Dissertacao André Lucas de O. Moreira - TEDE

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA
ANDRÉ LUCAS DE OLIVEIRA MOREIRA
AVIFAUNA DE UMA ÁREA URBANA NO NORDESTE
BRASILEIRO
FEIRA DE SANTANA – BAHIA
2013
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA – UEFS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOLOGIA
AVIFAUNA DE UMA ÁREA URBANA NO NORDESTE
BRASILEIRO
André Lucas de Oliveira Moreira
Dissertação apresentada ao Programa de Pósgraduação
em
Zoologia
da
Universidade
Estadual de Feira de Santana, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre
em Zoologia.
ORIENTADOR: PROF. DR. CAIO GRACO MACHADO
(UEFS)
FEIRA DE SANTANA – BAHIA 2013
A Deus, que está ao meu lado sempre com
amor incondicional.
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por estar ao meu lado durante
todos os momentos que passei no mestrado, da seleção à defesa. Sem Ele,
certamente, tudo seria diferente.
À pessoa que mais amo nesse mundo, minha querida e amada esposa,
Sheila Torres, pelo apoio incondicional antes e durante a realização deste
sonho, o mestrado. Sem você nada teria sentindo e certamente não seria
possível.
Aos meus amados pais pelo amor, dedicação, apoio, educação e pelo
incentivo que me conduziram até aqui.
Ao meu estimado e respeitado orientador, Dr. Caio Graco Machado, por
ter me conduzido com clareza, objetividade, respeito, confiança e incentivo.
À minha tia Gilvane pela torcida, apoio e incentivo de sempre,
sobretudo, nas horas mais difíceis.
À Dona Dôra, pelo carinho, preocupação e por ser uma segunda mãe
para mim.
Aos meus queridos e amados sobrinhos por compreender a minha
ausência e me perturbar nos momentos difíceis.
Ao meu parceiro, irmão e amigo Rodolfo Alves pela convivência
agradável em Feira de Santana e por compartilhar todos os bons e maus
momentos que vivencie desde a graduação ao final do mestrado. Que essa
bela amizade dure para sempre!
À minha querida e amada amiga capixaba Ana Tereza por tudo. Foram
tantas coisas que você fez por mim que não poderia descrevê-las aqui.
Agradeço a Deus por ter lhe colocado em minha vida. Você é uma pessoa
muito especial!
Aos meus amigos e familiares por entender a completa ausência nesses
últimos dois anos.
Aos amigos do laboratório Ornitologia / UEFS: Alan, Marcel, Fernando,
Aline, Danilo, Cyrio, Karol, Cris, Emília, Maurício, e Clézia pela convivência
agradável, amizade e parceria.
A todos os amigos contemporâneos do Programa de Mestrado em
Zoologia da UEFS, sobretudo à Dani, pela companhia, amizade e muitas
gargalhadas.
Ao curso de Campo em Ecologia e Conservação da Caatinga, a todos
os professores e alunos que me auxiliaram e contribuíram de forma significativa
para minha formação acadêmica.
Ao MSc. Marcelo Brito por ter me incentivado e apoiado desde a
graduação a trilhar esse caminho, o que sempre quis.
Ao estimado Dr. Bráulio Almeida por ter me encorajado incialmente na
busca do conhecimento promissor acerca de diversidade funcional e suas
ramificações.
Em especial ao amigo, Dr. Bruno Rosado, pelas valorosas discussões e
sugestões sobre a diversidade funcional, regras de montagem e etc.
Começamos o contato com conversas profissionais e felizmente esse contato
se tornou uma bela amizade.
Ao MSc. Fernando Sobral da UFG pela amizade que também se iniciou
com discussões sobre diversidade funcional e filogenética.
Ao
grande
Dr.
Paulo
Enrique
Cardoso
Peixoto
pela
enorme
disponibilidade e contribuição em minha formação, sobretudo com os temas
ecologia, análises de dados e redação científica.
Aos membros da banca, Dr. Alexandre Gabriel Franchin e Dr. Marcelo
Ferreira de Vasconcelos, por contribuírem com a lapidação deste estudo.
À UEFS, ao Laboratório de Ornitologia / UEFS e ao Programa de Pós
Graduação em Zoologia por ter me acolhido e fornecido a estrutura necessária
para realização deste trabalho.
À FAPESB pela concessão da bolsa que propiciou a aquisição de livros,
material e diárias em campo.
Sumário
Resumo .............................................................................................................. 9
Introdução ........................................................................................................ 11
Materiais e Métodos ......................................................................................... 14
Resultados ....................................................................................................... 23
Discussão ......................................................................................................... 35
Referências Bibliográficas ................................................................................ 41
Resumo
A urbanização é um processo responsável por distúrbios ambientais que
ocorrem em vários níveis, resultando em alterações dos padrões de
biodiversidade. Contudo, pouco se sabe sobre a resiliência, diversidade
funcional e o processo ecológico que estrutura as comunidades de aves em
ambientes urbanos. O presente estudo teve como objetivo investigar a riqueza
de espécies, a diversidade funcional, a resiliência e o processo ecológico que
determina a montagem das comunidades e definem os padrões de diversidade
de seis comunidades de aves em ambiente urbano. Este estudo foi
desenvolvido em seis áreas verdes com tamanhos diferentes e inseridas em
matriz urbana, no município de Aracaju, Sergipe, no nordeste do Brasil. A
densidade arbórea das áreas de estudo foram mensuradas através da
contagem de indivíduos com diâmetro maior que 50 mm para investigar sua
relação com a diversidade de aves. A riqueza, a composição e a frequência de
ocorrência das espécies foram investigadas, entre setembro de 2011 e julho de
2012, através do método Listas de Mackinnon, adaptado para 10 espécies. O
esforço amostral resultou em um total de 720 listas - 120 listas de cada área.
Foram observadas, no total, 82 espécies de aves, distribuídas em 36 famílias.
A riqueza de espécies de aves aumentou em função do aumento do tamanho
das áreas arborizadas. O aumento da densidade arbórea também esteve
associado ao aumento da riqueza de espécies de aves. Entretanto, a riqueza
funcional (FRic) diminuiu em função do aumento da riqueza de espécies. Este
estudo demonstra que as comunidades de aves mais ricas possuem espécies
com funções semelhantes, ou seja, são funcionalmente redundantes e mais
resilientes a distúrbios ambientais. Também é possível que a homogeneização
das comunidades de aves em ambientes urbanos ocorra através do processo
de filtragem de hábitat, que deve estruturar essas comunidades em escala
local. Os filtros ambientais devem favorecer a ocorrência de espécies com
determinadas características funcionais e podem limitar a ocorrência de
espécies com características distintas.
Palavras-chave: Avifauna, diversidade funcional, filtros ambientais, grupos
funcionais, redundância funcional, serviços ecológicos, urbanização.
9
Abstract
Urbanization is a process responsible for environmental disturbances
that occur at various levels, resulting in changing patterns of biodiversity.
However, little is known about the resistance, functional diversity and ecological
processes that structure communities of birds in urban environments. The
present study aimed to investigate the species richness, functional diversity,
resistance and ecological process that determines the assembly of communities
and define diversity patterns of six bird communities in urban environment. This
study was conducted in six different sizes with green areas and inserted into the
urban matrix, in the city of Aracaju, Sergipe, northeastern Brazil. The tree
density of the study areas were measured by counting the trees with a diameter
greater than 50 mm to investigate its relation to bird diversity. The richness,
composition and frequency of occurrence of the species were investigated
between September 2011 and July 2012, using the method lists Mackinnon,
adapted to 10 species. The sampling effort resulted in a total of 720 listings 120 lists each area. 82 species of birds were observed and divided into 36
families. The richness of bird species increased due to the increased size of
woodlands. The increase in tree density was also associated with increased
species richness of birds. However, the functional richness (Fric) decreased
with the increase in species richness. This study demonstrates that
communities have the richest bird species with similar functions. They are
functionally redundant and more resistant to environmental disturbances. It is
also possible that the homogenization of bird communities in urban
environments occurs through the filtering process of habitat that should
structure these communities on a local scale. The environmental filters should
favor the occurrence of species with certain functional characteristics and may
limit the occurrence of species with distinct characteristics.
Keywords: Avifaunal, functional diversity, environmental filters, functional
groups, functional redundancy, ecological services, urbanization.
10
Introdução
Cerca de 3% da superfície da Terra são ocupados por áreas urbanas
(Faeth et al. 2011). A urbanização é um processo cada vez mais intenso em
quase todas as regiões do globo. Este processo gera alterações nos ciclos
biogeoquímicos, no clima, nos padrões de uso e cobertura do solo, assim como
na dinâmica hidrológica (Grimm et al. 2008).
Em consequência dessas alterações ambientais provocadas pelo
processo de urbanização, os padrões da biodiversidade são modificados de
forma abrupta (Grimm et al. 2008), sendo estas modificações mais conhecidas
em regiões de clima temperado (Faeth et al. 2011). É possível que, em regiões
tropicais, estes padrões sejam diferentes (Bell 1986, Mckinney 2002).
Os padrões da biodiversidade sob a influência de ambientes urbanos,
embora bem estabelecidos, não são completamente compreendidos. Por
exemplo, sabe-se que a riqueza de espécies de plantas em ambientes urbanos
geralmente aumenta devido à introdução de espécies exóticas, mas, por outro
lado, a riqueza de espécies de animais nativos declina (Grimm et al. 2008).
Também o processo de urbanização pode gerar a homogeneização
taxonômica dos grupos de animais (McKinney 2006). Quanto às aves, a
riqueza de espécies tende a diminuir enquanto a abundância e biomassa das
espécies aumentam, além de haver alteração na composição específica
(Grimm et al. 2008, Faeth et al. 2011).
No entanto, há uma grande lacuna de conhecimento em relação à
influência da urbanização sobre a diversidade funcional das comunidades, que
está associada ao funcionamento do ecossistema. A substituição das espécies
que ocorriam em um determinado local por um novo conjunto de espécies
certamente deve alterar o funcionamento daquele ecossistema que sofreu essa
modificação (Loreau et al. 2001).
Alguns estudos demonstraram que a substituição de um conjunto de
espécies por outro pode alterar propriedades do ecossistema, como a
produtividade, a taxa de decomposição, a ciclagem de nutrientes, a resistência
e resiliência às perturbações ambientais (Loreau et al. 2001). Além de alterar
as propriedades do ecossistema, a substituição funcional de um conjunto de
11
espécies (p.ex., aves), pode modificar a resiliência aos distúrbios ambientais e
a taxa de prestação de serviços ecológicos, tais como a polinização, a
dispersão de sementes, a regulação da abundância de insetos e o controle de
pragas (Karp et al. 2011, Sekercioglu 2012). A resiliência das comunidades
biológicas e os fatores que a afetam em ambientes urbanos ainda são
desconhecidos. O termo resiliência tem sido definido como a capacidade de
retornar ao estado anterior à perturbação (Begon et al. 2007, Ricklefs 2010).
Ao contrário dos índices tradicionais de diversidade, os de diversidade
funcional consideram que cada espécie possui uma identidade e que essas
espécies possuem funções diferentes (Cianciaruso et al. 2009). A diversidade
funcional permite estimar as diferenças entre as espécies através de atributos
funcionais fenotípicos, como, por exemplo, aqueles relacionados à alimentação
das aves, tamanho do bico, tamanho do corpo e peso (Petchey et al. 2007,
Batalha et al. 2010, Devictor et al. 2010, Hidasi-Neto et al. 2012).
Ainda que sejam emergentes na Ecologia, o funcionamento dos
ecossistemas e a resiliência das comunidades são totalmente relacionados aos
índices tradicionais de biodiversidade (Karp et al. 2011), já que a diversidade
funcional está associada à riqueza de espécies da comunidade e a resiliência
às perturbações ambientais, relacionada à abundância, riqueza de espécies e
diversidade funcional (Karp et al. 2011).
Também estão associadas à riqueza de espécies e à diversidade
funcional as regras de montagem que estruturam as comunidades biológicas.
Estas são os processos ecológicos que determinam a montagem e estrutura
das comunidades e definem os padrões de diversidade no espaço e no tempo
(Sobral & Cianciaruso 2012). Os principais processos ecológicos que
estruturam as comunidades biológicas são a filtragem de hábitat e a exclusão
competitiva (Sobral & Cianciaruso 2012).
A filtragem de hábitat (ou filtros ambientais) atua na estruturação das
comunidades, selecionando espécies funcionalmente similares através da
seleção de atributos funcionais para ocupar nichos semelhantes (Pilar et al.
2009, Mouchet et al. 2010). Por outro lado, no processo de exclusão
competitiva ou similaridade limitante, o que estrutura as comunidades
biológicas é a competição entre as espécies co-ocorrentes (Mouchet et al.
12
2010), ou seja, só é possível a coexistência das espécies se elas possuírem
atributos funcionais distintos e baixa sobreposição de nicho (Sobral &
Cianciaruso 2012).
Conhecer as regras de montagem que estruturam a avifauna e entender
como a resiliência e a diversidade funcional das comunidades biológicas são
modificadas pela urbanização ajudará a entender, de forma mais apropriada,
como estes processos afetam a biodiversidade local e os seus processos
ecológicos. Além disso, será possível planejar metas mais adequadas para a
conservação das espécies em ambientes urbanos e priorizar a manutenção
funcional deste ecossistema.
Este estudo objetivou demonstrar que as comunidades de aves mais
ricas em ambiente urbano são as mais resilientes aos distúrbios ambientais e
que as comunidades de aves em ambientes urbanos podem ser estruturadas
através de filtros ambientais.
Ainda, os seguintes objetivos específicos foram estabelecidos:
 determinar a riqueza registrada das comunidades de aves em seis áreas
arborizadas de tamanhos diferentes na matriz urbana de Aracaju,
Sergipe e investigar sua relação com o tamanho da área e a densidade
arbórea;
 determinar a composição específica das seis comunidades de aves
estudadas;
 determinar a frequência de ocorrência das espécies de aves que
compõem as comunidades estudadas;
 classificar as espécies de aves registradas em grupos tróficos, em
estratos de forrageio e em níveis de sensibilidade a distúrbios
antrópicos;
 mensurar
a
riqueza
funcional
(diversidade
funcional)
das
seis
comunidades de aves estudadas e investigar sua relação com o
tamanho da área e a densidade arbórea.
13
Materiais e Métodos
Área de estudo: Este estudo foi desenvolvido na malha urbana de
Aracaju, a capital do estado de Sergipe, localizada sob o domínio do bioma
Mata Atlântica (Ministério do Meio Ambiente 2002). As comunidades de aves
que ocorrem neste bioma incluem algumas espécies com distribuição restrita e
mais especializadas ecologicamente. Esta tendência à especialização torna
estas espécies vulneráveis à descaracterização e perda do hábitat (Stotz et al.
1996).
Aracaju localiza-se no nordeste do Brasil (10°53'58"S, 37°4'25"O) e
ocupa
uma
área
de
174,53
km2.
Sua
população
é
estimada
em
aproximadamente 570.000 habitantes (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística 2010). O clima na região é quente e úmido, do tipo A’s, segundo a
classificação de Köppen e a temperatura média anual é 26ºC, com mínima de
24ºC e máxima de 31ºC. A precipitação média anual é 1.590 mm, sendo o
período chuvoso de março a agosto e o seco, de setembro a fevereiro. A
altitude média de Aracaju é de 5 m, com relevo plano (Rabelo et al. 2006).
Nessa região, a Mata Atlântica foi substituída por uma cidade planejada
e a vegetação da cidade encontra-se totalmente descaracterizada pela malha
urbana. As áreas arborizadas que subsistiram limitam-se a pequenas praças,
parques arborizados e um último remanescente florestal em estágio inicial de
regeneração.
As áreas de estudo foram selecionadas no centro da cidade e em suas
imediações para que a configuração ambiental não sofresse grandes
alterações (Figura 1, Tabela 1). Nas praças e um dos parques de Aracaju (das
quais fazem parte as áreas I a V deste estudo) foram registradas 73 espécies
arbóreas, sendo 58% exóticas e 42% nativas. As espécies predominantes são
Pithecellobium dulce (mata-fome), Licania tomentosa (oiti), Clitoria fairchildiana
(sombra-de-vaca), Teminalia catappa (amendoeira), Roystonea regia (palmeira
imperial), Ficus benjamina (Ficus) e Tamarindus indica (tamarindo) (Souza
2009).
A área VI é uma Área de Proteção Ambiental onde se localiza o último
remanescente florestal da cidade. Porém, assim como nas outras áreas deste
14
estudo, há um grande número de espécies de árvores exóticas, além de
ocupação irregular e desmatamento. Esta área é composta por vários
ambientes, como floresta mesófila decídua, floresta mesófila semidecídua e
enclaves de cerrado que correspondem a 32,64% de sua área. Nestes
ambientes há o predomínio de Syagrus Coronata (ouricuri), Tapirira guianenses
(pau pombo), Apeiba tibourbou (pau de jangada), Cecropia Pachistachia
(umbaúba) e Cupania revoluta (cabotã). Na composição da área VI há também
cerrado arbustivo ocupando 11,28% da APA com o predomínio das espécies
Curatella americana (sambaiba), Anacardium ocidentalle (cajueiro) Hirtella
racemosa (azeitona da mata), Casearia sylvestris (camarão) e Vismia
guianensis (lacre). O restante da área VI é ocupada por pastagens, pomares e
lagoas sendo uma delas artificial (Chagas 2009).
Figura 1: Localização das áreas de estudo no município de Aracaju, Sergipe, Brasil. Área I:
Praça Assis Chateaubriand; Área II: Praça da Imprensa; Área III: Praça Camerino; Área IV:
Praça da Bandeira; Área V: Parque Teófilo Dantas; Área VI: Área de Proteção Ambiental Morro
do Urubu.
15
Tabela 1: Características das áreas arborizadas investigadas pelo presente estudo entre 2011
e 2012 em Aracaju, Sergipe, Brasil. A densidade arbórea foi mensurada através de parcelas de
5 m2, enquanto que a riqueza arbórea foi determinada por Souza (2009). Área I: Praça Assis
Chateaubriand; Área II: Praça da Imprensa; Área III: Praça Camerino; Área IV: Praça da
Bandeira; Área V: Parque Teófilo Dantas; Área VI: Área de Proteção Ambiental Morro do
Urubu.
Áreas de
Tamanho da
Densidade
Riqueza
estudo
área (m2)
arbórea (5 m2)
arbóera
Coordenadas geográficas
Área I
1.209
0,66 ± 0,51
3
10º 55' 33'' / 37º 03' 19''
Área II
3.644
0,71 ± 0,75
8
10º 55' 44'' / 37º 03' 03''
Área III
11.842
0,70 ± 0,48
17
10º 55' 02'' / 37º 02' 53''
Área IV
13.445
0,60 ± 0,51
10
10º 55' 04'' / 37º 03' 23''
Área V
29.506
1,40 ± 0,96
33
10º 54' 46'' / 37º 03' 03''
Área VI
2.800.000
2,13 ± 2,72
-
10º 52' 37'' / 37º 03' 17''
Coleta de dados: Para investigar a riqueza, a composição e a
frequência
da
avifauna
das
áreas
estudadas
foram
realizadas
seis
amostragens de, em média, dois dias para cada área, sendo três realizadas no
período seco, nos meses setembro, outubro e dezembro de 2011, e as demais
no período chuvoso, de maio a julho de 2012.
As amostragens ocorreram do nascer do sol, por volta das 04 h e 20
min, às 11 h. Para estimar a riqueza, composição e frequência de ocorrência
das espécies de aves que compõem a avifauna destas áreas, foi utilizado o
método das listas de Mackinnon (Mackinnon & Philips 1993) adaptado para
listas de 10 espécies. Em cada expedição, 20 listas de 10 espécies eram
registradas por área (Ribon 2010, MacLeod et al. 2011). Ao todo, o esforço
amostral resultou em 720 listas - 120 listas em cada área.
O registro das aves observadas e/ou ouvidas foi feito com o auxílio de
binóculos (8x42 ou 10x40), gravador digital Tascam Dr 07 Mk III e máquina
fotográfica Canon Sx 40hs. A identificação das espécies ocorreu com o auxílio
de guias de campo (van Perlo 2009, Sigrist 2009); em alguns casos, a
identificação acústica foi feita por comparação com arquivos sonoros de aves
(Xenocanto 2012). A classificação e a nomenclatura das espécies de aves
seguiram as recomendações do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos
(2011).
16
As aves registradas foram classificadas em grupos tróficos, e para isso
considerou-se informações obtidas a partir da literatura, (Motta-Júnior 1990,
Sick 1997, Anjos 1998, Franchin et al. 2004, Scherer et al. 2005, Telino-Júnior
et al. 2005, Telles & Dias 2010, Catian et al. 2011) assim como as observações
de campo.
Os grupos tróficos considerados foram: carnívoro (CA), atribuído às
espécies que se alimentam de vertebrados com exceção de peixes; granívoro
(GR), às espécies que se alimentam principalmente de sementes; frugívoro
(FR), às espécies que se alimentam principalmente de frutas; insetívoro (IN), às
espécies que se alimentam principalmente de invertebrados, aranhas e insetos;
detritívoro (DE), às espécies que se alimentam principalmente de matéria
orgânica em decomposição; nectarívoro (NE), às espécies que se alimentam
de néctar; onívoro (ON), às espécies que possuem uma grande variedade de
alimentos e piscívoro (PI), às espécies que se alimentam principalmente de
peixes.
Do mesmo modo, ocorreu a classificação das espécies de acordo com o
nível de sensibilidade a distúrbios antrópicos: alta (AL), média (ME) e baixa
(BA) (Parker III et al. 1996). As espécies de aves também foram classificadas
de acordo com o estrato de forrageio, que se deu por registros na literatura:
aquático (AQ); terrestre (TE); aéreo (AE); dossel (DO); médio (MD); subbosque (SU) (Parker III et al. 1996).
A densidade arbórea das áreas de estudo foi mensurada com o objetivo
de investigar se está relacionada à riqueza de espécies e à diversidade
funcional das aves. Árvores com diâmetro a altura do peito (DAP) maior que 50
mm foram contadas em parcelas de 5 m 2 marcadas nas seis áreas de estudo
(Floyd & Anderson 1987). O número de parcelas variou entre seis e 30, de
acordo com o tamanho das áreas.
Nas análises de diversidade funcional foram considerados vários
atributos funcionais das aves relacionados ao tipo e à quantidade de alimento e
onde capturam o alimento (Tabela 2), além da frequência de ocorrência. Desta
forma, utilizou-se, para cada espécie registrada, o comprimento do bico
(cúlmen), o tamanho do corpo, do tarso, o peso, grupos tróficos e o estrato de
17
forrageio com distribuição multinomial (Petchey et al. 2007, Batalha et al. 2010,
Devictor et al. 2010, Hidasi-Neto et al. 2012).
As informações sobre tamanho do bico e do tarso foram coletadas a
partir de espécimes depositados na coleção da Divisão de Aves do Museu de
Zoologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (MZFS), através de
paquímetro e com base na literatura (Lima 2006), enquanto os dados
referentes ao peso e ao tamanho das espécies de aves foram consultados em
referências bibliográficas (Sick 1997, Lima 2006, van Perlo 2009, Sigrist 2009).
Em relação às medidas morfométricas, a média foi estimada quando houve
acesso a mais de um indivíduo de determinada espécie.
Análise de dados: A frequência de ocorrência das espécies (FO) foi
calculada através da equação FO = n x 100/N, onde n corresponde ao número
de vezes que determinada espécie ocorreu nas listas de 10 espécies e N
corresponde ao total de listas produzidas (Ribon 2010).
Para analisar a similaridade das comunidades de aves estudadas foi
utilizado o escalonamento multidimensional não-métrico (nMDS) (Borcard et al.
2011). Nesta análise foram consideradas as espécies que compõem as seis
comunidades estudadas e o número de listas em que as espécies ocorreram.
Os dados das variáveis foram padronizados de modo que as médias fossem
iguais a zero e as variâncias iguais a um. A medida de dissimilaridade utilizada
na análise foi a distância euclidiana por se tratar de dados quantitativos
(Borcard et al. 2011).
Ainda em relação à similaridade das comunidades de aves, a
diversidade beta de Whittaker (βW) foi calculada entre as áreas de estudo
(Whittaker 1960). O índice βW foi escolhido porque é um dos mais simples e
eficientes índices de diversidade beta (Magurran 2004). A diversidade beta de
Whittaker total (βW total), calculada entre as comunidades de aves estudadas, foi
obtida pela riqueza total (Stotal) dividida pela riqueza média (Smédia) (βW
total
=
Stotal/Smédia). O valor máximo é alcançado quando as comunidades não
compartilham espécies. Caso isto ocorra, a βW total o valor máximo é o número
de comunidades investigadas. No caso deste estudo, o valor máximo seria
igual a seis.
18
A diversidade beta de Whittaker também foi calculada entre os pares de
comunidades estudadas (βW = Stotal/Smédia - 1). Neste caso, os possíveis valores
estão distribuídos entre zero e um, onde o valor mínimo (zero) significa
completa similaridade entre as comunidades, e o valor máximo (1) significa que
nenhuma espécie é compartilhada entre as comunidades estudadas (Magurran
2004).
Com o objetivo de analisar a relação entre a riqueza de aves sobre o
tamanho da área e a densidade de árvores foram utilizadas regressões lineares
e estas também foram utilizadas para investigar se as variáveis preditoras
riqueza de espécies de aves, tamanho da área e densidade de árvores contra a
riqueza funcional de aves (Mason et al. 2005, Schleuter et al. 2010).
A resiliência dos grupos tróficos foi estimada através da riqueza de
espécies que os compõem (Chillo et al. 2011, Karp et al. 2011), pois quanto
maior o número de espécies em determinado grupo trófico, maior é sua
diversidade de resposta a alterações ambientais, considerando que as
espécies reagem de modo diferente a estas alterações (Karp et al. 2011,
Sundstrom et al. 2012). Portanto, quanto maior a riqueza de espécies de um
determinado grupo trófico, menor a possibilidade do grupo de desaparecer
(Karp et al. 2011).
Enquanto que a resiliência das comunidades de aves foi estimada
através do índice de diversidade funcional, visto que a diversidade funcional é
uma importante medida de resiliência (Fischer et al. 2007, Chillo et al. 2011).
Para a análise e a estimativa da diversidade funcional das comunidades de
aves estudadas, utilizou-se o índice de riqueza funcional (FRic) (Villéger et al.
2008, Paivone & Bonsall 2011).
Algumas variáveis foram transformadas em log natural para que os prérequisitos dos testes fossem atendidos (Quinn & Keough 2002). Todas as
análises estatísticas foram processadas através do software Statistica (StatSoft
2011) e os índices de diversidade foram mensurados em programas diferentes:
as medidas de diversidade beta foram obtidas pelo programa PAST (Hammer
et al. 2011) e o índice de diversidade funcional (FRic) foi obtido pelo programa
FDiversity (Casanoves et al. 2011).
19
Tabela 2. Espécies e atributos funcionais utilizados para obter o índice de riqueza funcional (FRic). Dieta: IN - Insetívoro; CA – Carnívoro; FR – Frugívoro;
GR – Granívoro; DT – Detritívoro; NE – Nectarívoro; ON – Onívoro; PI – Piscívoro; AR – Aracnídeos; AT – Artrópodes; AV – Aves; RE – Répteis; MO Morcegos. Estrato de forrageio: AQ – Aquático; TE – Terrestre; AE – Aéreo; DO – Dossel; MD – Médio; SU - Sub-bosque.
Táxon
Peso (g)
Tamanho do
Corpo (mm)
Tamanho do bico
(mm)
Tamanho do tarso
(mm)
Dieta
Estrato de
forrageio
2800
760
54
70
ON
AQ
Cathartes aura (Linnaeus, 1758)
159
700
25
60
DT
TE/AE
Coragyps atratus (Bechstein, 1793)
1470
490
49
83,5
DT
TE/AE
325
365
26
52,8
CA/AV/RE/M
O
DO
Caracara plancus (Miller, 1777)
786
485
190
82,25
CA/DT/FR
TE
Milvago chimachima (Vieillot, 1816)
278
430
20
58
CA/DT/FR
TE/DO
Falco sparverius Linnaeus, 1758
90
240
13
34
IN/CA
TE/DO
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)
40
171
14,2
18
GR/ON
TE
Columbina squammata (Lesson, 1831)
57
209
13,9
18,55
GR
TE/MD
84
270
-
-
GR/FR
SU/DO
23,25
119
13,4
12,25
GR
MD/DO
84
357
32
32,5
IN/AR
TE/DO
114,5
365
25,9
40,8
IN/AR
TE
Anatinae
Cairina moschata (Linnaeus, 1758)
Cathartidae
Accipitridae
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
Falconidae
Columbidae
Psittacidae
Aratinga aurea (Gmelin, 1788)
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824)
Crotophaginae
Crotophaga ani Linnaeus, 1758
Guira guira (Gmelin, 1788)
Strigidae
20
Táxon
66
Tamanho do
Corpo (mm)
172
Tamanho do bico
(mm)
13,7
Tamanho do tarso
(mm)
24
CA/AV
Estrato de
forrageio
DO
13
135
9
9
IN
AE
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788)
8
137
25,7
6
NE/IN
SU/DO
Amazilia leucogaster (Gmelin, 1788)
-
100
20
-
NE/IN
SU/DO
38
238
12,2
7,2
PI
AQ
42
210
25
19,6
IN
DO
10
125
12,7
20
IN
SU/MD
Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823)
27
170
18,7
23,4
IN/AT
TE
Furnarius rufus (Gmelin, 1788)
48
190
20,7
31,3
IN/AT
TE
4
90
14,2
20,3
IN
SU/DO
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788)
Peso (g)
Dieta
Apodidae
Tachornis squamata (Cassin, 1853)
Trochilidae
Alcedinidae
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766)
Bucconidae
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788)
Thamnophilidae
Formicivora grisea (Boddaert, 1783)
Furnariidae
Rynchocyclidae
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766)
Tyrannidae
Camptostoma obsoletum (Temminck,
1824)
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822)
8
114,5
10,1
16,3
IN
DO
20
151,5
12
19,28
ON/IN
DO
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)
52
217
27,6
26,5
ON/IN
TE/MD
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819)
34
190
17
31
IN
TE
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766)
64
235
32,7
19,7
IN
DO
41,5
210
19,3
25,6
ON/IN
MD/DO
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819
32
197,5
22,7
17,1
IN
DO
Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766)
20
150
14
24
IN
TE
Myiozetetes similis (Spix, 1825)
21
Táxon
Peso (g)
Tamanho do
Corpo (mm)
Tamanho do bico
(mm)
Tamanho do tarso
(mm)
Dieta
Estrato de
forrageio
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789)
24
148
17,9
26,2
IN
MD/DO
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766)
16
136
13,8
19,2
IN/FR
DO
109
305
30,2
49,6
ON/FR/IN/G
R
DO
Vireonidae
Corvidae
Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821)
Hirundinidae
Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817)
-
120
6
-
IN
AE
13,25
130
7,45
10,35
IN
AE
10
118,5
15,8
17,35
ON/IN
TE/SU
5,9
115,5
12,4
17,93
IN
SU/DO
8
100
13
16
NE/IN
DO/TE/MD
Nemosia pileata (Boddaert, 1783)
14
131
15,5
21,7
ON
DO
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)
33
167,5
15,1
20
DO
Tangara palmarum (Wied, 1823)
35
175
13,4
21,45
Tangara cayana (Linnaeus, 1766)
18,5
138
13,9
19,2
ON/FR/AR/N
E
ON/FR/AR/N
E
ON/FR/AR/N
E
10
100,5
8,85
13,8
FR
DO
26
157
11
18,4
ON
TE/DO
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817)
Troglodytidae
Troglodytes musculus Naumann, 1823
Polioptilidae
Polioptila plumbea (Gmelin, 1788)
Coerebidae
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758)
Thraupidae
DO
SU/DO
Fringillidae
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)
Passeridae
Passer domesticus (Linnaeus, 1758)
22
Resultados
Foram registradas, no total, 82 espécies de aves, distribuídas em 36
famílias (Tabela 3). Entretanto, havia espécies que ocorreram de forma casual
nas áreas de estudo. Portanto, as espécies com frequência de ocorrência
inferior a 5% não foram consideradas, sendo excluídas das análises. A riqueza
de espécies de aves variou entre 13 e 40 espécies nas áreas de estudo
(Tabela 1). Dentre as espécies registradas, duas são exóticas, Passer
domesticus (Linnaeus 1758) e Columba livia Gmelin 1789, e uma é introduzida
Cairina moschata (Linnaeus, 1758). A primeira foi observada em todas as
áreas, a C. livia ocorreu apenas nas áreas maiores (Área V e Área VI) e a
última foi exclusiva da área VI.
As espécies mais frequentes nas áreas verdes de Aracaju foram:
Tangara sayaca (Linnaeus 1766), com 75% de frequência de ocorrência (FO);
Coereba flaveola (Linnaeus 1758), com FO = 73%, Pitangus sulphuratus
(Linnaeus 1766), com FO = 67%; Todirostrum cinereum (Linnaeus 1766), com
FO = 66% e Fluvicola nengeta (Linnaeus 1766), com FO = 57% de frequência
de ocorrência. As espécies com menor frequência de ocorrência foram:
Amazona aestiva (Linnaeus 1758), Chloroceryle americana (Gmelin 1788),
Icterus jamacaii (Gmelin 1788), Thamnophilus pelzelni Hellmayr 1924 e
Elanoides forficatus (Linnaeus 1758), com frequência de ocorrência de 0,83%
(Tabela 3).
Os grupos tróficos predominantes nas áreas investigadas foram os
insetívoros, com 19 espécies (43%), e onívoros, com 10 espécies (23%); os
grupos de carnívoros (9%) e granívoros (9%) possuíram quatro espécies de
aves, enquanto o grupo de nectarívoros (7%) apresentou apenas três espécies
de aves. No grupo de detritívoros (5%) houve duas espécies. Os grupos com
menor número de espécies foram os de frugívoros (2%) e de piscívoros (2%)
com apenas uma espécie de ave (Tabela 3, Figura 2).
A riqueza de insetívoros manteve-se constante em todas as áreas,
exceto na Área VI, com maior número de espécies (Figura 3). A riqueza de
onívoros variou pouco entre as áreas, assim como a de nectarívoros e de
carnívoros – este último grupo variou de três espécies (Área VI) a nenhuma
23
(Área II). A área onde ocorreu o maior número de espécies de granívoros
(quatro) foi área VI, sendo que uma delas é a exótica C. livia (Tabela 3).
Quanto à sensibilidade aos distúrbios humanos, foram registradas 42
espécies de aves com baixa sensibilidade e quatro espécies com média
sensibilidade. Nenhuma espécie com alta sensibilidade a distúrbios humanos
foi registrada. Todas as áreas estudadas apresentaram composição similar,
com muitas espécies de baixa sensibilidade e poucas espécies de média
sensibilidade (Figura 4). Na área I não foram registradas espécies de média
sensibilidade. Nas áreas II a V ocorreram apenas uma espécie de média
sensibilidade, Tangara cayana (Linnaeus 1766), enquanto que na área VI
foram registradas quatro espécies de média sensibilidade: Aratinga aurea
(Gmelin 1788), Cyanocorax cyanopogon (Wied 1821), Nystalus maculatus
(Gmelin 1788) e T. cayana.
Houve relação positiva entre a riqueza de espécies de aves e o tamanho
das áreas arborizadas (Figura 5) (F(1,4) = 100,06; p < 0,001; r² = 0,95). O
mesmo também ocorreu quanto à riqueza e a densidade de árvores (Figura 6)
(F(1,4) = 38,82; p < 0,01; r²= 0,88).
A análise de escalonamento multidimensional não-métrico (Stress =
0,000000) revelou a dissimilaridade entre as áreas estudadas com base na
composição e frequência das espécies de aves (Figura 7). As áreas com área
de até 13.445 m2I, II, III e IV, possuíram alta similaridade, enquanto que as
áreas maiores, V e VI, foram mais dissimilares entre si e entre as demais
áreas.
Ainda em relação ao grau de similaridade das áreas estudadas, o índice
de diversidade beta total calculado para todas as áreas estudadas foi de 1,23.
A média dos índices de diversidade entre os pares de áreas estudadas foi de
0,27 ± 0,15. A diversidade beta máxima ocorreu entre Área VI e Área I (βW =
0,54) e o menor ocorreu entre área V e área II (βW = 0,11) (Tabela 4).
O índice de riqueza funcional (FRic) variou entre 251,5810818 e 1x10-9.
A relação linear entre a riqueza de espécies de aves e a riqueza funcional das
comunidades de aves (FRic) foi negativa, demonstrando convergência
funcional (Figura 8) (F(1,4) = 50,94 p < 0,01; r²= 0,90). O FRic também esteve
relacionado ao tamanho da área arborizada. Menores valores de FRic
24
estiveram associados a áreas de tamanhos maiores, enquanto os maiores
valores de FRic foram associados a áreas de tamanhos pequenos (Figura 9)
(F(1,4) = 68,27 p < 0,01; r²= 0,93). Ainda, também ocorreu uma relação negativa
entre FRic e a densidade de árvores. O aumento da densidade de árvores
esteve relacionado à redução da riqueza funcional (Figura 10) (F(1,4) = 17,65; p
= 0,01; r²= 0,76).
Número de espécies de aves
20
15
10
5
Piscívoro
Frugívoro
Necrófago
Nectarívoro
Granívoro
Carnívoro
Onívoro
Insetívoro
0
Grupos tróficos
Figura 2: Distribuição das espécies de aves quanto aos grupos tróficos em seis áreas
arborizadas da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil, de 2011 a 2012.
25
Número de espécies por grupo trófico
40
insetívoro
onívoro
nectarívoro
carnívoro
granívoro
detritívoro
frugívoro
piscívoro
30
20
10
0
Área VI
Área V
Área IV
Área III
Àrea II
Área I
Áreas de estudo
Figura 3: Distribuição das espécies de aves em grupos tróficos nas seis áreas de estudo
localizadas em Aracaju, Sergipe, Brasil. Os dados foram obtidos entre 2011 e 2012. Área I:
Praça Assis Chateaubriand; Área II: Praça da Imprensa; Área III: Praça Camerino; Área IV:
Praça da Bandeira; Área V: Parque Teófilo Dantas; Área VI: Área de proteção ambiental Morro
do Urubu.
40
Número de espécies de aves
Baixa sensitividade
Média sensitividade
30
20
10
0
Área VI
Área V
Área IV
Área III
Área II
Área I
Áreas de estudo
Figura 4: Distribuição das espécies de aves quanto à sensibilidade a distúrbios antrópicos em
seis áreas arborizadas da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil. Os dados foram coletados
entre 2011 e 2012. Área I: Praça Assis Chateaubriand; Área II: Praça da Imprensa; Área III:
Praça Camerino; Área IV: Praça da Bandeira; Área V: Parque Teófilo Dantas; Área VI: Área de
proteção ambiental Morro do Urubu.
26
3.8
Y=- 26,56+11,2409xX
Log (Riqueza de aves )
3.6
3.4
3.2
3.0
2.8
2.6
2.4
6
8
10
12
14
16
Log (tamanho da área área arborizada (m 2)
Figura 5: Relação entre a riqueza de espécies de aves e o tamanho da área arborizada. Os
dados foram coletados entre 2011 e 2012 em seis áreas arborizadas localizadas na área
central da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil.
Log (Riqueza de espécies de aves)
3.8
Y=2,2054+0,6934xX
3.6
3.4
3.2
3.0
2.8
2.6
2.4
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0
2.2
Densidade de arvores
Figura 6: Relação entre a riqueza de espécies de aves e a densidade de arbórea, os dados
foram coletados entre 2011 e 2012 em seis áreas arborizadas localizadas na área central da
matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil.
27
1.6
Área V
1.4
1.2
1.0
Dimensão 2
0.8
0.6
0.4
Área VI
0.2
0.0
Área II
Área III
Área IV
-0.2
-0.4
Área I
-0.6
-0.8
-0.8
-0.6
-0.4
-0.2
0.0
0.2
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
Dimensão 1
Figura 7: Distância entre as áreas de estudo com base na frequência de ocorrência das
espécies de aves. Os dados foram coletados entre 2011 e 2012 em seis áreas arborizadas
localizadas na área central da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil. Área I: Praça
AssisChateaubriand; Área II: Praça da Imprensa; Área III: Praça Camerino; Área IV: Praça da
Bandeira; Área V: Parque Teófilo Dantas; Área VI: Área de proteção ambiental Morro do Urubu.
10
Y=12,1403-0,8386xX
ln(Riqueza funcional, FRic)
5
0
-5
-10
-15
-20
-25
10
15
20
25
30
35
40
45
Riqueza de espécies de aves
Figura 8: Relação entre a riqueza funcional (FRic) e a riqueza de espécies de aves em seis
áreas arborizadas localizadas na área central da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil. Os
dados foram coletados entre 2011 e 2012.
28
10
Y=27,2552-3,2109xX
ln(Riqueza funcional, FRic)
5
0
-5
-10
-15
-20
-25
6
8
10
12
14
16
ln(tamanho da área)
Figura 9: Relação entre a riqueza funcional (FRic) e o tamanho da área verde em seis áreas
arborizadas localizadas na área central da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil. Os dados
foram coletados entre 2011 e 2012.
10
Y=9,8973-14,2329xX
ln(riqueza funcional, FRic)
5
0
-5
-10
-15
-20
-25
0.4
0.6
0.8
1.0
1.2
1.4
1.6
1.8
2.0
2.2
ln(densidade arbórea)
Figura 10: Relação entre a riqueza funcional (FRic) e a densidade arbórea de seis áreas
arborizadas localizadas na área central da matriz urbana de Aracaju, Sergipe, Brasil. Os dados
foram coletados entre 2011 e 2012.
29
Tabela 3: Espécies de aves registradas e suas respectivas frequências de ocorrência em seis áreas arborizadas da matriz urbana de Aracaju, Sergipe,
Brasil, entre os anos de 2011 e 2012. Áreas de estudo: Área I - Praça Assis Chateaubriand; Área II - Praça da Imprensa; Área III - Praça Camerino; Área IV Praça da Bandeira; Área V - Parque Teófilo Dantas; Área VI - Área de proteção ambiental Morro do Urubu. Grupo trófico: IN - Insetívoro; CA – Carnívoro; FR
– Frugívoro; GR – Granívoro; DT – Detritívoro; NE – Nectarívoro; ON – Onívoro; PI – Piscívoro. Sensibilidade a distúrbios antrópicos: BA – Baixa; ME –
Média; AL – Alta. Estrato de forrageio: AQ – Aquático; TE – Terrestre; AE – Aéreo; DO – Dossel; MD – Médio; SU - Sub-bosque. A classificação e a
nomenclatura das espécies de aves seguiram as recomendações do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2011).
Áreas de estudo
Táxon
ANSERIFORMES
Anatidae
Cairina moschata (Linnaeus, 1758)
PELECANIFORMES
Ardeidae
Butorides striata (Linnaeus, 1758)
Ardea alba Linnaeus, 1758
Egretta thula (Molina, 1782)
Egretta caerulea (Linnaeus, 1758)
CATHARTIFORMES
Cathartidae
Cathartes aura (Linnaeus, 1758)
Cathartes burrovianus Cassin, 1845
Coragyps atratus (Bechstein, 1793)
Accipitridae
Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758)
Elanus leucurus (Vieillot, 1818)
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
FALCONIFORMES
Sensibilidade
a distúrbios
antrópicos
Estrato de
Forrageio
Área I
Área II
Área III
Área IV
Área V
Área VI
Grupo
trófico
-
-
-
-
-
6.67%
ON
BA
AQ
-
-
-
-
-
0.83%
0.83%
3.33%
1.67%
PI
PI
PI
PI
BA
BA
BA
ME
TE, AQ
TE, AQ
TE, AQ
TE, AQ
-
-
2.50%
-
1.67%
9.00%
3.33%
31.67%
DT
DT
DT
BA
ME
BA
TE, AE
TE, AE
TE, AE
19.17%
0.83%
9.17%
29.17%
20.00%
0.83%
1.67%
20.83%
IN
IN
CA
ME
BA
BA
DO, AE
DO, AE
DO
30
Áreas de estudo
Táxon
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777)
Milvago chimachima (Vieillot, 1816)
Falco sparverius Linnaeus, 1758
GRUIFORMES
Rallidae
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776)
CHARADRIIFORMES
Charadriidae
Vanellus chilensis (Molina, 1782)
COLUMBIFORMES
Columbidae
Columbina passerina (Linnaeus, 1758)
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)
Columbina squammata (Lesson, 1831)
Columba livia Gmelin, 1789
PSITTACIFORMES
Psittacidae
Aratinga aurea (Gmelin, 1788)
Forpus xanthopterygius (Spix, 1824)
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758)
CUCULIFORMES
Cuculidae
Crotophaga ani Linnaeus, 1758
Guira guira (Gmelin, 1788)
STRIGIFORMES
Strigidae
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788)
Sensibilidade
a distúrbios
antrópicos
Estrato de
Forrageio
Área I
Área II
Área III
Área IV
Área V
Área VI
Grupo
trófico
-
0.83%
0.83%
12.50%
0.83%
-
1.67%
0.83%
20.00%
5.83%
-
CA
CA
IN
BA
BA
BA
TE
TE, DO
TE, DO
-
-
-
-
-
3.33%
ON
AL
TE
-
-
-
-
-
2.50%
ON
BA
TE
48.33%
2.50%
0.83%
58.33%
-
65.00%
-
43.33%
-
61.67%
65.00%
38.33%
15.00%
1.67%
GR
GR
GR
GR
BA
BA
BA
BA
TE
TE
TE, ME
TE
-
-
-
-
-
32.50%
15.00%
0.83%
GR
GR
GR
ME
BA
ME
SU, DO
MD, DO
DO
-
-
-
-
-
17.50%
13.33%
IN
IN
BA
BA
TE, DO
TE
-
-
-
-
2.50%
2.50%
CA
BA
DO
31
Áreas de estudo
Táxon
APODIFORMES
Apodidae
Tachornis squamata (Cassin, 1853)
Trochilidae
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788)
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817)
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812)
Amazilia leucogaster (Gmelin, 1788)
CORACIIFORMES
Alcedinidae
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766)
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788)
GALBULIFORMES
Galbulidae
Galbula ruficauda Cuvier, 1816
Bucconidae
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788)
PICIFORMES
Picidae
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788)
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766)
PASSERIFORMES
Thamnophilidae
Formicivora grisea (Boddaert, 1783)
Thamnophilus pelzelni Hellmayr, 1924
Furnariidae
Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823)
Furnarius rufus (Gmelin, 1788)
Sensibilidade
a distúrbios
antrópicos
Estrato de
Forrageio
Área I
Área II
Área III
Área IV
Área V
Área VI
Grupo
trófico
-
-
2.50%
-
10.83%
-
IN
BA
AE
13.33%
-
21.67%
-
2.50%
-
2.50%
-
5.00%
-
4.17%
18.33%
4.17%
1.67%
10.83%
5.83%
1.67%
1.67%
10.00%
NE
NE
NE
NE
BA
BA
BA
BA
SU, DO
MD, DO
SU, DO
SU, DO
-
-
-
-
-
12.50%
0.83%
PI
PI
BA
BA
AQ
AQ, SU
-
-
-
2.50%
-
-
IN
BA
DO
-
-
-
-
-
10.00%
IN
ME
DO
-
-
-
-
-
4.17%
1.67%
IN
IN
BA
BA
DO
DO
-
-
-
-
-
23.33%
0.83%
IN
IN
BA
BA
SU, MD
SU
-
-
-
-
0.83%
-
10.00%
12.50%
IN
IN
BA
BA
TE
TE
32
Áreas de estudo
Táxon
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788)
Tityridae
Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818)
Rhynchocyclidae
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766)
Tyrannidae
Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824)
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822)
Capsiempis flaveola (Lichtenstein, 1823)
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789)
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819)
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766)
Myiozetetes similis (Spix, 1825)
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819
Empidonomus varius (Vieillot, 1818)
Sublegatus modestus (Wied, 1831)
Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766)
Vireonidae
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789)
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766)
Corvidae
Cyanocorax cyanopogon (Wied, 1821)
Hirundinidae
Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817)
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817)
Progne chalybea (Gmelin, 1789)
Troglodytidae
Sensibilidade
a distúrbios
antrópicos
ME
Estrato de
Forrageio
TE, SU
Área I
-
Área II
-
Área III
0.83%
Área IV
-
Área V
-
Área VI
-
Grupo
trófico
IN
-
-
-
-
-
4.17%
IN
BA
DO
71.67%
38.33%
96.67%
76.67%
55.83%
59.17%
IN
BA
SU, DO
50.83%
11.67%
66.67%
45.00%
80.00%
44.17%
5.00%
44.17%
55.83%
86.67%
0.83%
56.67%
50.00%
68.33%
0.83%
67.50%
1.67%
47.50%
43.33%
53.33%
79.17%
0.83%
1.67%
50.00%
52.50%
53.33%
8.33%
13.33%
0.83%
0.83%
70.83%
3.33%
30.83%
52.50%
57.50%
0.83%
0.83%
30.83%
IN
ON
IN
ON
ON
IN
IN
ON
IN
IN
IN
IN
BA
BA
BA
BA
BA
BA
BA
BA
BA
BA
ME
BA
DO
DO
DO
MD, DO
TE, MD
TE
DO
MD, DO
DO
DO
DO
TE
2.50%
-
42.50%
-
30.00%
-
35.00%
-
12.50%
-
62.50%
5.83%
IN
IN
BA
BA
MD, DO
DO
-
-
-
-
-
5.00%
ON
ME
DO
-
4.17%
0.83%
0.83%
5.83%
-
7.50%
-
11.67%
-
IN
IN
IN
BA
BA
BA
AE
AE
AE
33
Áreas de estudo
Táxon
Troglodytes musculus Naumann, 1823
Polioptilidae
Polioptila plumbea (Gmelin, 1788)
Turdidae
Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850
Mimidae
Mimus gilvus (Vieillot, 1807)
Coerebidae
Coereba flaveola (Linnaeu, 1758)
Thraupidae
Nemosia pileata (Boddaert, 1783)
Tachyphonus rufus (Boddaert, 1783)
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)
Tangara palmarum (Wied, 1823)
Tangara cayana (Linnaeus, 1766)
Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758)
Conirostrum bicolor (Vieillo, 1809)
Emberizidae
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766)
Icteridae
Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819)
Icterus jamacaii (Gmelin, 1788)
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789)
Fringillidae
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)
Estrildidae
Estrilda astrild (Linnaeus, 1758)
Passeridae
Passer domesticus (Linnaeus, 1758)
Sensibilidade
a distúrbios
antrópicos
BA
Estrato de
Forrageio
TE, SU
Área I
41.67%
Área II
20.00%
Área III
66.67%
Área IV
83.33%
Área V
6.67%
Área VI
46.67%
Grupo
trófico
IN
-
-
-
-
-
10.00%
IN
BA
SU, DO
-
-
-
-
-
1.67%
FR
BA
TE, SU
-
-
-
-
-
2.50%
ON
BA
DO
65.83%
80.83%
87.50%
90.00%
90.83%
25.83%
NE
BA
DO, TE, MD
64.17%
1.67%
0.00%
-
78.33%
8.33%
40.00%
-
83.33%
20.00%
11.67%
-
13.33%
81.67%
16.67%
15.00%
1.67%
1.67%
92.50%
78.33%
29.17%
-
6.67%
0.83%
49.17%
11.67%
34.17%
4.17%
0.00%
ON
FR
ON
ON
ON
GR
IN
BA
BA
BA
BA
ME
BA
DO
SU, DO
DO
DO
SU, DO
TE, SU
SU, DO
-
-
-
-
-
1.67%
GR
BA
TE, SU
-
-
-
-
-
0.83%
0.83%
3.33%
IN
IN
ON
ME
BA
BA
MD, DO
DO
TE
-
-
-
-
-
5.00%
FR
BA
DO
-
-
-
-
-
1.67%
GR
BA
TE
40.83%
47.50%
0.00%
45.83%
36.67%
22.50%
ON
BA
TE, DO
-
34
Tabela 4: Índices de diversidade Beta de Whittaker em seis áreas arborizadas de Aracaju,
Sergipe, Brasil. Os dados foram observados entre 2011 e 2012. Zero representa completa
similaridade entre as comunidades, enquanto o valor 1 correspondem a máxima diversidade
beta. Área I: Praça Assis Chateaubriand; Área II: Praça da Imprensa; Área III: Praça Camerino;
Área IV: Praça da Bandeira; Área V: Parque Teófilo Dantas; Área VI: Área de proteção
ambiental Morro do Urubu.
Áreas de
estudo
Área I
Área I
Área II
Área III
Área IV
Área V
Área VI
-
-
-
-
0,00
-
Área II
0,24
0,00
-
-
-
-
Área III
0,31
0,20
0,00
-
-
-
Área IV
0,26
0,16
0,16
0,00
-
-
Área V
0,21
0,11
0,23
0,14
0,00
-
Área VI
0,54
0,44
0,48
0,45
0,44
0,00
Discussão
A riqueza de espécies observada nas seis áreas do estudo corresponde
a aproximadamente 24% da avifauna listada em oito localidades do estado de
Sergipe (Sousa 2009). Entretanto, o número de espécies registrado é
considerado baixo para áreas de Mata Atlântica, pois esse bioma é conhecido
pela elevada riqueza biológica (Myers et al. 2000) que corresponde a 1020
espécies de aves (Marini e Garcia 2005). A baixa riqueza de espécies de aves
ocorre tipicamente em ambientes urbanizados e artificiais (Franz et al. 2010).
Embora a riqueza de aves observada seja baixa para este bioma, estudos
realizados em outras áreas urbanas sob domínio da Mata Atlântica registraram
riqueza de aves semelhantes (Matarazzo- Neuberger 1995, Krügel & Anjos
2000, Fuscaldi & Loures-Ribeiro 2008).
Observou-se que a riqueza de espécies da avifauna urbana está
associada ao tamanho da área verde imersa na matriz urbana, embora poucas
espécies de aves tenham sido observadas nas áreas de estudo. À medida que
o tamanho da área verde aumenta, a riqueza da avifauna também aumenta,
como o esperado pela teoria de biogeografia de ilhas (MacArthur & Wilson
1967, Braga et al. 2010). Da mesma forma, também a riqueza de aves
aumenta nas áreas verdes com maior densidade de árvores.
35
O aumento da riqueza de aves está associado ao aumento do tamanho
da área arborizada. Porém, a análise de escalonamento multidimensional nãométrico revelou que as menores áreas (áreas I a IV) foram altamente similares,
enquanto áreas maiores (áreas V e VI) permitiram que houvesse maior
rotatividade entre a composição de espécies das comunidades de aves.
O índice de diversidade beta (βW) também revelou que as comunidades
de aves estudadas são similares. Desta forma, é possível concluir que a adição
de espécies nas comunidades de aves em ambientes urbanos são pouco
complementares, corroborando o padrão de homogeneização da composição
da avifauna em ambientes urbanos (McKinney 2006, Grimm et al. 2008).
A homogeneização causada pela urbanização (Grimm et al. 2008)
também pode alterar a organização e a resiliência dos grupos tróficos, além de
reduzir os serviços ecológicos prestados pela avifauna. Os resultados deste
estudo demonstram que as aves insetívoras generalistas, reguladoras das
populações de insetos (Sundstrom et al. 2012), e as onívoras são beneficiadas
(de acordo com Scherer et al. 2005), em detrimento de espécies de outros
grupos tróficos, como frugívoros e nectarívoros.
Dentre os grupos tróficos registrados neste estudo, o insetívoro,
composto por espécies de aves generalistas, foi o grupo com maior número de
espécies, seguidos pelos onívoros. Em ambientes tropicais antropizados, os
insetívoros e onívoros são as espécies de aves mais beneficiadas (Anjos 1998,
Franchin et al. 2004, Téino-Júnior et al. 2005, Scherer et al. 2005, Catian et al.
2011), pois as espécies desses grupos apresentam flexibilidade de forrageio e
o seu alimento é disponível ao longo de todo o ano (Scherer et al. 2005).
Os granívoros foram representados por espécies de columbídeos que
ocorreram em todas as áreas de estudo e psitacídeos que ocorreram apenas
na área VI. O número de espécies de granívoros foi maior nas áreas V e VI.
Isto provavelmente ocorreu porque na área V havia oferta pelos seres humanos
de sementes como as utilizadas na alimentação de aves criadas em cativeiro, o
alpiste. Enquanto a área VI, deve possuir maior quantidade de recursos para os
granívoros em relação às outras áreas de estudo devido ao seu tamanho e
maior heterogeneidade de hábitats. A área VI, embora antropizada, é uma área
natural, enquanto que as demais áreas de estudo são áreas artificiais. Os
36
carnívoros, assim como os granívoros, também foram representados por quatro
espécies de aves.
Os grupos com menor número de espécies foram os dos detritívoros,
piscívoros, frugívoros e os dos nectarívoros. Quanto aos detritívoros, ocorreram
duas espécies de Cathartidae na área VI, onde repousavam e forrageavam.
Coragyps atratus (Bechstein 1793) foi a espécie mais frequente (FO = 31,7%),
enquanto que Cathartes aura (Linnaeus 1758) teve frequência de ocorrência de
9%. A ocorrência das espécies de detritívoros nas outras áreas de estudo foi
ocasional. Provavelmente os detritívoros não ocorrem em pequenas áreas
arborizadas da malha urbana pela falta de recursos alimentares. Também é
provável que não utilizem este hábitat porque há muitos riscos causados pelo
fluxo intenso de veículos e pessoas.
Houve uma pequena quantidade de espécies piscívoras em uma das
áreas de estudo (Área VI), embora as áreas investigadas por este estudo
estejam localizadas em uma cidade litorânea. Esse grupo ocorreu apenas na
área VI devido à maior complexidade do ambiente, onde há a presença de
corpos d’água que beneficiaram este grupo.
Os frugívoros e nectarívoros, embora sejam naturalmente representados
por um número pequeno de espécies quando comparado aos insetívoros
(Scherer et al. 2005), podem ter a resiliência mais prejudicada pela estrutura do
ambiente urbano, pois foram as categorias tróficas que apresentaram menor
número de espécies. A homogeneização taxonômica (McKinney 2006) e a
redução de nicho que ocorre no meio urbano deve ser a causa do reduzido
número de espécies que compõem esses grupos, pois maior parte das
espécies arbóreas que ocorrem nas áreas estudadas é exótica (Souza 2009).
A categoria trófica dos insetívoros, composta por espécies de ampla
ocorrência, foi a que apresentou maior número de espécies, seguida pela
categoria trófica dos onívoros. Em consequência da elevada riqueza estes
grupos são os mais resilientes. A possível extinção de uma espécie de
insetívoro ou de onívoro causaria redução da funcionalidade prestada pelo
grupo que sofreu extinção, porém esta redução não seria substancial. Neste
caso, a perda de função ecológica seria compensada por outras espécies do
mesmo grupo (Sundstrom et al. 2012).
37
Contudo, se a extinção de espécies ocorre em grupos tróficos menos
resilientes, com menor número de espécies, como é o caso dos nectarívoros e
dos frugívoros, a função e serviços ecológicos prestados pelo grupo poderia
ser consideravelmente reduzida, pois a funcionalidade do grupo é mantida por
poucas espécies de aves (Krap et al. 2011, Sundstrom et al. 2012). Na Costa
Rica, em áreas rurais, os frugívoros e nectarívoros também apresentaram
resultados semelhantes em áreas onde o uso e a cobertura do solo era intensa
(Krap et al. 2011). A resiliência dos nectarívoros e frugívoros aumenta em
áreas com baixa intensidade do uso da terra e cobertura do solo.
De forma geral, nas áreas aqui estudadas, o número de espécies que
compõem a maioria dos grupos compromete a resiliência e a manutenção dos
grupos tróficos nas áreas estudadas. Além de comprometer a qualidade dos
serviços ecológicos prestados pelas aves, como a dispersão de sementes,
polinização e controle de pragas (Krap et al. 2011). Isto deve ser atribuído ao
elevado grau de urbanização da cidade, onde as áreas de estudo estão
localizadas.
Em relação à resiliência e redundância de determinado grupo trófico,
quanto mais rico em número de espécies, mais redundante e, portanto, mais
resiliente é este grupo, pois se assume que as espécies que compõem este
grupo desempenhem funções similares. Porém, espera-se que as espécies
tenham respostas diferentes aos distúrbios humanos.
Uma análise mais refinada que considera as diferenças funcionais entre
as espécies através de características morfológicas é a diversidade funcional
da comunidade. Essa análise possui sensibilidade e poder para informar sobre
diversos processos ecológicos como a resiliência das comunidades biológicas,
a resposta a distúrbios ambientais e os processos ecológicos que estruturam
as comunidades (Cianciaruso et al. 2009, Mouchet et al. 2010, Chillo et al.
2011).
Essa medida, a diversidade funcional, juntamente com a riqueza de
espécies das comunidades de aves estudadas, informam que as comunidades
de aves com maior número de espécies são mais redundantes. A convergência
funcional ou redundância das comunidades mais ricas significa que, no
ambiente estudado, a riqueza de aves aumenta, mas as espécies adicionadas
38
às comunidades mais ricas desempenham funções similares. A redundância
funcional da avifauna indica que as comunidades com maior número de
espécies são mais resilientes aos distúrbios ambientais (Mayfield et al. 2010,
Chillo et al. 2011).
A convergência funcional também indica que é possível que as
comunidades de aves em ambientes urbanizados sob domínio da Mata
Atlântica no nordeste brasileiro sejam estruturadas através da filtragem de
hábitat, em escala local (Zobel 1997, Mouchet et al. 2010). Os filtros ambientais
que estruturam as comunidades de aves devem estar relacionados às
características abióticas, como a estrutura física do meio urbano (Grimm et al.
2008). Estas características do ambiente urbano reduzem a variação e a
estrutura dos hábitats das aves tornando-os mais homogêneos (Mckinney
2006) e, em consequência disso, os nichos devem ser simplificados e os filtros
ambientais amplificados (Mayfield et al. 2010).
Em consequência da amplificação dos filtros ambientais, espécies de
aves com características e funções similares são selecionadas pelo ambiente
urbano. Além disso, a distribuição espacial das espécies se torna uniforme
porque a formação estrutural das comunidades não deve ser baseada em
competição (Zobel 1997).
Dessa forma, as comunidades de aves em ambientes urbanizados
sofrem homogeneização, redução do número de espécies e simplificação da
cadeia trófica através da seleção de espécies generalistas porque devem ser
estruturadas através do processo de filtragem de hábitat. Assim, podem
diminuir a quantidade de serviços ecológicos prestados ao ambiente, além de
selecionar espécies com baixa sensibilidade a distúrbios humanos.
Talvez o processo de filtragem de habitat seja mais evidente nas
comunidades de aves que ocorrem em ambientes urbanos sob o domínio de
florestas tropicais úmidas. Isso deve ocorrer porque as aves desses ambientes
são mais sensíveis a distúrbios antrópicos do que as espécies que ocorrem em
outros tipos de ambientes como, por exemplo, o cerrado e a caatinga (Bell
1986, Stotz et al. 1996, Mckinney 2002, Sobral & Cianciaruso 2012).
Provavelmente, a urbanização atua como fator limitante para as
espécies de aves que possuem média e alta sensibilidade a distúrbios
39
ambientais. É possível que essa limitação seja resultado da filtragem de
habitat. Isso explicaria a raridade de espécies com maior sensibilidade a
distúrbios ambientais. Assim, os filtros também podem limitar a ocorrência de
aves florestais em ambiente urbano (Stotz et al. 1996, Mckinney 2002).
Como consequência dos filtros ambientais, a riqueza de aves observada
nas comunidades urbanas, mesmo nas áreas maiores e com maior densidade
de árvores, é baixa (Mckinney 2002). Isso deve ocorrer porque apenas as aves
que estão distribuídas em um pequeno espectro funcional são selecionadas
pelos filtros ambientais (Mayfield et al. 2010).
Em consequência dos filtros ambientais que estruturam as comunidades
estudadas, o aumento da área e o aumento da densidade arbórea não são
suficientes para maximizar a conservação e a manutenção dos serviços
ecológicos prestados pelas aves. Além do tamanho da área e da densidade de
árvores, é necessário garantir a conectividade entre as áreas arborizadas e a
heterogeneidade dos hábitats distribuídos nas cidades, para que espécies com
características funcionais divergentes sejam capazes de adicionar novas
funções ao ambiente urbano (Mckinney 2002), pois a melhor forma de
conservar a diversidade biológica é manter a integridade funcional das
comunidades (Wellnitz & Poff 2001).
Através da conservação e manutenção de ambientes heterogêneos em
ambientes urbanos é possível conservar as funções prestadas pelas
comunidades de aves e, dessa forma, manter o ecossistema equilibrado e
estável diante dos frequentes distúrbios ambientais que o meio urbano pode
causar, além de maximizar a conservação e promover aumento da diversidade
beta, rotatividade das espécies de aves (Sekercioglu 2012).
40
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