IVO MARIANO EU versus DEUS UM CONFLITO DE IDEIAS Itapira, SP - 2013 Copyright © 2013, Ivo Mariano Mariano, Ivo Eu versus Deus - Um conflito de ideias Fones: (19) 9 9698-8223 www.upbooks.net.br [email protected] Itapira, 2013 120 páginas Todos os textos bíblicos foram extraídos da Bíblia Almeida Corrigida e Revisada Fiel Coordenação editorial Eneas Francisco Revisão Elizabete Aulicino Colaboração Wellington Mariano Preparação e diagramação BFK Capa BFK 2013 Todos os direitos reservados à Casa Publicadora Bereana [email protected] 1ª Edição: 2013 Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Mariano, Ivo Eu versus Deus - Um conflito de ideias / Ivo Mariano. 1. ed. -- Itapira, SP : UPBooks, 2013. Bibliografia. ISBN 978-85-66941-04-3 1. Administração de conflitos - Aspectos religiosos - Cristianismo 1. Psicologia religiosa 3. Questões polêmicas na Igreja 4. Vida cristã I. Título. 13-11561 CDD-253 Índices para catálogo sistemático: 1. Administração de conflitos : Comportamento : Cristianismo 253 Aos irmãos, amigos e companheiros de ministério; aos que me incentivaram e me disseram: Escreve pastor! À minha família. Minha esposa Dagmar e meus filhos, bênçãos e riquezas na minha vida segundo a graça e misericórdia de Deus. Às minhas irmãs: Maria José Mariano (in memorian) e Benedita Mariano. À Igreja de Deus em Cristo, que pastoreio e sirvo. A todos os que foram gerados no meu ministério pela Palavra de Deus e a todos os que hão de sê-lo. E por tudo eu dou glória ao Pai, glória ao Filho e ao Espírito Santo para sempre. Amém! Índice Prefácio07 Introdução - Pastor José Domingues Bittencourt 11 Palavra do autor 15 Introdução19 Capítulo 1 O egoísmo humano é adversário de Deus 23 Capítulo 2 O cristão egoísta é seu próprio adversário 47 Capítulo 3 O egoísmo como adversário do próximo 63 Capítulo 4 As múltiplas faces do egoísmo 71 Capítulo 5 Porque os cristãos são sujeitos ao egoísmo 81 Capítulo 6 O egoísmo humano sob a eficácia da cruz de Cristo 89 Bibliografia111 Sobre o autor 113 Prefácio Eu versus Deus - Um conflito de ideias, escrito pelo Pastor Ivo Mariano, provoca-nos à uma reflexão mais profunda sobre a complexidade que envolve o “ser” enquanto “humano”. Este universo único, pessoal e cheio de mistérios chamado homem. Homem, criação divina, que por sua livre e espontânea vontade decide desobedecer o Criador e como resultado de sua rebelião encontra a morte. Morte física e espiritual que o leva a mergulhar em seu próprio mundo, não enxergando mais ninguém a não ser a realização de seus próprios desejos. Este ego-ísmo (ego-adoecido), segundo Mariano, representa um dos maiores obstáculos que o cristão enfrenta em sua luta contra a “velha natureza”. Desejando obedecer a Deus, o “novo homem” entra em guerra contra seu “velho homem”, adoecido pelo pecado e pelos desejos de sua antiga natureza. O autor não só levanta a crise egoística que se instalou na humanidade, deixando-nos numa espécie de “sinuca de bico existencial”, como também apresenta-nos algumas pistas para que possamos em Cristo, vencer esta tão famigerada peçonha que continuamente tenta nos derrubar. O primeiro passo segundo o autor, é tomar consciência do problema, ou seja, admitir que em nós há uma natureza egoísta que desesperadamente tenta sobreviver fazendo que sua vontade prevaleça. A única saída então é nos debruçarmos de joelhos perante às Sagradas Escrituras para delas aprendermos seus EU versus DEUS - Um conflito de ideias sábios conselhos e vivermos uma vida na perspectiva da esperança que Cristo nos dá. Ainda que pareça contraditório, o único antídoto contra este veneno mortífero que habita o coração humano esta na cruz de Nosso Senhor. Pastor Ivo, remete-nos mais uma vez às Sagradas Escrituras mostrando o caminho a seguir: morrermos para os nossos próprios desejos. Crucificarmos o nosso eu juntamente com Cristo na cruz. Andando com o texto sagrado e convocando como aliada sua própria experiência pessoal e ministerial, o autor nos convida a uma reflexão séria e madura sobre a brevidade da vida e seus múltiplos significados na luta que todo cristão enfrenta contra seu ego enfermo, desejoso de satisfazer sua própria vontade em oposição à vontade do Criador. A origem desta enfermidade é levada em conta na obra, pontuando com precisão seu início, segundo o autor: “A queda de Adão é o marco histórico do egoísmo humano... No Éden, a gênese do egoísmo se configura. No livro de Romanos, o apóstolo confirma as origens do egoísmo, e por fim, Santo Agostinho reitera a doutrina bíblica: “...de onde vem esse afastamento, a não ser do fato de que o homem, do qual Deus é o único bem, quer se tornar ele mesmo o seu próprio bem, como Deus o é para si? “ Por fim, depois de passar pelas origens e pelas muitas guerras de nossa alma, e de uma maneira muito carinhosa colocar de maneira clara as exigências da vida cristã (voluntariedade, renúncia, crucificação, etc.), Pastor Ivo Mariano propõe uma exigência esquecida em nossos dias: o verdadeiro discipulado. Um discipulado proposto primeiramente pelo 8 Ivo Mariano próprio Senhor Jesus quando convida homens e mulheres a segui-lo, oferecendo aprendizado dEle mesmo, pois Ele é manso e humilde de coração. Eu versus Deus - Um conflito de ideias nos convida a re-pensarmos nossa caminhada cristã. Como discípulos peregrinos, precisamos constantemente rever nossos corações e ações. Caso contrário, estaremos envoltos em nossa própria religiosidade, continuamente desejando nossos próprios caminhos e afastando-nos sutilmente da cruz de Nosso Senhor. Por esta razão, gostaria de convidar a todos, que gastem um tempo não só na leitura como também na meditação deste trabalho realizado pelo Pastor Ivo Mariano a fim de que nosso caminhos e corações estejam sempre limpos e preparados para o dia de Sua volta. Boa leitura! Ricardo Bitun Casado com Vânia e pai de Marina e Ricardo Estefano. Pastor da Igreja Manaim em São Paulo e professor no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. 9 Introdução “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Gálatas 2:20 Todo prefácio impõe uma apresentação do autor e introdução do conteúdo da obra. Posso falar com facilidade de ambos. Em relação ao autor, conheço o pastor Ivo Mariano desde minha juventude. Sei que este livro é a ralização de um sonho que se concretizou no tempo certo, após vários anos de ministério, com experiência e maturidade. Em relação à obra em apreço, seguem alguns apontamentos: A essência do pecado é a vontade própria. É neste sentido que o autor, reflete sobre o “Eu” versus Deus. Quando a vontade própria, que é a manifestação do ego, entra em flagrante conflito com a vontade suprema do Senhor. O autor nos instrui a abandonar o egocentrismo. Destaca também o ego como parte da natureza humana que precisa ser trabalhada pelo Espírito Santo. Propõe o cristianismo integral, que visa prestar atenção em Deus, no próximo e no seu próprio coração. Em outras palavras, o cristianismo vertical, horizontal e interior, ou seja, amar a Deus, amar ao próximo e EU versus DEUS - Um conflito de ideias amar a si mesmo, nesta ordem. Pois, o caminho do amor é outro-centrado, e não ego-centrado. Ainda, alerta-nos, quando o Eu serve de impedimento para provarmos o que é bom, agradável e perfeito, ou seja, a vontade de Deus, Rm 12:2. O escritor mostra que para evitar a colisão de vontades, tem-se como melhor saída, a submissão da nossa vontade à divina. O melhor exemplo de submissão ao Pai, foi dado por Jesus no jardim do Getsêmani Lc 22:42. E a melhor forma para nos submeter ao Pai é abrir mão do Eu, através da operação da Cruz de Cristo no coração humano. Precisamos da Cruz de Cristo para fazer uma cisão no nosso coração, uma vez que, quando a Cruz de Cristo opera no coração humano, acontece a morte do Eu. Como disse John Stott (in memorian): “O Novo Testamento ensina que estamos Mortos para o pecado e Vivos para Deus, em Jesus Cristo. Ele ensina a Morte Legal e a Morte Moral. 1. Mortos para o pecado por meio da nossa identificação com Cristo. 2. Mortos para o “eu” por meio de nossa imitação de Cristo. Morte legal para a punição do pecado. Morte moral para o poder do pecado. A Morte legal pertence ao passado. A Morte moral pertence ao presente. EU MORRI EM CRISTO UMA VEZ; E MORRO PARA O “EU”, DIARIAMENTE, ASSIM COMO CRISTO”. Num dado momento da caminhada na amizade com Cristo Jesus, uma das grandes descobertas do discípulo de Cristo reside no fato de viver para servir seus irmãos e ao próximo, promovendo benefícios aos seus semelhantes, 1 Jo 3:16, bem como, uma libertação, ainda que parcial, do seu ego. Como disse C. S. Lewis, professor de Oxford, autor de Crônicas de Nárnia, que faleceu em 1963: “A igreja existe, prioritariamente, 12 Ivo Mariano para o benefício dos não-membros dela”. Creio, singelamente, que você será enriquecido com esta leitura. Certamente o caro leitor assimilará que não há proveito algum em ter o ego massageado, como constatamos em algumas teologias e pregações. Vale lembrar que, tais conteúdos, não confrontam, nem tocam o caráter, que precisa ser aperfeiçoado, conformando-o à imagem do Filho, Jesus, Rm 8:29. Santo André, 15 de Outubro de 2013. José D. Bittencourt Pastor Presidente da AD Utinga – Santo André, SP Deputado Estadual - SP, no terceiro mandato. 13 Palavra do Autor Este livro é procedente das leituras e pregações dominicais nos cultos noturnos em nossa igreja, COGIC Resgate Para a Vida. Portanto, é uma mensagem. Portanto, oro pedindo a Deus que me abençoe nesta tarefa, com a iluminação da Sua Palavra, para ministrar a Sua vontade sobre as vidas dos que lerem. Que Deus nos abençoe! Neste livro escrevo sobre as atitudes egoístas do cristão enquanto ser humano, fato que se constitui no maior obstáculo no operar da vontade de Deus na sua vida e no seu ministério sobre a face da terra. O egoísmo aparece no âmago da história humana na Bíblia, por isso existe um tratar de Deus com o homem, conforme a Escritura diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. (Tiago. 4:6) O dicionário Michaelis diz que: egoísta é aquele que ou quem trata só dos seus interesses. Que demonstra falta de sentimentos altruístas. Em que há propensão relativa à conservação do indivíduo. Comodista. São questões sobre o egoísmo humano, em con- EU versus DEUS - Um conflito de ideias traste com a vontade de Deus, que abordo neste livro. Faço isto isso para concitar a uma reflexão sobre o nosso comportamento cristão, no nosso tempo, na nossa vida, nas nossas relações interpessoais e na nossa fé cristã na atualidade. Se quisermos viver a vida cristã sem sermos egoístas, precisamos considerar os exemplos dos personagens bíblicos e fundamentalmente o exemplo de Cristo com a Sua doutrina e nos submetermos inteiramente à Sua vontade na terra, sabendo que Deus sempre tem o melhor para nós! 16 Que o homem, voltado para si próprio, considere o que é diante do que existe; que se encare como um ser extraviado neste canto afastado da natureza, e que, da pequena cela onde se acha preso, isto é, do universo, aprenda a avaliar em seu valor exato a terra, os reinos, as cidades e ele próprio. Que é um homem dentro do infinito? Blaise Pascal, Pensamentos. Introdução A mensagem deste livro tem como propósito conscientizar o cristão sobre a necessidade de vivermos a nossa nova natureza, a natureza de Jesus Cristo. Entendemos que a nossa nova vida existe em detrimento da velha e egoísta natureza humana, que sempre luta para se impor como padrão de vida cristã. Com efeito, se vivermos a vida cristã de acordo com a velha natureza, que é contrária à nossa nova vida em Cristo, viveremos aprisionados na antiga prisão do nosso ser, no nosso eu, ou seja, na prisão da nossa vontade. Por isso, queremos despertar em nós a necessidade da autocrítica, com relação às nossas atitudes e ao desenvolvimento da obra divina na nossa vida pessoal e ministerial. Queremos esse despertar como aquele do filho pródigo, um cair em si, porque ele é necessário para haver um posicionamento em conformidade com a vontade de Deus. Se não percebermos o choque do egoísmo da nossa vida fundamentada no nosso eu, contra a vontade do Senhor, nós não perceberemos o ultraje que praticamos ao verdadeiro propósito de Deus para nós. EU versus DEUS - Um conflito de ideias Nicétas Stéthatos, que foi um bizantino e um teólogo místico que é considerado um santo pela Igreja Ortodoxa Oriental (c. 1005 - c. 1090), explica que: “Existem para o homem três estados: o homem carnal, que quer viver para o próprio prazer, mesmo em detrimento dos outros; o homem natural, que deseja agradar ao mesmo tempo a si mesmo e aos outros; o homem espiritual, que quer agradar só a Deus ainda que seja em detrimento de si próprio. O primeiro está abaixo da natureza; o segundo está conforme a natureza; o terceiro está acima da natureza: é a vida no Cristo”. Por: Tito Colliander - Caminho dos Ascetas: Iniciação à vida espiritual. Por isso precisamos entender que o egoísmo humano na sua ação não é um inimigo somente de Deus, mas é também inimigo do próprio homem, inimigo da própria humanidade e do próprio planeta. Isto acontece porque o egoísmo é um mal que atua onde quer que o homem esteja inserido. Portanto, é preciso entender o egoísmo humano como a causa maléfica que gerou e continua gerando na humanidade e no seu mundo as calamidades e danos que estão em menor ou maior proporção no seio das sociedades mundiais. É preciso também entender que é esse mesmo egoísmo que gera todo esse mal geral, é também o mal particularizado entre as nações, entre os patriotas, entre as famílias, entre os grupos sociais, entre pessoas, entre as igrejas e também entre os cristãos. Do mesmo modo, é esse mesmo egoísmo que torna caótico o próprio ser e a vida do egoísta, pois ele é autodestrutivo, um mal que faz mal primeiro a quem 20 Ivo Mariano faz uso dele e depois para quem é vitima. Nesta prática não há quem se valha dele que saia sem os devidos prejuízos, pois imerge a criatura em num mar de obscuridade, roubando-lhe a consciência e o entendimento da verdade e da justiça, como foi dito pelo apóstolo Paulo: Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Romanos.1:21 Assim, quando temos a consciência da realidade do egoísmo humano somos arremetidos para a necessidade de vivermos resolutamente contra ele, por sabermos quão nocivo ele é. A nossa objeção ao egoísmo, porém, exige de nós o conhecimento e o uso dos meios cristãos de aniquilamento desse terrível inimigo. Em relação a isto, tal conhecimento e prática nos são ensinados através da doutrina do autoesvaziamento de Cristo, ministrada na Bíblia, no Novo Testamento, tanto por ele, Jesus Cristo, como por seus apóstolos, para que imitemos o seu feito e recebamos os seus benefícios. É necessário, portanto, que tenhamos a consciência de que não há como vencermos esse inimigo terrível que há em nossa natureza humana se não o levarmos rigorosamente e voluntariamente à cruz de Cristo, para sermos crucificados com ele, morrermos com ele na Sua morte e podermos nos levantar com ele na Sua ressurreição. Enfim, devemos saber, não 21 EU versus DEUS - Um conflito de ideias há como vencermos o egoísmo sem que imitemos as pisadas do nosso Senhor Jesus Cristo na qualidade de seus seguidores e discípulos. 22 Capítulo 1 O egoísmo humano é adversário de Deus. “O egoísmo de Pedro no ministério de Jesus, antes da crucificação, é referencial pedagógico para a nossa vida de fé em nosso seguir a Jesus, pois tal acontecimento na vida de Pedro deixou claro que esse procedimento coloca o cristão frontalmente na linha de inimizade com Deus, mesmo que no seu entendimento ele considere as suas atitudes promovidas e revestidas por boas intenções.” I. A origem do egoísmo Tenho visto em minha vida cristã, durante o meu ministério, a dificuldade que muitos irmãos têm de se relacionar com a vontade de Deus. Geralmente isto acontece em razão do modo do cristão pensar as coisas de Deus e nas Suas diversas formas de se realizarem. A questão se desenrola numa teia paradoxal, entre ser cristão e ao mesmo tempo um ser humano, pois como cristão eu quero fazer a vontade de Deus, como ser humano eu quero que Deus faça a minha vontade. É exatamente em virtude do modo do ser humano EU versus DEUS - Um conflito de ideias pensar, conformado com a sua natureza, que sempre queremos que Deus ande pelos nossos caminhos, de acordo com os nossos pensamentos. Por essa razão, nós nos frustramos muito quando as coisas não acontecem como queremos que aconteçam, no decorrer do tempo. Geralmente, as atitudes divinas se revelam e acontecem de uma forma contrária aos nossos pensamentos e devido à contrariedade nós estamos sempre prontos para questiona-lo dizendo: Por que Deus? Por que Pai? Com os nossos sentimentos frustrados, nós rejeitamos o modo de Deus agir e então começamos a orar e sugerir para Ele uma forma correta de realizar os seus planos dentro dos nossos interesses, conforme a nossa visão. Essa visão da ação de Deus, nós desenvolvemos sempre conforme o modo do ser humano pensar. O que existe nisto, nesse modo humano de ver, é a ação do egoísmo humano em atividade, consciente ou inconsciente, na vida do cristão, que se coloca desse modo como adversário da vontade de Deus. Geralmente o cristão egoísta não tem noção da gravidade do seu ato no ditame para Deus agir, pois sempre pensa estar fazendo o certo. É preciso saber que lutar contra Deus não se dá apenas quando nos declaramos ateus, entrar numa cruzada ANTIDEUS, mas também ocorre quando não comungamos com a vontade necessária de Deus em seus caminhos e na forma de realizar o Seu querer na vida do cristão. Certamente, sempre que isto ocorrer, o cristão estará numa posição de militante prático contra Deus. Teologicamente, o princípio da ação egoísta do ser humano tem a sua origem na ação pecaminosa de 24 Ivo Mariano Adão no Éden, onde se destituiu da glória de Deus através do seu pecado. A queda de Adão é o marco histórico do egoísmo humano, pois é a partir da sua expulsão do paraíso que o homem passou a construir e a viver a sua própria história, uma história convergente para si mesmo e separado de Deus. Os textos que se seguem registram o princípio deste fato nefasto na existência do ser humano. E chamou o SENHOR Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me. E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Gênesis 3:9-11 Então disse o SENHOR Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, O SENHOR Deus, pois, o lançou.fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.E havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden, e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida. Gênesis 3:22-24 O apóstolo Paulo também fez as suas considerações comentando sobre essa tragédia da alienação humana da vontade de Deus dizendo: Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso 25 EU versus DEUS - Um conflito de ideias também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Romanos 1:22-25 E por fim, Agostinho, pai da igreja, reitera esse ensino apostólico, dizendo: “O pecado é um mal que consiste em negligenciar: seja o aceitar um preceito, seja de observá-lo; seja de perseverar na contemplação da sabedoria. De onde se pode compreender como o primeiro homem, mesmo tendo sido criado sábio, podia, no entanto ser seduzido. E como a esse pecado cometido livremente, seguiu-se justamente o castigo, por disposição divina”. O orgulho, com efeito, afasta sabedoria e a insensatez é uma consequência dessa aversão. A insensatez é uma espécie de cegueira, Assim fala o apóstolo Paulo: “... e o seu coração insensato obscureceu-se. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos”. Romanos 1:21. Ora, de onde vem esse obscurecimento, a não ser em razão do homem ter se afastado da luz da sabedoria? E de onde vem esse afastamento, a não ser de que o homem, do qual Deus é o único bem, quer se tornar ele mesmo, o seu próprio bem, como Deus o é para si? É porque está dito: “No dia em que comerdes o fruto, os vossos olhos vão se abrir e sereis como deuses” Gênesis 3:5. 26 Ivo Mariano II. A universalidade e natureza do egoísmo A posição apostólica de Paulo e de Agostinho demonstra que o pecado do egoísmo é como um cunho, uma característica no ser humano, que se impõe constantemente às suas ideias e ações, na ânsia de prevalecer com sua vontade sobre as outras, de modo a ter a primazia total. Essa atitude começou contra Deus, na operação transformadora da glória divina em glória humana como disse Paulo: E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível... Romanos 1:23 Essa mudança operada por Adão na sua vida e consequentemente na vida dos seus semelhantes pelo seu pecado de desobediência no Éden, promoveu alteração da sua natureza humana perfeita, imortal, para uma natureza humana imperfeita e mortal. Em virtude da queda humana em Adão, o cristão, que também é ser humano, não está imune a essa tentação de ser protagonista do seu próprio querer, devido à sua natureza humana, como está escrito: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Romanos 3:23 É, portanto, essa natureza caída e destituída de glória da qual todas as criaturas são portadoras, que geralmente se manifesta disfarçada de verdade e bondade para impor sua vontade sobre as outras, que, na verdade, não passa de um veneno mortal, tentando aniquilar em nós a verdadeira luz da inteligência divina que opera em nossa mente, para construção do 27 EU versus DEUS - Um conflito de ideias altruísmo fraternal. Infelizmente a mente humana na sua solidão é obscura, mas graças a Deus a mente cristã na sua comunhão com Deus é iluminada, conforme Jesus Cristo disse: ... Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. João 8:12 III. As limitações perceptivas do egoísmo O texto seguinte demonstra, como já foi dito, que até mesmo aqueles que seguiram a Jesus de perto, lado a lado, não escaparam desse procedimento horroroso e avesso à vontade de Deus. Não escaparam do egoísmo na busca da autoafirmação, pois embora estivessem do lado de Jesus, buscavam em verdade o seu próprio querer. Daí em diante, Jesus começou a dizer claramente aos discípulos: - Eu preciso ir para Jerusalém, e ali os líderes judeus, os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei farão com que eu sofra muito. Eu serei morto e, no terceiro dia, serei ressuscitado. Então Pedro o levou para um lado e começou a repreendê-lo, dizendo: - Que Deus não permita! Isso nunca vai acontecer com o senhor! Jesus virou-se e disse a Pedro: - Saia da minha frente, Satanás! Você é como uma pedra no meu caminho para fazer com que eu tropece, pois está pensando como um ser humano pensa e não como Deus pensa. Mateus. 16:21-23 Este texto, de modo muito interessante, conta que houve uma discórdia entre Pedro e Jesus, provocada por Pedro, por questões ideológicas. Mateus re28 Ivo Mariano lata que Pedro se posicionou contra Jesus, divergindo dEle, em decorrência das Suas revelações de que haveria de morrer em Jerusalém, coisas essas que não combinavam com as suas aspirações e as do grupo de discípulos. Essa briga, essa luta, esse confronto, essa resistência de Pedro não é outra coisa senão fruto do egoísmo do ser humano, do qual Pedro foi vítima a ponto de brigar com Jesus! Querendo impor sobre Ele uma visão pessoal e humana, de como ele deveria conduzir a Sua missão messiânica na terra. Pedro poderia ter saído deste diálogo fundamentando sua ação em nome do amor, em nome do utilitarismo solidário, em nome do cuidado por Jesus, se não fosse a resistência do Senhor Jesus a bem da verdade e da salvação de Pedro. Com esta atitude, Pedro deixou nítido que as suas ideias eram produto de um grupo que não correspondia às ideias de Jesus, pois eles esperavam dEle uma resposta política para a situação de Israel em relação a Roma e não que Ele morresse em Jerusalém. Diante da flagrante oposição manifesta por Pedro, por sugestão de Satanás, Jesus resistiu e classificou-o como sendo um adversário da Sua obra, por pensar como os homens pensam e não como Deus pensa. O pensamento humano de Pedro, resultado de uma soma de percepção, aprendizado e entendimento do seu mundo, expressou o seu eu e a sua vontade em palavras e atos, vendo diante de si o paradoxo da morte com relação ao pensamento de Deus e dos homens. Mas como o cristão, um ser humano, há de pensar a morte, mas diferente de Pedro que pensou e tratou a morte como um fim, uma tragédia, uma derrota, um fracasso e uma perda da vida e do mundo? 29 EU versus DEUS - Um conflito de ideias Na Sua repreensão a Pedro, Jesus deixou claro que ele deveria pensar como Deus, na sua forma de ver as coisas, para poder entender que mesmo o mal pode ser um meio utilizado por Deus na condução dos seus propósitos e também de vitória na vida dos seus escolhidos (Romanos 8:28). É isso que precisamos alcançar para vivermos com confiança no plano divino, a visão de Deus, o pensamento de Deus, a mente de Cristo. Precisamos dessa mentalidade divina a fim de não chocarmos com Ele. Necessitamos ter a mentalidade dEle para que possamos pensar como Ele pensa as coisas e entendermos que há vitória na derrota, pois Ele é um Deus invencível como nos revela o texto a seguir. E o servo do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles.E orou Eliseu, e disse: SENHOR, peço-te que lhe abras os olhos, para que veja. E o SENHOR abriu os olhos do moço, e viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu. 2 Reis 6:15-17 Portanto, era necessário que Pedro visse o ministério de Jesus à luz da vontade de Deus e que ele pensasse como Deus pensava para poder acreditar na fidelidade divina sem perder a fé em Jesus. Ora, o pensamento divino é o princípio e o fim do desen30