PROGRAMA HIPERDIA: DESAFIOS VIVENCIADOS POR PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA1. HIPERDIA PROGRAM: CHALLENGES FOR EXPERIENCED PROFESSIONALS OF NURSING FAMILY HEALTH STRATEGY. PROGRAMA HIPERDIA: DESAFÍOS QUE AFECTAN A LOS PROFESIONALES DE LA ESTRATEGIA DE ENFERMERÍA DE SALUD FAMILIAR. FRANCIDALMA SOARES SOUSA CARVALHO FILHA2. LÍDYA TOLSTENKO NOGUEIRA3; LÍVIA MARIA MELLO VIANA4; RESUMO: Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Caxias-MA, com o objetivo de identificar os desafios vivenciados pelos profissionais de enfermagem da Saúde da Família no desenvolvimento das ações do Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes, para que se possam instigar modelos de assistência mais adequados aos princípios da universalidade, equidade e integralidade da atenção. Os dados foram analisados com base nas três categorias abordadas por Donabedian: estrutura, processo e resultados. Constataram-se vários obstáculos apontados pelos profissionais de enfermagem e muitos deles são plenamente solucionados, com medidas de ordem gerencial e assistencial. A pesquisa é de grande importância e sugere ações conjuntas da Secretaria Municipal de saúde, das Coordenações da Atenção Básica e do Programa HiperDia, dos profissionais e dos usuários envolvidos na assistência. PALAVRAS CHAVE: Atenção Básica, Avaliação em Saúde, Enfermagem. ABSTRACT: This descriptive, qualitative approach, carried out in the Basic Health of the Municipality of Caxias, MA, with the aim of identifying the challenges experienced by nursing staff of Family Health in the development of actions of the Program of Hypertension and Diabetes, for it may unleash more appropriate models of care to the principles of universality, fairness and comprehensiveness of care. The data were analyzed based on three categories discussed by Donabedian: structure, process and results. It appears that several obstacles mentioned by nurses and many of them are fully settled, with measures of order management and care. The research is of great importance and suggested joint action of the Municipal health, Primary Care Coordination and Programme HiperDia professionals and users involved in care. KEY WORDS: Primary Care, Evaluation in Health, Nursing. RESUMEN: Este enfoque descriptivo, cualitativo, realizado en el Básico de Salud del Municipio de Caxias, MA, con el objetivo de identificar los desafíos experimentados por el personal de enfermería de Salud de la Familia en el desarrollo de las acciones del Programa de Hipertensión y Diabetes, por puede desencadenar modelos más adecuados de atención a los principios de universalidad, equidad e integralidad de la atención. Los datos fueron analizados con base en tres categorías examinadas por Donabedian: proceso, estructura y resultados. Al parecer, varios obstáculos mencionados por las enfermeras y muchos de ellos son totalmente resuelto, con medidas de gestión de pedidos y la atención. La investigación es de gran importancia y sugirió que la acción conjunta de la salud municipal, la Coordinación de Atención Primaria y los profesionales del Programa HiperDia y los usuarios involucrados en la atención. PALABRAS CLAVE: Atención Primaria, Evaluación en Salud, Enfermería. 1 Trabalho submetido ao 14º Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem - CBCENF na Sessão Temas Livres para Prêmios. Eixo Temático - A Enfermagem e o terceiro setor. 2 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Coordenadora do programa de Saúde do Adulto - Caxias (MA). Endereço: Rua Teófilo Dias, nº 1427, Centro. CEP: 65606-090. Caxias - MA. E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem e do Programa de Mestrado em Enfermagem da UFPI, Teresina - PI. 4 Enfermeira. Especialista em Saúde da Família. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFPI. Bolsista da CAPES. Enfermeira da Estratégia Saúde da Família de Teresina-PI. INTRODUÇÃO A estratégia Saúde da Família (SF), definida como um conjunto de ações no primeiro nível de atenção está voltada para a promoção da saúde, prevenção dos agravos, tratamento e reabilitação. Foi criada em 1994, para a reorganização de serviços; favorecendo a construção da saúde através de uma troca solidária e capaz de fortalecer a participação comunitária, o desenvolvimento de habilidades pessoais e a criação de ambientes saudáveis; tornando-se um excelente campo de cuidado aos hipertensos e/ou diabéticos1. Os profissionais de saúde envolvidos na SF programam e implementam atividades de investigação e acompanhamento dos usuários com hipertensão e/ou diabetes e devem ter a educação em saúde como prática constante no seu cotidiano; desenvolvida, principalmente, através de palestras, visitas domiciliares, reuniões em grupos e também de forma individual, através das consultas médicas e de enfermagem2. Assim, visando organizar a assistência ao hipertenso e/ou diabético, o Ministério da Saúde, em 2001, lançou em todo o país, o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes, materializado no Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes (HiperDia), que constitui-se um sistema de cadastramento e acompanhamento desses usuários, no qual os profissionais de saúde são responsáveis pelo atendimento aos pacientes e preenchimento desses dados. Visa permitir o monitoramento dos pacientes e gerar informação para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular e organizada3. O HiperDia representa uma ferramenta essencial para instrumentalizar a prática de atendimento aos usuários hipertensos/e ou diabéticos, por gerar informes que possibilitam o conhecimento da situação e mapeamento dos riscos para potencializar a atenção a estas pessoas e minimizar os fatores condicionantes de complicações das doenças. Na SF a abordagem ao usuário deve ser multiprofissional e interdisciplinar, no qual cada profissional realiza sua avaliação e posteriormente, em conjunto, traçam as metas e desenvolvem as ações necessárias para a recuperação e manutenção da saúde. No caso da Hipertensão Arterial e do Diabetes, esta interação é fundamental para que as atividades possam ocorrer de forma integrada e com níveis de competência bem estabelecidos, na realização da avaliação de risco cardiovascular, medidas preventivas e atendimento aos usuários4. Nesta perspectiva, a equipe de enfermagem possui um papel fundamental no desenvolvimento das ações de prevenção e controle destes agravos. Para tanto, devem sistematizar a assistência e organizar o atendimento, de modo que o usuário hipertenso e/ou diabético tenha acesso a todos os serviços de saúde, que vão desde as consultas de enfermagem, aos exames complementares, recebimento de medicamentos anti-hipertensivos e/ou anti-diabéticos, mensuração de peso, altura, circunferência abdominal, pressão arterial e glicemia capilar. Assim, enfermeiros e auxiliares e/ou técnicos de enfermagem devem ter a educação em saúde como aspecto prioritário da assistência. Desta maneira, devem ser formalizadas as atribuições dos membros da equipe de enfermagem da Saúde da Família, voltadas para o HiperDia, em cada Unidade Básica de Saúde, como o esclarecimento à comunidade, através de ações individuais e/ou coletivas, sobre os fatores de risco e rastreamento destas doenças, a realização de atendimento em grupo e/ou individual pelo enfermeiro, bem como o encaminhamento de pessoas com pressão arterial e glicemia elevadas por auxiliares e técnicos de enfermagem para consulta de enfermagem ou do enfermeiro para a consulta médica ou avaliação nutricional. Assim, cientes da importância epidemiológica que a Hipertensão Arterial e o Diabetes apresentam, do valor de cada membro da equipe de enfermagem e ainda, que a ação conjunta dos mesmos refletirá em melhoria da assistência aos usuários, propôs-se identificar os desafios vivenciados pelos profissionais de enfermagem da Saúde da Família no desenvolvimento das ações do Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes, para que se possam instigar modelos de assistência mais adequados aos princípios da universalidade, equidade e integralidade da atenção; encontrando-se aqui a relevância deste estudo. Ademais, o interesse na realização desta pesquisa partiu da atuação como supervisora do HiperDia do municio de Caxias (MA), desde janeiro de 2009, onde se observou algumas dificuldades na implementação das ações no programa, sobretudo ao que se refere à continuidade da assistência e ao desenvolvimento de atividades de educação em saúde para captação e acompanhamento dos usuários no sistema de saúde. O Ministério da Saúde estima que no Município de Caxias (MA), local de realização da pesquisa, existam cerca de 22.000 hipertensos e 5.000 diabéticos, sendo que no sistema estão cadastrados em torno de 7.768 hipertensos, 547 diabéticos e 2.585 diabéticos com hipertensão5. Além disso, constata-se a falta de informações referentes às ações de cadastramento e acompanhamento desses usuários, que pode ocorrer tanto pela ausência do atendimento a este público, como pela inexistência da notificação do cuidado prestado pela equipe de enfermagem e outras categorias profissionais, mantendo-os como faltosos. Diante deste problema, a busca por respostas se apoiou nas seguintes questões norteadoras: Como os profissionais da equipe de enfermagem da estratégia Saúde da Família desenvolvem suas ações voltadas aos usuários com hipertensão e/ou diabetes no HiperDia? Quais os desafios vivenciados por estes profissionais no desenvolvimento da atenção? As atividades desenvolvidas por estes profissionais no HiperDia estão em conformidade com as normas do programa? MÉTODO Trata-se de uma pesquisa descritiva, avaliativa, com abordagem qualitativa. É um recorte de outro estudo, realizado com profissionais da estratégia Saúde da Família atuantes na Atenção Primária do Município de Caixas (MA) e com usuários hipertensos e/ou diabéticos, onde se propôs avaliar o HiperDia, na perspectiva dos atores envolvidos na atenção: profissionais de saúde e hipertensos e/ou diabéticos cadastrados no Programa. A pesquisa qualitativa foi aplicada por se adequar à investigação das percepções e das opiniões que as pessoas emitem e fazem a respeito de como vivem, sentem, pensam, constroem seus artefatos e a si mesmas, como o fazem os profissionais de enfermagem da estratégia Saúde da Família, durante o atendimento de usuários hipertensos e/ou diabéticos6. O cenário desta investigação é o Município de Caxias, com área de 5.150,647 km², situado na região leste do Estado do Maranhão, a 374 quilômetros da capital maranhense, São Luís, e 70 quilômetros da capital piauiense, Teresina. Apresenta uma população de cerca de 155.129 habitantes7. Segundo dados da Coordenação da Atenção Básica e do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), o município está estruturado com 58 Equipes, distribuídas em 32 Unidades Básicas de Saúde, sendo 21 na zona urbana e 11 na zona rural. Dentre os profissionais das equipes de enfermagem atuantes na Atenção Primária em Saúde, este Município conta com 60 enfermeiros e cerca de 106 auxiliares e/ou técnicos de enfermagem. Destes, participaram do estudo 32 enfermeiros e 32 auxiliares e/ou técnicos de enfermagem. Para tanto, realizou-se um sorteio entre os profissionais de enfermagem de cada Unidade Básica de Saúde (UBS) visando conhecer a realidade de todas as UBS, bem como as dificuldades e/ou entraves na execução das atividades implementadas no HiperDia. Os dados deste estudo foram coletados no período de novembro de 2010 a maio de 2011, nas Unidades Básicas de Saúde, em datas previamente agendadas. A técnica utilizada para a obtenção das falas dos profissionais de enfermagem foi a entrevista; definida, como uma conversa que tem uma finalidade e que visa operacionalizar a metodologia abordada através da perspectiva dos participantes6. Assim, utilizou-se a entrevista aberta ou em profundidade, que é aquela em que o informante é convidado a falar livremente sobre um tema e as perguntas dão extensão às reflexões. Assim, os profissionais responderam a um roteiro com questões abertas8; resguardando-se que todas as entrevistas fossem realizadas em um local reservado, na própria UBS, utilizado um aparelho MP4 para gravar as falas e em seguida fazer as transcrições das mesmas. Os dados obtidos nas entrevistas com os profissionais de saúde foram submetidos à Análise de Conteúdo9, que tem como propósito a compreensão do significado das falas dos sujeitos para além dos limites daquilo que é descrito. E dentre as técnicas de Análise de Conteúdo, optou-se pela Análise Temática que busca os núcleos de sentido que constituem a comunicação e cuja expressão revela algo de importante para o objeto estudado. Além disso, as falas foram divididas em 3 categorias, de acordo com as abordagens propostas por Donabedian: estrutura, processo e resultados10; uma vez que, analisando as ações dos profissionais de saúde no Programa HiperDia, na perspectiva dos profissionais de enfermagem, pôde-se observar tudo o que medeia esta relação (processo), desde os materiais e/ou insumos necessários ao atendimento (estrutura) até a percepção das facilidades e/ou entraves na execução das atividades ou mesmo na constatação de que essa convivência é condizente ou não com uma assistência de qualidade e em concordância com as normas e rotinas estabelecidas pelo Sistema HiperDia e pelo Ministério da Saúde, levando à melhoria da qualidade de vida dos usuários (resultados). Para identificar os profissionais durante a apresentação dos resultados, utilizar-se-ão códigos com letras da seguinte forma: enfermeiros (E1 - E32) e auxiliares e/ou técnicos de enfermagem (AT1 - AT32), onde os números representam as 32 UBS e os profissionais foram numerados de acordo com a ordem de realização das entrevistas. Os sujeitos que concordaram em participar desta pesquisa receberam informações sobre o interesse, a justificativa, os objetivos e as finalidades do estudo e antes de iniciar a entrevista ou a aplicação dos questionários, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após a devida explicação sobre a sua participação voluntária. Ressalta-se que o projeto foi previamente submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí para a sua apreciação, sendo aprovado em 10 de setembro de 2010, com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 0287.0.045.000-10 (ANEXO). A pesquisadora se comprometeu com as normas preconizadas pela Resolução CNS 196/96 e suas complementares, que tratam dos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos e assegura que nenhum sujeito será submetido à pesquisa sem ter garantida a sua privacidade e protegida sua integridade física e moral. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Quadro 1 - Categoria I - Desafios vivenciadas pelos profissionais, ligadas à ESTRUTURA. Caxias-MA, 2011. TEMAS REFERIDOS POR ENFERMEIROS - Nenhuma dificuldade - Falta de medicamentos - Falta de outros insumos: Insulina, seringas. - Demora na marcação e recebimento de exames - Sobrecarga de trabalho com outros programas. - Falta de transporte para as visitas domiciliares. - Faltam outras categorias profissionais: nutricionistas, psicólogos Quantidade de profissionais 02 23 04 03 04 TEMAS REFERIDOS POR AUXILIARES/TÉCNICOS ENFERMAGEM - Nenhuma dificuldade - Falta de medicamentos - Falta de cadastro de muitos pacientes - Alguns medicamentos usados não são fornecidos pela Farmácia Básica - Uso de medicamentos caseiros e crendices populares Quantidade de profissionais 02 24 03 05 03 05 02 A estrutura diz respeito às características relativamente estáveis, como os instrumentos e recursos que os profissionais têm à sua disposição e os ambientes físicos e organizacionais onde trabalham, programam e executam as atividades; envolvendo recursos humanos, físicos, materiais, financeiros, insumos e normatização do serviço10-11. Neste sentido, são notórias as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de enfermagem da Saúde da Família em executar as ações programadas aos usuários hipertensos e/ou diabéticos em virtude da falta de insumos necessários e imprescindíveis ao atendimento, como os medicamentos e seringas para a auto-administração de insulina e a carência da introdução de outros medicamentos anti-hipertensivos e anti-diabéticos no Programa. Foram citados também obstáculos como a privação de veículos para as visitas domiciliares, a necessidade de outras categorias profissionais envolvidos no cuidado e o retardo no agendamento e recebimento de exames importantíssimos ao acompanhamento destes usuários. Além da interferência do uso de terapias caseiras no tratamento, confirmados pelas falas a seguir: “[...] existe a falta de mais profissionais envolvidos nesse atendimento ao hipertenso e diabético como o nutricionista, psicóloga”. (E6) “[...] é a grande dificuldade que a gente [...] não tem carros disponíveis pra ir pra zona rural fazer visita domiciliar”. (E8) “[...] quando não tem o medicamento na unidade, [...] eles não compram, aí ficam sem tomar, ou então eles tomam remédio caseiro”. (E14) “[...] a dificuldade na marcação de alguns exames e a demora na entrega dos resultados. (E17) “[...] mas tem outros pacientes que vêm de outros lugares e aquela confusão, quando chegam aqui, que a gente não quer atender eles, então isso aí tudo é dificuldade pra gente. (AT2) “Seria o acompanhamento assim... da equipe mais presente que as vezes por falta de carro, não vai na localidade visitar... e o tempo também porque não é só esse emprego que eles tem, tem outros, é muito trabalho [...]”. (AT9) “a família tem como comprar e outros não tem de jeito nenhum, [...] e tem vários outros tipos de remédios que a gente não dispõem.. (AT24) Ressalta-se que alguns dos entraves que dificultam e/ou inoperam as atividades inerentes a este Programa poderiam ser sancionados com certa facilidade, embora estejam também ligados ao processo, que será discutido posteriormente. Assim, ao se discutir, por exemplo, a falta de medicamentos, muito referida pelos profissionais, esta está ligada a um fator que independe apenas da compra desta medicação. Conforme demonstrado anteriormente, o número estimado de hipertensos e/ou diabéticos para o Município de Caxias-MA, pelo Ministério da Saúde, está muito acima do quantitativo de usuários cadastrados no Sistema, como relataram alguns interlocutores; o que prejudica em sobremaneira a disponibilidade desta terapia aos pacientes e consequentemente, a execução do Programa. Além disso, este Município é classificado como macro-região, e por isso, atende à grande demanda de municípios visinhos. Outros empecilhos são de ordem puramente administrativa, tal qual a falta de veículos para as visitas, a inserção de outros profissionais na atenção ou ainda, a demora na marcação dos exames laboratoriais. O Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus em conjunto com os manuais de Ministério da Saúde12-14, são enfáticos em demonstrarem a importância do suprimento de insumos básicos necessários ao atendimento destes usuários. Quadro 2 - Categoria II - Desafios vivenciadas pelos profissionais, ligadas ao PROCESSO. Caxias-MA, 2011. TEMAS REFERIDOS POR ENFERMEIROS Quantidade de profissionais - Nenhuma dificuldade - Desinteresse de profissionais da Saúde da Família. - Falta de busca ativa aos usuários 02 05 - Falta de atividades educativas. 04 - Poder aquisitivo e baixa escolaridade dos usuários. - Dificuldades em prevenir complicações. 03 03 01 TEMAS REFERIDOS POR AUXILIARES/TÉCNICOS ENFERMAGEM - Nenhuma dificuldade - Falta de Humanização de profissionais da Saúde da Família - Falta de busca ativa aos usuários - Falta de capacitação dos profissionais. Quantidade de profissionais 02 02 03 01 O processo refere-se à relação profissional-usuário e as atividades envolvidas neste relacionamento, sendo que um juízo acerca da sua qualidade pode ser feito através da observação direta e por meio da leitura de informações registradas. Envolve os aspectos organizativos, técnico-científicos e interpessoais; enfim, todas as atividades realizadas pelos serviços de saúde10-11. A este respeito, os sujeitos da pesquisa referiram obstáculos no atendimento, como o desinteresse e falta de humanização de alguns profissionais da Saúde da Família pelos problemas dos pacientes, a privação de atividades educativas para sensibilizar usuários e familiares e para envolvê-los na assistência prestada e no auto-cuidado. Inferiram também, sobre a necessidade de realizarem mais busca-ativa aos usuários faltosos, bem como atividades que previnam as possíveis complicações advindas do mau controle destes agravos e a baixa escolaridade e poder aquisitivo dos usuários, prejudicando o entendimento e cumprimento da terapêutica indicada. Às quais podem ser visualizadas por meios das falas dos interlocutores: “[...] o que falta fazer é mais atividade de educação em saúde para conscientizar os pacientes” (E16) “[...] se a gente não fizer mais busca ativa, [...] não vamos conseguir trazer os pacientes para o posto [...] e nem vamos controlar a pressão e a glicemia [...]. (E8) Alguns profissionais não se interessam pelos pacientes [...] e pelos problemas deles. (E25) “[...] a maior dificuldade é trabalhar a prevenção de outras doenças, porque nem sempre eles fazem os exames e quando fazem, nem sempre voltam [...]”. (E28) “[...] eu acho que alguns profissionais não tem compromisso com os pacientes, não todos, mais eu gostaria que eles pensassem mais no paciente, na saúde do paciente”. (AT2) “[...] os profissionais tem que fazer mais curso pra se preparar melhor e saber cuidar mais [...]” (AT5) “Eu não tenho nenhum ponto negativo pra citar não. (AT19) A qualidade e os bons resultados do atendimento dependem consideravelmente da forma como as relações entre profissionais e usuários se estabelecem, bem como a segurança e interesse demonstrados pelos profissionais durante a atenção. Por isso, a equipe de enfermagem deve estar atenta às normas e rotinas do Programa12, para implementarem atividades que estimulem nos hipertensos e/ou diabéticos a prática de ações que melhorem suas condições de vida e saúde, que é o maior propósito do atendimento. Ainda assim, há de se convir que maior do que a necessidade de guiar-se por modelos estabelecidas, os profissionais de enfermagem devem e guiar-se pelos os preceitos da humanização e do holismo, pois “o cuidado não pode ser prescritivo, não existem regras a seguir, nem manuais de cuidar ou ensinar a cuidar. O cuidado deve ser sentido, vivido”15. Para tanto, os profissionais de enfermagem devem compreender que a oferta do cuidado perpassa por escutar o paciente, dar voz às suas angústias e inquietações, entendimento às suas solicitações e servir às suas demandas16. Por fim, discutir a categoria de processo do atendimento, exige a percepção dos elementos que envolvem a qualidade da atenção, que nem sempre são fáceis de serem definidos ou mensurados e envolvem a compreensão da integração cuidador-usuário e serviços disponíveis; por isso, não podem ser depreciados ou ignorados, devendo, inclusive, orientar a prestação do cuidado10. Em se tratando de qualidade do cuidado, Donabedian17 refere que esta pode ser avaliada com base na assistência prestada, pois se é propósito do profissional de saúde servir aos melhores interesses dos usuários, como os hipertensos e/ou diabéticos, é preciso informálos sobre as alternativas disponíveis para que possam fazer as escolhas mais adequadas às suas preferências. Quadro 3 - Categoria III - Desafios vivenciadas pelos profissionais, ligadas aos RESULTADOS. Caxias-MA, 2011. TEMAS REFERIDOS POR ENFERMEIROS - Nenhuma dificuldade. - Falta de adesão dos pacientes ao tratamento. - Presença de complicações nos pacientes. Quantidade de profissionais 01 06 TEMAS REFERIDOS POR AUXILIARES/TÉCNICOS ENFERMAGEM - Nenhuma dificuldade. - Falta de adesão dos pacientes ao tratamento. Quantidade de profissionais 02 05 03 A categoria de resultados tem sido discutida nas pesquisas em saúde e geralmente são abordadas por meio das próprias falas dos usuários, onde expressam a satisfação com o atendimento, bem como o conhecimento que tenham adquirido através da assistência prestada e das ações educativas sobre as doenças, as complicações advindas do tratamento inadequado e a melhoria do estado de saúde após a intervenção dos profissionais10-11,18. Desta maneira, os principais fatores inerentes aos resultados da atenção são: acessibilidade do usuário, adequação dos métodos de trabalho, a efetividade das ações e as mudanças na saúde da população. Neste caso, hipertensos e/ou diabéticos assistidos pelas equipes de enfermagem da saúde da Família de Caxias-MA. Portanto, pelas mensagens a seguir, constata-se que os maiores desafios destes profissionais quanto aos resultados do atendimento, dizem respeito à não adesão dos usuários ao tratamento estabelecido e à presença de complicações, confirmando a dificuldade anterior. “[...] o paciente [...] ele é negligente com as informações que lhe são dadas [...] não usa o medicamento [...] não segue o que a gente diz [...] não segue o tratamento medico [..]”. (E 11) “[...] são tantas conseqüências, desse, vamos dizer assim, dessa falha de tratamento: o grande número de hospitais ocupados com pacientes com derrame, infarto, são as UTIs cheias [...]. Às vezes os resultados são catastróficos [...]. (E16) “[...] os pacientes não seguem direito os tratamentos que os médicos manda. [...] eles faltam nas consulta”. (AT9) Assim, a análise dos resultados, com base nos cuidados prestados e recebidos deve levar o cuidador à reflexão de que a aceitação do usuário está relacionada à sua disponibilidade e, acima de tudo, à sua decisão em seguir ou não plano estabelecido pelo enfermeiro e sua equipe. E o fato dele aceitar o cuidado, não significa que aceitará passivamente tudo o que fizerem com ele15. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa trás a constatação de que existem inúmeros desafios vivenciados pelos enfermeiros e auxiliares/técnicos de enfermagem na implementação das ações inerentes ao Programa HiperDia na Saúde da Família e tal como nomeados estes obstáculos - desafios precisam ser superados; quer seja com medidas gerenciais por parte da Secretaria Municipal de Saúde e da Coordenação local do Programa, através do emprenho destes profissionais em efetivar as atividades ou mesmo, estimulando a participação ativa de outras categorias profissionais neste cuidado e dos próprios usuários e familiares no tratamento. Os impedimentos, conforme demonstrados, são de ordem estrutural, assistencialista e/ou de convivência e de certo, culminam em resultados desfavoráveis tanto para as equipes de enfermagem quanto, e principalmente, para os usuários. As dificuldades baseadas na estrutura, citadas pelos profissionais foram: a falta de medicamentos, de veículos para visitas domiciliares e de outras categorias profissionais envolvidas no cuidado; impedimentos na marcação de exames e a pouca quantidade de usuários cadastrados no Programa. Os obstáculos que envolvem o processo da assistência, referidos pelos sujeitos foram, sobretudo, o desinteresse e desumanização de alguns profissionais, a falta de entendimento dos usuários acerca das orientações realizadas e do tratamento indicado e ainda, a falta de busca-ativa de hipertensos e/ou diabéticos faltosos. Quanto à categoria resultados, os empecilhos referenciados foram a não adesão dos usuários ao tratamento e a presença de complicações. Assim, há de se convir que a hipertensão arterial e o diabetes mellitus são dois agravos debilitantes, que se não tratados adequadamente, levam ao surgimento de diversas outras doenças incapacitantes e que os profissionais de enfermagem são fundamentais na assistência aos usuários e que, a conscientização destes profissionais acerca de sua importância na execução das normas e rotinas do programa HiperDia é essencial para o planejamento adequado da atenção. Ademais, urge a efetivação de medidas enérgicas e rápidas para solucionar os problemas aqui encontrados e acima de tudo, aliar a secretaria Municipal de Saúde, Coordenações da Atenção Primária e do programa HiperDia e profissionais da Saúde da Família para voltarem todos os seus esforços na busca de um cuidado mais humano solidário. REFERÊNCIAS: 1. Andrade LOM, Bueno ICHC, Bezerra RC. Atenção Primária à Saúde e Estratégia Saúde da Família. In: Campos GWS et al. Tratado de saúde Coletiva. 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