C ol eção O bservatório N acional Edição 04/2009 A partir de 12 anos O bservat ó rio N acional Ministério da Ciência e Tecnologia Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia Sergio Machado Rezende Secretário - Executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia Luiz Antônio Rodrigues Elias Subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa José Edil Benedito Diretor do ON Sergio Luiz Fontes Observatório Nacional - MCT Rua General José Cristino,77 Cep:20921-400 Rua General Bruce, 586 CEP 20921-030 São Cristóvão Rio de Janeiro - RJ Brasil Fone: 21 2580 6087 PABX:21 3504 9100 FAX: 21 2580 6041 Criação e desenvolvimento da revista Divisão de Atividades Educacionais - DAED Dr. Antares Kleber (Idealizador da série de revistas) Luzia Ferraz Penalva Rite Thiago Moeda Sant'Anna Rodrigo Cassaro Resende Edilene Ferreira Vanessa Araújo Santos (Estagiária) Igor Cordeiro de Souza Jardim (Estagiário) Revisão Técnico-Científica Dr. Carlos Henrique Veiga (Chefe da Divisão de Atividades Educacionais) Dr. Dalton de Faria Lopes (Pesquisador da Coordenação de Astronomia e Astrofísica) Programação Visual Edilene Ferreira Caros Leitores, Esta série de revistas, editadas pela Divisão de Atividades Educacionais do Observatório Nacional/MCT, projeto apoiado pelo Conselho de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, tem como meta a difusão de informações gerais sobre os vários temas da Astronomia. Levar o leitor ao pensamento científico, à imaginação e à criação, atraindo-o a pesquisar os conceitos aqui abordados ou sugeridos, é um dos objetivos desta publicação. O O bs er vat ó rio N ac i on al n ão se responsabiliza pelos dados e opiniões expressos nesta publicação, sendo estes de inteira responsabilidade dos autores. Boa Leitura! Divisão de Atividades Educacionais (DAED) As informações que constam nesta revista foram atualizadas até a data desta edição. O bservat ó rio N acional A revista já está utilizando as alterações introduzidas na ortografia da língua portuguesa. Ministério da Ciência e Tecnologia O que é a gravidade? O que é a gravidade? Se a Terra é uma esfera por que não caímos Se a Terra é uma esfera por que não caímos dela? dela? Por que todos os planetas e satélites têm a Por que todos os planetas e satélites tem a forma formadede uma esfera? uma esfera? Existe antigravidade? Existe antigravidade? D urante séculos o ser humano olhou para o espaço e viu dois objetos cujas formas chamaram a sua atenção: a Lua e o Sol. Ambos distinguiam-se dos outros corpos celestes, os pequenos pontos luminosos que marcavam o céu noturno, por mostrarem uma forma bem definida. Ambos podiam ser vistos com a forma de um disco que ocupava uma certa região do espaço. A Lua apresentava eventualmente formas diferentes, dependendo da época do ano, mas sempre voltava a ter em algum instante a mesma forma de disco brilhante no céu. O Sol, a despeito da dificuldade de observá-lo em razão de seu brilho intenso, também podia ter o seu disco observado tão logo uma nuvem não muito espessa passasse à sua frente. Lá estava um disco semelhante ao da Lua, só que com a característica de possuir um brilho intenso, quase cegante, e não o brilho ameno da Lua. 1 01 O que seriam esses corpos? Discos no céu ou teriam a forma de uma esfera? Com o uso do telescópio para observações astronômicas, iniciado em 1609 pelo astrônomo italiano Galileu Galilei, os astrônomos perceberam que os corpos celestes eram esferas e não discos colocados no céu. E a forma da nossa Terra? E a forma da nossa Terra? Durante milhares de anos, os poucos seres humanos que se dedicaram a estudar a sua forma, obtiveram resultados que criaram enormes polêmicas. Para todos os efeitos, a Terra era plana. Isso era óbvio: se ela possuísse qualquer outra forma certamente cairíamos dela. Essa ideia gerava medo até mesmo em alguns destemidos desbravadores que naquela época já se aventuravam pelos oceanos desconhecidos. 2 02 Viajar cada vez mais a oeste, até se deparar com o fim da Terra e cair com seus navios e tripulação em um vazio sem fim no espaço? No entanto, muito tempo antes de Galileu ter olhado para o céu com o seu perspicillum, o nome que ele deu ao equipamento óptico que o permitiu ver os satélites de Júpiter, as crateras da Lua e até mesmo as manchas solares, alguns geniais geômetras gregos já haviam demonstrado que a Terra tinha a forma de uma esfera. Ao que parece os seguidores de Pitágoras, no século V a.C., foram os primeiros a produzir uma teoria astronômica na qual uma Terra esférica girava em torno de seu próprio eixo assim como se movia em uma órbita. Os Pitagóricos estavam muito à frente do seu tempo ao proporem a única verdade de sua teoria - o fato de que a Terra é esférica e gira. Futuramente Copérnico desenvolveria esta ideia não deixando de reconhecer que os Pitagóricos foram os seus criadores. Aristóteles acreditava, assim como Pitágoras, que a Terra, o Sol, a Lua e os planetas deviam ser esferas. Entretanto, Aristóteles diferia de Pitágoras por basear a sua suposição de uma Terra esférica em fenômenos capazes de serem observados. 3 03 Aristóteles propôs 4 provas observacionais de que a Terra era uma esfera: • Os navios desaparecem lentamente no horizonte. • Durante os eclipses lunares a sombra lançada sobre a Lua pela Terra parece circular. • Estrelas diferentes são visíveis em latitudes mais ao norte e mais ao sul. Ele notou que, à medida que uma pessoa viaja para o norte, as estrelas polares se colocam cada vez mais alto no céu e outras estrelas vão se tornando visíveis ao longo do horizonte. Isto só poderia acontecer se a Terra fosse esférica. • Elefantes são encontrados tanto na Índia, que estava na sua direção leste, como no Marrocos, na sua direção oeste. Sua ideia era que ambos as regiões estão a uma distância razoável na superfície de uma esfera de tamanho moderado. 4 04 No entanto, a despeito desses argumentos na Idade Média (século V ao século XV) houve um grande retrocesso no pensamento sobre a forma da Terra. Para o homem comum a Terra voltava a ter a forma de um tabernáculo retangular, plano, circundado por um abismo de água. Felizmente alguns pensadores mantiveram o conhecimento herdado dos gregos antigos traduzindo os antigos textos para o latim. É importante lembrar que o conhecimento de que a Terra era redonda não foi perdido nos séculos seguintes. Assim, nem Vasco da Gama, nem Cristóvão Colombo, nem Pedro Álvares Cabral, nem qualquer outro dos grandes navegadores ou qualquer dos seus contemporâneos com cultura, tinham medo de cair da borda da Terra durante suas viagens para o oeste, na tentativa de achar um caminho marítimo para as Índias. 5 05 H oje, ninguém mais pode ter dúvidas sobre a forma da Terra. Ela não é perfeitamente esférica uma vez que o diâmetro de um polo ao outro é 42 quilômetros menor do que o diâmetro no equador. No entanto, está errado dizer que a Terra tem a forma de uma tangerina. O diâmetro da Terra no equador é de cerca de 6500 quilômetros e a diferença de 42 quilômetros não significa muita coisa, a não ser que a Terra é muito menos achatada do que qualquer tangerina ou parente dela. Se quiser ser técnico, diga que a Terra tem a forma de um esferóide oblatado. Isso nos traz um curioso problema: por que os objetos se mantém então na superfície da Terra? Por que eles não caem? Tente colocar algo sobre a superfície de uma esfera (chiclete não vale!). Você logo vai notar que embora o objeto possa estar equilibrado instantaneamente sobre a esfera, esse equilíbrio é absolutamente instável: qualquer pequeno movimento na esfera fará o objeto cair da sua superfície. No entanto isso não ocorre conosco. Vivemos na superfície de uma esfera e ninguém anda “caindo” pelo espaço! Nem mesmo se você pular o mais alto possível com a força de suas pernas, seu retorno à superfície terrestre está assegurado. Você não irá vagar pelo espaço. Por que isso acontece? 6 06 O que é a gravidade? O que é a gravidade? O que é a gravidade? O que é a gravidade? Ao observarmos o movimento dos corpos celestes no espaço vemos que eles não são objetos errantes que seguem trajetórias quaisquer no espaço. Todos eles percorrem órbitas bem determinadas obedecendo a leis gerais que presumimos serem válidas em todo o Universo. Isto é importante por nos indicar que os corpos celestes estão sob a ação de forças que os mantém em suas órbitas. Melhor ainda, sabemos que os objetos na Terra interagem e conhecemos as leis que regem essas interações. Observamos que ao aplicarmos uma força sobre um corpo qualquer, uma pedra por exemplo, atirando-a para cima ela retorna à Terra. Por que isso acontece? Se a única força atuante sobre a pedra após o seu lançamento fosse o atrito com o ar da nossa atmosfera, a pedra diminuiria a sua velocidade, pararia e então permaneceria flutuando no ar. No entanto, isso não ocorre. A pedra volta para a superfície da Terra. Uma situação tão simples quanto essa, nos mostra que a Terra está exercendo algum tipo de força que atrai a pedra de volta para ela. O mesmo tipo de interação deve ocorrer entre todos os corpos celestes e a ela damos o nome de interação gravitacional. 7 Descobrindo a mecânica Descobrindo a mecânica dos corpos dos celestes corpos celestes. Descobrindo a mecânica dos corpos celestes Sempre intrigou os astrônomos por que os planetas descreviam suas órbitas da maneira como observamos. Isso levou a diversos modelos que procuravam descrever o Sistema Solar. Para uns, a Terra estava no centro e os planetas se moviam em torno dela. Esse era o modelo geocêntrico criado e defendido por Ptolomeu no século II a.C. 8 08 Ocorreu então a revolução criada por Nicolaus Copernicus, no século XVI, ao sugerir que o Sol ocupava o centro do Sistema Solar e todos os planetas, inclusive a Terra, giravam em torno dele. Este era o modelo heliocêntrico do Sistema Solar. A controvérsia entre as duas teorias exigiu que os astrônomos obtivessem dados de observação mais precisos. 9 09 Surgiu então o astrônomo Tycho Brahe que se notabilizou por realizar excelentes registros celestes. Brahe foi o último astrônomo a realizar observações sem o auxílio de telescópios. Os dados obtidos por Tycho Brahe, de excelente qualidade para a época, foram estudados durante 20 anos pelo astrônomo Johannes Kepler. Marte Sistema Ptolomeu Terra Sol Marte Sol Terra Marte Sistema Copérnico Sol Terra Sistema Tycho Brahe 10 10 Foi então que Kepler sugeriu três importantes leis do movimento planetário que são conhecidas como Leis de Kepler: 1 - Lei das órbitas: Todos os planetas se movem em órbitas elípticas e o Sol se localiza em um dos focos dessa elipse. Semi-eixo maior SOL F1 Centro (foco) F2 (foco) Planeta 11 11 2 - Lei das áreas: a linha traçada do Sol a qualquer planeta descreve áreas iguais em tempos iguais. Planeta Sol 3 - Lei dos períodos: o quadrado do período de qualquer planeta em torno do Sol é proporcional ao cubo da distância média do Sol ao planeta. Entretanto, essas leis foram obtidas a partir das observações, sendo portanto, empíricas. Elas descreviam o movimento observado dos planetas, mas não davam qualquer explicação teórica do porquê isso acontecia. 12 12 Foi preciso surgir no cenário científico o filósofo e matemático inglês, Isaac Newton, para que as leis de Kepler fossem deduzidas matematicamente. Em 1678, Isaac Newton publicou o seu mais famoso livro, “Principia”, no qual apresentava suas ideias fundamentais que se tornariam o alicerce sobre o qual foi construída a mecânica. Ele também apresentava três leis, hoje chamadas Leis de Newton, que descreviam a interação dos corpos da natureza por meio do conceito de força. 13 13 As Leis de Newton para o movimento dos corpos As Leis de Newton para o movimento dos corpos Primeira Lei de NewtoN Esta lei, também chamada de Lei da Inércia, nos fala sobre a ação que deve ser feita para manter um corpo em movimento. “ Um corpo permanece em repouso ou em movimento retilíneo uniforme a menos que haja uma influência externa ou seja, uma força atuando sobre ele. ” Assim, se não há nenhuma força agindo: • Um corpo em repouso permanecerá em repouso. • Um corpo que se move continuará se movendo com a mesma velocidade e na mesma direção. Então por que quando eu empurro um carro ele anda um pouco e para? Isto ocorre devido à presença de forças, também externas, que atuam sobre o carro no sentido contrário ao seu movimento. Estas forças, chamadas de forças de atrito, são as responsáveis pelo fato do carro parar. Se as forças de atrito não existissem, ao aplicarmos uma força sobre um corpo, ele iniciaria um movimento que duraria para sempre. 14 14 Observações: (1) Veja que a Primeira Lei de Newton fala de “movimento retilíneo uniforme”. A palavra “uniforme” chama a atenção para o fato de que a velocidade do corpo é constante. A palavra “retilíneo” significa obviamente que o corpo não está realizando qualquer curva, uma vez que o corpo que segue uma trajetória curva está acelerado. (2) Não confunda velocidade com aceleração. A aceleração é uma variação da velocidade de um corpo em um intervalo de tempo. No entanto, esta variação, que dá origem à aceleração, tanto pode ser no “valor” da velocidade quanto na “direção” da velocidade. 15 15 SeguNda Lei de NewtoN Esta lei estabelece uma relação entre os conceitos de força, massa e aceleração, fundamentais para a física: • Massa: é uma medida da inércia de um corpo. Ela está relacionada com a dificuldade que temos para colocar um corpo em movimento. A massa de um corpo é representada pela letra “m”. • Força: é a influência externa sobre um corpo. Ela é representada pela letra “F”. • Aceleração: é uma variação no movimento. Esta variação pode ser de aumento ou diminuição na velocidade de um corpo e/ou de mudança na direção de deslocamento do corpo. Ela é representada pela letra “a”. Se considerarmos corpos que se movem com velocidades muito menores que a velocidade da luz, a massa do corpo é constante e a segunda Lei de Newton pode então ser escrita como: F=ma Observações: (1) Não confunda massa com peso: massa é a quantidade de matéria em um corpo. Massa é uma grandeza fundamental da física. Peso é a ação da gravidade sobre um corpo de massa “m”. Desse modo, o peso de um corpo na Terra é dado pela massa do corpo multiplicada pela aceleração da gravidade na superfície do nosso planeta. 16 16 (2) O conceito de força não está associado apenas a algo externo a um corpo. Também existem forças atuando no interior de todos os corpos. terceira Lei de NewtoN Também é conhecida como Lei da Ação e Reação. “ Quando um corpo “A” exerce uma força sobre um corpo “B”, o corpo “B” exercerá uma força igual e em sentido oposto sobre o corpo “A”. “ Se chamarmos de FAB a força que um corpo “A” exerce sobre um corpo “B” então a Terceira Lei de Newton nos assegura que o corpo “B” exercerá uma força de mesmo valor e de sentido contrário sobre o corpo “A”, que representamos por -FBA O sinal negativo caracteriza o sentido contrário que esta força tem em relação à primeira força. A Terceira Lei de Newton pode então ser escrita como: FAB = -FBA 17 17 Essa terceira lei, na verdade, nos revela como é conservado o “momentum” de um corpo. “Momentum” (também chamado de “momentum linear”) é definido como o produto da massa do corpo pela sua velocidade. É com base na Terceira Lei de Newton que explicamos porque um foguete consegue voar (tente imaginar como). A Lei da Gravitação Universal de Isaac Newton A descoberta da lei que nos mostra de que maneira os corpos celestes interagem, foi feita por Isaac Newton, nessa mesma época. Aplicando uma ferramenta matemática, que ele havia recentemente desenvolvido, chamada “fluctions” e que hoje é conhecida como “cálculo diferencial”, à órbita da Lua em torno da Terra, Newton foi capaz de determinar que a força da gravidade depende do inverso do quadrado da distância entre a Terra e a Lua. Ao mesmo tempo, hoje sabemos que, segundo a Terceira Lei de Newton, uma vez que a gravidade é uma força exercida por um corpo sobre outro, ela deve atuar de modo recíproco entre as duas massas envolvidas. 18 18 Newton deduziu então que: “ A força de atração gravitacional entre dois corpos de massas “M” e “m” é diretamente proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que os separa. “ Para transformar a proporcionalidade em igualdade Newton introduziu uma “constante de proporcionalidade” na sua equação. Esta constante de proporcionalidade é a constante de gravitação de Newton, representada pela letra “G” e que tem o valor. G = 6,672428 x 10-11 m3/(kg . s2) = 6,672428 x 10-11 (N. m2)/kg2 x M (Kg) R2 (m) Na equação acima N significa “Newton”, uma unidade de medida de forças que corresponde a quilograma.metro/segundo2. M é a massa do planeta e R é o raio do planeta. Com essa equação, podemos determinar o “G” na superfície dos planetas do Sistema Solar. Pela lei da gravitação universal a força de atração gravitacional entre a Terra e a Lua é dada por: F = G Mm 2 d onde “G” é a constante gravitacional, “M” é a massa da Terra, m é a massa da Lua, e “d” é a distância entre a Terra e a Lua. 19 19 Observações: • A gravidade é a mais fraca entre todas as forças fundamentais (as forças fundamentais são a força gravitacional, a força forte, a força fraca e a força eletromagnética). • A gravidade é uma força de longo alcance. Veja, na equação anterior, que não há qualquer limite para o valor de “d”, que é a distância entre os corpos. • A gravidade é uma força somente atrativa. Não existe repulsão gravitacional. • Na lei da Gravitação Universal está implícita a ideia de que a força gravitacional entre duas partículas independe da presença de outros corpos e das propriedades do espaço que fica entre elas. • A história de que Newton teria notado a existência da Lei da Gravitação a partir da queda de uma maçã é, quase certamente, apócrifa, ou seja, história não autêntica, que não foi contada por newton. É por causa dessas características que a gravidade domina várias áreas de estudo na astronomia. É a ação da força gravitacional que determina as órbitas dos planetas, estrelas e galáxias, assim como os ciclos devido às estrelas e a evolução do próprio Universo. 20 20 A Constante Gravitacional da equação de Newton A gravidade é uma força tão fraca, que a constante “G” que aparece na equação da gravitação de Newton, não podia ser medida na época em que a equação foi proposta. O primeiro a estimar o valor de “G” foi o astrônomo Nevil Maskelyne. Para fazer isto ele procurou usar duas massas bastante diferentes de tal modo que a força gravitacional entre elas pudesse ser medida. Nada melhor do que a massa de uma montanha e a de um pedaço de chumbo preso a uma linha. Certamente a atração gravitacional entre estas duas massas provocaria uma deflexão na linha que sustentava o chumbo. Em 1774, Maskelyne aproximou o seu peso de chumbo das encostas inclinadas do Monte Schiehallion, na Escócia, e mediu a deflexão da linha ou seja, a ação gravitacional entre a montanha e o peso de chumbo. Como o monte Chiehallion tinha uma forma muito regular, Maskelyne foi capaz de estimar sua massa e, como ele conhecia a massa do peso de chumbo, foi possível então determinar o valor da constante gravitacional “G”. 21 21 No entanto, o primeiro cientista que conseguiu determinar de modo preciso o valor de “G” foi o físico inglês, Henry Cavendish, em 1798. Ele mediu o valor de “G” usando a chamada balança de torção que havia sido inventada pelo geólogo inglês, reverendo John Michell. A medição precisa de “G” é muito difícil uma vez que o aparelho de medição não pode ser isolado da influência gravitacional exercida por outros corpos próximos a ele. Como consequência disso a precisão na medida de G tem aumentado muito pouco desde a experiência pioneira de Cavendish. Isso pode ser notado na literatura, onde o valor de G é apresentado com vários valores. A aceleração da gravidade Vimos que a Segunda Lei de Newton nos dá a relação entre força e aceleração, a importante equação F=ma. No entanto, a força gravitacional é antes de tudo uma força e, portanto, pode ser descrita por uma relação semelhante a essa. Dizemos então que a força gravitacional é o produto da massa “m” de um corpo pela aceleração da gravidade criada sobre ele por um corpo de massa “M”. Ou seja: 22 22 Desse modo, a aceleração da gravidade é dada pela equação: Curiosidades da atração gravitacional Vimos que a Lei da Gravitação Universal, postulada por Isaac Newton fala da interação gravitacional entre duas partículas. Mas, essa lei serve para o estudo da interação gravitacional entre dois corpos macroscópicos? Certamente sim! Podemos considerar que todos os corpos macroscópicos são formado por um número extremamente grande de partículas e então aplicarmos a lei. No entanto, isso seria um trabalho desesperador uma vez que corpos macroscópicos possuem muitas partículas. Se quisermos determinar a força gravitacional existente entre corpos extensos como, por exemplo, a Terra e a Lua, deveríamos decompor cada um desses corpos em partículas e calcular a interação gravitacional entre cada par de partículas! Seria um trabalho impossível de ser feito. No entanto, como fazemos esse cálculo? Foi o chamado cálculo diferencial e integral proposto por Leibnitz e por Newton que veio salvar a situação. 23 23 Essa parte da matemática permite que essas interações não sejam feitas par a par mas, sim de uma maneira contínua, integrada. A partir do uso do cálculo integral no estudo da teoria da gravitação, foi possível determinar de que modo corpos materiais exercem atração gravitacional sobre outros corpos situados em suas vizinhanças. Mostraremos agora, embora sem demonstrar, alguns casos curiosos encontrados na análise desses problemas: 1) Uma grande esfera atrai partículas fora dela, como se toda a massa da esfera estivesse em seu centro. Esse é o motivo pelo qual podemos aplicar a Lei da Gravitação Universal de Newton a corpos macroscópicos tais como o Sol, a Terra, a Lua a qualquer outro planeta ou estrela. Esses corpos macroscópicos produzem sobre corpos externos a eles, os mesmos efeitos gravitacionais que seriam produzidos por uma partícula puntiforme, com a mesma massa que o corpo macroscópico e situada no seu centro. 24 24 2) Uma casca esférica de densidade uniforme atrai uma massa puntiforme externa como se toda a massa da casca estivesse concentrada no seu centro. 3) No entanto, uma casca esférica produz uma força gravitacional igual a zero sobre uma partícula colocada no seu interior. Note, entretanto, que as três afirmações acima ocorrem somente se: o corpo é uma esfera, se sua massa específica for constante por todo o corpo ou em função apenas do seu raio. 25 25 A ação da gravidade nas nossas vidas E de que modo a ação da gravidade se apresenta na nossa vida? O simples fato de você permanecer de pé na superfície da Terra é resultado da existência da força gravitacional. É a ação da gravidade da Terra que faz você permanecer sobre ela. É claro que você tem até uma pequena liberdade pois consegue saltar na vertical mas logo é obrigado a retornar à sua superfície tão logo a Terra sinta “saudades” de você e lhe traga de volta para pertinho dela. As forças gravitacionais entre corpos na superfície da Terra são extremamente pequenas e quase sempre podem ser desprezadas. Por exemplo, dois objetos esféricos cada um com massa de 100 kg, separados por uma distância de 1,0 metro se atraem com uma força de 6,7 x 10-7 Newton = 0,000 000 67 N, um valor realmente muito pequeno. E que outra ação da gravidade nos afeta diretamente? A ação gravitacional entre a Terra e a Lua e a Terra e o Sol é uma dessas ações. É ela que produz o conhecido fenômeno das marés. Além disso, como a Lua é um satélite de grande massa, se comparado com os outros satélites do Sistema Solar, a atração gravitacional entre ela e a Terra serve como elemento estabilizador da rotação do nosso planeta em torno do seu eixo. No entanto, a Lua está se afastando da Terra e a mudança desta ação gravitacional, daqui a milhares de anos, provocará uma alteração no eixo de rotação da Terra. Esta mudança se refletirá sob a forma de fortes alterações climáticas no nosso planeta. A aceleração da gravidade nos diversos planetas Já sabemos que a força gravitacional está intimamente ligada à massa do corpo que a está produzindo. Ao mesmo tempo, sabemos que os planetas do Sistema Solar não possuem a mesma massa. Certamente a aceleração da gravidade na superfície de cada um desses planetas será diferente daquela que encontramos na Terra. 26 26 O quadro abaixo mostra os diferentes valores da aceleração da gravidade no Sol, planetas e planetas anões existentes no Sistema Solar. corPo do SiStema SoLar maSSa (x 1024) aceLeração da gravi- (em quiLogramaS) dade Na SuPerfície Sol (*) Júpiter (P) Saturno (P) Netuno (P) Urano (P) Terra (P) Vênus (P) Marte (P) Mercúrio (P) (136199) Eris (PA) 1 989 100 1 898,60 274,0 m/s2 23,12 m/s2 568,46 8,96 m/s2 (134340) Plutão (PA) 102,43 11,00 m/s2 86,832 8,69 m/s2 5,9736 9,78 m/s2 4,8685 8,87 m/s2 0,6418 3,69 m/s2 0,3302 3,70 m/s2 0,0166 ~0,80 m/s2 0,0125 0,58 m/s2 (136472) Makemake (PA) ~ 0,004 ~0,47 m/s2 (136108) Haumea (PA) (1) Ceres (PA) 0,0042 0,44 m/s2 0,000 946 0,27 m/s2 Observação: (*) significa estrela, (P) significa planeta e (PA) significa planeta anão. Como o nosso peso é dado pelo produto da nossa massa pela aceleração da gravidade no local onde nos encontramos, vemos que o nosso peso vai variar em cada um dos objetos do Sistema Solar. Note bem: o nosso peso (P =mg) varia, mas a nossa massa não varia. O valor da massa de um corpo independe da aceleração da gravidade e, portanto, é sempre o mesmo. 27 27 Gravidade e as estrelas Falamos muito sobre a ação do gravidade entre planetas e satélites. No entanto, o conceito de gravidade é fundamental para o estudo das estrelas. Todo o processo de vida de uma estrela está associado a uma dura disputa entre a força gravitacional e a pressão do gás que forma a estrela. Existe no universo imensas regiões de gás e poeira, internamente muito frias, às quais damos o nome de nuvens moleculares gigantes. Essa imagem mostra a nebulosa de reflexão NGC 1999, que contém a estela V380 Orionis (o objeto brilhante abaixo e a esquerda do centro), e está situada na constelação Orion. O que podemos observar nessa imagem? Nesta região existe uma gigantesca nuvem molecular, conhecida como “Orion A”, que continua gerando novas estrelas. Na parte superior da imagem vemos um aglomerado formado por estrelas jovens e brilhantes, o aglomerado L1641N, que ilumina uma região formada por densos amontoados de matéria escura. Nesta região estudos feitos na região espectral do infravermelho revelaram a presença de mais de 50 estrelas em formação. 28 28 Se existem regiões do meio interestelar que se caracterizam por permitirem grande formação de estrelas, quais são as condições físicas que as tornam tão especiais? Dissemos que uma nuvem molecular gigante colapsa e forma estrelas. Mas, por que ela colapsa? Os astrofísicos acreditam que vários processos podem dar início a esta contração de parte da nuvem molecular. Por exemplo, em algum momento, regiões dessas nuvens são perturbadas de modo que o gás e poeira que as forma fica mais concentrado. Isso é suficiente para que a força gravitacional entre as partículas de gás da nuvem supere as forças de repulsão e comecem a fazer o gás se contrair. Esse gás vai se contraindo cada vez mais até que em um determinado momento a pressão existente nele consegue equilibrar o puxão gravitacional para dentro. É assim que se forma uma estrela. Durante toda a vida da estrela existe uma grande luta entre a força gravitacional que procura comprimi-la cada vez mais e as forças internas do gás (mostradas pela pressão) que, ao contrário, querem fazê-la se expandir. 29 29 Em alguns momentos, a força gravitacional vence a disputa e a estrela se contrai. As reações nucleares que ocorrem no interior das estrelas produzem energia, que aumenta a pressão gasosa e equilibra de novo o corpo celeste. Outras vezes a estrela se expande tanto que seu gás esfria. Isso faz com que a pressão no seu interior diminua e novamente a força gravitacional faz a estrela contrair de novo. É assim que vive uma estrela até que, em um dado momento, após realizar a queima nuclear de vários elementos químicos que a compõe, ela atinge os estágios finais de sua evolução. Neste caso a estrela pode expulsar todo o gás que envolve sua região central, formando uma nebulosa planetária (que, apesar do nome, não tem qualquer relação com planetas). 30 30 A região central da estrela não é destruída. Ela ejeta todo o gás que a envolve mas ainda se mantém como uma estrela muito quente que vai continuar a contrair (ação da força gravitacional) cada vez mais até se transformar em uma estrela anã branca. Outras estrelas bem maiores têm finais diferentes. Algumas explodem como supernovas e deixam como resíduo um objeto compacto com um intenso campo gravitacional. Estas são as chamadas estrelas de nêutrons. 31 31 Outras, com massas ainda maiores, explodem e o que resulta é a formação de um buraco negro, uma região do espaço-tempo com um campo gravitacional tão intenso que nem mesmo a luz pode sair dele. Nesse caso temos o domínio completo da força gravitacional. A Gravitação Quântica Já vimos que a teoria clássica da gravitação é descrita pela lei de Newton da Gravitação Universal. Sua generalização relativística é a teoria da Gravitação de Einstein, também chamada de Teoria da Relatividade Geral de Einstein. Na verdade, a interação gravitacional seria melhor chamada de Geometrodinâmica, termo proposto pelo físico norte-americano John Wheeler, uma vez que a relatividade geral geometriza a gravitação. Para descrever os estágios iniciais da formação do Universo precisamos de uma teoria quântica da gravitação. Até agora os físicos ainda não possuem uma teoria como essa, apesar dos enormes esforços desenvolvidos para isto. As dificuldades para criar uma teoria quantizada para a gravitação têm sido muito grandes: a matemática envolvida é muito sofisticada e os conceitos físicos estão na fronteira do nosso conhecimento e imaginação. A teoria das partículas elementares nos diz que todo processo de interação existente na natureza é mediado por uma ou várias partículas que recebem o nome de mediadores. Assim, a interação eletromagnética tem como mediador o fóton e a interação forte é mediada pelos gluons. A interação fraca tem as partículas W+, W- e Z0 como mediadores. Dentro desse espírito, os cientistas propuseram que a interação gravitacional teria também uma partícula mediadora à qual deram o nome de graviton. Muitas tentativas foram feitas sem que, até agora, fosse possível detectar o gráviton. Atualmente estão sendo preparados vários conjuntos de satélites com o objetivo primário de detectar ondas gravitacionais no espaço. Dentre esses projetos destacamos o LIGO (Laser Interferometer Gravitacional - Wave observattory). 32 32 COPYRIGHT Todas as imagens usadas nesta publicação são propriedade de alguma organização e/ou instituição científica. Agradecemos a todas elas, abaixo relacionadas: National Aeronautics and Space Administration (NASA) (Estados Unidos) European Space Agency (ESA) (Comunidade Européia) European Southern Observatory (ESO) (Comunidade Européia) National Science Foundation (NSF) (Estados Unidos) Association of Universities for Research in Astronomy (AURA) (Estados Unidos) Jet Propulsion Laboratory (JPL) (Estados Unidos) National Optical Astronomy Observatory (NOAO) (Estados Unidos) Space Telescope Science Institute (STScI) (Estados Unidos) Sloan Digital Sky Survey (SDSS) (Estados Unidos) Solar and Heliospheric Observatory (SOHO) (NASA – ESA) (Estados Unidos – Comunidade Européia) Hubble Space Telescope (NASA – ESA) (Estados Unidos – Comunidade Européia) United States Geological Survey (USGS) (Estados Unidos) Cerro Tololo Interamerican Observatory (CTIO) (Estados Unidos) Two Micron All-Sky Survey (2MASS) (Estados Unidos) W. M. Keck Observatory (Estados Unidos) Max-Planck-Institut für Radioastronomie (MPIfR) (Alemanha) Mount Palomar Observatory (Estados Unidos) Mount Wilson Observatory (Estados Unidos) Yerkes Observatory (Estados Unidos) Spitzer Telescope (Estados Unidos) National Astronomical Observatory of Japan (NAOJ) (Japão) Very Large Telescope (VLT) (ESO) (Comunidade Européia) Museum of the History of Science - University of Oxford (Inglaterra) Observatório Nacional (Brasil) Detalhes sobre o copyright de cada uma das imagens apresentadas nesta publicação podem ser obtidos diretamente na DAED por e-mail: [email protected] Apoio: Rua Gal. José Cristino, 77 Bairro Imperial de São Cristóvão, Rio de Janeiro CEP 20921-400 tel: 55 21 3504-9100 http://www.on.br