Seção ReSenha

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Seção Resenha
PAIN, Sara. Subjetividade e objetividade –
Relação entre Desejo e Conhecimento.
Petrópolis, Vozes, 2009.
Rita Abbati
“Em pedagogia, a ambição é um dever.”
Sara Pain
Ao fazer a declaração acima, a Doutora em Filosofia e Psicologia, Sara
Pain, fala sobre o amor à educação. É o que ela vem exercitando ao longo
de toda sua vida e de sua obra: o amor e o compromisso com a pedagogia.
Para quê ensinamos? Eis a pergunta instigante que tem direcionado
seus estudos.
Ensinar, diz ela, é exercer o desejo de reprodução na sua forma mais
radical, pois carente de inscrições instintivas. O ser humano só chega
à condição de humanidade através da aprendizagem e esta última não
pode ser entendida fora da dimensão do conhecimento.
Nesse ponto, Sara Pain, nos provoca um pouco mais ao dizer que
“todo conhecimento é o conhecimento do outro”.
Como professores, estamos (ao ensinar) diante de alunos que têm
de aprender porque é pelo aprender que se constituirão como sujeitos.
A aprendizagem é a condição de possibilidade para o “nascimento”
de um sujeito, uma vez que a assunção desse estatuto decorre da sua
“sujeição” ao conhecimento.
Esse processo de subjetivação implica dois sujeitos e um objeto:
aquele que aprende, o que ensina e o conhecimento.
Ensinar implica fazer do outro um ser humano, um “semelhante”
que precisa aprender a usar suas capacidades e potencial para produzir
e participar da cultura.
Por isso, “em pedagogia, a ambição é um dever” que temos para
com a humanidade. Foram “os outros” que nos acolheram na cultu-
PAIN, Sara. Subjetividade e objetividade –
Relação entre Desejo e Conhecimento. Petrópolis, Vozes, 2009.
ra, através do ensino que nos transmitiram, a fim de nos fazer seus
“semelhantes”.
Então se, em primeira instância, o ensino poderia (grosso modo)
ser entendido como transmissão de conhecimento, aquilo para o quê
Sara Paim nos chama a atenção na obra resenhada aqui é o papel da
relação entre desejo e conhecimento para que se possa, a partir de uma
objetividade, aceder ao conhecimento que extrapola em muito a mera
transmissão. O desejo de conhecimento se transmite numa relação de
amor ao conhecimento e ao outro: o conhecimento como ferramenta de
humanização e subjetivação; o outro como nosso potencial semelhante.
Para Sara Paim, na obra “Subjetividade e objetividade – relação
entre desejo e conhecimento”, duas perguntas norteiam a busca de
compreensão e explicitação dessa triangulação (aprendente, ensinante,
conhecimento):
Como concebemos esse ser humano que nos propomos educar?
Como concebemos o processo pelo qual o pensamento dele se apropria
do conhecimento transmitido?
Na reflexão da autora, a relação entre desejo e conhecimento se
constrói de forma dinâmica, plástica e simultânea entre as objetividades
e as subjetividades daquele que ensina e daquele que aprende. É essa
rede de laços tecida entre o desejo de ensinar, o amor ao conhecimento
e o desejo de aprender que constitui o pano de fundo do cenário dos
processos de aprendizagem. Por isso, a autora diz que cabe ao professor
criar um lugar próprio e possível para esse cenário.
Para isso, há que travar-se uma luta constante contra o que mais
obstaculiza esse processo: os preconceitos em relação à capacidade de
aprender dos alunos e a falta de paixão pelo conhecimento e pelo ensino
dos professores. Daí que a didática precise se basear também num conhecimento mais profundo do que faz do ser humano um ser humano.
Em “Subjetividade e objetividade – relação entre desejo e conhecimento”, Sara Pain vai dialogando com o leitor enquanto ensina quais esquemas de pensamento participam da construção das relações complexas
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entre o desejo e o conhecimento. Num quadro, na página 24, ela sintetiza
o vai e vem das relações que acontecem entre os três vértices do triângulo
da aprendizagem (aluno, conhecimento e professor). Mostra como a
grande responsabilidade do professor é incluir seus alunos no mundo
da cultura, das relações sociais e subjetivas e das realizações materiais
dos homens. E essa tarefa ela cumpre com maestria, desenvolvendo
suas reflexões que são complexas de uma maneira que desafia o leitor
a se questionar, criticar e assumir a autoria de suas próprias reflexões.
Sara ressalta a importância de o professor criar instrumentos que lhe
permitam observar os esquemas de pensamento a que seus alunos recorrem para aprender. Por isso, ela considera que a pouca oportunidade
para os alunos fazerem perguntas e proporem respostas e soluções nas
aulas é extremamente empobrecedora para os processos de ensino e
aprendizagem. Fazer perguntas, conforme Sara, é dispor-se a ir além,
criar, ousar, imaginar, subverter a ordem e, portanto, crescer e aprender.
A resposta “dada”, no mais das vezes, é o contrário disso: ela embrutece.
O foco do livro, como explicita seu título, é a relação entre a objetividade que instaura a realidade, nosso contexto, e a subjetividade que
se instaura na esfera do desejo. Para a autora, essas duas estruturas –
realidade e desejo -, junto com o corpo e o organismo, constituem as
quatro instâncias da aprendizagem.
Nas situações de aprendizagem, a construção do conhecimento ocorre
na trama tecida entre inconsciente e consciente, nos diz Sara Pain. E,
ainda segundo ela, tanto a estrutura objetiva, cognitiva, como a subjetiva
ou “dramática” que atuam permanentemente durante os atos de ensinar
e aprender, através de mecanismos, operações e categorias, na maioria
das vezes são imperceptíveis para nós ou simplesmente desconsideradas.
Enfim, o livro é uma preciosidade posta ao alcance das mãos de todo
professor, tratando da aprendizagem do ser humano enquanto sujeito,
em qualquer idade ou fase da vida.
A riqueza da obra reside precisamente na forma didática como Sara
Pain conseguiu sintetizar e formalizar conceitos complexos como,
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PAIN, Sara. Subjetividade e objetividade –
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por exemplo, pensamento, conhecimento e desejo. Aborda em profundidade temas que vão do pensamento consciente ao inconsciente,
utilizando como ferramentas teóricas os achados de Piaget e Freud às
quais acrescenta sempre a contribuição e os questionamentos pessoais
que a tornaram uma intelectual de respeito no cenário internacional.
Ler Sara é navegar nas águas da intertextualidade, fazendo novas
inferências, descobrindo sutilezas de pensamento, aceitando nossas
ignorâncias e recolocando tudo isso a serviço do ofício de ensinar, já
que, em última análise, o leitor visado pela autora é o professor que
questiona seu próprio fazer.
Rita Abbati
Professora e psicopedagoga com formação realizada em Buenos Aires.
Possui larga experiência, tanto em sala de aula, quanto no assessoramento e acompanhamento de alunos com dificuldades de aprendizagem.
Foi aluna de Sara Pain, realizando seu estágio em arte-terapia em Paris.
E-mail: [email protected]
Recebido em: 05/10/2009
Aceito em: 26/10/2009
ABBATI, rita. PAIN, Sara. Subjetividade e objetividade - Relação entre
Desejo e Conhecimento. Revista Educação e Cidadania. Porto Alegre,
ano 11, n. 11, p. 209-212, 2009.
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