Artigo Completo - LivrosOdonto.com.br

Propaganda
Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
177
Reconstrução de maxila atrófica com enxerto proveniente de calota
craniana para posterior reabilitação com implantes dentários – relato de
caso
Jaw reconstruction with cranial bone graft for further rehabilitation with dental
implants – case report
Eduardo Thomé de Azevedo1
Davani Latarullo Costa2
Paulo Eduardo Przysiezny3
Max Furlong4
Lourival dos Santos Junior4
Érika de Souza Romanini5
Resumo
A atrofia maxilomandibular é uma condição que se desenvolve com o passar do tempo
devido à perda precoce dos dentes, uso de próteses mal adaptadas, traumas, entre outros. É
caracterizada pela reabsorção óssea severa da mandíbula e/ou maxila, com algumas consequências como falta de adaptação de próteses, deficiência mastigatória, fonética, estética e,
principalmente, psicológica. Ao longo do tempo foram desenvolvidos diversos procedimentos
e técnicas para solucionar esses problemas, dentre os quais destaca-se a realização de enxertias ósseas otimizando a instalação de implantes. Este trabalho tem por objetivo demonstrar a
viabilidade do enxerto autógeno proveniente de calota craniana nas reconstruções maxilares
através da apresentação de um relato de caso clínico, de paciente com a maxila severamente
reabsorvida cujo tratamento foi realizado através dessa técnica com posterior reabilitação
com implantes dentários. A enxertia óssea proveniente de calota craniana é uma alternativa
viável pois apresenta pouca morbidade pós-operatória, com retorno rápido do paciente para
suas atividades, pequena reabsorção óssea durante período de cicatrização, possibilidade de
grande quantidade doadora de tecido ósseo e pouco índice de complicações pós-cirúrgicas.
Descritores: Transplante ósseo, transplante autólogo, aumento do rebordo alveolar, implantes dentários, crânio.
Abstract
The maxillo-mandibular atrophy is a condition that develops itself over time due to
early teeth loss, ill-fitting dentures usage, and trauma, among others. It is characterized by
a mandible and maxilla severe bone resorption, with consequences such as lack of denture
fitting, masticatory defficiency, phonetics and aesthetics, as well as important impact over
Esp. em CTBMF – ILAEPO, Esp. em Implantodontia – UNOPAR-Londrina/PR, Cirurgião Buco-maxilo-facial e Implantodontista – Clínica CITODON.
Esp. em CTBMF – UFPR, Esp. em Anatomia Cirúrgica da Face – USP, Preceptor do Curso de CTBMF – ILAPEO.
3
Me. em CTBMF – UNIMAR, Preceptor do Curso de CTBMF – ILAPEO.
4
Aluno do Curso de Especialização de CTBMF – ILAPEO.
5
Esp. em Implantodontia, Docente no curso de Especialização em Implantodontia – ILAPEO.
1
2
E-mail do autor: [email protected]
Recebido para publicação: 05/02/2015
Aprovado para publicação: 24/04/2015
Como citar este artigo:
Azevedo ET, Costa DL, Przysiezny PE, Furlong M, Santos Jr L, Romanini ES. Reconstrução de maxila atrófica com enxerto proveniente de calota
craniana para posterior reabilitação com implantes dentários – relato de caso. Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
Relato de caso / Case report
Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
178
patients’ psychological health. Over time, several procedures and techniques have been
developed in order to solve these problems. Among them, bone grafts stand out optimizing
implant placement. This study aims to demonstrate the viability of autogenous bone grafts
harvested from the skull for maxillary reconstruction, therefore presents a case report of
a patient with severely resorbed maxilla treated with this technique and posterior implant
rehabilitation. The use of cranial bone graft is a viable alternative presenting low postoperative morbidity with brief restablishment of patient’s routine; minor bone resorption during
healing period; possibility of large amounts of bone tissue donors and low post surgical
complications rate.
Descriptors: Bone transplantation, autologous transplantation, alveolar ridge augmentation, dental implants, skull.
Relato de caso / Case report
Introdução
A atrofia dos maxilares ocorre geralmente em paciente com problemas periodontais, exodontias precoces, próteses mal adaptadas, traumas, entre outros3,6.
Pacientes totalmente edentados não sofrem somente
pela falta de funcionalidade e estética, mas também
psicologicamente. Essas reabsorções levam à perda de
dimensões verticais e horizontais, comprometendo assim, a adaptação das próteses dentárias1,5.
A presença de processos anatômicos como seio
maxilar, canal mandibular e forame mentual impedem
nos pacientes com severa perda óssea a colocação de
implantes. Por esses motivos surgiram técnicas de enxertias ósseas para que o tratamento torne-se viável
através de implantes dentários2,7,18.
Vários materiais vêm sendo usados para enxertias
como materiais alógenos e autógenos, sendo esse segundo mais utilizado, considerado padrão ouro devido
às suas vantagens e ao seu potencial osteogênico4,13,17.
Apresenta características similares ao tecido ósseo,
sendo o único substituto que reúne propriedades osteogênicas, osteoindutoras e osteocondutoras12,15.
Atualmente, o enxerto de calota craniana é uma
alternativa viável para reconstruções de maxilas atróficas, caracterizando-se por ser uma excelente área
doadora extrabucal, que fornece grande quantidade
de osso cortical, assim facilitando a estabilização do
bloco de enxertia14,16. Tem como vantagens o fato de
apresentar origem intramembranosa, baixo índice de
reabsorção, pouca morbidade pós-operatória, incisão
estética sem necessidade de tricotomia, menor tempo
cirúrgico, possibilidade de remoção de vários blocos ósseos em um mesmo tempo cirúrgico e baixo índice de
complicações8,18,19.
Apresenta como principais desvantagens a possibilidade de lesões intracranianas, pouco volume de osso
esponjoso, exposição de dura-máter e hematoma subdural por hemorragia9,11.
Este artigo tem por objetivo mostrar a viabilidade
dos enxertos autógenos provenientes de calota craniana nas reconstruções maxilares através da apresenta-
ção de um relato de caso clínico no tratamento de uma
maxila severamente reabsorvida e tratada pela técnica
de enxerto autógeno de calota craniana e posterior reabilitação com implantes dentários.
Relato de caso
Paciente CB, 58 anos, sexo feminino, leucoderma,
com histórico de reabilitação oral realizada há 15 anos
e presença de implantes dentários em maxila esquerda.
Bom estado geral de saúde, apresentando, no entanto,
ponto de drenagem em implantes dentários em maxila
direita.
Refere histórico de enxertia óssea prévia na reabilitação oral utilizando enxerto ósseo proveniente de
crista ilíaca bilateral com posterior implantes dentários
e uma longevidade do tratamento de 15 anos. No entanto, após esse período de tempo apresentou processo infeccioso inflamatório em arco superior direito.
A paciente foi tratada com antibioticoterapia, anti-inflamatório e analgésico pelo período de 07 dias,
além de dose única de corticoide para remissão dos
sinais e sintomas de dor, calor, rubor, edema local, secreção purulenta em seio maxilar que apresentava velamento radiográfico. Após remissão parcial dos sinais e
sintomas e melhora do quadro clínico geral da paciente
e avaliação de imagem de tomografia computadorizada optou-se pela remoção de dois implantes dentários
que apresentavam mobilidade, associado à curetagem,
toalete da loja óssea e intervenção da equipe da otorrinolaringologia para abertura de óstio. Procedimento
que possibilitou drenagem correta de seio maxilar.
Após período de cicatrização e reparação óssea de
10 meses, um novo exame de imagem de TC foi realizado e avaliado (Figura 1), o qual sugeria extensa área
de reabsorção óssea com perda nas dimensões vertical
e horizontal.
Como planejamento para reabilitação oral da paciente foi proposto realização de procedimento cirúrgico sob anestesia geral com remoção de tecido ósseo
de calota craniana devido à grande área de reabsorção
óssea (Figuras 2-4).
Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
Uma equipe da Neurocirurgia realizou a remoção
do tecido ósseo que, após adequação de tamanho e
forma, foi posicionado e fixado de forma rígida com
parafusos do sistema 1,2 mm em parede anterior de
179
seio maxilar devolvendo espessura óssea. Aposição de
tecido ósseo bovino e membrana reabsorvível completaram o procedimento (Figuras 5-7).
Figura 2 – Preparo do campo para incisão, sem necessidade
de tricotomia.
Figura 3 – Exposição da calota craniana.
Azevedo ET, Costa DL, Przysiezny PE, Furlong M, Santos Jr L, Romanini ES.
Figura 1 – Tomografia computadorizada para avaliação das estruturas ósseas remanescente.
Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
Relato de caso / Case report
180
Figura 4 – Remoção dos blocos ósseos utilizados para a reconstrução.
Figura 5 – Blocos ósseos fixados na maxila.
Figura 6 – Aposição de membrana de colágeno sobre os blocos ósseos.
Figura 7 – Sutura sem tensão com fio reabsorvível 4-0.
Após um período de 07 meses de cicatrização foi
realizada uma radiografia panorâmica para avaliação
dos enxertos (Figura 8), quatro implantes osseointegrados foram instalados na região reconstruída do
maxilar superior (Figuras 9-11) e após um período de
6 meses de osseointegração a paciente foi liberada
para confecção de próteses sobre implante (Figuras
12 e 13).
Após um período de acompanhamento de seis
meses após a instalação dos implantes não houve
intercorrências locais e/ou gerais nem com os implantes tampouco com a área doadora do enxerto
autógeno.
Figura 8 – Radiografia panorâmica com pós-operatório de 07
meses.
Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
Figura 9 – Exposição da área enxertada para instalação dos
implantes.
Figura 10 – Remoção dos parafusos de fixação para fresagem
e instalação dos implantes.
Figura 11 – Instalação de cicatrizadores e sutura com fio nylon
5-0.
Figura 12 – Instalação das próteses sobre implantes.
Figura 13 – Instalação das próteses sobre os implantes.
Figura 14 – Acompanhamento de 06 meses da instalação dos
implantes.
Discussão
Reconstruções maxilares e suas áreas doadoras
são assuntos bem controversos quanto à utilização dos
materiais para tal procedimento. Assim, cada cirurgião
possui suas preferências, defendendo seus pontos de
vista e suas experiências profissionais. Diante de todos
os biomateriais encontrados no mercado, além da oferta de enxertos autógenos intra ou extraorais, a opção
pela forma de utilização de enxerto ósseo irá depender
Azevedo ET, Costa DL, Przysiezny PE, Furlong M, Santos Jr L, Romanini ES.
181
Full Dent. Sci. 2015; 6(23):177-182.
182
diretamente da experiência profissional. Contudo, para
grandes áreas de reabsorção que necessitam de grande quantidade óssea, as áreas doadoras extrabucais
estão mais bem indicadas, como observam os estudos
de Ajzen et al.1 (2005), que obteve um ganho médio de
altura de 10,5 mm e uma espessura média de 9 mm, e
que corrobora com os achados de alguns autores2,6,7,10,13.
Orsini et al.12 (2003) demonstraram a obtenção de
espessura aceitável para a instalação dos implantes que
se assemelham aos estudos de Smolka et al.17 (2006)
e Smolka et al.18 (2006), com um percentual de perda
óssea de 16% e 4%, respectivamente; o que comprova
a baixa tendência de reabsorção do enxerto ósseo de
calota craniana e manutenção da espessura após período de cicatrização.
Um dos pontos que mais assustam os pacientes
quando falamos de enxertia de calota craniana são
as possíveis complicações na área doadora. Apesar
de pouca incidência, os estudos de Scheerling et al.15
(2013) e Touzet et al.19 (2011) observaram um percentual de 57,7% e 95%, respectivamente, sendo que
neste segundo estudo consideramos depressão da calota como complicação, que somou um total de 82%.
Em contrapartida, outros estudos4,6,8,18 não relataram
nenhuma complicação da área doadora.
Em seu estudo, Donovan et al.3 (1994) relataram
que obteve apenas 1 caso com complicação na área doadora, semelhante ao estudo de Smolka et al.16 (2014)
que também obteve somente 1 caso de complicação.
A reabilitação com implantes em áreas enxertadas
por calota craniana mostrou ser de muita eficácia através dos estudos de Gutta;Waite6 (2009) e Mertens et
al.11 (2013), ambos com um sucesso de 96%. Outros
achados2,3,17 relataram um sucesso de 91%, 95% e
95%, respectivamente, assim como os estudos de outros autores5,7,9,12,14,16 que não tiveram nenhuma perda
de implantes.
Relato de caso / Case report
Conclusão
Com base na revisão de literatura e no estudo do
caso clínico, conclui-se que o enxerto de calota craniana apresenta:
•Pouca morbidade pós-operatória, com retorno mais
rápido do paciente para suas atividades normais;
•Incisão estética e sem necessidade de tricotomia;
•Excelente resultado funcional, estético e psicológico;
•Pequena reabsorção óssea durante período de
cicatrização;
•Possibilidade de grande quantidade doadora de tecido ósseo;
• Pouco índice de complicações trans e pós-cirúrgicas;
• Aposição de resina acrílica específica elimina depressão da calota craniana.
Assim, diante de todas as conclusões citadas acima
considera-se que o enxerto ósseo proveniente de calota
craniana é uma alternativa totalmente viável para reconstruções maxilomandibulares de grandes proporções.
Referências
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
Ajzen SA, Moscatiello RA, de Lima AMC, Moscatiello VAM,
Moscatiello RM, Nishicuchi CI, et al. Análise por tomografia
computadorizada do enxerto autógeno na cirurgia de “sinus lift”. Radiol Bras. 2005;38(1):25-31.
Chiapasco M, Gatti C, Gatti F. Immediate loading of dental
implants placed in severely resorbed edentulous mandibles
reconstructed whit autogenous calvarial grafts. Clin Oral Implants Res. 2007;18(1):13-20.
Donovan MG, Dickerson NC, Hanson LJ, Gustafson RB. Maxillary and mandibular reconstruction using calvarial bone
grafts and Branemark implants: a preliminary report. J Oral
Maxilofac Surg. 1994;52(6):588-94.
França MT, Carvalho PSP. Técnica pessoal para obtenção de enxertos ósseos cranianos. Arq Bras Neurocir.
2011;30(1):25-29.
Gleizal AM, Beziat JL. Maxillary and mandibular reconstruction using bicortical calvarial bone grafts: a retrospective
study of 122 reconstructions in 73 patients. Plast Reconstr
Surg. 2007;119(2):542-8.
Gutta R, Waite PD. Outcomes of calvarial bone grafting for
alveolar ridge reconstruction. Int J Oral Maxillofac Implants.
2009; 24(1):131-6.
Iturriaga MT, Ruiz CC. Maxillary sinus reconstruction with
calvarium bone grafts and endosseous implants. J Oral Maxillofac Surg. 2004;62(3):344-7.
Lenzen C, Meiss A, Bull HG. Augmentation of the extremely atrophied maxilla and mandible by autologous calvarial
bone transplantation. Mund Kiefer Gesichtschir. 1999;3 Suppl 1:S40-2.
Iizuka T, Smolka W, Hallermann W, Mericske-Stern R. Extensive augmentation of the alveolar ridge using autogenous
calvarial split bone grafts for dental rehabilitation. Clin Oral
Implants Res. 2004;15(5):607-15.
Mertens C, Decker C, Seeberger R, Hoffmann J, Sander A,
Freier K. Early bone resorption after vertical bone augmentation: a comparison of calvarial and iliac grafts. Clin Oral
Implants Res. 2013;24(7):820-5
Mertens C, Steveling HG, Seeberger R, Freire K. Reconstruction of severely atrofie alveolar ridges with calvarial onlay
bone grafts and dental implants. Clin Implant Dent Relat
Res. 2013;15(5):673-83.
Orsini G, Bianchi AE, Vinci R, Piattelli A. Histologic evaluation of autogenous calvarial bone in maxillary onlay bone
grafts: a report of 2 cases. Int J Oral Maxillofac Implants.
2003;18(4):594-8.
Salvato G, Agliardi E. Calvarial bone grafts in severe maxillary atrophy: preprosthetic surgery with sedation. Implant
Dent. 2007;16(4):356-61.
Sassano P, Gennaro P, Chisci G, Gabriele G, Aboh IV, Mitro
V, di Curzio P. Calvarial onlay graft and submental incision
in treatment of atrophic edentulous mandibles: an approach to reduce postoperative complications. J Craniofac Surg.
2014;25(2):693-7.
Scheerlinck LM, Muradin MS, va der Bilt A, Meiler GJ, Koole
R, Van Cann EM. Donor site complications in bone grafting:
comparison of iliac crest, calvarial, and mandibular ramus
bone. Int J Oral Maxillofac Implants. 2013;28(1):222-7.
Smolka W. Calvarial grafts for alveolar ridge reconstruction
prior to dental implant placement: an update. Oral Maxillofac Surg. 2014;18(4):381-5.
Smolka W, Bosshardt DD, Mericske-Stern R, Lizuka T. Reconstruction of the severely atrophic mandible using calvarial split bone graft for implants-supported oral rehabilitation. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod.
2006;101(1):35-42.
Smolka W, Eggensperger S, Carolo LV, Ozdoba C, Lizuka
T. Changes in the volume and density of calvarial split bone
grafts after alveolar ridge augmentation. Clin Oral Implants
Res. 2006;17(2):149-55.
Touzet S, Ferri J, Wojcik T, Raoul G. Complications of calvarial bone harvesting for maxillofacial reconstructions. J Craniofac Surg. 2011;22(1):178-81.
Download