APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 397 O APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA DA GRAVIDEZ AARÃO B. BENCHIMOL * RAIMUNDO DIAS CARNEIRO ** O comprometimento do aparêlho cardiovascular na toxemia gravídica constitui assunto de grande interêsse. Contudo, se, no que diz respeito a um de seus aspectos, qual seja o da hipertensão arterial, tem sido já extensamente analisado, por outro lado muito pouca atenção tem-se dado ao processo toxêmico como possível fator etiológico de cardiopatia. Não obstante isso, existem atualmente evidências de que a toxemia gravídica pode determinar um comprometimento miocárdico a ela diretamente relacionado, e ser de tal magnitude em alguns casos, a ponto de levar a quadros graves de insuficiência cardíaca. Com o intuito de despertar maior interêsse para esse problema, resolvemos apresentar aqui algumas observações, nas quais pudemos constatar as repercussões da toxemia gravídica sôbre o aparêlho circulatório. Inicialmente, porém, traçaremos em linhas gerais as delimitações e os conceitos etiopatogênicos dessa complexa condição que, com freqüência, ensombrece a evolução da gestação. A TOXEMIA GRAVÍDICA A toxemia da gravidez, de acôrdo com Dexter e Weiss 1, é uma. afecção vascular aguda caracterizada pelo aparecimento, na segunda metade da gravidez, de hipertensão arterial e de albuminúria, acompanhadas, na maioria dos casos, de edema generalizado. Isso pode ocorrer em pacientes com cifras tensionais normais ou já elevadas antes da gravidez, assim como em presença de uma função renal normal ou já comprometida. Por conseqüência, não basta o simples achado de Trabalho do Hospital dos Servidores do Estado. * Chefe do Serviço de Cardiologia do H. S. E. Docente da Fac. Nac. de Med. (Prof. L. Capriglione). ** Assistente do Serviço de Cardiologia do H. S. E. 398 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA hipertensão e albuminúria para se diagnosticar uma toxemia gravídica, senão que é indispensável que êsses dois dados se tenham acentuado de forma manifesta, em relação aos níveis presentes, antes ou durante a primeira metade da gravidez. Igualmente, a retenção aquosa na gravidez é comum e relativamente inócua, desde que não se acompanhe de um processo vascular associado. Essas manifestações (hipertensão arterial, albuminúria e edema) regridem, em geral, de maneira mais ou menos rápida, pouco antes ou imediatamente após o parto. Como fatôres particularmente predisponentes ao aparecimento da toxemia contam-se qualquer tipo de hipertensão pré-existente e a presença de edemas; como menos importantes, figuram a gravidez gemelar, a primigestação, o hidrâmnios, o diabetes e outros. O início dêsse quadro é, em geral, insidioso e só pode ser surpreendido se a paciente estiver sob vigilância. Um aumento desproporcional de pêso (600 a 900 g. por semana), uma albuminária que se intensifica e elevações transitórias da pressão arterial constituem freqüentemente as primeiras manifestações. O aparecimento de cefaléia, perturbações visuais, vertigens, náuseas e vômitos e convulsões, seguidas ou não de estado comatoso, caracterizam já uma fase mais avançada da toxemia. Deve-se assinalar, contudo, que qualquer dêsses sintomas pode deixar de figurar na síndrome toxêmica. As convulsões não constituem uma característica essencial da síndrome; permitem, porém, distinguir pela sua presença a forma eclâmptica da forma não convulsiva ou pré-eclâmptica. Embora as crises convulsivas atestem a gravidade do processo, a evolução fatal de muitos casos ocorre na sua ausência, permitindo à autópsia comprovar nesses casos o diagnóstico clínico pelos achados característicos nos rins (espessamento da membrana basal capilar e tumefação das células epiteliais dos glomérulos) e no fígado (necrose hemorrágica ou atrofia das trabéculas hepáticas). Não obstante as características lesões dêsses órgãos, as provas de função renal e hepática permanecem normais até que fases avançadas sejam alcançadas. A hematúria está ausente na maioria dos casos e, quando presente, sugere uma complicação. Do ponto de vista etiopatogênico admite-se que, em última análise, os sintomas e sinais da toxemia hipertensiva, com exceção da retenção aquosa dependem., direta ou indiretamente, de uma intensa vasoconstrição generalizada, a qual explica. não só a hipertensão arterial, como também as alterações parenquimatosas dependentes da diminuição da irrigação sangüínea nos diversos setores orgânicos. E’ o que acontece, por exemplo, ao nível do rim provocando, por anoxemia APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 399 do capilar glomerular, o aparecimento de albuminúria de maior ou menor intensidade. Testemunhando a natureza vasospástica da doença, observa-se ainda com muita freqüência, ao exame de fundo de ôlho, as alterações características da retinopatia angiospástica. Uma vez que o edema pode preceder de muito a hipertensão e a albuminúria, acreditam Dexter e Weiss 1 que dois fatôres devem intervir na gênese do processo toxêmico: de um lado, uma síndrome vascular, e de outro, fenômenos de retenção hidrossalina. Êsses dois fatôres se combinariam em graus variáveis de intensidade, para produzir o quadro clínico, o qual, nas suas fases finais, apresentaria edema e hipertensão com albuminária em graus acentuados, enquanto, nas primeiras fases, predominaria um ou outro dêsses fatôres. Assim encarado o problema, a toxemia da gravidez nada mais seria do que um tipo peculiar de hipertensão arterial com albuminúria por vasoconstricção generalizada, acompanhada de retenção aquosa. A substância vasoconstritora responsável por êsse processo é de natureza desconhecida; por analogia com a hipertensão nefrógena, acreditouse que a compressão das artérias renais 2 , ou dos ureteres e veias renais 3 pelo útero aumentado, condicionasse o mecanismo hipertensivo por isquemia renal, principalmente por ser a toxemia freqüente na gravidez gemelar, hidrâmnios, mola hidatiforme etc. Entretanto, a experimentação e a clínica não apoiaram essa hipótese, uma vez que a gravidez não acentua, em cadelas e coelhas, a hipertensão por isquemia renal 4, como também a toxemia não se observa em pacientes com volumosos aumentos do útero por fibromas, cistos e tumores em geral. Por outro lado, o conteúdo uterino (feto e placenta) usualmente é menor nas toxemias do que nas grávidas normais 1. A tendência atual é aceitar uma substância vasoconstritora vinculada a uma atividade anormal do complexo feto-placentório, principalmente porque, em geral, os sintomas só cedem após o esvaziamento uterino. A natureza dessa substância é desconhecida; difere, contudo, da hipertensina, uma vez que a hipertensão da isquemia renal não se acompanha habitualmente das elevadas albuminúrias e dos edemas que caracterizam a toxemia gravídica. Quanto à retenção aquosa com formação de edema, procura-se explicá-la à luz de distúrbios hormonais, tais como a baixa excreção de substâncias estrogênicas e pregnandiol, assim como um aumento das gonadotrofinas coriônicas do sôro e da urina. A hiperfunção do lobo posterior da hipófise 5, com seu conhecido hormônio de ação pressora e antidiurética, não foi confirmada experimentalmente. A hipo- 400 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA proteinemia resultante da permeabilidade anormal dos capilares glomerulares, embora não pareça desempenhar papel fundamental, deve intervir, em parte, nos casos prolongados e quando muito acentuada. Nesses casos se produzem nos tubuli, em conseqüência da proteinúria, as mesmas perturbações que se observam na nefrose lipóidica. REPERCUSSÕES DA TOXEMIA A toxemia da gravidez não sòmente determina uma grande mortalidade fetal, como também pode pôr em perigo a vida da mãe, quando se manifesta sob a forma eclâmptica. Contudo, o seu único efeito tardio é o desenvolvimento de uma doença hipertensiva permanente, com tôdas as características da hipertensão essencial, o que ocorre em cêrca de um têrço 6 a um quarto 1 dêsses pacientes. Isso foi atribuído, por alguns autores 6, à persistência das lesões glomerulares da toxemia; contudo, a maioria não acredita nessa interpretação, afirmando Dieckmann e Brown 1 que a toxemia da gravidez não determina lesão renal permanente. Há uma grande tendência atual para considerar a hipertensão permanente pós-toxêmica como manifestação de doença vascular hipertensiva essencial, representando a toxemia um mero fator precipitante do processo. Aliás, não é raro o aparecimento de hipertensão na primeira metade da gravidez; trata-se provàvelmente aqui, da forma essencial da doença, cuja tendência hipertensiva já existente foi despertada pela gestação. Particularmente digno de atenção é o problema da gravidez em paciente já hipertensa. Como já vimos, essa condição constitui um dos principais fatôres predisponentes do processo toxêmico, o qual ocorre em cêrca de 50% dessas pacientes, enquanto, nas grávidas normais 1, a incidência é de 2%. Contudo, nas hipertensas que não se complicam de toxemia, a evolução da gravidez se processa normalmente, razão pela qual êsse fato não constitui contra-indicação formal à gestação. O mesmo não ocorre quando a toxemia gravídica se superpõe à hipertensão; nesses casos, pode-se agravar consideràvelmente o estado das doentes, o que precisa ser reconhecido precocemente, a fim de se evitar graves complicações. Por conseguinte, impõe-se a vigilância estreita da hipertensa grávida, devendo-se levar em consideração não sòmente a maior elevação das cifras tensionais, mas também o aumento desproporcional de pêso, a acentuação da albuminúria, a presença de cefaléia e escotomas e, mais que tudo, o aparecimento de alterações retinianas frescas ao exame de fundo de ôlho (retinite angiospás- APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 401 tica); êsses elementos devem servir de indicação para uma possível interrupção da gravidez, a qual está indicada tão cedo se constate a viabilidade do feto. Entretanto, se as condições clínicas não melhorarem francamente com as medidas terapêuticas adotadas, só se esperará pela oportunidade de recorrer ao parto prematuro quando a probabilidade de um feto viável não ultrapasse de 15 dias. Caso contrário e esgotado êsse prazo, deve-se provocar imediatamente o abôrto, tanto mais que hoje se sabe ser a duração da toxemia de maior importância que o grau de intensidade da mesma, no que tange à agravação ulterior do estado hipertensivo. Aliás, tôda toxemia hipertensiva que se prolonga por mais de 3 semanas corre o risco de deixar como seqüela uma hipertensão arterial definitiva e tôda toxemia albuminúrica franca que dura mais de 2 semanas põe em perigo a vida do feto. Nos dois casos que passamos a apresentar, de hipertensas grávidas complicadas de toxemia, puderam-se constatar as várias eventualidades referidas, inclusive o aparecimento de insuficiência cardíaca em um dêles (caso 2 ) . Caso 1 - H. 13. A., 29 anos, parda, reg. 24.289. Compareceu ao H. S. E. em 26-11-48, primigesta, de 3 meses, sabendo-se hipertensa há 2 anos. Foi internada em 5-12-48 a fim de julgarmos das possibilidades de levar a têrmo a gestação. Suas cifras tensionais eram de 210-120 e pulso de 80 por minuto, regular. Não havia manifestações de insuficiência cardíaca. As provas de função renal foram tôdas satisfatórias, assim como a pielografia, descendente. Fundo de ôlho: grupo I (Wagener-Keith). Ao eletrocardiograma (27-11-48), evidência de moderada hipertrofia do ventrículo esquerdo pela presença de onda R elevada em posições precordiais esquerdas (fig. 1-A). Com 20 dias de repouso e medicação barbitúrica, a pressão arterial desceu a 170-100, tendo atingido, em certa ocasião, 156-88. Em virtude das condições favoráveis então presentes, julgouse possível a continuação da gravidez, devendo, contudo, ser submetida a exames periódicos com freqüência. Ao comparecer ao ambulatório, em 16-249, sentindo-se perfeitamente bem, constatou-se que sua pressão arterial atingia 250-140; referia apenas cefaléia leve e ocasional. Reinternada, verificou-se a presença, no fundo de olho, de edema retiniano e diversos espasmos focais (Wagener III) continuando a função renal satisfatória, apesar de se ter manifestado albuminúria franca. Não obstante o repouso, a dieta acloretada e medicação vasodilatadora, não se conseguiu baixar a pressão, mantendo-se a mínima sempre acima de 130. Agravaram-se as alterações eletrocardiográficas pelo aparecimento de modificações da onda T, que se tornou invertida em D , 1 VL e V , (fig. 1-13). Aos raios X observou-se aumento da área cardíaca, com 6 predominância do ventrículo esquerdo, mais evidente em OAE (fig. 2). Tendo a paciente aumentado excessivamente de pêso (3 kg, 600 em 23 dias), foi colocada em restrição dietética mais rigorosa e julgado conveniente submetêla à cesariana depois de atingir o 8º mês. Em 13-4-49, porém, queixou-se de intensa cefaléia e escotomas, além de dôr epigástrica, tendo as cifras tensionais atingido 270-150. Foi solicitado o obstetra, pelo que foi executada a cesariana, a qual decorreu normalmente. 402 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA Nos 7 dias subseqüentes a pressão manteve-se elevada (210-180), tendo regredido as alterações da onda T em eletrocardiograma realizado 4 dias após (fig. I-C). Fig. 1 - H. B. A., 29 anos (reg. 24.289), primigesta de 3 mêses, sabendo-se hipertensa há 2 anos. O primeiro ECG mostrou moderada hipertrofia ventricular esquerda (A). Em 11-4-49, em pleno processo toxêmico, surgiram alterações da onda T em D 1 VL e posições precordiais esquerdas (B), quais desapareceram logo após o esvaziamento uterino (C). Essas alterações sugerem comprometimento miocárdico no decurso da toxemia gravídica. Trata-se, por conseguinte, de um caso de toxemia gravídica que se instalou em paciente portadora de hipertensão essencial, a despeito de tôdas as precauções tomadas, tendo o eletrocardiograma revelado comprometimento miocárdico. Possìvelmente, o processo vascular hi- APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 403 pertensivo se tornará mais grave depois do ocorrido, pelo que acreditamos ser de utilidade submetê-la posteriormente à simpatectomia toracolombar, que tem dado bons resultados nesses casos 8, permitindo, inclusive, a evolução normal de ulteriores gestações. Caso 2 - A. M. J., parda, 27 anos, reg. 9250. Hipertensa há mais de 6 anos, tendo tido, de 4 anos a esta data, 2 gestações interrompidas rio 7º e 8º meses, respectivamente, por toxemia gravídica, além do um abôrto incompleto em abril de 19-18. Antes dêsse abôrto levou uma gestação a têrmo, tendo dado à luz um feto normal. Em setembro de 1948, no curso da 5º gestação, foi-nos enviada para que a acompanhássemos, em virtude de suas cifras tensionais elevadas. Nessa ocasião, sua pressão oscilava entre 170 e 180 para a máxima e 100 e 132 para a mínima. Em 10-8-1919, no 8º mês da gestação, constataramse sinais de insuficiência cardíaca, pelo que se julgou conveniente a sua internação. Ao exame verificou-se pulso de 100 por minuto, ritmo de galope, estertores subcrepitantes nas bases, e pressão arterial 180-130. Sinais de grande hipertrofia ventricular esquerda ao eletrocardiograma e raios X (fig. 3). Fundo de ôlho: grau III (Wagener-Keith). Albuminúria acentuada com raras hemácias; densidade 1023. Pielograma descendente normal. Submetida a repouso, digitalização e regime acloretado, conseguiu-se a completa compensação circulatória e, como a pressão se mantivesse em níveis mais baixos (170-100), julgamos que a paciente poderia tolerar bem o trabalho de parto, o que de fato ocorreu no dia 1-4-49, tendo dado à luz um feto em boas condições de vitalidade. O eletrocardiograma feito em 14-4-49 mostrava, além de grande hipertrofia do ventrículo esquerdo, sinais de impregnação digitálica (fig. 3). Posteriormente, manteve-se o equilíbrio circulatório, apesar de se suspender a digital, a pressão arterial conservou-se em tôrno de 160-110, tendo, em um novo eletrocardiograma, se verificado o desaparecimento da ação digitálica, conforme se observa na mesma fig. 3. O exame de fundo de ôlho revelou regressão parcial das alterações retinianas. Fig. 2 - Aumento da área cardíaca, com predominância do ventrículo esquerdo, bem evidente em O. A. E. Mesma paciente da figura 1. 404 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA Fig. 3 - A M J, 27 anos (reg. 9.250), hipertensa há mais de 6 anos, multípara com 2 gestações interrompidas no 7 º e 8 º mês por toxemia gravídica. No curso da 5 ª gravidez, apresentou, no 8 º mês, sinais de insuficiência cardíaca, além de manifestações toxêmicas. O exame radiológico e o eletrocardiograma (março de 1949) mostraram acentuada hipertrofia ventricular esquerda. Digitalizada e sob o tratamento higieno-dietético, conseguiu dar à luz por parto normal um feto em boas condições de vitalidade. Posteriormente restabeleceuse o equilíbrio circulatório, que se manteve o mesmo sem o uso de cardiotônicos, tendo no ECG realizado em 28-4-1949 desaparecido os sinais de impregnação digitálica evidentes em traçado prévio (11-4-1949) APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 405 Nesse caso assistimos, pois, a uma toxemia da gravidez agravar um estado hipertensivo prévio, levando-o à insuficiência cardíaca. Contudo, foi possível controlar o processo toxêmico e a insuficiência cardíaca, possibilitando, dêsse modo, levar a têrmo a gestação. Até que ponto essa descompensação dependeu da toxemia ou da sobrecarga circulatória da gravidez em coração já lesado, é difícil afirmar. O CORAÇÃO NA TOXEMIA Passemos, agora, a tratar pròpriamente do comportamento do coração na toxemia. Parece não ser rara a ocorrência de manifestações cardíacas nessa condição. Nas formas graves são mesmo relativamente comuns a ortopnéia, a asma cardíaca e o edema agudo pulmonar. Essa última síndrome seria, segundo Moore e Lawrance 9, a responsável pela morte de um têrço das pacientes com eclâmpsia. Que essas manifestações estão na dependência da toxemia é sugerido pelo seu aparecimento em pacientes sem hipertensão prévia, podendo acompanhar-se de dilatação aguda de coração, que subseqüentemente volta ao seu tamanho normal 10. Discute-se, atualmente, se êsses sintomas dependem exclusivamente de uma insuficiência miocárdica. Para Dexter e Weiss 1, a retenção de líqüidos no tecido pulmonar por fatôres inerentes à toxemia contribuiria em parte para o seu aparecimento. De acôrdo com êsses autores, a descompensação cardíaca, nesses casos, não dependeria de uma “miocardite” ou de quaisquer outras lesões “orgânicas” do miocárdio, mas sim das alterações da dinâmica circulatória, próprias dos últimos meses da gravidez (aumento do volume sangüíneo, do débito cardíaco etc.) associadas à hipertensão arterial aguda, combinação essa particularmente desfavorável para um miocárdio não hipertrofiado. Contudo, mais modernamente, os estudos eletrocardiográficos e necroscópicos 10,12 vieram comprovar, na toxemia, a existência de lesão miocárdica, embora manifestações clínicas de insuficiência cardíaca não fôssem observadas na maioria dêles. Aliás, Polak 13, em 1926, já assinalava, em um estudo necroscópico de 102 casos de eclâmpsia, a presença de processos degenerativos do miocárdio em 94 dêsses pacientes. Cumpre, na verdade, referir que os estudos eletrocardiográficos realizados na toxemia da gravidez são, até certo ponto, discordantes, não tendo alguns autores encontrado anomalias dignas de nota. Nós mesmos, nos 10 primeiros casos de toxemia em que emitimos parecer baseados em sòmente um exame clínico e eletrocardiográfico, sem contrôle posterior, não encontramos alterações que pudessem ser atribuí- 406 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA das à toxemia, embora alguns casos apresentassem curva de hipertrofia ventricular esquerda ligada à prévia hipertensão arterial. Entretanto, trabalhos outros, realizados com contrôles periódicos, não só durante a gestação, como também no post partum, demonstraram indiscutìvelmente o comprometimento cardíaco em grande número de pacientes com essa condição. Assim é que Wallace e col.11a, em 12 casos de toxemia sem eclâmpsia, observaram sinais de lesão miocárdica em 50% dêles, sendo que, nas 2 pacientes em que havia insuficiência cardíaca, as alterações ejetrocardiográficas se assemelhavam às de infarto anterior; nas 4 em que as modificações eletrocardiográficas foram de menor monta não houve manifestações de insuficiência cardíaca. Szekely e Snaith 11b, em 19 casos, só encontraram 6 sem lesão miocárdica. Por conseqüência, os estudos modernos tendem a demonstrar a relativa freqüência do comprometimento miocórdico na toxemia cardíaca, podendo, em certos casos, levar a quadros graves de insuficiência cardíaca. De acôrdo com Dexter e Weiss o coração é, em geral, normal quando a toxemia é de grau leve, mas, nas formas graves, freqüentemente ela se associa à insuficiência cardíaca. Êsses mesmos autores salientaram o fato das alterações eletrocardiográficas aparecerem ou se acentuarem no período post partum, às vêzes depois de instalada a insuficiência cardíaca. Antes de passarmos à apresentação de dois casos de toxemia gravídica em que as manifestações cardíacas foram da mais alta importância, queremos salientar alguns achados de grande interêsse prático, dependentes do edema pulmonar e que precedem a instalação das crises de insuficiência ventricular esquerda. Referimo-nos à diminuição da capacidade vital e à acentuação da trama vascular com diminuição da transparência das bases ao exame radiológico. Êsses dados são considerados como sinais de alarme 1, pelo que se impõe a instituição de medidas terapêuticas preventivas. Caso 3 - M. T. M. R., com 29 anos de idade, reg. 12870. Deu à luz uma criança na Maternidade de Cascadura, no dia 19-5-1948, por parto normal, conquanto, no período final de sua gravidez, se tivessem manifestado grandes edemas, que ràpidamente se generalizaram, e cefaléia. No 4º dia post partum a paciente foi enviada para casa, embora, nessa ocasião, se julgasse resfriada pelo aparecimento de tosse, pontada no hipocôndrio esquerdo e pequena elevação de temperatura. No 6º dia do puerpério passou a apresentar dispnéia a pequenos esforços, além de acentuação dos edemas pré-existentes, agravandose ràpidamente êsse quadro a ponto de ser obrigada a manter-se em atitude ortopnéica. Ao ser internada no H. S. E., em 1-6-1948, APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 407 apresentava-se muito pálida, dispnéica, taquicárdica, ainda com edemas, fígado a 5 dedos da reborda costal com pressão arterial de 140-100, alternância auscultatória, estase pulmonar e derrame pleural bilateral. Fundo de ôlho. A , 11 (Gans). A radiografia de entrada em 3-6-48 evidenciou (fig. 4) grande aumento global da área cardíaca, com estase hilar e pequena coleção líqüida na grande cavidade pleural de ambos os lados (mais à direita). Foi submetida durante 12 dias a tratamento cardiotônico na dose diária de 1/4 de mg. de estrofantina, por via venosa, com desaparecimento, no fim, dêsse período, de todos os sinais de descompensação, tendo novo exame radiológico, em 22-6-48, revelado campos pulmonares e diâmetros cárdio-aórticos normais (fig. 4). Ao eletrocardiograma foram observadas, desde os primeiros traçados (fig. 5), alterações da onda T, consistentes inicialmente (4-6-48) em achatamento e tendência à inversão dessa onda nas derivações periféricas e precordiais esquerdas. Essas alterações se acentuaram progressivamente nos dois traçados subseqüentes, evidenciando-se, em 24-6-48, inversão aguda de T em D , D e 1 precordiais a partir de V . Em virtude da presença, nesse traçado, da onda Q 4 em VL e da pequena diminuição da amplitude de R de V , para V , foram 2 3 feitas as precordiais altas (fig. 6), que evidenciaram, ao nível de V deflexão 5 negativa inicial com r embrionário e inversão de T, alterações essas muito semelhantes às de enfarte alto da parede anterior. Em 5-7-48 (figs. 5 e 6) o traçado mostrava acentuada regressão das alterações anteriormente verificadas, tendo-se positivado as ondas T e se reduzido a deflexão negativa em V, alto. Ao ter alta, em 6-7-48, achava-se em perfeito equilíbrio circulatório, mesmo sem uso de cardiotônicos, com pressão arterial de 110-70, tendo o exame de urina revelado vestígios de albumina, anteriormente com traços Fig. 4 - M. J. M. R. , 29 anos (reg. 12.870). Em A, radiografia feita no dia da internação, mostrando grande aumento da área cardíaca, estase hilar e pequeno derrame pleural bilateral, mais acentuado à direita. Após tratamento cardiotônico durante 12 dias, observou-se (B) normalização dos diâmetros cárdio-aórticos e dos campos pulmonares. 408 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA Fig. 5 - M. J. M. R. No 1 º traçado achatamento e tendência à inversão da onda T em periféricas e precordiais esquerdas, que se acentuaram nos 2 traçados subseqüentes, evidenciando-se, em 24-6-1948, inversão aguda de T em D ,D 1 e precordiais a partir de V , onda Q em VL e diminuição da amplitude R de 2 4 V para V . Em 5-7-1948, já havia regressão pràticamente total das alterações 2 3 de T. APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 409 acentuados. E’ digno de nota que as maiores alterações do eletrocardiograma (24-6-48) não coincidiram com os períodos de acentuada insuficiência cardíaca, uma vez que essa já se achava em plena regressão quando aquelas foram registradas. Fig. 6 - Precordiais altas na paciente M. J. M. R. no 2 º espaço intercostal, evidenciando-se, em 24-6-1948 (A), nível de V , deflexão negativa inicial e 5 inversão de T, tendo-se positivado, em 5-7-1948 (B), as ondas T e reduzindo a deflexão negativa em V . 5 Êsse caso é bem ilustrativo do tipo de cardiopatia que pode sobrevir na toxemia da gravidez, instalando-se após o parto e evoluindo, em pouco tempo, para uma grave descompensação cardíaca. Possìvelmente, muitos casos do tipo ainda mal individualizado da chamada “cardiopatia post partum” 15 estariam na dependência de fatôres dessa natureza. Nessa última cardiopatia, contudo, o aparecimento da insuficiência cardíaca é mais tardio (2 a 6 semanas após o parto), as anomalias eletrocardiográficas não são evolutivas, são freqüentes os fenômenos embólicos, é refratária às medidas terapêuticas habituais, e tem evolução prolongada, embora o prognóstico possa ser favorável. Quanto à possibilidade de um infarto do miocárdio, que as alterações eletrocardiográficas poderiam fazer suspeitar, a idade da paciente, a falta de manifestações dolorosas características e a regressão rápida daquelas alterações permitem afastar essa condição. Em alguns casos em que foi possível o exame necroscópico 10, 12, 15b as coronárias foram encontradas normais e não obstruídas, revelando o exame histopatológico do miocárdio, necrose focal e edema ou infiltração celular, tendo-se atribuído a essas lesões as alteracões eletrocardiográficas encontradas 11a . Como a glomerulonefrite aguda pode apresentar alterações eletrocardiográficas idênticas às descritas e manifestações de insuficiên- 410 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA cia ventricular esquerda, deve-se levá-la em consideração no diagnóstico diferencial. A ausência de hematúria acentuada, a integridade da função renal e própria evolução do processo que não se cronifica, auxiliam essa distinção. Caso 4 - E. A. B., com 31 anos de idade, parda, registro 26.345. Primípara, foi internada na Maternidade do H. S. E. em 9-2-1949, no 7º mês de gestação, com o diagnóstico de toxemia gravídica. Referia pirose e vômitos freqüentes nos 3 primeiros meses de gravidez, e que, há 15 dias, começaram a surgir edemas nos membros inferiores e também na face e braços, porém menos acentuados. Há 4 dias atrás, apareceu cefaléia frontal intensa, tem sido internada 2 dias após quando ocorreu a primeira crise convulsiva, que se repetiu 3 vêzes no mesmo dia. Fêz, então, medicação à base de cloral o sôro glicosado hipertônico, apresentando melhoras objetivas e subjetivas. No dia 11-2-1949 constatamos, ao exame, cifras tensionais elevadas (190-120), pulso regular, 80 por minuto, aorta discretamente palpável na fúrcula e bulhas cardíacas normais com acentuação de A . Ruídos respiratórios normais. O 2 eletrocardiograma feito nesse dia revelou inversão da onda T em Fig. 7 - E. A. B.,31 anos (reg. 26.345) internada em toxemia gravídica. Traçados feitos antes (A) e depois (B) do parto prematuro, não apresentando alterações que permitissem suspeitar comprometimento miocárdico. Em 11-2-1949, observam-se ondas em V e V bifásica em V 3, persistindo a inversão apenas 1 2 em V no traçado posterior. 1 APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 411 V e V bifásica em V . (fig. 7-A). Albuminúria de 7 g. por mil. Aumento 1 2 3 moderado do diâmetro transverso do coração ao exame radiológico, com trama vascular acentuada em ambas as bases (fig. 8). Ao exame de fundo de ôlho: constrição arteriolar generalizada com alguns espasmos localizados e edema de retina; a papila era normal. No dia seguinte, a paciente deu à luz um feto morto, por parto espontâneo, após o qual as, melhoras se acentuaram ainda mais, os edemas desapareceram e a. pressão arterial normalizou-se com o decorrer do puerpério. Novos eletrocardiogramas realizados logo Fig. 8 - Aumento moderado do diâmetro transverso do coração, com acentuação da trama vascular em ambas as bases. Radiografia no 7 º mês da gravidez da paciente E. A. B. após o parto (fig. 7-13) e com intervalo de dois e quatro dias mostraram onda T invertida sòmente em V , sem outras modificações. Com êsses elementos, 1 julgamos não haver comprometimento miocárdico nessa paciente. No 6º dia do puerpério, como as condições obstétricas e circulatórias fôssem satisfatórias, foi permitido que a mesma sentasse no leito. Ao tentar fazê-lo, foi acometida subitamente de opressão precordial, angústia e tosse, tornando-se extremamente pálida, instalando-se logo um quadro de colapso periférico seguido de morte dentro de 20 minutos, a despeito da terapêutica instituída. Com o diagnóstico de embolia pulmonar maciça e cor pulmonale agudo fatal, foi encaminhado o pedido de necropsia. Essa, realizada quatro horas após a morte pelo Prof. Penna de Azevedo, mostrou, ao exame macroscópico, grande dilatação das cavidades direitas do coração e endocardite fibrosa crônica da mitral, além de hiperemia do fígado e útero em involução. O exame dos cortes histológicos dos pulmões, em fragmentos múltiplos, mostrou numerosas células de tipo morfológico diferente no interior dos capilares interalveolares (fig. 9-A e B), enchendo totalmente a luz dos mesmos, e bloqueando a rêde capilar pulmonar. Tais células, por vêzes, chegam a fazer hérnia para fora 412 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA Fig. 9 - Cortes histológicos do pulmão, mostrando bloqueio da rede capilar pulmonar por células placentares que se apresentam, em A, volumosas pobres de citoplasmas, com um só núcleo de cromatina densa, e hipercromático. Em B, essas células se apresentam sob forma de uma massa sincicial, cujos núcleos são de aspecto vesiculoso e contendo pouca cromatina. do vaso; elas se apresentam ora sob a forma de células arredondadas isoladas volumosas, pobres de citoplasma, contendo um só um núcleo de cromatina densa, hipercromático e por vêzes contraído, desprovido de nucléolo, de volume variável (fig. 9-A) ; ora sob a forma de massa sincicial, cujos núcleos são de aspecto vesiculoso, mais pobres de cromatina (fig. 9-B). Essas células comprometem, de modo difuso, tôda a rêde capilar sangüínea dos pulmões e, pelas suas características gerais e particulares, comparam-se às células placentárias e reproduzem, no quadro histológico pulmonar, o aspecto conhe- APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 413 cido de embolia por células placentárias nos pulmões (êmbolos de Pels Leusden), de observação freqüente na intoxicação gravídica, principalmente na forma eclâmptica. Não foram vistos êmbolos de tal natureza no fígado e nos rins. No miocárdio encontraram-se, além de tais êmbolos, lesões que serão descritas em publicação à parte por Penna de Azevedo. Êsse caso, por conseguinte, mostra a possibilidade de uma toxemia gravídica determinar um quadro grave de embolia pulmonar, levando à morte em breve prazo. Essa eventualidade já tem sido assinalada na dependência de embolismo por líqüido amniótico 16 ou por trombose das veias dos membros inferiores; contudo, parece constituir eventualidade rara o cor pulmonale agudo condicionado por embolismo de células placentárias; embora essas células sejam com freqüência encontradas nos pulmões das pacientes que falecem com toxemia gravídica 17, não são em geral suficientemente numerosas para chegar a bloquear a rêde capilar pulmonar. No caso presente, dado o seu número excessivo, chegaram, inclusive, a franquear os capilares pulmonares e a se localizar em pleno tecido miocárdico, onde foram encontradas lesões que posteriormente serão descritas. Êsses últimos achados adquirem importância primordial, uma vez que não é de todo improvável que as alterações miocárdicas observadas na toxemia possam depender dessas lesões. RESUMO Uma breve revisão com atualização do problema clínico e etiopatogênico da toxemia gravídica foi feita pelos autores como introdução ao estudo das repercussões dêsse processo sôbre o aparêlho cardiovascular. Foi analisada a questão do desenvolvimento de uma doença hipertensiva permanente pós-toxêmica, hoje considerada por muitos como manifestação de doença vascular hipertensiva essencial. Particularmente, salientou-se o papel predisponente de uma hipertensão prévia sôbre o aparecimento das manifestações toxêmicas, agravando essas, por sua vez, aquêle processo hipertensivo. Em seguida, discutem o comprometimento cardíaco pròpriamente dito na toxemia, analisando o quadro clínico, as alterações eletrocardiográficas e histopatológicas que têm sido assinaladas nessa condição. Dentre 14 casos estudados de pacientes com toxemia gravídica, foram selecionados 4, cujas observações são apresentadas por manifestarem comprometimento cardiovascular. Dessas pacientes, em duas a toxemia incidiu em grávidas já prèviamente hipertensas (casos 1 e 2) e, nessas, pôde-se observar o aparecimento de sérias manifestações na dependência direta do processo toxêmico, além do agravamento das 414 ARQUIVOS BRASILEIROS DE CARDIOLOGIA cifras tensionais principalmente no caso 1. No caso 3 predominou a lesão miocárdica, que evoluiu em pouco tempo, após o parto, para uma grave descompensação cardíaca, verificando-se em menos de um mês regressão total do quadro clínico, radiológico e das alterações eletrocardiográficas. Por último, no caso 4, verificou-se a possibilidade de a toxemia determinar um quadro gravíssimo de cor pulmonale agudo condicionado por embolismo de células placentárias, as quais determinaram bloqueio da rêde capilar pulmonar, levando à morte em curto prazo. Essas células, dado o seu número excessivo, chegaram inclusive a franquear os capilares pulmonares, tendo sido encontradas em pleno tecido miocárdico. SUMMARY The modern concepts regarding the pathogenesis as well as certain clinical aspects of toxemia of pregnancy are briefly reviewed, as an introduction to the study of the effects of toxemia on the cardio-vascular system. The development of a permanent post-toxemic hypertensive disease considered by most authors as a manifestation -of essential hypertension is discussed. The role of a previous hypertensive state is emphasized, not only as predisposing to the appearance of pregnancy toxemia, but also acting as an aggravating factor. A detailed discussion is then presented of the evidences of cardiac involvement in toxemia of pregnancy, as shown by the clinical picture, the electrocardiographic changes and the pathologic findings in this condition. Fourteen instances of toxemia were studied with a selection of 4 cases showing cardiovascular changes, which are presented in detail. In two of these patients (cases 1 and 2) the toxemic manifestation; were superimposed on a pre-existing hypertension and determined serious symptoms in addition to further elevation of the blood pressure, particularly in case 1. Case 3 showed severe myocardial changes which led to a rapidly progressive, advanced state of heart failure in the immediate post-partal period. Complete recovery was observed in less than a month not only in the clinical picture but also in the electrocardiographic and radiologic features. Finally, the last case (n.º 4) illustrates the possibility of the appearance of a most severe type of acute cor pulmonale in the course of toxemia of pregnancy; the patient died of pulmonary embolism which at autopsy was shown to be due to massive obstruction of the pulmonary capillaries by placentary cells. Numerous cells of this type were forced through the pulmonary circulation and were found in myocardial tissue. APARELHO CARDIOVASCULAR NA TOXEMIA GRAVÍDICA 415 BIBLIOGRÁFIA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Dexter, L. e Weiss, S. - PRE-Eclamptic and eclamptic toxemia of pregnancy. Little Brown and Co., Boston, 1911. Goldblatt, H. - Discussion of paper by Erickson C. C. and Dill L. V. Observations on the effects of renal ischemia in pregnant dogs and rabbits. Am. J. Pathol., 15: 621, 1939. Fishberg, M. A. - Hypertension and nefritis, 4th Ed. Lea & Febiger, Filadélfia, 1939. a) Corbit, J. D. - The effect of pregnancy upon experimental hypertension in the rabbit. Am. J. 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