇÃO O objeto de estudo desta pesquisa é o cuidado com a saúde auditiva dos motoristas de ônibus urbano. Considerando que a comunicação é um aspecto fundamental nas relações de trabalho, nas quais as funções de audição, voz, fala e de linguagem precisam estar em pleno funcionamento em seus aspectos anatômicos e fisiológicos para que a mensagem que se deseja tornar comum ao outro não seja prejudicada. Durante a atuação profissional na área da Audiologia Ocupacional foi observada a prevalência de diagnósticos sugestivos de Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), a falta de conhecimento e do autocuidado no que se refere à saúde auditiva, por parte dos motoristas de ônibus, o que pode representar danos a sua saúde com repercussões na qualidade do trabalho desenvolvido. A partir da observação empírica supracitada surgiu a inquietação sobre a efetividade do programa de conservação auditiva aplicado na empresa de transporte coletivo, em relação aos cuidados com a audição dos motoristas de ônibus. Cada vez mais nos ambientes de trabalho e sociais, a exposição ao ruído acima dos limites permissíveis à orelha humana tem se tornado um agente presente. O dano auditivo decorrente dessa exposição tem caráter irreversível se tornando necessária uma conduta preventiva sobre os riscos que permeiam a saúde auditiva. O efeito causado pela exposição ao ruído, principalmente sobre a audição, tem sido objeto de diversos estudos na área da saúde dos trabalhadores. As dificuldades auditivas ocasionadas pela exposição prolongada ao ruído intenso, quando afetam a comunicação, prejudicam as relações interpessoais de seu portador, podendo levar à sensação de insucesso e frustração, que caracterizam as desvantagens psicossociais e que têm importante impacto na vida do sujeito, afetando sua vida profissional, social e familiar (GONÇALVES; IGUTI, 2006). 17 O cuidado com a saúde auditiva do trabalhador é importante instrumento para construção de um ambiente laboral saudável criando possibilidades de intervenção e atuação, de modo que os impactos eminentes do risco de exposição ao ruído intenso possam ser amenizados e controlados. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 2005, cerca de duzentos e setenta e oito milhões de pessoas foram acometidas de perda auditiva, e 80% delas vivem em países de baixa e média renda. A exposição excessiva ao ruído é um dos fatores que contribui para esta estatística. A OMS refere também que para prevenir a perda auditiva por exposição ao ruído, se deve reduzir a exposição, em termos profissionais e de lazer, utilizando equipamentos de proteção individual, medidas de controle e de engenharia (OMS, 2010). Outros órgãos internacionais também chamam a atenção para esse fato, como por exemplo o National Institute for Occupational Safety and Helth (NIOSH), que traz como dados estatísticos que quatro milhões de trabalhadores nos Estados Unidos trabalham sob risco de exposição ao ruído diariamente, e que dez milhões de pessoas têm perda auditiva relacionada a tal exposição. São contabilizados vinte e dois milhões de trabalhadores expostos ao risco ruído, anualmente. O Occupational Safety e Helth Administration (OSHA) destaca que as perdas auditivas relacionadas ao ruído foram consideradas como um dos mais prevalentes problemas de saúde ocupacional nos últimos vinte cinco anos nos Estados Unidos. No Brasil ainda não existem dados estatísticos que apontam para a realidade dessa problemática. Os sistemas de informação e de fiscalização são precários não possibilitando o registro real dos casos. Considera-se também a existência da subnotificação da doença (TELES; MEDEIROS, 2007). A poluição sonora é um dos fatores de risco ambientais que interfere no estado de saúde das populações. Todos os ruídos provenientes de uma ou mais fontes sonoras, ao mesmo tempo em um ambiente, geram desconforto e podem causar efeitos negativos sobre a saúde humana. A urbanização e o aumento do tráfego de veículos nas vias públicas propiciam o aumento dos índices de poluição sonora para população em geral e, principalmente, para os indivíduos que trabalham diariamente sob o risco de exposição desta natureza. O crescimento urbano intensifica a necessidade de deslocamento das pessoas em diferentes pontos das grandes cidades, resultado da necessidade cotidiana da população. 18 O ônibus ainda é o transporte público mais utilizado por grande parte da população, apesar das falhas na prestação do serviço, como por exemplo, a irregularidade de horários e a lotação dos veículos. Quando a qualidade do referido serviço não é satisfatória há um aumento na utilização de automóveis, vans, táxis, dentre outros, causando engarrafamentos e contribuindo ainda mais para a poluição do ambiente. Segundo Cocco e Silveira (2011), o sistema de transporte público coletivo é essencial enquanto serviço de utilidade pública que garante a reprodução social da força de trabalho mediante as interações espaciais que efetuam, aumentando de diversas maneiras a produtividade do trabalho, seja diretamente, a partir do conforto, da confiabilidade e da segurança oferecidos pelo serviço, ou indiretamente, quando este facilita o acesso a outros meios de consumo coletivo que potencializam e complexificam a força de trabalho. O sistema de transportes no município do Rio de Janeiro possui aproximadamente oito mil e setecentos veículos, em circulação pelas vias públicas, administrados por quarenta e sete empresas privadas a partir de concessão pública. É a modalidade de transporte mais utilizada pela população do Rio de Janeiro (SMTR, 2011). Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC, 2011): À medida que a cidade cresce as queixas públicas relacionadas ao ruído tornam-se cada vez mais numerosas. No Rio de Janeiro, pelo menos 60% das reclamações recebidas pela SMAC, são relacionadas a incômodo sonoro. Esse percentual, em uma cidade com tantos outros focos potenciais de conflito ambiental, mostra com clareza a dimensão que a questão sonora ocupa junto a seus habitantes e sua importância para a determinação da qualidade do ambiente de seus habitantes. Os motoristas de ônibus são os trabalhadores que desempenham suas atividades nesse ambiente público, não possuindo um local restrito para realizar suas tarefas, logo estão diariamente sujeitos às condições do clima, do tráfego, trajeto das vias, violência urbana e sobrecarga de ruído ambiental (BATTISTON; CRUZ; HOFFMANN, 2006). A categoria dos motoristas de ônibus urbanos tem grande importância social, principalmente nas sociedades contemporâneas e mais urbanizadas, não somente pela exposição a condições de trabalho bastante específicas, mas também pela responsabilidade coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de passageiros. Em função disso, esse grupo vem sendo objeto frequente de estudos epidemiológicos na área de saúde do trabalhador e da medicina ocupacional (BENVEGNÚ et al, 2008). 19 Nesse sentido, esses profissionais necessitam de ações de prevenção e cuidado com a saúde auditiva, pois a dificuldade em ouvir ou a perda da audição são alterações que podem ser evitadas por meio do acompanhamento contínuo do perfil auditivo e da conscientização sobre a importância da audição. Diante dos fatos supracitados, foram levantadas as seguintes hipóteses para estudo: - Existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus ao longo de três anos consecutivos; - Não existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus, ao longo de três anos consecutivos; - Os motoristas de ônibus têm conhecimento sobre os riscos de exposição e cuidados com a saúde auditiva; - Os motoristas de ônibus não têm conhecimento sobre os riscos de exposição e cuidados com a saúde auditiva. Para responder as hipóteses levantadas, foram traçados como objetivos: 1 – Identificar a ocorrência de variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus urbano, através do cadastro audiométrico dos exames ocupacionais, ao longo de três anos consecutivos; 2 – Verificar os saberes dos motoristas de ônibus urbano, em relação aos riscos de exposição ao ruído e sobre o cuidado com sua saúde auditiva; 3 - Descrever o Programa de Conservação Auditiva da Empresa de Transporte Coletivo; 4 - Discutir ações de cuidado com a saúde auditiva para compor o Programa de Conservação Auditiva. 20 CAPÍTULO I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1. A AUDIÇÃO E O SISTEMA AUDITIVO É por meio da audição que se ouve e se percebe os sons gerados no ambiente. A audição é considerada essencial para os indivíduos, pois é a base da comunicação humana. Além disso, a formação e o desenvolvimento da fala e da linguagem estão diretamente ligados a um bom funcionamento de tal sentido. A audição ocorre por meio do sistema auditivo, que é constituído por estruturas sensoriais e conexões. Esse sistema pode ser dividido em duas porções distintas, mas interrelacionadas que são: sistema auditivo periférico e sistema auditivo central. O sistema auditivo periférico compreende estruturas da orelha externa, orelha média e orelha interna e do sistema nervoso periférico, no qual ocorre a captação e transmissão da onda sonora pela orelha externa, a transdução sonora na membrana timpânica, cadeia ossicular e músculos intratimpânicos (orelha média) e o processamento da informação auditiva na cóclea e porção coclear do nervo vestíbulo coclear (orelha interna e sistema nervoso periférico) (BONALDI, 2011, p. 5). O sistema auditivo central se refere às vias auditivas localizadas no tronco encefálico e áreas corticais, onde o processamento das informações sonoras é realizado. Os impulsos nervosos são transmitidos pelas fibras do VIII nervo craniano para os núcleos cocleares, tronco encefálico, tálamo e córtex (TEIXEIRA; GRIZ, 2011, p. 17). 21 1.1.1 Estruturas periféricas do sistema auditivo A orelha externa é a parte do sistema auditivo que protege, absorve e transforma a energia das ondas acústicas em energia mecânica vibratória. Coleta e dirige as ondas sonoras através do meato acústico externo até a membrana timpânica. É constituída pelo pavilhão auricular e meato acústico externo que são as partes cartilagínea e óssea. A comunicação entre as orelhas média e interna e o ambiente externo é realizada pelo meato acústico externo, que tem a função básica de conduzir os sons até a membrana timpânica. O meato acústico e o pavilhão auricular possuem propriedades acústicas interessantes para fisiologia da audição, pois aumentam o efeito da sombra sonora e, também aumentam nossa sensibilidade aos sons (ZEMLIN, 2000). A orelha média é representada pela cavidade timpânica onde se encontra a cadeia ossicular (martelo, bigorna e estribo), articulada entre si com seus músculos e ligamentos, a tuba auditiva, o adito, o antro e as células mastóideas. É um transformador de impedância altamente eficiente que possibilita a transmissão adequada das vibrações aéreas aos líquidos labirínticos (MUNHOZ et al, 2003). A orelha interna localiza-se na porção petrosa do osso temporal, e pode ser dividida em dois sistemas de cavidades: um que abriga os órgãos do equilíbrio e o outro que protege os órgãos essenciais da audição. Os sistemas são denominados de labirinto ósseo e labirinto membranoso. No labirinto ósseo está localizada a cóclea que possui função auditiva, o vestíbulo e os canais semicirculares (anterior, posterior e lateral) que possuem função de detecção e orientação da cabeça no espaço. Dentro do labirinto ósseo localiza-se o labirinto membranoso, e o espaço entre eles é preenchido pela perlinfa (rica em sódio), no labirinto membranoso encontra-se a endolinfa (rica em potássio) que é constituído pelo ducto coclear, sáculo e utrículo, ducto e saco endolinfático (SANTOS; RUSSO, 2009). Na orelha interna está localizada a cóclea, estrutura muito importante para o estudo da PAIR, pois é nela que está localizado o órgão de Corti, formado pela membrana tectória, pelas células de sustentação e células ciliadas que podem ser lesadas pela exposição a níveis elevados de pressão sonora. As células ciliadas são as células sensoriais, destinadas à transformação das ondas sonoras em impulsos nervosos. Devido ao seu posicionamento no ducto coclear podem ser chamadas de células ciliadas internas e externas. (BONALDI, 2011, p. 11). 22 As características das células ciliadas lhes permitem movimentos que repercutem sobre a lâmina basilar e a estrutura do ducto coclear. Essas células possuem proteínas contráteis como, por exemplo, actina, miosina e um sistema de cisternas laminadas ao longo de todo comprimento da célula. Esse sistema de cisternas ajuda a manter a forma da célula, integridade estrutural e ainda funciona como uma força elástica. Elas se encurtam quando polarizadas e se estendem quando hiperpolarizadas. (BONALDI, 2011, p. 12). As células ciliadas externas constituem o amplificador coclear, que por meio da inclinação de seus cílios amplifica o estímulo para determinar a deflexão dos cílios das células ciliadas internas que são receptoras e codificadoras cocleares, transmitindo a informação sonora codificada da cóclea para os núcleos cocleares e destes para o córtex auditivo (BONALDI, 2011, p. 13). 1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo Os centros auditivos do tronco cerebral desempenham funções importantes na determinação da direção de onde vem o som e, ao mesmo tempo, no direcionamento da cabeça e dos olhos na mesma direção. No córtex auditivo são analisados as características tonais e o significado dos sons. Os sinais auditivos chegam ao cérebro pelo componente coclear do oitavo par craniano, o nervo vestíbulo coclear, que termina nos núcleos cocleares do tronco cerebral. Os sinais são transmitidos pelo núcleo olivar superior, colículo inferior do tronco cerebral, corpo geniculado medial do tálamo, e finalmente, para o córtex auditivo (TEIXEIRA; GRIZ, 2011). 1.1.3 Alterações no sistema auditivo Quando o sistema auditivo tem algum dano, seja de caráter hereditário ou adquirido, pode ser considerado que o indivíduo é portador de uma deficiência auditiva ou surdez. A incapacidade de ouvir reflete na dificuldade de se adquirir linguagem e, consequentemente, afeta sua capacidade de comunicação que é um instrumento necessário para a execução das atividades sociais pertinentes ao ser humano. 23 A deficiência auditiva diz respeito à perda total ou parcial da capacidade de ouvir, que pode ser causada por problemas na gestação e no parto como, por exemplo: prematuridade; doenças infecciosas como rubéola, meningite, sarampo; infecções crônicas nos ouvidos e utilização inadequada de medicamentos ototóxicos. A deficiência auditiva pode surgir em qualquer fase da vida do indivíduo, desde a gestação, na infância ou até mesmo, na vida adulta. O ruído excessivo, incluindo a exposição no ambiente de trabalho é um agente causador de perda auditiva, principalmente na fase adulta, pois além de causar um ônus social e econômico sobre o indivíduo que adquiriu a perda auditiva, dificulta sua relação com a família e no trabalho. É comum a pessoa se isolar e não querer participar de grupos sociais o que afeta diretamente a sua qualidade de vida. Além disso, muitas vezes, por questões financeiras, algumas pessoas, principalmente os trabalhadores, não possuem condições de adquirir um Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), o que contribui ainda mais para a sensação de solidão, frustração e incapacidade. Segundo Seligman (1997), as lesões da orelha interna resultantes da exposição ao ruído levam ao esgotamento físico e a alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão sensorial auditivo, refletindo na lesão das células ciliadas (externas e internas), com lesão parcial ou total do órgão de Corti. A exposição pode apresentar-se da seguinte forma: 1. Por exposição aguda; Trauma Sonoro e Mudança Temporária no Limiar (TTS Temporary Threshold Shift) 2. Por exposição Crônica - Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança Permanente no Limiar (PTS - Permanente Threshold Shift) A PAIR1 é o agravo mais conhecido quando a exposição ao ruído é evidenciada. De forma geral há um reconhecimento da sociedade e da comunidade científica de que a exposição contínua ao ruído pode causar danos à audição. Além disso, alguns sintomas associados à perda auditiva podem surgir como, por exemplo, a intolerância a sons intensos e o zumbido que é considerado o mais frequente deles. O Ministério da Saúde define a PAIR como a perda provocada pela exposição, por tempo prolongado, ao ruído. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial, geralmente bilateral, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao ruído (CID 10 – 1 Apesar da portaria 19(1998) anexo I da Norma Regulamentadora n º 7 sugerir o termo perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados (PAINPSE), neste estudo optou-se em utilizar o termo PAIR, por ser mais difundido e conhecido em meio aos profissionais de saúde, engenharia e segurança e para os trabalhadores. 24 H 83.3). Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora de origem ocupacional (BRASIL, 2006). O cuidado com a da saúde auditiva das populações, principalmente dos trabalhadores que diariamente estão vulneráveis à exposição do ruído ocupacional, deve ser considerado de fundamental importância. A prevenção e o desenvolvimento de ações para o controle, eliminação ou diminuição do risco precisam ser priorizados objetivando a construção de ambientes saudáveis, auditivamente. 1.1.4 Avaliação do sistema auditivo São muitos os testes e exames utilizados para avaliar a audição. O que deve ser considerado é a especificidade do que se deseja inferir. A avaliação audiológica é composta por procedimentos comportamentais, eletroacústicos e eletrofisiológicos. Segundo Santos e Russo (2009, p. 68), “medir a audição pode referir-se em primeiro lugar aos parâmetros de intensidade e de altura do tom, às qualidades do timbre, da duração, às condições de origem e direção da fonte sonora.” Durante a realização de um exame auditivo dois fenômenos são observados: o evento físico, objetivo, mensurável e o evento psicofísico, que é o resultado da sensação que o estímulo produz a uma pessoa, sendo, portanto, um fenômeno subjetivo. Na avaliação audiológica, a audiometria tonal é considerada como a mais fundamental, representando o primeiro teste de bateria básica. Avalia todo sistema auditivo, pois a resposta da pessoa depende da compreensão sobre o procedimento do exame e a elaboração de uma resposta, não sendo, portanto avaliado, apenas o órgão da audição. O objetivo da audiometria tonal liminar é a determinação dos limiares de audibilidade, isto é, verificar o mínimo de intensidade sonora necessária para provocar a sensação auditiva e comparar os valores com o padrão considerado dentro da normalidade (SANTOS; RUSSO, 2009). A finalidade da determinação dos limiares de audibilidade é de várias ordens tais como: detectar a existência de perda auditiva em crianças, adultos e idosos; auxiliar o 25 topodiagnóstico das lesões auditivas que possam atingir as orelhas externa média ou interna; determinar o tipo de perda auditiva; servir como exame admissional, periódico e demissional para trabalhadores expostos a ruído em programas de conservação auditiva; entre outros (SANTOS; RUSSO, 2009). Ao longo do tempo, várias propostas de classificação para perda auditiva foram adotadas, porém atualmente, a proposta recomendada é a que consta nas Portarias 587/2004 e 589/2004 do Ministério da Saúde que determina as diretrizes nacionais para políticas públicas da saúde auditiva, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 1997, que utilizam as médias das frequências de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz (LOPES, 2011, p. 76). Quadro 1 – Classificação do nível de audição. NÍVEL DE AUDIÇÃO Audição Normal MÉDIA DAS FREQUÊNCIAS DE 500, 1, 2, E 4 KHz 0 a 25 dB Perda de Audição Leve 26-40 dB Perda de Audição Moderada 41-60 dB Perda de Audição Severa Perda de Audição Profunda 61-80 dB Maior que 81dB CARACTERÍSTICAS RECOMENDAÇÕES Não tem problemas auditivos. Capaz de ouvir sussurros Capaz de ouvir e repetir palavras faladas em voz normal, até 1 metro de distância Capaz de ouvir e repetir palavras faladas em voz alta, até 1 metro de distância Capaz de ouvir e repetir palavras faladas em voz alta (gritando) direcionando para a orelha melhor. Incapacidade em ouvir e compreender palavras faladas em voz muito alta (gritando). Cuidado com audição. O uso de AASI pode ser recomendado. Recomenda-se AASI o Necessário o uso Recomenda-se o língua de sinais labial. Necessário o uso Recomenda-se o língua de sinais labial. uso de de AASI. uso da e leitura de AASI. uso da e leitura Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2005 Em se tratando de audiometrias ocupacionais, o Conselho Federal e os Regionais de Fonoaudiologia (2009), através de um guia de orientações sobre audiometria tonal, logoaudiometria e medidas de imitância acústica trouxeram informações aos fonoaudiólogos de que os laudos das audiometrias, tanto de referência quanto sequenciais, deveriam conter 26 descrições do tipo, grau e configuração audiométrica, sempre com base na literatura científica e, principalmente, sem utilizar classificação de frequência isolada em termos de grau, uma vez que não há referência da literatura para tal. Ressaltaram, ainda, que os laudos dos exames ocupacionais devem conter todas as determinações da Portaria nº 19 do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, 1998, Anexo 1(A) ou da legislação vigente. Entende-se como audiometria de referência o exame realizado quando ainda não se possui um exame audiométrico prévio que, geralmente, são os exames admissionais. Os exames que serão realizados posteriormente são considerados exames sequenciais. Esses exames devem ser comparados, porém, quando algum exame audiométrico sequencial apresenta alteração em relação ao de referência, este passa a ser o novo exame audiométrico de referência. Os exames anteriores passam a constituir o histórico evolutivo da audição do trabalhador. A interpretação do resultado do exame audiométrico com finalidade de prevenção em conformidade com a Portaria 19 - MTE, 1998, Anexo 1(A) segue os seguintes parâmetros: - Dentro dos limites aceitáveis: os audiogramas com limiares auditivos menores ou iguais a 25 dB (NA), em todas as frequências examinadas. - Sugestivos de PAIR: audiogramas que nas frequências de 3.000 Hz, e/ou 4.000 Hz, e/ou 6.000 Hz apresentam limiares auditivos acima de 25 dB (NA) e mais elevados do que nas outras frequências testadas, estando estas comprometidas ou não, tanto no teste da via aérea quanto da via óssea, em um ou em ambos os lados. - Não sugestivos de PAIR: audiogramas com piora nos limiares auditivos do exame sequencial não característicos de PAIR. Como por exemplo: sinais de acometimento condutivo ou misto, ou lesão neurossensorial, mas com limiares tonais igualmente comprometidos ou mais elevados nas freqüências mais baixas. - Sugestivos de desencadeamento de PAIR: quando o exame de referência está dentro dos padrões aceitáveis, mas a comparação com audiograma sequencial apresenta piora nas freqüências de 3.000 Hz, 4.000 Hz, e/ou 6.000 Hz. Essa piora é considerada quando ocorre a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de frequências de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 10 dB (NA) ou a piora em pelo menos uma das freqüências de 3.000Hz, 4.000Hz ou 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 15 dB (NA). - Sugestivos de agravamento de PAIR: quando o exame de referência já apresenta configuração compatível com PAIR e há piora em 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz no exame sequencial. 27 Essa piora é considerada quando ocorre a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de freqüência de 500 Hz, 1.000Hz e 2.000 Hz, ou no grupo de freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 10 dB (NA) e a piora em uma freqüência isolada igualando ou ultrapassado 15 dB (NA). - Estável em relação ao de referência: Quando os limiares auditivos não apresentam as diferenças citadas anteriormente. A avaliação audiológica periódica permite o acompanhamento da progressão da perda auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposição, além da suscetibilidade individual. A velocidade da progressão da perda auditiva determina a eficácia das medidas de proteção que devem ser aplicadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E A PAIR O som é originado por uma vibração mecânica que se propaga no ar estimulando o sistema auditivo. É transmitido de forma ondulatória, sendo que a velocidade dessa transmissão depende das características da onda no meio que se propaga. Portanto, o som é definido como qualquer vibração, conjunto de vibrações ou ondas mecânicas que podem ser ouvidas (SALIBA, 2009). O ruído é basicamente todo som que não é desejado ou perturbador. Todos os sons que se ouve podem ser classificados como ruído, desde que sejam indesejados por outros indivíduos que venham a captá-los. O ruído pode ser considerado como sinal acústico que influencia o bem estar físico e mental do indivíduo (RUSSO, 1993). Saliba (2009, p. 18) registra que: O ruído é o fenômeno físico vibratório com características indefinidas de variações de pressão (no caso ar) em função da freqüência, isto é, para determinada freqüência podem existir, em forma aleatória através do tempo, variações de diferentes pressões. Dentre as diversas causas de poluição, ressalta-se que o ruído proveniente de veículos de transportes, atividades laborativas e de lazer tem contribuído para colocar a poluição sonora como a terceira causa de poluição no mundo, perdendo apenas para o ar e a água. Tal fato representa, entre outros, um risco para audição de toda a população (FIORINI, 2000). 28 Os sintomas não auditivos também podem surgir devido à exposição ao ruído. Os efeitos não auditivos causados pela exposição, atualmente, vem recebendo atenção por parte dos pesquisadores. Ibañez, Schneider e Seligman (2001, p. 48) descrevem que os sintomas não auditivos relacionadas à exposição podem ser de neurológicas, vestibulares, digestivos e comportamentais que atingem à comunicação e causam distúrbios do sono. Segundo Fiorini (2004) as consequências da exposição ao ruído podem ser de duas ordens: efeitos na audição e efeitos gerais. Essa exposição pode perturbar o trabalho, o descanso, o sono, a comunicação nos seres humanos, causar déficit na audição, provocar reações psicológicas, fisiológicas e até patológicas. Petian (2008) buscou estimar a prevalência do incômodo causado pelo ruído em trabalhadores de estabelecimentos comerciais no município de São Paulo. Detectou-se que o incômodo relacionado ao ruído no local de trabalho foi estimado em 62,5%. Foi ressaltado que o local de trabalho era ruidoso 65,75% dos trabalhadores e, 62% que o ruído do tráfego no local de trabalho era incômodo. Com os resultados deste estudo pode-se inferir que os trabalhadores conheciam tanto o risco físico do ruído, quanto o incômodo que ele pode causar. Os trabalhadores relataram que o ruído poderia causar ou agravar alguns problemas de saúde, principalmente a perda auditiva, estresse e irritabilidade. Benvegnú et al (2008) observaram a existência de uma associação significativa entre os problemas psiquiátricos menores e a hipertensão em motoristas de ônibus na cidade de Santa Maria no Rio Grande do Sul. Esse achado parece reforçar a hipótese da associação entre estresse e problemas psicológicos com hipertensão. No estudo de Lacerda et al (2010) concluiu-se que as queixas mais frequentes relacionadas à audição entre os motoristas de ônibus foi o zumbido e a sensação de plenitude auricular. Ogido, Andrade Costa e Machado (2009), em um estudo relacionado com sintomas auditivos e vestibulares causados pela exposição ao ruído, concluíram que as disfunções auditivas são queixas constantes na população atendida em um centro de referência de saúde ocupacional de Campinas (SP), reforçando a necessidade permanente da adoção de medidas preventivas em relação à exposição ao ruído, tanto coletivas quanto individuais. O Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva publicou seu posicionamento sobre a PAIR em seu primeiro boletim em 1994, revisto em 1999 definindo-a da seguinte maneira: 29 A perda auditiva induzida pelo ruído relacionada ao trabalho, diferentemente do trauma acústico é uma diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição continuada a elevados níveis de pressão sonora. As características principais são: - Na maioria das vezes é sempre neurossensorial, em razão do dano causado as células do órgão de Corti. - Uma vez instalada é irreversível e, quase sempre, similar bilateralmente. - Raramente leva à perda auditiva profunda, pois, não ultrapassa os 40 dB nas frequências baixas e médias e os 75 dB nas frequências altas. - Manifesta-se primeira e predominantemente nas frequências de 6.000 Hz, 4.000 Hz, e 3.000 Hz, com agravamento da lesão, estende-se às frequências de 8.000 Hz, 2.000 Hz, 1.000 Hz, 500 Hz e 250 Hz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas. - Tratando-se de uma doença predominantemente coclear, o portador da PAIR pode apresentar intolerância a sons intensos, zumbidos, além de ter comprometida a inteligibilidade da fala, em prejuízo do processo de comunicação. - Uma vez cessada a exposição ao ruído provavelmente não haverá a progressão da PAIR. - É influenciada principalmente, pelas características físicas do ruído, como o tipo, o espectro e o nível de pressão sonora, pelo tempo de exposição e pela suscetibilidade individual. - Geralmente atinge o nível máximo para as frequências de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz nos primeiros dez a quinze anos de exposição, sob condições estáveis de ruído. Com o passar do tempo, a progressão da lesão se torna mais lenta. - PAIR relacionada ao trabalho não torna o ouvido mais sensível a futuras exposições. - O diagnóstico nosológico de PAIR relacionada ao trabalho somente pode ser estabelecido, por meio de um conjunto de procedimentos que envolvam anamnese clínica e ocupacional, exame físico, avaliação audiológica e, se necessário, exames complementares. Esse diagnóstico é realizado pelo médico do trabalho. - Pode ser agravada pela exposição simultânea a outros agentes, como produtos químicos e vibrações. - É uma doença passível de prevenção e pode acarretar ao trabalhador alterações funcionais e psicossociais capazes de comprometer sua qualidade de vida. A possibilidade de prevalência de PAIR é um fato eminente, portanto há uma necessidade de não apenas realizar audiometrias ocupacionais pontuais, mas também de monitorar a audição dos trabalhadores de forma longitudinal, como parte de um programa de 30 conservação auditiva. Resultados encontrados em estudos relacionados à prevalência de PAIR contribuíram para melhor compreensão do comportamento de algumas das principais características relacionadas à doença, em uma situação particular de organização do trabalho, relativamente comum nas indústrias brasileiras (GUERRA et al, 2005 ; TELES; MEDEIROS, 2007). 1.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR E A ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA O trabalho humano é um importante componente para evolução social e econômica de uma sociedade. Através dele o homem garante sua subsistência e da sua família e deve se sentir satisfeito em suas atividades laborais, pois é através delas que colhe os resultados de seu próprio esforço. Trabalhar deve ser algo prazeroso que traga satisfação pessoal e profissional ao indivíduo (RODRIGUES et al, 2012). Na sociedade brasileira, o trabalho é mediador de integração social, tanto por seu valor econômico quanto cultural tendo assim, importância fundamental no modo de vida das pessoas e na sua saúde física e mental. Fica claro que os trabalhadores, tanto individualmente como coletivamente, devem estar cientes do desgaste sofrido e que se não bem administrado pode desencadear processos patológicos (TRINDADE et al, 2006). Cuidar da saúde do trabalhador é buscar espaços e condições de trabalho saudáveis fazendo com que sua atividade diária seja menos prejudicial para ele, tanto no campo físico quanto no campo psíquico. Dejours e Abdoucheli (2007, p. 125) ao citarem as condições de trabalho fazem referência como “pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas do posto de trabalho,” onde os corpos dos trabalhadores são afetados, ocasionando a eles desgaste, envelhecimento e doenças somáticas. O campo da saúde do trabalhador no Brasil passou a ser competência da União a partir da constituição de 1988, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Em algumas cidades, há o incremento de Programas de Saúde do Trabalhador na rede pública, na perspectiva da Saúde Coletiva, estruturando-se ações de assistência e vigilância em saúde dos trabalhadores, com característica interdisciplinar e interinstitucional (GONÇALVES, 2009). Segundo Lacaz (2007) a saúde do trabalhador é campo de práticas e conhecimentos cujo enfoque teórico-metodológico, no Brasil, emerge da Saúde Coletiva, buscando conhecer e intervir nas relações de trabalho e de saúde-doença. 31 A abordagem de riscos à saúde do trabalhador permite que o controle de causas de acidentes, sejam agentes físicos, químicos e biológicos causadores de agravos, esforços físicos e sobrecargas mentais. Essa intervenção se efetiva basicamente no campo tecnológico, mas tem consequências sobre a saúde, que devem ser acompanhadas, por meio de indicadores sociais e sanitários (MACHADO, 1997). Trabalhar integradamente as questões relacionadas à saúde do trabalhador e ao meio ambiente é um passo fundamental para se desenvolver novas abordagens teóricometodológicas que possibilitem avançar nos processos de análise e intervenção sobre as situações e eventos de riscos que são colocados para trabalhadores e o meio ambiente como um todo (PORTO; FREITAS, 1997). Segundo Mendes e Dias (1991), o objeto da saúde do trabalhador pode ser definido como o processo saúde e doença dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho. Representa um esforço de compreensão desse processo, como e porque ocorre, e do desenvolvimento de alternativas de intervenção que levem à transformação em direção à apropriação pelos trabalhadores e à dimensão humana do trabalho, numa perspectiva teleológica. Segundo Gonçalves (2004), a ação do fonoaudiólogo em saúde do trabalhador deve visar à comunicação efetiva do mesmo, garantida pela audição preservada. Tal ação é promotora da saúde, pois não se identificam os problemas auditivos unicamente, mas são analisadas as formas como eles acontecem, permitindo ações para evitá-los e que irão repercutir na melhoria da qualidade de vida do trabalhador. A atuação fonoaudiológica engloba ações de promoção, proteção e recuperação da saúde nos diversos aspectos relacionados à comunicação humana em todo o ciclo vital, se inserindo em unidades básicas de saúde, ambulatórios de especialidades, hospitais, unidades educacionais, domicílios e outros recursos da comunidade (LIPAY; ALMEIDA, 2007). O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para avaliar, diagnosticar e atuar no sentido da prevenção, através dos seus conhecimentos sobre os agentes de risco à saúde, do local ou órgão que pode ser lesionado e através da realização dos exames audiológicos. A principal característica profissional do fonoaudiólogo é a sua atuação multidisciplinar por possuir conhecimentos de outras áreas como física acústica, audiologia e educação, permitindo uma atuação preventiva da perda auditiva em várias circunstâncias (MORATA; ZUCKI, 2005, p.25). 32 A ação do fonoaudiólogo na área da saúde do trabalhador, bem como o estabelecimento e a consolidação desse mercado de trabalho partiu do pioneirismo e da determinação de alguns profissionais em um momento político propício. Espera-se que uma trajetória similar desponte junto à saúde ambiental (MORATA; ZUCKI 2005, p.26). Conforme descrito no Boletim nº 2 do Comitê Nacional de Ruído, no que tange à avaliação audiológica do trabalhador exposto a ruído, um dos requisitos para confiabilidade dos resultados da audiometria tonal limiar é que além de ser obrigatório por lei é o exame realizado por profissional legalmente habilitado, isto é, o fonoaudiólogo ou o médico (NUDELMANN et al, 2001). Os agravos pertinentes à atuação do fonoaudiólogo na saúde do trabalhador são a PAIR e os distúrbios da voz relacionados ao trabalho (DVRT). A notificação dos casos de PAIR é obrigatória no Estado do Rio de Janeiro desde 2003, de acordo com a resolução da SES nº 2.075, e nacionalmente desde 2004, conforme a Portaria GM/MS nº 777. (REDE NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR, 2010). A notificação de agravos da atuação fonoaudiológica vem acontecendo gradativamente. Os profissionais envolvidos ainda precisam se conscientizar da importância dessa atividade. Essa notificação é importante para produção de dados epidemiológicos que embasem as medidas de controle e prevenção das doenças relacionadas ao trabalho. Partindo do princípio de que a fonoaudiologia é uma área que vem avançando no conhecimento científico e na atuação no campo da saúde do trabalhador, cabe ressaltar o quanto se faz necessário a inserção deste profissional nas equipes de serviço especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT. Rodrigues e Silvino (2010) ao realizarem uma revisão na literatura sobre a exposição ao ruído relacionada à saúde auditiva verificaram que o maior número de produções dentro desse eixo temático se concentra entre os profissionais médicos e fonoaudiólogos. Tal análise permitiu perceber a visibilidade da trajetória percorrida pela fonoaudiologia nessa temática. O Conselho Federal de Fonoaudiologia (2011) e instituições afins estudam a possibilidade de inclusão da Fonoaudiologia do Trabalho como uma área de especialidade da profissão. Normalmente, o que se observa nas empresas onde os funcionários estão sob o risco de exposição ao ruído, com necessidade de monitoramento da audição é a atuação do fonoaudiólogo como prestador de serviços ou como terceirizado. 33 Se em cada instituição tivesse um fonoaudiólogo atuando integradamente com a equipe das áreas médica, de engenharia e de segurança através do desenvolvimento de ações para prevenir os agravos à saúde, possivelmente os trabalhadores e a instituição seriam beneficiados, na perspectiva de minimizar as doenças ocupacionais, bem como proteger a integridade auditiva do trabalhador. 1.4 PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA Para se evitar o impacto negativo do ruído sobre a qualidade de vida do trabalhador é necessária a implantação de medidas preventivas. O objetivo de um Programa de Conservação Auditiva (PCA) deve ser a preservação da audição, por meio da identificação de riscos, monitoramento auditivo, medidas de proteção contra o ruído e medidas educativas (GONÇALVES, 2004). A finalidade de um PCA é estabelecer procedimentos adequados de gerenciamento das medidas de controle de exposição ocupacional ao ruído. Como qualquer programa, a eficiência do PCA depende do comprometimento de todas as pessoas envolvidas em sua elaboração e execução. Segundo Saldanha Júnior (2009, p. 13): As atividades do PCA devem ser reavaliadas periodicamente visando ao aprimoramento e à adequação em relação às modificações que possam ocorrer na empresa, seja por demanda dos processos produtivos, seja pela reorganização do trabalho, ou ainda, por mudanças da legislação ou dos riscos ocupacionais. Em 1965, no Brasil o Ministério do Trabalho e Previdência Social estabelece através da portaria nº 491, no seu art. 2º que a eliminação da insalubridade poderia ocorrer pela aplicação de medidas de proteção coletiva ou individual. Ainda na portaria nº 491, em seu anexo onze, os quadros com descrição dos agentes insalubres e respectivos graus de insalubridade eram demonstrados. Um desses quadros já mencionava sobre os trabalhos em ambiente com excesso de ruído, não especificando, entretanto, as medidas de proteção contra a exposição ao ruído. (KWITKO, 2001). Em 1967 (Decreto Lei nº 229), enfocando a exposição ao ruído, destacou: “obrigatoriedade das empresas quanto ao fornecimento de equipamentos de proteção 34 individual aos empregados gratuitamente e o uso dos EPI sendo obrigatório para os empregados” e também ficou impedida a comercialização de qualquer equipamento de proteção individual sem aprovação certificada pela segurança e higiene do trabalho. Tornouse obrigatório a realização de exame médico na admissão, periódicos e em atividades insalubres, além da renovação semestral. Em 1978, a portaria nº 3.214 aprova as normas regulamentadoras (KWITKO, 2001). No que se diz respeito à exposição ao ruído na saúde do trabalhador, verifica-se que a primeira obrigação legal surgiu em 1978, com a Portaria 3.214 e suas Normas Regulamentadoras, sendo que a manutenção obrigatória da saúde auditiva, por meio de audiometrias, surgiu em 1983 com a Portaria nº 12. A obrigação em manter o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) surgiu em 1994 com a Portaria nº 25 (KWITKO, 2001). No Brasil cabe ao Ministério do Trabalho (MTB) a função de regulamentar a Legislação Trabalhista e a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), a realização de estudos e pesquisas pertinentes aos problemas de segurança, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho relacionada à promoção das melhorias das condições de trabalho, além de subsidiar a elaboração e revisão das normas regulamentadoras. As Normas Regulamentadoras (NR), até o momento são trinta e quatro dispondo sobre os serviços especializados em engenharia de segurança e medicina do trabalho. Na NR 7 estão descritas as especificações do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO que estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação do programa com objetivo de promoção e preservação da saúde dos seus trabalhadores (BRASIL, 1978). Encontramos como parte integrante desta NR a Portaria 19 que tem como objetivo: Estabelecer diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o acompanhamento da audição do trabalhador através da realização de exames audiológicos de referência e seqüenciais; fornecer subsídios para a adoção de programas que visem à prevenção da PAIR e a conservação da saúde auditiva dos trabalhadores. (Portaria SSST, 1998) Na portaria supracitada também foram estabelecidos: a definição e a caracterização da PAIR; os princípios e os procedimentos básicos para realização do exame audiométrico; a interpretação dos resultados do exame audiométrico com finalidade de prevenção; os parâmetros para diagnóstico da PAIR para definição da aptidão ao trabalho e as condutas preventivas. 35 A NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, visa à preservação da saúde e da integridade física dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Ministério do trabalho (BRASIL, 1978). Na NR 15 (Lei 6.515 de 22/12/1977) estão descritas em seu anexo 1: as atividades, as operações e os agentes insalubres, além dos limites de tolerância, de cada risco, inclusive os tempos máximos de exposição permitida aos diversos níveis de intensidade sonora. Define também, as situações que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores, caracterizam seu exercício insalubre (BRASIL, 1978). Saldanha Júnior (2009) propôs em seu estudo a realização um protocolo de auditoria para PCA, de acordo com a legislação brasileira onde concluiu que embora a Legislação Brasileira tenha avançado nas últimas duas décadas, no que diz respeito às ações relacionadas à conservação auditiva nos ambientes de trabalho, ainda hoje muitas empresas não possuem o conjunto de ações coordenadas de forma necessária para garantir a eficácia do PCA, tanto do ponto de vista preventivo, quanto no que diz respeito à atenção do trabalhador. Miranda e Dias (2004) ao realizarem um estudo sobre a inspeção e auditoria PPRA e PCMSO em empresas dos ramos da indústria, serviços e comércio constataram que entre as vinte e oito empresas que elaboraram o PPRA, vinte e seis (92,9%) delas apresentaram algum tipo de inconsistência dos dados em seu programa, por estarem incorretos ou por não terem qualidade. Analisando-as conforme os riscos ocupacionais, verificou-se que em 82,1% dos casos, as inconsistências relacionavam-se com os riscos físicos como, por exemplo, a exposição ao ruído. Entre as empresas que apresentaram inconsistências relacionadas com os riscos físicos, em 35,7% delas a inconsistência se referia ao reconhecimento dos riscos, em 35,7% à avaliação quantitativa, em 60,7% à implantação de medidas coletivas e, em 17,9% à implantação de medidas de proteção individual. No Chile, através do levantamento de alguns dados da exposição ao ruído, em empresas metalúrgicas e indústria madeireira apontou-se que para lidar com o risco ruído, as empresas devem estabelecer programas de monitoramento para acompanhar os trabalhadores expostos garantindo a qualidade dos dispositivos de proteção auditiva e fornecendo orientações de seleção e utilização adequada aos funcionários (VALENZUELA; VILLAGRA, 2006). Em Taiwan resultado de um estudo mostrou que a alteração no limiar auditivo foi maior para os trabalhadores que foram expostos ao ruído mais tolueno em comparação com 36 aqueles expostos somente ao ruído. Uma intervenção eficaz, nesse caso, seria o estabelecimento de políticas que determinem os limites máximos de exposição para solventes neste ramo de atividade (CHANG et al, 2006). Em Washington, sérias preocupações foram levantadas sobre a adequação da prevenção, regulação e estratégias de execução dos programas de prevenção da perda auditiva nos Estados Unidos. Concluíram que a maioria das empresas oferece pouca ou nenhuma atenção ao controle do ruído e que utilizavam, principalmente, a proteção auditiva como base para prevenir a perda auditiva, apesar de 38% dos trabalhadores das empresas pesquisadas não utilizarem os protetores, rotineiramente. As empresas preferiam adotar somente a utilização dos protetores do que a adoção de programas de prevenção da perda auditiva com medidas educativas e de controle (DANIELL et al, 2006). 1.5 A SAÚDE AUDITIVA E O CUIDADO EM SAÚDE A saúde auditiva é um dos aspectos fundamentais para a comunicação humana. O que difere o ser humano dos outros seres é a forma de se comunicar. As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde devem ser garantidas nos vários aspectos relacionados à comunicação humana. Sua qualidade é determinante para a autoconfiança, felicidade e segurança, propiciando uma comunicação mais efetiva e fundamental para a saúde do sujeito (ANDRADE, 1996). Faz-se necessário que o sujeito envolvido em alguma atividade de trabalho que possa gerar déficits em sua saúde seja incentivado e orientado para a promoção de cuidado proporcionando melhoria na sua qualidade de vida. É um grande desafio para o ser humano fazer articular trabalho com cuidado à própria saúde. A ruptura entre trabalho e cuidado é uma realidade desde a antiguidade, principalmente a partir do processo industrial do século XIII, caracterizando-se pela ditadura do modo-de-sertrabalho como invenção, produção e dominação. Portanto, “o resgate do cuidado não se faz à custa do trabalho e sim mediante uma forma de entender e realizá-lo. Para isso o ser humano precisa voltar sobre si mesmo e descobrir o seu modo-de-ser-cuidado” (BOFF, 1999, p.99). 37 Para Christovam (2009, p.74): O homem como sujeito do cuidado é também um ser cognoscível capaz de aprender a conhecer a si mesmo, a sociedade e o ambiente o qual está inserido, a sua cultura e as várias culturas que permeiam e influenciam a sociedade, o ambiente e as relações estabelecidas. O cuidado deve ser entendido como uma atividade que vai além do exercício profissional. Esse cuidado deve existir entre os profissionais e os trabalhadores envolvidos em uma organização. O fato é que pequenas mudanças no modo de agir com os outros demonstrando interesse e cuidado com a sua saúde convergem para um relacionamento de confiança entre a pessoa que deseja cuidar e o indivíduo que está recebendo o cuidado. No ambiente ocupacional, focalizando as empresas de ônibus as ações de cuidado podem determinar a diminuição dos impactos causados pelos riscos que envolvem a atividade profissional. Trazer para os trabalhadores informações importantes sobre o cuidado de si pode favorecer a autonomia, autoconfiança em busca de seu bem estar e, consequentemente a melhoria na qualidade na sua saúde. O cuidado passa por uma questão cultural em que o local ou pessoas dotadas de princípios culturais diferentes percebem, praticam e conhecem formas diferentes de exercer o próprio cuidado. Portanto, mesmo o cuidado humano sendo universal ele é demonstrado através de diferentes ações, estilo de vida e de sentidos próprios. Para Leininger2 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 299), o cuidado cultural é definido como: Os valores, as crenças e modos de vida padronizado aprendidos, subjetiva e objetivamente e transmitidos que auxiliam, sustentam, facilitam ou capacitam outro indivíduo ou grupo a manter seu bem estar, saúde, melhorar sua condição humana e seu modo de vida ou lidar com a doença, a deficiência ou a morte. No caso do trabalhador, em situação particular os motoristas de ônibus, o cuidado é primordial para manutenção da qualidade de sua saúde. Podem surgir distúrbios orgânicos psíquicos e ergonômicos que irão afetar a execução da atividade de dirigir, além da vida social e coletiva desse profissional. A atividade que eles desempenham é desgastante, e sua eficácia está relacionada principalmente a fatores ambientais do local de trabalho e a forma como eles lidam com esses fatores (BATTISTON et al, 2006). 2 GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.375p. 38 Segundo Maranhão (2000), as ações de cuidado com a saúde podem ser priorizadas e organizadas de acordo com diferentes concepções sobre o processo saúde-doença, sobre o desenvolvimento humano e de acordo com o contexto sociocultural. Portanto a maneira como o indivíduo cuida da própria saúde depende de suas concepções pessoais e de quanto esse cuidado é prioritário para si. Normalmente o que acontece é a busca do bem estar quando a saúde se apresenta debilitada, fazendo com que o indivíduo passe a se atentar para a necessidade de se cuidar. Diante dessas considerações a prática do cuidado através de procedimentos ou esclarecimentos sobre alguma situação que possa colaborar para a melhora do estado de saúde do sujeito, deve vir acompanhada do empenho desse sujeito em reconhecer a importância de se autocuidar. Para George (2000), o autocuidado é o desempenho ou práticas de atividades que os indivíduos realizam em seu benefício para manter a vida, a saúde, e o bem estar. Este ajuda a manter a integridade estrutural e o funcionamento humano, contribuindo para o desenvolvimento humano. Para Silva et al (2009), o autocuidado é uma atividade do indivíduo apreendida pelo mesmo e orientada para um objetivo, tendo como propósito, o emprego de ações de cuidado seguindo um modelo, que contribui para o desenvolvimento humano. O autocuidado foi mencionado pela primeira vez em 1958, a partir das reflexões da Enfermeira Dorothea Orem sobre a necessidade dos indivíduos serem auxiliados pela enfermagem. (GEORGE, 2000). A ação de autocuidado, para Orem, é a capacidade ou o poder de engajar-se no autocuidado. Essa capacidade seria afetada por fatores condicionantes básicos como sexo, o estado de desenvolvimento, o estado de saúde, a orientação sócio-cultural, os fatores do sistema familiar, os padrões de vida, os fatores ambientais, a adequação e a disponibilidade, de recursos. Orem destaca também que normalmente os adultos se cuidam voluntariamente. Os bebês, as crianças, os idosos, os enfermos e os deficientes exigem cuidados ou assistência completa nas atividades de autocuidado (GEORGE, 2000). A utilização do cuidado e do autocuidado na perspectiva da saúde auditiva pode ser importante instrumento para que o trabalhador preserve a sua audição. Cada vez mais a população em geral está exposta à níveis de pressão sonoras elevadas decorrentes do aumento da urbanização ou pela utilização prolongada dos tocadores pessoais de música em formato digital que atualmente se faz presente em meio aos adultos, crianças e adolescentes. 39 Os indivíduos que trabalham sob o risco de exposição ao ruído devem se cuidar ainda mais para que o efeito desta exposição não seja potencializado. Além disso, precisam ter acesso a informações quanto a agentes agressores a sua saúde, ou seja, os riscos as quais estão expostos decorrentes das suas atividades laborais, como é o caso dos motoristas de ônibus que diariamente vivem a agressão de ruídos no ambiente das grandes cidades. 40 CAPÍTULO II ABORDAGEM METODOLÓGICA 2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO Trata-se de um estudo de caso observacional do tipo coorte, retrospectivo com abordagem quantitativa. O método de estudo de caso é uma forma de investigar um tópico empírico seguindo um conjunto de procedimentos pré-especificados, conta com múltiplas fontes de evidência para dar suporte ao estudo. Propicia uma descrição ampla e profunda do fenômeno social, devido a sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências e permitir que as características holísticas e significativas dos processos organizacionais e administrativos sejam retidas (YIN, 2010). Os estudos observacionais são investigações em que a informação é sistematicamente colhida, onde não há uma intervenção ativa do investigador. Observações sistemáticas, especialmente ao longo do tempo, podem permitir conclusão causal. É um tipo de desenho que deve ser respeitado visto sua eficácia (LUNA FILHO, 1998). Os estudos de coorte seguem grupos de sujeitos no tempo que têm como objetivo descrever a incidência de certos desfechos, ao longo do tempo e analisar associações entre os preditores e esses desfechos. Os estudos de coorte retrospectivos permitem os desfechos já terem ocorrido quando o estudo foi iniciado (HULLEY et al, 2008). 41 Segundo Medronho (2004), os estudos de coorte são estudos observacionais, onde a seleção dos sujeitos para um estudo depende das características de sua exposição a um determinado risco. Os sujeitos são monitorados ao longo do tempo, com o objetivo de verificar a incidência de doenças ou outro desfecho de interesse (MEDRONHO et al, 2004). No estudo retrospectivo o investigador identifica uma amostra montada no passado, coleta os dados sobre as medidas passadas, onde as informações já foram reunidas, bem como as aferições de base realizadas e o período de seguimento, encerrado (HULLEY et al, 2008). A abordagem quantitativa se refere a fatos pertinentes ao mundo concreto, objetivo e mensurável advindo das ciências naturais ou sociais. Além disso, a quantificação dos dados coletados é tratada por meio de análises estatísticas e matemáticas (FIQUEIREDO; SOUZA, 2011). 2.2 LOCAL DO ESTUDO A pesquisa foi realizada em uma empresa de transporte coletivo, localizada no município do Rio de Janeiro, devidamente autorizada pela Diretoria da Empresa. A empresa se caracteriza como particular, prestando serviço público. Faz parte do ramo rodoviário, desde a década de 60 quando iniciou a construção de seu espaço físico e a disponibilização da primeira frota de ônibus. Nas instalações da empresa funcionam: o Setor de Recursos Humanos; o Serviço de Medicina Ocupacional, com sala para realização das audiometrias; Refeitório; Serviço de Mecânica e Abastecimento dos ônibus. A empresa opera, atualmente, com cento e sessenta e oito carros em oito linhas e quatro serviços que ligam o centro da Cidade à Zona Norte, e da Zona Sul à Zona Norte da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A frota inclui: ônibus padrão, microônibus, supermicros e ônibus adaptados para acesso a portadores de deficiência. Em dezembro de 2008, a empresa, recebeu o prêmio “Parceria Eficiente 2008” na categoria empresa, instituído pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência. Esse prêmio é atribuído todo ano a empresas, empresários, instituições comunitárias, cidadãos, instituições públicas e servidores municipais que promovem inclusões de portadores de deficiência no mercado de trabalho e ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência. 42 2.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO A empresa de transporte coletivo campo dessa pesquisa, tem como parte integrante de seu quadro funcional quatrocentos e trinta motoristas de ônibus urbano. A amostra foi constituída de cento e doze motoristas, caracterizando aproximadamente 26 % da população total. Como critérios de inclusão para o estudo foram considerados: motoristas com data de admissão nos anos de 2007, 2008 e 2009; ser do sexo masculino; idade inferior a sessenta anos; função de motoristas e que desejassem participar do estudo, por opção. Como critérios de exclusão foram considerados: os motoristas afastados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e os motoristas que foram demitidos no período da investigação. 2.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA Os motoristas foram informados sobre a finalidade do estudo e qual a utilidade dos respectivos resultados, obedecendo aos cuidados éticos em relação ao sigilo e confidencialidade dos dados, em concordância com a Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde que referencia os princípios básicos da bioética: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado. Ainda em concordância com a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde foi solicitado aos sujeitos da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE III(C) autorizando sua participação voluntária. O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a sua anuência à participação na pesquisa. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF) sob CAAE 6141.0.000.258-10 (ANEXO I(A). 43 2.5 COLETA DOS DADOS 2.5.1 Identificando os limiares auditivos A primeira fase foi à identificação dos limiares auditivos, por meio do cadastro audiológico dos motoristas de ônibus contidos no banco de dados do software Winaudio 7.4. O Winaudio é um software de apoio audiológico direcionado para médicos e fonoaudiólogos que atuam na área de audiologia clínica e ocupacional e para empresas que necessitam de controle de saúde ocupacional. A versão ocupacional é direcionada para o acompanhamento permanente do paciente. A versão Ocupacional do Winaudio engloba nove métodos de avaliação, para esse estudo foi utilizado como método de avaliação, o proposto pela Portaria 19 da Secretaria de Segurança e Saúde do Trabalho. Os valores dos limiares auditivos registrados por meio do software Winaudio 7.4 foram coletados pela pesquisadora. Essa coleta obedeceu à ordem cronológica relativa à data de admissão dos motoristas. Primeiramente foram coletados os valores dos limiares dos motoristas admitidos no ano de 2007(exame de referência) e seus exames sequenciais 2008 e 2009, depois dos admitidos em 2008 (exame de referência) e seus exames sequenciais 2009 e 2010, e por último, dos motoristas admitidos em 2009 (exame de referência) e exames sequenciais 2010 e 2011. Os dados foram inseridos em um banco de dados criado pela pesquisadora no software Excel, e analisados posteriormente através de estatística descritiva. 2.5.2 Formulário sobre a exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva A segunda fase foi realizada através de um formulário com perguntas relacionadas à exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva aplicado aos motoristas de ônibus. (APÊNDICE II(B) Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007), o formulário é uma lista informal, catálogo ou inventário, destinado à coleta de dados resultantes de observações, interrogações e seu preenchimento é realizado pelo pesquisador. O formulário pode ser considerado vantajoso, pois o pesquisador junto ao sujeito pode esclarecer as dúvidas em relação aos questionamentos apresentados, garantindo a uniformidade das informações. 44 A aplicação do formulário, inicialmente foi efetuada no dia da realização do exame audiométrico periódico dos motoristas de ônibus. Devido ao prazo para o término do estudo, a realização da aplicação do formulário, se deu em dias extras, durante os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro de 2011, obedecendo aos turnos de trabalho dos motoristas. Mediante esse fato aplicou-se o formulário a noventa e quatro motoristas não sendo possível a resposta de toda a amostra (cento e doze motoristas). Os motoristas do primeiro turno responderam ao formulário, junto com a pesquisadora, antes do início de sua jornada de trabalho, na garagem da empresa. O primeiro turno normalmente iniciava suas atividades, por volta das quatro horas da manhã. Os motoristas do segundo turno responderam ao formulário, junto com a pesquisadora, ao término de sua jornada de trabalho, durante a entrega dos veículos na garagem da empresa. O horário do término das atividades do segundo turno era em torno de duas horas da manhã. O resultado das perguntas respondidas através do formulário foi inserido em um banco de dados criado pela pesquisadora no software Excel, analisados posteriormente através de estatística descritiva. 2.5.3 Descrição do Programa de Conservação Auditiva A terceira fase do estudo constou da descrição do Programa de Conservação Auditiva através de um formulário seguindo as recomendações para a elaboração do PCA segundo o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva Boletim nº 6, 1999 (APÊNDICE I(A). A pesquisadora agendou uma visita com a equipe de Segurança do Trabalho da empresa. Durante a visita foi apresentado o PPRA sendo observadas as informações pertinentes aos profissionais do tráfego, em particular aos motoristas de ônibus. As etapas que constituem o PCA foram informadas pela equipe de segurança do trabalho que se propôs a discorrer sobre cada etapa, mediante o formulário em forma de check list apresentado pela pesquisadora. A pesquisadora não teve acesso ao documento físico do PCA, pois segundo a Equipe de Segurança do Trabalho o mesmo se encontra em reformulação devido à recente transição do pessoal da Engenharia de Segurança. 45 2.6 ANÁLISE DOS DADOS A análise descritiva é apresentada sob forma de tabelas e os dados observados, através de média ± desvio padrão (DP) e mediana, juntamente com gráficos ilustrativos e com os dados categóricos, através de frequência e percentual. A análise estatística foi composta pelos seguintes métodos: - Análise de Variância (ANOVA): procedimento utilizado para comparar três ou mais tratamentos. Existem muitas variações da ANOVA devido aos diferentes tipos de experimentos que podem ser realizados. Foi utilizada a ANOVA de Friedman3 para verificar se existe variação significativa na audiometria (em dB) ao longo de três anos consecutivos. A ANOVA de Friedman é um teste não paramétrico que compara três ou mais grupos emparelhados. O referido teste pode ser utilizado para responder à pergunta, no caso das amostras pertencerem à mesma população. - Teste de comparações múltiplas de Nemenyi:4 foi aplicado para identificar quais os anos que diferem significativamente entre si. - Testes não paramétricos foram aplicados, pelo fato de as medidas da audiometria não apresentarem distribuição Gaussiana, devido à grande dispersão e rejeição da hipótese de normalidade, segundo o teste de Kolmogorov-Smirnov, que determina se dois conjuntos de dados diferem, significativamente. O critério de determinação de significância adotado foi o nível de 5%. A análise estatística foi processada pelo software SAS 6.11 (SAS Institute, Inc., Cary, NC). 3 HOLLANDER, Myles; WOLFE, Douglas A. Nonparametric statistical methods. John Wiley & Sons: New York, Capítulo 7, 1973. 4 NEMENYI, P. Distribution-free multiple compararisons. Ph.D.Thesis, Princepton University, 1963. 46 CAPÍTULO III RESULTADOS 3.1 ANÁLISE INICIAL DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE) Essa análise teve como objetivo definir através da identificação de variação significativa dos limiares auditivos, qual abordagem analítica seria utilizada para o tratamento dos dados entre as orelhas direitas (OD) e esquerdas (OE), se as mesmas seriam trabalhadas em conjunto, permitindo a duplicação da amostra ou separadamente. A tabela 1 fornece a média ± erro padrão (EP) do delta entre as orelhas (OE-OD) dos limiares auditivos para cada frequência, e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste dos postos sinalizados de Wilcoxon. Observou-se, que existe variação significativa dos limiares auditivos entre as orelhas na frequência 500 Hz (p = 0,008) e 1000 Hz (p = 0,015) do primeiro exame realizado (referência). No segundo exame (sequencial), as frequências de 2000 Hz (p = 0,026) e 4000 Hz (p = 0,018) variaram, significativamente. No terceiro exame (sequencial) a variação do limiar foi observada na frequência 3000 Hz (p = 0,008). Sendo assim, se fez necessário analisar a variação dos limiares auditivos ao longo de três anos consecutivos separadamente por orelha. 47 Tabela 1 - Delta entre orelhas (OE-OD) para cada ano e frequência. ANO Frequência (Hz) média ± EP p valor a 500 -0,76 ± 0,82 0,008 1000 -1,03 ± 0,71 0,015 2000 1,29 ± 0,81 0,22 3000 0,76 ± 0,96 0,56 4000 2,01 ± 1,08 0,15 6000 -1,03 ± 0,98 0,22 8000 -0,13 ± 1,17 0,63 500 0,89 ± 0,72 0,50 1000 0,49 ± 0,78 0,82 2000 1,92 ± 0,86 0,026 3000 0,85 ± 0,90 0,88 4000 2,54 ± 1,09 0,018 6000 0,27 ± 1,22 0,91 8000 0,00 ± 1,23 0,71 500 -0,40 ± 0,63 0,21 1000 0,22 ± 0,65 0,86 2000 0,58 ± 0,84 0,69 3000 2,59 ± 0,96 0,008 4000 1,21 ± 1,10 0,54 6000 0,54 ± 1,30 0,69 8000 0,18 ± 1,34 0,57 1° 2° 3° a teste dos postos sinalizados de Wilcoxon 48 3.2 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO DE TRÊS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA As tabelas dois e três fornecem a média ± desvio padrão (DP) e mediana dos limiares auditivos ao longo de três anos consecutivos, e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste estatístico para a orelha direita e esquerda, respectivamente. A análise estatística foi composta pela ANOVA de Friedman para verificar se existe variação ao longo do tempo e pelo teste de comparações múltiplas de Nemenyi, ao nível de 5%, que identifica quais os anos que diferem significativamente entre si, os quais foram descritos na coluna de “diferenças significativas”. A proposta foi identificar a variação dos limiares ao longo de três anos consecutivos, separadamente, por orelha. Observou-se, segundo a ANOVA de Friedman, que existe variação significativa em todas as frequências da orelha direita longitudinalmente, exceto na de 3000 Hz (p = 0,59). Pelo teste de comparações múltiplas, ao nível de 5%, identificou-se, de uma forma geral, um aumento do 1° ano e/ou do 2° ano para o 3° ano observado, conforme ilustram os gráficos a seguir, numerados de 1 a 7. 49 Tabela 2 - Análise longitudinal da audiometria da orelha direita Frequência 500Hz 1000Hz 2000Hz 3000Hz 4000Hz 6000Hz 8000Hz a b ano média ± DP mediana p valor a 1° 17,5 ± 6,7 15 2° 17,4 ± 6,4 15 3° 19,2 ± 6,1 20 1° 15,5 ± 7,0 15 2° 15,9 ± 7,9 15 3° 17,0 ± 6,2 15 1° 15,6 ± 8,3 15 2° 15,4 ± 8,7 15 3° 17,2 ± 7,7 15 1° 17,7 ± 10,5 15 2° 18,5 ± 10,4 15 3° 18,5 ± 9,0 15 1° 19,6 ± 11,4 17,5 2° 19,3 ± 11,2 15 3° 22,1 ± 11,3 20 1° 24,3 ± 14,3 20 2° 23,0 ± 12,3 20 3° 25,3 ± 12,4 20 1° 20,1 ± 12,9 17,5 2° 19,6 ± 12,9 15 3° 22,1 ± 12,1 20 ANOVA de Friedman (efeito do tempo). teste de comparações múltiplas de Nemenyi, ao nível de 5%. Diferenças significativasb 1° 3° 0,021 2° 3° 0,022 1° 3° 1° 3° 0,018 2° 3° 0,59 1° 3° 0,003 2° 3° 0,023 2° 3° 1° 3° 0,004 2° 3° 50 Tabela 3 - Análise longitudinal da audiometria da orelha esquerda Frequência ano média ± DP mediana p valor a Diferenças significativas b 500Hz 1000Hz 2000Hz 000Hz 4000Hz 6000Hz 8000Hz a b 1° 16,8 ± 8,6 15 2° 18,3 ± 8,6 20 3° 18,8 ± 7,4 20 1° 14,6 ± 7,9 15 2° 16,4 ± 9,6 15 3° 17,2 ± 8,2 15 1° 16,9 ± 10,3 15 2° 17,4 ± 10,2 15 3° 17,8 ± 9,8 15 1° 18,4 ± 12,0 15 2° 19,3 ± 11,4 15 3° 21,1 ± 12,0 20 1° 21,6 ± 12,8 20 2° 21,8 ± 11,7 20 3° 23,3 ± 12,7 20 1° 23,3 ± 12,7 20 2° 23,3 ± 12,2 20 3° 25,8 ± 14,5 20 1° 20,0 ± 13,3 15 2° 19,6 ± 12,3 20 3° 22,3 ± 13,5 20 1° 2° < 0,001 1° 3° 1° 2° < 0,001 1° 3° 0,10 1° 3° 0,001 2° 3° 0,022 1° 3° 1° 3° 0,026 2° 3° 1° 3° 0,003 2° 3° ANOVA de Friedman (efeito do tempo) Teste de comparações múltiplas de Nemenyi, ao nível de 5%. Observou-se, segundo a ANOVA de Friedman, que existe variação significativa em todas as freqüências da orelha esquerda, exceto na de 2000 Hz (p = 0,10). Pelo teste de comparações múltiplas, ao nível de 5%, foi identificado, de uma forma geral, um aumento do 1° ano e/ou do 2° ano para o 3° ano observado nas freqüências de 3000 Hz, 4000 Hz 6000 Hz e 8000 Hz. Nas frequências de 500 Hz e 1000 Hz, a variação também foi significativa, aumentando do 1° ano para o 2° e 3° anos observados, conforme ilustram os gráficos de 1 a 7. 51 Gráfico 1 - Audiometria na frequência de 500 Hz por orelha Gráfico 2 - Audiometria na frequência de 1000 Hz por orelha As frequências de 500 Hz e 1000 Hz apresentaram diferenças significativas entre os anos analisados quando as orelhas foram avaliadas separadamente. 52 Gráfico 3 - Audiometria na frequência de 2000 Hz por orelha. No caso da frequência de 2000 Hz não se observou variações significantes na orelha direita. A frequência de 2000 Hz não é uma frequência que isoladamente determina a presença de PAIR. A alteração nessa frequência poderá ocorrer com aumento dos anos de exposição. Gráfico 4 - Audiometria na frequência de 3000 Hz por orelha. 53 Gráfico 5 - Audiometria na frequência de 4000 Hz por orelha Gráfico 6 - Audiometria na frequência de 6000 Hz por orelha As frequências de 3000 Hz, 4000 Hz e 6000 Hz são as mais acometidas inicialmente pela PAIR. 54 Gráfico 7 - Audiometria na frequência de 8000 Hz por orelha A frequência de 8.000Hz não apresentou um comprometimento precoce ou acentuado em relação às outras freqüências. Foi a freqüência que apresentou resultados mais semelhantes entre as orelhas. 3.3 COMPARAÇÃO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS ORELHAS DIREITA E ESQUERDA Esta análise tem por objetivo comparar os deltas dos limiares entre os anos e entre as orelhas direita e esquerda. A tabela 4 fornece a média ± erro padrão (EP) dos deltas dos limiares entre os três anos observados da orelha direita e esquerda, e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste dos postos de Wilcoxon. 55 entre 2° e o 3° entre 1° e 3° ano entre 1° e 2° ano Tabela 4 - Deltas absolutos entre os três anos observados por orelha e frequência direita esquerda Frequência p valor média ± EP média ± EP 500Hz -0,18 ± 0,76 1,47 ± 0,70 0,036 1000Hz 0,27 ± 0,64 1,79 ± 0,71 0,15 2000Hz -0,18 ± 0,64 0,45 ± 0,69 0,52 3000Hz 0,80 ± 0,78 0,89 ± 0,74 0,76 4000Hz -0,31 ± 0,83 0,22 ± 0,80 0,75 6000Hz -1,34 ± 1,02 -0,04 ± 0,79 0,65 8000Hz -0,45 ± 0,88 -0,31 ± 0,79 0,92 500Hz 1,61 ± 0,74 1,96 ± 0,65 0,27 1000Hz 1,34 ± 0,63 2,59 ± 0,53 0,040 2000Hz 1,61 ± 0,65 0,89 ± 0,64 0,25 3000Hz 0,85 ± 0,77 2,68 ± 0,75 0,073 4000Hz 2,50 ± 0,73 1,70 ± 0,81 0,35 6000Hz 0,98 ± 1,01 2,54 ± 0,82 0,53 8000Hz 2,05 ± 0,78 2,37 ± 0,76 0,96 500Hz 1,79 ± 0,58 0,49 ± 0,68 0,20 1000Hz 1,07 ± 0,58 0,80 ± 0,61 0,94 2000Hz 1,79 ± 0,61 0,45 ± 0,60 0,094 3000Hz 0,04 ± 0,74 1,79 ± 0,71 0,014 4000Hz 2,81 ± 0,72 1,47 ± 0,74 0,15 6000Hz 2,32 ± 0,83 2,59 ± 0,82 0,81 8000Hz 2,50 ± 0,78 2,68 ± 0,87 0,88 EP: erro padrão. Delta entre 1° e 2° ano = audiometria no 2° ano - audiometria no 1° ano. Delta entre 1° e 3° ano = audiometria no 3° ano - audiometria no 1° ano. Delta entre 2° e 3° ano = audiometria no 3° ano - audiometria no 2° ano. Observou-se que a orelha esquerda apresentou delta do limiar do 1° para o 2° ano na freqüência 500 Hz (p = 0,036), do 1° para 3° ano na freqüência 1000 Hz (p = 0,04) e do 2° para o 3° ano na freqüência 3000 Hz (p = 0,014) mais significativo que a orelha direita. 56 3.4. CLASSIFICAÇÃO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS EXAMES CONSECUTIVOS A tabela 5 fornece a frequência (n) e o percentual (%) das audiometrias ao longo de três momentos consecutivos (os anos que foram feitos os exames), na amostra dos cento e doze motoristas, conforme ilustra gráfico 8. Tabela 5 - Classificação das audiometrias pela Portaria 19 nos exames consecutivos 1° ANO 2° ANO 3° ANO N % n % n % normal 61 54,5 57 50,9 45 40,2 não sugestivo 34 30,4 32 28,6 41 36,6 sugestivo 17 15,2 17 15,2 20 17,9 estável 0 0 6 5,4 6 5,4 Portaria 19 Tabela 6 – Interpretação do resultado do exame audiométrico segundo a Portaria 19 Normal Limiares < = 25 dB Não sugestivo Piora nos limiares auditivos do exame sequencial não característico de PAIR. Sugestivo Limiares > 25 dB nas frequências 3000 e/ou 4.000 e/ou 6000 Hz Estável Não apresentam as diferenças citadas anteriormente. 57 Gráfico 8 – Audiometrias pela Portaria 19 ao longo de três momentos observados Identificou-se no 1º ano (exames admissionais ou de referência), um total de 54,5% de exames normais e no segundo e terceiro anos (exames sequenciais) 50,9% e 40,2%, respectivamente. Cabe ressaltar, que a ocorrência das classificações de desencadeamento de PAIR não foram identificadas na amostra avaliada. agravamento ou 58 3.5 RESULTADO DO FORMULÁRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS Buscou-se com o formulário abaixo, averiguar o conhecimento dos motoristas de ônibus, em relação à exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva. A tabela 7 fornece a frequência (n) e o percentual (%) das respostas positivas e negativas das 14 perguntas do formulário aplicado. Tabela 7 - Descritiva do questionário (n = 94) sim Proposições não n % n % 1 - Exerce outra atividade profissional em ambiente ruidoso 5 5,3 89 94,7 2 - Sensação de alguma diferença/alteração na audição após a jornada de trabalho 33 35,1 61 64,9 3 - Incômodo com barulho muito alto 58 61,7 36 38,3 4 - Contato com substâncias químicas. Ex: Solventes/Pintura 20 21,3 74 78,7 5 - Histórico de infecções nos ouvidos 9 9,6 85 90,4 6 - Escuta de música com volume muito alto 22 23,4 72 76,6 7 - Dificuldade para entender a fala de outros em ambientes ruidosos 40 42,6 54 57,4 8 - Frequencia à ambiente muito ruidoso fora do ambiente de trabalho 9 9,6 85 90,4 9 - Importância da realização da audiometria 90 95,7 4 4,3 10 - Possibilidade de uso de protetor nos ouvidos 73 77,7 21 22,3 11 - Informações sobre perda auditiva provocada por ruído 71 75,5 23 24,5 12 - Participação em palestra sobre saúde auditiva 17 18,1 77 81,9 13 - Informações sobre cuidados com a audição/folheto, cartaz ou outro meio de divulgação 35 37,2 59 62,8 14 - Importância da prevenção e o cuidado com a saúde auditiva 93 98,9 1 1,1 Os resultados do formulário aplicado foram divididos em duas categorias, tendo em vista os dados constatados, a saber: A - Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas, perguntas numeradas de 1 a 7 e B - Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído, perguntas numeradas de 8 a 14. 59 A - Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas: Dos noventa e quatro respondentes, 94,7% declararam não exercer outra atividade profissional (pergunta número 1). A pergunta número dois foi positiva em 69,9%, a qual questionava se o trabalhador sentia alguma diferença, na audição após a jornada de trabalho. Quando se perguntou sobre o incômodo com barulho muito alto, 61,7 % responderam positivamente e o interessante que muitos dos motoristas reclamaram do motor do veículo e do tráfego como a fonte geradora do ruído (pergunta 3). Somente 21,3% mencionaram o contato ou trabalho com substâncias químicas (pergunta 4). O histórico de infecções nos ouvidos atingiu menos de 10% da amostra (pergunta cinco). Na pergunta seis, 23,4% dos motoristas citaram a escuta de música com volume muito alto. Neste caso, vale ressaltar que os mesmos mencionaram a utilização contínua de tocadores de música eletrônicos individuais como, por exemplo: do tipo MP3. Aproximadamente, 43 % dos sujeitos informaram ter dificuldade em entender a fala de outra pessoa em ambiente ruidoso, conforme pergunta 7. B. Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído (Pergunta 8 até a pergunta 14). A maioria dos motoristas, 90,4% não frequentam ambientes ruidosos fora do local de trabalho (pergunta 8). Na pergunta nove, 95,7% consideram a realização do exame audiométrico uma avaliação importante para essa categoria profissional. Em relação à utilização do protetor auditivo durante a execução de suas atividades, 22,3% não fariam o uso do equipamento (pergunta 10). Um fato que chama atenção é a falta de conhecimento dos motoristas sobre os riscos de exposição ao ruído. Somente 24,5 % já ouviram falar sobre a PAIR (pergunta 11). Uma questão que merece destaque é que 81,9% da população estudada nunca participaram de palestras sobre saúde auditiva (pergunta 12) e 62,8% nunca receberam informações sobre cuidados com audição, seja através da mídia, de cartaz ou de folhetos (pergunta 13), apesar noventa e três dos noventa e quatro motoristas entrevistados considerarem importante a prevenção e o cuidado com a audição (pergunta 14). 60 3.5.1 Caracterização dos sujeitos da amostra Na amostra analisada, a média da faixa etária foi de 38 anos aproximadamente, variando de vinte cinco a sessenta anos de idade. O tempo de exposição mediano dos motoristas ao ruído durante a vida laborativa, no grupo em geral foi de dois anos, variando de um a vinte cinco anos. Convém destacar que dos cento e doze motoristas, um motorista tinha vinte e cinco anos de exposição; um com onze anos e outro com apenas um ano de exposição. Da amostra, três dos motoristas estão expostos por seis anos, e os demais, se encontram expostos, no espaço de dois a quatro anos, conforme pesquisa em epígrafe. A jornada de trabalho dos motoristas de ônibus é de sete horas diárias, podendo se estender, com a realização de horas extras. Portanto, o cuidado com os aspectos funcionais e sociais da audição é essencial para que o processo comunicativo não seja comprometido durante o desempenho da respectiva atividade profissional, cuja eficácia, está relacionada principalmente aos fatores ambientais do local de trabalho. 3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA De forma a responder o terceiro objetivo, a descrição do Programa de Conservação Auditiva da empresa foi efetuada através de um formulário (APÊNDICE I) seguindo as etapas recomendadas pelo Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, em seu Boletim nº 6 (1999), onde constam as recomendações para a elaboração de um PCA, considerando a possibilidade de prevenção, a alta prevalência, a irreversibilidade e a severidade dos efeitos da PAIR, a saber: reconhecimento e avaliação de riscos para audição, gerenciamento audiométrico, medidas de proteção coletiva, medidas de proteção individual, educação e motivação, gerenciamento dos dados e avaliação do programa. Para que o PCA seja desenvolvido de maneira estruturada, se faz necessária uma gestão que contemple avaliações e intervenções sobre o efeito dos níveis de pressão sonora elevada e outros agentes sobre a audição que deve primar pelo reconhecimento, antecipação e controle dos riscos, frente á saúde dos trabalhadores expostos, além do envolvimento de 61 profissionais das áreas de: Saúde, Segurança, Gerência Industrial, Recursos Humanos, bem como, dos trabalhadores das empresas. I - Reconhecimento e avaliação de riscos para audição: Nesta etapa se identifica e avalia todos os riscos que possam afetar a audição, levando em conta a interação entre esses agentes, além de caracterizar a exposição por meio de avaliação individual e coletiva. Quadro 2 - Reconhecimento e avaliação de riscos para audição Identificação dos riscos Avaliação dos riscos Níveis elevados de pressão sonora Dosimetria de ruído por Carroceria Produtos químicos Vibrações Interações entre estes agentes Em motoristas Em motoristas Em motoristas o item o item não é o item não é não é avaliado avaliado avaliado A exposição a produtos químicos, interações entre ruído e produtos químicos e vibrações não são avaliados para categoria profissional de motoristas de ônibus. Quadro3 - Caracterização da exposição Avaliação individual Coletiva Função Realizado Realizado Realizado Os níveis elevados de pressão sonora são avaliados in loco, através da realização da dosimetria de ruído, com dosímetro posicionado no motorista de ônibus. A dosimetria é realizada considerando a carroceria dos ônibus. Como por exemplo: nos microônibus com ar condicionado, foi mensurado o valor de 70,2 dB (A) como dose de exposição. Na Carroceria da Marca Caio, ônibus sem ar condicionado foi mensurada a dose de 62,9 dB (A) Na Carroceria da Marca Neobus, também sem ar condicionado foi mensurada a dose de 66,8 dB (A). Os valores encontrados não se apresentaram acima do permitido para a exposição em 7 horas diárias de 86 dB (A), segundo os parâmetros da NR15. 62 II - Gerenciamento Audiométrico O gerenciamento audiométrico consiste na padronização dos procedimentos para a realização e análise de exames com o objetivo de identificar alterações audiométricas ocupacionais (advindas do processo de trabalho) ou não ocupacionais (não advindas do processo de trabalho). Quadro 4 - Gerenciamento Audiométrico Padronização dos procedimentos para a realização e análise de exames Identificação de alterações audiométricas ocupacionais Identificação de alterações audiométricas não ocupacionais Realizado Não Realizado Não Realizado A Empresa realiza a audiometria: na admissão; após seis meses da admissão; na troca de função; periodicamente, isto é, anualmente; e nos casos de demissão. A identificação de alterações audiométricas ocupacionais e não ocupacionais ainda não está sendo efetuada. III - Medidas de Proteção Coletiva (Engenharia, Administrativas): Uma vez identificados e avaliados os agentes de risco, sugere-se ações que devem seguir a seguinte hierarquia: Controle da emissão na fonte principal de exposição ou risco; controle da propagação do agente no ambiente de trabalho; controles administrativos. Quadro 5 - Medidas de Proteção Coletiva Controle da emissão na fonte Controle da propagação do Controles administrativos principal de exposição ou risco agente no ambiente de trabalho Se identificado Se identificado Se identificado Quando as medidas de proteção coletiva não atenuam os riscos completamente ou oferecem proteção parcialmente ao trabalhador, se faz necessário a introdução das medidas de proteção 63 individual, como o uso de EPI, com vistas a reduzir os efeitos negativos do ambiente de trabalho ao trabalhador. IV – Medidas de Proteção Individual Nesta etapa é efetuada a seleção, indicação, adaptação e acompanhamento da utilização do equipamento de proteção individual (EPI) adequado aos riscos. EPIs são utilizados para reduzir ou minimizar a exposição ou o contato com agentes físicos, químicos ou biológicos. O uso de proteção auricular reduz a probabilidade de lesões auditivas, quando os protetores são adequados para o tipo de ruído a que se está exposto e quando são usados adequadamente. Quadro 6 - Medidas de Proteção Individual Seleção, indicação de EPI Adaptação de EPI Não realizado Não realizado Acompanhamento do EPI adequado aos riscos. Não realizado A proteção individual do motorista não é realizada devido à disposição Código Nacional de Trânsito Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que veta o uso dos fones de ouvido para os motoristas. V - Educação e Motivação Consiste em desenvolver atividade que propiciem informação, treinamento e motivação tanto dos trabalhadores como dos profissionais das áreas de saúde, segurança e administração da instituição. Quadro 7 - Educação e Motivação Trabalhadores Profissionais da Área de Saúde Trabalhadores/ profissionais da área de Segurança Trabalhadores/ profissionais da área de Administração Durante a SIPAT Durante a SIPAT Durante a SIPAT 64 A etapa de Educação e Motivação é realizada pelos psicólogos e pelos profissionais do departamento de tráfego, durante a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT). VI - Gerenciamento dos Dados A sistematização dos dados obtidos nas etapas anteriores é realizada através do gerenciamento dos dados para subsidiar ações de planejamento e controle do PCA. Quadro 8 - Gerenciamento dos Dados Sistematização dos dados obtidos nas etapas anteriores Em Construção Ações de planejamento do PCA Em Construção Ações de controle do PCA Em Construção As etapas de gerenciamento dos dados e avaliação do programa estão em construção devido à recente transição do pessoal da Engenharia de Segurança. VII - Avaliação do Programa O objetivo principal de qualquer PCA é evitar ou reduzir a ocorrência de perdas auditivas ocupacionais, portanto nesta etapa priorizam-se avaliar a abrangência e qualidade do programa; avaliar os resultados das audiometrias individual e setorialmente. Quadro 9 - Avaliação do Programa Avaliar a abrangência dos componentes do PCA Avaliar a qualidade dos componentes do PCA Em Construção Em Construção Avaliar os resultados dos exames audiométricos individuais Em Construção Avaliar os resultados dos exames audiométricos setorialmente Em Construção Pondera-se que as peculiaridades de cada instituição deverão ser observadas na elaboração do PCA, havendo necessidade de reavaliação anual. 65 CAPÍTULO IV DISCUSSÃO 4.1 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS Com objetivo de se definir através da identificação da variação significativa dos limiares auditivos, qual abordagem analítica seria utilizada para o tratamento dos dados entre as orelhas direita (OD) e esquerda (OE), foi realizada uma análise inicial da variação dos limiares auditivos entre as orelhas, para se verificar se os dados seriam trabalhados em conjunto permitindo a duplicação da amostra ou separadamente. Observou-se, que existe variação significativa dos limiares auditivos entre as orelhas, sendo assim, foi proposto analisar a variação dos limiares auditivos ao longo de três anos consecutivos separadamente por orelha Como resultado da identificação da variação dos limiares ao longo de três anos consecutivos, separadamente, por orelha, observou-se que existe variação significativa em todas as frequências da orelha direita, exceto na de 3000 Hz e que na orelha esquerda também existe variação significativa em todas as freqüências, exceto na de 2000 Hz. Conforme os resultados apresentados nas tabelas dois e três. Em um estudo que também se propôs a analisar a variação dos limiares audiométricos em Trabalhadores Submetidos a Ruído Ocupacional, constatou se que 24,3% dos trabalhadores apresentavam ocorrências de alteração dos limiares auditivos na faixa de freqüência de 3 a 6 KHz. Pelos resultados, verificou-se diferença significativa dos limiares auditivos entre as avaliações, predominando maior comprometimento para a orelha direita (OD) (SANTOS; FERREIRA, 2008). 66 Comparando os limiares da orelha direita e esquerda observou-se neste estudo, que orelha direita não apresentou diferenças significantes nas freqüências analisadas dos exames audiométricos realizados, porém a orelha esquerda apresentou diferenças significativas em três freqüências (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz), essas diferenças identificadas não indicam que a orelha esquerda está mais comprometida que a orelha direita, porém pode sugerir um sinal inicial de uma posterior alteração. Além disso, a freqüência de 3000 Hz é uma das freqüências que são primeiramente atingidas pela PAIR e são passíveis de acompanhamento. Em contrapartida, o estudo realizado por Siviero et al (2005) concluíram que 28% da população estudada (motoristas de ônibus) apresentaram traços sugestivos de perda auditiva e que a maior parte desses audiogramas mostrou maior alteração unilateralmente à direita, e que a frequência mais atingida foi a de 4000 Hz. Semelhantemente, o resultado do estudo de Lacerda et al (2010) observou nos achados audiológicos de motoristas de ônibus alterações auditivas sugestivas de PAIR, com configuração audiométrica em entalhe bilateral, sendo 4000 e 6000 Hz, as frequências mais acometidas. A identificação dos limiares através da Classificação Portaria 19 possibilitou o acompanhamento da progressão da PAIR, comparando-se os exames de referência e sequencial. Assim sendo, os resultados encontrados de acordo com a Classificação da Portaria 19 nesse estudo, evidenciam que houve uma redução do número de motoristas (61) com exame de referência dentro dos limites de normalidade, e reduzindo para 45 motoristas no terceiro ano observado (exame sequencial). Em contrapartida, se percebe que o padrão auditivo dos exames não sugestivos de PAIR, no terceiro ano foi crescente totalizando 36,6% da população estudada, se aproximando dos indivíduos incluídos no padrão normal. Conforme a tabela cinco e o gráfico oito. Os exames não sugestivos de PAIR são os que apresentaram piora nos limiares auditivos, mas que não é característico da patologia profissional. Normalmente, as situações enquadradas neste caso podem ser de diversas causas, como: o aparecimento de alguma alteração condutiva ou mista nas frequências baixas, a predominância de limiares mais acometidos nas baixas frequências, a aceleração tardia do comprometimento do limiar na frequência de 8000 Hz, dentre outras (FERREIRA JÚNIOR, 1998). Na classificação sugestiva de PAIR, no primeiro ano, 15,2% dos sujeitos já apresentaram a configuração dos seus limiares compatível com a PAIR. No segundo ano permaneceu estável. Porém, no último ano analisado ocorreu um aumento de 2,7% chegando à marca de 17,3%. 67 Segundo Ferreira Júnior (1998), um exame único deve ser considerado compatível com a PAIR, se os limiares auditivos nas frequências de 3000 Hz, 4000 Hz e/ou 6000 Hz estão mais elevados do que nas outras frequências, sendo o comprometimento do tipo neurossensorial (quando os limiares detectados pela via aérea e via óssea estão igualmente afetados). Almeida et al (2000) ao analisarem a evolução dos limiares auditivos de trabalhadores encaminhados ao Serviço Médico de Saúde do Trabalhador, pertencente ao Serviço Social da Indústria (SESI), por já estarem classificados com perda auditiva ocupacional, observaram que a lesão teve início, afetando gravemente 4000 Hz e evoluiu atingindo as frequências circunvizinhas. Observaram que na primeira década houve comprometimento inicial da frequência de 4000 Hz, seguida por 6000 Hz. As frequências de 3000 Hz e 8000 Hz, embora se afastem da curva normal, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, entre ambas. Comparando-se os exames de referência (primeiro ano) com o segundo, 5,4% dos sujeitos apresentaram um deslocamento do limiar auditivo padrão, sendo então classificados como estáveis em relação à PAIR (os limiares auditivos igualaram-se ou ultrapassaram por média ou faixa de frequência testada). Já em relação ao segundo e terceiro anos, não houve alteração, em números percentuais, permanecendo 5,8% na mesma classificação. Logo, mesmo com uma alteração/deslocamento do limiar não houve piora no padrão auditivo, sendo um fato positivo, porém digno de acompanhamento. Cabe ressaltar, que a ocorrência das classificações de agravamento ou desencadeamento de PAIR não foi identificada na amostra avaliada. Este fato pode representar que o cuidado e o acompanhamento do padrão audiométrico dos trabalhadores são relevantes para a manutenção dos limiares auditivos, evitando assim, alterações auditivas de origem ocupacional. O tempo médio de exposição ao ruído da amostra analisada ainda não atingiu o seu nível máximo de exposição, variando de um a vinte cinco anos, porém a maioria dos motoristas tinha em média quatro anos de exposição, o que pode justificar a não ocorrência das classificações de agravamento ou desencadeamento de PAIR. Deve-se considerar também a susceptibilidade individual de cada motorista em relação à exposição ao risco. A literatura considera que as alterações auditivas provocadas pelo ruído atingem seu nível máximo de lesão nos primeiros dez a quinze anos de exposição ao ruído (Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva. Boletim nº 6, 1999), o que confirma o estudo de 68 Cordeiro et al (1994), também com motoristas de ônibus na Cidade de Campinas, que encontrou uma associação positiva entre a PAIR e o tempo acumulado de trabalho. 4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS SOBRE A EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA 4.2.1 Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas O exercício de outra atividade profissional em ambiente ruidoso não foi apontado pela maioria dos motoristas de ônibus. Quando questionados relataram que a sua atividade por si só, já era suficiente para o esgotamento físico e psíquico, e que não era possível trabalhar mais em outro local. Segundo Batiston et al (2007), a atividade de dirigir é desgastante, causa fadiga e sua eficácia está relacionada, principalmente, aos fatores ambientais do local de trabalho e à forma como os motoristas lidam com esses fatores. A pergunta número dois foi positiva em 69,9%, a qual questionava se o trabalhador sentia alguma diferença na audição após a jornada de trabalho. Gonçalves, (2007) observou em seu estudo, que os trabalhadores portadores de PAIR expostos a níveis intensos de ruído, durante a jornada de trabalho vivenciaram desvantagens psicossociais, tanto no ambiente de trabalho quanto no familiar e social. As dificuldades auditivas mais relatadas pelos trabalhadores foram referentes a dificuldades de compreensão de fala em situações de trabalho e familiares. Outro estudo foi o de Lacerda et al (2010), que constatou que as queixas mais freqüentes, relacionadas à audição em motoristas de ônibus participantes de seu estudo foram: zumbido e a sensação de plenitude auricular. Quanto ao incômodo com barulho muito alto, 61,7% responderam positivamente, ressaltando muitos dos motoristas, que as fontes geradoras de ruídos são: o motor do veículo e o fluxo do trânsito. Os veículos com motor dianteiro contribuem significativamente, para maior exposição ao ruído e consequente aumento de probabilidade de ocorrer distúrbios auditivos, doenças cardiovasculares, alto estado de estresse, dentre outros fatores agravantes para a saúde do trabalhador, conforme afirmam Siviero et al (2005). Freitas e Nakamura (2003) também destacaram a influência do posicionamento do motor na gênese do ruído ocupacional dentro dos ônibus. 69 Aproximadamente 21% dos motoristas referiram o contato ou trabalho com substâncias químicas como, por exemplo: solventes ou trabalho com pintura. A exposição simultânea do trabalhador a ruídos intensos e outros agentes, tais como produtos químicos, reforçam o desencadeamento de uma perda auditiva. Em um estudo realizado por Fernandes e Souza (2006) sobre os efeitos auditivos em trabalhadores expostos a ruído e produtos químicos foi observado que a gravidade da perda auditiva era maior no setor onde foram avaliados os trabalhadores em exposição combinada. Somente 10% da amostra estudada se referiram ao histórico de infecções nas orelhas. Dias et al (2008) estimou em uma população de trabalhadores, com histórico de exposição ao ruído ocupacional atendidos em dois ambulatórios de audiologia, que a prevalência de zumbido aumenta de acordo com a evolução do dano auditivo. O hábito de escutar música com volume muito alto foi relatado por vinte e dois sujeitos participantes do estudo (23,4%), principalmente, a utilização de recursos pessoais de música, como MP3 e similares. Esses aparelhos são potentes podendo atingir uma intensidade sonora de até cento e vinte decibéis, equivalente a uma turbina de avião durante a decolagem (Sociedade Brasileira de Otologia - SBO, 2011). Fiorini (2004) realizou um estudo com dois grupos de sujeitos expostos e não expostos a ruído ocupacional, e em ambos os grupos, a maioria dos sujeitos relatou como um dos principais hábitos sonoros, escutar rádio e o uso constante de walkman. Tais resultados sugeriram que a exposição não ocupacional ao ruído, realmente faz parte do cotidiano dos indivíduos. Aproximadamente 43% dos sujeitos informaram ter dificuldade em entender a fala de outra pessoa em ambiente ruidoso (COSTA; KITAMURA, 1994 apud MELLO, 1999). Mencionam ainda, que pessoas expostas ao ruído podem ter uma redução na capacidade de distinguir detalhes dos sons da fala em condições ambientais desfavoráveis, principalmente em reuniões familiares, festas ou até mesmo, dificuldade em um programa de televisão em meio ao ruído doméstico, pois a lesão na cóclea acarreta a incapacidade de distinguir frequências superpostas ou subsequentes. 70 4.2.2 Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído A maioria dos motoristas declarou não frequentar ambientes ruidosos fora do local de trabalho. Esse fato é importante, tendo em vista que, a exposição extra-ocupacional também é um aspecto a ser considerado, pois pode contribuir para potencializar os efeitos causados pela exposição ocupacional, que já é muito impactante para a audição. Segundo o Ministério da Saúde (2006, p. 28): “A exposição ao ruído em atividades de lazer, por apresentarem configuração clínica e audiológica semelhante a das perdas auditivas relacionadas ao trabalho, devem sempre ser lembradas e pesquisadas”. O exame audiométrico foi considerado uma avaliação importante para a categoria profissional. Destaca-se que a opinião do trabalhador é uma forma de se perceber se os procedimentos adotados pela equipe de saúde ocupacional para ele é relevante, além de caracterizar um momento de escuta do trabalhador. A audiometria tonal liminar ainda é a base da avaliação audiológica, apesar dos enormes avanços tecnológicos atualmente disponíveis (MARINI; HALPERN; AERTS, 2005). Em relação ao uso do protetor auditivo, durante a execução da atividade profissional, 22,3% não fariam o uso do equipamento. Este fato demonstra que existe uma insegurança por parte dos motoristas em utilizar o protetor, pois consideram que a audição é primordial para a atividade de dirigir. Esse assunto merece um destaque maior nessa discussão, por ser muito polemizado entre os profissionais da área de segurança do trabalho e da saúde. Segundo o Código Nacional de Trânsito Brasileiro fica proibida a circulação com fones de ouvidos conforme a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, em seu artigo 252, mencionando que não se deve dirigir o veículo utilizando-se fones nos ouvidos conectados à aparelhagem sonora ou de telefone celular (BRASIL, 2008). Porém, de acordo com a NR 15 do Ministério do Trabalho (MTE), em caso de exposição ao ruído contínuo ou intermitente o limite máximo de tolerância a exposição não deve ultrapassar de 85 decibéis em uma jornada de trabalho de oito horas diárias. Nesse caso, o trabalhador precisa ter sua audição protegida, por ser uma atividade considerada insalubre (BRASIL, 1978). Segundo Fernandes (2005), que coordenou um estudo com cinquenta e um profissionais de uma empresa de ônibus da capital paulista, apontou o diagnóstico de perdas auditivas em 64,7% dos participantes. Em quatro das linhas de percurso dos ônibus avaliadas nesse estudo, o ruído esteve sempre acima dos noventa decibéis, tendo como pico noventa e quatro decibéis ou o equivalente ao ruído provocado por alguns helicópteros. 71 O pesquisador acrescenta ainda que: “o uso de qualquer tipo de tampão poderia diminuir em vinte decibéis a exposição ao ruído para esses profissionais”. O resultado apontado no estudo permite visualizar que a solução para essa situação somente poderá ser real, quando as leis vigentes do Brasil estiverem de acordo com a realidade da exposição ao ruído nos grandes centros urbanos. O que se preza atualmente são as medidas coletivas de segurança. No caso do ramo de transportes urbano e rodoviário, os quesitos que merecem atenção e melhoria são: o isolamento acústico do veículo, as regulagens, a troca de juntas, a manutenção do aperto das peças das latarias e a alteração do posicionamento do motor para parte traseira do veículo. Um fato que chama atenção é a falta de conhecimento dos motoristas sobre os riscos de exposição ao ruído. Somente 24,5% já ouviram falar sobre a PAIR e 62,8%, nunca receberam informações sobre cuidados com audição seja através da mídia, cartaz ou folhetos. Noventa e três (98,9 %) dos noventa e quatro motoristas entrevistados consideram importante a prevenção e o cuidado com a audição, porém relataram nunca terem participado de palestras sobre saúde auditiva. Fornecer aos trabalhadores informações sobre o cuidado com a audição através de treinamentos pertinentes e elaborados sobre a temática é condicionante para a efetividade do PCA. Essa iniciativa foi evidenciada no estudo de Bramatti, Morata e Marques (2008) que desenvolveram ações educativas com enfoque positivo em trabalhadores de uma indústria frigorífica. O treinamento acarretou mudanças significativas, na percepção dos benefícios e de obstáculos de uma ação preventiva. 4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA DA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO Destaca-se que as informações inseridas no formulário elaborado para coletar dados sobre o PCA, são pertinentes aos profissionais da área do tráfego em especial os motoristas de ônibus. A empresa possui funcionários de outros setores que também são expostos ao ruído ocupacional, porém esses trabalhadores não foram alvo desse estudo. Através da descrição do PCA da empresa analisada identificou-se que as etapas de medições, caracterização dos riscos das exposições e o gerenciamento dos exames 72 audiométricos são realizados efetivamente. É sabido que esses aspectos normalmente recebem uma atenção especial, pois são as questões mais evidenciadas nas fiscalizações. Cabe ressaltar que o resultado da dosimetria realizada pela área de Segurança demonstrou que o ruído médio avaliado encontrava-se abaixo do limite de tolerância proposto pela legislação brasileira, que é de 85 dB (A). Mesmo assim constataram-se na amostra, motoristas com classificação sugestiva de PAIR. Porém as questões de educação e motivação, gerenciamento dos dados e avaliação do programa estão sem receber a atenção merecida e são justamente essas etapas que podem direcionar as ações de cuidado para com os trabalhadores. Segundo os dados da descrição do PCA as etapas de educação e motivação só ocorrem durante a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT). Entende-se que a organização do trabalho dos motoristas interfere na participação destes profissionais nas palestras oferecidas na SIPAT, porém se fosse feita uma distribuição do quantitativo de profissionais em diferentes momentos de forma que não impactasse na dinâmica da atividade da empresa seria uma maneira de contribuir para o encorajamento desses trabalhadores em procurar cuidar da sua saúde auditiva, seja no ambiente de trabalho ou em suas atividades em casa e de lazer, além disso, a empresa estaria adotando uma nova postura diante das questões ligadas a saúde de seus trabalhadores desenvolvendo a responsabilidade social. Gonçalves 2004, em um estudo relacionado à implantação de um PCA ressalta que o trabalho de conscientização dos empresários, profissionais e trabalhadores envolvidos nas questões da saúde dos trabalhadores é fundamental para PCA. Cita que o envolvimento de todos garante a efetivação das ações propostas, devido a troca de informações facilitando a busca de soluções para as questões de prevenção dos aspectos auditivos. Outras etapas importantes que não estão sendo desenvolvidas é o gerenciamento dos dados e avaliação do programa. O gerenciamento dos dados relativos às etapas anteriores do PCA contribui para que a empresa, as áreas de engenharia e segurança e de saúde, administre esses dados e assim possam determinar as ações necessárias para controle dos riscos de exposição. Através desse gerenciamento elaboram-se as ações de planejamento do PCA e ações de controle do PCA. A falta de avaliação da abrangência do PCA, da qualidade dos seus componentes e da análise dos exames audiométricos comprometem a efetividade do programa. Assim sendo, o desenvolvimento de um PCA estruturado se faz através de uma gestão que contemple avaliações e intervenções sobre o efeito da exposição ao ruído ocupacional e a outros agentes 73 sobre a audição, através da participação dos trabalhadores recebendo informações e os cuidados necessários para manter suas funções auditivas saudáveis. 4.4 AÇÕES DE CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA As ações de cuidado devem vir acompanhadas das orientações aos trabalhadores quanto às possibilidades de melhoria das condições de saúde e eliminação dos fatores que podem interferir na comunicação, tornando mais eficaz a interação do indivíduo com o seu meio e com o seu processo de trabalho. Segundo Christovam (2009, p.76): “A ação de cuidar fundamenta-se no reconhecimento do corpo físico, sensível e receptivo que interage durante toda sua existência com o ambiente no qual está inserido”. Logo, tomando como base a definição de ação de cuidar supracitada, as ações de cuidado com os motoristas de ônibus devem ser voltadas para propiciar sua relação ao ambiente do qual ele é integrante. Atuar através de campanhas educativas é uma forma de promover o cuidado à saúde e à segurança, nos ambientes de trabalho. A implantação de tais ações pode ser realizada através de treinamentos, palestras, disponibilização de cartazes com informações de cunho educativo. A capacitação permanente do funcionário propicia o aprendizado e fortalece suas concepções sobre uma determinada temática. Para Leininger5 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 300), “o cuidar é definido como ações e atividades dirigidas para assistência, o apoio ou a capacitação de outro indivíduo ou grupo, com necessidades evidentes para melhorar uma condição humana ou forma de vida [...]”. Os treinamentos específicos por departamento da empresa é uma estratégia precursora para que todos os motoristas e trabalhadores da empresa saibam lidar com sua organização de trabalho dentro da perspectiva de controle de riscos ocupacionais. Devem ter como temas abordados: técnicas de prevenção e cuidados com a saúde auditiva; importância da audição; segurança no trabalho; doenças relacionadas à função de motoristas e cuidado com a saúde geral. 5 GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.375p 74 Além disso, outra estratégia interessante seriam ações de integração dos trabalhadores onde eles poderiam receber um treinamento, ou participar de palestras quando fossem admitidos na empresa, com o objetivo de conhecer os processos que envolvem sua atividade de trabalho, assim como os cuidados necessários para a promoção, recuperação da saúde e prevenção de agravos. Segundo Bramatti, Morata e Marques (2008) desenvolver programas educativos é um ato de inteligência, pois desenvolve a conscientização, resultando em benefícios diretos tanto para a empresa, quanto para o trabalhador. Uma ação de cuidado voltada para vigilância em saúde é a identificação dos motoristas que apresentarem através do resultado das audiometrias a classificação sugestiva de PAIR, essa ação seria promotora de adoção de medidas imediatas quanto a orientação e esclarecimentos sobre os cuidados com a audição, e acompanhamento desse trabalhador junto com o Serviço de Medicina Ocupacional da Empresa. Portanto, a população observada nesse estudo, embora com resultados estatisticamente significativos, representa uma amostra, dentro de um universo de trabalhadores motoristas e expostos ao ruído ocupacional. As ações de cuidado nas empresas com seus trabalhadores, visando o controle dessas exposições e dos danos à saúde, por elas provocados é uma ferramenta essencial para compor o Programa de Conservação Auditiva (PCA) e determinar a efetividade do programa junto à saúde auditiva dos trabalhadores. 75 CONSIDERAÇÕES FINAIS Como parte integrante desse estudo procurou-se identificar a ocorrência de variações nos limiares auditivos dos motoristas ao longo de três anos consecutivos e através da classificação da Portaria 19 se permitiu avaliar a evolução dos dados audiométricos. Através dos resultados obtidos com esse estudo, conclui-se que: Existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus ao longo de três anos consecutivos, separadamente, por orelha, onde ocorreu a variação significativa em todas as frequências da orelha direita, exceto na de 3000 Hz e que na orelha esquerda também existe variação significativa em todas as freqüências, exceto na de 2000 Hz. Além disso, comparando os limiares da orelha direita e esquerda observou-se que orelha direita não apresentou diferenças significantes nas freqüências analisadas dos exames audiométricos realizados, porém a orelha esquerda apresentou diferenças significativas em três freqüências (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz). Diante da obtenção dos resultados encontrados de acordo com a Classificação da Portaria 19, nesse estudo, evidenciou-se que houve uma redução do número de motoristas com exame de referência dentro dos limites de normalidade, em relação ao terceiro ano observado (exame sequencial). Em contrapartida, se percebe que o padrão auditivo dos exames não sugestivos de PAIR, no terceiro ano foi crescente na população estudada. Durante a aplicação do formulário, onde buscou-se verificar os saberes dos motoristas sobre exposição ao ruído e cuidados com a saúde auditiva, uma questão que chamou atenção foi que realmente a maioria dos motoristas de ônibus não têm conhecimento sobre os riscos de exposição e cuidados com a saúde auditiva, advindos da falta de informação sobre a temática. As informações encontradas poderão ser consideradas, a fim de se definir ações de cuidado para compor o planejamento do PCA. 76 A descrição do PCA possibilitou reconhecer áreas mais deficitárias do programa, com vistas ao ajuste na prática de intervenção e na elaboração de ações de cuidado junto aos motoristas de ônibus. Devido à organização de trabalho principalmente a variedade de horários dos motoristas limitou-se a aplicação do formulário a amostra de cento e doze motoristas. Portanto sua aplicação se deu a noventa e quatro motoristas dessa amostra. Outra limitação foi à impossibilidade de acesso ao documento físico do PCA. Ao cenário da pesquisa propõe-se: oferecer a capacitação permanente ao motorista, principalmente durante a sua admissão na empresa que é um momento onde ele está receptivo para conhecer a proposta da empresa. A abordagem de temas voltados para prevenção das doenças relacionadas à função e cuidado com a saúde geral e auditiva seria uma forma de instrumentalizar o trabalhador. Outra ação importante é a identificação dos motoristas que apresentarem, através do resultado das audiometrias ocupacionais, a classificação sugestiva de PAIR, pois assim poderão receber o devido acompanhamento junto à equipe do PCMSO da Empresa. Os resultados encontrados contribuem para um melhor conhecimento da necessidade de programas de conservação auditiva que visem o cuidado com a audição do trabalhador. Aponta para a necessidade de estudos que possam revelar o perfil auditivo de outros grupos de trabalhadores como, por exemplo: cobradores e fiscais que diariamente são expostos igualmente ao risco ruído. Pretendeu-se com este estudo, não apenas a analisar os resultados dos exames audiométricos e constatar as perdas auditivas, pretendeu-se atuar sob o ponto de vista do cuidado fornecendo subsídios para ajudar os trabalhadores a protegerem a sua audição. As ações de cuidado com a saúde podem evitar que os grupos de trabalhadores adoeçam silenciosamente. Esse estudo destaca que a atuação do fonoaudiólogo através de ações de cuidado é imprescindível para promover a saúde auditiva no ambiente de trabalho. 77 REFERÊNCIAS ANDRADE, Claudia Regina Furquim. Fonoaudiologia preventiva – Teoria e vocabulário técnico- científico. São Paulo: Lovise, 1996. BATTISTON, Márcia; CRUZ, Roberto Moraes; HOFFMANN, Maria Helena. Condições de trabalho e saúde de motoristas de transporte coletivo urbano. Estud. psicol. Natal, v. 11, n.3, 333- 343 set/dez 2006. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/epsic/v11n3/11.pdf>. Acesso em: 06 jun. 2010. BENVEGNÚ, Luís Antônio et al. 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Porto Alegre: Artmed, 2000. 84 APÊNDICE A FORMULÁRIO I - Reconhecimento e avaliação de riscos para audição: Identificação e avaliação dos riscos Produtos químicos Vibrações Níveis elevados de pressão sonora Avaliação individual Interações entre estes agentes. Caracterização da exposição Coletiva Função II - Gerenciamento Audiométrico Padronização dos procedimentos para a realização e análise de exames Identificação de alterações audiométricas ocupacionais Identificação de alterações audiométricas não ocupacionais III - Medidas de Proteção Coletiva (Engenharia, Administrativas): Controle da emissão na fonte principal de exposição ou risco. Se o risco for identificado Controle da propagação do agente no ambiente de trabalho Controles administrativos IV – Medidas de Proteção Individual Seleção, indicação de EPI Adaptação de EPI Acompanhamento do EPI adequado aos riscos. V. Educação e Motivação Desenvolvimento de atividades que propiciem informação, treinamento e motivação Trabalhadores/ profissionais Trabalhadores/ profissionais Trabalhadores/ profissionais das áreas de saúde da área segurança da área administração VI. Gerenciamento dos Dados Sistematização dos dados obtidos nas etapas anteriores Ações de planejamento do PCA Ações de controle do PCA VII. Avaliação do Programa Avaliar a abrangência dos componentes do PCA Avaliar a qualidade dos componentes do PCA Avaliar os resultados dos exames audiométricos individuais Avaliar os resultados dos exames audiométricos setorialmente 85 APÊNDICE B FORMULÁRIO Nome: __________________________________________ Data de Nascimento: _____/_____/____ Tempo na Função: ____________ Data de admissão: _____/_____/____ Sexo: ( ) M Tempo de Exposição: Responda: Sim Não 1. Exerce outra atividade profissional em ambiente ruidoso? 2. Sente alguma diferença/alteração na audição após a jornada de trabalho? 3. Fica incomodado com barulho muito alto? 4. Tem ou já teve contato com substâncias químicas? ( Ex: solventes ou já trabalhou com pintura) 5. Histórico de infecções nos ouvidos 6. Escuta música com volume muito alto? 7. Tem dificuldade para entender a fala ruidosos?(bares/restaurantes/reunião em família) em ambientes 8. O Sr freqüenta ambientes muito ruidosos fora do ambiente de trabalho? 9. Considera importante a realização da audiometria? 10. Se fosse possível, usaria protetor nos ouvidos? 11. Já ouviu falar sobre perda auditiva provocada por ruído? 12. Já participou de alguma palestra sobre saúde auditiva? 13. Obteve informações sobre cuidados com a audição através de algum folheto, cartaz ou outro meio de divulgação? 14. Considera importante a prevenção e o cuidado com a saúde auditiva? Observações do Pesquisador: _____________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 86 APÊNDICE C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Título provisório do Projeto: A efetividade de um programa de prevenção da audição aplicado em uma empresa de transporte coletivo no município do Rio de janeiro Pesquisador Responsável: Prof Dra Zenith Rosa Silvino e Andréa Maria dos Santos Rodrigues Instituição a que pertence o Pesquisador Responsável: Universidade Federal Fluminense Telefones para contato: (21) 9923-1659 Nome do voluntário: ______________________________________________ Idade: _____________ anos R.G. _______________________ O Sr está sendo convidado a participar do projeto de pesquisa intitulado: “A efetividade de um programa de prevenção da audição aplicado em uma empresa de transporte coletivo no município do Rio de Janeiro”. Esta pesquisa tem como objetivo geral: Analisar a efetividade do Programa de Prevenção de perda auditiva de uma empresa de transporte coletivo em relação à perda auditiva induzida a níveis de pressão sonora elevada. Considerando que a proteção dos trabalhadores quanto ao ruído se faz através de um conjunto de atividades que visam prevenir a perda auditiva. Com este estudo pretende-se contribuir para a prevenção e proteção da perda auditiva devido a exposição ao ruído intenso junto a trabalhadores do ramo rodoviário numa perspectiva de reduzir o risco para promoção do cuidado em saúde. Para realização do estudo traçaram-se também objetivos específicos a seguir: descrição do Programa de prevenção de perda auditiva da empresa de transporte coletivo; identificação da ocorrência de alteração nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus urbano através do cadastro audiométrico dos exames ocupacionais e verificação do conhecimento dos motoristas de ônibus urbano em relação aos riscos de exposição ao ruído e sobre o cuidado com sua saúde auditiva. A presente pesquisa não oferece riscos ou danos físicos, econômicos ou sociais. Caso o Sr tenha qualquer dúvida relacionada à pesquisa, poderá entrar em contato com a pesquisadora, por telefone ou pessoalmente. A pesquisadora garante o acesso às informações atualizadas durante todo o estudo. Sua participação é voluntária, de maneira que está livre para retirar este consentimento e deixar de participar do estudo a qualquer momento, sem nenhum prejuízo. As informações relacionadas à sua privacidade serão mantidas em caráter confidencial. Ao final do estudo, as informações poderão ser divulgadas em textos, periódicos ou eventos científicos da área da saúde e áreas afins. Eu,_______________________________________________,RG nº __________________ declaro ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito. Assinatura do voluntário:_____________________________________________________ Assinatura da Pesquisadora:__________________________________________________ Rio de janeiro, _____ de ____________ de _______ 87 ANEXO A MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – PORTARIA 3214 - NR 7 ANEXO I - QUADRO II Diretrizes e Parâmetros Mínimos para Avaliação e Acompanhamento da Audição em Trabalhadores Expostos a Níveis de Pressão Sonora Elevados. (redação dada pela Portaria nº 19 de 09 de Abril de 1998) 1. Objetivos 1.1. Estabelecer diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o acompanhamento da audição do trabalhador através da realização de exames audiológicos de referência e seqüenciais. 1.2. Fornecer subsídios para a adoção de programas que visem a prevenção da perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados e a conservação da saúde auditiva dos trabalhadores. 1. Definições e Caracterização 2.1. Entende-se por perda auditiva por níveis de pressão sonora elevados as alterações dos limiares auditivos, do tipo sensorioneural, decorrente da exposição ocupacional sistemática a níveis de pressão sonora elevados. Tem como características principais a irreversibilidade e a progressão gradual com o tempo de exposição ao risco. A sua história natural mostra, inicialmente, o acometimento dos limiares auditivos em uma ou mais freqüências da faixa de 3.000 a 6.000 Hz. As freqüências mais altas e mais baixas poderão levar mais tempo para serem afetadas. Uma vez cessada a exposição, não haverá progressão da redução auditiva. 2.2. Entende-se por exames audiológicos de referência e seqüenciais o conjunto de procedimentos necessários para avaliação da audição do trabalhador ao longo do tempo de exposição ao risco, incluindo: a) anamnese clínico-ocupacional; b) exame otológico; c) exame audiométrico realizado segundo os termos previstos nesta norma técnica. d) outros exames audiológicos complementares solicitados a critério médico. 3. Princípios e procedimentos básicos para a realização do exame audiométrico 3.1. Devem ser submetidos a exames audiométricos de referência e seqüenciais, no mínimo, todos os trabalhadores que exerçam ou exercerão suas atividades em ambientes cujos níveis de pressão sonora ultrapassem os limites de tolerância estabelecidos nos anexos 1 e 2 da NR 15 da Portaria 3.214 do Ministério do Trabalho, independentemente do uso de protetor auditivo. 3.2. O audiômetro será submetido a procedimentos de verificação e controle periódico do seu funcionamento. 3.2.1. Aferição acústica anual. 3.2.2. Calibração acústica, sempre que a aferição acústica indicar alteração, e, obrigatoriamente, a cada 5 anos. 3.2.3. Aferição biológica é recomendada precedendo a realização dos exames audiométricos. Em caso de alteração, submeter o equipamento à aferição acústica. 88 3.2.4. Os procedimentos constantes dos itens 3.2.1 e 3.2.2 devem seguir o preconizado na norma ISSO 8253-1, e os resultados devem ser incluídos em um certificado de aferição e/ou calibração que acompanhará o equipamento. 3.3. O exame audiométrico será executado por profissional habilitado, ou seja, médico ou fonoaudiólogo, conforme resoluções dos respectivos conselhos federais profissionais. 3.4. Periodicidade dos exames audiométricos. 3.4.1. O exame audiométrico será realizado, no mínimo, no momento da admissão, no 6º (sexto) mês após a mesma, anualmente a partir de então, e na demissão. 3.4.1.1. No momento da demissão, do mesmo modo como previsto para a avaliação clínica no item 7.4.3.5 da NR -7 poderão ser aceito o resultado de um exame audiométrico realizado até: a) 135 (cento e trinta e cinco) dias retroativos em relação à data do exame médico demissional de trabalhador de empresa classificada em grau de risco 1 ou 2; b) 90 (noventa) dias retroativos em relação à data do exame médico demissional de trabalhador de empresa classificada em grau de risco 3 ou 4 . 3.4.2. O intervalo entre os exames audiométricos poderá se reduzido a critério do médico coordenador do PCMSO, ou por notificação do médico agente de inspeção do trabalho, ou mediante negociação coletiva de trabalho. 3.5. O resultado do exame audiométrico deve ser registrado em uma ficha que contenha, no mínimo: a) nome, idade e número de registro de identidade do trabalhador; b) nome da empresa e a função do trabalhador; c) tempo de repouso auditivo cumprido para a realização do exame audiométrico; d) nome do fabricante, modelo e data da última aferição acústica do audiômetro; e) traçado audiométrico e símbolos conforme o modelo constante do Anexo 1; f) nome, número de registro no conselho regional e assinatura do profissional responsável pelo exame audiométrico. 3.6. Tipos de exames audiométricos. O trabalhador deverá ser submetido a exame audiométrico de referência e a exame audiométrico seqüencial na forma abaixo descrita: 3.6.1. Exame audiométrico de referência, aquele com o qual os seqüenciais serão comparados e cujas diretrizes constam dos subitens abaixo, deve ser realizado: a) quando não se possua um exame audiométrico de referência prévio: b) quando algum exame audiométrico seqüencial apresentar alteração significativa em relação ao de referência, conforme descrito nos itens 4.2.1, 4.2.2 e 4.2.3 desta norma técnica. 3.6.1.1. O exame audiométrico será realizado em cabina audométrica, cujos níveis de pressão sonora não ultrapassem os níveis máximos permitidos, de acordo com a norma ISO 8253.1. 3.6.1.1.1. Nas empresas em que existir ambiente acusticamente tratado, que atenda à norma ISO 8253.1, a cabina audiométrica poderá ser dispensada. 3.6.1.2. O trabalhador permanecerá em repouso auditivo por um período mínimo de 14 horas até o momento de realização do exame audiométrico. 3.6.1.3. O responsável pela execução do exame audiométrico inspecionará o meato acústico externo de ambas as orelhas e anotará os achados na ficha de registro. Se identificada alguma anormalidade, encaminhará ao médico responsável. 3.6.1.4. Vias, freqüências e outros testes complementares. 3.6.1.4.1. O exame audiométrico será realizado, sempre, pela via aérea nas freqüências de 500, 1.000, 2.000. 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz. 3.6.1.4.2. No caso de alteração detectada no teste pela via aérea ou segundo a avaliação do profissional responsável pela execução do exame, o mesmo será feito, também, pela via óssea nas freqüências de 500, 1.000, 2.000, 3.000 e 4.000 Hz. 89 3.6.1.4.3. Segundo a avaliação do profissional responsável, no momento da execução do exame, poderão ser determinados os limiares de reconhecimento de fala (LRF). 3.6.2. Exame audiométrico seqüencial, aquele que será comparado com o de referência, aplica-se a todo trabalhador que já possua um exame audiométrico de referência prévio, nos moldes previstos no item 3.6.1. As seguintes diretrizes mínimas devem ser obedecidas: 3.6.2.1. Na impossibilidade da realização do exame audiométrico nas condições previstas no item 3.6.1.1, o responsável pela execução do exame avaliará a viabilidade de sua realização em um ambiente silencioso, através do exame audiométrico em 2 (dois) indivíduos, cujos limiares auditivos, detectados em exames audiométricos de referência atuais, sejam conhecidos. Diferença de limiar auditivo, em qualquer freqüência e em qualquer um dos 2 (dois) indivíduos examinados, acima de 5 dB(NA) (nível de audição em decibel) inviabiliza a realização do exame no local escolhido. 3.6.2.2. O responsável pela execução do exame audiométrico inspecionará o meato acústico externo de ambas as orelhas e anotará os achados na ficha de registro. 3.6.2.3. O exame audiométrico será feito pela via aérea nas freqüências de 500, 1.000, 2.000, 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz. 4. Interpretação dos resultados do exame audiométrico com finalidade de prevenção 4.1. A interpretação dos resultados do exame audiométrico de referência deve seguir os seguintes parâmetros: 4.1.1. São considerados dentro dos limites aceitáveis, para efeito desta norma técnica de caráter preventivo, os casos cujos audiogramas mostram limiares auditivos menores ou iguais a 25 dB(NA), em todas as freqüências examinadas. 4.1.2. São considerados sugestivos de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados os casos cujos audiogramas, nas freqüências de 3.000 e/ou 4.000 e/ou 6.000 Hz, apresentam limiares auditivos acima de 25 dB(NA) e mais elevados do que nas outras freqüências testadas, estando estas comprometidas ou não, tanto no teste da via aérea quanto da via óssea, em um ou em ambos os lados. 4.1.3. São considerados não sugestivos de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados os casos cujos audiogramas não se enquadram nas descrições contidas nos itens 4.1.1 e 4.1.2 acima. 4.2. A interpretação dos resultados do exame audiométrico seqüencial deve seguir os seguintes parâmetros: 4.2.1. São considerados sugestivos de desencadeamento de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, os casos em que os limiares auditivos em todas as freqüências testadas no exame audiométrico de referência e no seqüencial permanecem menores ou iguais a 25 dB(NA), mas a comparação do audiograma seqüencial com o de referência mostra uma evolução dentro dos moldes definidos no item 2.1 desta norma, e preenche um dos critérios abaixo: a) a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 10 dB(NA); b) a piora em pelo menos uma das freqüências de 3.000, 4.000 ou 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 15 dB(NA). 4.2.2. São considerados, também sugestivos de desencadeamento de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, os casos em que apenas o exame audiométrico de referência apresenta limiares auditivos em todas as freqüências testadas menores ou iguais a 25 dB(NA), e a comparação do audiograma seqüencial com o de 90 referência mostra uma evolução dentro dos moldes definidos no item 2.1 desta norma, e preenche um dos critérios abaixo: a) a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de freqüência de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 10 dB(NA); b) a piora em pelo menos uma das freqüências de 3.000, 4.000 ou 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 15 dB(NA). 4.2.3. São considerados sugestivos de agravamento da perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, os casos já confirmados em exame audiométrico de referência, conforme item 4.1.2., e nos quais a comparação de exame audiométrico seqüencial com o de referência mostra uma evolução dentro dos moldes definidos no item 2.1 desta norma, e preenche um dos critérios abaixo: a) a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de freqüência de 500, 1.000 e 2.000 Hz, ou no grupo de freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 10 dB(NA); b) a piora em uma freqüência isolada iguala ou ultrapassa 15 dB(NA). 4.2.4. Para fins desta norma técnica, o exame audiométrico de referência permanece o mesmo até o momento em que algum dos exames audiométricos seqüenciais for preenchido algum dos critérios apresentados em 4.2.1, 4.2.2 ou 4.2.3. Uma vez preenchido por algum destes critérios, deve-se realizar um novo exame audiométrico, dentro dos moldes previstos no item 3.6.1 desta norma técnica, que será, a partir de então, o novo exame audiométrico de referência. Os exames anteriores passam a constituir o histórico evolutivo da audição do trabalhador. 5. Diagnóstico da perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados e definição da aptidão para o trabalho. 5.1. O diagnóstico conclusivo, o diagnóstico diferencial e a definição da aptidão para o trabalho, na suspeita de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, estão a cargo do médico coordenador do PCMSO de cada empresa, ou do médico encarregado pelo mesmo para realizar o exame médico, dentro dos moldes previstos na NR - 7, ou, na ausência destes, do médico que assiste ao trabalhador. 5.2. A perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, por si só, não é indicativa de inaptidão para o trabalho, devendo-se levar em consideração na análise de cada caso, além do traçado audiométrico ou da evolução seqüencial de exames audiométricos, os seguintes fatores: a) a história clínica e ocupacional do trabalhador; b) o resultado da otoscopia e de outros testes audiológicos complementares; c) a idade do trabalhador; d) o tempo de exposição pregressa e atual a níveis de pressão sonora elevados; e) os níveis de pressão sonora a que o trabalhador estará, está ou esteve exposto no exercício do trabalho; f) a demanda auditiva do trabalho ou da função; g) a exposição não ocupacional a níveis de pressão sonora elevados; h) a exposição ocupacional a outro(s) agente(s) de risco ao sistema auditivo; i) a exposição não ocupacional a outro(s) agentes de risco ao sistema auditivo; j) a capacitação profissional do trabalhador examinado; k) os programas de conservação auditiva aos quais tem ou terá acesso o trabalhador. 91 6. Condutas Preventivas 6.1. Em presença de trabalhador cujo exame audiométrico de referência se enquadre no item 4.1.2, ou algum dos exames audiométricos seqüenciais se enquadre no item 4.2.1 ou 4.2.2 ou 4.2.3, o médico coordenador do PCMSO, ou o encarregado pelo mesmo do exame médico, deverá: a) definir a aptidão do trabalhador para a função, com base nos fatores ressaltados no item 5.2 desta norma técnica; b) incluir o caso no relatório anual do PCMSO; c) participar da implantação, aprimoramento e controle de programas que visem a prevenção da progressão da perda auditiva do trabalhador acometido e de outros expostos ao risco, levando-se em consideração o disposto no item 9.3.6 da NR-9; d) disponibilizar cópias dos exames audiométricos aos trabalhadores. 6.2. Em presença de trabalhador cujo exame audiométrico de referência se enquadre no item 4.1.3, ou que algum dos exames audiométricos seqüenciais se enquadre nos itens 4.2.1.a., 4.2.1.b, 4.2.2.a, 4.2.2.b, 4.2.3.a ou 4.2.3.b, mas cuja evolução foge dos moldes definidos no item 2.1 desta norma técnica, o médico coordenador do PCMSO, ou o encarregado pelo mesmo do exame médico, deverá: a) verificar a possibilidade da presença concomitante de mais de um tipo de agressão ao sistema auditivo; b) orientar e encaminhar o trabalhador para avaliação especializada; c) definir sobre a aptidão do trabalhador para função; d) participar da implantação, aprimoramento, e controle de programas que visem a prevenção da progressão da perda auditiva do trabalhador acometido e de outros expostos ao risco, levando-se em consideração o disposto no item 9.3.6 da NR-9. e) disponibilizar cópias dos exames audiométricos aos trabalhadores. 92 ANEXO B