O SANTO E O COMUM “Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: Sejam santos porque eu, o SENHOR, o Deus de vocês, sou santo” – Levítico 19:2 – NVI. “15 Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, 16 pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo” – 1 Pedro 1:15-16 – NVI. Introdução O objetivo deste estudo é esclarecer a diferença de uma pessoa santa e uma pessoa comum, bem como que a santidade não é um processo e sim uma posição adquirida através da aceitação de Yeshua HaMashiach (Jesus o Messias – Jesus o Cristo – Iēsous Ho Christos – Ἰησοῦς Χριστός – יֵׁשּו ַע )הַמָּׁשִׁ י ַחcomo Senhor e Salvador; obviamente que o santo tem como obrigação buscar a condição moral de Deus, dentro das suas limitações de ser humano, o que nós podemos chamar de purificação ou aperfeiçoamento (Gênesis 17:1 = “...Eu sou o Deus Todo-Poderoso; ande segundo a minha vontade e seja íntegro”). Geralmente as pessoas e os estudiosos da Bíblia Sagrada, mormente os evangélicos, possuem uma conotação religiosa equivocada do que é ser santo; levando sempre para o conceito de que ser santo é possuir um padrão moral muito elevado; ser muito correto. Na verdade a palavra santo (etimológica e teologicamente) não tem nada a ver com o padrão moral, não significa ser muito justo, sendo algo completamente diferente. Significa dedicado, separado, diferente. Em termos gerais, santo significa dedicado. Todavia, o conceito dedicado não encerra o assunto, pois exige um objeto, um complemento. Se dissermos apenas que uma pessoa é santa, não estamos definindo a questão, por ausência do objeto; devemos declinar para quem a pessoa é dedicada: a Deus, ao Diabo ou ao homem. Ser dedicado apenas não termina a sentença. Só existe uma pessoa no universo que é santo diante dele mesmo (não é dedicado a ninguém), e este é Deus. Ele é santo em si mesmo. Deus é a essência absoluta da santidade. Contudo, todas as outras coisas precisam ter um alvo, necessitam ser dedicadas a alguma coisa ou a alguém. Não há como assimilar uma pessoa separada para Deus sem ser dedicada (dedicar é consagrar sua afeição e/ou seus serviços a alguém; consagrar-se; 1 dar-se), mas é o que ocorre normalmente hoje no seio das igrejas evangélicas (os crentes aceitam a Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas, mas não se submetem à sua Palavra – achando talvez que após a salvação não precisam fazer mais nada, inclusive continuando com as mesmas práticas do “mundo”). Então, quando a santificação começa? Quando ela termina? Quais as conseqüências da profanação? Como distinguir o santo do comum, do profano? É o que iremos discorrer neste estudo. No contexto cristão e envolvendo pessoas, somente o povo de Deus é santo (Salmos 85:8 – Romanos 1:7 – 1 Coríntios 1:2), concluindo assim que a ênfase, como já foi dito, não recai num grau apreciável de caráter, mas na escolha divina e na outorga do favor de Deus. O equívoco é provocado pela própria literatura cristã, que usa a santificação sempre em um aspecto experimental ou vivencial (como santidade fosse um conquista na caminhada cristã), ou seja, pelo fato do crente ter sido separado, este deve ser crescentemente separado em sua vida diária, conforme o apelo de Pedro em sua primeira epístola, capítulo 1, verso 16 (“Pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo”). Todavia, a santidade em si deve ser observada pelo seu aspecto posicional, onde ninguém é mais santo que os demais (e não no aspecto vivencial). Quando Deus diz: “...Sejam santos porque eu, o SENHOR, o Deus de vocês, sou santo” (Levítico 19:2), ele faz uma convocação moral de “santo para santo”, e não de um “santo para um profano”. Na prática, o homem, após aceitar o sacrifício de Jesus na cruz do Calvário, reconhecendo-o como seu Senhor, é justificado (absolvido) e separado (santificado), tendo o dever de buscar o aperfeiçoamento (purificação) através da Palavra de Deus, objetivando alcançar o caráter de Cristo (Colossenses 1:28). Em outras palavras, santificação não é um processo a ser experimentado após a salvação; este processo chama-se aperfeiçoamento ou purificação (mudança de caráter). Então, santa é a posição do crente após o novo nascimento. Se a santidade do homem fosse um processo de aperfeiçoamento durante a sua vida, como todos querem, então como explicar a santificação de coisas e lugares? O homem pode perder a sua posição de santo? Com certeza; faz parte do seu livre arbítrio. Perdeu a salvação (saindo do senhorio de Cristo), perdeu a santificação (Mateus 10:22 e Hebreus 6:4-8). 1. Terminologia da Palavra Santo. R. N. Champlin e J. M. Bentes (“Enciclopédia de Bíblia – Teologia e Filosofia”. Vol. 6. 109-112”) explicam a terminologia da palavra da seguinte forma: O vocábulo hebraico “kodesh” envolve a ideia de “separação” ou “frescor”. O termo grego “agiosúne” significa “separação”, “santidade”. A palavra raiz “ágos” indica qualquer objeto que merece respeito religioso, que pode ser um sacrifício expiatório, uma maldição, uma polução, algo que 2 transmite culpa, algo separado para uso e adoração aos deuses. A raiz verbal é “adzomai”, que significa “ter medo”, “ter respeito profundo”. “Agiotes” é a condição da santidade. Esses são os sentidos básicos. No hebraico, “kodesh” ()קדש, o substantivo, é “separação”, “santidade”. O verbo, “kadash”, é “separar”. O adjetivo, “kadosh”, é “santo”, “sagrado”. O verbo “kidash” é “santificar”, “separar”. “Kodesh” é palavra usada acerca de Deus, de lugares e de coisas. Deus é santo; um ritual levítico é santo; um santuário é um lugar santo. Essas coisas e lugares eram separados para uso divino (Êxodo 3:5; 12:16; 15:13; 16:23 – Levítico 2:3 e 10 – Números 4:4 – 1 Samuel 2:2 e 6:20 – Salmos 99:9). No grego, “hagos” é palavra que indica qualquer objeto ou condição que desperta o respeito e a solenidade religiosos, mas também temor, uma maldição, um sacrifício, etc. “Hagios” (αγιος) eram um dos cinco sinônimos para “santo”, no grego clássico. Os deuses eram santos; os seus santuários também eram santos. O sentido original está relacionado àquilo que desperta respeito ou temor; mas no uso diário, a palavra algumas vezes indica coisas que são puras, castas, dedicadas ao serviço divino, coisas dignas de estarem ligadas com Deus. O próprio Deus é santo (João 17:11 – 1 Pedro 1:15), tal como os profetas (Lucas 1:70 – Atos 3:21 – 2 Pedro 3:2), João Batista figura como um homem santo (Marcos 6:20); os apóstolos são santos (Efésios 3:6); os crentes são santos (Colossenses 3:12 – 2 Timóteo 1:9). Assim como Deus é santo, assim também devem ser considerados santos a adoração e o serviço que prestamos a ele (1 Pedro 1:15-16). O termo grego “hagios” é mais ou menos equivalente, no Novo Testamento, ao vocábulo hebraico “kodesh”. 2. Santo na Igreja Católica Romana e Igreja Ortodoxa Oriental. Dentro do catolicismo romano, e na Igreja Ortodoxa Oriental, a canonização é o nome dado ao decreto que inclui uma pessoa no catálogo ou cânon dos santos, os quais são recomendados à veneração dos fiéis. A palavra latina que respalda essa ação é “sanctus”, significando “santo”, “consagrado”. A idéia que se pode inferir do uso dessa palavra é “separação para o serviço prestado às divindades”, indicando alguma pessoa especialmente devotada e distinguindo-se das massas populares (heresia; contrário à Palavra de Deus). Mas, é certo que nas páginas do Novo Testamento, um “santo” é qualquer crente. 3. Santidade de Coisas e de Lugares. Momentos específicos de adoração e observância religiosa são santos, como o “sábado” (Gênesis 2:3 e Êxodo 16:23); “dias específicos” (Neemias 8:11); “convocações religiosas” (Êxodo 12:1-6); “a terra prometida” (Êxodo 15:13); “o acampamento de Israel” (Levítico 10:4); “a cidade de Jerusalém” 3 (Neemias 11:1); “Sião” (Isaías 11:9); “o Tabernáculo e o Templo” (Êxodo 38:24 – Levítico 10:17-18 – 1 Crônicas 29:3 – Salmos 5:6); “coisas contidas no Tabernáculo e no Templo” (Êxodo 29:38; 30:27; 40:10 – 2 Crônicas 29:33 – Números 5:9 – Salmos 89:20 – 1 Samuel 21:4 – 1 Reis 7:51). 4. Sentido da Palavra Igreja. O vocábulo grego “ekklesia” significa, basicamente, “os chamados para fora”, dando a entender um grupo distinto, selecionado e tirado para fora de algo. No caso em questão, ou seja, a Igreja de Cristo é composta dos “santos”, dos “escolhidos”, dos “tirados para fora”, dos “separados”, dos “dedicados”; assim, a Igreja universal, mística, é a composição de todos os crentes (santos) de todos os tempos e de todos os lugares, os quais aceitam Cristo como cabeça. 5. Deus é Santo. Deus é inerentemente “santo”, “sagrado”, “separado”, “puro” (Salmos 22:3 – Isaías 6:3 e 57:15), e livre dos atributos da humanidade decaída (Oséias 11:9). No Antigo Testamento, Deus recebe o título de “O Santo de Israel” (2 Reis 19:22 – Salmos 78:41 – Isaías 17:7 – Jeremias 50:29). Uma das formas mais significativas que Deus usa para nos revelar o seu conhecimento é através de seus nomes. Na Bíblia, os nomes de Deus mais comuns são (as palavras estrangeiras são todas em hebraico, com exceção de “Abba”, em grego): “Deus” (“El”, “Elohim”, “Eloah”) – O vocábulo Deus ou D’us, com outras combinações, como Altíssimo, Suficiente, Eterno, e Conosco, revela as qualidades do Senhor e mostra a sua maneira de agir entre as pessoas (Gn 1:1). “Yud-Heh-Vav-Heh” (“YHVH” ou “YHWH” – Tetragrama) – É a palavra sagrada dos hebreus. As quatro consoantes que compõem o nome de Deus (em português, geralmente é transliterado em “Yahweh”, “Javé”, “Jeová” ou “Senhor” – além da forma abreviada “Yah” ou “Já”). “Senhor” (“Adonai”) – No sentido de proprietário, dono, governador e dominador; é aquele que exige o serviço e a lealdade do seu povo (Gênesis 15:7 – Juízes 6:13 – Salmos 110:1 – Provérbios 9:10 – Atos 2:36 – 1 Coríntios 7:22). “Pai” (“Abba”) – Forma afetiva no tratamento de Deus (grego). Mostra que todas as coisas e o ser humano foram criados por Ele e estão debaixo de proteção (Salmos 89:26 – Mateus 6:9 – Marcos 14:36 – Lucas 22:42 – João 15:1 – Romanos 8:15). “Eu Sou” (“Hayah”) – Anuncia a fidelidade e a imutabilidade de Deus; o mesmo ontem, hoje e eternamente (Êxodo 3:14) – “Ehyeh asher ehyeh” = “Eu sempre serei o que sou agora”. 4 “HáShem” – Significa “O Nome”; descrevendo a santidade do Seu Eterno Nome. Usado pelos ortodoxos judeus, pois para eles os nomes do Senhor são sagrados, e pronunciá-los seria “falar o seu nome em vão”. “Elohim” (“Deus dos deuses”)– Significa Deus de forma plena; descreve a grandeza e a glória de Deus, cujo poder e soberania o revelam – é a forma plural de “Eloah” (Gênesis 1:1; Deuteronômio 10:17). “Eloah” – Significa também “Deus”; é a forma singular de “Elohim” (Deuteronômio 32:15-17). “El” – É a palavra raiz de “Elohim”; significa também “Deus” (Gênesis 1:1) – pode significar também qualquer deus. “Yahweh” – Esse nome é traduzido por “Jeová”, significando “Senhor” (algumas versões traduzem por “Javé”); é o nome pessoal do Deus de Israel (Gênesis 15:2 e 8 – Salmos 83:18). “Yah” (“Já”) – Forma abreviada de “Yahweh” (um dos nomes de Deus) – Salmos 68:4-ARC. “Elohei Avraham, Itzchak ve Yisrael” – Significa “Deus de Abraão, Isaque e Israel (Jacó) – Êxodo 4:5 – 1 Reis 18:36 – 1 Crônicas 29:18 – 2 Crônicas 30:6 – Lucas 20:37 – Atos 3:13 e 7:32. “El Shaddai” – Significa “Deus Todo-Poderoso” (Gênesis 17:1; 28:3; 35:11; 48:3 e 49:25 – Êxodo 6:3 – Números 24:4 e 24:16; Salmos 68:14 – Apocalipse 16:7; 16:14 e 19:15). “El Olan” – Significa “Deus Eterno” (Gênesis 21:33). “El Elyon” – Significa “Deus Altíssimo” (Números 24:16; Salmos 7:17; Salmos 18:13). “El Hai” – Significa “Deus Vivo” (Josué 3:10; Jeremias 10:10). “El Roi” – Significa “Deus que vê” ou “Deus da vista” (Gênesis 16:13). “El Rehum” – Significa “Deus Misericordioso” ou “Deus da Compaixão” (Deuteronômio 4:31). “El Nose” – Significa “Deus do Perdão” (Salmos 99:8). “El Hannum” – Significa “Deus Clemente” ou “Deus Gracioso” (Neemias 9:31). “El Kanna” – Significa “Deus Zeloso” (Êxodo 20:5). “El Gibbor” – Significa “Deus Forte” (Isaías 9:6). “El Shamayim “ = Significa “Deus dos Céus” (Esdras 5:11; Neemias 2:20). “Yahweh Mikadiskim” (ou “Yahweh M’kaddesh”) – Significa “O Senhor que Santifica” (Êxodo 31:13). “Yahweh Nissi” – Significa “O Senhor é minha Bandeira” (Êxodo 17:15). “Yahweh Rapha” – Significa “O Senhor que te Sara” (Êxodo 15:26). “Yahweh Shalom” – Significa “O Senhor é Paz” (Juízes 6:24). 5 “Yahweh Raah” (ou “Yahweh Rohi”) – Significa o “Senhor é meu Pastor” (Salmos 23:1). “Yahweh Tsidkenu” – Significa “O Senhor é nossa Justiça” (Jeremias 23:6 e 33:16). “Yahweh Shammah” – Significa “O Senhor está ali” (Ezequiel 48:35). “Yahweh Sabaoth” – Significa “O Senhor dos Exércitos” (1 Samuel 17:45 – Salmos 24:10). “Yahweh Gmolah” – Significa “O Senhor das Recompensas” (Deuteronômio 32:35 – Hebreus 11:6). “Yahweh Eloah Yisrael” – Significa “Senhor Deus de Israel” (Juízes 5:3). “Yahweh Elohay” – Significa “O Senhor meu Deus” (Josué 7:7-8; Juízes 6:15 e 13:8). “Yahweh Eloheenu” – Significa “O Senhor nosso Deus” (Deuteronômio 2:33). “Kadosh Yisrael” – Significa “O Santo de Israel” (Isaías 1:4 e 43:3). “Abir Yisrael” – Significa “O Forte de Israel” ou “O Poderoso de Israel” (Isaías 1:24). “Nesah Yisrael” – Significa “A Força de Israel” (1 Samuel 15:29). “Attiq Yomin” – Significa “O Antigo de dias” (Daniel 7:9, 13 e 22). “Ha G’dulah” – Significa “A Grandeza”; “A Majestade”; isto é “YHVH” (Hebreus 8:1). “Ha G’dulah Ba M’romim” – Significa “A Grandeza nas Alturas”; isto é “YHVH” (Hebreus 1:3). Mashiach, Bem HaM’vorakh – Significa “ O Messias, Filho de Deus”. “Immanuel” – Significa “Deus Conosco” (Isaías 7:14). “Shaphat” – Significa “Juiz de toda a Terra” (Gênesis 18:25). “Gaal” – Significa “Redentor” (Jó 19:25). “Magen” – Significa “Escudo” (Salmos 3:3 e 18:2). “Yasha” – Significa “Salvador” (Isaías 43:3 e Lucas 1:47). “Palat” – Significa “Libertador” (Salmos 18:2). “Tsur” – Significa “Rocha” (Isaías 44:8). “Eyaluth” – Significa “Força” (Êxodo 15:2). “Tsaddiq” – Significa “Justo” (Salmos 7:9). “Eterno” – Significa que é o único que não teve princípio e não terá fim (Gênesis 21:33 – Deuteronômio 33:23 – Isaías 40:28 – Salmos 10:16 e 90:2 – Romanos 16:26). “Divindade” – Colossenses 2:9. “Poderoso” – Salmo 50:1. “Senhor dos senhores” – Deuteronômio 10:17 – Apocalipse 17:14. “Rei dos reis” – Apocalipse 17:14. “Pai das Luzes” – Tiago 1:17. “Rei da Glória” – Salmos 24:10. 6 “Conselheiro” – Isaías 9:6. “Maravilhoso” – Isaías 9:6. “Pai da Eternidade” – Isaías 9:6. “Príncipe da Paz” – Isaías 9:6. 6. Jesus (Yeshua), o Filho de Deus, é Santo. Jesus é o pioneiro no caminho que conduz a salvação (Hebreus 2:10). Aquele que é santo conduz o homem à santidade. Em doze trechos do Novo Testamento, Jesus, o Cristo (Yeshua HaMashiach) é descrito como santo. Em nove dessas vezes, é empregado o termo grego “Hágios” (Mateus 1:24 – Lucas 1:35 e 4:34 – João 6:69 – Atos 3:14, 4:27 e 4:30 – 1 João 2:20 – Apocalipse 3:7). 7. O Espírito de Deus (Ruach Hakodesh) é Santo. Um adjetivo muito comum, para indicar o Espírito de Deus, é “santo”. No antigo Testamento este título ocorre apenas por três vezes (Salmos 51:11 – Isaías 63:10-11). Porém, no Novo Testamento, a expressão “Espírito Santo” ocorre por mais de noventa vezes. 8. O Que Diz a Bíblia Sagrada Sobre Santidade. Os Oráculos de Deus, em diversas passagens, expressam com clareza o tema aqui abordado, eis algumas delas: “Vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. Essas são as palavras que você dirá aos israelitas” – Êxodo 19:6. “Diga o seguinte a toda comunidade de Israel: Sejam santos porque eu, o SENHOR, o Deus de vocês, sou santo” (Levítico 19:2). “Vocês têm que fazer separação entre o santo e o profano, entre o puro e o impuro” (Levítico 10:10). “Pois eu sou o Senhor Deus de vocês; consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo…” (Levítico 11:44). “Vocês serão santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus” (Levítico 20:26). “Esforcem-se para viver em paz com todos e para serem santos; sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14). “Mas, assim como é santo aquele que os chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: Sejam santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1:15-16). 9. O Santo e o Comum Dentro de tudo que foi exposto neste artigo perguntamos: o que é ser santo? O que significa ser santo? 7 Hoje quase não ocorre, mas antigamente quando se comprava arroz para a refeição, reservava-se um tempo para a “escolha”, separando os grãos com cascas dos que estavam sem cascas. Os grãos com cascas eram inutilizados, enquanto os limpos eram preparados para serem digeridos como alimentos. Então, a santificação é semelhante a “escolha” do arroz, onde observamos um aspecto bastante relevante: que a separação não é “de que” e sim “para quem”! Não é dedicado “a que” e sim, dedicado “a quem”! Não podemos simplesmente dizer: “Eu sou santo”! É preciso dizer pra quem é separado! Para quem é dedicado! Para Deus? Para o Diabo? Para o Homem? O crente é santo para Deus. Porém, o homem pode ser santo para o Diabo, para o Dinheiro, para os Filhos, para a Esposa… Marido e mulher são santos um para o outro e os dois para Deus. Em Levítico 20:26 (“Vocês serão santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus”), Deus declara que o seu povo é santo para ele. Deve ficar bem claro que santo não significa simplesmente ser justo, puro, mas dedicado, separado. Quando uma coisa é santa, deve ser tratada completamente diferente daquelas que é comum. Outro exemplo bíblico sobre dedicação a Deus está em Levítico 27:30 (“Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores são do SENHOR; santas são ao SENHOR”). Nesta mesma linha de pensamente, pode-se afirmar que a oferta não é santa, mas o dízimo é. Dízimo não pertence ao homem, mas a Deus; a oferta sim, pertence ao homem, passando a ser santo somente depois que é transferida. O dízimo é santo, porque ele já é originalmente (conforme a Bíblia) do Senhor. Os crentes são apenas administradores. Já a oferta, a pessoa pega o seu dinheiro e dedica ao Senhor transformando ela santa. Existe diferença em manusear coisa santa e coisa comum. Quando se olha para a Bíblia, toda vez que alguém trata as coisas de Deus (santas) como se fosse comum, a morte acontecia. Em 2 Samuel 6:3-7, Uzá, filho de Abinadabe, foi morto por Deus por ter, imprudentemente, tocada na Arca, o que não lhe era permitido. No Tabernáculo, os filhos de Arão foram separados para servirem especialmente como sacerdotes, eram os superiores dos levitas. Enquanto os levitas coatitas (descendentes de Coate, filho de Levi), por serem parentes mais chegados dos sacerdotes, receberam os ofícios mais elevados; eram eles que transportavam os vasos do santuário e a própria arca da aliança. A santidade faz parte dos princípios básicos da Palavra de Deus. Outro exemplo de morte por não saberem distinguir o santo do comum está em Levítico 9:20-24 e 10:1-3, onde os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, ao trazerem fogo estranho perante a face do Senhor, o que lhes não ordenara, foram consumidos, mortos instantaneamente. Nos capítulos 6 e 7 do Livro de Josué, observa-se outra situação em que a morte estava presente face a não distinção do santo e do comum. Interessante 8 nesses textos de Josué é que o Senhor Deus santificou os despojos de Jericó para ele (6:19 = “Toda a prata, todo o ouro e todos os utensílios de bronze e de ferro são sagrados [ou santos] e pertencem ao Senhor e deverão ser levados para o seu tesouro”). Quando alguém trata o santo como comum, todos são prejudicados. O texto de Josué 7:1 traduz muito bem esta questão. O exemplo mais clássico e mais drástico de morte por não saber distinguir o santo do comum encontra-se no Livro de Gênesis, na queda do homem (Gênesis 2:16-17 – A árvore do Bem e do Mal, no Éden). Quem foi prejudicado com a atitude de Adão e Eva, não sabendo distinguir o santo do Comum? Toda a humanidade. No Livro de Atos dos Apóstolos acha-se a passagem mais conhecida do Novo Testamento sobre morte por não sabe diferenciar o santo do comum (Atos 5:1-11 – a história de Ananias e Safira). Como os cristãos têm tratado as coisas hoje? A maioria deles não sabe diferenciar o santo do comum. O casamento é santo ou comum? Nos casamentos realizados nas Igrejas, é praxe pronunciar: “Eu vos declaro marido e mulher, casados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Quando se fala em casamento, se refere sempre ao sagrado (ou santo) matrimônio; isto quer dizer que o casamento é dedicado a Deus. Em contrapartida amasiar-se (ou amancebar-se) é comum, é profano (Mateus 19:6 e Marcos 10:9). Quem promove separação no casamento, toca em coisa santa de Deus – teria que morrer. Mas não é isto que acontece atualmente. Os homens, inclusive os crentes, tratam o casamento como coisa comum e não como santo. Por que atualmente as pessoas que tratam as coisas santas como comum não estão morrendo? Por que o crente que não entrega o dízimo ainda está vivo? Por que o crente que provoca o divórcio não foi exterminado? No verdadeiro, em um ambiente de poder somente a pessoa santa pode tocar no que é santo. Se uma pessoa tratar uma coisa santa como se fosse comum, a morte estará presente. Por que ninguém está morrendo? O povo não tem entendido estes princípios básicos, então, Deus tem recolhido o seu poder. Se hodiernamente a Igreja detivesse o poder da Igreja Primitiva, existiram muitos Ananias e Safiras, muitos Uzás, muitos Acãs… Percebe-se que Deus “desligou a força”, senão se veria mais gente morta do que viva. Verdadeiramente, hoje, os crentes não entendem estes princípios. Estão se comportando como crianças enfiando clipes na tomada; e ainda orando e dizendo: “Deus envia o teu poder!” Deus pode ligar o seu poder. A Igreja só terá a restauração do poder de Deus, quando entender e souber distinguir o santo do comum. 9 A Igreja tem que aprender como lidar com a família, o dinheiro, casamento, a política… 10. A Visão de Isaías Foi o ano da morte do justo Rei de Judá e o povo estava sofrendo com a perda de um rei tão bom (Uzias – Isaías 6:1). Foi nessa ocasião que Isaías viu algo que chamou a sua atenção. Ele viu a presença dos anjos de Deus em frente ao grande trono divino. Eles proclamavam uns aos outros: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos, a terra inteira está cheia da sua glória” (Isaías 6:3). A palavra “Kadosh” (santo) é repetida aqui não uma, não duas, mas três vezes seguidas – uma forma Hebraica comum de destacar algo. 11. O Outro Significado de “Santo” A palavra “Kadosh” (santo) significa algo que é “outro” (diferente) – o oposto daquilo que é comum. Quando Moisés pensou na palavra para descrever o local mais importante do Tabernáculo, onde residia o Deus de Israel, ele o chamou de o “Santo dos Santos” (Êxodo 26:33)! Conclusão Pelo que foi exposto neste estudo, verifica-se hoje que a Igreja não percebeu ainda a posição que Deus lhe colocou, como santa, através de seu chamado. Atualmente a Igreja acomodou-se e passou a se expressar de forma conveniente. A Igreja não está mais suprindo as necessidades das pessoas através de Jesus. Não está sendo santa como Deus é santo. O mundo olha para a Igreja esperando nela ver um diferencial, um estilo de vida que contraste com o estilo de vida da sociedade. O mundo deve ver a Igreja sob a ótica do respeito, de vida transformada, de gente diferente, de pessoas de bens – de cujo meio saiam empregados submissos, filhos obedientes, esposas e esposos satisfeitos com a vida conjugal; crentes honrando suas posições de santos. No decorrer dos anos a Igreja incorporou em seu seio os valores mundanos, a filosofia do mundo, seus modismos, deixando-se levar ao sabor do sistema. Confundiu contextualização com contemporização – não soube trabalhar no contexto da sociedade e acomodou-se à sociedade que ela tanto insiste em mudar; profanou a noiva de Cristo. Não se importou em parecer com o comum. O mundo espera ver na Igreja o diferencial entre aquilo que frustradamente vive e o que espera encontrar na Igreja – e quase não o encontra! 10 Algumas Igrejas parecem ter perdido o rumo, esquecem que são santas. A quantidade de divórcios entre seus membros é testemunha gritante de como o evangelho diluiu-se no meio de uma sociedade paganizada e profana. A posição (santidade) de alguns jovens que se propõem viver castos até o casamento é motivo de chacota no seio da própria congregação. A bússola da verdade deve urgentemente ser consultada para que a Igreja ande na rota traçada por Deus: Aperfeiçoamento, porque ela é santa (Deuteronômio 18:13). Quando isso acontecer, o mundo voltará a olhar a Igreja como uma sociedade séria, diferenciada; como sociedade que tem rumo próprio. Chega de viver um evangelho morto e cheio de dogmas, sem saber diferenciar o santo do comum, que não permite desfrutar dessa abundância que Jesus, o Cristo já deu a Igreja, através do seu sacrifício de cruz. É hora e tempo de se voltar ao “status quo” do Éden, assumindo a posição dada por Deus de santa (separada) e vivendo uma vida centrada no Espírito da Verdade, sendo a Igreja exemplo de plenitude de vida, demonstrando que o sangue precioso de Jesus coloca o crente como cabeça e não como cauda, fazendo-o bem aventurado e representante do céu, aqui na terra. Referências Bibliográficas 1. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro/RJ. 1999. 2. Bíblia Sagrada. João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. 72ª Impressão. Imprensa Bíblica Brasileira. Rio de Janeiro/RJ. 1990. 3. Morris Cerullo. 5 Maiores Crises e 5 Maiores Ondas do Espírito Santo. ADHONEP. 1ª Edição. 1993. 4. R. N. Champlim, Ph.D. e J. M. Bentes. “Enciclopédia de Bíblia – Teologia e Filosofia”. Vol. 6. 109-112. 5. Roland Doran & Françoise Parot. Dicionário de Psicologia. Editora Ática. São Paulo/SP. 1998. Ap. Wallace Lucena Texto construído sob orientação do Eterno e através de ampla pesquisa (Artigo do Curso de Pós Graduação em Teologia Cristã). 11