EUversus DEUS

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IVO MARIANO
EU versus DEUS
UM CONFLITO DE IDEIAS
Itapira, SP - 2013
Copyright © 2013, Ivo Mariano
Mariano, Ivo
Eu versus Deus - Um conflito de ideias
Fones: (19) 9 9698-8223
www.upbooks.net.br
[email protected]
Itapira, 2013
120 páginas
Todos os textos bíblicos foram extraídos da Bíblia
Almeida Corrigida e Revisada Fiel
Coordenação editorial Eneas Francisco
Revisão Elizabete Aulicino
Colaboração Wellington Mariano
Preparação e diagramação BFK
Capa BFK
2013
Todos os direitos reservados à
Casa Publicadora Bereana
[email protected]
1ª Edição: 2013
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Mariano, Ivo
Eu versus Deus - Um conflito de ideias / Ivo
Mariano. 1. ed. -- Itapira, SP : UPBooks, 2013.
Bibliografia.
ISBN 978-85-66941-04-3
1. Administração de conflitos - Aspectos
religiosos - Cristianismo 1. Psicologia religiosa
3. Questões polêmicas na Igreja 4. Vida cristã
I. Título.
13-11561
CDD-253
Índices para catálogo sistemático:
1. Administração de conflitos : Comportamento :
Cristianismo 253
Aos irmãos, amigos e companheiros
de ministério;
aos que me incentivaram e me disseram:
Escreve pastor!
À minha família. Minha esposa Dagmar e meus
filhos, bênçãos e riquezas na minha vida
segundo a graça e misericórdia de Deus.
Às minhas irmãs: Maria José Mariano
(in memorian) e Benedita Mariano.
À Igreja de Deus em Cristo,
que pastoreio e sirvo.
A todos os que foram gerados no meu ministério
pela Palavra de Deus e a todos os que hão de sê-lo.
E por tudo eu dou glória ao Pai, glória ao Filho e
ao Espírito Santo para sempre. Amém!
Índice
Prefácio07
Introdução - Pastor José Domingues Bittencourt
11
Palavra do autor
15
Introdução19
Capítulo 1
O egoísmo humano é adversário de Deus
23
Capítulo 2
O cristão egoísta é seu próprio adversário
47
Capítulo 3
O egoísmo como adversário do próximo
63
Capítulo 4
As múltiplas faces do egoísmo
71
Capítulo 5
Porque os cristãos são sujeitos ao egoísmo
81
Capítulo 6
O egoísmo humano sob a eficácia da cruz de Cristo 89
Bibliografia111
Sobre o autor
113
Prefácio
Eu versus Deus - Um conflito de ideias, escrito pelo
Pastor Ivo Mariano, provoca-nos à uma reflexão mais
profunda sobre a complexidade que envolve o “ser”
enquanto “humano”. Este universo único, pessoal e
cheio de mistérios chamado homem.
Homem, criação divina, que por sua livre e espontânea vontade decide desobedecer o Criador e
como resultado de sua rebelião encontra a morte.
Morte física e espiritual que o leva a mergulhar em
seu próprio mundo, não enxergando mais ninguém a
não ser a realização de seus próprios desejos.
Este ego-ísmo (ego-adoecido), segundo Mariano,
representa um dos maiores obstáculos que o cristão
enfrenta em sua luta contra a “velha natureza”.
Desejando obedecer a Deus, o “novo homem” entra em guerra contra seu “velho homem”, adoecido
pelo pecado e pelos desejos de sua antiga natureza.
O autor não só levanta a crise egoística que
se instalou na humanidade, deixando-nos numa
espécie de “sinuca de bico existencial”, como também
apresenta-nos algumas pistas para que possamos
em Cristo, vencer esta tão famigerada peçonha que
continuamente tenta nos derrubar.
O primeiro passo segundo o autor, é tomar
consciência do problema, ou seja, admitir que em nós
há uma natureza egoísta que desesperadamente tenta
sobreviver fazendo que sua vontade prevaleça. A única
saída então é nos debruçarmos de joelhos perante
às Sagradas Escrituras para delas aprendermos seus
EU versus DEUS - Um conflito de ideias
sábios conselhos e vivermos uma vida na perspectiva
da esperança que Cristo nos dá.
Ainda que pareça contraditório, o único antídoto
contra este veneno mortífero que habita o coração
humano esta na cruz de Nosso Senhor. Pastor Ivo,
remete-nos mais uma vez às Sagradas Escrituras
mostrando o caminho a seguir: morrermos para os
nossos próprios desejos. Crucificarmos o nosso eu
juntamente com Cristo na cruz.
Andando com o texto sagrado e convocando como
aliada sua própria experiência pessoal e ministerial,
o autor nos convida a uma reflexão séria e madura
sobre a brevidade da vida e seus múltiplos significados na luta que todo cristão enfrenta contra seu ego
enfermo, desejoso de satisfazer sua própria vontade
em oposição à vontade do Criador.
A origem desta enfermidade é levada em conta na
obra, pontuando com precisão seu início, segundo
o autor: “A queda de Adão é o marco histórico do
egoísmo humano... No Éden, a gênese do egoísmo se
configura. No livro de Romanos, o apóstolo confirma
as origens do egoísmo, e por fim, Santo Agostinho
reitera a doutrina bíblica: “...de onde vem esse
afastamento, a não ser do fato de que o homem, do
qual Deus é o único bem, quer se tornar ele mesmo o
seu próprio bem, como Deus o é para si? “
Por fim, depois de passar pelas origens e pelas muitas guerras de nossa alma, e de uma maneira muito
carinhosa colocar de maneira clara as exigências da
vida cristã (voluntariedade, renúncia, crucificação,
etc.), Pastor Ivo Mariano propõe uma exigência esquecida em nossos dias: o verdadeiro discipulado.
Um discipulado proposto primeiramente pelo
8
Ivo Mariano
próprio Senhor Jesus quando convida homens e mulheres a segui-lo, oferecendo aprendizado dEle mesmo, pois Ele é manso e humilde de coração.
Eu versus Deus - Um conflito de ideias nos convida
a re-pensarmos nossa caminhada cristã. Como discípulos peregrinos, precisamos constantemente rever
nossos corações e ações. Caso contrário, estaremos
envoltos em nossa própria religiosidade, continuamente desejando nossos próprios caminhos e afastando-nos sutilmente da cruz de Nosso Senhor.
Por esta razão, gostaria de convidar a todos, que
gastem um tempo não só na leitura como também na
meditação deste trabalho realizado pelo Pastor Ivo
Mariano a fim de que nosso caminhos e corações estejam sempre limpos e preparados para o dia de Sua volta.
Boa leitura!
Ricardo Bitun
Casado com Vânia e pai de Marina e Ricardo Estefano.
Pastor da Igreja Manaim em São Paulo e professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
9
Introdução
“Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida
que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho
de Deus, que me amou e se entregou por mim”.
Gálatas 2:20
Todo prefácio impõe uma apresentação do autor
e introdução do conteúdo da obra. Posso falar com
facilidade de ambos.
Em relação ao autor, conheço o pastor Ivo Mariano
desde minha juventude. Sei que este livro é a ralização
de um sonho que se concretizou no tempo certo, após
vários anos de ministério, com experiência e maturidade.
Em relação à obra em apreço, seguem alguns apontamentos: A essência do pecado é a vontade própria.
É neste sentido que o autor, reflete sobre o “Eu” versus
Deus. Quando a vontade própria, que é a manifestação do ego, entra em flagrante conflito com a vontade suprema do Senhor.
O autor nos instrui a abandonar o egocentrismo.
Destaca também o ego como parte da natureza humana que precisa ser trabalhada pelo Espírito Santo.
Propõe o cristianismo integral, que visa prestar atenção
em Deus, no próximo e no seu próprio coração. Em
outras palavras, o cristianismo vertical, horizontal
e interior, ou seja, amar a Deus, amar ao próximo e
EU versus DEUS - Um conflito de ideias
amar a si mesmo, nesta ordem. Pois, o caminho do
amor é outro-centrado, e não ego-centrado. Ainda,
alerta-nos, quando o Eu serve de impedimento para
provarmos o que é bom, agradável e perfeito, ou seja,
a vontade de Deus, Rm 12:2. O escritor mostra que
para evitar a colisão de vontades, tem-se como melhor
saída, a submissão da nossa vontade à divina. O melhor
exemplo de submissão ao Pai, foi dado por Jesus no
jardim do Getsêmani Lc 22:42.
E a melhor forma para nos submeter ao Pai é abrir
mão do Eu, através da operação da Cruz de Cristo no
coração humano. Precisamos da Cruz de Cristo para
fazer uma cisão no nosso coração, uma vez que, quando a Cruz de Cristo opera no coração humano, acontece a morte do Eu. Como disse John Stott (in memorian): “O Novo Testamento ensina que estamos Mortos
para o pecado e Vivos para Deus, em Jesus Cristo. Ele
ensina a Morte Legal e a Morte Moral. 1. Mortos para
o pecado por meio da nossa identificação com Cristo.
2. Mortos para o “eu” por meio de nossa imitação de
Cristo. Morte legal para a punição do pecado. Morte
moral para o poder do pecado. A Morte legal pertence
ao passado. A Morte moral pertence ao presente. EU
MORRI EM CRISTO UMA VEZ; E MORRO PARA O
“EU”, DIARIAMENTE, ASSIM COMO CRISTO”.
Num dado momento da caminhada na amizade
com Cristo Jesus, uma das grandes descobertas do
discípulo de Cristo reside no fato de viver para servir
seus irmãos e ao próximo, promovendo benefícios aos
seus semelhantes, 1 Jo 3:16, bem como, uma libertação,
ainda que parcial, do seu ego. Como disse C. S. Lewis, professor de Oxford, autor de Crônicas de Nárnia,
que faleceu em 1963: “A igreja existe, prioritariamente,
12
Ivo Mariano
para o benefício dos não-membros dela”.
Creio, singelamente, que você será enriquecido
com esta leitura. Certamente o caro leitor assimilará
que não há proveito algum em ter o ego massageado,
como constatamos em algumas teologias e pregações.
Vale lembrar que, tais conteúdos, não confrontam,
nem tocam o caráter, que precisa ser aperfeiçoado,
conformando-o à imagem do Filho, Jesus, Rm 8:29.
Santo André, 15 de Outubro de 2013.
José D. Bittencourt
Pastor Presidente da AD Utinga – Santo André, SP
Deputado Estadual - SP, no terceiro mandato.
13
Palavra do Autor
Este livro é procedente das leituras e pregações
dominicais nos cultos noturnos em nossa igreja,
COGIC Resgate Para a Vida. Portanto, é uma mensagem.
Portanto, oro pedindo a Deus que me abençoe nesta tarefa, com a iluminação da Sua Palavra, para ministrar a Sua vontade sobre as vidas dos que lerem. Que Deus
nos abençoe!
Neste livro escrevo sobre as atitudes egoístas do
cristão enquanto ser humano, fato que se constitui no
maior obstáculo no operar da vontade de Deus na sua
vida e no seu ministério sobre a face da terra. O egoísmo aparece no âmago da história humana na Bíblia,
por isso existe um tratar de Deus com o homem, conforme a Escritura diz: Deus resiste aos soberbos, mas
dá graça aos humildes. (Tiago. 4:6)
O dicionário Michaelis diz que: egoísta é aquele que
ou quem trata só dos seus interesses. Que demonstra
falta de sentimentos altruístas. Em que há propensão
relativa à conservação do indivíduo. Comodista.
São questões sobre o egoísmo humano, em con-
EU versus DEUS - Um conflito de ideias
traste com a vontade de Deus, que abordo neste livro.
Faço isto isso para concitar a uma reflexão sobre o
nosso comportamento cristão, no nosso tempo, na
nossa vida, nas nossas relações interpessoais e na nossa fé cristã na atualidade. Se quisermos viver a vida
cristã sem sermos egoístas, precisamos considerar os
exemplos dos personagens bíblicos e fundamentalmente o exemplo de Cristo com a Sua doutrina e nos
submetermos inteiramente à Sua vontade na terra, sabendo que Deus sempre tem o melhor para nós!
16
Que o homem, voltado para si
próprio, considere o que é diante do
que existe; que se encare como um
ser extraviado neste canto afastado
da natureza, e que, da pequena
cela onde se acha preso, isto é, do
universo, aprenda a avaliar em
seu valor exato a terra, os reinos,
as cidades e ele próprio. Que é um
homem dentro do infinito?
Blaise Pascal, Pensamentos.
Introdução
A mensagem deste livro tem como propósito conscientizar o cristão sobre a necessidade de vivermos a nossa
nova natureza, a natureza de Jesus Cristo. Entendemos
que a nossa nova vida existe em detrimento da velha
e egoísta natureza humana, que sempre luta para se
impor como padrão de vida cristã.
Com efeito, se vivermos a vida cristã de acordo
com a velha natureza, que é contrária à nossa nova
vida em Cristo, viveremos aprisionados na antiga
prisão do nosso ser, no nosso eu, ou seja, na prisão da
nossa vontade. Por isso, queremos despertar em nós a
necessidade da autocrítica, com relação às nossas atitudes e ao desenvolvimento da obra divina na nossa
vida pessoal e ministerial.
Queremos esse despertar como aquele do filho
pródigo, um cair em si, porque ele é necessário para haver um posicionamento em conformidade com a vontade de Deus. Se não percebermos o choque do egoísmo da nossa vida fundamentada no nosso eu, contra a
vontade do Senhor, nós não perceberemos o ultraje que
praticamos ao verdadeiro propósito de Deus para nós.
EU versus DEUS - Um conflito de ideias
Nicétas Stéthatos, que foi um bizantino e um teólogo místico que é considerado um santo pela Igreja
Ortodoxa Oriental (c. 1005 - c. 1090), explica que:
“Existem para o homem três estados: o homem carnal,
que quer viver para o próprio prazer, mesmo em detrimento dos outros; o homem natural, que deseja agradar ao mesmo tempo a si mesmo e aos outros; o homem
espiritual, que quer agradar só a Deus ainda que seja
em detrimento de si próprio. O primeiro está abaixo da
natureza; o segundo está conforme a natureza; o terceiro está acima da natureza: é a vida no Cristo”. Por:
Tito Colliander - Caminho dos Ascetas: Iniciação à
vida espiritual.
Por isso precisamos entender que o egoísmo humano na sua ação não é um inimigo somente de Deus,
mas é também inimigo do próprio homem, inimigo
da própria humanidade e do próprio planeta. Isto
acontece porque o egoísmo é um mal que atua onde
quer que o homem esteja inserido.
Portanto, é preciso entender o egoísmo humano
como a causa maléfica que gerou e continua gerando na humanidade e no seu mundo as calamidades
e danos que estão em menor ou maior proporção no
seio das sociedades mundiais. É preciso também entender que é esse mesmo egoísmo que gera todo esse
mal geral, é também o mal particularizado entre as
nações, entre os patriotas, entre as famílias, entre os
grupos sociais, entre pessoas, entre as igrejas e também entre os cristãos.
Do mesmo modo, é esse mesmo egoísmo que torna caótico o próprio ser e a vida do egoísta, pois ele é
autodestrutivo, um mal que faz mal primeiro a quem
20
Ivo Mariano
faz uso dele e depois para quem é vitima. Nesta prática não há quem se valha dele que saia sem os devidos prejuízos, pois imerge a criatura em num mar de
obscuridade, roubando-lhe a consciência e o entendimento da verdade e da justiça, como foi dito pelo
apóstolo Paulo:
Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças;
antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Romanos.1:21
Assim, quando temos a consciência da realidade
do egoísmo humano somos arremetidos para a necessidade de vivermos resolutamente contra ele, por
sabermos quão nocivo ele é.
A nossa objeção ao egoísmo, porém, exige de nós o
conhecimento e o uso dos meios cristãos de aniquilamento desse terrível inimigo.
Em relação a isto, tal conhecimento e prática nos
são ensinados através da doutrina do autoesvaziamento de Cristo, ministrada na Bíblia, no Novo Testamento, tanto por ele, Jesus Cristo, como por seus
apóstolos, para que imitemos o seu feito e recebamos
os seus benefícios.
É necessário, portanto, que tenhamos a consciência de que não há como vencermos esse inimigo terrível que há em nossa natureza humana se não o levarmos rigorosamente e voluntariamente à cruz de
Cristo, para sermos crucificados com ele, morrermos
com ele na Sua morte e podermos nos levantar com
ele na Sua ressurreição. Enfim, devemos saber, não
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EU versus DEUS - Um conflito de ideias
há como vencermos o egoísmo sem que imitemos as
pisadas do nosso Senhor Jesus Cristo na qualidade de
seus seguidores e discípulos.
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Capítulo 1
O egoísmo humano é adversário de Deus.
“O egoísmo de Pedro no ministério de Jesus,
antes da crucificação, é referencial pedagógico para a nossa vida de fé em nosso seguir a
Jesus, pois tal acontecimento na vida de Pedro
deixou claro que esse procedimento coloca o
cristão frontalmente na linha de inimizade
com Deus, mesmo que no seu entendimento
ele considere as suas atitudes promovidas e
revestidas por boas intenções.”
I. A origem do egoísmo
Tenho visto em minha vida cristã, durante o meu
ministério, a dificuldade que muitos irmãos têm de se
relacionar com a vontade de Deus. Geralmente isto
acontece em razão do modo do cristão pensar as coisas de Deus e nas Suas diversas formas de se realizarem.
A questão se desenrola numa teia paradoxal, entre
ser cristão e ao mesmo tempo um ser humano, pois
como cristão eu quero fazer a vontade de Deus, como
ser humano eu quero que Deus faça a minha vontade.
É exatamente em virtude do modo do ser humano
EU versus DEUS - Um conflito de ideias
pensar, conformado com a sua natureza, que sempre
queremos que Deus ande pelos nossos caminhos, de
acordo com os nossos pensamentos.
Por essa razão, nós nos frustramos muito quando
as coisas não acontecem como queremos que aconteçam, no decorrer do tempo.
Geralmente, as atitudes divinas se revelam e acontecem de uma forma contrária aos nossos pensamentos e devido à contrariedade nós estamos sempre
prontos para questiona-lo dizendo: Por que Deus? Por
que Pai?
Com os nossos sentimentos frustrados, nós rejeitamos o modo de Deus agir e então começamos a orar e
sugerir para Ele uma forma correta de realizar os seus
planos dentro dos nossos interesses, conforme a nossa
visão. Essa visão da ação de Deus, nós desenvolvemos
sempre conforme o modo do ser humano pensar.
O que existe nisto, nesse modo humano de ver, é a
ação do egoísmo humano em atividade, consciente ou
inconsciente, na vida do cristão, que se coloca desse
modo como adversário da vontade de Deus. Geralmente o cristão egoísta não tem noção da gravidade
do seu ato no ditame para Deus agir, pois sempre pensa estar fazendo o certo.
É preciso saber que lutar contra Deus não se dá
apenas quando nos declaramos ateus, entrar numa
cruzada ANTIDEUS, mas também ocorre quando
não comungamos com a vontade necessária de Deus
em seus caminhos e na forma de realizar o Seu querer
na vida do cristão. Certamente, sempre que isto ocorrer, o cristão estará numa posição de militante prático
contra Deus.
Teologicamente, o princípio da ação egoísta do ser
humano tem a sua origem na ação pecaminosa de
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Ivo Mariano
Adão no Éden, onde se destituiu da glória de Deus
através do seu pecado. A queda de Adão é o marco
histórico do egoísmo humano, pois é a partir da sua
expulsão do paraíso que o homem passou a construir
e a viver a sua própria história, uma história convergente para si mesmo e separado de Deus.
Os textos que se seguem registram o princípio
deste fato nefasto na existência do ser humano.
E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe:
Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no
jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu?
Comeste tu da árvore de que te ordenei que não
comesses? Gênesis 3:9-11
Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem
é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora,
para que não estenda a sua mão, e tome também
da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O
SENHOR Deus, pois, o lançou.fora do jardim do
Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.E
havendo lançado fora o homem, pôs querubins
ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o
caminho da árvore da vida. Gênesis 3:22-24
O apóstolo Paulo também fez as suas considerações comentando sobre essa tragédia da alienação
humana da vontade de Deus dizendo:
Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e
de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso
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EU versus DEUS - Um conflito de ideias
também Deus os entregou às concupiscências de
seus corações, à imundícia, para desonrarem seus
corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus
em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente.
Amém. Romanos 1:22-25
E por fim, Agostinho, pai da igreja, reitera esse ensino apostólico, dizendo:
“O pecado é um mal que consiste em negligenciar: seja o aceitar um preceito, seja de observá-lo;
seja de perseverar na contemplação da sabedoria.
De onde se pode compreender como o primeiro
homem, mesmo tendo sido criado sábio, podia, no
entanto ser seduzido. E como a esse pecado cometido livremente, seguiu-se justamente o castigo,
por disposição divina”.
O orgulho, com efeito, afasta sabedoria e a insensatez é uma consequência dessa aversão. A insensatez é
uma espécie de cegueira, Assim fala o apóstolo Paulo:
“... e o seu coração insensato obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”. Romanos 1:21.
Ora, de onde vem esse obscurecimento, a não ser em
razão do homem ter se afastado da luz da sabedoria?
E de onde vem esse afastamento, a não ser de que
o homem, do qual Deus é o único bem, quer se tornar
ele mesmo, o seu próprio bem, como Deus o é para si?
É porque está dito: “No dia em que comerdes o fruto, os
vossos olhos vão se abrir e sereis como deuses” Gênesis 3:5. 26
Ivo Mariano
II. A universalidade e natureza do egoísmo
A posição apostólica de Paulo e de Agostinho
demonstra que o pecado do egoísmo é como um cunho, uma característica no ser humano, que se impõe
constantemente às suas ideias e ações, na ânsia de
prevalecer com sua vontade sobre as outras, de modo
a ter a primazia total. Essa atitude começou contra
Deus, na operação transformadora da glória divina
em glória humana como disse Paulo:
E mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível...
Romanos 1:23
Essa mudança operada por Adão na sua vida e
consequentemente na vida dos seus semelhantes pelo
seu pecado de desobediência no Éden, promoveu
alteração da sua natureza humana perfeita, imortal,
para uma natureza humana imperfeita e mortal. Em
virtude da queda humana em Adão, o cristão, que
também é ser humano, não está imune a essa tentação
de ser protagonista do seu próprio querer, devido à
sua natureza humana, como está escrito:
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus; Romanos 3:23
É, portanto, essa natureza caída e destituída de
glória da qual todas as criaturas são portadoras, que
geralmente se manifesta disfarçada de verdade e bondade para impor sua vontade sobre as outras, que, na
verdade, não passa de um veneno mortal, tentando
aniquilar em nós a verdadeira luz da inteligência divina que opera em nossa mente, para construção do
27
EU versus DEUS - Um conflito de ideias
altruísmo fraternal. Infelizmente a mente humana na
sua solidão é obscura, mas graças a Deus a mente cristã na sua comunhão com Deus é iluminada, conforme
Jesus Cristo disse:
... Eu sou a luz do mundo; quem me segue não
andará em trevas, mas terá a luz da vida. João
8:12
III. As limitações perceptivas do egoísmo
O texto seguinte demonstra, como já foi dito, que até
mesmo aqueles que seguiram a Jesus de perto, lado a
lado, não escaparam desse procedimento horroroso e
avesso à vontade de Deus. Não escaparam do egoísmo
na busca da autoafirmação, pois embora estivessem
do lado de Jesus, buscavam em verdade o seu próprio
querer.
Daí em diante, Jesus começou a dizer claramente
aos discípulos: - Eu preciso ir para Jerusalém, e
ali os líderes judeus, os chefes dos sacerdotes e os
mestres da Lei farão com que eu sofra muito. Eu
serei morto e, no terceiro dia, serei ressuscitado.
Então Pedro o levou para um lado e começou a
repreendê-lo, dizendo: - Que Deus não permita!
Isso nunca vai acontecer com o senhor! Jesus virou-se e disse a Pedro: - Saia da minha frente, Satanás! Você é como uma pedra no meu caminho
para fazer com que eu tropece, pois está pensando como um ser humano pensa e não como Deus
pensa. Mateus. 16:21-23
Este texto, de modo muito interessante, conta que
houve uma discórdia entre Pedro e Jesus, provocada por Pedro, por questões ideológicas. Mateus re28
Ivo Mariano
lata que Pedro se posicionou contra Jesus, divergindo dEle, em decorrência das Suas revelações de que
haveria de morrer em Jerusalém, coisas essas que não
combinavam com as suas aspirações e as do grupo de
discípulos.
Essa briga, essa luta, esse confronto, essa resistência de Pedro não é outra coisa senão fruto do egoísmo do ser humano, do qual Pedro foi vítima a ponto
de brigar com Jesus! Querendo impor sobre Ele uma
visão pessoal e humana, de como ele deveria conduzir
a Sua missão messiânica na terra.
Pedro poderia ter saído deste diálogo fundamentando sua ação em nome do amor, em nome do utilitarismo solidário, em nome do cuidado por Jesus, se não
fosse a resistência do Senhor Jesus a bem da verdade e
da salvação de Pedro. Com esta atitude, Pedro deixou
nítido que as suas ideias eram produto de um grupo
que não correspondia às ideias de Jesus, pois eles esperavam dEle uma resposta política para a situação de
Israel em relação a Roma e não que Ele morresse em
Jerusalém.
Diante da flagrante oposição manifesta por Pedro,
por sugestão de Satanás, Jesus resistiu e classificou-o
como sendo um adversário da Sua obra, por pensar
como os homens pensam e não como Deus pensa.
O pensamento humano de Pedro, resultado de
uma soma de percepção, aprendizado e entendimento do seu mundo, expressou o seu eu e a sua vontade em palavras e atos, vendo diante de si o paradoxo
da morte com relação ao pensamento de Deus e dos
homens. Mas como o cristão, um ser humano, há de
pensar a morte, mas diferente de Pedro que pensou e
tratou a morte como um fim, uma tragédia, uma derrota, um fracasso e uma perda da vida e do mundo?
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EU versus DEUS - Um conflito de ideias
Na Sua repreensão a Pedro, Jesus deixou claro que
ele deveria pensar como Deus, na sua forma de ver as
coisas, para poder entender que mesmo o mal pode
ser um meio utilizado por Deus na condução dos seus
propósitos e também de vitória na vida dos seus escolhidos (Romanos 8:28). É isso que precisamos alcançar para vivermos com confiança no plano divino, a visão de Deus, o pensamento de Deus, a mente
de Cristo.
Precisamos dessa mentalidade divina a fim de não
chocarmos com Ele. Necessitamos ter a mentalidade
dEle para que possamos pensar como Ele pensa as
coisas e entendermos que há vitória na derrota, pois
Ele é um Deus invencível como nos revela o texto a
seguir.
E o servo do homem de Deus se levantou muito
cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado
a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele
disse: Não temas; porque mais são os que estão
conosco do que os que estão com eles.E orou Eliseu, e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os
olhos, para que veja. E o SENHOR abriu os olhos
do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio
de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. 2
Reis 6:15-17
Portanto, era necessário que Pedro visse o
ministério de Jesus à luz da vontade de Deus e que
ele pensasse como Deus pensava para poder acreditar
na fidelidade divina sem perder a fé em Jesus. Ora, o
pensamento divino é o princípio e o fim do desen30
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