1 Diagnóstico Corrosivo de Pés de Torres Através de Injeção de Correntes Elétricas pelo Uso de um Dispositivo Computadorizado J.M. Silva, LACTEC , L.H.Tersariol, FURNAS e J.A.Oliveira, FURNAS Resumo – Um dos meios mais utilizados para identificar corrosão nas fundações de estruturas de LTs é a inspeção visual; essa inspeção é realizada após a retirada da terra compactada (escavação) e limpeza da terra e/ou ferrugem aderente. Embora seja um procedimento simples, há alguns aspectos que devem ser levados em conta, conforme exposto a seguir: muito tempo gasto na inspeção (necessidade de escavar, limpar e reaterrar a fundação); necessidade eventual de deixar a cava aberta, sujeitando-se à ocorrência de ventos fortes, chuvas, etc., que poderiam reduzir a segurança da torre e dificuldade de padronizar as informações entre diversos inspetores. No setor elétrico brasileiro tem-se usado a técnica de medição do potencial estrutura/solo. Complementando a medida do potencial estrutura/solo, neste trabalho, desenvolveu-se uma medição através de injeção de corrente. De posse dos valores obtidos, constróem-se retas de potenciais em função de correntes. A corrente de proteção é obtida quando o potencial em condições de circuito fechado “Eon” apresentar o valor de – 850mV, ou quando a diferença entre o potencial em condições de circuito aberto “Eoff” e o potencial de corrosão apresentar 100mV mais catódico que o potencial de corrosão. Este estudo foi aplicado em torno de 5000 torres na concessionária “FURNAS”. Como resultado desse trabalho foi desenvolvido um software, onde a torre pode ser classificada como: “novas”, “corrosão normal”, “em alerta” ou “crítica de corrosão”. Também foi desenvolvido um equipamento eletrônico computadorizado contendo 4 cabos. O equipamento eletrônico é conectado na torre de transmissão e após, não mais do que 10 minutos, é mostrado no visor, o estado corrosivo da torre. Palavras-chave – Linha de Transmissão, Fundações tipo grelhas, materiais metálicos, corrosão pelo solo. II. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO A. Medições de Potenciais “ON” Para a determinação da densidade de corrente necessária para que uma grelha de uma torre esteja totalmente protegida, inicialmente mede-se o potencial de corrosão da grelha em estudo. Para obtenção da densidade de corrente de proteção faz-se uma curva de polarização catódica através da injeção de corrente. A injeção de corrente é feita em intervalos de 1mA e o tempo de estabilização é de 60 segundos, para cada valor de corrente injetada. B. Medições de Potenciais “OFF” A obtenção do potencial “Eoff” (potenciais em condições de circuito aberto) é após a estabilização do “Eon”. Para obtenção do potencial “Eoff” faz- se interrupção da corrente injetada pela bateria automotiva. Com a interrupção da corrente o “Eon” cai abruptamente para um determinado valor e logo em seguida essa queda de potencial é lenta, o segredo está em obter o início dessa queda lenta de potencial. Na prática, o valor lido é feito baseando-se na leitura do primeiro potencial que aparece no visor do multímetro imediatamente ao desligar a chave liga/desliga (próximo de 350ms). III. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Um exemplo das curvas obtidas em campo pode ser visto na Fig.2. I. INTRODUÇÃO Complementando a medida do potencial estrutura/solo[1], neste trabalho, desenvolveu-se uma medição através de injeção de corrente, utilizando os materiais, conforme mostrado na Figura 1. FIGURA 2 – Injeção de correntes na torre 168 da LT 750kV Ivaiporã-Itaberá circuito 1. A seguir estão apresentados os resultados de curvas de polarização de algumas torres de FURNAS (vide Fig.3). FIGURA 1 –Esquema de ligação para injeção de corrente Agradecimentos: Este trabalho tem o apoio financeiro de FURNAS e o apoio administrativo, científico e tecnológico dos seguintes órgãos: ANEEL, UFPR e LACTEC. J.M. Silva trabalha no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC (e-mail: [email protected]). L.H. Tersariol trabalha em Furnas Centrais Elétricas S/A (e-mail: [email protected]). J.A.Oliveira trabalha em Furnas Centrais Elétricas S/A (e-mail: [email protected]). A foto 1 mostra o estado corrosivo das torres: a) 842 e b) 178. Estas duas torres são as mais corroídas das torres estudadas. Este comportamento está de acordo com os dados eletroquímicos de 100 mA e 90mA respectivamente (vide Fig.3). 2 O eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre saturado é enterrado próximo ao pé da torre (20 cm de profundidade e a uma distância de 1,5 m perpendicular ao eixo da linha de transmissão. A finalidade do equipamento em questão (Foto 3) é fazer um banco de dados com tabelas de informações de tensões em função de correntes injetadas nos pés de torres de linhas de transmissão aérea convencionais. -450 Torre 178 Torre 168 Torre 848 Torre 842 Torre 881 -500 -550 Eon/mV -600 -650 -700 -750 -800 -850 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 I/mA FIGURA 3 – Curvas de polarização em condições de circuito fechado. FOTO 1 – a) 842 da LT 600kVcc Foz - Ibiuna circuitos 1 e 2, b) 178 da LT 750kV Ivaiporã–Itaberá circuito 2 A foto 2 mostra o estado corrosivo das torres: a) 168 e b) 848. Estas duas torres são as menos corroídas das torres estudadas. Este comportamento está de acordo com os dados eletroquímicos de 18 mA e 20mA respectivamente (vide Fig.3). FOTO 2 – a) Torre 168 da LT 750kV Ivaiporã - Itaberá circuito 1, b) 848 da LT 600kVcc Foz–Ibiuna circuitos 1 e 2 A. Desenvolvimento de um Dispositivo Computadorizado Foi desenvolvido um equipamento eletrônico computadorizado, compreendido de: um galvanostato simplificado, um processador PIC16F877, um display, um teclado, uma entrada a/d, quatro saídas digitais para bip e uma saída serial, com intuito de obter duas curvas de polarizações catódicas, uma em condições de circuito aberto e outra em condições de circuito fechado. O equipamento eletrônico ora proposto neste trabalho (Foto 3) é utilizado em campo, mais precisamente em pés de torres de linha de transmissão, as quais funcionam como eletrodo de trabalho, o contra eletrodo é basicamente formado por pequenos bastões cilíndricos de cobre e o eletrodo de referência é composto por uma semi-célula de cobre/sulfato de cobre saturado. FOTO 3) Equipamento eletrônico computadorizado contendo 3 cabos que avalia a corrosão existente em fundações tipo grelha de torres de linhas de transmissão. B. Validação dos Resultados A partir da técnica de perda de massa correlacionou-se a corrosão das torres estudadas através de instalação de corpos de prova ou cupons metálicos (vide foto 4). Após a sua limpeza e verificado que os materiais apresentavam corrosão uniforme (vide Foto 5), foram novamente pesados, a fim de determinar a perda de massa e a taxa de corrosão. Foram instalados corpos de provas ou cupons metálicos, no dia 07 de junho de 2004 e as amostras foram instaladas conforme mostra a Foto 4. No dia 23 de fevereiro de 2005, foram inspecionados os cupons metálicos instalados (vide Foto 5a e Foto 5b) na LT 750kV Ivaiporã-Itaberá, circuito 2. Os cupons da Foto 5a, eram de aço carbono e os cupons da Foto 5b, eram de aço galvanizado. Tanto a Foto 5a quanto a Foto 5b, apresentam cupons instalados na Torre 51 (torre com proteção catódica) e na torre 52 (torre sem proteção catódica). FOTO 4 ) Corpos de prova de aço carbono e aço galvanizado instalados na torre 51 da LT 750kV Ivaiporã-Itaberá, circuito 2. 3 Ao correlacionar a corrente necessária para uma torre ficar protegida com a taxa de corrosão, verifica-se que a torre 842 necessita de 100mA para ficar protegida e ela está corroendo a uma taxa de 100μm/ano, já a torre 168 necessita de 20mA para ficar protegida e ela está corroendo a uma taxa de 30μm/ano. a) b) FOTO 5 ) Corpos de prova de a) aço carbono e b) aço galvanizado retirados das torres 51 e 52 da LT 750kV IvaiporãItaberá, circuito 2, após 9 meses de exposição. Ao comparar os cupons metálicos apresentados nas Fotos 5a e 5b, verifica-se que os cupons instalados na torre sem proteção catódica apresentam uma elevada corrosão (140μm/ano), enquanto que os cupons instalados na torre protegida, apresentam apenas um leve início de corrosão (50μm/ano). Esses cupons metálicos estiveram durante 9 meses em exposição. Nessas mesmas torres foram retirados cupons metálicos após 3 anos de exposição (vide Foto 6). FOTO 6) Corpo de prova de aço carbono retirado da torre 52 da LT 750kV Ivaiporã-Itaberá, circuito 2, após 3 anos de exposição. O cupom metálico mostrado na Foto 6 tinha 1 mm de espessura e está apresentando um furo, conforme mostra a seta indicativa na Foto 7. Esse cupom ficou 3 anos instalados em uma torre sem proteção catódica, e cálculos baseado na perda de massa apresentou um valor de 110μm/ano. A partir dos estudos realizados neste trabalho, pode-se estabelecer um critério para analisar o estado do aço conforme a Tabela I: TABELA I CRITÉRIO ECONÔMICO PARA O AÇO Tx/(μm/ano) < 10 10 a 100 100 a 200 > 200 Situação da grelha Proteção quase permanente Estado normal de corrosão Torre em alerta Torre crítica Analise de Viabilidade Econômica Para se analisar a viabilidade econômica consideremos a princípio, o caso por exemplo, de uma concessionária de energia elétrica que possua torres consecutivas necessitando de análise visual das fundações tipo grelhas em relação ao processo corrosivo. O recomendado é executar escavação de solo envolvendo 1 quadrado de 1 metro de lado por 1 metro de profundidade. Para a escavação seria necessário 4 pessoas (uma em cada pé) trabalhando durante um dia para deixar uma torre em condições de análise. Admitindo-se uma torre por dia, e levando em conta as despesas de hospedagem, alimentação transporte, depreciação do veículo e materiais utilizados na inspeção, teremos um custo próximo de R$250,00 por torre. O custo do equipamento está por volta de R$1.000,00. Para o sistema proposto necessita-se de 2 pessoas realizando inspeções de 8 torres por dia. O custo é de aproximadamente R$25,00. Isto significa que haverá uma redução de 10 vezes. Dessa maneira, o retorno do investimento (na compra do equipamento) é obtido em apenas uma semana. Além do mais enquanto o equipamento está realizando as medidas, os dois funcionários podem fazer as inspeções rotineiras de subida em torres. Como o equipamento deixa as medições registradas, isso pode ser uma garantia de que tais inspetores estiveram realmente na torre. IV. CONCLUSÕES A partir dos resultados obtidos neste trabalho, conclui-se que a corrente necessária para uma grelha ficar protegida é pequena (20mA) e a taxa de corrosão é pequena (30μm/ano), quando a corrosão da grelha pode ser representada pela Foto2, e é grande, quando a corrente necessária para uma grelha ficar protegida é grande (100mA) e a taxa de corrosão é intensa (100μm/ano), conforme mostra a Foto1. Este estudo foi aplicado em torno de 5000 torres na concessionária “FURNAS”. Como resultado desse trabalho foi desenvolvido um software, onde a torre pode ser classificada como: “novas”, “corrosão normal”, “em alerta” ou “crítica de corrosão”. O mapeamento feito para FURNAS, foi dividido em 3 trechos: Ivaiporã-Itaberá, Itaberá-Ibiuna, Ibiúna-Tijuco Preto (Mogi das Cruzes). Partes das linhas de transmissão beneficiadas foram: LT 750 kV circuito 1, LT 750kV circuito 2, LT 600kVcc circuitos 1 e 2 e LT 600kVcc circuitos 3 e 4. V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Recomendação SCM-104/94 – Técnica de medição do potencial de corrosão em estruturas metálicas enterradas. Setor Elétrico Brasileiro – Grupo Coordenador de Operações Interligadas – Subcomitê de Manutenção – Comissão de Físico-Química – Grupo de Corrosão.