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IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 4, NO. 5, SEPTEMBER 2006
309
Compensadores Adaptativos de Dispersão
Cromática para Sistemas de Comunicação por
Fibra Óptica
Paulo André, Member, IEEE, Berta Neto, A. L. Teixeira, Member, IEEE, Mário Lima, Member, IEEE,
Rogério Nogueira, Student Member, IEEE, J. F. da Rocha, Member, IEEE, J. L. Pinto
Resumo--Neste trabalho faz-se uma análise dos efeitos da
temperatura na dispersão cromática das fibras ópticas e da
consequente degradação na qualidade da informação
transportada. Para colmatar este problema, sugerimos dois
dispositivos para a compensação dinâmica da dispersão
cromática, baseados em redes de Bragg de período variável e
fibras ópticas compensadoras de dispersão. Com o compensador
baseado em fibras compensadoras de dispersão, foram obtidos
coeficientes de sintonia de primeira e de segunda ordem de,
respectivamente, 3.472 ps nm-1 ºC-1 e –2.7 × 10 -3 ps nm-2 ºC-1.
Com o compensador baseado em redes de Bragg gravadas em
fibras ópticas, foram obtidas dispersões entre –113.2 ps nm-1 e
–143.1 ps nm-1, utilizando-se para o efeito gradientes de
temperatura máximos de 40 ºC.
Palavras-chave—Compensação da dispersção cromática em
fibras ópticas, redes de Bragg gravadas em fibras ópticas,
comunicações ópticas.
I. INTRODUÇÃO
A
s telecomunicações vêm conquistando um papel cada vez
mais preponderante na sociedade tecnológica em que
vivemos, modificando e padronizando o modo de vida actual.
É cada vez maior a procura de recursos digitais tais como
internet,
telefone,
televisão,
vídeo
on
demand,
videoconferência, telemedicina, teletrabalho e ensino a
distância.
Na última década, assistiu-se a um crescimento
significativo no incremento da capacidade de transporte quer
em termos de ritmos de transmissão, quer em nível de
cobertura geográfica, dos sistemas de comunicação por fibra
óptica. O aumento da solicitação de recursos digitais teve um
incremento de tal modo elevado que ultrapassou a maioria das
previsões, resultando no esgotamento da capacidade de
tráfego disponibilizada pelos operadores. A manutenção das
Os autores agradecem o apoio oferecido pelo Programa POSI, financiado
pelo Programa Europeu FEDER e pelo Programa Científico Nacional.
P. André, B. Neto, R. Nogueira e J. L. Pinto integram o Departamento de
Física da Universidade de Aveiro, Campus de Santiago, Aveiro, Portugal,
3810-193, Telefone: +351-234377900, Fax: +351-234377901 (e-mail:
[email protected]).
A. J. Teixeira, M. Lima e F. da Rocha integram o Departamento de
Electrônica e Telecomunicações da Universidade de Aveiro, Campus de
Santiago, Aveiro, Portugal, 3810-193.
Todos os autores são membros do Instituto de Telecomunicações da
Universidade de Aveiro, Campus de Santiago, Aveiro, Portugal, 3810-193.
expectativas criadas nos consumidores, em termos de serviços,
requer um aumento da eficiência de transmissão de dados. Tal
facto só pode ser conseguido através de dois passos
essenciais: a criação de uma rede de acesso que suporte
elevados débitos e o aumento da capacidade de transporte e de
encaminhamento da informação, mantendo a estrutura física
existente, que já conta com vários milhões de quilómetros de
fibra óptica instalados.
É nesse sentido que surge o trabalho aqui apresentado,
tornando-se necessário desenvolver dispositivos capazes de
permitir a utilização da actual rede de fibras ópticas com
ritmos muito mais elevados do que os existentes actualmente.
A dispersão cromática é um dos efeitos lineares das fibras
ópticas, responsável pela degradação da informação
transportada. Esse efeito é particularmente relevante quando
se utilizam elevados ritmos de transmissão (>10 Gbits/s). No
sentido de contrariar este fenómeno, torna-se iminente o
desenvolvimento de dispositivos ópticos compensadores da
dispersão cromática, os quais devem ser capazes de equalizar
a dispersão de primeira e de segunda ordem. O
desenvolvimento desses dispositivos deve enfatizar a
necessidade de uma sintonia dinâmica, uma vez que a
dispersão cromática nas fibras-padrão usadas (SMF) é sensível
a factores ambientais, tal como previsto por estudos prévios
que relacionam a dependência da dispersão de primeira e de
segunda ordem com a temperatura local da fibra [1]-[3].
Existem várias possibilidades tecnológicas para compensar
opticamente a dispersão cromática, nomeadamente pelo uso de
redes de Bragg de período variável gravadas em fibra óptica
(CFBG) ou fibra óptica compensadora de dispersão
(DCF) [4], [5]. As redes de Bragg de período variável
apresentam vantagens sobre os dispositivos restantes
nomeadamente, como baixo custo de implementação,
dimensões reduzidas e elevada flexibilidade, quando
comparadas com outros métodos. No decorrer deste artigo,
faz-se uma abordagem mais pormenorizada desses
dispositivos e do processo de sintonia dinâmica dos mesmos.
Na secção II, será apresentada uma descrição da dispersão
cromática e da sua dependência com a temperatura. Nas
secções III e IV, descrevem-se, respectivamente, a utilização
de compensadores de dispersão cromática e os dados
experimentais referentes a compensadores dinâmicos baseados
em fibras DCF e em CFBG. Finalmente, na secção V,
apresentam-se as conclusões do trabalho.
310
IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 4, NO. 5, SEPTEMBER 2006
DO II. EFEITO DA TEMPERATURA NA DISPERSÃO CROMÁTICA DAS
FIBRAS ÓPTICAS
A dispersão cromática manifesta-se por meio de um
alargamento temporal dos impulsos ao longo da sua
propagação na fibra óptica. Este fenómeno ocorre originado
pela incapacidade de emissão de impulsos ópticos puramente
monocromáticos, e está associado ao facto de a fibra óptica ser
um elemento dispersivo. Como a velocidade de grupo dos
impulsos é função do comprimento de onda, as componentes
espectrais de um dado impulso apresentam um atraso entre si,
após a propagação ao longo da fibra, originando um
alargamento no domínio temporal. Esse alargamento dos
impulsos binários pode originar a sobreposição de dois
impulsos não adjacentes, mascarando, dessa forma, a presença
do símbolo intermédio e tornando o sinal indistinguível após
algum tempo de propagação.
A dispersão cromática total de uma fibra óptica resulta de
duas contribuições: a dispersão material e a dispersão de guia
de onda. A dispersão material é intrínseca à sílica, cujo índice
de refracção varia com o comprimento de onda, enquanto a
dispersão de guia de onda deve-se a um incompleto
confinamento da potência óptica no núcleo da fibra,
propagando-se uma fracção residual na bainha a uma
velocidade diferente, pois o índice da bainha é inferior ao do
núcleo.
A dispersão material está relacionada com o índice de
refracção do núcleo, nn, sendo dada por [6]:
.
Dm O O d 2 nn O ˜
c
dO2
(1)
em que c é o valor da velocidade da luz no vazio. Para uma
fibra monomodo de índice em degrau, a dispersão de guia de
onda é [4]:
Dw | nn nb
c˜O
ª d 2 (b ˜ V ) º
˜ «V ˜
dV 2 »¼
¬
(2)
em que nb designa o índice de refracção da bainha, V o
parâmetro normalizado do guia de onda e b a constante de
propagação normalizada.
A dispersão cromática total é dada pela soma dessas duas
contribuições. Tendo o primeiro termo um declive positivo e o
segundo um declive negativo. A dispersão total apresenta um
valor nulo para um comprimento de onda (Ȝ0) próximo de
1.310 nm.
Seguindo uma abordagem empírica, foi obtida uma
expressão para a dispersão total em função do comprimento de
onda, onde ocorre o valor nulo da dispersão cromática [7].
S0
4
§
O4
¨O 0
¨
O3
©
·
¸
¸
¹
(3)
em que S0 designa a dispersão de segunda ordem na posição
onde ocorre o nulo da dispersão cromática. Por derivação de
(3), em relação ao comprimento de onda, resulta [8]:
wD
wO
S0
4
§
O 4·
˜ ¨¨1 3 ˜ 04 ¸¸
O ¹
©
(4)
Como ambas as grandezas das duas expressões anteriores
variam com a temperatura, podemos calcular a sua razão de
variação, realizando a derivada em relação à temperatura [8].
Tipicamente, paras as fibras SMF, S0 diminui com a
temperatura enquanto Ȝ0 aumenta [9].
Implementando numericamente (1) e (2) e incluindo o
efeito de variação do índice de refracção com a temperatura,
valor este dado pelo coeficiente termo-óptico (˜n/˜T em 5),
que descreve a variação do índice de refracção com a
temperatura, é possível estimar o comportamento da dispersão
cromática com a temperatura e com o comprimento de onda
do sinal [10], [11].
§ wn ·
2˜n˜¨
¸
© wT ¹
§ O2 ·
¸
3 ˜ D ˜ n1 1 ˜ ¨ 2
¨O O 2 ¸
g ¹
©
2
§ 2 wE g
· § O2 ·
2
¸
¨
˜
˜ n1 1 ¸ ˜ ¨ 2
¨ E wT
¸ ¨O O 2 ¸
g
g ¹
©
¹ ©
2
(5)
Eg designa a energia de hiato do material, Og o comprimento
de onda associado a essa energia e n1 o valor do índice de
refracção menos dispersivo.
Os valores típicos, para fibras SMF, da variação da
dispersão de primeira e de segunda ordem com a temperatura
são, respectivamente, de –1.5u10-3 ps nm-1 km-1 ºC-1 e
1.3u10-6 ps nm-2 km-1 ºC-1 [12].
III. DISPOSITIVOS COMPENSADORES DE DISPERSÃO
CROMÁTICA
A. Fibra DCF (Fibra de Compensação de Dispersão)
A alteração do perfil do guia de onda (fibra óptica) resulta
numa alteração da sua dispersão, possibilitando uma
“engenharia de dispersão” [13]. Assim, é possível a obtenção
de fibras com uma dispersão nula para um comprimento de
onda de 1.550 nm, como no caso das fibras de dispersão
deslocada (DSF), ou mesmo de valores de dispersão negativos
para um comprimento de onda de 1.550 nm, como no caso das
fibras DCF.
Para estes grupos de fibras, não é possível obter uma
expressão analítica que descreva a dispersão do guia de onda,
14
ANDRÉ et al.: CHROMATIC DISPERSION ALLOCABLE
311
tal como (2), no caso das SMF, devido à complexidade da
estrutura do perfil.
No caso das fibras DCF, o acoplamento ressonante dos
modos é responsável por uma elevada sensibilidade da
dispersão de primeira e de segunda ordem à temperatura.
Tendo esta premissa em mente, sugerimos a utilização desse
tipo de fibra para a compensação dinâmica da dispersão
cromática de primeira e de segunda ordem [14].
O uso desse tipo de fibra num sistema real de
comunicações apresenta, no entanto, desvantagens, tais como
o seu elevado custo relativamente a fibras convencionais. O
facto de estas fibras apresentarem uma área efectiva bastante
inferior à das fibras SMF conduz a um aumento considerável
da densidade de potência no seu interior, o que favorece a
ocorrência de fenómenos não lineares. A necessidade da
introdução de amplificadores ópticos, devido à atenuação
adicional resultante da introdução destes módulos, potencia
ainda mais a ocorrência desses fenómenos. Pelos motivos
enunciados, sugerimos também a utilização de compensadores
dinâmicos baseados noutras tecnologias, as CFBG.
B. Redes de Bragg de Período Variável (CFBG)
As redes de Bragg gravadas em fibra óptica consistem
numa modulação periódica do índice de refracção do núcleo
da fibra, induzida por exposição a um padrão de interferência
de luz ultravioleta. Quando se verifica a condição de
ressonância, é observado um máximo de reflectividade para
um determinado comprimento de onda (que satisfaz a
condição de Bragg). O valor do comprimento de onda de
Bragg fica estabelecido pelo índice de refracção efectivo da
rede e pelo período espacial de modulação do índice [11]:
OB
2neff /
(6)
Numa rede de Bragg de período variável (CFBG), o
período óptico neffȁ não é constante ao longo do seu
comprimento. Uma rede desse tipo obtém-se por variação do
índice de refracção efectivo, com o comprimento neff(z), ou
por variação do período espacial da amplitude de modulação
do índice ȁ(z), ou por variação simultânea de ambas as
grandezas. Por razões técnicas, é usualmente utilizada a
modulação do período espacial da amplitude de modulação.
As redes de Bragg com aperiodicidade linear revelaram
elevado potencial na compensação da dispersão cromática,
uma vez que introduzem um atraso de grupo variável entre
componentes espectrais igualmente espaçadas. É possível
dimensionar fisicamente esse tipo de rede, de forma a se obter
um determinado valor de dispersão (simétrico daquele que
apresenta a fibra óptica), e assim proceder a uma compressão
do impulso óptico que sofreu um alargamento temporal na sua
propagação.
A dispersão cromática numa rede de Bragg, cujo período
óptico varia linearmente ao longo do seu comprimento, é dada
por [15]:
DFBG
2neff L
(7)
c'O
em que ǻȜ é a largura espectral da rede e designa a diferença
entre os comprimentos de onda de Bragg reflectidos no início
e no fim da rede e c é a velocidade da luz no vazio.
Uma variação linear do período espacial de modulação do
índice resulta numa largura espectral de:
'O
2neff C/ L
(8)
em que Cȁ é o coeficiente de aperiodicidade da rede
(ȁ=ȁ0+Cȁz) e L é a dimensão física da rede. O sinal de C/
está relacionado com a monotonia do período óptico. Por
substituição de (8) em (7), obtém-se:
DFBG
1
cC/
(9)
Note-se que a dispersão não depende do comprimento da
rede, mas apenas do coeficiente de aperiodicidade da mesma.
Para utilização na compensação da dispersão cromática das
fibras SMF, o sinal óptico deverá entrar na rede pelo extremo
onde o período espacial da amplitude de modulação do índice
é maior, o que significa que C/ terá sinal negativo e,
consequentemente, a dispersão cromática da rede será também
negativa.
É possível ajustar de forma dinâmica o valor da dispersão
na rede de Bragg introduzindo perturbações que se reflictam
na largura espectral da rede. A aplicação de gradientes de
temperatura em redes de Bragg (uniformes ou de período
variável) origina alterações espectrais devido à sensibilidade
térmica da sílica. As alterações produzidas pelo efeito da
temperatura podem ser obtidas pela diferenciação de (6) em
relação à temperatura [16].
'O
§ wneff
w/
2¨¨
neff
/
wT
© wT
·
¸¸'T
¹
(10)
No caso de uma rede aperiódica sujeita a um gradiente
linear de temperatura, o período espacial de modulação do
índice e o índice de refracção efectivo variam ao longo do
eixo de propagação da fibra em função da temperatura local
induzida. É, assim, possível alterar a largura espectral da rede
e, consequentemente, a sua dispersão, por meio da indução de
um gradiente de temperatura.
IV. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
A. Fibra DCF
De forma a estudar o efeito da temperatura na dispersão
cromática das fibras DCF, colocamos um módulo DCF, com
312
IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 4, NO. 5, SEPTEMBER 2006
capacidade para compensar 40 quilómetros de fibra SMF,
dentro de uma câmara térmica. Mediu-se a dispersão
cromática do módulo em função da temperatura para três
diferentes comprimentos de onda, pelo método do desvio de
fase [17]. Estes dados encontram-se registados na Figura 1.
Na Figura 2, visualiza-se a dispersão de primeira e de segunda
ordem, calculadas em função dos dados anteriores.
-450
-500
D (ps/nm)
-550
-600
-650
-700
6ºC
25 º C
60 º C
-750
-800
1530
1540
1550
1560
1570
Comprimento de onda (nm)
Fig. 1. Dispersão cromática da fibra DCF em função do comprimento de onda
para três temperaturas.
-400
-1.52
-450
-1.54
-1.56
-1.58
2
-550
-1.60
-600
-1.62
-650
-1.64
-700
0
10
20
30
40
B. Rede CFBG
Para estudar a compensação dinâmica de dispersão
cromática baseada em redes de Bragg, gravou-se uma rede
CFBG numa fibra óptica padrão, previamente hidrogenizada,
de forma a incrementar a sua fotossensibilidade. A gravação
foi realizada utilizando o método da máscara de fase e um
laser de iões de Árgon dobrado em frequência (244 nm). A
rede gravada apresenta um comprimento de 2,5 cm e um
coeficiente de aperiodicidade (C/) de 3 nm/cm, estando o
espectro de reflexão da mesma centrado num comprimento de
onda de 1560 nm.
A rede foi colocada entre dois suportes de latão com
espaçamento de 3,5 cm, tal como mostrado na Figura 3. Esses
suportes encontram-se ligados a módulos termoeléctricos
(TEC), por meio dos quais se pode controlar a temperatura de
cada um dos blocos. Embutidos nos blocos de latão estão os
termistors, que permitem determinar a temperatura efectiva
nos blocos de latão, providenciando um sinal de realimentação
para as fontes de controle dos TECs. As temperaturas
atingidas nos blocos variam entre 0 ºC e 80 ºC, e o seu
funcionamento pode ser encarado como um reservatório
térmico. A rede de Bragg é colocada entre blocos, numa
posição igualmente espaçada entre cada um destes.
-1.66
1530 nm
1550 nm
1570 nm
-750
-800
dD/dO (ps/nm )
D (ps/nm)
-500
compensador, o tempo de resposta para uma variação térmica
de 10 ºC é tipicamente de 5 min a 30 min. Mesmo para os
sistemas com o tempo de resposta mais lento, as variações
térmicas pretendidas são sempre reduzidas, o que implica um
reduzido tempo de resposta. De referir que nos sistemas que
empregam cabos ópticos não colocados em condutas (situação
mais crítica), são expectáveis, nas condições mais adversas,
variações de 60 ºC ao longo de um período de 12 horas [18].
-1.68
50
60
-1.70
70
Temperatura (ºC)
Fig. 2. Dispersão cromática e de segunda ordem da fibra DCF em função da
temperatura.
Na fibra DCF, observou-se uma dependência da dispersão
cromática com a temperatura de 3.472 ps/nm/ºC e uma
dependência da dispersão de segunda ordem com a
temperatura de –2.7 × 10-3 ps/nm2/ºC.
Considerando uma ligação óptica com 40 quilómetros de
fibra SMF, verifica-se que é possível compensar os efeitos
ambientais na dispersão cromática recorrendo a uma fibra
DCF sujeita a um controle térmico. Assim, os efeitos
resultantes da variação em 1º C na temperatura média da fibra
SMF podem ser compensados pela alteração da temperatura
da fibra DCF em 0017ºC.
Dependendo do sistema de refrigeração utilizado para o
Fig. 3. Fotografia do sistema térmico implementado.
Na Figura 3, podemos observar os espectros de amplitude e do
atraso de grupo do sinal reflectido pela rede de Bragg para
dois gradientes de temperatura aplicados (10ºC-50ºC e 50ºC10ºC).
Amplitude (dB)
ANDRÉ et al.: CHROMATIC DISPERSION ALLOCABLE
313
-10
-20
-30
-40
Atraso de grupo (ps)
-50
1557
1558
1559
1560
250
200
150
100
50
0
-50
-100
-150
1561
1562
50 º C - 10 º C
10 º C - 50 º C
V. CONCLUSÃO
1557
1558
1559
1560
1561
Comprimento de onda (nm)
Fig. 4. Espectros de reflexão em amplitude e de atraso de grupo para dois
gradientes de temperatura aplicados.
Um gradiente negativo de temperatura significa que a
temperatura diminui ao longo da rede, contribuindo para um
incremento da largura do espectro de reflexão e,
consequentemente, para a redução da dispersão. Por outro
lado, um gradiente positivo resulta numa diminuição da
aperiodicidade, numa diminuição da largura espectral e num
incremento da dispersão (em valor absoluto).
Para as condições dos gráficos da Figura 4, obteve-se uma
dispersão experimental de –109.8 ps/nm e –134.38 ps/nm,
respectivamente para o gradiente negativo e positivo da
temperatura. Os valores obtidos numericamente para um
modelo que implementa as expressões (6) a (10) permitiram
obter, respectivamente, valores de –113.2 ps/nm e 143.1
ps/nm.
Usando o mesmo procedimento para diversos valores de
gradiente térmico, num total de 25, foi construído o mapa de
dispersão da Figura 5, no qual verificamos que é possível
sintonizar a dispersão entre –100 ps/nm e –140 ps/nm com um
gradiente de temperatura máximo de 40 ºC.
O efeito da temperatura na dispersão cromática das fibras
ópticas instaladas é considerado relevante, especialmente para
ritmos de transmissão elevados. Foram descritos dois métodos
para a compensação óptica da dispersão cromática, que
apresentam a vantagem de serem adaptativos. O período
médio de reconfiguração, mesmo para a solução mais lenta, é
suficientemente rápido quando comparado com a escala
temporal com que ocorrem as variações climatéricas na fibra
SMF. Sendo esses métodos válidos para uma implementação
pelos operadores de telecomunicações.
VI. REFERÊNCIAS
[1]
[2]
[3]
[4]
[5]
50
[6]
45
[7]
40
Temperatura 2 (ºC)
alterações da temperatura em T2 têm um efeito dominante na
dispersão da rede.
Recorrendo-se ao valor previamente descrito para uma
ligação de 40 quilómetros em fibra SMF para cada 1 ºC de
variação da temperatura da fibra, é expectável uma variação
da dispersão de 0,06 ps/nm, o que é facilmente acomodável no
intervalo de valores obtidos por este método.
Com esse método, o tempo de resposta para uma variação
térmica de 10 º C é tipicamente da ordem de 15 s.
-142.2
-135.2
-130.5
-125.8
-121.1
-116.4
-111.7
-107.0
-100.0
35
30
25
20
15
10
10
[8]
[9]
[10]
[11]
15
20
25
30
35
40
45
50
Temperatura 1 (ºC)
Fig. 5. Mapa de dispersão em função da temperatura dos extremos da rede de
Bragg.
Pela análise da Figura 5, é ainda possível verificar que as
[12]
[13]
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2003.
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314
IEEE LATIN AMERICA TRANSACTIONS, VOL. 4, NO. 5, SEPTEMBER 2006
[14] P. S. André, B. Neto, R. Nogueira, J. L. Pinto, A. L. J. Teixeira, M. J.
Lima, and F. da Rocha, “Dynamically allocable dispersion compensation
based on chirped fiber Bragg gratings”, in CLEO 2004, San Francisco,
USA.
[15] R. Kashyap, “Fiber Bragg Gratings”, Academic Press, San Diego, 1999.
[16] P. S. André, B. Neto, A. L. J. Teixeira, M. J. Lima, R. Nogueira, J. L.
Pinto, and F. da Rocha, “Dynamically allocable dispersion compensation
based on chirped fiber Bragg gratings”, in NOC 2004, Eindhoven.
[17] D. Derickson (editor), “Fiber optic test and measurement”, Prentice
Hall PTR, New Jersey, USA, 1998.
[18] A. Walter and G. Schaefer, “Chromatic dispersion variations in ultralong-haul transmission systems arising from seasonal soil temperature
variations”, in OFC 2002, pp. 332-333.
VII. BIOGRAFIAS
Paulo Sérgio de Brito André (S’1998,
M’2003) nasceu em Luanda, Angola, em 9 de abril
de 1971. Licenciou-se em Engenharia Física, em
1996, na Universidade de Aveiro, e doutorou-se em
Física, em 2002, pela mesma universidade.
Actualmente é investigador auxiliar no Instituto
de Telecomunicações de Aveiro e professor auxiliar
convidado no Departamento de Física da
Universidade de Aveiro.
Os seus interesses atuais de investigação incluem o estudo de componentes
optoelectrônicos, redes de Bragg gravadas em fibras ópticas e sistemas de
comunicações ópticas multicomprimento de onda.
Paulo André é membro da Sociedade Portuguesa de Física e do Instituto
de Engenheiros Electrotécnicos e Electrónicos (IEEE).
Berta Maria Barbosa Neto nasceu em
Montbéliard, França, em 22 de março de 1975.
Licenciou-se em Física, em 2002, na Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto. Actualmente está
concluindo a dissertação do mestrado em Física Aplica
na Universidade de Aveiro.
Os seus interesses atuais de investigação incluem o
estudo do uso de redes de Bragg gravadas em fibras
ópticas na compensação dinâmica da dispersão
cromática.
António Luís Jesus Teixeira (S’1995,
M’2000) nasceu em Portugal em 17 de novembro
de 1970. Licenciou-se em Engenharia Electrónica e
Telecomunicações, em 1994, na Universidade de
Aveiro,
e
doutorou-se
em
Engenharia
Electrotécnica, em 1999, pela mesma universidade.
Actualmente
é
professor
auxiliar
no
Departamento de Electrónica e Telecomunicações
da Universidade de Aveiro e investigador no Instituto de Telecomunicações.
Os seus interesses atuais de investigação incluem o estudo de componentes
optoelectrônicos, redes de Bragg gravadas em fibras ópticas e sistemas de
comunicações ópticas multicomprimento de onda em redes integralmente
ópticas.
António Teixeira é membro do Instituto de Engenheiros Electrotécnicos e
Electrónicos (IEEE) e da Optical Society of America (OSA).
António Luís Jesus Teixeira (S’1995, M’2000) nasceu em Portugal em
17 de novembro de 1970. Licenciou-se em Engenharia Electrónica e
Telecomunicações, em 1994, na Universidade de Aveiro, e doutorou-se em
Engenharia Electrotécnica, em 1999, pela mesma universidade.
Actualmente é professor auxiliar no Departamento de Electrónica e
Telecomunicações da Universidade de Aveiro e investigador no Instituto de
Telecomunicações.
Os seus interesses atuais de investigação incluem o estudo de componentes
optoelectrônicos, redes de Bragg gravadas em fibras ópticas e sistemas de
comunicações ópticas multicomprimento de onda em redes integralmente
ópticas.
António Teixeira é membro do Instituto de Engenheiros Electrotécnicos e
Electrónicos (IEEE) e da Optical Society of America (OSA).
Mário José Neves de Lima (M’2003) nasceu
em Lourosa, Portugal, em 21 de abril de 1971.
Licenciou-se em Engenharia Electrónica e
Telecomunicações, em julho de 1994, concluiu o
mestrado em Sistemas de Telecomunicações, em
junho de 1998, e o doutorado em Engenharia
Electrotécnica, em julho de 2003, pela
Universidade de Aveiro, Portugal.
Os seus interesses atuais de investigação incluem a filtragem óptica e a
inserção e extracção de canis em redes ópticas multicomprimento de onda.
Mário Lima é membro do Instituto de Engenheiros Electrotécnicos e
Electrónicos (IEEE), da Ordem dos Engenheiros Portugueses (OE) e da
Optical Society of America (OSA).
Rogério Nunes Nogueira (S’2002) nasceu em
Aveiro, Portugal, em 9 de abril de 1976. Licenciou-se
em Engenharia Física, em 1998, na Universidade de
Aveiro , e doutorou-se em Física, em 2005, pela
mesma universidade.
Actualmente é investigador auxiliar no Instituto
de Telecomunicações de Aveiro. Os seus interesses
atuais de investigação incluem redes de Bragg
gravadas em fibras ópticas, sistemas de comunicações ópticas
multicomprimento de onda, sensores ópticos e dispositivos optoeletrônicos.
Rogério Nogueira é membro da Sociedade Portuguesa de Física, do Instituto
de Engenheiros Electrotécnicos e Electrónicos (IEEE) e do Instituto de
Engenheiros Electrotécnicos (IEE).
José Ferreira da Rocha recebeu o grau de mestre
em Sistemas de Telecomunicações em 1980 e de
doutor em Engenharia Electrotécnica em 1983, ambos
pela Universidade de Hull, Inglaterra. É professor
catedrático na Universidade de Aveiro, Portugal. É
coordenador nacional do grupo de comunicações
ópticas do Instituto de Telecomunicações. Publicou
cerca de 170 artigos, principalmente em jornais e
conferências internacionais. Os seus interesses atuais
de investigação incluem formatos de modulação e desenho de receptores para
sistemas de comunicações ópticas de muito elevado débito, baseados em
transmissão linear e não linear, bem como redes ópticas multicomprimento de
onda.
João Lemos Pinto nasceu em Arnas, Portugal,
em
1975.
Licenciou-se
em
Engenharia
Electrotécnica pela Universidade do Porto,
Portugal. Desde 2000, é professor catedrático no
Departamento de Física da Universidade de Aveiro,
onde lecciona disciplinas nas áreas de Óptica
Aplicada,
Optoelectrônica
e
Holografia.
Actualmente lidera o grupo de Simulação e
Caracterização de Componentes Optoeletrônicos do
Instituto de Telecomunicações de Aveiro e o grupo de Óptica e Lasers do
Departamento de Física da Universidade de Aveiro. Durante o seu trabalho de
doutorado, trabalhou em detecção remota no Departamento de Física Aplicada
da Universidade de Hull, Inglaterra. Os seus interesses de investigação
correntes incluem comunicações ópticas coerentes, diagnóstico óptico de
plasmas, visão robótica, detecção remota e holografia.
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