Anamnese Considerações iniciais: A história clínica é um método que consiste em entrevistar o paciente sendo o relato deste o instrumento fundamental para chegar a um diagnóstico mais preciso. A história não é o simples registro de uma conversa e sim uma conversa dirigida pelo médico para a reconstituição dos fatos que possam estar relacionados com a doença atual e que podem dar pistas de possíveis diagnósticos. Ainda que a conversa seja dirigida pelo médico, este deve ouvir o paciente com cautela e atenção tomando cuidado para não ignorar informações de possível relevância, tentando sempre compreender o contexto onde se insere o paciente e registrando as expressões dele, porém, transpondo mentalmente aquilo que o paciente fala (termos leigos) para o universo científico. É sempre válido lembrar que o relacionamento saudável entre médico e paciente é essencial para uma boa história clínica, buscando sempre a confiança e a discrição que faz com que o paciente se sinta seguro para compartilhar informações muitas vezes íntimas, não só próprias, mas também do ambiente em que vive, assim, o médico deve despir-se de preconceitos e julgamentos. Pela grande importância da história clínica para o diagnóstico, é de fundamental importância que o médico reserve um bom tempo da consulta para esse fim e que anote de forma mais precisa e completa possível as informações que julgar necessário. É válido lembrar que o prontuário é um documento muito importante e será utilizado por outros profissionais para o cuidado do paciente, assim é importante que seja completo e confiável. Elementos da Anamnese Identificação: Inclui os dados do paciente como nome, idade, sexo, profissão, estado civil, naturalidade, residência, religião e outros. Sua importância se dá para a identificação e conhecimento do paciente onde pode se inclusive observar fatores de risco para alguns agravos, por exemplo a própria idade indica possíveis agravos mais comuns a determinadas faixas etárias, condições de trabalho que deixam o paciente exposto a situações de perigo ou de degradação a longo prazo da saúde, pessoas que habitam em áreas de urbanização conturbada ou naturais de lugares com prevalência de algumas moléstias infecciosas e parasitárias. Queixa e duração: Deve-se colocar a principal queixa do paciente, aquilo que o fez procurar atendimento, aquilo que mais o incomoda e o tempo em que ele começou a observar ou se incomodar com tal situação. Deve-se tomar cuidado para não registrar mais de uma queixa (nesse caso deve eleger a de maior impacto para a vida do paciente) e de não aceitar diagnósticos prontos. Sempre é importante precisar ao máximo o tempo, em casos de confusão procure fazer com que o paciente associe algum acontecimento com a queixa (aniversário, casamento, etc). História da moléstia atual: Na HMA vai então se desenvolver a historia da queixa apresentada, com todos os outros detalhes, sintomas associados, situações específicas, dados de toda estirpe relacionados. Devem-se organizar as informações e conduzir a historia para uma seqüência cronológica e ou lógica tomando sempre cuidado para não “cortar” o paciente nem mostrar desprezo por aquilo que ele fala. Relatar sintomas: Ex.: Dor: características gerais (dor em pontada, queimação, facada, torção), quando e freqüência, local específico, irradiação, duração, resposta a medicamentos, motivos / posições de melhora ou piora, evolução, repercussão no diaa-dia, nota de intensidade (para dor), Sintomas relacionados (náusea, vômito, síncope, sudorese, tontura, dispnéia, dor, emagrecimento). Antecedentes Pessoais: Deve-se fazer um histórico de saúde do paciente colocando informações relevantes. São elas: - traumas e/ou cirurgias sofridas (datas, diagnósticos, complicações); - hospitalizações prévias por qualquer motivo relevante; - hipertensão Arterial (HAS), Diabetes Mellitus (DM), dislipidemias (TGs e hipercolesterolemia), tuberculose (TB) – obs. exames de rastreamento e periodicidade e DSTs; - medicamentos e tratamentos, que já usou / fez ou usa / faz; (verificar se o paciente está se medicando corretamente e se o remédio é acessível). - alergias ou intolerância medicamentosa ou alimentar de qualquer tipo; - imunizações: tétano, hepatite, rubéola, sarampo, influenza (idosos) e pneumococo – obs. renovação das doses em adultos a cada 10 anos!; - para pacientes do sexo feminino: história obstétrica (gestações, partos, abortos provocados ou naturais, menstruação, menopausa, menarca) e sobre anticoncepção (muitas mulheres não consideram pílula como medicamento) e mamografias (periodicidade). Hábitos e Vícios: Registra-se os hábitos como: alimentação, prática de esportes, alcoolismo, tabagismo ou uso de quaisquer outras drogas. Mais especificamente: - tabagismo (quantificar em maços/ano) ou fumante passivo; - etilismo (quantas doses por dia/quantos anos/tipo de bebida – diferenças entre concentrações alcoólicas); - tipo de atividade física e freqüência semanal - alimentação, obs. restrições a gorduras, açucares e sal, inclusão de fibras e frutas na dieta e distribuição no dia (qtas. refeições); - uso de drogas ilícitas (crack, cocaína, heroína e maconha e via de administração: inalatória / endovenosa); - relações sexuais (preferência, quantidade de parceiros e se fixo ou não, uso de preservativos) preferência sexual, sexo seguro (uso de preservativos SEMPRE), doenças sexualmente transmissíveis, transfusões (datas, reações, indicações); - padrão de sono (horas por dia, se acorda descansado). Procura-se identificar comportamentos que trazem prejuízo a saúde, que favorecem um mau prognóstico e comportamentos que podem ser adquiridos para auxiliar no tratamento. É natural que os pacientes neguem comportamentos não tão bem aceitos pela sociedade, daí a habilidade do profissional para garantir discrição nesses casos, perguntando de forma natural e quando a resposta for negativa sempre registrar como “paciente nega x coisa”. É onde podemos orientar mudanças do estilo de vida para promoção a saúde e perguntar se o paciente quer fazer isso e se prcisa de ajuda, é importante que não condenemos certas práticas do cotidiano e sim incentiválos a abandoná-las, é necessária certa paciência, pois a mudança no estilo de vida geralmente não é repentina e sim de forma gradual e continua. Antecedentes familiares: Deve-se fazer um histórico de saúde dos familiares. Importante saber a causa de morte dos pais, avós e avôs, irmãos e filhos incluindo a idade por ocasião da morte, doenças muito prevalentes na família, problemas genéticos. Ressaltar problemas cardiovasculares (HAS – hipertensão arterial sistêmica, IAM – infarto agudo do miocárdio, AVC – acidente vascular cerebral), doenças metabólicas (DM – diabetes mellitus), e neoplásicas (câncer diversos). História Social: Registra-se o ambiente familiar, de problemas financeiros e profissionais. Observar quem mora com o paciente e as relações entre eles, amigos, vizinhos. O paciente se sente satisfeito com sua situação atual? Verificar se o paciente tem alguma atividade de lazer, se é religioso praticante, etc. ISDA: Trata-se de um interrogatório orientado sobre os vários sistemas destacando sintomas e sinais dos agravos mais comuns para cada um deles. Buscando reunir sinais e sintomas desprezados pelos pacientes ou mesmo esquecidos por eles. Abaixo estão possíveis perguntas a serem feitas: - Geral: febre, alterações de peso, alteração no dinamismo -Cabeça e pescoço: cefaléia, tontura, alterações no pescoço como ‘’ínguas’’ Olhos: dor ocular, lacrimejamento, sensação de olho seco, problemas de visão. Ouvidos: dor, zumbido, vertigem,perda de acuidade Nariz: obstrução,espirros, corrimento Cavidade bucal: aftas,halitose, dor de garganta,tosse - Sistema Respiratório: dificuldade para respirar, falta de ar, chieira -Sistema Cardiovascular: dor no peito, palpitações, desmaio, alterações de sono -Sistema Digestório: diarréia,habito intestinal, dor -Sistema genitourinario: dor ao urinar, incontinência urinária, poliúria, cor e cheiro da urina -Sistema Nervoso: tontura vertigem convulsão dor na face perda de memória de sensibilidade -Sistema musculoesquelético: dores ao movimento, edemas,alteração de coloração. Deve-se finalizar a história clínica com a seguinte pergunta: Alguma queixa que gostaria ou esqueceu de falar?