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RESENHA
OS PARADOXOS
SANDRA CÉLIA COELHO GOMES DA S. SERRA DE OLIVEIRA**
RESENHA
DO IMAGINÁRIO*
C
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astor Bartolomé Ruiz possui doutorado em Filosofia - Universidade de Deusto, Bilbao
(1999), Pós-Doutorado em Filosofia - Instituto de Filosofia do Consejo Superior de
Investigaciones Científicas da Espanha (CSIC, 2006). Mestrado em História - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, 1995). Pós-Graduação Latu Sensu em
História - Faculdades Ipiranga SP (FAI, 1992). Graduação em Filosofia - Faculdades
Ipiranga, SP (FAI, 1990). Graduação em Filosofia - Universidade de Comillas, Madri,
1984. Atualmente é Professor Titular no Programa de Pós-Graduação-Filosofia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Coordenador da Cátedra Unesco
de Direitos Humanos. Secretário da Associação Ibero Americana de Filosofia Política
(AIFP). Coordenador do Grupo de Pesquisa CNPq, “Ética, biopolítica e alteridade”.
Entre suas obras mais recentes estão:
• Justicia, estados de excepción y memoria: Por una justicia anamnética de las vícitmas. Bogotá: Universidad Rosario, 2011;
• Direito à justiça, memória e reparação: a condição humana nos estados de exceção.
São Leopoldo: Casa Leiria, 2010;
• Justiça e memória. Por uma crítica ética da violência. São Leopoldo: Ed. Unisinos,
2009;
• Os Paradoxos do Imaginário, São Leopoldo: Unisinos, 2003; dentre outras.
* Recebido em: 10.06.2012.
Aprovado em: 03.07.2012.
** Doutoranda no Programa em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.
Goiânia, v. 10, n.2, p. 355-357, jul./dez. 2012.
BARTOLOMÉ RUIZ, Castor. Os paradoxos do imaginário. São Leopoldo: Ed. da Unisinos, 2004.
Goiânia, v. 10, n.2, p. 355-357, jul./dez. 2012.
O livro Os Paradoxos do Imaginário é uma publicação com 263 páginas, bem
escritas e distribuídas em três capítulos. Para desenvolver a temática, o autor perpassa
pelo seguinte traço metodológico: no capítulo I situa o leitor, sobre o que é o imaginário, no capítulo II a implicação simbólica do imaginário e no terceiro e último capítulo
ele menciona o simbolismo e a Linguagem.
Ruiz aborda na sua introdução, que esse trabalho é resultado de um longo
processo de insatisfação com as posturas clássicas que buscam na racionalidade o segredo último da realidade, como também essa insatisfação não “se resolve com a diluição
da razão, com sua negação ou com o mero apelo a dimensões metarracionais ou simplesmente irracionais, como algumas posições pós-modernas defendem (p.13)”. Busca
mencionar que o ser humano é por natureza criativo e que seu grande desafio é recriar
a natureza a partir de si mesmo, no intuído de não procurar uma explicação racional
para a natureza e sim entender de modo criativo como convivemos com ela, “o mundo
adquire nossas feições na medida em que não permanece como algo determinado por
uma racionalidade natural” (p.14). Enfim o objetivo da obra é debater sobre “a racionalidade desde a perspectiva do imaginário e suas implicações simbólicas” (p.26).
No capítulo I, intitulado o Imaginário o autor faz “uma intromissão nos terrenos
da ontologia com o objetivo de debater as visões deterministas da pessoa e do mundo que
formularam a submissão racional do humano às verdades e determinações pré-estabelecidos” (p.14). Diante disso o imaginário “se remete a um sem fundo humano criador que
se expressa de modo simbológico. Um sem fundo humano que não se explica de modo
absoluto, já que se implica sempre de modo criativo em tudo que realiza” (p.15). Portanto:
O imaginário é a nossa sombra, companheira fiel dos nossos afazeres. Sombra inseparável
que projeta a imagem inapreensível do que somos. Está presente e é inatingível. Quando
tentamos abraçá-la, ela se transporta para além da nossa própria vontade. Assombra-nos
com sua maleabilidade e persistência (p. 81).
O imaginário origina-se na fratura humana, sendo um atalho – a psiqué, pois
é através do imaginário que se remete aos arquétipos, ou seja, se dá a partir das representações. Ele nos permite a religação e a reconstituição de sentido. No entanto a fissura
é real (desejo), já a sutura é simbólica. É através dele que construímos nossa identidade,
havendo uma determinação e indeterminação do real.
No segundo capítulo, que versa sobre a implicação simbólica do imaginário,
o autor faz um passeio pelos domínios do imaginário e do simbólico, ao encontro do
logos e da razão. “O imaginário e o simbólico habitam o submundo do incompreensível; para a razão eles estão locados no infra-humano, por isso foram catalogados como
instáveis e perturbadores” (p.15). Portanto o mito para se manifestar precisa do logos,
pois o homem é essencialmente mitológico e a racionalidade faz parte do mito. O imaginário ao mesmo tempo em que é controlado é controlador. “As diversas tentativas de
submetê-los ao domínio do logos ou de sufocá-lo sob o império da racionalidade frustraram-se” (p.15). No simbolismo está imbricado a racionalidade, ou seja, o imaginário
e o simbólico fora dessa racionalidade leva o indivíduo ao delírio e consequentemente
ao fanatismo. “A compreensão hermenêutica da linguagem sofre uma fecunda inseminação quando a vislumbramos atravessada da dimensão simbólica” (p. 15). Enfim o
símbolo comunica a partir do imaginário, na dimensão do real a representação epifânica do sentido é simbólica, ocasionando a fratura humana – as fissuras.
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Goiânia,v. 10, n.2, p. 355-357, jul./dez. 2012.
No terceiro e último capítulo intitulado “simbolismo e linguagem”, Ruiz inicia
destacando que “O imaginário e o simbolismo só pode existir na forma de linguagem.
Fora da linguagem só subsistem possibilidades criativas não realizadas” (p.191). Não existindo nada humano além da linguagem, “a representação produz o simbólico, uma característica intrinsecamente humana. Esta distinção representativa provocou a ruptura do
instinto animal para autoconsciência humana” (p.192). A linguagem é recriação simbólica. “O símbolo está enraizado no ser humano, raiz que perfaz sua identidade e caracteriza
sua exclusividade no seio da natureza. O simbolismo é criatura singular do humano, mas,
em contrapartida, o humano só se constitui como tal por meio de significação simbólica”
(p.199). A origem da linguagem está enraizada na fratura humana por meio da qual extravasa o poder recriador do imaginário (p.204). “A linguagem se origina na raiz simbólica do sujeito, mas não se reduz ao subjetivismo” (p.204). O autor menciona que não
poderia concluir sua reflexão sem citar a incidência concreta do logos no imaginário
humano, pois, “o símbolo o impregna com um sentido denso, e o logos estrutura e organiza os significados” (p. 215). A linguagem permanece vinculada a sua raiz simbólica.
Enfim, “[...] a Linguagem e sentido, forma e conteúdo, símbolo e o logos se urdem e implicam numa indistinção que só pode separar-se numa diferenciação artificial” (p.261).
Pela riqueza e profundidade dos assuntos abordados pelo autor recomendamos a sua leitura, para todos os estudiosos da temática, pois a mesma trará contribuições importantes para suas reflexões.
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