Professor Cesar Ranquetat Jr. Aristóteles foi aluno de Platão na Academia por 20 anos. O Platonismo foi o núcleo em torno do qual a especulação aristotélica se construiu (Reale). Aristóteles funda em Atenas num ginásio público o Liceu. Liceu que, também, ficou conhecido como escola peripatética. Busto de Aristóteles A escola de Aristóteles dedicava-se a uma “caça de informações” em todos os domínios (Hadot). Dados históricos, sociológicos, psicológicos. Coletavam, também, inumeráveis observações zoológicas e botânicas. Compilavam estes dados para fazer comparações e analogias, instaurando uma “classificação dos fenômenos”. A concepção socrático-platônica da Filosofia estava presente em Aristóteles (Voegelin). Como Sócrates e Platão, o que ele quer antes de tudo é formar discípulos (Hadot). Como Sócrates e Platão, valoriza em sua escola o diálogo, o debate e a discussão exaustiva dos problemas (Hadot). Os textos de Aristóteles, tal qual nos chegaram, são notas de preparação de aulas. Os textos aristotélicos tratam dos mais diversos assuntos. Obras sobre Lógica como o Órganon, obras sobre Ciências Naturais como a Física, obras sobre Psicologia como De Anima, obras sobre Biologia como Investigação sobre os animais, obras sobre Metafísica, obras sobre Ética como Ética a Nicomâco, obras de Política como A Política e obras de Crítica Literária. “O mestre dos que sabem” – Dante Alighieri – Divina Comédia A ESCOLA DE ATENAS – PINTURA DE RAFAEL SANZIO – 1510. Aristóteles reage,em parte, ao idealismo platônico. Platão considerava os particulares menos reais que os universais (Idéias). Aristóteles renúncia à transcendência das Idéias, transformando-as em “causas formais”das coisas (Reale). As Idéias tornadas imanentes passam a ser a “forma das coisas”, ou seja, a estrutura inteligível do sensível (Reale). Para Aristóteles só o indivíduo é real, “o universal” não existe na natureza, mas apenas na mente (Franca). Segundo Aristóteles os particulares como Deus, Sócrates, e o meu Cão Toby, são as únicas entidades que têm uma existência separada e distinta (Luce). Cada afirmação descritiva contém pelo menos um “universal”. Ex: Sócrates é homem. Um tipo muito comum de afirmação é aquele no qual um universal é predicado a um particular. Digo, por exemplo: “ Toby é um cão”, significando que participa de um complexo de qualidades com outros cães. “Toby” é um particular, “ caninidade” ou “natureza canina” é um universal. Aristóteles considerava a natureza canina como algo objetivo e real, mas um realidade que não existe separadamente dos vários cães particulares. Aristóteles distinguia as ciências hierarquicamente: 1) Ciências Teóricas: ou seja puramente especulativas, que são a Metafísica, a Física e a Matemática; 2) Ciências Práticas: isto é, a Ética e a Política, que tem por fim dirigir a ação; 3) Ciências Poéticas: que dirigem a produção de coisas, ou seja as artes em geral (Poética, Retórica, Artes mecânicas e técnicas). Nas ciências teóricas o saber é um fim em si mesmo, nas ciências práticas o saber está submetido à atividade prática (Reale). As ciências práticas dizem respeito à conduta dos homens e também ao objetivo que eles pretendem alcançar com essa conduta (Reale). As ciências poéticas são “as ciências produtivas”. Ensinam a criar e produzir coisas, objetos e instrumentos, segundo regras e conhecimentos precisos (Reale). Afirma a estrutura biopsíquica do homem. Composto de corpo e alma. Define o homem como “animal racional”. A racionalidade é a “diferença específica” do homem em relação ao outros seres da natureza. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010131732011000200002&script=sci_arttext Desempenha certas funções que outros animais não desempenham, como fazer perguntas genéricas e buscar respostas para elas por meio da observação e reflexão (Adler). É, assim, um “animal” que questiona e que pensa, capaz de “pensar filosoficamente” (Adler). Enquanto dotado de logos(fala-discurso), o homem transcende de algum modo a natureza (Vaz). Desta forma, o homem não pode ser considerado como simplesmente um ser natural. Define, também, o homem como um ser ético-político. Para ele, o homem só se realizaria plenamente na pólis. É um ser destinado à vida em comum na pólis e aí se realiza como ser social (Vaz). É um animal político por ser um animal racional, sendo a vida ética e a vida política a arte de viver segundo a razão (Vaz). Segundo Aristóteles três são as dimensões que a atividade humana pode tomar, são elas: fazer, agir e conhecer. Na primeira destas três dimensões, o fazer, temos o homem como artista ou artesão (Adler). É o homem enquanto produtor de toda sorte de coisas: sapatos,navios, casas, pinturas, músicas, livros... Na segunda dessas dimensões, o agir, temos o homem como ser moral e social. Ou seja, alguém que é capaz de agir de modo certo ou errado, alguém que julga necessário associar-se a outros seres humanos para realizar um objetivo (Adler). Na terceira dimensão, o conhecer, temos o homem como ser que aprende, que adquire todo tipo de conhecimentos (Adler). Estas três dimensões da atividade humana se relacionam com três valores universais essenciais: a verdade, a bondade e a beleza (Adler). Na esfera do fazer, estamos interessados na beleza, ou ao menos tentamos produzir coisas que sejam bem feitas. (Adler). Na esfera do agir, estamos interessados no bem e mal, no certo e errado. Na esfera do conhecer, estamos interessados na verdade. Aristóteles introduz a distinção entre: a) alma vegetativa; b) alma sensitiva; c) alma intelectiva. A) alma vegetativa: é o princípio mais elementar da vida. Está relacionada a determinadas funções básicas como: a geração, crescimento, nutrição e reprodução (plantas, animais e seres humanos. B) alma sensitiva: relaciona-se ao que todos os animais possuem, ou seja sensações, apetites e o movimento (animais e seres humanos). C) alma racional: está relacionada ao intelecto e a determinadas funções como conhecimento, a deliberação e a escolha (seres humanos). Disponível em: norumoao100.blogspot.com Sua Ética pressupõe uma Antropologia. Há que se buscar um entendimento da natureza do homem a fim de determinar qual é o bem supremo (Voegelin). Aristóteles procura investigar a natureza do bem para os indivíduos e para a sociedade (Luce). O bem supremo do homem é a felicidade – Eudaimonia. Todos buscam a felicidade. Mas o que é a felicidade? A maioria dos homens pensa que a felicidade está nos prazeres. Porém, uma vida dedicada unicamente aos prazeres é uma existência “digna de animais” (Reale). Outros pensam que a felicidade está na honra. Contudo, para o estagirita a felicidade não está na honra. “A honra parece depender antes de quem a confere do que de quem a recebe; nós, ao contrário, consideramos que o bem é algo individual e inalienável”(Aristóteles). Além disso, os homens não buscam tanto a honra por si mesma, mas como prova e reconhecimento público de sua própria bondade (Reale). Ainda, a felicidade não está no acúmulo de dinheiro – riqueza. O “ganho” não passa de um meio para alcançar a felicidade. O “bem” do homem só pode consistir na “obra” que lhe é peculiar; ou seja, aquela obra que ele e só ele sabe realizar (Reale). Qual a atividade-obra peculiar ao homem? Ela não pode ser o simples viver, posto que o simples viver é próprio também de todos os seres vegetais. Tampouco pode ser o “sentir”, posto que é comum também aos animais. A obra peculiar ao homem é a atividade da razão, é a atividade da alma segunda a razão (Reale). Logo, o verdadeiro bem do homem consiste na atividade da razão, é nela que se encontra a felicidade. A felicidade é definida, portanto, como atividade da alma segunda à virtude. Para Aristóteles, as virtudes morais eram como disposições para ação. As virtudes morais são bons hábitos. A virtude moral é o hábito de fazer as escolhas certas (Adler). A pessoa virtuosa é aquela que faz escolhas certas regularmente. Assim sendo, são adquiridas mediante o exercício e aperfeiçoadas pela prática (Luce). Segundo Aristóteles, jamais existirá virtude quando houver excesso ou falta, ou seja, quando houver demais ou de menos. (Reale). Virtude implica em “justa proporção”; “o meio-termo” entre dois excessos. VIRTUS IN MEDIUM EST. Ex: A virtude da coragem é o meio-termo entre os excessos de temeridade e covardia. Disponível em: http://filosofiadodireito.info/wpfd/?p=156 Acima das virtudes éticas, estão as virtudes da parte mais elevada da alma. São as “virtudes dianoéticas” da alma racional. A virtude típica da “razão prática” é a sensatez (phronésis), enquanto a virtude típica da “razão teórica” é a “sabedoria” (sophía). A sabedoria prática -prudência- é a virtude principal da ação moral. É a virtude que nos capacita a selecionar os meios certos para atingir nosso fins. A “sensatez” (prudência) consiste em conseguir governar corretamente a vida do homem, em saber deliberar a respeito do que é bom ou mau para o homem (Reale). Aristóteles distingue entre a felicidade que o homem encontra na vida política (ativa) e a felicidade filosófica que corresponde à theoria (Hadot). A felicidade da atividade teórica é suprema porque a contemplação é a função suprema do homem (Voegelin). E ela é a função suprema porque é a função da parte superior da alma, ou seja, do intelecto (Voegelin). Para o estagirita o intelecto é aquilo que há de mais elevado no homem. A atividade “teorética” é um modo de conhecimento que tem por fim o “saber pelo saber” e não um fim exterior a si mesmo (Hadot). É um modo de vida que consiste em consagrar sua existência a esse modo de conhecimento (Hadot). É um tipo de vida que transcendendo o plano meramente humano entra em “solo divino” (Voegelin). A Ciência Política de Aristóteles deriva de sua Ética e de sua Antropologia. A especulação aristotélica sobre a política parte do princípio antropológico platônico. Se quisermos compreender a estrutura da pólis, precisamos entender a natureza do homem que atua em sua formação (Voegelin). Se tivermos uma noção da realização máxima da natureza humana poderemos desenvolver padrões críticos para julgar a eficácia de uma pólis por tal realização máxima (Voegelin). A política é definida por Aristóteles como ciência (ou arte) da ação humana. O fim da Ciência Política é o bem do homem na pólis. Aristóteles vê o homem como animal político, pois organiza a sociedade de modo voluntário, propositado e pensado, estabelecendo leis e costumes (Adler). O bom governo é o que serve ao bem comum e se baseia nas leis (Adler). Porém, para o estagirita as virtudes éticas precisam ser inculcadas no homem por meio de processos que dependem de um meio institucional adequado (Voegelin). Será a “arte do legislador” criar as instituições apropriadas. Assim, o principal propósito da Ciência Política é produzir um certo caráter nos cidadãos, ou seja, fazê-los bons e capazes de ações nobres (Voegelin). Deste modo, para o estagirita a Ética é a ciência das excelências e a Política é a ciência dos meios institucionais adequados para produzir a excelência nos cidadãos (Voegelin). Uma pólis é mais do que uma organização para a prevenção dos crimes e para a troca de bens (Voegelin). Ela é a comunidade de “clãs” e “aldeias” para uma “vida feliz” e “honrada”, buscada na philia – amizade entre os homens (Voegelin). A força viva de toda a sociedade é a philia (amizadeamor). A estabilidade de uma pólis depende do sentimento duradouro de amizade entre os homens bons (Voegelin). A “amizade política” possibilita a existência harmoniosa. Ademais, a pólis é perfeitamente ordenada quando as funções de governo são limitadas aos homens que realizaram de fato as excelências éticas e dianoéticas em suas pessoas (Voegelin). Para Aristóteles o poder soberano pode ser exercido: A) por um só homem - (Monarquia); B) por poucos homens -(Aristocracia); C) pela maior parte dos homens -(Politeia). Estão são três formas de constituição justa, mas elas podem corromper-se quando o interesse privado sobrepõe-se ao interesse comum. Neste caso teremos: A) tirania (corrupção da monarquia); B) oligarquia (corrupção da aristocracia; C) democracia (corrupção da politeia). Disponível madnessoftheeword88.wo em: A metafísica aristotélica é a ciência que se ocupa das realidades que estão acima das físicas, as realidades transfísicas (Reale). Há em Aristóteles quatro definições de Metafísica: A) A metafísica indaga as causas e os princípios primeiros; B) A metafísica indaga o ser enquanto ser; C) A metafísica trata da substância; D) A metafísica trata de Deus e das substâncias supra-sensíveis. Para o estagirita a “Filosofia primeira” deve buscar as causas primeiras e últimas das coisas (Luce). Para ele há quatro tipos de causa: a causa material, a causa eficiente, a causa formal e a causa final. O significado desses vários tipos de causa pode ser ilustrado com referência a um objeto feito pelo homem, com uma estátua votiva (Luce). Podemos dizer que explicitamos perfeitamente a estátua quando afirmamos: a) que é feita de bronze (causa material); b) c) a) que foi concebida e feita por um escultor (causa eficiente); que representa um atleta (causa formal); Que foi feita e erguida para comemorar e glorificar um vencedor olímpico (causa final). Segundo o estagirita a afirmação da causa de uma coisa é uma afirmação do que ela é essencialmente, e também uma afirmação de como veio a existir (Luce). Constitui uma resposta à pergunta: por que uma coisa é o que é? Além da doutrina das causas, a metafísica é definida pelo estagirita como a doutrina do ser enquanto ser (Reale). Mas o que é o ser? O ser exprime originariamente uma multiplicidade de significados. As várias coisas denominadas ser exprimem sentidos diversos do ser, mas todas elas implicam uma referência a algo que é único, mais especificamente, à substância (Reale). Então o ser enquanto ser significa substância. Aristóteles elaborou uma “tábua” precisa dos significados do ser: A) Fala-se do ser, de um lado, no sentido de acidente, ou seja, como ser acidental ou casual. Ex: quando dizemos “ o homem é músico”, estamos indicando um caso de ser acidental. Ser músico não exprime a essência do homem, mas apenas aquilo que pode acontecer o homem ser. B) oposto ao ser acidental é o ser por si, ou ser em si em sua essência (substância). C) há o sentido de ser como verdadeiro ao qual se contrapõe ao não-ser como falso. É o ser lógico, puramente mental. O ser como verdadeiro indica o ser do juízo verdadeiro, enquanto o não ser como falso o ser do juízo falso (Reale). D)Em último lugar vem o sentido do ser como potência e como ato. Ex: Está em ato uma estátua já esculpida. Está em potência o bloco de mármore que o artífice esculpe. Ex: O broto de trigo é trigo em potência, e a espiga madura é o trigo em ato. Agora, quais as substâncias existentes? Apenas as sensíveis ( como querem os naturalistas) ou também as supra-sensíveis (como querem os platônicos)? O que é a substância em geral? É a matéria? É a forma? É o composto? Para Aristóteles é: A) Num sentido é a forma. Forma é a íntima natureza das coisas, “ o que é”, ou “essência”. Ex: A forma ou essência do homem é sua alma. Aquilo que faz dele um ser vivente racional B) Contudo, se a alma racional não conformasse um corpo, não haveria um homem. Ex: se a essência ou forma da mesa não se realizasse na madeira, ela não teria qualquer concretude. Assim, a matéria também é fundamental para a constituição das coisas. Por outro lado, se não houvesse forma, a matéria seria indeterminada e não bastaria para constituir as coisas (Reale). C) Deste modo, todas as coisas concretas nada mais são que sínolos (compostos) de forma e matéria. Agora o ser no sentido mais forte é forma. A “forma” é causa primeira do ser, pois ela “informa” a matéria (Reale). A matéria é potência, ou seja, a potencialidade no sentido de que é a capacidade de assumir e receber forma. Ex: o bronze é “potência” da estátua, pois é capacidade de receber quanto de assumir a forma de estátua. Ex: a madeira é “potência” de vários objetos que podem ser feitos com ela, pois é capacidade concreta de assumir as formas de vários objetos. A forma se configura como ato ou atuação dessa capacidade. Criador da lógica, autor do primeiro tratado de psicologia científica, primeiro escritor da história da filosofia, patriarca das ciências naturais, metafísico, moralista, político, ele é o verdadeiro fundador da ciência moderna (Franca). Uma de suas contribuições mais fundamentais foi o desenvolvimento da terminologia filosófica. Quando usamos distinções e antíteses como “universal” e “particular”, “premissa” e “conclusão”, “sujeito” e “atributo”, “forma” e “matéria”, “potência” e atual”, estamos empregando ferramentas de pensamento forjados por Aristóteles (Luce). “ Ele (Aristóteles) é um dos mais ricos e profundos gênios científicos que jamais existiram, um homem ao qual nenhuma época pode contrapor outro igual” (Hegel).