Sistemas de Classificação Biológica Prof. Especialista Felipe de Lima Almeida Breve história da classificação dos seres vivos Embora se conheçam cerca de 1.250.000 espécies de animais invertebrados, a grande maioria deles, mais de 1 milhão, tem corpo formado por segmentos transversais, revestido por uma armadura resistente (o exoesqueleto), e apêndices corporais (pernas, antenas etc.) dotados de juntas articuladas; Essas características compõem o padrão corporal básico dos animais denominados artrópodes (termo que significa “pernas articuladas”), e a enorme diversidade do grupo resulta de variações em torno desse padrão. O grupo dos artrópodes é atualmente composto por insetos, crustáceos, aracnídeos e miriápodes, entre outros animais menos conhecidos. Dentro do grupo dos artrópodes pode-se, por exemplo, reconhecer claramente um “padrão inseto” — corpo revestido por exoesqueleto, dividido em cabeça, tórax e abdome, e apêndices articulados, sendo três pares de pernas e um par de antenas. Nos três últimos séculos, pensadores e cientistas têm se empenhado em desenvolver um sistema eficiente para organizar e compreender a diversidade de formas de vida; Esse sistema é a classificação biológica, ou taxonomia, que distribui os seres vivos em grupos hierárquicos denominados táxons, com grupos “menores” incluídos em outros mais abrangentes; Táxon é qualquer agrupamento de organismos com base em semelhanças: pode ser uma espécie ou conjunto de espécies. Reino Ordem Família Filo Classe Gênero Espécie Atualmente, a taxonomia faz parte de um ramo da Biologia denominado Sistemática, cujo principal objetivo é estudar e compreender a diversidade da vida, como veremos mais adiante. A classificação de Aristóteles O filósofo grego Aristóteles (348-323 a.C.) foi pioneiro em classificar os seres vivos.; Em um de seus trabalhos, ele demonstra uma visão avançada da classificação biológica ao destacar a importância da organização corporal dos animais como critério para dividilos em grupos, ideia que só foi retomada mais de 2 mil anos depois, por Lineu. Aéreos Terrestres Aquáticos O sistema de classificação de Lineu A classificação biológica moderna teve início com os trabalhos do botânico sueco Carl von Linné (1707-1778), também conhecido por Carolus Linnaeus; As ideias classificação de Lineu sobre biológica foram publicadas em seu livro Systema Naturae (Sistema natural), cuja primeira edição saiu em 1735. Ele ponderava escolher que era criteriosamente preciso as características utilizadas para agrupar os seres vivos; Lineu acreditava que as características anatômicas eram as mais adequadas para agrupar os seres vivos e utilizouas como critério principal em seu sistema de classificação. Ele agrupou os animais de acordo com semelhanças na organização corporal e as plantas, de acordo com a forma corporal e a estrutura de flores e frutos. A nomenclatura binomial Um dos méritos de Lineu foi associar à classificação dos seres vivos um sistema eficiente para lhes dar nomes, ou seja, uma nomenclatura biológica; Ele propôs que o “nome científico” de todo ser vivo fosse sempre composto por duas palavras, a primeira referindo-se ao epíteto genérico e a segunda, ao epíteto específico; Por atribuir dois nomes a cada espécie, o sistema criado por Lineu ficou conhecido como nomenclatura binomial, e é utilizado até hoje. Cães e lobos, que Lineu considerava duas espécies distintas, eram para ele semelhantes o bastante para ser colocadas juntas em um táxon mais abrangente, hierarquicamente superior ao de espécie, que ele chamou de gênero. Essas espécies teriam um mesmo epíteto genérico — Canis — acompanhado dos respectivos epítetos específicos — familiaris e lupus —, portanto: Canis familiaris e Canis lupus. É possível que você conheça nomes científicos como Homo sapiens (espécie humana), Drosophila melanogaster (mosca-do-vinagre, ou mosca-da-banana), Araucaria angustifolia (pinheiro-do-paraná), Musa paradisiaca (banana), entre outros. Uma das regras da nomenclatura binomial determina que os nomes científicos dos organismos sejam escritos em latim (ou devem ser latinizados); A primeira letra do epíteto genérico deve ser sempre maiúscula e a do epíteto específico, minúscula; Além disso, o nome científico sempre deve ser destacado no texto em que aparece, seja pela impressão em itálico ou grifado; Na nomenclatura binomial, o epíteto genérico é sempre um substantivo e o epíteto específico é geralmente um adjetivo, que qualifica o gênero; Por isso, de acordo com as regras nomenclaturais, podemos escrever o nome genérico sozinho, desde que seguido de uma abreviatura padronizada. Por exemplo, para nos referirmos a um animal do gênero Canis sem especificar se é lobo, coiote etc., apenas acrescentamos a abreviatura “sp.” após o nome do gênero. Veja na frase: “O que se pode dizer, pelos rastros do animal, é que se trata de um Canis sp.”. Para nos referirmos simultaneamente a várias espécies do gênero Canis, acrescentamos a abreviatura “spp.” após o nome do gênero. Veja na frase: “Os Canis spp. possuem dieta essencialmente carnívora”. Ao contrário do gênero, o epíteto específico não pode ser escrito sozinho. Por exemplo, o nome científico de uma mosca escura comum em nossas casas é Musca domestica; entretanto, se escrevermos domestica isoladamente não identificaremos aquela mosca, pois existem (ou podem existir), em outros gêneros, espécies com esse mesmo epíteto específico. Alguns exemplos de espécies que compartilham o epíteto específico domestica são: Curcuma domestica (cúrcuma), uma planta da qual se extrai um corante utilizado em culinária; Nandina domestica, um tipo de bambu; Monodelphis domestica, um pequeno mamífero marsupial encontrado em florestas tropicais da América do Sul. Ao ser utilizado pela primeira vez em um texto, o nome científico deve necessariamente ser escrito por extenso; nas demais vezes em que aparece, a parte genérica pode ser abreviada. Por exemplo, depois de nos referirmos ao nome científico Canis lupus uma primeira vez em um texto, podemos passar a escrever simplesmente C. lupus. A nomenclatura científica é rigorosa? Por exemplo, na Região Sul do Brasil há um pássaro conhecido popularmente como cardeal, classificado pelos biólogos como Paroaria coronata. Essa mesma espécie também vive no pantanal mato-grossense, onde recebe o nome popular de galo-da-campina; ou seja, a mesma espécie, P. coronata, é conhecida por dois nomes regionais diferentes (no Sul, cardeal e, no Centro-Oeste, galo-dacampina). No pantanal mato-grossense vive também a espécie Paroaria capitata, conhecida localmente por cardeal; ou seja, a denominação popular “cardeal” refere-se a duas espécies distintas (no Sul, P. coronata e, no Centro-Oeste, P. capitata). E, como se não bastasse essa confusão, no Nordeste brasileiro dá-se o nome de galo-da-campina a uma terceira espécie do mesmo gênero, Paroaria dominicana. Paroaria coronata Paroaria capitata Paroaria dominicana Conceito biológico de espécie Nas décadas de 1930 e 1940, dois grandes cientistas e divulgadores da teoria evolucionista, Theodosius Dobzhansky (1900-1975) e Ernst Mayr (1904-2005), propuseram uma conceituação de espécie que ficou conhecida como conceito biológico de espécie. Segundo Dobzhansky e Mayr: “Espécie é um grupo de populações cujos indivíduos, em condições naturais, são capazes de se cruzar e de produzir descendentes férteis, estando reprodutivamente isolados de indivíduos de outras espécies”. Equus asinus Equus caballus Mula Em alguns jardins zoológicos do mundo já foram obtidos cruzamentos entre leões (Panthera leo) e tigres (Panthera tigris). O cruzamento entre um leão e uma tigresa produz o híbrido denominado liger (do inglês, lion e tiger). Em cruzamentos entre um tigre e uma leoa, por sua vez, surge outro tipo de híbrido, o tigon (do inglês, tiger e lion). Segundo biólogos de alguns zoológicos, fêmeas de tigon férteis já foram cruzadas com tigres, produzindo descendentes também férteis, batizados de ti-tigons. As diferentes classificações Reino Monera O reino Monera reúne os seres procarióticos, cuja principal característica é possuírem células sem separação física entre o material nuclear e o citoplasma. Reino Protoctista O reino Protoctista unicelulares e inclui os heterotróficos, protozoários, e as algas, seres eucarióticos, seres eucarióticos, unicelulares ou multicelulares, e autotróficos fotossintetizantes. Reino Fungi O reino Fungi inclui os fungos, seres eucarióticos, unicelulares ou multicelulares com corpo formado por filamentos (hifas). Eles assemelham-se às algas na organização e na reprodução, mas diferem delas por serem heterotróficos. Reino Plantae O reino Plantae reúne as plantas, seres eucarióticos, multicelulares e autotróficos fotossintetizantes. Reino Animalia O reino Animalia reúne os animais, seres eucarióticos, multicelulares e heterotróficos. Esse grupo inclui uma grande variedade de organismos, desde animais simples, como as esponjas, até animais complexos, como os cordados, grupo ao qual pertencemos. Vírus, um caso a parte Os vírus não estão incluídos em nenhum dos cinco reinos, pois não possuem células (são acelulares), a unidade fundamental de todos os outros seres vivos. Eles são constituídos por uma ou algumas moléculas de ácido nucleico, que pode ser o DNA ou o RNA, envoltas por moléculas de proteínas. Os vírus são sempre parasitas intracelulares: somente conseguem se reproduzir no interior de células de outros seres.