ESTUDO LINGÜÍSTICO DAS AFASIAS Larissa Mendes (IC-Voluntária), Loremi Loregian Penkal (orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste. Departamento de Letras-Irati-PR. Palavras-chaves: Lingüística, afasia, fonoaudiologia, interação. Resumo: Buscamos, neste trabalho, relacionar os estudos lingüísticos e as afasias, mas para realizarmos tal intento precisamos compreender outros domínios, entre eles a relação entre a fonoaudiologia e os estudos de Jakobson, pois é por meio desses estudos que se estabelece a relação da lingüística com a afasia. Assim, este trabalho enfoca, principalmente, a relação entre os avanços teóricos da lingüística e a importância da contribuição dessa área à fonoaudiologia, especialmente no tratamento de afásicos. Introdução: De acordo com Leal e Martins (2005:359), designa-se a afasia como “perturbação de linguagem resultante de uma lesão cerebral que compromete vários aspectos de comunicação, nomeadamente a expressão oral, a compreensão de linguagem, a leitura e a escrita”. O estudo científico da afasia surgiu no século XIX, com os estudos de Franz Joseph Gall (1758-1828) e Pierre Paul Broca (1824-1880), em que correlacionaram o cérebro e a linguagem. A partir disso, cresceu o interesse em se estudar tal correlação e surgiu a neurolingüística, que é um campo de estudo que inclui a Neurociência e a lingüística. “A Neurociência (...) interessa-se pelo conhecimento do cérebro e da mente e suas relações com o comportamento humano e a Lingüística é a ciência que se interessa pelo conhecimento científico da língua humana” (Miranda, 2003:10). Sendo assim, a afasia fornece a base para o conhecimento do funcionamento dos objetos de estudo destes campos. A Fonoaudiologia, campo de estudo que atua na pesquisa, prevenção, tratamento e reabilitação das alterações da voz, fala, linguagem e audição, apóia-se em bases teóricas da lingüística para estudos no campo da afasiologia, principalmente para distinguir aspectos de normalidade e patologia, bem como para organizar a sua terapia. A partir deste contexto e dos estudos realizados para desvendar os mistérios e aperfeiçoar os estudos da afasia (entre eles o próprio Broca (1861), Wernicke (1874), Jakobson (1953), Bowlland (1825) e Freud (1891), entre outros), ficava compreendido que diversas áreas do hemisfério esquerdo poderiam ser locais responsáveis pelas funções da linguagem, surgiram várias classificações de tipos de afasia, fato que ocasionou, nos estudos afasiológicos, a dificuldade em classificar pacientes. Assim, uma mesma afasia poderia ser classificada em diversas categorias. Como aponta Souza (2000), não há uma definição universal da afasia, apesar de muitos anos de estudo. Isto é decorrente de duas questões centrais, uma se refere à complexidade de suas manifestações e a outra Anais do XVII EAIC – 19 a 22 de novembro de 2008 está relacionada com a organização mental da linguagem e suas relações com a função cerebral. Porém, um dos maiores estudos surgiu com Roman Jakobson, quando ele tratou a afasia essencialmente como uma questão de linguagem. Em seus estudos, Jakobson também efetuou o aperfeiçoamento da classificação das afasias. Classificou-as primeiramente como afasias de decodificação e codificação, em seguida realizou a descrição semiológica das afasias. Assim sendo, só foi possível verificar a fecunda relação da Lingüística nas afasias nas obras de Jakobson, o primeiro lingüista a tratar a afasia como uma questão de linguagem. Vimos que Jakobson classifica as afasias em duas categorias. Seria possível, assim, somente considerar estas duas classificações para direcionar o tratamento de afásicos? Os estudos lingüísticos poderiam ser uma forma de tentar homogeneizar as classificações das afasias? Serão estas questões, entre outras, que serão respondidas neste trabalho. Materiais e Métodos Esta pesquisa foi realizada nos Asilos: São Vicente de Paulo, da cidade de Imbituva-PR e Santa Rita, de Irati-PR. Nestas instituições foram efetuadas entrevistas com pessoas que apresentavam diagnósticos médicos de acidente cerebral e que manifestavam dificuldades/alterações em suas falas. Foram entrevistadas seis pessoas, com idades entre 39 a 83 anos. As entrevistas foram gravadas e transcritas de forma literal para posterior análise dos dados coletados. Resultados e Discussão Verificamos, neste trabalho, que a manifestação lingüística pós-acidente cerebral é de grande diversidade. Como dizem Fonseca e Vieira, “as manifestações afásicas vão “desde” o “não falar” até comprometimentos de ritmo, prosódia e imprecisões articulatórias” (2004:5). Mesmo com toda a diversidade encontrada, há possibilidade de classificarmos os afásicos entre os dois tipos de afasia propostos por Jakobson, pois nestas há descrição sistemática das dificuldades apresentadas, o que nos aponta o caminho para realizamos o tratamento mais adequado para cada caso. Porém, segundo Jakobson as afasias podem ocasionar problemas de codificação e decodificação, e cada sujeito afásico apresenta somente uma das duas concepções em perturbação. No entanto, verificamos que nas falas dos sujeitos entrevistados tal comportamento não se aplicou, pois apresentaram as duas concepções de forma concomitante, uma em maior grau que a outra, concordando com os achados de Fonseca (1995). Conclusões De acordo com a pesquisa realizada, concluímos principalmente que: É de extrema importância que lingüistas contribuam para que ocorram avanços teóricos em estudos afasiológicos, uma vez que Anais do XVII EAIC – 19 a 22 de novembro de 2008 cada detalhe proporciona um diagnóstico mais preciso e que pode apontar novos caminhos para se realizar o tratamento mais adequado para cada caso. A fonoaudiologia precisa se relacionar com a lingüística, como afirmam Fonseca (1995) e Goldfeld (2003), pois há várias maneiras de se tentar explicar a afasia, mas só uma traz o verdadeiro enfoque que a fonoaudiologia precisa: a lingüística - que traz a afasia como uma questão de linguagem. As falas dos sujeitos afásicos entrevistados na pesquisa apresentaram-se bastante diversas: encontramos casos de sujeitos que não falavam e outros em que se constatou comprometimentos de ritmo, prosódia e imprecisões articulatórias, fato que corrobora as afirmações de Fonseca e Vieira (2004:5). Referências Fonseca, S.C. Afasia: A fala em sofrimento. Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas. Mestrado/Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1995). Disponível em: www.clinicadelinguagem.com.br Acesso: 09/07/2006. Fonseca, S.C. e Vieira, C.H. A afasia e o problema da convergência entre teoria e abordagens clínicas. Mendes, B., Barza Gli-Ficher, L. & Martins, M.A.N. Distúrbios da comunicação. São Paulo:16(1):101-106, 2004. Goldfeld, M. E por falar em afasias. Fundamentos em fonoaudiologia (linguagem). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2ªed, 2003. Leal, G. e Martins, I.P. Avaliação da afasia pelo médico da família. Revista Port Clin Geral 21:359-364, 2005. Disponível em: www.apmcg.pt/document/71479/448740.pdf Acesso: 09/07/2006. Miranda, A.B.R., Fundamentos Neurolingüísticos: contribuições à fonoaudiologia. Monografia final, Instituto Edumed para Educação em medicina e Saúde. UNICAMP/SP, 2003. Disponível em: www.edumed.org.br/cursos/neurociencia/01/Monografias/neurolinguistica.do c Acesso:15/12/07. Souza, L.B.R. Fonoaudiologia fundamental. Rio de Janeiro: Revinter, 2000. Anais do XVII EAIC – 19 a 22 de novembro de 2008