34 Anais da XXII Semana de Geografia da FAFIPA - 02 a 06 setembro de 2013 “Ensino e Geografia” _____________________________________________________________ SERRA DO MAR ENTRE A EXPLORAÇÃO E A CONSERVAÇÃO Marcos Antonio Pinto Acadêmico 4° Geografia - UNESPAR/Fafipa [email protected] Renato Rafael Diogo do Valle Acadêmico 4° Geografia - UNESPAR/Fafipa [email protected] Gilmar Aparecido Asalin (orientador) Prof. Me. Col. Geografia - UNESPAR/Fafipa [email protected] INTRODUÇÃO A Mata Atlântica estende-se ao longo do litoral brasileiro desde o Rio Grande do Sul até Rio Grande do Norte, com área aproximada de 1,3 milhões km 2 , é o terceiro bioma em percentual, perdendo em território apenas para o Cerrado e Amazônia (MMA, 2013). Hoje falamos da Mata Atlântica, hoje estamos neste Bioma, ou ao menos o que restou dele. Esta importante região brasileira abriga a maior biodiversidade do planeta, com a ocorrência de diversas espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção e ainda comporta mais de 120 milhões de brasileiros e 70% do PIB de nosso país (MMA, 2013). Esta região ainda é descrita por Ab’'Saber (2003), como “mares de morros” florestados, com florestas biodiversas, recobrindo cerca de 85% do espaço total, com índices pluviométricos chegando a 4.000mm/anuais, altitude variando entre 10 a 1.300m em relação ao nível do mar, alguns enclaves na região serrana de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, com ocorrência de bosques de araucárias. Esta região já muito estudada, explorada e mesmo assim ainda conserva os maiores remanescentes contínuos do estado e da própria Mata Atlântica, representando cerca 1.13.000ha do território paranaense (CAMPOS, 2006). _________________________________________________________________ Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR - Campus Paranavaí 35 Anais da XXII Semana de Geografia da FAFIPA - 02 a 06 setembro de 2013 “Ensino e Geografia” _____________________________________________________________ Neste trabalho focaremos o processo de conservação da porção paranaense da Mata Atlântica, mais precisamente a Serra do Mar paranaense, e sua luta frente ao processo de expansão, ocupação e alteração da paisagem original, em especial a seguida pressão para obtenção de autorização ambiental para realizar pesquisa mineral. O objetivo será apontar as ferramentas e instrumentos que garantam a conservação da Serra do Mar paranaense, região fitogeográfica da floresta ombrófila densa, que sempre é visada por empreendedores e especuladores do setor minerário nacional e internacional. METODOLOGIA LEVANTAMENTO DOS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO Esta região vive uma dicotomia entre a conservação e exploração, e busca ao desenvolvimento sustentável. A região da Serra do Mar paranaense destaca-se por seus títulos e reconhecimento nacional e internacional de sua importância relativa a conservação da biodiversidade (abriga a maior biodiversidade do planeta) (MMA, 2013). Abaixo destacaremos os diversos títulos e normas que sustentam a conservação e proteção desta região: a) Ár e a p r i or i t á r i a p a r a c o n s e r v a ç ã o , us o s u s t e nt á v e l , e r e p a r ti ç ão do s benefícios da biodiversidade brasileira, reconhecida através da Portaria n° 09 de 23 de janeiro de 2007 (MMA, 2013); b) Conhecida pela Cl - Conservação Internacional com um dos 34 hotspots mundiais em importância para conservação da diversidade biológica. Hotspots são áreas reconhecidas mundialmente como prioritárias para a conservação, tendo como requisitos tratar-se de uma área com pelo menos 1500 espécies endêmicas de plantas e que tenham perdido mais de 3 / 4 de sua vegetação original. No Brasil há dois hotspots: o Cerrado, reconhecido em 1998 e Mata Atlântica, em 1999 (Cl, 2013); c) Reconhecida pela UNESCO, com Reserva da Biosfera (RBMA, 2013); _________________________________________________________________ Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR - Campus Paranavaí 36 Anais da XXII Semana de Geografia da FAFIPA - 02 a 06 setembro de 2013 “Ensino e Geografia” _____________________________________________________________ d) Lei da Mata Atlântica - Lei n°11.428, de 26 de dezem bro de 2006, que protege o Patrimônio Nacional previsto na Constituição Federal (MMA, 2013); e) Decreto Federal n° 6.660, de 21 de novembro de 2008, que regulamenta a Lei da Mata Atlântica (MMA, 2013); f) Lei Federal n° 9.985, de 18 de julho de 2000, regulamentada pelo Decreto n° 4 340, de 22 de agosto de 2002, reviu, consolidou e estruturou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC (MMA, 2013); g) Resolução do CONAMA n°10, de 01 de outubro de 1993, estabelece os parâmetros básicos para análise dos estágios de sucessão de Mata Atlântica, e outras dezenas de Resoluções (MMA, 2013); h) Destaca-se ainda uma série de normas estaduais e federais para proteção da Serra, instituindo unidades de conservação e outras áreas protegidas: 1) Tombamento da Serra do Mar, efetivado por Edital do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico em 05 de junho de 1986; 2) Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba federal, criada pelo Decreto n° 90.883, de 31 de janeiro de 1985 e a estadual, criada pelo Decreto n° 1.228, de 27 de março de 1992, a Estação Ecológica federal de Guaraqueçaba, criada pelo Decreto n° 87.222, de 31 de m aio de 1982; 3) Área de Relevante Interesse Ecológico das Ilhas de Pinheiro e Pinheirinho, criada pelo Decreto n° 91.888, de 05 de novembro de 1985; 4) Parque Nacional do Superagui, criado pelo Decreto n° 97.688, de 25 de abril de 1989 com alterações posteriores; 5) Parque Nacional Saint Hilaire Lange, criado pela Lei n° 10.227, de 23 de maio de 2001; 6) Estação Ecológica Estadual da Ilha do Mel, criada pelo Decreto n° 5. 454, de 21 de setembro de 1982; 7) Parque Estadual das Lauráceas, criado pelo Decreto n° 729, de 27 de junho de 1979 com alterações posteriores; 8) Parque Florestal Rio da Onça, criado pelo Decreto n° 3.825 de 05 de junho de 1981; 9) AEIT Área Especial de Interesse Turístico do Marumbi, criado pelo De creto n° 7.919 de 22 de outubro de 1984; 10) Parque Estadual do Pico do Marumbi, criado pelo Decreto n° 7.300, de 24 de setembro de 1990, ampliado em 2007; 11) Parque Estadual Agudo da Cotia, criado pelo Decreto n° 7.301, de 24 de setembro de 1990, posteriormente incorporado no Parque Estadual Roberto Ribas Lange; 12) Parque Estadual da Graciosa, criado pelo Decreto n° 7.302, de 24 de setembro de 1990; 13) APA Estadual de Guaraqueçaba, criada pelo Decreto n° 1.228 de 27 março de 1992; 14) Parque Estadual do Pau Oco, criado pelo Decreto n° 4.266, de 21 de novembro de 1994; 15) Par que Estadual Roberto Ribas Lange, criado pelo Decreto n° 4.267, de 21 de novembro de 1994; 16) Área de Proteção Ambiental de Guaratuba, criada pelo Decreto n° 1.234, de 27 de março de 1992; 17) Estação Ecológica do Garaguaçu, criada pelo Decreto n° 1.230, de 27 de março de 1992; 18) Floresta Estadual do Palmito, criada pelo Decreto n° 4.493 de 17 de agosto de 1998; 19) Parque Estadual do Boguaçu, criado pelo Decreto n° 4.056 de 26 de fevereiro de 1998 e alterado Lei 13.979 de 26 de dezembro de 2002: 21) Parque Estadual da Ilha do Mel, criada pelo Decreto n° 5.506 de 21 de março de 2002; 22) Parque Estadual _________________________________________________________________ Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR - Campus Paranavaí 37 Anais da XXII Semana de Geografia da FAFIPA - 02 a 06 setembro de 2013 “Ensino e Geografia” _____________________________________________________________ da Serra da Baitaca, criada pelo Decreto n° 5.765 de 05 de junho de 2002; 23) Cerca de 12 RPPN's - Reservas Particulares do Patrimônio Natural, perfazendo aproximadamente 15.000 ha conservados, dentre outras áreas (IAP, 2013). LEVANTAMENTO DAS PROPOSIÇÕES DE EXTRAÇÃO MINERAL Mesmo com estes atributos esta região é sempre pretendida para a atividade de mineração, em especial o minério de ferro, localizada no escudo cristalino, apresenta rochas ígneas e metamórficas, granitos, além de intrusivas básicas (diabásios) e sedimentares continentais recentes (MINEROPAR, 2007). Segundo informações da SPVS - Sociedade de Pesquisa em Vida Silvestre e Educação Ambiental (2013), a ICAL - Indústria e Comércio de Antonina Ltda., subsidiária da Sociedade Comércio de Minérios e Metais Ltda METAFLORA, sediada em Belo Horizonte, realizou exploração de minério de ferro a céu aberto nas décadas de 60 e 70 do século passado na região do Morro da Mina município de Antonina paralisando suas atividades totalmente no final da década de 80 e doando a área para fins conservacionistas já no ano de 1995. Segundo a MINEROPAR (2007) as reservas de minério de ferro nas proximidades de Antonina são da ordem de 40 milhões de toneladas, com teor médio de 41,5% de Fe2O3 (Pittsburgh Pacific Company, 1964), o que é muito pouco e pobre em comparação a outras regiões do Brasil, daí podemos concluir o motivo da paralisação das atividades da ICAL. No ano de 2007, segundo informações obtidas junto ao IAP - Instituto Ambiental do Paraná, foram protocolados cerca de 24 processos sobre 31 polígonos, para obtenção de Autorização Ambiental para realização de pesquisa mineral na região, processo estes já tramitados junto ao DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral, órgão responsável pela gestão mineral no Brasil. Estes processos somados abrangem uma área de 86.741ha, _________________________________________________________________ Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR - Campus Paranavaí 38 Anais da XXII Semana de Geografia da FAFIPA - 02 a 06 setembro de 2013 “Ensino e Geografia” _____________________________________________________________ observando que junto ao DNPM há época lidavam cerca de 55 pedidos de alvarás de pesquisa mineral para esta região da Serra do Mar (IAP, 2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS Após analisar estas informações, ficamos diante de um dilema que deve ser melhor estudado e aprofundado na sua discussão, pois aliar conservação e exploração mineral neste ecossistema, não é uma missão fácil. A exploração mineral na Serra do Mar é tema muito controverso, pois este importante bioma local, com diversidade de topografia, solos, vegetação e ainda alta porcentagem de cobertura vegetal primitiva apresenta grande fragilidade ambiental, isto sem contar a forte alteração da paisagem causada por esta atividade, que pode afetar drasticamente o maior remanescente contínuo da Floresta Atlântica. Associamos a sua fragilidade ambiental a interesses turísticos, a mananciais que são vitais para Curitiba e Região Metropolitana, a manutenção dos ecossistemas das baías de Paranaguá e Guaratuba, ao interesse econômico que sempre são associados ao capital estrangeiro, ao forte processo de globalização, as questões sociais e culturais. Assim, é perceptível que a natureza conservada nesta porção do Paraná muito pressionada pelo crescimento urbano e econômico da região metropolitana de Curitiba e Litoral. Cabem as autoridades, ver dentre os diversos fatores levantados, a melhor saída para o desenvolvimento racional e sustentável desta importante região do estado, sem prejudicar a conservação e a qualidade de vida das pessoas que habitam a Serra do Mar em seu conjunto. _________________________________________________________________ Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR - Campus Paranavaí 39 Anais da XXII Semana de Geografia da FAFIPA - 02 a 06 setembro de 2013 “Ensino e Geografia” _____________________________________________________________ REFERÊNCIAS AB’SABER, A. N. Os domínios da natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas. 6. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. 159p. BRASIL. Mapa Domínio Floresta Atlântica. Disponível em: <http://www.mre. gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/meioamb/ecossist/atlantic/apresent>. Acesso em 01 de Abr. 2007. CAMPO ; J. B.; TOSSULINO, M. G. P.; MULLER, C. R. C. (Orgs). Unidades de conservação: ações para valorização da biodiversidade. Curitiba: IAP, 2006. 348p. CL. HOTSPOTS. Disponível em: <http://www.conservation.org.br/como/index.php? id=8>. Acesso em 26 de ago 2013. INSTITUTO Ambiental do Paraná (IAP). Parecer técnico jurídico: Extração de Minério de Ferro na Serra do Mar e Mata Atlântica, na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral do Paraná, além da Região de Serra Negra. Parecer conclusivo de 28 de maio de 2007. Relatores: Marcos Antônio Pinto, Maude Nancy Joslin Motta e Maria do Rocio Lacerda Rocha. MMA. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biomas/mata-atlantica>. Acesso em: 28 ago 2013. MMA. Mata Atlântica: Reserva da biosfera. Disponível em: <http://www.rbma. org.br/default_02.asp>. Acesso em: 28 ago. 2013. SPVS. Plano de Manejo: RPPN Morro da Mina. Curitiba: SPVS, 2012. _________________________________________________________________ Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR - Campus Paranavaí