NÃO PARTICIPE DA CEIA INDIGNAMENTE (Pr. Aluízio A. Silva) “Saiba como participar da ceia do Senhor e desfrutar dos benefícios do pão e do vinho" "Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem" (1Coríntios 11.27-30) Infelizmente, muitos acreditam que tomar a ceia indignamente é participar da ceia tendo pecado em sua vida. Por causa disso, muitos temem ficar doentes e até morrer. Pastores exortam seus membros a terem cuidado antes de participar da ceia e perguntam: "Será que vocês são dignos de tomar a ceia hoje?". Esta é uma situação problemática. Os irmãos ficam numa sinuca onde qualquer resposta que derem será ruim diante de Deus. Se avaliarem sua vida e concluírem que são dignos e que podem tomar a ceia, estarão confiando em sua justiça própria, o que os torna reprovados diante de Deus. Mas se, depois de se avaliarem, concluírem que são indignos, pois têm pecado, e por causa disso decidirem não participar da ceia, estarão negando a eficácia do sacrifício de Cristo na cruz. É uma situação ruim causada por um ensinamento errado. O QUE SIGNIFICA PARTICIPAR INDIGNAMENTE? Participar indignamente não se refere a você não ser digno de participar da ceia por causa dos seus pecados. Ninguém é digno de tomar a ceia. O Senhor morreu por pessoas indignas. Observe o que Paulo diz: "Aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente...". A palavra "indignamente" é um advérbio que se refere à forma como participamos da ceia. Se fosse a palavra "indigno", então se referiria à nós, mas não é esse o caso. Advérbio é uma qualidade da ação e "indigno" é uma qualidade da pessoa. Esta é a diferença entre advérbio e adjetivo. A palavra usada por Paulo é um advérbio, ou seja, ele está dizendo que temos de ter cuidado com a forma como participamos da ceia. No verso 21, Paulo diz que alguns tomam antecipadamente a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que há também quem se embriague. O problema deles era a falta de respeito e a irreverência com a mesa do Senhor. Participar indignamente é falhar em discernir que o pão representa o corpo de Cristo e o cálice representa o sangue de Jesus. Muitos irmãos na igreja de Corinto estavam comendo o pão apenas porque estavam com fome, e outros bebiam o vinho até se embriagarem. O problema todo era o desrespeito e a falta de compreensão do sentido da ceia. Portanto, tomar de modo indigno não tem a ver com falhar em examinar-se a si mesmo e confessar seus pecados antes da ceia, de modo a ter certeza de ser digno de participar. Tem a ver com o modo como a pessoa participa da mesa do Senhor. Eu creio que Paulo diz que muitos estão fracos e doentes e outros até já morreram simplesmente porque não puderam desfrutar da cura que há no corpo de Cristo. Se eles tivessem discernido o significado do pão, que é o corpo de Cristo, teriam entendido que pelas suas pisaduras, nós somos curados. Se tivessem entendido, eles teriam tido fé para receber a cura. O grande problema desse conceito errado é que ele se estende a todas as áreas de nossa vida espiritual. Se pedimos a alguém que lidere, ele vai primeiro se examinar para ver se é digno. Se o mandamos orar com um enfermo, ele vai primeiro sondar a si mesmo e ver se é digno. Se pedimos que ore para expulsar o demônio de alguém, ele vai parar para ver se é digno. Se concluir que é digno, estará confiando em sua justiça própria e não terá resultado algum. Se concluir que não é digno, não terá fé para fazer o que foi pedido. Somente aqueles que crêem que foram justificados pelo sangue de Jesus são úteis a Deus. Eles sabem que nada é pela justiça deles e tudo procede da força de Deus, que é residente em nós pelo Espírito Santo. CONSCIÊNCIA DE PECADO OU CONSCIÊNCIA DE PERDÃO? Precisamos nos opor frontalmente ao ensino de que somos mudados quando olhamos para nós mesmos. Isso é uma mentira maligna disseminada no mundo, e muitos caíram no engano de trazer a psicologia para dentro da igreja. O diabo quer desviar a nossa atenção de Cristo e colocá-la em nós mesmos. Pensamos que, se nos olharmos, analisarmos e conhecermos poderemos ser mudados, mas não é essa a verdade do evangelho, somos mudados apenas se olharmos para Cristo. Olhar para si mesmo continuamente é chamado de introspecção. Quem vive se olhando e analisando acredita que pode mudar a si mesmo. Mas a verdade é que a introspecção produz desânimo e condenação. Quanto mais você olha para si mesmo, menos fé tem. Quanto mais consciente você fica de si mesmo, mais sentirá condenação e angústia. Nós só podemos ter fé quando olhamos para Cristo. Infelizmente, há duas coisas mundanas que invadiram a igreja: a psicologia e a filosofia. Muitos crentes acreditam que a psicologia tem o poder de mudar o homem. De forma bem geral, podemos dizer que a psicologia ensina que você é o que é hoje porque existe algo que aconteceu no passado que ainda o prende. Se você pudesse se lembrar, então seria mudado. Assim, vamos fazer uma regressão, uma terapia até lembrarmos de tudo e seremos transformados. Tudo isso é apenas obra humana. Se a psicologia pudesse mudar o homem, não teríamos os presídios cheios e os manicômios superlotados. Se a psicologia pudesse mudar o homem, o Senhor Jesus não precisava ter vindo. A máxima filosófica "Conhece-te a ti mesmo" não é bíblica. Jesus disse que a vida eterna é esta: "Que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (João 17.3) Só podemos ser mudados quando conhecemos a Cristo. Olhar para si mesmo só produz mais introspecção e a introspecção produz depressão e desespero em alguns e sentimento de justiça própria em outros. Psicologia é o homem tentando mudar o homem. Mas a verdadeira mudança só acontece pelo poder do evangelho. Paulo diz que o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Romanos 1.16) A palavra "salvação" é sozo no grego e significa não apenas ser salvo do inferno, mas também ser transformado e restaurado. A introspecção nos paralisa, pois estamos sempre nos olhando para ver se há algum pecado, se estamos na carne ou no espírito, se tudo está correto em nós, se oramos o suficiente, se estudamos o suficiente, se fizemos tudo o suficiente. Por que muitos não conseguem liderar? Porque estão o tempo inteiro se perguntando sobre si mesmos. Se eu ficar o tempo inteiro olhando para mim não vou conseguir fazer nada. Uma das coisas mais terríveis é ficar consciente de si mesmo o tempo inteiro. Quem vive assim está sempre com alma cansada. Ser crente assim é extenuante. Mas Jesus disse que, para você herdar o reino, tem de ser como criança. Criança nunca se olha, nunca está consciente de si. Por isso, ser criança é ser sempre livre. Ela não está se olhando e se vasculhando. Mas será que devemos ignorar quando algo está errado conosco? Claro que não. Todavia, nem precisamos nos preocupar, pois o Espírito mesmo vai falar conosco quando algo precisar ser corrigido. O padrão bíblico é: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Salmo 139.23-24) Mas alguns irmãos mudaram completamente o conceito bíblico. Veja como eles confessam o versículo: "Eu me sondo, eu me conheço, eu vejo se há em mim algum caminho mau, eu me guio pelo caminho eterno". Eles desvirtuam a Palavra de Deus para o seu próprio sofrimento. Mas a Palavra de Deus não diz para examinarmos a nós mesmos antes de participarmos da ceia? Sem dúvida. Em 1Coríntios, diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice" (1Coríntios 11.28) Todavia para entender a expressão "examine-se a si mesmo", você precisa entender o contexto. Aqui, os irmãos da igreja de Corinto tinham um problema, eles ficavam bêbados no dia da ceia. Consegue imaginar algo assim? Paulo, então, lhes diz: "Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor" (1Coríntios 11.26-27) O que significa a expressão “indignamente”? É um advérbio de modo, é a maneira como se faz algo. Não é a pessoa que é indigna, é a maneira como ela está agindo. Paulo não disse para eles observarem se eram dignos de participar da ceia. Ele disse que, se você está fazendo de uma maneira errada, não faça. Mas nós interpretamos mal o versículo e transformamos o dia da ceia em uma reunião de introspecção. O pastor pega o pão e o cálice, entrega para cada um e diz: "Feche os seus olhos. Será que você é digno de comer deste pão e beber este cálice?". Qualquer pessoa minimamente honesta reconhecerá que não é digna de participar da mesa do Senhor. Quando eu era novo convertido, o momento da ceia era tão sério que era feito a portas fechadas, só os membros da igreja podiam entrar. E era muito comum, na hora de o diácono entregar o pão e o vinho, algumas pessoas mais velhas falarem: “Hoje não! Hoje não!”. Eu olhava aquilo e achava tão elegante o “Hoje não”. Mas o que ele estava falando realmente era: “Não sou digno”. Mas é obvio que ninguém e digno, não há um que seja digno. A Bíblia diz que não se achou nos céus, nem na terra, nem debaixo da terra alguém digno de abrir o livro e desatar-lhes o selo. João chorava, mas o ancião disse: "Não chore, porque o Cordeiro, o Leão da Tribo de Judá, venceu e Ele vai abrir o livro, porque Ele é digno. Só Ele é digno'' (Ap 5.5). Esse desejo de merecer a bênção é viver na lei do Velho Testamento. A introspecção mata, por isso a ceia é dia de morte para muitos. Minha esposa foi criada numa igreja pentecostal. Em certa ocasião, os diáconos vieram distribuir a ceia (hoje, o cálice é descartável, mas, em algumas igrejas, ele é de vidro e bem pequeno) e quando foram entregar o cálice a uma irmã, ela, com a mão suada, o deixou cair no chão. Rapidamente, o profeta falou: “O anjo bateu na mão dela”. Imagine aquela irmã tentando se justificar, dizer que estava com a mão suada, a condenação tinha sido lançada. Mas qual a conseqüência disso? Nos outros meses, no dia da ceia, o diácono entregava o cálice e os irmãos o agarravam com toda força. “Quero ver se algum arcanjo consegue derrubar esse cálice!”. Já tinham perdido o sentido da ceia. Ficaram apenas com a condenação da introspecção. CONVENCIDOS DA JUSTIÇA O Espírito não precisa mais convencer o crente a respeito do seu pecado. Nós já nascemos de novo e o nosso espírito possui uma função chamada consciência. Todo crente possui uma consciência em seu espírito e imediatamente ele sabe quando fez algo fora da Palavra de Deus. Ninguém precisa de uma revelação especial para saber que pecou. O Espírito Santo, na verdade, está trabalhando hoje para convencer o crente de que ele é justo em Cristo. Mesmo quando você falha, ele está sempre presente para lembrá-lo de que você é purificado pelo sangue do Cordeiro. O que realmente precisamos é que o Espírito Santo nos dê revelação de que Cristo é a nossa justiça. Quando falhamos, precisamos ser lembrados que ainda somos justiça de Deus em Cristo. Crer que Deus ainda nos vê como justos mesmo quando erramos precisa de uma grande revelação do Espírito Santo. A justificação pela fé somente pode ser entendida pela revelação do Espírito. “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16.8) João 16.8 diz que o Espírito Santo veio para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Observe que Ele veio para convencer o mundo. E mesmo assim não é convencê-lo de cada pecado no plural, mas do pecado no singular. O pecado é a descrença na obra de Cristo. Esse versículo, portanto, não se refere aos crentes, mas aos incrédulos. Mas o verso seguinte complementa quando o Senhor diz aos discípulos: "... da justiça, porque vou para o Pai, e vós não me vereis mais". Observe que aqui Ele estava falando com os discípulos. Porque precisamos ainda ser convencidos da justiça? Simplesmente porque pensamos que somos justos quando fazemos coisas corretas, mas o ser justo é permanecer justo diante de Deus por sustentar uma fé correta no sangue de Jesus. O que nos faz justos não é o nosso comportamento, mas a fé na obra de Cristo na cruz. Somos justificados por fé, e não por bom comportamento. O Espírito Santo é o ajudador. Ele foi enviado para ajudá-lo, e não para importuná-lo. Ele não é um sujeito implicante que veio para atormentá-lo o tempo todo. Ele veio para lhe dar a paz.