O uso da Genética como ferramenta no estudo comportamental das aves Regina H.F. Macedo. Departamento de Zoologia – IB, Universidade de Brasília, 70910900 Brasília, D.F. [email protected] Os avanços mais recentes nas tecnologias que permitem a obtenção de informações sobre seqüências gênicas vêm ocorrendo de forma assombrosa, especialmente nos últimos 10 anos. Esses avanços nas variadas técnicas obviamente beneficiam o setor de pesquisa genética, mas tem por conseqüência avanços e o desenvolvimento de potencialidades em outras áreas biológicas. Essas ferramentas são comumente usadas para determinar-se a estrutura do genoma de espécies de interesse econômico ou médico. Também são usadas no contexto da conservação da biodiversidade, por permitir uma avaliação da diversidade genética de populações. Técnicas moleculares também têm sido freqüentemente aplicadas em áreas mais teóricas, como em estudos sobre especiação, filogenia e biogeografia. Finalmente, essas técnicas nos permitem avaliar o nível de relações de parentesco entre indivíduos de uma população, o que é de suma importância na compreensão da evolução dos comportamentos. Nesse âmbito, as técnicas mais utilizadas têm sido o DNA fingerprinting, minissatélites e microssatélites. Para avaliarmos a importância dessas técnicas moleculares no estudo de certos aspectos do comportamento, é evidente que temos que aceitar que grande parte dos comportamentos que estudamos tem uma base genética. Já na época de Darwin cogitava-se que o comportamento seria pelo menos parcialmente determinado por algum fator hereditário. Mas foi somente em 1964, com o trabalho importantíssimo publicado pelo geneticista inglês William Hamilton, que se consolidou a idéia de que o parentesco entre indivíduos seria de suma importância no processo seletivo, levando à evolução da cooperação e da sociabilidade. Presentemente, muitos ecólogos comportamentais, utilizando ferramentas genéticas, dedicam-se ao estudo de qual seria, exatamente, a contribuição genética na determinação dos comportamentos. Para estes, é fundamental a resolução da questão sobre qual o papel da herança genética e qual o papel da experiência, na produção de determinados comportamentos. Depois, temos também a questão do desenvolvimento de comportamentos altruístas. De acordo com modelos teóricos, o altruísmo seria mais freqüente entre indivíduos aparentados. Outra faceta do estudo comportamental onde estão sendo aplicadas as ferramentas genéticas é a investigação de investimento paternal. Em espécies onde ocorre uma certeza maior de paternidade é possível que isso esteja associado a um maior investimento paternal. A determinação da paternidade, portanto, torna-se essencial para esse tipo de estudo. Finalmente, a compreensão de sociedades animais e de sistemas de acasalamento exigem um conhecimento das bases genéticas. Em minha palestra, após uma introdução teórica sobre a importância das técnicas genéticas no estudo comportamental das aves, finalizarei com um breve relato sobre os estudos com aves que tenho desenvolvido em meu grupo de trabalho, e que ilustram alguns dos conceitos apresentados. Os estudos que apresentarei enfocam os sistemas de reprodução comunitária do anu branco (Guira guira) e do quero-quero (Vanellus chilensis), e os padrões de acasalamento do tiziu (Volatinia jacarina).