1 Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa COORDENAÇÃO

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Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa
COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
COORDENAÇÃO DO MESTRADO EM CIÊNCIAS DO
CUIDADO EM SAÚDE
ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Niterói - RJ
Dezembro/2011
2
ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde
da Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do Título de
Mestre.
Linha de pesquisa: Cuidados coletivos em Enfermagem e Saúde nos seus processos
educativos e de gestão.
Orientadora: Profª Drª. ZENITH ROSA SILVINO
Niterói – RJ
Dezembro/2011
3
R 696
Rodrigues, Andréa Maria dos Santos.
O cuidado com a saúde auditiva em motoristas de ônibus
urbano em uma empresa de transporte coletivo no Rio de
Janeiro / Andréa Maria dos Santos Rodrigues. –
Niterói: [s.n.], 2011.
92 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências do Cuidado em Saúde) Universidade Federal Fluminense, 2011.
Orientador: Profª. Zenith Rosa Silvino.
1. Audiologia. 2. Audiometria. 3. Audição. 4. Perda auditiva.
5. Saúde do trabalhador. 6. Enfermagem
CDD 617.8
4
ANDRÉA MARIA DOS SANTOS RODRIGUES
O CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA EM MOTORISTAS DE ÔNIBUS URBANO
EM UMA EMPRESA DE TRANSPORTE COLETIVO NO RIO DE JANEIRO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde
da Universidade Federal Fluminense como
requisito parcial para obtenção do título de
Mestre.
Aprovado em 12/12/2011.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________________
Profª Drª Zenith Rosa Silvino – Presidente
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Profª Drª Márcia Cavadas Monteiro – 1ª Examinadora
Universidade Federal do Rio de Janeiro
______________________________________________________________________
Profª Drª Elaine Antunes Cortez – 2ª Examinadora
Universidade Federal Fluminense
______________________________________________________________________
Profª Drª Heidi Elisabeth Baeck – 1ª Suplente
Universidade Veiga de Almeida - RJ
______________________________________________________________________
Profª Drª Fátima Helena do Espírito Santo – 2ª Suplente
Universidade Federal Fluminense
5
Dedico este trabalho a minha filha Beatriz que
com sua alegria de criança me contagia.
Através de seu olhar posso ver um mundo
melhor e cheio de novas perspectivas.
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, quem me capacita todos os dias da minha vida,
sozinha nada poderia fazer. Toda honra e toda glória sejam dadas a Ele.
Ao meu marido Marcelo, pelos momentos de apoio e incentivo e que com muito amor
entendeu os momentos de ausência e sempre confiou em mim, meu companheiro nesta
caminhada.
Aos meus pais Horácio e Lêda pelo suporte e auxílio em todos os momentos que
precisei para conclusão de mais uma etapa em minha vida. Obrigada por acreditarem sempre
em mim.
A amiga e fonoaudióloga Jéssica Novais pela amizade, ajuda e apoio e pelas palavras
de encorajamento.
A minha orientadora Dra Zenith, pelos ensinamentos, pela paciência e por ter me
possibilitado crescer no meio acadêmico.
A todos os professores do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde
pela ajuda na construção de novos saberes e pelo estímulo a pesquisa. Em especial as
professoras Dra Fátima Helena e Dra Sônia Mara.
As professoras componentes da banca examinadora Dra Márcia Cavadas, Dra Heidi
Baeck e Dra Elaine Cortez, obrigada pelo carinho e disponibilidade.
Aos meus colegas de turma do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em
Saúde, tão especiais, cada um na sua essência, foi muito bom nosso convívio nesse período.
Em especial agradeço pelas novas amigas que conquistei nesses anos com as quais
dividi muitos momentos de alegrias e de ansiedade: Mônica Simões, Glaucimara Riguete, e
Luana Pestana.
A amiga e fonaoudióloga Andréa Carielo pela cooperação e pelo companheirismo.
Em especial aos motoristas de ônibus pela disponibilidade e atenção.
A empresa de transporte coletivo que autorizou a realização do estudo, contribuindo
para construção deste trabalho.
Ao inspetor de tráfego e ao funcionário do Setor de Recursos Humanos da Empresa de
transporte coletivo, pois sempre estiveram prontos a colaborar com a pesquisa.
A todos que direta ou indiretamente estiveram presentes e acompanharam a elaboração
desta pesquisa, meu sincero agradecimento.
7
“O temor do Senhor é o princípio do
conhecimento, mas os insensatos desprezam a
sabedoria e a disciplina.”
(Provérbios 1:7)
8
RESUMO
Trata-se de uma pesquisa desenvolvida junto ao Mestrado Acadêmico em Ciências do
Cuidado em Saúde que tem como objeto de estudo o cuidado com a saúde auditiva em
motoristas de ônibus urbanos, considerando que a saúde auditiva é um dos aspectos
fundamentais para a comunicação humana. A pesquisa fundamentou-se nos pressupostos
teóricos da audição, na área da saúde do trabalhador e na perspectiva do cuidado em saúde,
pois cuidar da saúde do trabalhador é buscar espaços e condições de trabalho saudáveis
fazendo com que sua atividade diária seja cada vez menos prejudicial, tanto no campo físico
quanto no campo psíquico. Os objetivos do estudo foram: identificar a existência de variação
nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus através das audiometrias ocupacionais ao
longo de três anos consecutivos; verificar os saberes dos motoristas de ônibus urbano em
relação aos riscos de exposição ao ruído e sobre o cuidado com sua saúde auditiva; descrever
o Programa de Conservação Auditiva da Empresa de Transporte Coletivo; e discutir ações de
cuidado com a saúde auditiva para compor o Programa de Conservação Auditiva. A
abordagem metodológica utilizada foi um estudo de caso em uma empresa de transporte
coletivo localizada na Cidade do Rio de Janeiro. A caracterização do estudo é observacional,
do tipo coorte, que significa a seleção de indivíduos conforme o status de exposição, sendo
acompanhados para avaliação da incidência de doença. Para análise dos dados estatísticos
foram utilizados como métodos: ANOVA de Friedman para verificar a existência de variação
significativa nas audiometrias, ao longo de três anos consecutivos; o teste de comparações
múltiplas de Nemenyi, para identificar quais os anos que apresentam diferenças significativas
entre si; e o teste dos postos sinalizados de Wilcoxon para verificar a existência de variação
na audiometria entre as orelhas, direita e esquerda. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade Federal
Fluminense (HUAP/ UFF) sob CAAE - 6141.0.000.258-10. Os resultados da pesquisa
apontam que existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus ao longo de
três anos consecutivos, separadamente, por orelha. Comparando-se os limiares da orelha
direita e esquerda observou-se que a orelha direita não apresentou diferenças significantes nas
frequências analisadas dos exames audiométricos realizados, porém a orelha esquerda
apresentou diferenças significativas em três frequências (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz).
De acordo com a Classificação da Portaria 19 (1998), evidenciou-se que houve uma redução
do número de motoristas com exame de referência dentro dos limites de normalidade, em
relação ao terceiro ano observado (exame sequencial). Cabe ressaltar, que a ocorrência das
classificações de agravamento ou desencadeamento de Perda Auditiva Induzida por Ruído
(PAIR) não foram identificadas na amostra avaliada.
Destaca-se que os motoristas de ônibus em sua maioria não possuem conhecimento sobre os
riscos de exposição e cuidados com a saúde auditiva, advindos da falta de informação. Esse
estudo aponta que a atuação do fonoaudiólogo através de ações de cuidado inseridas no
Programa de Conservação Auditiva é imprescindível para promover a saúde auditiva no
ambiente de trabalho.
Descritores: Audiologia, audiometria, audição, perda auditiva, saúde do trabalhador,
enfermagem.
9
ABSTRACT
This is a survey developed along the Academic Masters in health care sciences that have as an
object of study the hearing health care in urban bus drivers, since the hearing health is one of
the fundamental aspects to human communication. The survey was based on theoretical
assumptions of the hearing, in the area of workers' health and the prospect of health care
because care of workers' health is seeking spaces and healthy working conditions causing
their daily activity to become less and less harmful, both in physical and psychic field. The
objectives of the study were to: identify the existence of variation in auditory thresholds of
bus drivers through the occupational audiometries over three consecutive years; verify the
knowledge of urban bus drivers in relation to risks of exposure to noise and about the care of
their health hearing; describe the company's Hearing Conservation program of Collective
Transport; and discuss actions of hearing health care to compose the Hearing Conservation
program. The methodological approach used was a case studied in a public transportation
company located in the city of Rio de Janeiro. The characterization of the observational study
is of a kind cohort, which means the selection of individuals as the exposure status, being
monitored with a view to assessing the incidence of the disease. For analysis of the statistical
data were used as methods: Friedman's ANOVA to verify the existence of significant
variation in audiometries, over three consecutive years; multiple comparisons testing
Nemenyi, to identify which year that have significant differences between themselves; and
testing of flagged posts of Wilcoxon to verify the existence of variation in audiometry
between the ears, right and left. This research was approved by the Ethics Committee and
University Hospital Research Antonio Pedro of the Universidade Federal Fluminense
(HUAPUFF) under CAAE-6141.0.000.258-10. Search results show that there are variations in
the auditory thresholds of bus drivers over three consecutive years, separately, by ear.
Comparing left and right ear thresholds observed that the right ear did not present significant
differences in frequencies of audiometric tests conducted, analyzed but the left ear presented
significant differences in three frequencies (500 Hz, 1000 Hz and 3000 Hz). According to the
classification of the Gatehouse 19, it showed that there was a reduction in the number of
drivers with reference examination within the bounds of normality, in relation to the third year
observed (sequential examination). Please note that the occurrence of the trigger or worsen
ratings for Noise-induced hearing loss (PAIR) were not identified in the sample evaluated. It
is noteworthy that the bus drivers mostly do not have knowledge about the risks of exposure
and hearing health care, from lack of information. This study points out that the actions of the
audiologist through careful actions entered in the Hearing Conservation program is essential
to promote hearing health in the working environment.
Keywords: Audiology, audiometry, hearing, hearing loss, occupational health, nursing.
10
Lista de Quadros
QUADRO 1
CLASSIFICAÇÃO DO NÍVEL DE AUDIÇÃO
25
QUADRO 2
RECONHECIMENTO E AVALIAÇÃO DE RISCOS PARA AUDIÇÃO
61
QUADRO 3
CARACTERIZAÇÃO DA EXPOSIÇÃO
61
QUADRO 4
GERENCIAMENTO AUDIOMÉTRICO
62
QUADRO 5
MEDIDAS DE PROTEÇÃO COLETIVA
62
QUADRO 6
MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
63
QUADRO 7
EDUCAÇÃO E MOTIVAÇÃO
63
QUADRO 8
GERENCIAMENTO DE DADOS
64
QUADRO 9
AVALIAÇÃO DO PROGRAMA
64
11
Lista de Tabelas
TABELA 1
DELTA ENTRE
FREQUÊNCIA
ORELHAS
(OE-OD)
PARA
CADA
ANO
E
47
TABELA 2
ANÁLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA
DIREITA
49
TABELA 3
ANÁLISE LONGITUDINAL DA AUDIOMETRIA DA ORELHA
ESQUERDA
50
TABELA 4
DELTAS ABSOLUTOS ENTRE OS TRÊS ANOS OBSERVADOS POR
ORELHA E FREQUÊNCIA
55
TABELA 5
CLASSIFICAÇÃO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS
EXAMES CONSECUTIVOS
56
TABELA 6
INTERPRETAÇÃO DO RESULTADO DO EXAME AUDIOMÉTRICO
SEGUNDO A PORTARIA 19
56
TABELA 7
DESCRITIVA DO FORMULÁRIO (N = 94)
58
12
Lista de Gráficos
GRÁFICO 1
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 500 HZ POR ORELHA
51
GRÁFICO 2
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 1000 HZ POR ORELHA
51
GRÁFICO 3
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 2000 HZ POR ORELHA
52
GRÁFICO 4
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 3000 HZ POR ORELHA
52
GRÁFICO 5
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 4000 HZ POR ORELHA
53
GRÁFICO 6
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 6000 HZ POR ORELHA
53
GRÁFICO 7
AUDIOMETRIA NA FREQUÊNCIA DE 8000 HZ POR ORELHA
54
GRÁFICO 8
AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 AO LONGO DE TRÊS
MOMENTOS OBSERVADOS
57
13
Lista de abreviaturas e siglas
ANOVA
CEREST
CESTEH
CFFa
CRFa
CIPA
CLT
dB
dB (NA)
DP
DVRT
EP
ENSP
EPI
FUNDACENTRO
Hz
INSS
HUAP
kHz
MTB
NR-7
NR-9
NR-15
NIOSH
OMS
OPAS
OD
OE
PR
PAINPSE
PAIR
PCA
PCMSO
PPRA
RJ
SP
SES
SESDEC
SSST
SMAC
SESMT
SMTR
SUS
UFF
VA
VO
Análise de Variância
Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana
Centro de Referência em Saúde do Trabalhador
Conselho Federal de Fonoaudiologia
Conselho Regional de Fonoaudiologia
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
Consolidação das Leis do Trabalho
Decibel
Decibel (Nível de Audição)
Desvio Padrão
Distúrbio de voz relacionado ao trabalho
Erro Padrão
Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca
Equipamento de Proteção Individual
Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho
Hertz
Instituto Nacional do Seguro Social
Hospital Universitário Antônio Pedro
Quilohertz
Ministério do Trabalho
Norma Regulamentadora No. 7
Norma Regulamentadora No. 9
Norma Regulamentadora No. 15
National Institute for Occupational Safety and Helth
Organização Mundial de Saúde
Organização Panamericana de Saúde
Orelha Direita
Orelha Esquerda
Unidade Federativa do Estado do Paraná
Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados
Perda Auditiva Induzida por Ruído
Programa de Conservação Auditiva
Programa de Controle de Medicina e Saúde Ocupacional
Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
Unidade Federativa do Estado do Rio de Janeiro
Unidade Federativa do Estado de São Paulo
Secretaria do Estado da Saúde
Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro
Serviço de Saúde e Segurança do Trabalho
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho
Secretaria Municipal de Transportes
Sistema Único de Saúde
Universidade Federal Fluminense
Via aérea
Via Óssea
14
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
15
INTRODUÇÃO
16
CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
20
1.1 A Audição e o Sistema auditivo
20
1.1.1 Estruturas periféricas do sistema auditivo
21
1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo
22
1.1.3 Alterações no sistema auditivo
22
1.1.4 Avaliação do sistema auditivo
24
1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E A PAIR
27
1.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR E A ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
30
1.4 PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA
33
1.5 A SAÚDE AUDITIVA E O CUIDADO EM SAÚDE
36
CAPÍTULO II – ABORDAGEM METODOLÓGICA
40
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
40
2.2 LOCAL DO ESTUDO
41
2.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
42
2.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
42
2.5 COLETA DE DADOS
43
2.5.1 Identificando os limiares auditivos
43
2.5.2 Formulário sobre a exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva
43
2.5.3 Descrição do Programa de Conservação Auditiva
44
2.6 ANÁLISE DOS DADOS
45
CAPÍTULO III – RESULTADOS
46
3.1 ANÁLISE INICIAL DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE
48
AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE)
3.2 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO
48
DE TRÊS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA
3.3 COMPARAÇÃO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS
54
ORELHAS DIREITA E ESQUERDA
3.4 RESULTADOS DOS EXAMES AUDIOMÉTRICOS CONFORME A
CLASSIFICAÇÃO DA PORTARIA 19
56
15
3.5 RESULTADO DO FORMULÁRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS
58
3.5.1 Caracterização dos sujeitos da amostra
60
3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA
60
CAPÍTULO IV – DISCUSSÃO
65
4.1 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS
65
4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS SOBRE A EXPOSIÇÃO AO
68
RUÍDO E CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA
4.2.1 Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas
68
4.2.2 Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído
70
4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA DA EMPRESA DE
71
TRANSPORTE COLETIVO
4.4 AÇÕES DE CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA
73
CONSIDERAÇÕES FINAIS
75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
77
APÊNDICES
84
Apêndice A: Formulário para descrição do Programa de Conservação Auditiva
84
Apêndice B: Formulário sobre a exposição ao ruído e cuidado com a saúde auditiva
85
Apêndice C: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
86
ANEXOS
87
Anexo A: Ministério do Trabalho e Emprego – Portaria 3214 – NR 7 – anexo I – quadro II
87
Anexo B: Parecer do Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade de Medicina/HUAP
92
15
APRESENTAÇÃO
Desde a graduação no curso de Fonoaudiologia surgiu o interesse em estudar sobre a
saúde dos trabalhadores que poderiam desenvolver algum déficit no processo comunicativo
devido às atividades laborais.
Nesta ocasião como trabalho de conclusão de curso, foi desenvolvido um estudo sobre
a oratória como instrumento do resgate da expressão natural, pessoal e funcional da voz
facilitando a prática profissional dos advogados.
O interesse em estudar sobre os aspectos que envolvem a saúde auditiva surgiu
durante a atuação profissional na área da audiologia ocupacional. Destaca-se que no cotidiano
de trabalho, durante a realização de exames audiométricos em trabalhadores de empresas de
transporte coletivo observou-se a prevalência de diagnósticos sugestivos de perda auditiva por
níveis de pressão sonora elevada, a falta de conhecimento e do cuidado por parte dos
trabalhadores em relação á audição.
Em busca de novos saberes na área da saúde do trabalhador considerando que
atualmente a fonoaudiologia conta com um deslocamento de muitos profissionais para novos
campos de atuação ingressei como aluna especial na disciplina de Gestão de Programas
Ocupacionais do Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em Saúde da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e no Núcleo de Estudos e Pesquisas em Cidadania e Gerência na
Enfermagem (NECIGEN) na linha de pesquisa de saúde do trabalhador que tem como uma de
suas propostas, a análise dos aspectos envolvidos na investigação e intervenção dos agravos à
saúde do trabalhador.
Como Aluna Efetiva do Curso de Mestrado Acadêmico em Ciências do Cuidado em
Saúde (MACCS/UFF) desenvolvi o estudo junto à linha de pesquisa de cuidados coletivos em
enfermagem e saúde nos seus processos educativos e de gestão, por conter atividades de
cuidado no contexto político social e no processo de trabalho em saúde. Saúde das populações
vulneráveis. Gestão do cuidado e do trabalho em saúde
16
INTRODUÇÃO
O objeto de estudo desta pesquisa é o cuidado com a saúde auditiva dos motoristas de
ônibus urbano.
Considerando que a comunicação é um aspecto fundamental nas relações de trabalho,
nas quais as funções de audição, voz, fala e de linguagem precisam estar em pleno
funcionamento em seus aspectos anatômicos e fisiológicos para que a mensagem que se
deseja tornar comum ao outro não seja prejudicada.
Durante a atuação profissional na área da Audiologia Ocupacional foi observada a
prevalência de diagnósticos sugestivos de Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), a falta
de conhecimento e do autocuidado no que se refere à saúde auditiva, por parte dos motoristas
de ônibus, o que pode representar danos a sua saúde com repercussões na qualidade do
trabalho desenvolvido.
A partir da observação empírica supracitada surgiu a inquietação sobre a efetividade
do programa de conservação auditiva aplicado na empresa de transporte coletivo, em relação
aos cuidados com a audição dos motoristas de ônibus.
Cada vez mais nos ambientes de trabalho e sociais, a exposição ao ruído acima dos
limites permissíveis à orelha humana tem se tornado um agente presente. O dano auditivo
decorrente dessa exposição tem caráter irreversível se tornando necessária uma conduta
preventiva sobre os riscos que permeiam a saúde auditiva.
O efeito causado pela exposição ao ruído, principalmente sobre a audição, tem sido
objeto de diversos estudos na área da saúde dos trabalhadores. As dificuldades auditivas
ocasionadas pela exposição prolongada ao ruído intenso, quando afetam a comunicação,
prejudicam as relações interpessoais de seu portador, podendo levar à sensação de insucesso e
frustração, que caracterizam as desvantagens psicossociais e que têm importante impacto na
vida do sujeito, afetando sua vida profissional, social e familiar (GONÇALVES; IGUTI,
2006).
17
O cuidado com a saúde auditiva do trabalhador é importante instrumento para
construção de um ambiente laboral saudável criando possibilidades de intervenção e atuação,
de modo que os impactos eminentes do risco de exposição ao ruído intenso possam ser
amenizados e controlados.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 2005, cerca de duzentos e
setenta e oito milhões de pessoas foram acometidas de perda auditiva, e 80% delas vivem em
países de baixa e média renda. A exposição excessiva ao ruído é um dos fatores que contribui
para esta estatística. A OMS refere também que para prevenir a perda auditiva por exposição
ao ruído, se deve reduzir a exposição, em termos profissionais e de lazer, utilizando
equipamentos de proteção individual, medidas de controle e de engenharia (OMS, 2010).
Outros órgãos internacionais também chamam a atenção para esse fato, como por
exemplo o National Institute for Occupational Safety and Helth (NIOSH), que traz como
dados estatísticos que quatro milhões de trabalhadores nos Estados Unidos trabalham sob
risco de exposição ao ruído diariamente, e que dez milhões de pessoas têm perda auditiva
relacionada a tal exposição.
São contabilizados vinte e dois milhões de trabalhadores expostos ao risco ruído,
anualmente. O Occupational Safety e Helth Administration (OSHA) destaca que as perdas
auditivas relacionadas ao ruído foram consideradas como um dos mais prevalentes problemas
de saúde ocupacional nos últimos vinte cinco anos nos Estados Unidos.
No Brasil ainda não existem dados estatísticos que apontam para a realidade dessa
problemática. Os sistemas de informação e de fiscalização são precários não possibilitando o
registro real dos casos. Considera-se também a existência da subnotificação da doença
(TELES; MEDEIROS, 2007).
A poluição sonora é um dos fatores de risco ambientais que interfere no estado de
saúde das populações. Todos os ruídos provenientes de uma ou mais fontes sonoras, ao
mesmo tempo em um ambiente, geram desconforto e podem causar efeitos negativos sobre a
saúde humana.
A urbanização e o aumento do tráfego de veículos nas vias públicas propiciam o
aumento dos índices de poluição sonora para população em geral e, principalmente, para os
indivíduos que trabalham diariamente sob o risco de exposição desta natureza. O crescimento
urbano intensifica a necessidade de deslocamento das pessoas em diferentes pontos das
grandes cidades, resultado da necessidade cotidiana da população.
18
O ônibus ainda é o transporte público mais utilizado por grande parte da população,
apesar das falhas na prestação do serviço, como por exemplo, a irregularidade de horários e a
lotação dos veículos. Quando a qualidade do referido serviço não é satisfatória há um
aumento na utilização de automóveis, vans, táxis, dentre outros, causando engarrafamentos e
contribuindo ainda mais para a poluição do ambiente.
Segundo Cocco e Silveira (2011), o sistema de transporte público coletivo é essencial
enquanto serviço de utilidade pública que garante a reprodução social da força de trabalho
mediante as interações espaciais que efetuam, aumentando de diversas maneiras a
produtividade do trabalho, seja diretamente, a partir do conforto, da confiabilidade e da
segurança oferecidos pelo serviço, ou indiretamente, quando este facilita o acesso a outros
meios de consumo coletivo que potencializam e complexificam a força de trabalho.
O sistema de transportes no município do Rio de Janeiro possui aproximadamente oito
mil e setecentos veículos, em circulação pelas vias públicas, administrados por quarenta e sete
empresas privadas a partir de concessão pública. É a modalidade de transporte mais utilizada
pela população do Rio de Janeiro (SMTR, 2011).
Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC, 2011):
À medida que a cidade cresce as queixas públicas relacionadas ao ruído
tornam-se cada vez mais numerosas. No Rio de Janeiro, pelo menos 60% das
reclamações recebidas pela SMAC, são relacionadas a incômodo sonoro.
Esse percentual, em uma cidade com tantos outros focos potenciais de
conflito ambiental, mostra com clareza a dimensão que a questão sonora
ocupa junto a seus habitantes e sua importância para a determinação da
qualidade do ambiente de seus habitantes.
Os motoristas de ônibus são os trabalhadores que desempenham suas atividades nesse
ambiente público, não possuindo um local restrito para realizar suas tarefas, logo estão
diariamente sujeitos às condições do clima, do tráfego, trajeto das vias, violência urbana e
sobrecarga de ruído ambiental (BATTISTON; CRUZ; HOFFMANN, 2006).
A categoria dos motoristas de ônibus urbanos tem grande importância social,
principalmente nas sociedades contemporâneas e mais urbanizadas, não somente pela
exposição a condições de trabalho bastante específicas, mas também pela responsabilidade
coletiva de sua atividade: o transporte cotidiano de passageiros. Em função disso, esse grupo
vem sendo objeto frequente de estudos epidemiológicos na área de saúde do trabalhador e da
medicina ocupacional (BENVEGNÚ et al, 2008).
19
Nesse sentido, esses profissionais necessitam de ações de prevenção e cuidado com a
saúde auditiva, pois a dificuldade em ouvir ou a perda da audição são alterações que podem
ser evitadas por meio do acompanhamento contínuo do perfil auditivo e da conscientização
sobre a importância da audição.
Diante dos fatos supracitados, foram levantadas as seguintes hipóteses para estudo:
- Existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus ao longo de três
anos consecutivos;
- Não existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus, ao longo de
três anos consecutivos;
- Os motoristas de ônibus têm conhecimento sobre os riscos de exposição e cuidados
com a saúde auditiva;
- Os motoristas de ônibus não têm conhecimento sobre os riscos de exposição e
cuidados com a saúde auditiva.
Para responder as hipóteses levantadas, foram traçados como objetivos:
1 – Identificar a ocorrência de variações nos limiares auditivos dos motoristas de
ônibus urbano, através do cadastro audiométrico dos exames ocupacionais, ao longo de três
anos consecutivos;
2 – Verificar os saberes dos motoristas de ônibus urbano, em relação aos riscos de
exposição ao ruído e sobre o cuidado com sua saúde auditiva;
3 - Descrever o Programa de Conservação Auditiva da Empresa de Transporte
Coletivo;
4 - Discutir ações de cuidado com a saúde auditiva para compor o Programa de
Conservação Auditiva.
20
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1. A AUDIÇÃO E O SISTEMA AUDITIVO
É por meio da audição que se ouve e se percebe os sons gerados no ambiente. A
audição é considerada essencial para os indivíduos, pois é a base da comunicação humana.
Além disso, a formação e o desenvolvimento da fala e da linguagem estão diretamente ligados
a um bom funcionamento de tal sentido.
A audição ocorre por meio do sistema auditivo, que é constituído por estruturas
sensoriais e conexões. Esse sistema pode ser dividido em duas porções distintas, mas interrelacionadas que são: sistema auditivo periférico e sistema auditivo central.
O sistema auditivo periférico compreende estruturas da orelha externa, orelha média e
orelha interna e do sistema nervoso periférico, no qual ocorre a captação e transmissão da
onda sonora pela orelha externa, a transdução sonora na membrana timpânica, cadeia
ossicular e músculos intratimpânicos (orelha média) e o processamento da informação
auditiva na cóclea e porção coclear do nervo vestíbulo coclear (orelha interna e sistema
nervoso periférico) (BONALDI, 2011, p. 5).
O sistema auditivo central se refere às vias auditivas localizadas no tronco encefálico e
áreas corticais, onde o processamento das informações sonoras é realizado. Os impulsos
nervosos são transmitidos pelas fibras do VIII nervo craniano para os núcleos cocleares,
tronco encefálico, tálamo e córtex (TEIXEIRA; GRIZ, 2011, p. 17).
21
1.1.1 Estruturas periféricas do sistema auditivo
A orelha externa é a parte do sistema auditivo que protege, absorve e transforma a
energia das ondas acústicas em energia mecânica vibratória. Coleta e dirige as ondas sonoras
através do meato acústico externo até a membrana timpânica. É constituída pelo pavilhão
auricular e meato acústico externo que são as partes cartilagínea e óssea.
A comunicação entre as orelhas média e interna e o ambiente externo é realizada pelo
meato acústico externo, que tem a função básica de conduzir os sons até a membrana
timpânica. O meato acústico e o pavilhão auricular possuem propriedades acústicas
interessantes para fisiologia da audição, pois aumentam o efeito da sombra sonora e, também
aumentam nossa sensibilidade aos sons (ZEMLIN, 2000).
A orelha média é representada pela cavidade timpânica onde se encontra a cadeia
ossicular (martelo, bigorna e estribo), articulada entre si com seus músculos e ligamentos, a
tuba auditiva, o adito, o antro e as células mastóideas. É um transformador de impedância
altamente eficiente que possibilita a transmissão adequada das vibrações aéreas aos líquidos
labirínticos (MUNHOZ et al, 2003).
A orelha interna localiza-se na porção petrosa do osso temporal, e pode ser dividida
em dois sistemas de cavidades: um que abriga os órgãos do equilíbrio e o outro que protege os
órgãos essenciais da audição. Os sistemas são denominados de labirinto ósseo e labirinto
membranoso.
No labirinto ósseo está localizada a cóclea que possui função auditiva, o vestíbulo e os
canais semicirculares (anterior, posterior e lateral) que possuem função de detecção e
orientação da cabeça no espaço. Dentro do labirinto ósseo localiza-se o labirinto membranoso,
e o espaço entre eles é preenchido pela perlinfa (rica em sódio), no labirinto membranoso
encontra-se a endolinfa (rica em potássio) que é constituído pelo ducto coclear, sáculo e
utrículo, ducto e saco endolinfático (SANTOS; RUSSO, 2009).
Na orelha interna está localizada a cóclea, estrutura muito importante para o estudo da
PAIR, pois é nela que está localizado o órgão de Corti, formado pela membrana tectória, pelas
células de sustentação e células ciliadas que podem ser lesadas pela exposição a níveis
elevados de pressão sonora.
As células ciliadas são as células sensoriais, destinadas à transformação das ondas
sonoras em impulsos nervosos. Devido ao seu posicionamento no ducto coclear podem ser
chamadas de células ciliadas internas e externas. (BONALDI, 2011, p. 11).
22
As características das células ciliadas lhes permitem movimentos que repercutem
sobre a lâmina basilar e a estrutura do ducto coclear. Essas células possuem proteínas
contráteis como, por exemplo, actina, miosina e um sistema de cisternas laminadas ao longo
de todo comprimento da célula. Esse sistema de cisternas ajuda a manter a forma da célula,
integridade estrutural e ainda funciona como uma força elástica. Elas se encurtam quando
polarizadas e se estendem quando hiperpolarizadas. (BONALDI, 2011, p. 12).
As células ciliadas externas constituem o amplificador coclear, que por meio da
inclinação de seus cílios amplifica o estímulo para determinar a deflexão dos cílios das células
ciliadas internas que são receptoras e codificadoras cocleares, transmitindo a informação
sonora codificada da cóclea para os núcleos cocleares e destes para o córtex auditivo
(BONALDI, 2011, p. 13).
1.1.2 Estruturas centrais do sistema auditivo
Os centros auditivos do tronco cerebral desempenham funções importantes na
determinação da direção de onde vem o som e, ao mesmo tempo, no direcionamento da
cabeça e dos olhos na mesma direção. No córtex auditivo são analisados as características
tonais e o significado dos sons.
Os sinais auditivos chegam ao cérebro pelo componente coclear do oitavo par
craniano, o nervo vestíbulo coclear, que termina nos núcleos cocleares do tronco cerebral. Os
sinais são transmitidos pelo núcleo olivar superior, colículo inferior do tronco cerebral, corpo
geniculado medial do tálamo, e finalmente, para o córtex auditivo (TEIXEIRA; GRIZ, 2011).
1.1.3 Alterações no sistema auditivo
Quando o sistema auditivo tem algum dano, seja de caráter hereditário ou adquirido,
pode ser considerado que o indivíduo é portador de uma deficiência auditiva ou surdez.
A incapacidade de ouvir reflete na dificuldade de se adquirir linguagem e,
consequentemente, afeta sua capacidade de comunicação que é um instrumento necessário
para a execução das atividades sociais pertinentes ao ser humano.
23
A deficiência auditiva diz respeito à perda total ou parcial da capacidade de ouvir, que
pode ser causada por problemas na gestação e no parto como, por exemplo: prematuridade;
doenças infecciosas como rubéola, meningite, sarampo; infecções crônicas nos ouvidos e
utilização inadequada de medicamentos ototóxicos.
A deficiência auditiva pode surgir em qualquer fase da vida do indivíduo, desde a
gestação, na infância ou até mesmo, na vida adulta.
O ruído excessivo, incluindo a exposição no ambiente de trabalho é um agente
causador de perda auditiva, principalmente na fase adulta, pois além de causar um ônus social
e econômico sobre o indivíduo que adquiriu a perda auditiva, dificulta sua relação com a
família e no trabalho.
É comum a pessoa se isolar e não querer participar de grupos sociais o que afeta
diretamente a sua qualidade de vida. Além disso, muitas vezes, por questões financeiras,
algumas pessoas, principalmente os trabalhadores, não possuem condições de adquirir um
Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), o que contribui ainda mais para a
sensação de solidão, frustração e incapacidade.
Segundo Seligman (1997), as lesões da orelha interna resultantes da exposição ao
ruído levam ao esgotamento físico e a alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão
sensorial auditivo, refletindo na lesão das células ciliadas (externas e internas), com lesão
parcial ou total do órgão de Corti. A exposição pode apresentar-se da seguinte forma:
1. Por exposição aguda; Trauma Sonoro e Mudança Temporária no Limiar (TTS Temporary Threshold Shift)
2. Por exposição Crônica - Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) ou Mudança
Permanente no Limiar (PTS - Permanente Threshold Shift)
A PAIR1 é o agravo mais conhecido quando a exposição ao ruído é evidenciada. De
forma geral há um reconhecimento da sociedade e da comunidade científica de que a
exposição contínua ao ruído pode causar danos à audição.
Além disso, alguns sintomas associados à perda auditiva podem surgir como, por
exemplo, a intolerância a sons intensos e o zumbido que é considerado o mais frequente deles.
O Ministério da Saúde define a PAIR como a perda provocada pela exposição, por
tempo prolongado, ao ruído. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neurossensorial,
geralmente bilateral, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao ruído (CID 10 –
1
Apesar da portaria 19(1998) anexo I da Norma Regulamentadora n º 7 sugerir o termo perda auditiva induzida
por níveis de pressão sonora elevados (PAINPSE), neste estudo optou-se em utilizar o termo PAIR, por ser mais
difundido e conhecido em meio aos profissionais de saúde, engenharia e segurança e para os trabalhadores.
24
H 83.3). Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho,
perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva
induzida por níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído
ocupacional, perda auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de
pressão sonora de origem ocupacional (BRASIL, 2006).
O cuidado com a da saúde auditiva das populações, principalmente dos trabalhadores
que diariamente estão vulneráveis à exposição do ruído ocupacional, deve ser considerado de
fundamental importância. A prevenção e o desenvolvimento de ações para o controle,
eliminação ou diminuição do risco precisam ser priorizados objetivando a construção de
ambientes saudáveis, auditivamente.
1.1.4 Avaliação do sistema auditivo
São muitos os testes e exames utilizados para avaliar a audição. O que deve ser
considerado é a especificidade do que se deseja inferir. A avaliação audiológica é composta
por procedimentos comportamentais, eletroacústicos e eletrofisiológicos.
Segundo Santos e Russo (2009, p. 68), “medir a audição pode referir-se em primeiro
lugar aos parâmetros de intensidade e de altura do tom, às qualidades do timbre, da duração,
às condições de origem e direção da fonte sonora.”
Durante a realização de um exame auditivo dois fenômenos são observados: o evento
físico, objetivo, mensurável e o evento psicofísico, que é o resultado da sensação que o
estímulo produz a uma pessoa, sendo, portanto, um fenômeno subjetivo.
Na avaliação audiológica, a audiometria tonal é considerada como a mais
fundamental, representando o primeiro teste de bateria básica. Avalia todo sistema auditivo,
pois a resposta da pessoa depende da compreensão sobre o procedimento do exame e a
elaboração de uma resposta, não sendo, portanto avaliado, apenas o órgão da audição.
O objetivo da audiometria tonal liminar é a determinação dos limiares de audibilidade,
isto é, verificar o mínimo de intensidade sonora necessária para provocar a sensação auditiva
e comparar os valores com o padrão considerado dentro da normalidade (SANTOS; RUSSO,
2009).
A finalidade da determinação dos limiares de audibilidade é de várias ordens tais
como: detectar a existência de perda auditiva em crianças, adultos e idosos; auxiliar o
25
topodiagnóstico das lesões auditivas que possam atingir as orelhas externa média ou interna;
determinar o tipo de perda auditiva; servir como exame admissional, periódico e demissional
para trabalhadores expostos a ruído em programas de conservação auditiva; entre outros
(SANTOS; RUSSO, 2009).
Ao longo do tempo, várias propostas de classificação para perda auditiva foram
adotadas, porém atualmente, a proposta recomendada é a que consta nas Portarias 587/2004 e
589/2004 do Ministério da Saúde que determina as diretrizes nacionais para políticas públicas
da saúde auditiva, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 1997,
que utilizam as médias das frequências de 500 Hz, 1000 Hz, 2000 Hz e 4000 Hz (LOPES,
2011, p. 76).
Quadro 1 – Classificação do nível de audição.
NÍVEL DE
AUDIÇÃO
Audição Normal
MÉDIA DAS
FREQUÊNCIAS DE
500, 1, 2, E 4 KHz
0 a 25 dB
Perda de Audição
Leve
26-40 dB
Perda de Audição
Moderada
41-60 dB
Perda de Audição
Severa
Perda de Audição
Profunda
61-80 dB
Maior que 81dB
CARACTERÍSTICAS
RECOMENDAÇÕES
Não
tem
problemas
auditivos. Capaz de ouvir
sussurros
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz
normal, até 1 metro de
distância
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz
alta, até 1 metro de
distância
Capaz de ouvir e repetir
palavras faladas em voz alta
(gritando)
direcionando
para a orelha melhor.
Incapacidade em ouvir e
compreender
palavras
faladas em voz muito alta
(gritando).
Cuidado com audição.
O uso de AASI pode ser
recomendado.
Recomenda-se
AASI
o
Necessário o uso
Recomenda-se o
língua de sinais
labial.
Necessário o uso
Recomenda-se o
língua de sinais
labial.
uso
de
de AASI.
uso da
e leitura
de AASI.
uso da
e leitura
Fonte: Organização Mundial da Saúde, 2005
Em se tratando de audiometrias ocupacionais, o Conselho Federal e os Regionais de
Fonoaudiologia (2009), através de um guia de orientações sobre audiometria tonal,
logoaudiometria e medidas de imitância acústica trouxeram informações aos fonoaudiólogos
de que os laudos das audiometrias, tanto de referência quanto sequenciais, deveriam conter
26
descrições do tipo, grau e configuração audiométrica, sempre com base na literatura científica
e, principalmente, sem utilizar classificação de frequência isolada em termos de grau, uma vez
que não há referência da literatura para tal. Ressaltaram, ainda, que os laudos dos exames
ocupacionais devem conter todas as determinações da Portaria nº 19 do Ministério do
Trabalho e Emprego - MTE, 1998, Anexo 1(A) ou da legislação vigente.
Entende-se como audiometria de referência o exame realizado quando ainda não se
possui um exame audiométrico prévio que, geralmente, são os exames admissionais. Os
exames que serão realizados posteriormente são considerados exames sequenciais. Esses
exames devem ser comparados, porém, quando algum exame audiométrico sequencial
apresenta alteração em relação ao de referência, este passa a ser o novo exame audiométrico
de referência. Os exames anteriores passam a constituir o histórico evolutivo da audição do
trabalhador.
A interpretação do resultado do exame audiométrico com finalidade de prevenção em
conformidade com a Portaria 19 - MTE, 1998, Anexo 1(A) segue os seguintes parâmetros:
- Dentro dos limites aceitáveis: os audiogramas com limiares auditivos menores ou
iguais a 25 dB (NA), em todas as frequências examinadas.
- Sugestivos de PAIR: audiogramas que nas frequências de 3.000 Hz, e/ou 4.000 Hz,
e/ou 6.000 Hz apresentam limiares auditivos acima de 25 dB (NA) e mais elevados do que nas
outras frequências testadas, estando estas comprometidas ou não, tanto no teste da via aérea
quanto da via óssea, em um ou em ambos os lados.
- Não sugestivos de PAIR: audiogramas com piora nos limiares auditivos do exame
sequencial não característicos de PAIR. Como por exemplo: sinais de acometimento
condutivo ou misto, ou lesão neurossensorial, mas com limiares tonais igualmente
comprometidos ou mais elevados nas freqüências mais baixas.
- Sugestivos de desencadeamento de PAIR: quando o exame de referência está dentro
dos padrões aceitáveis, mas a comparação com audiograma sequencial apresenta piora nas
freqüências de 3.000 Hz, 4.000 Hz, e/ou 6.000 Hz.
Essa piora é considerada quando ocorre a diferença entre as médias aritméticas dos
limiares auditivos no grupo de frequências de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz igualando ou
ultrapassando 10 dB (NA) ou a piora em pelo menos uma das freqüências de 3.000Hz,
4.000Hz ou 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 15 dB (NA).
- Sugestivos de agravamento de PAIR: quando o exame de referência já apresenta
configuração compatível com PAIR e há piora em 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000 Hz no exame
sequencial.
27
Essa piora é considerada quando ocorre a diferença entre as médias aritméticas dos
limiares auditivos no grupo de freqüência de 500 Hz, 1.000Hz e 2.000 Hz, ou no grupo de
freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz igualando ou ultrapassando 10 dB (NA) e a piora em
uma freqüência isolada igualando ou ultrapassado 15 dB (NA).
- Estável em relação ao de referência: Quando os limiares auditivos não apresentam as
diferenças citadas anteriormente.
A avaliação audiológica periódica permite o acompanhamento da progressão da perda
auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposição, além da
suscetibilidade individual. A velocidade da progressão da perda auditiva determina a eficácia
das medidas de proteção que devem ser aplicadas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006).
1.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO AO RUÍDO E A PAIR
O som é originado por uma vibração mecânica que se propaga no ar estimulando o
sistema auditivo. É transmitido de forma ondulatória, sendo que a velocidade dessa
transmissão depende das características da onda no meio que se propaga. Portanto, o som é
definido como qualquer vibração, conjunto de vibrações ou ondas mecânicas que podem ser
ouvidas (SALIBA, 2009).
O ruído é basicamente todo som que não é desejado ou perturbador. Todos os sons que
se ouve podem ser classificados como ruído, desde que sejam indesejados por outros
indivíduos que venham a captá-los. O ruído pode ser considerado como sinal acústico que
influencia o bem estar físico e mental do indivíduo (RUSSO, 1993).
Saliba (2009, p. 18) registra que:
O ruído é o fenômeno físico vibratório com características indefinidas de
variações de pressão (no caso ar) em função da freqüência, isto é, para
determinada freqüência podem existir, em forma aleatória através do tempo,
variações de diferentes pressões.
Dentre as diversas causas de poluição, ressalta-se que o ruído proveniente de veículos
de transportes, atividades laborativas e de lazer tem contribuído para colocar a poluição
sonora como a terceira causa de poluição no mundo, perdendo apenas para o ar e a água. Tal
fato representa, entre outros, um risco para audição de toda a população (FIORINI, 2000).
28
Os sintomas não auditivos também podem surgir devido à exposição ao ruído. Os
efeitos não auditivos causados pela exposição, atualmente, vem recebendo atenção por parte
dos pesquisadores.
Ibañez, Schneider e Seligman (2001, p. 48) descrevem que os sintomas não auditivos
relacionadas à exposição podem ser de neurológicas, vestibulares, digestivos e
comportamentais que atingem à comunicação e causam distúrbios do sono.
Segundo Fiorini (2004) as consequências da exposição ao ruído podem ser de duas
ordens: efeitos na audição e efeitos gerais. Essa exposição pode perturbar o trabalho, o
descanso, o sono, a comunicação nos seres humanos, causar déficit na audição, provocar
reações psicológicas, fisiológicas e até patológicas.
Petian (2008) buscou estimar a prevalência do incômodo causado pelo ruído em
trabalhadores de estabelecimentos comerciais no município de São Paulo. Detectou-se que o
incômodo relacionado ao ruído no local de trabalho foi estimado em 62,5%. Foi ressaltado
que o local de trabalho era ruidoso 65,75% dos trabalhadores e, 62% que o ruído do tráfego
no local de trabalho era incômodo. Com os resultados deste estudo pode-se inferir que os
trabalhadores conheciam tanto o risco físico do ruído, quanto o incômodo que ele pode
causar. Os trabalhadores relataram que o ruído poderia causar ou agravar alguns problemas de
saúde, principalmente a perda auditiva, estresse e irritabilidade.
Benvegnú et al (2008) observaram a existência de uma associação significativa entre
os problemas psiquiátricos menores e a hipertensão em motoristas de ônibus na cidade de
Santa Maria no Rio Grande do Sul. Esse achado parece reforçar a hipótese da associação entre
estresse e problemas psicológicos com hipertensão.
No estudo de Lacerda et al (2010) concluiu-se que as queixas mais frequentes
relacionadas à audição entre os motoristas de ônibus foi o zumbido e a sensação de plenitude
auricular.
Ogido, Andrade Costa e Machado (2009), em um estudo relacionado com sintomas
auditivos e vestibulares causados pela exposição ao ruído, concluíram que as disfunções
auditivas são queixas constantes na população atendida em um centro de referência de saúde
ocupacional de Campinas (SP), reforçando a necessidade permanente da adoção de medidas
preventivas em relação à exposição ao ruído, tanto coletivas quanto individuais.
O Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva publicou seu posicionamento
sobre a PAIR em seu primeiro boletim em 1994, revisto em 1999 definindo-a da seguinte
maneira:
29
A perda auditiva induzida pelo ruído relacionada ao trabalho, diferentemente do
trauma acústico é uma diminuição gradual da acuidade auditiva, decorrente da exposição
continuada a elevados níveis de pressão sonora. As características principais são:
- Na maioria das vezes é sempre neurossensorial, em razão do dano causado as células
do órgão de Corti.
- Uma vez instalada é irreversível e, quase sempre, similar bilateralmente.
- Raramente leva à perda auditiva profunda, pois, não ultrapassa os 40 dB nas
frequências baixas e médias e os 75 dB nas frequências altas.
- Manifesta-se primeira e predominantemente nas frequências de 6.000 Hz, 4.000 Hz,
e 3.000 Hz, com agravamento da lesão, estende-se às frequências de 8.000 Hz, 2.000 Hz,
1.000 Hz, 500 Hz e 250 Hz, as quais levam mais tempo para serem comprometidas.
- Tratando-se de uma doença predominantemente coclear, o portador da PAIR pode
apresentar intolerância a sons intensos, zumbidos, além de ter comprometida a inteligibilidade
da fala, em prejuízo do processo de comunicação.
- Uma vez cessada a exposição ao ruído provavelmente não haverá a progressão da
PAIR.
- É influenciada principalmente, pelas características físicas do ruído, como o tipo, o
espectro e o nível de pressão sonora, pelo tempo de exposição e pela suscetibilidade
individual.
- Geralmente atinge o nível máximo para as frequências de 3.000 Hz, 4.000Hz e 6.000
Hz nos primeiros dez a quinze anos de exposição, sob condições estáveis de ruído. Com o
passar do tempo, a progressão da lesão se torna mais lenta.
- PAIR relacionada ao trabalho não torna o ouvido mais sensível a futuras exposições.
- O diagnóstico nosológico de PAIR relacionada ao trabalho somente pode ser
estabelecido, por meio de um conjunto de procedimentos que envolvam anamnese clínica e
ocupacional, exame físico, avaliação audiológica e, se necessário, exames complementares.
Esse diagnóstico é realizado pelo médico do trabalho.
- Pode ser agravada pela exposição simultânea a outros agentes, como produtos
químicos e vibrações.
- É uma doença passível de prevenção e pode acarretar ao trabalhador alterações
funcionais e psicossociais capazes de comprometer sua qualidade de vida.
A possibilidade de prevalência de PAIR é um fato eminente, portanto há uma
necessidade de não apenas realizar audiometrias ocupacionais pontuais, mas também de
monitorar a audição dos trabalhadores de forma longitudinal, como parte de um programa de
30
conservação auditiva. Resultados encontrados em estudos relacionados à prevalência de PAIR
contribuíram para melhor compreensão do comportamento de algumas das principais
características relacionadas à doença, em uma situação particular de organização do trabalho,
relativamente comum nas indústrias brasileiras (GUERRA et al, 2005 ; TELES; MEDEIROS,
2007).
1.3 A SAÚDE DO TRABALHADOR E A ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA
O trabalho humano é um importante componente para evolução social e econômica de
uma sociedade. Através dele o homem garante sua subsistência e da sua família e deve se
sentir satisfeito em suas atividades laborais, pois é através delas que colhe os resultados de
seu próprio esforço. Trabalhar deve ser algo prazeroso que traga satisfação pessoal e
profissional ao indivíduo (RODRIGUES et al, 2012).
Na sociedade brasileira, o trabalho é mediador de integração social, tanto por seu valor
econômico quanto cultural tendo assim, importância fundamental no modo de vida das
pessoas e na sua saúde física e mental. Fica claro que os trabalhadores, tanto individualmente
como coletivamente, devem estar cientes do desgaste sofrido e que se não bem administrado
pode desencadear processos patológicos (TRINDADE et al, 2006).
Cuidar da saúde do trabalhador é buscar espaços e condições de trabalho saudáveis
fazendo com que sua atividade diária seja menos prejudicial para ele, tanto no campo físico
quanto no campo psíquico. Dejours e Abdoucheli (2007, p. 125) ao citarem as condições de
trabalho fazem referência como “pressões físicas, mecânicas, químicas e biológicas do posto
de trabalho,” onde os corpos dos trabalhadores são afetados, ocasionando a eles desgaste,
envelhecimento e doenças somáticas.
O campo da saúde do trabalhador no Brasil passou a ser competência da União a partir
da constituição de 1988, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Em algumas cidades, há o
incremento de Programas de Saúde do Trabalhador na rede pública, na perspectiva da Saúde
Coletiva, estruturando-se ações de assistência e vigilância em saúde dos trabalhadores, com
característica interdisciplinar e interinstitucional (GONÇALVES, 2009).
Segundo Lacaz (2007) a saúde do trabalhador é campo de práticas e conhecimentos
cujo enfoque teórico-metodológico, no Brasil, emerge da Saúde Coletiva, buscando conhecer
e intervir nas relações de trabalho e de saúde-doença.
31
A abordagem de riscos à saúde do trabalhador permite que o controle de causas de
acidentes, sejam agentes físicos, químicos e biológicos causadores de agravos, esforços
físicos e sobrecargas mentais. Essa intervenção se efetiva basicamente no campo tecnológico,
mas tem consequências sobre a saúde, que devem ser acompanhadas, por meio de indicadores
sociais e sanitários (MACHADO, 1997).
Trabalhar integradamente as questões relacionadas à saúde do trabalhador e ao meio
ambiente é um passo fundamental para se desenvolver novas abordagens teóricometodológicas que possibilitem avançar nos processos de análise e intervenção sobre as
situações e eventos de riscos que são colocados para trabalhadores e o meio ambiente como
um todo (PORTO; FREITAS, 1997).
Segundo Mendes e Dias (1991), o objeto da saúde do trabalhador pode ser definido
como o processo saúde e doença dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho.
Representa um esforço de compreensão desse processo, como e porque ocorre, e do
desenvolvimento de alternativas de intervenção que levem à transformação em direção à
apropriação pelos trabalhadores e à dimensão humana do trabalho, numa perspectiva
teleológica.
Segundo Gonçalves (2004), a ação do fonoaudiólogo em saúde do trabalhador deve
visar à comunicação efetiva do mesmo, garantida pela audição preservada. Tal ação é
promotora da saúde, pois não se identificam os problemas auditivos unicamente, mas são
analisadas as formas como eles acontecem, permitindo ações para evitá-los e que irão
repercutir na melhoria da qualidade de vida do trabalhador.
A atuação fonoaudiológica engloba ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde nos diversos aspectos relacionados à comunicação humana em todo o ciclo vital, se
inserindo em unidades básicas de saúde, ambulatórios de especialidades, hospitais, unidades
educacionais, domicílios e outros recursos da comunidade (LIPAY; ALMEIDA, 2007).
O fonoaudiólogo é o profissional capacitado para avaliar, diagnosticar e atuar no
sentido da prevenção, através dos seus conhecimentos sobre os agentes de risco à saúde, do
local ou órgão que pode ser lesionado e através da realização dos exames audiológicos. A
principal característica profissional do fonoaudiólogo é a sua atuação multidisciplinar por
possuir conhecimentos de outras áreas como física acústica, audiologia e educação,
permitindo uma atuação preventiva da perda auditiva em várias circunstâncias (MORATA;
ZUCKI, 2005, p.25).
32
A ação do fonoaudiólogo na área da saúde do trabalhador, bem como o
estabelecimento e a consolidação desse mercado de trabalho partiu do pioneirismo e da
determinação de alguns profissionais em um momento político propício. Espera-se que uma
trajetória similar desponte junto à saúde ambiental (MORATA; ZUCKI 2005, p.26).
Conforme descrito no Boletim nº 2 do Comitê Nacional de Ruído, no que tange à
avaliação audiológica do trabalhador exposto a ruído, um dos requisitos para confiabilidade
dos resultados da audiometria tonal limiar é que além de ser obrigatório por lei é o exame
realizado por profissional legalmente habilitado, isto é, o fonoaudiólogo ou o médico
(NUDELMANN et al, 2001).
Os agravos pertinentes à atuação do fonoaudiólogo na saúde do trabalhador são a
PAIR e os distúrbios da voz relacionados ao trabalho (DVRT). A notificação dos casos de
PAIR é obrigatória no Estado do Rio de Janeiro desde 2003, de acordo com a resolução da
SES nº 2.075, e nacionalmente desde 2004, conforme a Portaria GM/MS nº 777. (REDE
NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR, 2010).
A
notificação
de
agravos
da
atuação
fonoaudiológica
vem
acontecendo
gradativamente. Os profissionais envolvidos ainda precisam se conscientizar da importância
dessa atividade. Essa notificação é importante para produção de dados epidemiológicos que
embasem as medidas de controle e prevenção das doenças relacionadas ao trabalho.
Partindo do princípio de que a fonoaudiologia é uma área que vem avançando no
conhecimento científico e na atuação no campo da saúde do trabalhador, cabe ressaltar o
quanto se faz necessário a inserção deste profissional nas equipes de serviço especializado em
Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT.
Rodrigues e Silvino (2010) ao realizarem uma revisão na literatura sobre a exposição
ao ruído relacionada à saúde auditiva verificaram que o maior número de produções dentro
desse eixo temático se concentra entre os profissionais médicos e fonoaudiólogos. Tal análise
permitiu perceber a visibilidade da trajetória percorrida pela fonoaudiologia nessa temática.
O Conselho Federal de Fonoaudiologia (2011) e instituições afins estudam a
possibilidade de inclusão da Fonoaudiologia do Trabalho como uma área de especialidade da
profissão.
Normalmente, o que se observa nas empresas onde os funcionários estão sob o risco
de exposição ao ruído, com necessidade de monitoramento da audição é a atuação do
fonoaudiólogo como prestador de serviços ou como terceirizado.
33
Se em cada instituição tivesse um fonoaudiólogo atuando integradamente com a
equipe das áreas médica, de engenharia e de segurança através do desenvolvimento de ações
para prevenir os agravos à saúde, possivelmente os trabalhadores e a instituição seriam
beneficiados, na perspectiva de minimizar as doenças ocupacionais, bem como proteger a
integridade auditiva do trabalhador.
1.4 PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA
Para se evitar o impacto negativo do ruído sobre a qualidade de vida do trabalhador é
necessária a implantação de medidas preventivas. O objetivo de um Programa de Conservação
Auditiva (PCA) deve ser a preservação da audição, por meio da identificação de riscos,
monitoramento auditivo, medidas de proteção contra o ruído e medidas educativas
(GONÇALVES, 2004).
A finalidade de um PCA é estabelecer procedimentos adequados de gerenciamento das
medidas de controle de exposição ocupacional ao ruído. Como qualquer programa, a
eficiência do PCA depende do comprometimento de todas as pessoas envolvidas em sua
elaboração e execução.
Segundo Saldanha Júnior (2009, p. 13):
As atividades do PCA devem ser reavaliadas periodicamente visando ao
aprimoramento e à adequação em relação às modificações que possam
ocorrer na empresa, seja por demanda dos processos produtivos, seja pela
reorganização do trabalho, ou ainda, por mudanças da legislação ou dos
riscos ocupacionais.
Em 1965, no Brasil o Ministério do Trabalho e Previdência Social estabelece através
da portaria nº 491, no seu art. 2º que a eliminação da insalubridade poderia ocorrer pela
aplicação de medidas de proteção coletiva ou individual. Ainda na portaria nº 491, em seu
anexo onze, os quadros com descrição dos agentes insalubres e respectivos graus de
insalubridade eram demonstrados. Um desses quadros já mencionava sobre os trabalhos em
ambiente com excesso de ruído, não especificando, entretanto, as medidas de proteção contra
a exposição ao ruído. (KWITKO, 2001).
Em 1967 (Decreto Lei nº 229), enfocando a exposição ao ruído, destacou:
“obrigatoriedade das empresas quanto ao fornecimento de equipamentos de proteção
34
individual aos empregados gratuitamente e o uso dos EPI sendo obrigatório para os
empregados” e também ficou impedida a comercialização de qualquer equipamento de
proteção individual sem aprovação certificada pela segurança e higiene do trabalho. Tornouse obrigatório a realização de exame médico na admissão, periódicos e em atividades
insalubres, além da renovação semestral. Em 1978, a portaria nº 3.214 aprova as normas
regulamentadoras (KWITKO, 2001).
No que se diz respeito à exposição ao ruído na saúde do trabalhador, verifica-se que a
primeira obrigação legal surgiu em 1978, com a Portaria 3.214 e suas Normas
Regulamentadoras, sendo que a manutenção obrigatória da saúde auditiva, por meio de
audiometrias, surgiu em 1983 com a Portaria nº 12. A obrigação em manter o Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) surgiu em 1994 com a Portaria nº 25 (KWITKO,
2001).
No Brasil cabe ao Ministério do Trabalho (MTB) a função de regulamentar a
Legislação Trabalhista e a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do
Trabalho (FUNDACENTRO), a realização de estudos e pesquisas pertinentes aos problemas
de segurança, higiene, meio ambiente e medicina do trabalho relacionada à promoção das
melhorias das condições de trabalho, além de subsidiar a elaboração e revisão das normas
regulamentadoras. As Normas Regulamentadoras (NR), até o momento são trinta e quatro
dispondo sobre os serviços especializados em engenharia de segurança e medicina do
trabalho.
Na NR 7 estão descritas as especificações do Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional - PCMSO que estabelece a obrigatoriedade de elaboração e implementação do
programa com objetivo de promoção e preservação da saúde dos seus trabalhadores
(BRASIL, 1978).
Encontramos como parte integrante desta NR a Portaria 19 que tem como objetivo:
Estabelecer diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o
acompanhamento da audição do trabalhador através da realização de exames
audiológicos de referência e seqüenciais; fornecer subsídios para a adoção de
programas que visem à prevenção da PAIR e a conservação da saúde
auditiva dos trabalhadores. (Portaria SSST, 1998)
Na portaria supracitada também foram estabelecidos: a definição e a caracterização da
PAIR; os princípios e os procedimentos básicos para realização do exame audiométrico; a
interpretação dos resultados do exame audiométrico com finalidade de prevenção; os
parâmetros para diagnóstico da PAIR para definição da aptidão ao trabalho e as condutas
preventivas.
35
A NR 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA, visa à preservação
da saúde e da integridade física dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento,
avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham
a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais. Ministério do trabalho (BRASIL, 1978).
Na NR 15 (Lei 6.515 de 22/12/1977) estão descritas em seu anexo 1: as atividades, as
operações e os agentes insalubres, além dos limites de tolerância, de cada risco, inclusive os
tempos máximos de exposição permitida aos diversos níveis de intensidade sonora. Define
também, as situações que, quando vivenciadas nos ambientes de trabalho pelos trabalhadores,
caracterizam seu exercício insalubre (BRASIL, 1978).
Saldanha Júnior (2009) propôs em seu estudo a realização um protocolo de auditoria
para PCA, de acordo com a legislação brasileira onde concluiu que embora a Legislação
Brasileira tenha avançado nas últimas duas décadas, no que diz respeito às ações relacionadas
à conservação auditiva nos ambientes de trabalho, ainda hoje muitas empresas não possuem o
conjunto de ações coordenadas de forma necessária para garantir a eficácia do PCA, tanto do
ponto de vista preventivo, quanto no que diz respeito à atenção do trabalhador.
Miranda e Dias (2004) ao realizarem um estudo sobre a inspeção e auditoria PPRA e
PCMSO em empresas dos ramos da indústria, serviços e comércio constataram que entre as
vinte e oito empresas que elaboraram o PPRA, vinte e seis (92,9%) delas apresentaram algum
tipo de inconsistência dos dados em seu programa, por estarem incorretos ou por não terem
qualidade. Analisando-as conforme os riscos ocupacionais, verificou-se que em 82,1% dos
casos, as inconsistências relacionavam-se com os riscos físicos como, por exemplo, a
exposição ao ruído. Entre as empresas que apresentaram inconsistências relacionadas com os
riscos físicos, em 35,7% delas a inconsistência se referia ao reconhecimento dos riscos, em
35,7% à avaliação quantitativa, em 60,7% à implantação de medidas coletivas e, em 17,9% à
implantação de medidas de proteção individual.
No Chile, através do levantamento de alguns dados da exposição ao ruído, em
empresas metalúrgicas e indústria madeireira apontou-se que para lidar com o risco ruído, as
empresas devem estabelecer programas de monitoramento para acompanhar os trabalhadores
expostos garantindo a qualidade dos dispositivos de proteção auditiva e fornecendo
orientações de seleção e utilização adequada aos funcionários (VALENZUELA; VILLAGRA,
2006).
Em Taiwan resultado de um estudo mostrou que a alteração no limiar auditivo foi
maior para os trabalhadores que foram expostos ao ruído mais tolueno em comparação com
36
aqueles expostos somente ao ruído. Uma intervenção eficaz, nesse caso, seria o
estabelecimento de políticas que determinem os limites máximos de exposição para solventes
neste ramo de atividade (CHANG et al, 2006).
Em Washington, sérias preocupações foram levantadas sobre a adequação da
prevenção, regulação e estratégias de execução dos programas de prevenção da perda auditiva
nos Estados Unidos. Concluíram que a maioria das empresas oferece pouca ou nenhuma
atenção ao controle do ruído e que utilizavam, principalmente, a proteção auditiva como base
para prevenir a perda auditiva, apesar de 38% dos trabalhadores das empresas pesquisadas
não utilizarem os protetores, rotineiramente. As empresas preferiam adotar somente a
utilização dos protetores do que a adoção de programas de prevenção da perda auditiva com
medidas educativas e de controle (DANIELL et al, 2006).
1.5 A SAÚDE AUDITIVA E O CUIDADO EM SAÚDE
A saúde auditiva é um dos aspectos fundamentais para a comunicação humana. O que
difere o ser humano dos outros seres é a forma de se comunicar.
As ações de promoção, proteção e recuperação da saúde devem ser garantidas nos
vários aspectos relacionados à comunicação humana. Sua qualidade é determinante para a
autoconfiança, felicidade e segurança, propiciando uma comunicação mais efetiva e
fundamental para a saúde do sujeito (ANDRADE, 1996).
Faz-se necessário que o sujeito envolvido em alguma atividade de trabalho que possa
gerar déficits em sua saúde seja incentivado e orientado para a promoção de cuidado
proporcionando melhoria na sua qualidade de vida.
É um grande desafio para o ser humano fazer articular trabalho com cuidado à própria
saúde. A ruptura entre trabalho e cuidado é uma realidade desde a antiguidade, principalmente
a partir do processo industrial do século XIII, caracterizando-se pela ditadura do modo-de-sertrabalho como invenção, produção e dominação. Portanto, “o resgate do cuidado não se faz à
custa do trabalho e sim mediante uma forma de entender e realizá-lo. Para isso o ser humano
precisa voltar sobre si mesmo e descobrir o seu modo-de-ser-cuidado” (BOFF, 1999, p.99).
37
Para Christovam (2009, p.74):
O homem como sujeito do cuidado é também um ser cognoscível capaz de
aprender a conhecer a si mesmo, a sociedade e o ambiente o qual está
inserido, a sua cultura e as várias culturas que permeiam e influenciam a
sociedade, o ambiente e as relações estabelecidas.
O cuidado deve ser entendido como uma atividade que vai além do exercício
profissional. Esse cuidado deve existir entre os profissionais e os trabalhadores envolvidos em
uma organização. O fato é que pequenas mudanças no modo de agir com os outros
demonstrando interesse e cuidado com a sua saúde convergem para um relacionamento de
confiança entre a pessoa que deseja cuidar e o indivíduo que está recebendo o cuidado.
No ambiente ocupacional, focalizando as empresas de ônibus as ações de cuidado
podem determinar a diminuição dos impactos causados pelos riscos que envolvem a atividade
profissional. Trazer para os trabalhadores informações importantes sobre o cuidado de si pode
favorecer a autonomia, autoconfiança em busca de seu bem estar e, consequentemente a
melhoria na qualidade na sua saúde.
O cuidado passa por uma questão cultural em que o local ou pessoas dotadas de
princípios culturais diferentes percebem, praticam e conhecem formas diferentes de exercer o
próprio cuidado. Portanto, mesmo o cuidado humano sendo universal ele é demonstrado
através de diferentes ações, estilo de vida e de sentidos próprios.
Para Leininger2 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 299), o cuidado cultural é definido
como:
Os valores, as crenças e modos de vida padronizado aprendidos, subjetiva e
objetivamente e transmitidos que auxiliam, sustentam, facilitam ou
capacitam outro indivíduo ou grupo a manter seu bem estar, saúde, melhorar
sua condição humana e seu modo de vida ou lidar com a doença, a
deficiência ou a morte.
No caso do trabalhador, em situação particular os motoristas de ônibus, o cuidado é
primordial para manutenção da qualidade de sua saúde. Podem surgir distúrbios orgânicos
psíquicos e ergonômicos que irão afetar a execução da atividade de dirigir, além da vida
social e coletiva desse profissional. A atividade que eles desempenham é desgastante, e sua
eficácia está relacionada principalmente a fatores ambientais do local de trabalho e a forma
como eles lidam com esses fatores (BATTISTON et al, 2006).
2
GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.375p.
38
Segundo Maranhão (2000), as ações de cuidado com a saúde podem ser priorizadas e
organizadas de acordo com diferentes concepções sobre o processo saúde-doença, sobre o
desenvolvimento humano e de acordo com o contexto sociocultural.
Portanto a maneira como o indivíduo cuida da própria saúde depende de suas
concepções pessoais e de quanto esse cuidado é prioritário para si. Normalmente o que
acontece é a busca do bem estar quando a saúde se apresenta debilitada, fazendo com que o
indivíduo passe a se atentar para a necessidade de se cuidar.
Diante dessas considerações a prática do cuidado através de procedimentos ou
esclarecimentos sobre alguma situação que possa colaborar para a melhora do estado de saúde
do sujeito, deve vir acompanhada do empenho desse sujeito em reconhecer a importância de
se autocuidar.
Para George (2000), o autocuidado é o desempenho ou práticas de atividades que os
indivíduos realizam em seu benefício para manter a vida, a saúde, e o bem estar. Este ajuda a
manter a integridade estrutural e o funcionamento humano, contribuindo para o
desenvolvimento humano.
Para Silva et al (2009), o autocuidado é uma atividade do indivíduo apreendida pelo
mesmo e orientada para um objetivo, tendo como propósito, o emprego de ações de cuidado
seguindo um modelo, que contribui para o desenvolvimento humano.
O autocuidado foi mencionado pela primeira vez em 1958, a partir das reflexões da
Enfermeira Dorothea Orem sobre a necessidade dos indivíduos serem auxiliados pela
enfermagem. (GEORGE, 2000).
A ação de autocuidado, para Orem, é a capacidade ou o poder de engajar-se no
autocuidado. Essa capacidade seria afetada por fatores condicionantes básicos como sexo, o
estado de desenvolvimento, o estado de saúde, a orientação sócio-cultural, os fatores do
sistema familiar, os padrões de vida, os fatores ambientais, a adequação e a disponibilidade,
de recursos. Orem destaca também que normalmente os adultos se cuidam voluntariamente.
Os bebês, as crianças, os idosos, os enfermos e os deficientes exigem cuidados ou assistência
completa nas atividades de autocuidado (GEORGE, 2000).
A utilização do cuidado e do autocuidado na perspectiva da saúde auditiva pode ser
importante instrumento para que o trabalhador preserve a sua audição.
Cada vez mais a população em geral está exposta à níveis de pressão sonoras elevadas
decorrentes do aumento da urbanização ou pela utilização prolongada dos tocadores pessoais
de música em formato digital que atualmente se faz presente em meio aos adultos, crianças e
adolescentes.
39
Os indivíduos que trabalham sob o risco de exposição ao ruído devem se cuidar ainda
mais para que o efeito desta exposição não seja potencializado. Além disso, precisam ter
acesso a informações quanto a agentes agressores a sua saúde, ou seja, os riscos as quais estão
expostos decorrentes das suas atividades laborais, como é o caso dos motoristas de ônibus que
diariamente vivem a agressão de ruídos no ambiente das grandes cidades.
40
CAPÍTULO II
ABORDAGEM METODOLÓGICA
2.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo de caso observacional do tipo coorte, retrospectivo com
abordagem quantitativa.
O método de estudo de caso é uma forma de investigar um tópico empírico seguindo
um conjunto de procedimentos pré-especificados, conta com múltiplas fontes de evidência
para dar suporte ao estudo. Propicia uma descrição ampla e profunda do fenômeno social,
devido a sua capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências e permitir que as
características holísticas e significativas dos processos organizacionais e administrativos
sejam retidas (YIN, 2010).
Os estudos observacionais são investigações em que a informação é sistematicamente
colhida, onde não há uma intervenção ativa do investigador. Observações sistemáticas,
especialmente ao longo do tempo, podem permitir conclusão causal. É um tipo de desenho
que deve ser respeitado visto sua eficácia (LUNA FILHO, 1998).
Os estudos de coorte seguem grupos de sujeitos no tempo que têm como objetivo
descrever a incidência de certos desfechos, ao longo do tempo e analisar associações entre os
preditores e esses desfechos. Os estudos de coorte retrospectivos permitem os desfechos já
terem ocorrido quando o estudo foi iniciado (HULLEY et al, 2008).
41
Segundo Medronho (2004), os estudos de coorte são estudos observacionais, onde a
seleção dos sujeitos para um estudo depende das características de sua exposição a um
determinado risco. Os sujeitos são monitorados ao longo do tempo, com o objetivo de
verificar a incidência de doenças ou outro desfecho de interesse (MEDRONHO et al, 2004).
No estudo retrospectivo o investigador identifica uma amostra montada no passado,
coleta os dados sobre as medidas passadas, onde as informações já foram reunidas, bem como
as aferições de base realizadas e o período de seguimento, encerrado (HULLEY et al, 2008).
A abordagem quantitativa se refere a fatos pertinentes ao mundo concreto, objetivo e
mensurável advindo das ciências naturais ou sociais. Além disso, a quantificação dos dados
coletados é tratada por meio de análises estatísticas e matemáticas (FIQUEIREDO; SOUZA,
2011).
2.2 LOCAL DO ESTUDO
A pesquisa foi realizada em uma empresa de transporte coletivo, localizada no
município do Rio de Janeiro, devidamente autorizada pela Diretoria da Empresa.
A empresa se caracteriza como particular, prestando serviço público. Faz parte do
ramo rodoviário, desde a década de 60 quando iniciou a construção de seu espaço físico e a
disponibilização da primeira frota de ônibus.
Nas instalações da empresa funcionam: o Setor de Recursos Humanos; o Serviço de
Medicina Ocupacional, com sala para realização das audiometrias; Refeitório; Serviço de
Mecânica e Abastecimento dos ônibus.
A empresa opera, atualmente, com cento e sessenta e oito carros em oito linhas e
quatro serviços que ligam o centro da Cidade à Zona Norte, e da Zona Sul à Zona Norte da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A frota inclui: ônibus padrão, microônibus,
supermicros e ônibus adaptados para acesso a portadores de deficiência.
Em dezembro de 2008, a empresa, recebeu o prêmio “Parceria Eficiente 2008” na
categoria empresa, instituído pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência. Esse
prêmio é atribuído todo ano a empresas, empresários, instituições comunitárias, cidadãos,
instituições públicas e servidores municipais que promovem inclusões de portadores de
deficiência no mercado de trabalho e ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida das
pessoas com deficiência.
42
2.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO
A empresa de transporte coletivo campo dessa pesquisa, tem como parte integrante de
seu quadro funcional quatrocentos e trinta motoristas de ônibus urbano. A amostra foi
constituída de cento e doze motoristas, caracterizando aproximadamente 26 % da população
total.
Como critérios de inclusão para o estudo foram considerados: motoristas com data de
admissão nos anos de 2007, 2008 e 2009; ser do sexo masculino; idade inferior a sessenta
anos; função de motoristas e que desejassem participar do estudo, por opção.
Como critérios de exclusão foram considerados: os motoristas afastados pelo Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) e os motoristas que foram demitidos no período da
investigação.
2.4 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
Os motoristas foram informados sobre a finalidade do estudo e qual a utilidade dos
respectivos resultados, obedecendo aos cuidados éticos em relação ao sigilo e
confidencialidade dos dados, em concordância com a Resolução nº 196 de 10 de outubro de
1996 do Conselho Nacional de Saúde que referencia os princípios básicos da bioética:
autonomia, não maleficência, beneficência e justiça, visando assegurar os direitos e deveres
que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
Ainda em concordância com a Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
foi solicitado aos sujeitos da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE III(C) autorizando sua participação voluntária. O respeito devido à
dignidade humana exige que toda pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido
dos sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais manifestem a
sua anuência à participação na pesquisa.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário
Antonio Pedro da Universidade Federal Fluminense (HUAP/UFF) sob CAAE 6141.0.000.258-10 (ANEXO I(A).
43
2.5 COLETA DOS DADOS
2.5.1 Identificando os limiares auditivos
A primeira fase foi à identificação dos limiares auditivos, por meio do cadastro
audiológico dos motoristas de ônibus contidos no banco de dados do software Winaudio 7.4.
O Winaudio é um software de apoio audiológico direcionado para médicos e
fonoaudiólogos que atuam na área de audiologia clínica e ocupacional e para empresas que
necessitam de controle de saúde ocupacional. A versão ocupacional é direcionada para o
acompanhamento permanente do paciente.
A versão Ocupacional do Winaudio engloba nove métodos de avaliação, para esse
estudo foi utilizado como método de avaliação, o proposto pela Portaria 19 da Secretaria de
Segurança e Saúde do Trabalho.
Os valores dos limiares auditivos registrados por meio do software Winaudio 7.4
foram coletados pela pesquisadora. Essa coleta obedeceu à ordem cronológica relativa à data
de admissão dos motoristas. Primeiramente foram coletados os valores dos limiares dos
motoristas admitidos no ano de 2007(exame de referência) e seus exames sequenciais 2008 e
2009, depois dos admitidos em 2008 (exame de referência) e seus exames sequenciais 2009 e
2010, e por último, dos motoristas admitidos em 2009 (exame de referência) e exames
sequenciais 2010 e 2011.
Os dados foram inseridos em um banco de dados criado pela pesquisadora no software
Excel, e analisados posteriormente através de estatística descritiva.
2.5.2 Formulário sobre a exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva
A segunda fase foi realizada através de um formulário com perguntas relacionadas à
exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva aplicado aos motoristas de ônibus.
(APÊNDICE II(B)
Segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2007), o formulário é uma lista informal,
catálogo ou inventário, destinado à coleta de dados resultantes de observações, interrogações
e seu preenchimento é realizado pelo pesquisador. O formulário pode ser considerado
vantajoso, pois o pesquisador junto ao sujeito pode esclarecer as dúvidas em relação aos
questionamentos apresentados, garantindo a uniformidade das informações.
44
A aplicação do formulário, inicialmente foi efetuada no dia da realização do exame
audiométrico periódico dos motoristas de ônibus.
Devido ao prazo para o término do estudo, a realização da aplicação do formulário, se
deu em dias extras, durante os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro de 2011,
obedecendo aos turnos de trabalho dos motoristas. Mediante esse fato aplicou-se o formulário
a noventa e quatro motoristas não sendo possível a resposta de toda a amostra (cento e doze
motoristas).
Os motoristas do primeiro turno responderam ao formulário, junto com a
pesquisadora, antes do início de sua jornada de trabalho, na garagem da empresa. O primeiro
turno normalmente iniciava suas atividades, por volta das quatro horas da manhã.
Os motoristas do segundo turno responderam ao formulário, junto com a pesquisadora,
ao término de sua jornada de trabalho, durante a entrega dos veículos na garagem da empresa.
O horário do término das atividades do segundo turno era em torno de duas horas da manhã.
O resultado das perguntas respondidas através do formulário foi inserido em um banco
de dados criado pela pesquisadora no software Excel, analisados posteriormente através de
estatística descritiva.
2.5.3 Descrição do Programa de Conservação Auditiva
A terceira fase do estudo constou da descrição do Programa de Conservação Auditiva
através de um formulário seguindo as recomendações para a elaboração do PCA segundo o
Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva Boletim nº 6, 1999 (APÊNDICE I(A).
A pesquisadora agendou uma visita com a equipe de Segurança do Trabalho da
empresa. Durante a visita foi apresentado o PPRA sendo observadas as informações
pertinentes aos profissionais do tráfego, em particular aos motoristas de ônibus.
As etapas que constituem o PCA foram informadas pela equipe de segurança do
trabalho que se propôs a discorrer sobre cada etapa, mediante o formulário em forma de check
list apresentado pela pesquisadora.
A pesquisadora não teve acesso ao documento físico do PCA, pois segundo a Equipe
de Segurança do Trabalho o mesmo se encontra em reformulação devido à recente transição
do pessoal da Engenharia de Segurança.
45
2.6 ANÁLISE DOS DADOS
A análise descritiva é apresentada sob forma de tabelas e os dados observados, através
de média ± desvio padrão (DP) e mediana, juntamente com gráficos ilustrativos e com os
dados categóricos, através de frequência e percentual.
A análise estatística foi composta pelos seguintes métodos:
- Análise de Variância (ANOVA): procedimento utilizado para comparar três ou mais
tratamentos. Existem muitas variações da ANOVA devido aos diferentes tipos de
experimentos que podem ser realizados.
Foi utilizada a ANOVA de Friedman3 para verificar se existe variação significativa na
audiometria (em dB) ao longo de três anos consecutivos. A ANOVA de Friedman é um teste
não paramétrico que compara três ou mais grupos emparelhados. O referido teste pode ser
utilizado para responder à pergunta, no caso das amostras pertencerem à mesma população.
- Teste de comparações múltiplas de Nemenyi:4 foi aplicado para identificar quais os
anos que diferem significativamente entre si.
- Testes não paramétricos foram aplicados, pelo fato de as medidas da audiometria não
apresentarem distribuição Gaussiana, devido à grande dispersão e rejeição da hipótese de
normalidade, segundo o teste de Kolmogorov-Smirnov, que determina se dois conjuntos de
dados diferem, significativamente.
O critério de determinação de significância adotado foi o nível de 5%.
A análise estatística foi processada pelo software SAS 6.11 (SAS Institute, Inc., Cary,
NC).
3
HOLLANDER, Myles; WOLFE, Douglas A. Nonparametric statistical methods. John Wiley & Sons: New
York, Capítulo 7, 1973.
4
NEMENYI, P. Distribution-free multiple compararisons. Ph.D.Thesis, Princepton University, 1963.
46
CAPÍTULO III
RESULTADOS
3.1 ANÁLISE INICIAL DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS ENTRE
AS ORELHAS DIREITA (OD) E ESQUERDA (OE)
Essa análise teve como objetivo definir através da identificação de variação
significativa dos limiares auditivos, qual abordagem analítica seria utilizada para o tratamento
dos dados entre as orelhas direitas (OD) e esquerdas (OE), se as mesmas seriam trabalhadas
em conjunto, permitindo a duplicação da amostra ou separadamente.
A tabela 1 fornece a média ± erro padrão (EP) do delta entre as orelhas (OE-OD) dos
limiares auditivos para cada frequência, e o correspondente nível descritivo (p valor) do teste
dos postos sinalizados de Wilcoxon.
Observou-se, que existe variação significativa dos limiares auditivos entre as orelhas
na frequência 500 Hz (p = 0,008) e 1000 Hz (p = 0,015) do primeiro exame realizado
(referência). No segundo exame (sequencial), as frequências de 2000 Hz (p = 0,026) e 4000
Hz (p = 0,018) variaram, significativamente. No terceiro exame (sequencial) a variação do
limiar foi observada na frequência 3000 Hz (p = 0,008).
Sendo assim, se fez necessário analisar a variação dos limiares auditivos ao longo de
três anos consecutivos separadamente por orelha.
47
Tabela 1 - Delta entre orelhas (OE-OD) para cada ano e frequência.
ANO Frequência (Hz) média
±
EP
p valor a
500
-0,76
±
0,82
0,008
1000
-1,03
±
0,71
0,015
2000
1,29
±
0,81
0,22
3000
0,76
±
0,96
0,56
4000
2,01
±
1,08
0,15
6000
-1,03
±
0,98
0,22
8000
-0,13
±
1,17
0,63
500
0,89
±
0,72
0,50
1000
0,49
±
0,78
0,82
2000
1,92
±
0,86
0,026
3000
0,85
±
0,90
0,88
4000
2,54
±
1,09
0,018
6000
0,27
±
1,22
0,91
8000
0,00
±
1,23
0,71
500
-0,40
±
0,63
0,21
1000
0,22
±
0,65
0,86
2000
0,58
±
0,84
0,69
3000
2,59
±
0,96
0,008
4000
1,21
±
1,10
0,54
6000
0,54
±
1,30
0,69
8000
0,18
±
1,34
0,57
1°
2°
3°
a
teste dos postos sinalizados de Wilcoxon
48
3.2 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS AO LONGO
DE TRÊS ANOS CONSECUTIVOS SEPARADAMENTE POR ORELHA
As tabelas dois e três fornecem a média ± desvio padrão (DP) e mediana dos limiares
auditivos ao longo de três anos consecutivos, e o correspondente nível descritivo (p valor) do
teste estatístico para a orelha direita e esquerda, respectivamente.
A análise estatística foi composta pela ANOVA de Friedman para verificar se existe
variação ao longo do tempo e pelo teste de comparações múltiplas de Nemenyi, ao nível de
5%, que identifica quais os anos que diferem significativamente entre si, os quais foram
descritos na coluna de “diferenças significativas”.
A proposta foi identificar a variação dos limiares ao longo de três anos consecutivos,
separadamente, por orelha.
Observou-se, segundo a ANOVA de Friedman, que existe variação significativa em
todas as frequências da orelha direita longitudinalmente, exceto na de 3000 Hz (p = 0,59).
Pelo teste de comparações múltiplas, ao nível de 5%, identificou-se, de uma forma
geral, um aumento do 1° ano e/ou do 2° ano para o 3° ano observado, conforme ilustram os
gráficos a seguir, numerados de 1 a 7.
49
Tabela 2 - Análise longitudinal da audiometria da orelha direita
Frequência
500Hz
1000Hz
2000Hz
3000Hz
4000Hz
6000Hz
8000Hz
a
b
ano média ± DP
mediana p valor a
1°
17,5 ± 6,7
15
2°
17,4 ± 6,4
15
3°
19,2 ± 6,1
20
1°
15,5 ± 7,0
15
2°
15,9 ± 7,9
15
3°
17,0 ± 6,2
15
1°
15,6 ± 8,3
15
2°
15,4 ± 8,7
15
3°
17,2 ± 7,7
15
1°
17,7 ± 10,5
15
2°
18,5 ± 10,4
15
3°
18,5 ± 9,0
15
1°
19,6 ± 11,4
17,5
2°
19,3 ± 11,2
15
3°
22,1 ± 11,3
20
1°
24,3 ± 14,3
20
2°
23,0 ± 12,3
20
3°
25,3 ± 12,4
20
1°
20,1 ± 12,9
17,5
2°
19,6 ± 12,9
15
3°
22,1 ± 12,1
20
ANOVA de Friedman (efeito do tempo).
teste de comparações múltiplas de Nemenyi, ao nível de 5%.
Diferenças
significativasb
1°  3°
0,021
2°  3°
0,022
1°  3°
1° 3°
0,018
2°  3°
0,59
1°  3°
0,003
2°  3°
0,023
2°  3°
1°  3°
0,004
2°  3°
50
Tabela 3 - Análise longitudinal da audiometria da orelha esquerda
Frequência
ano média ± DP
mediana p valor a
Diferenças
significativas
b
500Hz
1000Hz
2000Hz
000Hz
4000Hz
6000Hz
8000Hz
a
b
1°
16,8 ± 8,6
15
2°
18,3 ± 8,6
20
3°
18,8 ± 7,4
20
1°
14,6 ± 7,9
15
2°
16,4 ± 9,6
15
3°
17,2 ± 8,2
15
1°
16,9 ± 10,3
15
2°
17,4 ± 10,2
15
3°
17,8 ± 9,8
15
1°
18,4 ± 12,0
15
2°
19,3 ± 11,4
15
3°
21,1 ± 12,0
20
1°
21,6 ± 12,8
20
2°
21,8 ± 11,7
20
3°
23,3 ± 12,7
20
1°
23,3 ± 12,7
20
2°
23,3 ± 12,2
20
3°
25,8 ± 14,5
20
1°
20,0 ± 13,3
15
2°
19,6 ± 12,3
20
3°
22,3 ± 13,5
20
1°  2°
< 0,001
1°  3°
1°  2°
< 0,001
1°  3°
0,10
1°  3°
0,001
2°  3°
0,022
1°  3°
1°  3°
0,026
2° 3°
1°  3°
0,003
2°  3°
ANOVA de Friedman (efeito do tempo)
Teste de comparações múltiplas de Nemenyi, ao nível de 5%.
Observou-se, segundo a ANOVA de Friedman, que existe variação significativa em
todas as freqüências da orelha esquerda, exceto na de 2000 Hz (p = 0,10).
Pelo teste de comparações múltiplas, ao nível de 5%, foi identificado, de uma forma
geral, um aumento do 1° ano e/ou do 2° ano para o 3° ano observado nas freqüências de 3000
Hz, 4000 Hz 6000 Hz e 8000 Hz. Nas frequências de 500 Hz e 1000 Hz, a variação também
foi significativa, aumentando do 1° ano para o 2° e 3° anos observados, conforme ilustram os
gráficos de 1 a 7.
51
Gráfico 1 - Audiometria na frequência de 500 Hz por orelha
Gráfico 2 - Audiometria na frequência de 1000 Hz por orelha
As frequências de 500 Hz e 1000 Hz apresentaram diferenças significativas entre os
anos analisados quando as orelhas foram avaliadas separadamente.
52
Gráfico 3 - Audiometria na frequência de 2000 Hz por orelha.
No caso da frequência de 2000 Hz não se observou variações significantes na orelha
direita.
A frequência de 2000 Hz não é uma frequência que isoladamente determina a presença
de PAIR. A alteração nessa frequência poderá ocorrer com aumento dos anos de exposição.
Gráfico 4 - Audiometria na frequência de 3000 Hz por orelha.
53
Gráfico 5 - Audiometria na frequência de 4000 Hz por orelha
Gráfico 6 - Audiometria na frequência de 6000 Hz por orelha
As frequências de 3000 Hz, 4000 Hz e 6000 Hz são as mais acometidas inicialmente
pela PAIR.
54
Gráfico 7 - Audiometria na frequência de 8000 Hz por orelha
A frequência de 8.000Hz não apresentou um comprometimento precoce ou acentuado
em relação às outras freqüências. Foi a freqüência que apresentou resultados mais
semelhantes entre as orelhas.
3.3 COMPARAÇÃO DOS DELTAS DOS LIMIARES ENTRE OS ANOS E AS
ORELHAS DIREITA E ESQUERDA
Esta análise tem por objetivo comparar os deltas dos limiares entre os anos e entre as
orelhas direita e esquerda.
A tabela 4 fornece a média ± erro padrão (EP) dos deltas dos limiares entre os três
anos observados da orelha direita e esquerda, e o correspondente nível descritivo (p valor) do
teste dos postos de Wilcoxon.
55
entre 2° e o 3°
entre 1° e 3° ano
entre 1° e 2° ano
Tabela 4 - Deltas absolutos entre os três anos observados por orelha e frequência
direita
esquerda
Frequência
p valor
média ± EP
média ± EP
500Hz
-0,18 ± 0,76
1,47 ± 0,70
0,036
1000Hz
0,27 ± 0,64
1,79 ± 0,71
0,15
2000Hz
-0,18 ± 0,64
0,45 ± 0,69
0,52
3000Hz
0,80 ± 0,78
0,89 ± 0,74
0,76
4000Hz
-0,31 ± 0,83
0,22 ± 0,80
0,75
6000Hz
-1,34 ± 1,02
-0,04 ± 0,79
0,65
8000Hz
-0,45 ± 0,88
-0,31 ± 0,79
0,92
500Hz
1,61 ± 0,74
1,96 ± 0,65
0,27
1000Hz
1,34 ± 0,63
2,59 ± 0,53
0,040
2000Hz
1,61 ± 0,65
0,89 ± 0,64
0,25
3000Hz
0,85 ± 0,77
2,68 ± 0,75
0,073
4000Hz
2,50 ± 0,73
1,70 ± 0,81
0,35
6000Hz
0,98 ± 1,01
2,54 ± 0,82
0,53
8000Hz
2,05 ± 0,78
2,37 ± 0,76
0,96
500Hz
1,79 ± 0,58
0,49 ± 0,68
0,20
1000Hz
1,07 ± 0,58
0,80 ± 0,61
0,94
2000Hz
1,79 ± 0,61
0,45 ± 0,60
0,094
3000Hz
0,04 ± 0,74
1,79 ± 0,71
0,014
4000Hz
2,81 ± 0,72
1,47 ± 0,74
0,15
6000Hz
2,32 ± 0,83
2,59 ± 0,82
0,81
8000Hz
2,50 ± 0,78
2,68 ± 0,87
0,88
EP: erro padrão.
Delta entre 1° e 2° ano = audiometria no 2° ano - audiometria no 1° ano.
Delta entre 1° e 3° ano = audiometria no 3° ano - audiometria no 1° ano.
Delta entre 2° e 3° ano = audiometria no 3° ano - audiometria no 2° ano.
Observou-se que a orelha esquerda apresentou delta do limiar do 1° para o 2° ano na
freqüência 500 Hz (p = 0,036), do 1° para 3° ano na freqüência 1000 Hz (p = 0,04) e do 2°
para o 3° ano na freqüência 3000 Hz (p = 0,014) mais significativo que a orelha direita.
56
3.4. CLASSIFICAÇÃO DAS AUDIOMETRIAS PELA PORTARIA 19 NOS EXAMES
CONSECUTIVOS
A tabela 5 fornece a frequência (n) e o percentual (%) das audiometrias ao longo de
três momentos consecutivos (os anos que foram feitos os exames), na amostra dos cento e
doze motoristas, conforme ilustra gráfico 8.
Tabela 5 - Classificação das audiometrias pela Portaria 19 nos exames consecutivos
1° ANO
2° ANO
3° ANO
N
%
n
%
n
%
normal
61
54,5
57
50,9
45
40,2
não sugestivo
34
30,4
32
28,6
41
36,6
sugestivo
17
15,2
17
15,2
20
17,9
estável
0
0
6
5,4
6
5,4
Portaria 19
Tabela 6 – Interpretação do resultado do exame audiométrico segundo a Portaria 19
Normal
Limiares < = 25
dB
Não sugestivo
Piora nos limiares
auditivos do exame
sequencial não
característico de
PAIR.
Sugestivo
Limiares > 25 dB nas
frequências 3000 e/ou
4.000 e/ou 6000 Hz
Estável
Não apresentam as
diferenças citadas
anteriormente.
57
Gráfico 8 – Audiometrias pela Portaria 19 ao longo de três momentos observados
Identificou-se no 1º ano (exames admissionais ou de referência), um total de 54,5% de
exames normais e no segundo e terceiro anos (exames sequenciais) 50,9% e 40,2%,
respectivamente.
Cabe
ressaltar,
que
a
ocorrência
das
classificações
de
desencadeamento de PAIR não foram identificadas na amostra avaliada.
agravamento
ou
58
3.5 RESULTADO DO FORMULÁRIO APLICADO AOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS
Buscou-se com o formulário abaixo, averiguar o conhecimento dos motoristas de
ônibus, em relação à exposição ao ruído e ao cuidado com a saúde auditiva.
A tabela 7 fornece a frequência (n) e o percentual (%) das respostas positivas e
negativas das 14 perguntas do formulário aplicado.
Tabela 7 - Descritiva do questionário (n = 94)
sim
Proposições
não
n
%
n
%
1 - Exerce outra atividade profissional em ambiente ruidoso
5
5,3
89
94,7
2 - Sensação de alguma diferença/alteração na audição após a jornada
de trabalho
33
35,1
61
64,9
3 - Incômodo com barulho muito alto
58
61,7
36
38,3
4 - Contato com substâncias químicas. Ex: Solventes/Pintura
20
21,3
74
78,7
5 - Histórico de infecções nos ouvidos
9
9,6
85
90,4
6 - Escuta de música com volume muito alto
22
23,4
72
76,6
7 - Dificuldade para entender a fala de outros em ambientes ruidosos
40
42,6
54
57,4
8 - Frequencia à ambiente muito ruidoso fora do ambiente de trabalho
9
9,6
85
90,4
9 - Importância da realização da audiometria
90
95,7
4
4,3
10 - Possibilidade de uso de protetor nos ouvidos
73
77,7
21
22,3
11 - Informações sobre perda auditiva provocada por ruído
71
75,5
23
24,5
12 - Participação em palestra sobre saúde auditiva
17
18,1
77
81,9
13 - Informações sobre cuidados com a audição/folheto, cartaz ou
outro meio de divulgação
35
37,2
59
62,8
14 - Importância da prevenção e o cuidado com a saúde auditiva
93
98,9
1
1,1
Os resultados do formulário aplicado foram divididos em duas categorias, tendo em
vista os dados constatados, a saber: A - Questões relacionadas aos sujeitos e suas
características auditivas, perguntas numeradas de 1 a 7 e B - Questões relacionadas ao
cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao ruído, perguntas numeradas de 8 a 14.
59
A - Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas:
Dos noventa e quatro respondentes, 94,7% declararam não exercer outra atividade
profissional (pergunta número 1). A pergunta número dois foi positiva em 69,9%, a qual
questionava se o trabalhador sentia alguma diferença, na audição após a jornada de trabalho.
Quando se perguntou sobre o incômodo com barulho muito alto, 61,7 % responderam
positivamente e o interessante que muitos dos motoristas reclamaram do motor do veículo e
do tráfego como a fonte geradora do ruído (pergunta 3).
Somente 21,3% mencionaram o contato ou trabalho com substâncias químicas
(pergunta 4). O histórico de infecções nos ouvidos atingiu menos de 10% da amostra
(pergunta cinco).
Na pergunta seis, 23,4% dos motoristas citaram a escuta de música com volume muito
alto. Neste caso, vale ressaltar que os mesmos mencionaram a utilização contínua de
tocadores de música eletrônicos individuais como, por exemplo: do tipo MP3.
Aproximadamente, 43 % dos sujeitos informaram ter dificuldade em entender a fala de outra
pessoa em ambiente ruidoso, conforme pergunta 7.
B. Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao
ruído (Pergunta 8 até a pergunta 14).
A maioria dos motoristas, 90,4% não frequentam ambientes ruidosos fora do local de
trabalho (pergunta 8). Na pergunta nove, 95,7% consideram a realização do exame
audiométrico uma avaliação importante para essa categoria profissional.
Em relação à utilização do protetor auditivo durante a execução de suas atividades,
22,3% não fariam o uso do equipamento (pergunta 10).
Um fato que chama atenção é a falta de conhecimento dos motoristas sobre os riscos
de exposição ao ruído. Somente 24,5 % já ouviram falar sobre a PAIR (pergunta 11).
Uma questão que merece destaque é que 81,9% da população estudada nunca
participaram de palestras sobre saúde auditiva (pergunta 12) e 62,8% nunca receberam
informações sobre cuidados com audição, seja através da mídia, de cartaz ou de folhetos
(pergunta 13), apesar noventa e três dos noventa e quatro motoristas entrevistados
considerarem importante a prevenção e o cuidado com a audição (pergunta 14).
60
3.5.1 Caracterização dos sujeitos da amostra
Na amostra analisada, a média da faixa etária foi de 38 anos aproximadamente,
variando de vinte cinco a sessenta anos de idade.
O tempo de exposição mediano dos motoristas ao ruído durante a vida laborativa, no
grupo em geral foi de dois anos, variando de um a vinte cinco anos.
Convém destacar que dos cento e doze motoristas, um motorista tinha vinte e cinco
anos de exposição; um com onze anos e outro com apenas um ano de exposição. Da amostra,
três dos motoristas estão expostos por seis anos, e os demais, se encontram expostos, no
espaço de dois a quatro anos, conforme pesquisa em epígrafe.
A jornada de trabalho dos motoristas de ônibus é de sete horas diárias, podendo se
estender, com a realização de horas extras.
Portanto, o cuidado com os aspectos funcionais e sociais da audição é essencial para
que o processo comunicativo não seja comprometido durante o desempenho da respectiva
atividade profissional, cuja eficácia, está relacionada principalmente aos fatores ambientais do
local de trabalho.
3.6 DESCRITIVA DO PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA
De forma a responder o terceiro objetivo, a descrição do Programa de Conservação
Auditiva da empresa foi efetuada através de um formulário (APÊNDICE I) seguindo as etapas
recomendadas pelo Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, em seu Boletim nº 6
(1999), onde constam as recomendações para a elaboração de um PCA, considerando a
possibilidade de prevenção, a alta prevalência, a irreversibilidade e a severidade dos efeitos da
PAIR, a saber: reconhecimento e avaliação de riscos para audição, gerenciamento
audiométrico, medidas de proteção coletiva, medidas de proteção individual, educação e
motivação, gerenciamento dos dados e avaliação do programa.
Para que o PCA seja desenvolvido de maneira estruturada, se faz necessária uma
gestão que contemple avaliações e intervenções sobre o efeito dos níveis de pressão sonora
elevada e outros agentes sobre a audição que deve primar pelo reconhecimento, antecipação e
controle dos riscos, frente á saúde dos trabalhadores expostos, além do envolvimento de
61
profissionais das áreas de: Saúde, Segurança, Gerência Industrial, Recursos Humanos, bem
como, dos trabalhadores das empresas.
I - Reconhecimento e avaliação de riscos para audição:
Nesta etapa se identifica e avalia todos os riscos que possam afetar a audição, levando
em conta a interação entre esses agentes, além de caracterizar a exposição por meio de
avaliação individual e coletiva.
Quadro 2 - Reconhecimento e avaliação de riscos para audição
Identificação dos
riscos
Avaliação dos
riscos
Níveis elevados
de pressão
sonora
Dosimetria de
ruído por
Carroceria
Produtos
químicos
Vibrações
Interações entre estes
agentes
Em motoristas Em motoristas Em motoristas o item
o item não é
o item não é
não é avaliado
avaliado
avaliado
A exposição a produtos químicos, interações entre ruído e produtos químicos e
vibrações não são avaliados para categoria profissional de motoristas de ônibus.
Quadro3 - Caracterização da exposição
Avaliação individual
Coletiva
Função
Realizado
Realizado
Realizado
Os níveis elevados de pressão sonora são avaliados in loco, através da realização da
dosimetria de ruído, com dosímetro posicionado no motorista de ônibus. A dosimetria é
realizada considerando a carroceria dos ônibus.
Como por exemplo: nos microônibus com ar condicionado, foi mensurado o valor de
70,2 dB (A) como dose de exposição.
Na Carroceria da Marca Caio, ônibus sem ar condicionado foi mensurada a dose de
62,9 dB (A)
Na Carroceria da Marca Neobus, também sem ar condicionado foi mensurada a dose
de 66,8 dB (A).
Os valores encontrados não se apresentaram acima do permitido para a exposição em
7 horas diárias de 86 dB (A), segundo os parâmetros da NR15.
62
II - Gerenciamento Audiométrico
O gerenciamento audiométrico consiste na padronização dos procedimentos para a
realização e análise de exames com o objetivo de identificar alterações audiométricas
ocupacionais (advindas do processo de trabalho) ou não ocupacionais (não advindas do
processo de trabalho).
Quadro 4 - Gerenciamento Audiométrico
Padronização dos
procedimentos para a
realização e análise de
exames
Identificação de alterações
audiométricas ocupacionais
Identificação de alterações
audiométricas não ocupacionais
Realizado
Não Realizado
Não Realizado
A Empresa realiza a audiometria: na admissão; após seis meses da admissão; na troca
de função; periodicamente, isto é, anualmente; e nos casos de demissão.
A identificação de alterações audiométricas ocupacionais e não ocupacionais ainda
não está sendo efetuada.
III - Medidas de Proteção Coletiva (Engenharia, Administrativas):
Uma vez identificados e avaliados os agentes de risco, sugere-se ações que devem
seguir a seguinte hierarquia: Controle da emissão na fonte principal de exposição ou risco;
controle da propagação do agente no ambiente de trabalho; controles administrativos.
Quadro 5 - Medidas de Proteção Coletiva
Controle da emissão na fonte Controle da propagação do Controles administrativos
principal de exposição ou risco agente no ambiente de
trabalho
Se identificado
Se identificado
Se identificado
Quando as medidas de proteção coletiva não atenuam os riscos completamente ou oferecem
proteção parcialmente ao trabalhador, se faz necessário a introdução das medidas de proteção
63
individual, como o uso de EPI, com vistas a reduzir os efeitos negativos do ambiente de
trabalho ao trabalhador.
IV – Medidas de Proteção Individual
Nesta etapa é efetuada a seleção, indicação, adaptação e acompanhamento da
utilização do equipamento de proteção individual (EPI) adequado aos riscos.
EPIs são utilizados para reduzir ou minimizar a exposição ou o contato com agentes
físicos, químicos ou biológicos. O uso de proteção auricular reduz a probabilidade de lesões
auditivas, quando os protetores são adequados para o tipo de ruído a que se está exposto e
quando são usados adequadamente.
Quadro 6 - Medidas de Proteção Individual
Seleção, indicação de EPI
Adaptação de EPI
Não realizado
Não realizado
Acompanhamento do EPI
adequado aos riscos.
Não realizado
A proteção individual do motorista não é realizada devido à disposição Código
Nacional de Trânsito Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, que veta o uso dos fones de
ouvido para os motoristas.
V - Educação e Motivação
Consiste em desenvolver atividade que propiciem informação, treinamento e
motivação tanto dos trabalhadores como dos profissionais das áreas de saúde, segurança e
administração da instituição.
Quadro 7 - Educação e Motivação
Trabalhadores
Profissionais da Área de
Saúde
Trabalhadores/ profissionais
da área de Segurança
Trabalhadores/ profissionais da
área de Administração
Durante a SIPAT
Durante a SIPAT
Durante a SIPAT
64
A etapa de Educação e Motivação é realizada pelos psicólogos e pelos profissionais do
departamento de tráfego, durante a Semana Interna de Prevenção de Acidentes (SIPAT).
VI - Gerenciamento dos Dados
A sistematização dos dados obtidos nas etapas anteriores é realizada através do
gerenciamento dos dados para subsidiar ações de planejamento e controle do PCA.
Quadro 8 - Gerenciamento dos Dados
Sistematização dos dados
obtidos nas etapas anteriores
Em Construção
Ações de planejamento do
PCA
Em Construção
Ações de controle do PCA
Em Construção
As etapas de gerenciamento dos dados e avaliação do programa estão em construção
devido à recente transição do pessoal da Engenharia de Segurança.
VII - Avaliação do Programa
O objetivo principal de qualquer PCA é evitar ou reduzir a ocorrência de perdas
auditivas ocupacionais, portanto nesta etapa priorizam-se avaliar a abrangência e qualidade do
programa; avaliar os resultados das audiometrias individual e setorialmente.
Quadro 9 - Avaliação do Programa
Avaliar a abrangência
dos componentes do
PCA
Avaliar a qualidade
dos componentes do
PCA
Em Construção
Em Construção
Avaliar os resultados
dos exames
audiométricos
individuais
Em Construção
Avaliar os resultados dos
exames audiométricos
setorialmente
Em Construção
Pondera-se que as peculiaridades de cada instituição deverão ser observadas na
elaboração do PCA, havendo necessidade de reavaliação anual.
65
CAPÍTULO IV
DISCUSSÃO
4.1 IDENTIFICAÇÃO DA VARIAÇÃO DOS LIMIARES AUDITIVOS
Com objetivo de se definir através da identificação da variação significativa dos
limiares auditivos, qual abordagem analítica seria utilizada para o tratamento dos dados entre
as orelhas direita (OD) e esquerda (OE), foi realizada uma análise inicial da variação dos
limiares auditivos entre as orelhas, para se verificar se os dados seriam trabalhados em
conjunto permitindo a duplicação da amostra ou separadamente. Observou-se, que existe
variação significativa dos limiares auditivos entre as orelhas, sendo assim, foi proposto
analisar a variação dos limiares auditivos ao longo de três anos consecutivos separadamente
por orelha
Como resultado da identificação da variação dos limiares ao longo de três anos
consecutivos, separadamente, por orelha, observou-se que existe variação significativa em
todas as frequências da orelha direita, exceto na de 3000 Hz e que na orelha esquerda também
existe variação significativa em todas as freqüências, exceto na de 2000 Hz. Conforme os
resultados apresentados nas tabelas dois e três.
Em um estudo que também se propôs a analisar a variação dos limiares audiométricos
em Trabalhadores Submetidos a Ruído Ocupacional, constatou se que 24,3% dos
trabalhadores apresentavam ocorrências de alteração dos limiares auditivos na faixa de
freqüência de 3 a 6 KHz. Pelos resultados, verificou-se diferença significativa dos limiares
auditivos entre as avaliações, predominando maior comprometimento para a orelha direita
(OD) (SANTOS; FERREIRA, 2008).
66
Comparando os limiares da orelha direita e esquerda observou-se neste estudo, que
orelha direita não apresentou diferenças significantes nas freqüências analisadas dos exames
audiométricos realizados, porém a orelha esquerda apresentou diferenças significativas em
três freqüências (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz), essas diferenças identificadas não indicam que
a orelha esquerda está mais comprometida que a orelha direita, porém pode sugerir um sinal
inicial de uma posterior alteração. Além disso, a freqüência de 3000 Hz é uma das freqüências
que são primeiramente atingidas pela PAIR e são passíveis de acompanhamento.
Em contrapartida, o estudo realizado por Siviero et al (2005) concluíram que 28% da
população estudada (motoristas de ônibus) apresentaram traços sugestivos de perda auditiva e
que a maior parte desses audiogramas mostrou maior alteração unilateralmente à direita, e que
a frequência mais atingida foi a de 4000 Hz. Semelhantemente, o resultado do estudo de
Lacerda et al (2010) observou nos achados audiológicos de motoristas de ônibus alterações
auditivas sugestivas de PAIR, com configuração audiométrica em entalhe bilateral, sendo
4000 e 6000 Hz, as frequências mais acometidas.
A identificação dos limiares através da Classificação Portaria 19 possibilitou o
acompanhamento da progressão da PAIR, comparando-se os exames de referência e
sequencial.
Assim sendo, os resultados encontrados de acordo com a Classificação da Portaria 19
nesse estudo, evidenciam que houve uma redução do número de motoristas (61) com exame
de referência dentro dos limites de normalidade, e reduzindo para 45 motoristas no terceiro
ano observado (exame sequencial). Em contrapartida, se percebe que o padrão auditivo dos
exames não sugestivos de PAIR, no terceiro ano foi crescente totalizando 36,6% da população
estudada, se aproximando dos indivíduos incluídos no padrão normal. Conforme a tabela
cinco e o gráfico oito.
Os exames não sugestivos de PAIR são os que apresentaram piora nos limiares
auditivos, mas que não é característico da patologia profissional. Normalmente, as situações
enquadradas neste caso podem ser de diversas causas, como: o aparecimento de alguma
alteração condutiva ou mista nas frequências baixas, a predominância de limiares mais
acometidos nas baixas frequências, a aceleração tardia do comprometimento do limiar na
frequência de 8000 Hz, dentre outras (FERREIRA JÚNIOR, 1998).
Na classificação sugestiva de PAIR, no primeiro ano, 15,2% dos sujeitos já
apresentaram a configuração dos seus limiares compatível com a PAIR. No segundo ano
permaneceu estável. Porém, no último ano analisado ocorreu um aumento de 2,7% chegando
à marca de 17,3%.
67
Segundo Ferreira Júnior (1998), um exame único deve ser considerado compatível
com a PAIR, se os limiares auditivos nas frequências de 3000 Hz, 4000 Hz e/ou 6000 Hz
estão mais elevados do que nas outras frequências, sendo o comprometimento do tipo
neurossensorial (quando os limiares detectados pela via aérea e via óssea estão igualmente
afetados).
Almeida et al (2000) ao analisarem a evolução dos limiares auditivos de trabalhadores
encaminhados ao Serviço Médico de Saúde do Trabalhador, pertencente ao Serviço Social da
Indústria (SESI), por já estarem classificados com perda auditiva ocupacional, observaram
que a lesão teve início, afetando gravemente 4000 Hz e evoluiu atingindo as frequências
circunvizinhas. Observaram que na primeira década houve comprometimento inicial da
frequência de 4000 Hz, seguida por 6000 Hz. As frequências de 3000 Hz e 8000 Hz, embora
se afastem da curva normal, não apresentaram diferenças estatisticamente significativas, entre
ambas.
Comparando-se os exames de referência (primeiro ano) com o segundo, 5,4% dos
sujeitos apresentaram um deslocamento do limiar auditivo padrão, sendo então classificados
como estáveis em relação à PAIR (os limiares auditivos igualaram-se ou ultrapassaram por
média ou faixa de frequência testada). Já em relação ao segundo e terceiro anos, não houve
alteração, em números percentuais, permanecendo 5,8% na mesma classificação. Logo,
mesmo com uma alteração/deslocamento do limiar não houve piora no padrão auditivo, sendo
um fato positivo, porém digno de acompanhamento.
Cabe
ressaltar,
que
a
ocorrência
das
classificações
de
agravamento
ou
desencadeamento de PAIR não foi identificada na amostra avaliada. Este fato pode
representar que o cuidado e o acompanhamento do padrão audiométrico dos trabalhadores são
relevantes para a manutenção dos limiares auditivos, evitando assim, alterações auditivas de
origem ocupacional.
O tempo médio de exposição ao ruído da amostra analisada ainda não atingiu o seu
nível máximo de exposição, variando de um a vinte cinco anos, porém a maioria dos
motoristas tinha em média quatro anos de exposição, o que pode justificar a não ocorrência
das classificações de agravamento ou desencadeamento de PAIR. Deve-se considerar também
a susceptibilidade individual de cada motorista em relação à exposição ao risco.
A literatura considera que as alterações auditivas provocadas pelo ruído atingem seu
nível máximo de lesão nos primeiros dez a quinze anos de exposição ao ruído (Comitê
Nacional de Ruído e Conservação Auditiva. Boletim nº 6, 1999), o que confirma o estudo de
68
Cordeiro et al (1994), também com motoristas de ônibus na Cidade de Campinas, que
encontrou uma associação positiva entre a PAIR e o tempo acumulado de trabalho.
4.2 OS SABERES DOS MOTORISTAS DE ÔNIBUS SOBRE A EXPOSIÇÃO AO
RUÍDO E CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA
4.2.1 Questões relacionadas aos sujeitos e suas características auditivas
O exercício de outra atividade profissional em ambiente ruidoso não foi apontado pela
maioria dos motoristas de ônibus. Quando questionados relataram que a sua atividade por si
só, já era suficiente para o esgotamento físico e psíquico, e que não era possível trabalhar
mais em outro local. Segundo Batiston et al (2007), a atividade de dirigir é desgastante, causa
fadiga e sua eficácia está relacionada, principalmente, aos fatores ambientais do local de
trabalho e à forma como os motoristas lidam com esses fatores.
A pergunta número dois foi positiva em 69,9%, a qual questionava se o trabalhador
sentia
alguma
diferença
na
audição
após
a
jornada
de
trabalho.
Gonçalves,
(2007) observou em seu estudo, que os trabalhadores portadores de PAIR expostos a níveis
intensos de ruído, durante a jornada de trabalho vivenciaram desvantagens psicossociais, tanto
no ambiente de trabalho quanto no familiar e social. As dificuldades auditivas mais relatadas
pelos trabalhadores foram referentes a dificuldades de compreensão de fala em situações de
trabalho e familiares. Outro estudo foi o de Lacerda et al (2010), que constatou que as queixas
mais freqüentes, relacionadas à audição em motoristas de ônibus participantes de seu estudo
foram: zumbido e a sensação de plenitude auricular.
Quanto ao incômodo com barulho muito alto, 61,7% responderam positivamente,
ressaltando muitos dos motoristas, que as fontes geradoras de ruídos são: o motor do veículo e
o fluxo do trânsito.
Os veículos com motor dianteiro contribuem significativamente, para maior exposição
ao ruído e consequente aumento de probabilidade de ocorrer distúrbios auditivos, doenças
cardiovasculares, alto estado de estresse, dentre outros fatores agravantes para a saúde do
trabalhador, conforme afirmam Siviero et al (2005).
Freitas e Nakamura (2003) também destacaram a influência do posicionamento do
motor na gênese do ruído ocupacional dentro dos ônibus.
69
Aproximadamente 21% dos motoristas referiram o contato ou trabalho com
substâncias químicas como, por exemplo: solventes ou trabalho com pintura. A exposição
simultânea do trabalhador a ruídos intensos e outros agentes, tais como produtos químicos,
reforçam o desencadeamento de uma perda auditiva.
Em um estudo realizado por Fernandes e Souza (2006) sobre os efeitos auditivos em
trabalhadores expostos a ruído e produtos químicos foi observado que a gravidade da perda
auditiva era maior no setor onde foram avaliados os trabalhadores em exposição combinada.
Somente 10% da amostra estudada se referiram ao histórico de infecções nas orelhas.
Dias et al (2008) estimou em uma população de trabalhadores, com histórico de exposição ao
ruído ocupacional atendidos em dois ambulatórios de audiologia, que a prevalência de zumbido
aumenta de acordo com a evolução do dano auditivo.
O hábito de escutar música com volume muito alto foi relatado por vinte e dois
sujeitos participantes do estudo (23,4%), principalmente, a utilização de recursos pessoais de
música, como MP3 e similares. Esses aparelhos são potentes podendo atingir uma intensidade
sonora de até cento e vinte decibéis, equivalente a uma turbina de avião durante a decolagem
(Sociedade Brasileira de Otologia - SBO, 2011).
Fiorini (2004) realizou um estudo com dois grupos de sujeitos expostos e não expostos
a ruído ocupacional, e em ambos os grupos, a maioria dos sujeitos relatou como um dos
principais hábitos sonoros, escutar rádio e o uso constante de walkman. Tais resultados
sugeriram que a exposição não ocupacional ao ruído, realmente faz parte do cotidiano dos
indivíduos.
Aproximadamente 43% dos sujeitos informaram ter dificuldade em entender a fala de
outra pessoa em ambiente ruidoso (COSTA; KITAMURA, 1994 apud MELLO, 1999).
Mencionam ainda, que pessoas expostas ao ruído podem ter uma redução na capacidade de
distinguir detalhes dos sons da fala em condições ambientais desfavoráveis, principalmente
em reuniões familiares, festas ou até mesmo, dificuldade em um programa de televisão em
meio ao ruído doméstico, pois a lesão na cóclea acarreta a incapacidade de distinguir
frequências superpostas ou subsequentes.
70
4.2.2 Questões relacionadas ao cuidado com a saúde auditiva e sobre a exposição ao
ruído
A maioria dos motoristas declarou não frequentar ambientes ruidosos fora do local de
trabalho. Esse fato é importante, tendo em vista que, a exposição extra-ocupacional também é
um aspecto a ser considerado, pois pode contribuir para potencializar os efeitos causados pela
exposição ocupacional, que já é muito impactante para a audição.
Segundo o Ministério da Saúde (2006, p. 28): “A exposição ao ruído em atividades de
lazer, por apresentarem configuração clínica e audiológica semelhante a das perdas auditivas
relacionadas ao trabalho, devem sempre ser lembradas e pesquisadas”.
O exame audiométrico foi considerado uma avaliação importante para a categoria
profissional. Destaca-se que a opinião do trabalhador é uma forma de se perceber se os
procedimentos adotados pela equipe de saúde ocupacional para ele é relevante, além de
caracterizar um momento de escuta do trabalhador. A audiometria tonal liminar ainda é a base
da avaliação audiológica, apesar dos enormes avanços tecnológicos atualmente disponíveis
(MARINI; HALPERN; AERTS, 2005).
Em relação ao uso do protetor auditivo, durante a execução da atividade profissional,
22,3% não fariam o uso do equipamento. Este fato demonstra que existe uma insegurança por
parte dos motoristas em utilizar o protetor, pois consideram que a audição é primordial para a
atividade de dirigir. Esse assunto merece um destaque maior nessa discussão, por ser muito
polemizado entre os profissionais da área de segurança do trabalho e da saúde.
Segundo o Código Nacional de Trânsito Brasileiro fica proibida a circulação com
fones de ouvidos conforme a Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, em seu artigo 252,
mencionando que não se deve dirigir o veículo utilizando-se fones nos ouvidos conectados à
aparelhagem sonora ou de telefone celular (BRASIL, 2008). Porém, de acordo com a NR 15
do Ministério do Trabalho (MTE), em caso de exposição ao ruído contínuo ou intermitente o
limite máximo de tolerância a exposição não deve ultrapassar de 85 decibéis em uma jornada
de trabalho de oito horas diárias. Nesse caso, o trabalhador precisa ter sua audição protegida,
por ser uma atividade considerada insalubre (BRASIL, 1978).
Segundo Fernandes (2005), que coordenou um estudo com cinquenta e um
profissionais de uma empresa de ônibus da capital paulista, apontou o diagnóstico de perdas
auditivas em 64,7% dos participantes. Em quatro das linhas de percurso dos ônibus avaliadas
nesse estudo, o ruído esteve sempre acima dos noventa decibéis, tendo como pico noventa e
quatro decibéis ou o equivalente ao ruído provocado por alguns helicópteros.
71
O pesquisador acrescenta ainda que: “o uso de qualquer tipo de tampão poderia
diminuir em vinte decibéis a exposição ao ruído para esses profissionais”. O resultado
apontado no estudo permite visualizar que a solução para essa situação somente poderá ser
real, quando as leis vigentes do Brasil estiverem de acordo com a realidade da exposição ao
ruído nos grandes centros urbanos.
O que se preza atualmente são as medidas coletivas de segurança. No caso do ramo de
transportes urbano e rodoviário, os quesitos que merecem atenção e melhoria são: o
isolamento acústico do veículo, as regulagens, a troca de juntas, a manutenção do aperto das
peças das latarias e a alteração do posicionamento do motor para parte traseira do veículo.
Um fato que chama atenção é a falta de conhecimento dos motoristas sobre os riscos
de exposição ao ruído. Somente 24,5% já ouviram falar sobre a PAIR e 62,8%, nunca
receberam informações sobre cuidados com audição seja através da mídia, cartaz ou folhetos.
Noventa e três (98,9 %) dos noventa e quatro motoristas entrevistados consideram
importante a prevenção e o cuidado com a audição, porém relataram nunca terem participado
de palestras sobre saúde auditiva.
Fornecer aos trabalhadores informações sobre o cuidado com a audição através de
treinamentos pertinentes e elaborados sobre a temática é condicionante para a efetividade do
PCA. Essa iniciativa foi evidenciada no estudo de Bramatti, Morata e Marques (2008) que
desenvolveram ações educativas com enfoque positivo em trabalhadores de uma indústria
frigorífica. O treinamento acarretou mudanças significativas, na percepção dos benefícios e de
obstáculos de uma ação preventiva.
4.3 O PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA DA EMPRESA DE
TRANSPORTE COLETIVO
Destaca-se que as informações inseridas no formulário elaborado para coletar dados
sobre o PCA, são pertinentes aos profissionais da área do tráfego em especial os motoristas de
ônibus.
A empresa possui funcionários de outros setores que também são expostos ao ruído
ocupacional, porém esses trabalhadores não foram alvo desse estudo.
Através da descrição do PCA da empresa analisada identificou-se que as etapas de
medições, caracterização dos riscos das exposições e o gerenciamento dos exames
72
audiométricos são realizados efetivamente. É sabido que esses aspectos normalmente recebem
uma atenção especial, pois são as questões mais evidenciadas nas fiscalizações.
Cabe ressaltar que o resultado da dosimetria realizada pela área de Segurança
demonstrou que o ruído médio avaliado encontrava-se abaixo do limite de tolerância proposto
pela legislação brasileira, que é de 85 dB (A). Mesmo assim constataram-se na amostra,
motoristas com classificação sugestiva de PAIR.
Porém as questões de educação e motivação, gerenciamento dos dados e avaliação do
programa estão sem receber a atenção merecida e são justamente essas etapas que podem
direcionar as ações de cuidado para com os trabalhadores.
Segundo os dados da descrição do PCA as etapas de educação e motivação só ocorrem
durante a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT).
Entende-se que a organização do trabalho dos motoristas interfere na participação
destes profissionais nas palestras oferecidas na SIPAT, porém se fosse feita uma distribuição
do quantitativo de profissionais em diferentes momentos de forma que não impactasse na
dinâmica da atividade da empresa seria uma maneira de contribuir para o encorajamento
desses trabalhadores em procurar cuidar da sua saúde auditiva, seja no ambiente de trabalho
ou em suas atividades em casa e de lazer, além disso, a empresa estaria adotando uma nova
postura diante das questões ligadas a saúde de seus trabalhadores desenvolvendo a
responsabilidade social.
Gonçalves 2004, em um estudo relacionado à implantação de um PCA ressalta que o
trabalho de conscientização dos empresários, profissionais e trabalhadores envolvidos nas
questões da saúde dos trabalhadores é fundamental para PCA. Cita que o envolvimento de
todos garante a efetivação das ações propostas, devido a troca de informações facilitando a
busca de soluções para as questões de prevenção dos aspectos auditivos.
Outras etapas importantes que não estão sendo desenvolvidas é o gerenciamento dos
dados e avaliação do programa.
O gerenciamento dos dados relativos às etapas anteriores do PCA contribui para que a
empresa, as áreas de engenharia e segurança e de saúde, administre esses dados e assim
possam determinar as ações necessárias para controle dos riscos de exposição. Através desse
gerenciamento elaboram-se as ações de planejamento do PCA e ações de controle do PCA.
A falta de avaliação da abrangência do PCA, da qualidade dos seus componentes e da
análise dos exames audiométricos comprometem a efetividade do programa. Assim sendo, o
desenvolvimento de um PCA estruturado se faz através de uma gestão que contemple
avaliações e intervenções sobre o efeito da exposição ao ruído ocupacional e a outros agentes
73
sobre a audição, através da participação dos trabalhadores recebendo informações e os
cuidados necessários para manter suas funções auditivas saudáveis.
4.4 AÇÕES DE CUIDADO COM A SAÚDE AUDITIVA
As ações de cuidado devem vir acompanhadas das orientações aos trabalhadores
quanto às possibilidades de melhoria das condições de saúde e eliminação dos fatores que
podem interferir na comunicação, tornando mais eficaz a interação do indivíduo com o seu
meio e com o seu processo de trabalho.
Segundo Christovam (2009, p.76): “A ação de cuidar fundamenta-se no
reconhecimento do corpo físico, sensível e receptivo que interage durante toda sua existência
com o ambiente no qual está inserido”.
Logo, tomando como base a definição de ação de cuidar supracitada, as ações de
cuidado com os motoristas de ônibus devem ser voltadas para propiciar sua relação ao
ambiente do qual ele é integrante.
Atuar através de campanhas educativas é uma forma de promover o cuidado à saúde e
à segurança, nos ambientes de trabalho. A implantação de tais ações pode ser realizada
através de treinamentos, palestras, disponibilização de cartazes com informações de cunho
educativo. A capacitação permanente do funcionário propicia o aprendizado e fortalece suas
concepções sobre uma determinada temática.
Para Leininger5 (1991 apud GEORGE, 2000, p. 300), “o cuidar é definido como ações
e atividades dirigidas para assistência, o apoio ou a capacitação de outro indivíduo ou grupo,
com necessidades evidentes para melhorar uma condição humana ou forma de vida [...]”.
Os treinamentos específicos por departamento da empresa é uma estratégia precursora
para que todos os motoristas e trabalhadores da empresa saibam lidar com sua organização de
trabalho dentro da perspectiva de controle de riscos ocupacionais. Devem ter como temas
abordados: técnicas de prevenção e cuidados com a saúde auditiva; importância da audição;
segurança no trabalho; doenças relacionadas à função de motoristas e cuidado com a saúde
geral.
5
GEORGE, Julia. B. Teorias de Enfermagem: os fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.375p
74
Além disso, outra estratégia interessante seriam ações de integração dos trabalhadores
onde eles poderiam receber um treinamento, ou participar de palestras quando fossem
admitidos na empresa, com o objetivo de conhecer os processos que envolvem sua atividade
de trabalho, assim como os cuidados necessários para a promoção, recuperação da saúde e
prevenção de agravos.
Segundo Bramatti, Morata e Marques (2008) desenvolver programas educativos é um
ato de inteligência, pois desenvolve a conscientização, resultando em benefícios diretos tanto
para a empresa, quanto para o trabalhador.
Uma ação de cuidado voltada para vigilância em saúde é a identificação dos
motoristas que apresentarem através do resultado das audiometrias a classificação sugestiva
de PAIR, essa ação seria promotora de adoção de medidas imediatas quanto a orientação e
esclarecimentos sobre os cuidados com a audição, e acompanhamento desse trabalhador junto
com o Serviço de Medicina Ocupacional da Empresa.
Portanto, a população observada nesse estudo, embora com resultados estatisticamente
significativos, representa uma amostra, dentro de um universo de trabalhadores motoristas e
expostos ao ruído ocupacional.
As ações de cuidado nas empresas com seus trabalhadores, visando o controle dessas
exposições e dos danos à saúde, por elas provocados é uma ferramenta essencial para compor
o Programa de Conservação Auditiva (PCA) e determinar a efetividade do programa junto à
saúde auditiva dos trabalhadores.
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como parte integrante desse estudo procurou-se identificar a ocorrência de variações
nos limiares auditivos dos motoristas ao longo de três anos consecutivos e através da
classificação da Portaria 19 se permitiu avaliar a evolução dos dados audiométricos.
Através dos resultados obtidos com esse estudo, conclui-se que:
Existem variações nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus ao longo de três
anos consecutivos, separadamente, por orelha, onde ocorreu a variação significativa em todas
as frequências da orelha direita, exceto na de 3000 Hz e que na orelha esquerda também existe
variação significativa em todas as freqüências, exceto na de 2000 Hz.
Além disso, comparando os limiares da orelha direita e esquerda observou-se que
orelha direita não apresentou diferenças significantes nas freqüências analisadas dos exames
audiométricos realizados, porém a orelha esquerda apresentou diferenças significativas em
três freqüências (500 Hz, 1000 Hz e 3000 Hz).
Diante da obtenção dos resultados encontrados de acordo com a Classificação da
Portaria 19, nesse estudo, evidenciou-se que houve uma redução do número de motoristas
com exame de referência dentro dos limites de normalidade, em relação ao terceiro ano
observado (exame sequencial). Em contrapartida, se percebe que o padrão auditivo dos
exames não sugestivos de PAIR, no terceiro ano foi crescente na população estudada.
Durante a aplicação do formulário, onde buscou-se verificar os saberes dos motoristas
sobre exposição ao ruído e cuidados com a saúde auditiva, uma questão que chamou atenção
foi que realmente a maioria dos motoristas de ônibus não têm conhecimento sobre os riscos de
exposição e cuidados com a saúde auditiva, advindos da falta de informação sobre a temática.
As informações encontradas poderão ser consideradas, a fim de se definir ações de cuidado
para compor o planejamento do PCA.
76
A descrição do PCA possibilitou reconhecer áreas mais deficitárias do programa, com
vistas ao ajuste na prática de intervenção e na elaboração de ações de cuidado junto aos
motoristas de ônibus.
Devido à organização de trabalho principalmente a variedade de horários dos
motoristas limitou-se a aplicação do formulário a amostra de cento e doze motoristas.
Portanto sua aplicação se deu a noventa e quatro motoristas dessa amostra.
Outra limitação foi à impossibilidade de acesso ao documento físico do PCA.
Ao cenário da pesquisa propõe-se: oferecer a capacitação permanente ao motorista,
principalmente durante a sua admissão na empresa que é um momento onde ele está receptivo
para conhecer a proposta da empresa. A abordagem de temas voltados para prevenção das
doenças relacionadas à função e cuidado com a saúde geral e auditiva seria uma forma de
instrumentalizar o trabalhador.
Outra ação importante é a identificação dos motoristas que apresentarem, através do
resultado das audiometrias ocupacionais, a classificação sugestiva de PAIR, pois assim
poderão receber o devido acompanhamento junto à equipe do PCMSO da Empresa.
Os resultados encontrados contribuem para um melhor conhecimento da necessidade
de programas de conservação auditiva que visem o cuidado com a audição do trabalhador.
Aponta para a necessidade de estudos que possam revelar o perfil auditivo de outros grupos
de trabalhadores como, por exemplo: cobradores e fiscais que diariamente são expostos
igualmente ao risco ruído.
Pretendeu-se com este estudo, não apenas a analisar os resultados dos exames
audiométricos e constatar as perdas auditivas, pretendeu-se atuar sob o ponto de vista do
cuidado fornecendo subsídios para ajudar os trabalhadores a protegerem a sua audição.
As ações de cuidado com a saúde podem evitar que os grupos de trabalhadores
adoeçam silenciosamente. Esse estudo destaca que a atuação do fonoaudiólogo através de
ações de cuidado é imprescindível para promover a saúde auditiva no ambiente de trabalho.
77
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84
APÊNDICE A
FORMULÁRIO
I - Reconhecimento e avaliação de riscos para audição:
Identificação e avaliação dos riscos
Produtos químicos
Vibrações
Níveis elevados de
pressão sonora
Avaliação individual
Interações entre estes
agentes.
Caracterização da exposição
Coletiva
Função
II - Gerenciamento Audiométrico
Padronização dos
procedimentos para a
realização e análise de exames
Identificação de alterações
audiométricas ocupacionais
Identificação de alterações
audiométricas não
ocupacionais
III - Medidas de Proteção Coletiva (Engenharia, Administrativas):
Controle da emissão na fonte
principal de exposição ou
risco.
Se o risco for identificado
Controle da propagação do
agente no ambiente de
trabalho
Controles administrativos
IV – Medidas de Proteção Individual
Seleção, indicação de EPI
Adaptação de EPI
Acompanhamento do EPI
adequado aos riscos.
V. Educação e Motivação
Desenvolvimento de atividades que propiciem informação, treinamento e motivação
Trabalhadores/ profissionais
Trabalhadores/ profissionais
Trabalhadores/ profissionais
das áreas de saúde
da área segurança
da área administração
VI. Gerenciamento dos Dados
Sistematização dos dados
obtidos nas etapas anteriores
Ações de planejamento do
PCA
Ações de controle do PCA
VII. Avaliação do Programa
Avaliar a abrangência
dos componentes do
PCA
Avaliar a qualidade
dos componentes do
PCA
Avaliar os resultados
dos exames
audiométricos
individuais
Avaliar os resultados
dos exames
audiométricos
setorialmente
85
APÊNDICE B
FORMULÁRIO
Nome: __________________________________________
Data de Nascimento: _____/_____/____
Tempo na Função: ____________
Data de admissão: _____/_____/____
Sexo: ( ) M
Tempo de Exposição:
Responda:
Sim
Não
1. Exerce outra atividade profissional em ambiente ruidoso?
2. Sente alguma diferença/alteração na audição após a jornada de trabalho?
3. Fica incomodado com barulho muito alto?
4. Tem ou já teve contato com substâncias químicas?
( Ex: solventes ou já trabalhou com pintura)
5. Histórico de infecções nos ouvidos
6. Escuta música com volume muito alto?
7. Tem
dificuldade
para
entender
a
fala
ruidosos?(bares/restaurantes/reunião em família)
em
ambientes
8. O Sr freqüenta ambientes muito ruidosos fora do ambiente de trabalho?
9. Considera importante a realização da audiometria?
10. Se fosse possível, usaria protetor nos ouvidos?
11. Já ouviu falar sobre perda auditiva provocada por ruído?
12. Já participou de alguma palestra sobre saúde auditiva?
13. Obteve informações sobre cuidados com a audição através de algum
folheto, cartaz ou outro meio de divulgação?
14. Considera importante a prevenção e o cuidado com a saúde auditiva?
Observações do Pesquisador: _____________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
86
APÊNDICE C
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Título provisório do Projeto: A efetividade de um programa de prevenção da audição aplicado em uma
empresa de transporte coletivo no município do Rio de janeiro
Pesquisador Responsável: Prof Dra Zenith Rosa Silvino e Andréa Maria dos Santos Rodrigues
Instituição a que pertence o Pesquisador Responsável: Universidade Federal Fluminense
Telefones para contato: (21) 9923-1659
Nome do voluntário: ______________________________________________
Idade: _____________ anos
R.G. _______________________
O Sr está sendo convidado a participar do projeto de pesquisa intitulado: “A efetividade de um
programa de prevenção da audição aplicado em uma empresa de transporte coletivo no município do
Rio de Janeiro”.
Esta pesquisa tem como objetivo geral: Analisar a efetividade do Programa de Prevenção de
perda auditiva de uma empresa de transporte coletivo em relação à perda auditiva induzida a níveis de
pressão sonora elevada. Considerando que a proteção dos trabalhadores quanto ao ruído se faz através
de um conjunto de atividades que visam prevenir a perda auditiva. Com este estudo pretende-se
contribuir para a prevenção e proteção da perda auditiva devido a exposição ao ruído intenso junto a
trabalhadores do ramo rodoviário numa perspectiva de reduzir o risco para promoção do cuidado em
saúde.
Para realização do estudo traçaram-se também objetivos específicos a seguir: descrição do
Programa de prevenção de perda auditiva da empresa de transporte coletivo; identificação da
ocorrência de alteração nos limiares auditivos dos motoristas de ônibus urbano através do cadastro
audiométrico dos exames ocupacionais e verificação do conhecimento dos motoristas de ônibus
urbano em relação aos riscos de exposição ao ruído e sobre o cuidado com sua saúde auditiva.
A presente pesquisa não oferece riscos ou danos físicos, econômicos ou sociais. Caso o Sr
tenha qualquer dúvida relacionada à pesquisa, poderá entrar em contato com a pesquisadora, por
telefone ou pessoalmente. A pesquisadora garante o acesso às informações atualizadas durante todo o
estudo.
Sua participação é voluntária, de maneira que está livre para retirar este consentimento e
deixar de participar do estudo a qualquer momento, sem nenhum prejuízo. As informações
relacionadas à sua privacidade serão mantidas em caráter confidencial.
Ao final do estudo, as informações poderão ser divulgadas em textos, periódicos ou eventos
científicos da área da saúde e áreas afins.
Eu,_______________________________________________,RG nº __________________ declaro
ter sido informado e concordo em participar, como voluntário, no projeto de pesquisa acima descrito.
Assinatura do voluntário:_____________________________________________________
Assinatura da Pesquisadora:__________________________________________________
Rio de janeiro, _____ de ____________ de _______
87
ANEXO A
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – PORTARIA 3214 - NR 7 ANEXO I - QUADRO II
Diretrizes e Parâmetros Mínimos para Avaliação e Acompanhamento da Audição
em Trabalhadores Expostos a Níveis de Pressão Sonora Elevados. (redação dada pela
Portaria nº 19 de 09 de Abril de 1998)
1. Objetivos
1.1. Estabelecer diretrizes e parâmetros mínimos para a avaliação e o
acompanhamento da audição do trabalhador através da realização de exames audiológicos de
referência e seqüenciais.
1.2. Fornecer subsídios para a adoção de programas que visem a prevenção da perda
auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados e a conservação da saúde auditiva dos
trabalhadores.
1. Definições e Caracterização
2.1. Entende-se por perda auditiva por níveis de pressão sonora elevados as
alterações dos limiares auditivos, do tipo sensorioneural, decorrente da exposição
ocupacional sistemática a níveis de pressão sonora elevados. Tem como características
principais a irreversibilidade e a progressão gradual com o tempo de exposição ao risco. A
sua história natural mostra, inicialmente, o acometimento dos limiares auditivos em uma ou
mais freqüências da faixa de 3.000 a 6.000 Hz. As freqüências mais altas e mais baixas
poderão levar mais tempo para serem afetadas. Uma vez cessada a exposição, não haverá
progressão da redução auditiva.
2.2. Entende-se por exames audiológicos de referência e seqüenciais o conjunto de
procedimentos necessários para avaliação da audição do trabalhador ao longo do tempo de
exposição ao risco, incluindo:
a) anamnese clínico-ocupacional;
b) exame otológico;
c) exame audiométrico realizado segundo os termos previstos nesta norma técnica.
d) outros exames audiológicos complementares solicitados a critério médico.
3. Princípios e procedimentos básicos para a realização do exame audiométrico
3.1. Devem ser submetidos a exames audiométricos de referência e seqüenciais, no
mínimo, todos os trabalhadores que exerçam ou exercerão suas atividades em ambientes cujos
níveis de pressão sonora ultrapassem os limites de tolerância estabelecidos nos anexos 1 e 2
da NR 15 da Portaria 3.214 do Ministério do Trabalho, independentemente do uso de protetor
auditivo.
3.2. O audiômetro será submetido a procedimentos de verificação e controle periódico
do seu funcionamento.
3.2.1. Aferição acústica anual.
3.2.2. Calibração acústica, sempre que a aferição acústica indicar alteração, e,
obrigatoriamente, a cada 5 anos.
3.2.3. Aferição biológica é recomendada precedendo a realização dos exames
audiométricos. Em caso de alteração, submeter o equipamento à aferição acústica.
88
3.2.4. Os procedimentos constantes dos itens 3.2.1 e 3.2.2 devem seguir o preconizado
na norma ISSO 8253-1, e os resultados devem ser incluídos em um certificado de aferição
e/ou calibração que acompanhará o equipamento.
3.3. O exame audiométrico será executado por profissional habilitado, ou seja, médico
ou fonoaudiólogo, conforme resoluções dos respectivos conselhos federais profissionais.
3.4. Periodicidade dos exames audiométricos.
3.4.1. O exame audiométrico será realizado, no mínimo, no momento da admissão, no
6º (sexto) mês após a mesma, anualmente a partir de então, e na demissão.
3.4.1.1. No momento da demissão, do mesmo modo como previsto para a avaliação
clínica no item 7.4.3.5 da NR -7 poderão ser aceito o resultado de um exame audiométrico
realizado até:
a) 135 (cento e trinta e cinco) dias retroativos em relação à data do exame médico
demissional de trabalhador de empresa classificada em grau de risco 1 ou 2;
b) 90 (noventa) dias retroativos em relação à data do exame médico demissional de
trabalhador de empresa classificada em grau de risco 3 ou 4 .
3.4.2. O intervalo entre os exames audiométricos poderá se reduzido a critério do
médico coordenador do PCMSO, ou por notificação do médico agente de inspeção do
trabalho, ou mediante negociação coletiva de trabalho.
3.5. O resultado do exame audiométrico deve ser registrado em uma ficha que
contenha, no mínimo:
a) nome, idade e número de registro de identidade do trabalhador;
b) nome da empresa e a função do trabalhador;
c) tempo de repouso auditivo cumprido para a realização do exame audiométrico;
d) nome do fabricante, modelo e data da última aferição acústica do audiômetro;
e) traçado audiométrico e símbolos conforme o modelo constante do Anexo 1;
f) nome, número de registro no conselho regional e assinatura do profissional
responsável pelo exame audiométrico.
3.6. Tipos de exames audiométricos. O trabalhador deverá ser submetido a exame
audiométrico de referência e a exame audiométrico seqüencial na forma abaixo descrita:
3.6.1. Exame audiométrico de referência, aquele com o qual os seqüenciais serão
comparados e cujas diretrizes constam dos subitens abaixo, deve ser realizado:
a) quando não se possua um exame audiométrico de referência prévio:
b) quando algum exame audiométrico seqüencial apresentar alteração significativa em
relação ao de referência, conforme descrito nos itens 4.2.1, 4.2.2 e 4.2.3 desta norma técnica.
3.6.1.1. O exame audiométrico será realizado em cabina audométrica, cujos níveis de
pressão sonora não ultrapassem os níveis máximos permitidos, de acordo com a norma ISO
8253.1.
3.6.1.1.1. Nas empresas em que existir ambiente acusticamente tratado, que atenda à
norma ISO 8253.1, a cabina audiométrica poderá ser dispensada.
3.6.1.2. O trabalhador permanecerá em repouso auditivo por um período mínimo de 14
horas até o momento de realização do exame audiométrico.
3.6.1.3. O responsável pela execução do exame audiométrico inspecionará o meato
acústico externo de ambas as orelhas e anotará os achados na ficha de registro. Se identificada
alguma anormalidade, encaminhará ao médico responsável.
3.6.1.4. Vias, freqüências e outros testes complementares.
3.6.1.4.1. O exame audiométrico será realizado, sempre, pela via aérea nas freqüências
de 500, 1.000, 2.000. 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz. 3.6.1.4.2. No caso de alteração
detectada no teste pela via aérea ou segundo a avaliação do profissional responsável pela
execução do exame, o mesmo será feito, também, pela via óssea nas freqüências de 500,
1.000, 2.000, 3.000 e 4.000 Hz.
89
3.6.1.4.3. Segundo a avaliação do profissional responsável, no momento da execução
do exame, poderão ser determinados os limiares de reconhecimento de fala (LRF).
3.6.2. Exame audiométrico seqüencial, aquele que será comparado com o de
referência, aplica-se a todo trabalhador que já possua um exame audiométrico de referência
prévio, nos moldes previstos no item
3.6.1. As seguintes diretrizes mínimas devem ser obedecidas:
3.6.2.1. Na impossibilidade da realização do exame audiométrico nas condições
previstas no item 3.6.1.1, o responsável pela execução do exame avaliará a viabilidade de sua
realização em um ambiente silencioso, através do exame audiométrico em 2 (dois) indivíduos,
cujos limiares auditivos, detectados em exames audiométricos de referência atuais, sejam
conhecidos. Diferença de limiar auditivo, em qualquer freqüência e em qualquer um dos 2
(dois) indivíduos examinados, acima de 5 dB(NA) (nível de audição em decibel) inviabiliza a
realização do exame no local escolhido.
3.6.2.2. O responsável pela execução do exame audiométrico inspecionará o meato
acústico externo de ambas as orelhas e anotará os achados na ficha de registro.
3.6.2.3. O exame audiométrico será feito pela via aérea nas freqüências de 500, 1.000,
2.000, 3.000, 4.000, 6.000 e 8.000 Hz.
4. Interpretação dos resultados do exame audiométrico com finalidade de
prevenção
4.1. A interpretação dos resultados do exame audiométrico de referência deve seguir
os seguintes parâmetros:
4.1.1. São considerados dentro dos limites aceitáveis, para efeito desta norma técnica
de caráter preventivo, os casos cujos audiogramas mostram limiares auditivos menores ou
iguais a 25 dB(NA), em todas as freqüências examinadas.
4.1.2. São considerados sugestivos de perda auditiva induzida por níveis de pressão
sonora elevados os casos cujos audiogramas, nas freqüências de 3.000 e/ou 4.000 e/ou 6.000
Hz, apresentam limiares auditivos acima de 25 dB(NA) e mais elevados do que nas outras
freqüências testadas, estando estas comprometidas ou não, tanto no teste da via aérea quanto
da via óssea, em um ou em ambos os lados. 4.1.3. São considerados não sugestivos de perda
auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados os casos cujos audiogramas não se
enquadram nas descrições contidas nos itens 4.1.1 e 4.1.2 acima.
4.2. A interpretação dos resultados do exame audiométrico seqüencial deve seguir os
seguintes parâmetros:
4.2.1. São considerados sugestivos de desencadeamento de perda auditiva induzida por
níveis de pressão sonora elevados, os casos em que os limiares auditivos em todas as
freqüências testadas no exame audiométrico de referência e no seqüencial permanecem
menores ou iguais a 25 dB(NA), mas a comparação do audiograma seqüencial com o de
referência mostra uma evolução dentro dos moldes definidos no item 2.1 desta norma, e
preenche um dos critérios abaixo:
a) a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de
freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 10 dB(NA);
b) a piora em pelo menos uma das freqüências de 3.000, 4.000 ou 6.000 Hz iguala ou
ultrapassa 15 dB(NA).
4.2.2. São considerados, também sugestivos de desencadeamento de perda auditiva
induzida por níveis de pressão sonora elevados, os casos em que apenas o exame
audiométrico de referência apresenta limiares auditivos em todas as freqüências testadas
menores ou iguais a 25 dB(NA), e a comparação do audiograma seqüencial com o de
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referência mostra uma evolução dentro dos moldes definidos no item 2.1 desta norma, e
preenche um dos critérios abaixo:
a) a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de
freqüência de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz iguala ou ultrapassa 10 dB(NA);
b) a piora em pelo menos uma das freqüências de 3.000, 4.000 ou 6.000 Hz iguala ou
ultrapassa 15 dB(NA).
4.2.3. São considerados sugestivos de agravamento da perda auditiva induzida por
níveis de pressão sonora elevados, os casos já confirmados em exame audiométrico de
referência, conforme item 4.1.2., e nos quais a comparação de exame audiométrico seqüencial
com o de referência mostra uma evolução dentro dos moldes definidos no item 2.1 desta
norma, e preenche um dos critérios abaixo:
a) a diferença entre as médias aritméticas dos limiares auditivos no grupo de
freqüência de 500, 1.000 e 2.000 Hz, ou no grupo de freqüências de 3.000, 4.000 e 6.000 Hz
iguala ou ultrapassa 10 dB(NA);
b) a piora em uma freqüência isolada iguala ou ultrapassa 15 dB(NA).
4.2.4. Para fins desta norma técnica, o exame audiométrico de referência permanece o
mesmo até o momento em que algum dos exames audiométricos seqüenciais for preenchido
algum dos critérios apresentados em 4.2.1, 4.2.2 ou 4.2.3. Uma vez preenchido por algum
destes critérios, deve-se realizar um novo exame audiométrico, dentro dos moldes previstos
no item 3.6.1 desta norma técnica, que será, a partir de então, o novo exame audiométrico de
referência. Os exames anteriores passam a constituir o histórico evolutivo da audição do
trabalhador.
5. Diagnóstico da perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados e
definição da aptidão para o trabalho.
5.1. O diagnóstico conclusivo, o diagnóstico diferencial e a definição da aptidão para o
trabalho, na suspeita de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, estão a
cargo do médico coordenador do PCMSO de cada empresa, ou do médico encarregado pelo
mesmo para realizar o exame médico, dentro dos moldes previstos na NR - 7, ou, na ausência
destes, do médico que assiste ao trabalhador.
5.2. A perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, por si só, não é
indicativa de inaptidão para o trabalho, devendo-se levar em consideração na análise de cada
caso, além do traçado audiométrico ou da evolução seqüencial de exames audiométricos, os
seguintes fatores:
a) a história clínica e ocupacional do trabalhador;
b) o resultado da otoscopia e de outros testes audiológicos complementares;
c) a idade do trabalhador;
d) o tempo de exposição pregressa e atual a níveis de pressão sonora elevados;
e) os níveis de pressão sonora a que o trabalhador estará, está ou esteve exposto no
exercício do trabalho;
f) a demanda auditiva do trabalho ou da função;
g) a exposição não ocupacional a níveis de pressão sonora elevados;
h) a exposição ocupacional a outro(s) agente(s) de risco ao sistema auditivo;
i) a exposição não ocupacional a outro(s) agentes de risco ao sistema auditivo;
j) a capacitação profissional do trabalhador examinado;
k) os programas de conservação auditiva aos quais tem ou terá acesso o trabalhador.
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6. Condutas Preventivas
6.1. Em presença de trabalhador cujo exame audiométrico de referência se enquadre
no item 4.1.2, ou algum dos exames audiométricos seqüenciais se enquadre no item 4.2.1 ou
4.2.2 ou 4.2.3, o médico coordenador do PCMSO, ou o encarregado pelo mesmo do exame
médico, deverá:
a) definir a aptidão do trabalhador para a função, com base nos fatores ressaltados no
item 5.2 desta norma técnica;
b) incluir o caso no relatório anual do PCMSO;
c) participar da implantação, aprimoramento e controle de programas que visem a
prevenção da progressão da perda auditiva do trabalhador acometido e de outros expostos ao
risco, levando-se em consideração o disposto no item 9.3.6 da NR-9;
d) disponibilizar cópias dos exames audiométricos aos trabalhadores.
6.2. Em presença de trabalhador cujo exame audiométrico de referência se enquadre
no item 4.1.3, ou que algum dos exames audiométricos seqüenciais se enquadre nos itens
4.2.1.a., 4.2.1.b, 4.2.2.a, 4.2.2.b, 4.2.3.a ou 4.2.3.b, mas cuja evolução foge dos moldes
definidos no item 2.1 desta norma técnica, o médico coordenador do PCMSO, ou o
encarregado pelo mesmo do exame médico, deverá:
a) verificar a possibilidade da presença concomitante de mais de um tipo de agressão
ao sistema auditivo;
b) orientar e encaminhar o trabalhador para avaliação especializada;
c) definir sobre a aptidão do trabalhador para função;
d) participar da implantação, aprimoramento, e controle de programas que visem a
prevenção da progressão da perda auditiva do trabalhador acometido e de outros expostos ao
risco, levando-se em consideração o disposto no item 9.3.6 da NR-9.
e) disponibilizar cópias dos exames audiométricos aos trabalhadores.
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ANEXO B
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