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Projeção e Implantação de uma Estratégia de Manejo de Habitats Para
Melhorar o Controle Biológico de Pragas em Agroecossistemas
Clara Ines Nicholls e Miguel A. Altieri
Os agricultores podem melhorar a
resistência e resiliência de seus cultivos por
meio do reforço de suas defesas intrínsecas
contra pragas a pragas. Isso pode ser alcançado
por duas estratégias: o aumento da
biodiversidade acima e abaixo do solo e a
melhoria da saúde do solo. Este trabalho enfoca
o papel da diversidade de insetos benéficos nas
propriedades agrícolas e formas de melhorar a
biodiversidade funcional em agroecossistemas,
a fim de promover o controle biológico de
insetos-praga.
A biodiversidade é crucial para as defesas
dos cultivos: quanto mais diversificadas as
plantas, animais e organismos do solo que
ocuparem um sistema agrícola, maior será a
diversidade da comunidade de inimigos
naturais de pragas que a unidade de produção
poderá sustentar. Um grupo – os predadores
benéficos – ingere os insetos fitófagos e ácaros
ou suga os líquidos deles. Outro grupo – os
parasitóidess benéficos – colocam seus ovos
dentro dos ovos e/ou das larvas de pragas. Um
terceiro
grupo
–
os
organismos
entomopatogênicos – que incluem fungos,
bactérias, vírus, protozoários e nematóides –
fazem com que as pragas fiquem fatalmente
doentes ou sejam impedidas de se alimentar ou
se reproduzir. As plantas também formam
associações complexas com organismos em
torno de suas raízes, o que oferece proteção
contra doenças. Fungos e besouros que vivem
no solo podem danificar as sementes de ervas
daninhas que competem com as plantas. Além
disso, a rica fauna do solo realiza papéis
fundamentais na decomposição e mineralização
da materiais orgânicos, disponibilizando assim
nutrientes para as plantas. A biodiversidade,
sob a forma de policultivos, também pode
tornar as plantas menos “visíveis” para as
pragas; os cultivos crescendo em monoculturas
podem ser tão óbvios para as pragas que as
defesas das plantas não são incapazes de
protegê-las.
Os agricultores podem melhorar a
biodiversidade de suas terras com as seguintes
medidas:
• aumento da diversidade de plantas,
através da rotação de culturas ou de
policultivos de culturas comerciais ou de
plantas de cobertura, na mesma área e ao
mesmo tempo;
• manejo da vegetação em torno dos
campos para atender às necessidades de
organismos benéficos;
• fornecimento de recursos suplementares
aos organismos benéficos, como estruturas
artificiais para nidificação, alimento extra e
presas alternativas;
• estabelecimento de “corredores” de
plantas que atraiam organismos benéficos de
matas próximas ou da vegetação natural para
áreas centrais das lavouras, hortas ou pomares;
• seleção e implantação no campo de faixas
de plantas diferentes dos cultivos, cujas flores
respondam às exigências dos organismos
benéficos.
Solos saudáveis também são essenciais para
a defesa das plantas. Solos não-saudáveis
limitam a capacidade natural dos cultivos
utilizarem suas próprias defesas, e os deixam
vulneráveis a pragas potenciais. Por outro lado,
solos saudáveis são capazes de municiar as
plantas com nutrientes, que melhoram suas
defesas, e de otimizar o desenvolvimento das
raízes e uso da água. O aumento da
susceptibilidade a pragas é geralmente reflexo
da diferenças na saúde da planta, causadas pelo
mau manejo da fertilidade do solo. Muitos
estudos mostram uma menor abundância de
várias pragas de insetos em sistemas com baixo
uso de insumos, e atribuem tais reduções
parcialmente ao menor conteúdo de nitrogênio
em cultivos orgânicos. Além disso, os
1
organismos benéficos que ocorrem nos solos
saudáveis podem aumentar o aproveitamento
de nutrientes, liberar substâncias químicas que
estimulam o crescimento e agir como
antagonistas a patógenos. Solos saudáveis
também podem expor sementes de plantas
espontâneas a um número maior e mais
diversificado de predadores e decompositores,
e a liberação mais lenta de nitrogênio durante a
primavera pode atrasar a germinação das
plantas espontâneas com sementes pequenas –
que muitas vezes precisam de um grande
suprimento de nitrogênio para germinar e
iniciar um rápido crescimento – dando assim
vantagem aos cultivos, que têm sementes
maiores.
Os agricultores podem melhorar a saúde do
solo:
• diversificando as rotações de cultivos,
incluindo leguminosas e forragens perenes;
• mantendo o solo coberto durante todo o
ano com vegetação e/ou resíduos das culturas;
• adicionando material orgânico de
origem animal, de palhas ou de outras fontes;
• reduzindo a intensidade de aração e
gradagem, e protegendo os solos da erosão e da
compactação;
• usando técnicas de manejo adequadas
para fornecer nutrientes às plantas de forma
equilibrada, sem poluir a água.
Quando agricultores adotam práticas que
aumentam a quantidade e diversidade de
organismos acima e dentro do solo, eles
também fortalecem a capacidade dos cultivos
para tolerar pragas. Neste processo, os
agricultores também aumentam a fertilidade do
solo e a produtividade dos cultivos.
A Biodiversidade e sua Função em Unidades
Agrícolas
A biodiversidade em unidades agrícolas se
refere a todos os organismos vegetais e animais
(cultivos, plantas espontâneas, criações
animais, inimigos naturais, polinizadores, fauna
do solo, etc.) presentes na unidade de produção
e no seu entorno. A biodiversidade pode ser tão
variada quanto os vários cultivos, plantas
espontâneas, artrópodes, ou microorganismos
envolvidos, de acordo com fatores relacionados
à localização geográfica, ao clima, ao solo,
além dos humanos e socioeconômicos. Em
geral, o grau de biodiversidade em
agroecossistemas
depende
de
quatro
características principais:
•
a diversidade da vegetação dentro e em
torno do agroecossistema;
•
a permanência dos vários cultivos
dentro do agroecossistema;
•
a intensidade do manejo;
•
o
grau
de
isolamento
do
agroecossistema em relação à vegetação
natural.
O grau de diversidade da vegetação dentro e
em torno da unidade de produção, a quantidade
de cultivos que compõem a rotação, a
proximidade a uma floresta, a existência de
cercas vivas e pastagens ou de outras formas de
vegetação natural são fatores que contribuem
para o nível de biodiversidade de uma unidade
agrícola.
Os componentes de biodiversidade dessas
unidades podem ser classificados em relação ao
papel que têm no funcionamento dos sistemas
de cultivo. Sendo assim, a biodiversidade
agrícola pode ser agrupada da seguinte
maneira:
• biota produtiva: cultivos, árvores e
animais escolhidos pelos agricultores, que têm
papel determinante na biodiversidade e na
complexidade do agroecosistema;
• biota de recursos: organismos que
contribuem para a produtividade através da
polinização, controle biológico, decomposição,
etc.
• biota destrutiva: plantas espontâneas,
insetos praga, patógenos microbianos, etc., que
os agricultores visam reduzir através de manejo
cultural.
Dois
componentes
distintos
da
biodiversidade podem ser reconhecidos como
agroecossistemas. O primeiro componente, a
biodiversidade planejada, inclui os cultivos e
criações animais com finalidade produtiva no
agroecossistema, e que variam de acordo com o
manejo de insumos e diferentes arranjos
espaço/temporais do cultivo. O segundo
2
componente, a biodiversidade associada, inclui
toda a flora e fauna do solo - herbívoros,
carnívoros, decompositores, etc. - que coloniza
o agroecossistema a partir do ambiente
circundante e que irão predominar no
agroecossistema, dependendo de seu manejo e
estrutura. O relacionamento entre os tipos de
componentes da biodiversidade é ilustrado na
Figura 1. A biodiversidade planejada tem uma
função direta, como ilustrado pela seta contínua
ligando a caixa de biodiversidade planejada
com a caixa de função do ecossistema. A
biodiversidade associada também tem uma
função, mas é mediada pela biodiversidade
planejada. Portanto, a biodiversidade planejada
também tem uma função indireta, ilustrada pela
seta pontilhada na figura, realizada através de
sua influência sobre a biodiversidade associada.
Por exemplo, as árvores em sistemas
agroflorestais criam sombra, tornando possível
o cultivo de espécies intolerantes à radiação
solar direta. A função direta destas árvores é,
portanto, criar sombra, mas com as árvores
poderão vir vespas que buscam o néctar das
flores. Essas vespas podem, por sua vez, ser
parasitóides
naturais
de
pragas
que
normalmente atacam os cultivos. As vespas
fazem parte da biodiversidade associada. As
árvores então criam sombra (função direta) e
atraem vespas (função indireta).
Figura 1. Relacionamentos entre vários tipos de biodiversidade e seu papel na função do
agroecossistema
Manejo do
agroecosistema
Biodiversidade
planejada
Função do ecossistema
(ex. regulação de pragas,
ciclagem de nutrientes, etc.)
Biodiversidade
no entorno
Biodiversidade
associada
Interações complementares entre os
vários componentes da biodiversidade também
podem ser de natureza múltipla. Algumas
destas interações podem ser usadas para
indução de efeitos positivos e diretos sobre o
controle biológico de pragas de cultivos
específicos, restabelecimento da fertilidade
e/ou melhoria e conservação do solo. O
aproveitamento dessas interações em situações
reais envolve novas maneiras de planejar e
manejar agroecossistemas, requerendo um
entendimento das relações entre solo,
microorganismos, plantas, insetos herbívoros e
inimigos naturais. De fato, o desempenho
ótimo dos agroecossistemas depende do nível
de interação entre os vários componentes
bióticos e abióticos. Ao reunir uma
biodiversidade funcional, ou seja, um conjunto
de organismos com interações que têm
funções-chave na unidade de produção, é
possível iniciar sinergias que fortaleçam os
processos agrícolas, prestando serviços
ecológicos como a ativação da biologia do solo,
a ciclagem dos nutrientes, a potencialização
dos artrópodes e antagonistas benéficos, entre
outros, todos importantes para determinar a
sustentabilidade dos agroecossistemas (Figura
2).
Em agroecossistemas modernos, as
evidências experimentais sugerem que a
biodiversidade deve ser utilizada para um
melhor manejo de pragas. Vários estudos têm
3
demonstrado que é possível estabilizar as
comunidades de insetos dos agroecossistemas,
planejando sistemas de cultivo que suportem
populações de inimigos naturais ou que tenham
efeitos restritivos a pragas herbívoras. O
fundamental é identificar o tipo de
biodiversidade desejável para se manter e/ou
otimizar as funções ecológicas, e então
determinar as melhores práticas de manejo que
favoreçam os componentes desejados da
biodiversidade. Existem muitas práticas e
projetos agrícolas que potencializam a
biodiversidade funcional, e há outros que a
afetam negativamente. A idéia é aplicar as
melhores práticas de manejo para otimizar ou
recuperar o tipo de biodiversidade, fortalecendo
a sustentabilidade de agroecossistemas, por
desempenhar funções ecológicas como o
controle biológico de pragas, a ciclagem de
nutrientes, a conservação da água e do solo,
etc. O papel dos agricultores e pesquisadores
deverá ser promover práticas agrícolas que
aumentem a quantidade e diversidade de
organismos que estão dentro do solo e sobre
ele, os quais desempenham funções ecológicas
fundamentais nos agroecossistemas (Figura 3).
Figura 2. Componentes, funções e estratégias para potencializar a biodiversidade funcional em
agroecossistemas
Componentes
Polinizadores
Predadores e
parasitóides
Herbívoros
Micro, macro e
mesofauna do solo
Minhocas
BIODIVERSIDADE
Polinização
Regulação
de pragas
Consumo de
biomassa
Estrutura do solo,
ciclagem de nutrientes
Decomposição, predação,
supressão de doenças
Funções
Policultura
Agroflorestamento
Rotações
Plantas de cobertura
Composto
Adubação verde
Aragem zero
Técnicas
4
Figura 3. Os efeitos do manejo de agroecossistemas e práticas culturais associadas sobre a
diversidade de inimigos naturais e a abundância de insetos praga
Aumento da Diversidade de Espécies de Inimigos Naturais – Densidades
Populacionais de Pragas Mais Baixas
cercas vivas, cordões de vegetação, quebraventos
policultivos
rotações
Diversificação do habitat
plantas de cobertura
Manejo orgânico do solo
Baixa perturbação do solo
MANEJO DO
AGROECOSSISTEMA
Práticas culturais
Aração convencional
Remoção de todas plantas espontâneas
Pesticidas
Monocultura
Fertilização química
Diminuição dos Inimigos Naturais e da Diversidade de Espécies – Aumentos das populações de Espécies Praga
Assim, uma importante estratégia na
agricultura é explorar a complementaridade e
sinergias que resultem das várias combinações
de cultivos, árvores e animais em
agroecossistemas detentores de arranjos
espaciais e temporais tais como policultivos,
sistemas agroflorestais e integrações lavourapecuária. Em situações reais, a exploração
dessas interações envolve a projeção e manejo
de sistemas agrícolas e requer uma
compreensão das numerosas relações entre
solo, microorganismos, plantas, insetos
herbívoros e inimigos naturais.
Controle biológico de pragas: uma estratégia
para aumentar a biodiversidade em
unidades agrícolas
Estudos demonstram que agricultores
podem fazer com que pragas e inimigos
naturais cheguem a um equilíbrio natural em
unidades
de
produção
com
grande
biodiversidade. Uma das maneiras mais
eficientes e duradouras de impedir que as
pragas causem danos econômicos à unidade de
produção é favorecer os organismos benéficos
existentes ou que ocorram naturalmente, dando
a eles um habitat apropriado com fontes
alternativas de alimento. Um número menor de
organismos benéficos – predadores, parasitas e
patógenos de insetos – vive em monoculturas
ou em áreas tratadas rotineiramente com
agrotóxicos do que em agroecossistemas mais
diversificados, onde são utilizados menos
produtos tóxicos. Em geral, unidades de
5
produção que agrupam muitas dessas
características reúnem vários fatores benéficos:
• os campos são pequenos e circundados
por vegetação natural;
• os sistemas de cultivo são diversificados
e as populações de plantas dentro ou em torno
dos campos incluem plantas perenes e
produtoras de flores;
• os
cultivos
são
manejados
organicamente ou com um mínimo de agentes
agroquímicos sintéticos;
• os solos têm alto conteúdo de matéria
orgânica e alta atividade biológica e estão
sempre cobertos por matéria vegetal, em
decomposição ou não.
Fatores
benéficos
que
ocorrem
naturalmente, em níveis suficientes, podem
eliminar boa parte das populações de pragas.
Para explorá-los de forma eficaz, os
agricultores devem:
• identificar os organismos benéficos
presentes;
• entender os ciclos biológicos deles e
suas necessidades de recursos individuais.
Com essa informação, agricultores podem
desenvolver esquemas de manejo que
aumentarão o tamanho e a diversidade dos
complexos de inimigos naturais e diminuir os
problemas relacionados a pragas.
Predadores
Unidades
de
produção
com
alta
biodiversidade são ricas em insetos, aranhas e
ácaros predadores. Estes artrópodes benéficos
são predadores de outros insetos, ácaros e
aranhas, sendo fundamentais para o controle
biológico natural. A maioria dos predadores se
alimenta de maneira “generalista”, atacando
uma grande variedade de insetos em diversos
estágios de vida. Os predadores se encontram,
principalmente, nas ordens Coleoptera,
Odonata, Neuroptera, Hymenoptera, Diptera e
Hemiptera. Seus impactos têm sido destacados
em todo o mundo por explosões demográficas
de ácaros, em locais onde inseticidas químicos
eliminaram
seus
predadores.
Ácaros
Tetraniquídeos, por exemplo, são geralmente
muito abundantes em pomares de macieiras nos
quais pesticidas destruíram as populações de
predadores naturais.
Características principais dos predadores
artrópodes:

Adultos e juvenis são freqüentemente
generalistas, e não especialistas

São geralmente maiores do que as suas
presas

Matam ou consomem muitas presas

Machos, fêmeas, juvenis e adultos
podem ser predadores

Atacam presas juvenis e adultas

Necessitam de pólen, néctar e recursos
alimentares adicionais
A diversidade de espécies de predadores em
agroecossistemas
específicos
pode
ser
impressionante. Pesquisadores têm relatado
mais de 600 espécies – de 45 famílias – de
artrópodes predadores nos campos de algodão
do estado de Arkansas e cerca de mil espécies
nos campos de soja do estado da Flórida. Tal
diversidade pode causar grandes pressões
reguladoras sobre pragas. Na realidade, muitos
entomólogos consideram os predadores
naturais, ou indígenas, como uma espécie de
regulador do complexo praga/inimigo natural,
porque eles tendem a se alimentar de qualquer
praga existente em grande quantidade. Mesmo
onde os predadores não podem forçar as
populações de pragas abaixo dos níveis
causadores de prejuízo econômico, eles
diminuem o crescimento populacional das
pragas em potencial. Em pomares de macieiras
livres de inseticidas, no Canadá, cinco espécies
de insetos predadores de árvores foram
responsáveis por 44 a 68 por cento da
mortalidade de ovos da traça da maçã
(Carpocapsa pomonella).
Parasitóides
A maioria dos parasitóides – insetos que
matam seus hospedeiros por parasitismo – vive
livre e independente quando adultos; eles são
letais e dependentes apenas em seus estágios
6
juvenis.
Os
parasitóides
podem
ser
especialistas, utilizando apenas uma espécie
hospedeira ou algumas inter-relacionadas, ou
podem ser generalistas, desenvolvendo-se em
vários tipos de hospedeiros. Normalmente, eles
parasitam espécies maiores que eles,
consumindo parte ou todo o corpo do
hospedeiro antes de entrar em estado de pupa
dentro ou fora dele. Com sua grande
capacidade de localizarem hospedeiros,
utilizando sinais químicos, até mesmo em
populações esparsas, parasitóides adultos são
muito mais eficientes do que os predadores em
encontrar suas presas.
A maioria dos parasitóides utilizados no
controle biológico de insetos pragas inclui
moscas (Diptera) – especialmente da família
Tachinidae – e vespas (Hymenoptera) das
superfamílias Chalcidoidea, Ichneumonoidea e
Proctotrupoidea.
A diversidade dos
parasitóides está diretamente relacionada à
diversidade de plantas: diferentes cultivos,
coberturas do solo, plantas espontâneas e
vegetação adjacente mantêm diferentes pragas,
as quais, por sua vez, atraem seus próprios
grupos de parasitóides. Em monoculturas de
larga escala, a diversidade de parasitóides é
suprimida pela simplificação vegetacional; em
agroecossistemas menos perturbados e livres de
pesticidas: não é raro encontrar onze a quinze
espécies de parasitóides “trabalhando firme”.
Em muitos casos, apenas uma ou duas espécies
de parasitóides dentre estes complexos provam
ser vitais para o controle biológico natural das
pragas de insetos primários. Nos campos de
alfafa da Califórnia, a vespa braconídea
(Cotesia medicaginis) realiza um papel chave
na regulação da lagarta da alfafa (Colias lesbia
pyrrhothea). Este sistema naturla borboletavespa aparentemente estabeleceu-se na alfafa
irrigada a partir dos trevos nativos.
Características principais dos insetos
parasitóides:
 São especializados na sua escolha do
hospedeiro
 São menores do que o hospedeiro
 Apenas a fêmea busca um hospedeiro





Espécies parasitóides podem atacar o
hospedeiro em diferentes estágios de
vida
Ovos ou larvas geralmente são
depositados dentro, sobre ou próximo ao
hospedeiro
Juvenis permanecem sobre ou dentro do
hospedeiro; adultos vivem livremente,
são móveis e podem ser predadores
Juvenis quase sempre matam o
hospedeiro
Adultos necessitam de pólen e néctar
A potencializando insetos benéficos através
do planejamento de unidades de produção
biodiversificadas
Inimigos naturais não se desenvolvem bem
em
monoculturas.
Tratos
culturais
convencionais como aração e gradagem,
eliminação
de
plantas
espontâneas,
pulverização de inseticidas, além de colheitas
têm um efeito destrutivo, fazendo com que
faltem
aos
sistemas
excessivamente
simplificados muitos dos recursos essenciais
para a sobrevivência e reprodução dos fatores
benéficos.
Para completar seus ciclos de vida, os
inimigos naturais necessitam mais do que
presas e hospedeiros: eles precisam de locais de
refúgio e alternativas para a alimentação,
hospedeiros e presas, que geralmente estão
ausentes em monoculturas. Por exemplo,
muitos parasitas adultos, enquanto procuram
hospedeiros, sustentam-se com pólen e néctar
de
plantas
espontâneas
floridas
nas
proximidades, Besouros predadores – como
muitos outros inimigos naturais – não se
dispersam longe de seus refúgios de inverno: o
acesso ao habitat permanente próximo ou
dentro da lavoura, horta ou pomar, dá a eles
uma vantagem sobre as primeiras populações
de pragas.
Os agricultores podem minimizar os
impactos negativos da produção agrícola
moderna, conhecendo e suprindo as
necessidades biológicas dos inimigos naturais.
Com esse mesmo conhecimento, eles podem
7
também projetar habitats de cultivos que sejam
mais favoráveis aos inimigos naturais.
Melhoria dos habitats para inimigos
naturais
Para conservar e desenvolver complexos
ricos em inimigos naturais, os agricultores
devem evitar práticas de cultivo que
prejudiquem os insetos benéficos: devem
substituí-las por métodos que auxiliem a
sobrevivência deles. Um começo é a reversão
das práticas prejudiciais ao controle biológico
natural, que incluem aplicações de inseticidas,
remoção da cobertura e a utilização de
herbicidas para remover plantas espontâneas.
Fornecimento de recursos suplementares
Os inimigos naturais de pragas se
beneficiam de vários tipos de recursos
suplementares. Na Carolina do Norte, a
construção de estruturas artificiais para a
vespa-vermelha
(Polises
annularis)
intensificou sua atividade predatória sobre
lagartas do algodão e do tabaco. Nos campos
de alfafa e algodão da Califórnia, a aplicação
de mistura de proteínas hidrolisadas, açúcar e
água multiplicou por seis a ovoposição de
hemerobídeos (Neuroptera) e aumentou as
populações de sirfídeos predadores, joaninhas e
besouros.
Agricultores
podem
aumentar
a
sobrevivência e reprodução de insetos
benéficos ao permitir que populações
permanentes de presas alternativas oscilem
abaixo do nível de dano utilizando plantas,
hospedeiras dessas presas, em torno de seus
campos ou em fileiras dentro deles. No
repolho, a abundância relativa de pulgões ajuda
a determinar a efetividade dos predadores
gerais que consomem lagartas de curuquerê-dacouve. Da mesma forma, em muitas regiões,
insetos antrocóridos beneficiam-se de presas
alternativas quando há escassez de sua presa
preferida, os tripes.
Outra estratégia – potencializar os níveis do
hospedeiro preferido do organismo benéfico –
tem controlado as traças (curuquerê) em
cultivos
de
couve.
Suplementadas
continuamente com fêmeas, populações dessa
praga multiplicaram-se em quase dez vezes na
primavera. Isso permitiu às populações de dois
de seus parasitas – Trichonograma evanescens
e Apanteles rebecula – aumentarem
rapidamente e se manterem em níveis efetivos
durante toda a estação. Devido a seus riscos
óbvios, a estratégia deve-se restringir a
situações nas quais os recursos de pólen, néctar
ou presas alternativas não possam ser
facilmente obtidos.
Aumento da diversidade de plantas nos
campos
Ao diversificar as plantas nos agrossistemas,
agricultores podem aumentar as condições
ambientais para inimigos naturais, e assim
melhorar o controle biológico de pragas. Uma
maneira de fazer isso é a utilização de
policultivos – dois ou mais cultivos crescendo
simultaneamente em grande proximidade. Os
agricultores também podem permitir que
algumas plantas espontâneas floresçam e
permaneçam em níveis toleráveis ou utilizar
plantas de cobertura sob pomares e vinhedos.
Muitos pesquisadores têm demonstrado que
aumentar a diversidade de plantas – e, portanto,
do habitat – favorece a abundância e
efetividade dos inimigos naturais. Por exemplo,
em campos de algodão com fileiras de alfafa e
sorgo, maiores populações de inimigos naturais
têm causado uma diminuição significativa nas
pragas das plantas. No estado americano da
Geórgia, organismos benéficos reduziram o
número de pragas abaixo do nível de dano
econômico mínimo no algodão cultivado em
sucessão ao trevo vermelho, eliminando assim
a necessidade de inseticidas. Em pomares
canadenses de macieiras, as pragas foram
parasitadas de quatro a dezoito vezes a mais
quando havia uma grande quantidade de flores
silvestres, em comparação com situações em
que havia poucas delas. Nessa pesquisa, várias
plantas espontâneas provaram ser essenciais
para vários parasitóides. Em vinhedos
orgânicos da Califórnia, os predadores
generalistas e o parasita dos ovos de grilos
(Anagrus), que controlam os grilos e os tripes
8
da videira, prosperam na presença de trigomourisco e girassóis. Quando essas plantas de
cobertura florescem cedo, permitem que
populações de organismos benéficos apareçam
antes das pragas. Quando continuam a florescer
durante a estação de crescimento, provêem
suprimentos constantes de pólen, néctar e
presas alternativas. Assim, roçar fileiras
alternadas dessas plantas de cobertura – uma
prática ocasionalmente necessária – força esses
organismos benéficos a saírem dos cultivos
ricos em recursos e entrarem nos vinhedos.
Em policultivos, além do aumento evidente
das espécies de plantas e da biodiversidade, há
mudanças na densidade e altura das plantas, e,
portanto, na diversidade vertical. Todas essas
mudanças afetam a densidade das pragas e
outros organismos. A combinação de culturas
de porte alto e baixo também pode afetar a
dispersão de insetos em um sistema de cultivos.
Por exemplo, em Cuba, agricultores cultivam
fileiras de milho ou sorgo a cada dez metros
entre hortaliças ou feijoeiros, para formar
barreiras físicas a fim de reduzir a dispersão de
tripes (Tripes palmi).
Na China, pesquisadores trabalhando com
agricultores em dez municípios em Yumman,
cobrindo uma área de 5350 hectares,
incentivaram agricultores a mudarem os
sistemas de monoculturas de arroz para o
plantio de diversas variedades – locais – de
arroz alto com híbridos mais baixos. Plantas
altas serviram como barreira para a dispersão
de inóculos de patógenos, e, ainda, a
potencialização da diversidade genética reduziu
o acamamento em 94 por cento e aumentou as
colheitas totais em 89 por cento Depois de dois
anos, concluiu-se que fungicidas não eram mais
necessários.
Manejo da vegetação em torno do campo
Cercas vivas e outros tipos de vegetação nas
margens de campos podem servir como
reservatórios de inimigos naturais. Esses
habitats podem ser importantes abrigos de
inverno para os predadores de pragas, além de
fornecerem pólen, néctar e outros recursos
adicionais aos inimigos naturais.
Muitos estudos têm demonstrado que
artrópodes benéficos movem-se para os
cultivos a partir das margens dos campos, e o
controle biológico geralmente é mais intenso
em fileiras de plantas próximas à vegetação
selvagem do que no centro dos campos:
• Na Alemanha, o parasitismo do besouro
Meligethes aeneus é aproximadamente 50 por
cento maior nas margens dos campos do que no
seu centro;
• Em Michigan, a broca-européia-domilho nas áreas em torno dos campos é mais
susceptível ao parasitismo pela vespa
icneumônide Eriborus terebrans;
• Na cana-de-açúcar havaiana, plantas
produtoras de néctar nas margens de campos
aumentam o número e a eficiência do parasita
(Lixophaga sphenephori) do gorgulho da canade-açúcar.
Estratégias de manejo prático derivam da
compreensão destes relacionamentos. Um
exemplo clássico vem da Califórnia, onde o
parasita de ovos Anagrus epos controla o grilo
das videiras em vinhedos adjacentes aos
cultivos de ameixas. As ameixeiras hospedam
um grilo economicamente insignificante cujos
ovos provêem o Anagrus com a sua única
alimentação e abrigo durante o inverno.
Criação de corredores para inimigos
naturais
O cultivo de várias plantas com flores em
fileiras, que atravessam campos a cada 50 a
100 metros, pode servir de estradas no habitat
de inimigos naturais. Insetos benéficos podem
utilizar esses corredores para circularem e se
dispersarem para os centros dos campos.
Estudos europeus têm confirmado que essa
prática aumenta a diversidade e quantidade de
inimigos naturais. Quando campos de beterraba
açucareira foram intercalados com corredores
de facélia (Phacelia tanacetifolia) a cada vinte
ou trinta fileiras, foi intensificada a destruição
de afídios pelas moscas da família Syrphidae.
Da mesma forma, fileiras de trigo-mourisco e
facélia em campos de repolho na Suíça
aumentaram as populações da vespa parasitóide
que ataca o pulgão do repolho. Devido ao seu
9
longo período de florescimento durante o
verão, a facélia também tem sido utilizada
como fonte de pólen para aumentar as
populações de moscas da família Syrphidae em
campos de cereais. Em grandes campos
orgânicos na Califórnia, fileiras de Alyssum são
comumente plantadas a cada 50 a 100 metros
em campos de cultivos de alface e brássicas
para atrair as moscas da família Syrphidae que
controlam os pulgões.
Algumas espécies de gramíneas podem ser
importantes para os inimigos naturais, pois
podem, por exemplo, criar habitats com
temperatura mais estável para os besouros
predadores passarem o inverno. Na Inglaterra,
pesquisadores estabeleceram “bancos de
besouros”, semeando montes de terra com
gramíneas nos centros dos campos de cereais.
Ao recriar as qualidades das margens dos
campos que favorecem as altas densidades de
predadores invernais, tais bancos tiveram um
impacto particular sobre o aumento das
populações de Dometrias atricapillus e
Tachyporus hypnorium, dois importantes
predadores de pulgões de cereais. Um estudo,
em 1994, descobriu que os inimigos naturais
abrigados nos bancos de besouros eram tão
efetivos na prevenção do surgimento dos
pulgões de cereais que a economia com
pesticidas era maior que os custos com trabalho
e sementes necessários para estabelecê-los. Os
montes podem chegar a 0,4 metro de altura, 1,5
metro de largura e 290 metros de comprimento.
Para
efeitos
mais
prolongados,
é
recomendado plantar corredores de plantas com
arbustos que possuam período de florescimento
mais longo. No norte da Califórnia,
pesquisadores ligaram uma floresta ciliar com o
centro de um grande vinhedo de monocultura
usando um corredor vegetal de sessenta
espécies de plantas. Esse corredor incluía
muitas espécies lenhosas e herbáceas perenes,
florescendo durante toda a estação de
crescimento, dando aos inimigos naturais um
suprimento constante de alimentos alternativos
e quebrando sua dependência estrita de pragas
da videira. Um complexo de predadores entrou
no
vinhedo
mais
cedo,
circulando
continuamente entre as plantas. As interações
subseqüentes da cadeia alimentar enriqueceram
as populações de inimigos naturais e
diminuíram os números de grilos e tripes. Esses
impactos foram medidos em vinhedos em
extensões de 30 a 45 metros a partir do
corredor.
Seleção das flores certas
Quando se escolhem plantas com flores para
atrair insetos benéficos, é importante também
se observar o tamanho e o formato das flores,
pois é isso que determina quais insetos poderão
ter acesso ao pólen e néctar das flores. Para a
maioria dos organismos benéficos, incluindo as
vespas parasitóides, as flores mais úteis são
pequenas e relativamente abertas. Plantas das
asteráceas
(compositae),
apiaáceas
(umbelliferae) e poligináceas são especialmente
úteis (Tabela 1).
Deve-se ainda observar quando a flor
produz pólen e néctar: o tempo dessas
produções é tão importante para os inimigos
naturais quanto o tamanho e o formato dela.
Muitos insetos benéficos estão ativos somente
quando adultos e em períodos curtos durante o
período de crescimento: eles precisam de pólen
e néctar durante esses períodos ativos,
particularmente no início da estação, quando as
presas são escassas. Uma das maneiras mais
fáceis para os agricultores ajudarem é
estabelecer misturas de plantas com tempos de
florescimento
relativamente
longos
e
sobrepostos.
Estão longe de estarem completos os atuais
conhecimentos sobre quais plantas são as
fontes mais úteis de pólen, néctar, habitat e
outras necessidades críticas Claramente, muitas
plantas encorajam os inimigos naturais, mas os
cientistas têm muito mais a aprender sobre
quais plantas estão associadas a determinados
organismos benéficos, e como e quando
disponibilizar
plantas
desejáveis
aos
organismos alvo. Já que as interações benéficas
ocorrem em lugares específicos, a localização
geográfica e o gerenciamento global da unidade
de produção são variáveis críticas. Na falta de
recomendações universais, impossíveis de se
10
fazer, os agricultores podem descobrir muitas
respostas investigando a utilidade de plantas
florescentes alternativas em suas unidades de
produção.
Aumento da biodiversidade – lista para
agricultores

Diversifique as atividades incluindo
mais espécies de plantas e animais.

Utilize rotações de cultivos de legumes
e pastagens mistas.

Intercale cultivos ou coloque fileiras de
outros cultivos, quando viável.

Misture variedades da mesma cultura.

Utilize variedades que carreguem
muitos genes – ao invés de apenas um ou
dois – para tolerância à mesma doença.

Enfatize cultivos de polinização aberta,
ao invés de híbridos, devido à sua
adaptabilidade aos ambientes locais e maior
diversidade genética.

Estabeleça cultivos de cobertura em
pomares, vinhedos e campos de cultivo.
Estabelecimento de uma estratégia de
manejo de habitat
Para desenvolver um plano efetivo para o
manejo de habitat, deve-se procurar obter o
máximo de informações. Faça uma lista das
pragas economicamente mais importantes em
sua unidade de produção. Para cada praga,
tente descobrir:

Quais são seus requisitos de
alimentação e habitat;

Que fatores influenciam a sua
abundância;

Quando e a partir de onde ela entra
no campo; o que a atrai para a cultura.

Como ela se desenvolve na cultura e
quando de torna economicamente
danosa;

Quais são os predadores, parasitas e
patógenos mais importantes;

Quais são as necessidades primárias
desses organismos benéficos;

Onde esses organismos benéficos
passam o inverno, quando eles aparecem
no campo, de onde eles vêm, o que os






Deixe faixas de vegetação nativa nas
margens dos campos.
Crie corredores para vida selvagem e
insetos benéficos.
Implante
e
mantenha
sistemas
agroflorestais; quando possível, combine
árvores e arbustos com cultivos ou criações
de animais para melhorar a continuidade do
habitat para os inimigos naturais.
Plante árvores modificadoras do
microclima e plantas nativas como quebra ventos ou cercas vivas.
Disponibilize uma fonte de água para
pássaros e insetos.
Deixe áreas de reserva na propriedade
como um habitat para a diversidade de
plantas e animais.
atrai às culturas, como eles se
desenvolvem na cultura e o que os
mantém no campo;

Quando os recursos críticos do
organismo benéfico – néctar, pólen,
hospedeiros e presas alternativas –
aparecem e por quanto tempo
permanecem disponíveis; se fontes de
alimentação alternativa são acessíveis
nas proximidades, e, nos momentos
certos, quais plantas anuais e perenes
nativas podem compensar lacunas
críticas no tempo, especialmente quando
há escassez de presas.
Informações-chave
necessárias
para
desenvolver um plano de manejo do habitat:
I)
ECOLOGIA
DE
PRAGAS
ORGANISMOS BENÉFICOS


E
Quais são as pragas economicamente
mais importantes e que exigem manejo?
Quais são os predadores e parasitas
mais importantes da praga?
11

Quais são as fontes primárias de
alimento, habitat e outros requisitos
ecológicos tanto das pragas quanto dos
organismos benéficos? (De onde vem a
praga para infestar o campo, como ela é
atraída ao cultivo, e como se desenvolve na
cultura de interesse? De onde vêm os
organismos benéficos, como são atraídos ao
cultivo, e como se desenvolvem na cultura?
2) TEMPO




Em geral, quando as populações de
pragas aparecem primeiro e quando essas
populações se tornam economicamente
danosas?
Quando aparecem os predadores e
parasitas da praga?
Quando aparecem as fontes de
alimento (néctar, pólen, hospedeiros
alternativos e presas) para os organismos
benéficos, primeiro? Quanto tempo duram?
Que plantas anuais e perenes nativas
podem prover essas necessidades do
habitat?
Colocando em prática a estratégia
Este trabalho apresenta algumas idéias e
princípios
para
o
planejamento
e
implementação de sistemas agrícolas saudáveis
e menos suscetíveis a pragas. Foi explicado
porque reincorporar a complexidade e
diversidade é o primeiro passo em direção ao
manejo sustentável de pragas, e o trabalho
descreve os dois pilares da saúde dos
agroecossistemas (Figura 4):

Fomentar habitats de cultivos que
suportem uma fauna benéfica;

Desenvolver solos ricos em matéria
orgânica e atividade microbiana.
Estratégias bem consideradas e bem
implementadas para o manejo do solo e habitat
levam a populações de inimigos naturais
diversas e abundantes – embora nem sempre
suficientes. Na medida em que os agricultores
forem desenvolvendo um sistema mais
saudável e mais resiliente a pragas em suas
unidades de produção, eles podem se
perguntar:

Como a diversidade de espécies pode
ser aumentada a fim de melhorar o
manejo de pragas e compensar os danos
causados por elas, além de utilizar
recursos de forma mais correta?

Como a longevidade do sistema pode
ser aumentada com a inclusão de plantas
arbóreas que capturam e re-circulam
nutrientes que dão suporte mais
sustentado
para
os
organismos
benéficos?

Como uma quantidade maior de
matéria orgânica pode ser adicionada
para ativar a biologia do solo, aumentar
a nutrição do solo e melhorar a estrutura
do solo?

Finalmente, como a paisagem pode
ser diversificada com mosaicos de
agroecossistemas em diferentes estágios
de sucessão e com quebra-ventos, cercas
vivas, etc?
Uma vez que os agricultores tenham um
amplo conhecimento das características e
necessidades das pragas chave e inimigos
naturais, eles estarão prontos para começar a
delinear uma estratégia de manejo de habitat
específica para a sua unidade de produção.
Escolha plantas que ofereçam benefícios
múltiplos – por exemplo, plantas que melhorem
a fertilidade do solo, suprimam plantas
espontâneas e regulem pragas – e que não
atrapalhem as práticas agrícolas desejáveis.
Evite conflitos potenciais: na Califórnia, o
plantio de amoras pretas em torno de vinhedos
aumenta as populações do grilo dos vinhedos,
mas pode também exacerbar populações de
cigarrinhas, Graphocephala atropunctata, que
transmitem a doença de Pierce, que mata as
videiras. Ao distribuir plantas selecionadas no
espaço e no tempo, utilize o nível de escala,
campo ou paisagem, que seja mais coerente
com os resultados pretendidos. E, finalmente,
mantenha as coisas simples: o plano deve ser
fácil e de baixo custo para implementação e
manutenção, e deve ser fácil de modificar, à
12
medida que as necessidades mudem ou os
resultados exijam mudanças.
13
Figura 4. Pilares da saúde dos agroecossistemas
Princípios agroecológicos
Desenho do agroecossistema
Habitat subterrâneo
Manejo e diversificação
Habitat sobre a terra
Manejo e diversificação
• Matéria orgânica do solo
• Manejo de nutrientes e
compactação
• Policultivo
• Plantas de cobertura
• Rotações
Saúde do cultivo
Saúde do agroecossistema
Diretrizes para o planejamento de sistemas agrícolas saudáveis e resilientes a pragas







Aumente o número de espécies no tempo e no espaço com rotações de culturas, policultivos,
agroflorestas e sistemas de cultivos e criações de animais.
Aumente a diversidade genética com mistura de variedades, multilinhas e germoplasma local.
Conserve ou introduza inimigos naturais e antagonistas, pela melhoria do habitat ou pelo
aumento das introduções.
Aumente a atividade biótica do solo e melhore sua estrutura com aplicações regulares de
matéria orgânica.
Melhore a reciclagem de nutrientes com leguminosas e criações animais.
Mantenha a cobertura vegetal com redução da aração, plantas de cobertura e resíduos vegetais
(palhadas).
Aumente a diversidade com corredores biológicos, diversidade vegetal nas margens dos
cultivos ou com mosaicos de agroecossistemas.
Tabela 1. Plantas que atraem insetos benéficos
14
Aranha
Muitos insetos
Ácaro predador
Ácaros
Mosca (família Syrphidae) Pulgões
Mosca (família
Tachinidae)
Besouro (família
Cicindelidae)
Percevejo predador
(Família Anthocoridae),
(Orius spp)
Nematóides parasitas
Lagartas, pulgões de
brássicas, traças, corós,
broca
das
cucurbitáceas,
fedefede, isópodes.
Muitos insetos
Tripes, aranhas, ácaros,
grilos,
gafanhotos,
lagarta do cartucho,
pequenas
lagartas,
muitos outros insetos
Nematóides
Louva-a-deus (Mantis spp) Qualquer inseto
Ácaro predador
(Typhlodromus spp.)
Ácaros
Tripes predadores
(Família Thripidae)
Ácaros, pulgões, tripes,
traça
das
frutas,
mariposa de botões,
broca de galhos de
pessegueiro, gorgulho
da
alfafa,
mosca
branca,
minadores,
cochonilha
Funcho, alcarávia, endro, tagetes (cravo-dedefunto), hortelã
); manter plantios constantes
Plantas das famílias da cenoura (umbelífera =
apiáceas como salsa, funcho, coentro; do
girassol (compostas = asteráceas); do trigomourisco (poligonáceas), da família do
girassol como margarida, mil-folhas, tagetes;
Alyssum doce; cerejeira (Prunus ilicifolia);
hortelã; carqueja.
Família da cenoura (Ammi, coentro, endro,
salsa, , funcho); trevo doce; Phacelia spp.,
Alyssum doce; trigo-mourisco; amaranto,
cáscara (Rhamnus purshiana); Heteromeles
arbutifolia
Manter plantios permanentes e algumas áreas
expostas de terra ou areia.
Predadores efetivos de ovos de lagarta do
cartucho. Família da cenoura (Daucus carota,
Phacelia spp., coentro, Ammi, cerefólio),
família do girassol [cosmos, Layia,
margaridas, mil-folhas; ervilhaca peluda;
alfafa; milho; trevo vermelho; trigo-mourisco;
Sambucus caerulea; salgueiros; arbustos.
Manter plantios ou cercas-vivas permanentes.
Tagetes, crisântemo, gailárdia, anileira,
mamona, sorgo, tremoços, siratro, feijão-deporco
Proteja as espécies nativas evitando
pesticidas.
Há muitas espécies de ácaros predadores com
requisitos ecológicos, especialmente em
relação à umidade e temperatura, que são
específicos da espécie. Evite o uso de
inseticidas. Ofereça refúgios benéficos como
habitat fora do cultivo de presas/ácaros de
fora do cultivo.
Há muitos tipos de tripes predadores. As
populações de tripes predadores podem ser
conservadas/mantidas tendo-se populações
fora do cultivo de ácaros que se alimentem de
plantas (ex. ácaro vermelho europeu, ácaro de
duas manchas), cochonilhas, afídios, ovos de
mariposa, grilos e outros tripes.
15
Potó (besouro
estafilinídeo)
(Família Staphylinidae)
Pulgões, colêmbolas,
nematóides,
moscas.
Alguns são parasitas da
larva da raiz do repolho
Mosquito-pólvora
(Aphidoletes aphidimyza)
(Larvas são predadores
afídeos)
Afídeos parasitas
(Aphidius matricariae e
outros)
Pecevejo assassino
(Família Reduviidae)
Pulgões
Zoiudo (Geocoris spp.)
(Família Lyagaidae)
Vespa braconídea
(Família Braconidae)
“Damsel”
(Família Nabidae)
Besouro
(Família Carabidae)
Hemerobídeos (Família
Neuroptera)
(Chrysperla e Chrysopa
spp.)
Plantios permanentes; intercale fileiras de
centeio, grãos e cultivos de cobertura, e
fileiras de vegetais em decomposição; faça
alguns caminhos com pedras ou plantas para
prover refúgios.
Endro, mostarda, tomilho, trevo doce. Proteja
a horta de ventos fortes; disponibilize água em
uma panela cheia de cascalho.
Pulgões
Plantas ricas em néctar com flores pequenas
(anis, alcarávia, endro, salsa, família da
mostarda, trevo branco, cenoura, mil-folhas).
Muitos,
insetos, Plantios permanentes para abrigo (ex. cercasincluindo
moscas, vivas).
broca
do
tomate,
lagartas grandes
Muitos
insetos, Podem acumular em cultivos de cobertura de
incluindo
estação fria, tais como trevo alexandrino e
besouros/pulgas,
trevo subterrâneo. Pode ser encontrado na
ácaros, ovos de insetos sanguinária comum (Polygonum aviculare).
e pequenas lagartas.
Também
comem
sementes.
Lagarta de cereais, Plantas produtoras de néctar com flores
lagarta do repolho, pequenas (alcarávia, endro, salsa, Daucus
traças pequenas cujas carota, funcho, mostarda, trevo branco,
larvas destroem maçãs, Phacelia spp., mil-folhas), girassol, ervilhaca,
mariposa,
broca trigo-mourisco, feijão-miúdo, sanguinária
européia do milho, comum, açafrão (Crocus sativus), hortelã.
larvas de besouros,
moscas,
afídios,
lagartas, outros insetos.
Pulgões, tripes, grilos, Qualquer uma da família do girassol, alfafa.
cigarrinhas e pequenas
lagartas
Lesma, caracol, traça Plantios permanentes, amaranto, trevo branco
da raiz do repolho; em pomares, plantas em decomposição.
algumas atacam o
besouro da batata do
Colorado, mariposas e
lagartas que tecem
casulos em forma de
tendas.
Insetos de corpo macio Família da cenoura (alcarávia, Phacelia spp.,
incluindo
afídios, endro, angélica), família do girassol
tripes,
cochonilhas, (girassóis, dente-de-leão), trigo-mourisco,
lagartas,
pequenos milho. Disponibilize água em épocas secas.
ácaros.
16
Joaninha
(Hippodamia spp. e
outros)
(Família Coccinellidae)
Joaninha (Cryptolaemus
montrouzieri)
(Família Coccinellidae)
Pulgões, cochonilhas e Uma vez que os pulgões deixem o cultivo, as
ácaros.
joaninhas também deixarão. Para reter as
joaninhas ativas, mantenha cultivos de
cobertura ou outros hospedeiros de afídio, ou
ainda presas alternativas. Família da cenoura
(funcho, angélica, endro, Phacelia spp.),
família do girassol (margaridas, macelinha,
dente-de-leão, girassol, mil-folhas), trevo
vermelho, ervilhaca peluda, grãos e gramíneas
nativas, Asclepias, trigo-mourisco, centeio,
Sesbania Exaltata, Quillaja saponaria,
Rhamnus,
Atriplex
spp.,
Robinia
pseudoacacia.
Cochonilhas
Família da cenoura (funcho, endro, angélica,
tanaceto) família do girassol (tango,
coreópsis, girassol, mil-folhas)
Clara I. Nicholls e Miguel A. Altieri são pesquisadora bolsista e professor, respectivamente, na
Divisão de Biologia de Insetos – ESPM, Universidade da Califórnia, Berkeley.
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